TAMBIÉN LA LLUVIA (película completa)

También la lluvia. Dirección: Icíar Bollaín. Países: España, Francia y México. Año: 2010. Género: Drama. Interpretación: Luis Tosar (Costa), Gael García Bernal (Sebastián), Juan Carlos Aduviri (Daniel/Hetuey), Karra Elejalde (Antón/Cristóbal Colón), Carlos Santos (Alberto/Bartolomé de las Casas), Raúl Arévalo (Juan/Antonio de Montesinos). Guion: Paul Laverty. Producción: Juan Gordon. Música: Alberto Iglesias. Fotografía: Alex Catalán. Montaje: Ángel Hernández Zoido. Dirección artística: Juan Pedro Gaspar. Vestuario: Sonia Grande. Distribuidora: Alta Classics.

También la lluvia es una historia inspirada en la Guerra del Agua que tuvo lugar en Cochabamba en Abril del 2000 y cuenta la historia de Sebastián y Costa, un director y un productor que quieren hacer una película sobre Cristóbal Colón que dé la vuelta al mito. La historia de un Colón obsesionado por el oro y represor de indios y también la de quienes lo denunciaron: los padres Bartolomé de las Casas y Antonio de Montesinos. Pero mientras ruedan en Cochabamba, estalla el conflicto por la privatización y venta a una multinacional del sistema de aguas de la ciudad, la tristemente famosa (y real) Guerra del Agua del año 2000.

Youtube bloqueo este video en españa, asi que no sé cuanto tiempo pueda permanecer visible para otros paises. Aprovechen y vean esta extraordinaria historia badada en hechos reales. porque LATINOAMERICA QUIERE LIBERTAD!!!!!.

Em memória de Howard Zinn

Vamos.

Está vendo?

Olhe,

tem mais chegando.

Olá.

Olá.

Um elenco em aberto,
Sebastián?

Que zona!
Eu avisei, sabia que ia acontecer.

Olá.

Bom dia.

Com licença.

Com licença.

Com licença.

Como vai?

Estão desesperados que os atendam,
há duzentos, e...

Diga que não queremos mais.
Veremos estes. Os outros podem ir.

Não, Costa,
não podemos fazer isso.

Droga, não dá para ver todos.

Se prefere, escolha os que gosta
e dispense os outros.

Mas agora.

Vamos.

Venha.
Escolha os que mais gosta.

-Olá.
-Olá.

Poderia ir com a senhorita?

Podem ir.

Já está bom assim?

-Quantos homens são?
-Cinco, e duas mulheres.

-Você pode ir?
-Sim.

Obrigada.

E nós, não vamos entrar?

-Sebastián...
-O quê?

-Já temos o suficiente.
-Já?

Já temos mais que o suficiente.

Temos que pedir para irem.

Bem, peça desculpas a eles.

Venha comigo, por favor.

Nós sentimos muito.

Eu sinto muito,
não precisamos de mais ninguém.

Não podemos ver a todos.
São muitos.

Tem que poder.
Estamos esperando há horas.

Precisa ir, senhor.
Não vai dar.

Não vamos sair daqui, caralho.
Vamos ficar até que nos atendam.

-Não ouviu a senhorita?
-Eu escutei, caralho...

Vocês tem que partir.

Fora!
Precisam ir embora!

Pare!

Pare!

O que está havendo?

Com licença, com licença.

Calma, calma, calma.

Qual é o problema?

"Todos terão uma chance".
É o que diz aqui.

Minha filha quer atuar.

Tá, mas não podemos
ver todo mundo. Entendeu?

Você não entende, "cara pálida".
Esperamos por horas.

Alguns caminharam desde longe.

Agora pede para irmos embora.

Vai ter que ver todo mundo.
Daqui ninguém sai.

Ninguém vai sair, certo?

Inventa alguma coisa,
mas dá um jeito nele.

-Qual é seu nome?
-Daniel.

Tem razão, Daniel

-...vamos ver todo mundo.
-Droga!

Veremos todo mundo,
demore o que demorar.

-Sebastián, precisamos ir.
-Mas com calma.

Filme o desgraçado para mim.

E a filha dele também.
Ele é bom.

Certo, como ouviram,
vamos ver todo mundo.

Vamos!

Costa, você está louco?
Devagar!

Sebastián, diz uma coisa.

Estamos na Bolívia,
isto não faz muito sentido.

Estamos a 2.500 metros
acima do nível do mar,
cercado por montanhas,

e há milhares de quilômetros
do Caribe.

Bem, Costa acha que Colombo
pousou de paraquedas.

Não, Costa sabe que este lugar está
cheio de índios famintos

e isso significa milhares
de extras.

Nada daquela merda digital.
Quero grandeza,

vamos gastar toda a grana.

Nada disso!
Você viu a cara deles?

-Eles são Quéchua.
-E daí?

Como, "e daí"?
Eles são dos Andes!

O que está fazendo o Colombo
com índios andinos?

Olhe, são índios,
Não era o que você queria?

Não, não...

Dá um tempo!
Eles são todos iguais.

Aqui se pode negociar hotéis,
transporte, alimentação...

-O que quiser.
-Então é pela grana.

Sim!
Sempre é dinheiro, sempre.

Neste caso,
muito pouco dinheiro, certo?

Certo, seu pão-duro?

Se rodássemos em inglês,

nós teríamos o dobro do dinheiro,
e o dobro de público.

Estava quase certo até que
você estragou tudo.

Porque espanhóis falam espanhol.

E se fosse em inglês?

Teríamos sido espertos.

Então os espanhóis falam espanhol,

e os Tainos que Colombo
encontrou falam Quéchua?

O que deu em você?

Só queria saber.

Deixa conosco, Sebastián!

Vamos, vamos!
Levantem!

Costa, devagar, é muito perigoso!

Vamos!

Levanta!

Presta atenção!

Cuidado!

Tudo bem aí?

Certo... Vamos conseguir.
Vamos!

Costa, por favor,
tem que ser de outro jeito.

Tem que ser de outro jeito,
por favor!

Um, dois, três...

Levanta!

Um, dois, três...

Levanta!

Mais uma vez, em três.

Um, dois, três...

Levanta!

Que tal assim!?

Deveríamos ter chamado
profissionais...

e usar uma grua!
Alguém poderia ter se ferