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Olá, queridos amigos.
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Estamos aqui hoje para falar-vos um pouco sobre o tipo de prática que podem estar a fazer em casa.
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Enquanto leigos, nem sempre temos o benefício de estar num mosteiro,
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onde as pessoas nos conhecem bem e há uma orientação sábia.
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Por isso, queríamos partilhar convosco algumas dicas e formas de tornar a vossa prática mais agradável
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e evitar certas armadilhas que podem surgir ao longo do caminho.
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Passei cerca de dez anos a tentar perceber como gerir cuidadosamente
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a minha mente inquieta e seguir a minha respiração.
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Pensava que tinha apenas de seguir a respiração.
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Mas depois descobri que poderiam existir outras formas de me enraizar e concentrar,
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para tirar mais proveito da minha meditação sentada e, consequentemente, da minha prática em geral.
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E quando percebi que havia outras opções,
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rapidamente descobri que todas me conduziam, no fim de contas, ao simples ato de seguir a respiração.
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Então, em vez de andarem a tatear no escuro à procura de algo
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que vos ajude a sentir-se estáveis e a desfrutar da prática,
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pensámos em ter esta conversa e partilhar algumas dessas ideias convosco.
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Então, Jonathan, tiveste dificuldades em seguir a tua respiração?
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E isso é, de certa forma, a base da prática.
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Claro.
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Não sei se tive mais dificuldades do que a maioria das pessoas,
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especialmente no início, já que é uma prática nova
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e vai contra os nossos condicionamentos e hábitos.
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Mas eu...
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E eu sei que passei muito tempo...
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passei muito tempo a tentar conectar-me com a respiração e desenvolvê-la como um meio de acalmar,
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cultivar atenção plena e concentração.
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Gostava de ter sabido algumas das coisas que sei agora, muito mais cedo.
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Sim, exatamente.
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Sim
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O que notei foi que, quando tentava seguir a respiração,
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não conseguia encher os pulmões completamente.
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E isso fazia-me lembrar da minha adolescência,
quando ficava deitado na cama à noite,
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a tentar adormecer sem conseguir respirar fundo,
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ficando cada vez mais tenso à medida que a noite avançava.
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E essa recordação simplesmente sabotava a minha prática.
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hmmm
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Mas quando aprendi a prestar mais atenção a como o meu corpo se movia para cima e para baixo com a respiração
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e a notar diferentes partes do corpo, acabei por perceber,
"Ah, afinal estou apenas a seguir a respiração."
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E isso foi uma surpresa maravilhosa,
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mas só aconteceu após 10 ou 11 anos de prática.
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Sim.
-
Sim
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Acho que a minha experiência pode ser bastante comum:
ao tentar seguir a respiração,
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muitas vezes acabava por entrar num estado de sonolência e baixa energia.
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E pouco depois, a minha mente já estava a divagar ou a ruminar sobre algo,
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tendo esquecido completamente da respiração.
E depois voltava à respiração por um momento,
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mas o ciclo repetia-se ao longo de toda a sessão de meditação.
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O que aprendi sobre mim foi que, às vezes, estar ciente da sensação do meu corpo
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é mais acessível e interessante do que apenas seguir a respiração.
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E essa sensação pode ser simplesmente o peso do corpo sobre o que estou sentado
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ou a energia que percorre o corpo.
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Pensei um pouco sobre o porquê disto acontecer comigo.
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Acho que é porque é uma sensação mais subtil do que a respiração,
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o que significa que preciso de fazer um esforço ligeiramente maior para a notar e manter a atenção nela.
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Sim, de uma forma que me mantém presente.
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Uh huh.
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E tu tens uma energia naturalmente mais baixa e tendes a desacelerar,
enquanto eu sou mais acelerado.
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O que eu notei foi que, ao tentar seguir a respiração,
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acabava por ficar cada vez mais tenso até que já não conseguia continuar sentado.
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Já não conseguia ficar sentado.
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Foi então que aprendi,
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há poucos anos, que existe algo chamado "janela de tolerância",
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onde, a certo ponto,
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o nosso sistema nervoso pode assumir o controlo,
impedindo-nos de manter a concentração.
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Podemos aprender a reconhecer os sinais do nosso corpo que indicam que estamos regulados
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e conseguimos focar-nos o suficiente para que a prática seja benéfica.
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E quando salto daquela zona de estar com atenção plena
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E percebo que estou a aproximar-me do limite superior,
tenho pequenos truques para me acalmar.
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E imagino que tu estejas mais familiarizado com o limite inferior e como trazer energia de volta.
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Sim,
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a minha tendência habitual é mais para afundar do que para acelerar.
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E o que notas quando isso acontece?
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Bem, noto que os meus membros ficam pesados,
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a respiração torna-se densa,
a mente fica enevoada.
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É como...
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Como se fosse fadiga
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Mm Hmm,
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Sinto uma grande inércia física e mental.
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E quando passas abaixo desse limite?
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Quando tu...
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Fico num estado meio congelado,
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torna-se realmente difícil fazer qualquer coisa.
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Só quero distrair-me com algo, normalmente com media ou comida.
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Então isso é quando não estás sentado.
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Sim.
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E isso acontece quando estás sentado?
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Um.
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Bem,
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não tinha pensado nisso antes, mas sim, acontece.
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Sim, claro.
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Quando estou sentado, muitas vezes sou levado por fantasias e construções mentais.
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E a forma como percebo isso no meu corpo é que deixo de estar atento à minha postura.
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Começo a encurvar-me, a ficar desalinhado e a ignorar qualquer dor ou desconforto.
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Mmm Hmm
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Sim.
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Já ouvi dizer, porque não tenho essa tendência,
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que algumas pessoas podem confundir este estado dissociado com um estado de concentração profunda.
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Não sentem a respiração, não sentem o corpo,
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não sentem nada
a mente fica vazia.
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Sim.
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E depois, quando o sino toca e se levantam, ainda estão meio presos nesse estado.
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Sim.
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É algo a ter em atenção.
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E o que fazes para te revitalizares?
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Quando estou sentado e percebo que estou a afundar,
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corrijo a postura e dirijo a atenção para alguma sensação agradável no corpo, concentrando-me nela.
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Sorrio.
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Trago um sorriso ao rosto e foco-me em qualquer sensação agradável que encontre no corpo.
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E como já fiz isto algumas vezes,
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já sei onde procurar primeiro.
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Isso é incrível, porque o sorriso funciona nos dois sentidos.
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Sim, sim.
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E isso é algo que sempre ouvi o Thay dizer, mas nunca tinha realmente compreendido.
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Que ideia tão inteligente.
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Começar simplesmente com um sorriso no rosto.
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Pode ser
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um sorriso falso.
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Sim.
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E quando se combina isso com a sensação de algo agradável,
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nem sei se estou a sorrir de propósito ou não.
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Sim.
-
Sim.
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Então...
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E isso normalmente ilumina a mente e faz-me sentir mais alerta,
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mais capaz de direcionar a minha atenção como quero.
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Acho que o mais importante é conhecermo-nos a nós mesmos,
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especialmente as mensagens subtis do nosso corpo,
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e percebermos quando já tivemos o suficiente.
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Muitas pessoas tendem a pensar:
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"Ah, isto está desconfortável,
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então não devo focar-me nisto"
e desistem cedo demais.
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Outras seguem o caminho oposto, forçando-se a continuar,
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até ficarem presas num estado de ansiedade ou dissociação.
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Isto não acontece a toda a gente,
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mas, considerando os tempos que vivemos,
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com um fluxo constante de stress,
o nosso corpo não foi feito para lidar
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com isso sem pausas.
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Se acrescentarmos ainda mais tensão com a nossa prática,
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estamos a fazer exatamente o oposto do que deveríamos estar a fazer.
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Sim.
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Por vezes, quando estou sentado,
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simplesmente não consigo sair desse estado de letargia.
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Então, em vez de continuar a tentar forçar-me,
faço uma meditação andando,
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exercício,
ou qualquer outra coisa que ajude a revitalizar-me.
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Acho que é importante reconhecer que isto é como uma experiência
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de laboratório, e nós somos o próprio experimento.
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Temos de aprender a ler os sinais do nosso corpo
e adaptar a prática
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para que funcione verdadeiramente para nós.
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Por exemplo, numa meditação guiada podem dizer:
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"Sorri, agora sentes-te feliz."
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Mas se eu não me sentir feliz,
posso pensar que estou a fazer algo errado
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e acabar frustrado.
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É importante entender que essas palavras são apenas sugestões.
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Se outras palavras fizerem mais sentido para nós,
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podemos experimentar e ver como nos sentimos ao adotá-las.
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Sim.
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Acho que é sempre melhor quando os facilitadores usam uma linguagem mais convidativa.
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Mas quando isso não acontece,
eu próprio faço essa adaptação mentalmente.
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Sim.
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Dessa forma, mantenho-me mais consciente e aceito todas as minhas experiências,
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mesmo que não correspondam exatamente ao que está a ser guiado.
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Uma amiga partilhou algo que me marcou.
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Ela disse que, quando pratica meditação,
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em vez de repetir "Ao inspirar, sinto-me feliz.
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Ao expirar, sinto-me alegre",
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Tu sabes, as linhas normais de aprendizagem que recebemos.
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Ela mudou para "Ao inspirar, estou disposto".
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Sim, ouvi isso.
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Sim, foi muito bonito.
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Isso cria mais espaço e suavidade.
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Acho também importante reconhecer que alguns de nós já passaram por situações difíceis,
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e essas experiências podem estar armazenadas no corpo de formas inesperadas.
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Podemos sentir-nos desconfortáveis sem perceber exatamente porquê.
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E esse desconforto pode ser tão intenso
que sentimos vontade de fugir.
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Nessas alturas, podemos reconhecer com gentileza:
"Ok, preciso de uma pausa."
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Talvez cinco minutos.
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Talvez focar-me em algo agradável.
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Talvez mexer-me um pouco.
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Talvez melhorar o meu sono antes de praticar.
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Precisamos de compreender a nossa capacidade no momento.
Se estamos prontos para manter a dificuldade na nossa atenção plena,
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ou se, pelo contrário, isso nos irá desestabilizar, temos que ter
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muita compaixão e espaço para desenvolver a nossa própria inteligência.
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E se estivermos a ultrapassar o nosso limite,
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talvez seja hora de falar com alguém da Sangha,
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ou
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um professor do Dharma
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ou um monástico.
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Sim.
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Para mim, é útil saber que
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há ensinamentos que encorajam esta abordagem.
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Porque é fácil ficar com a ideia de que a prática significa apenas
sentar-se e aceitar tudo o que surge, sem fazer nada para
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mudar a experiência.
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Mas há muitos ensinamentos que mostram que
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devemos cultivar estados mentais saudáveis
e reduzir os estados prejudiciais.
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E, como disseste, a nossa capacidade de lidar com isto varia,
dependendo dos recursos internos que temos naquele momento.
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Portanto, a prática também inclui abastecermo-nos desses recursos,
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para depois podermos enfrentar as dificuldades.
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O Thay contou histórias sobre pessoas refugiadas em barcos,
onde a única hipótese de sobrevivência era manterem-se calmas
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e caminharem juntas, a noite toda, em meditação andando,
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até conseguirem criar um plano eficaz.
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Isso é muito tempo a caminhar.
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Mas o Thay também estava muito bem preparado internamente.
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E
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Li que, mesmo nos períodos mais difíceis da guerra,
ele fazia questão de ter dias de descanso.
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Independentemente do que estivesse a acontecer,
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esses momentos eram a sua tábua de salvação.
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E nós também precisamos de nos dar essa permissão.
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Não há nada de errado nisso.
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Certo.
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Ao mesmo tempo, se nunca nos desafiarmos,
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a nossa capacidade de lidar com emoções difíceis encolhe.
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Precisamos de encontrar o equilíbrio certo:
desafiar-nos o suficiente para crescer,
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mas não tanto ao ponto de nos desregulamos.
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Sim.
-
Sim.
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É como um bom alongamento.
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Sim.
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Se alongarmos demasiado, podemos magoar-nos.
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Se não alongarmos o suficiente, não estamos a fazer nada.
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Então, saber que tudo é um convite,
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conhecer o nosso próprio limite entre estabilidade e instabilidade,
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ter formas de nos ancorar quando nos aproximamos dessa fronteira,
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e concentrarmo-nos no que nos traz solidez e bem-estar nesse momento,
é essencial.
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E, ao mesmo tempo, manter a diligência, sem desistir.
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Porque, uau, mesmo nos dez anos em que não consegui seguir a minha respiração,
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tirei um imenso benefício da prática.
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E compreendo-me melhor, sou mais eficaz,
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mais amável e gentil com as pessoas à minha volta.
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Sim.
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Acho que tudo isso são meios hábeis,
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e quanto mais ferramentas e estratégias tivermos e mais experimentarmos,
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mais experiência ganhamos para saber qual é o momento certo para cada prática.
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E praticar com outras pessoas.
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Esta prática baseia-se na importância de ter uma Sangha.
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Os tempos são desafiantes, mas isso não significa
que não possamos estar no Zoom,
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ou ter uma conversa ao telefone com outro praticante.
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Há muitas formas de nos conectarmos.
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E acho que isso é vital.
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Tem sido vital para mim.
-
Sim.
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E para ti, Jonathan, quais têm sido os frutos da prática?
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A prática do que estivemos a falar aqui?
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Não, a prática em si.
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Porquê
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passar por toda essa dificuldade?
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Queres passar as próximas cinco horas a falar disso?
-
Sim, acho que sim.
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Agora, o fruto mais saboroso é saber como gerar alegria dentro de mim.
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E estou a melhorar nisso.
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Simplesmente sentando-me aqui e fazendo isso agora,
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sinto que está a tornar-se mais natural.
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Se me sentar por cinco minutos,
consigo trazer essa alegria ao meu corpo,
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mudar totalmente o meu estado de espírito
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e sentir-me bem com a vida. E isso não era possível para mim há 15 anos.
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Também...
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Além disso, ao praticar concentração,
tornei-me mais consciente do que constitui uma vida boa para mim.
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Estou cada vez melhor a perceber onde está o stress,
de onde vem, e a não segui-lo.
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Stress, sofrimento… são palavras diferentes,
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mas consigo ver melhor o que está a acontecer na minha mente
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e perceber quando não está a ir na direção certa.
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E agora tenho muitas práticas e ferramentas
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para ajudar a redirecioná-la para a paz e para mais liberdade.
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Então, de forma concreta e tangível,
tenho menos medo, menos ansiedade,
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e mais felicidade e confiança em mim mesmo.
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E a prática também me deu um lugar onde posso servir.
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Isso tem significado muito para mim.
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Dar algo de volta a uma comunidade
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tem sido essencial no meu crescimento como adulto.
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Tive a sorte de encontrar esta prática quando estava a entrar na idade adulta,
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e sem este caminho, poderia ter-me perdido facilmente.
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Engraçado, eu atribuo à prática o facto de me ter tornado adulto.
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Acho que me conectou à minha história e aos meus antepassados
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de uma forma que me deu mais espaço para sentir compaixão por mim mesmo,
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mesmo quando não gostava da forma como me estava a expressar.
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Pelo menos agora compreendo de onde isso vem.
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E isso tornou-me mais capaz de olhar para as minhas próprias falhas
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e de trabalhar nelas de uma forma que me deu mais confiança na prática.
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Foi um efeito de bola de neve,
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uma energia boa que foi crescendo.
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Também me fez apreciar
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o simples milagre de estarmos aqui,
de como somos intrincados.
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E ensinou-me a retribuir.
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Como já não hesito tanto em relação a mim mesmo,
sinto-me muito mais destemido.
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Consigo assumir coisas em grupo
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que antes nunca pensaria ser capaz de fazer.
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E a minha capacidade de contribuir cresceu imenso.
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Isso tornou a minha vida muito feliz,
não só a nível individual,
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mas também porque adoro fazer parte de um grupo
que aceita as falhas uns dos outros,
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as vê,
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e aprende a trabalhar harmoniosamente, mesmo com elas.
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A quantidade de aceitação que pode existir num grupo assim…
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Sim.
-
É realmente incrível.
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Sim.
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Sim, acho que isso também teve um grande impacto em mim.
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Lembro-me de nos primeiros anos,
ir à minha Sangha
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e perceber que aquelas pessoas realmente me amavam.
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E como, ao início, foi difícil para mim aceitar isso.
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Mas elas estavam dispostas a dar-me espaço para praticar,
para desenvolver competências como falar,
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facilitar, sentar-me com alguém e ouvir…
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Com a compreensão de que todos nós trazemos connosco uma história de sofrimento.
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Eu tenho a minha, tu tens a tua.
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E estamos aqui uns para os outros, para acolher esse sofrimento com ternura,
enquanto nos apoiamos na sua transformação.
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Sim.
-
Sim.
-
Obrigado por isso.
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De nada.
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Provavelmente nem imaginas
o quão feliz fico por ter o Jonathan como amigo.
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Sim.
-
Obrigado, também beneficiei muito desta partilha.
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Inspirando...
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Expirando...
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Inspirando...
-
Expirando...
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Estou a florescer.
-
Como uma flor.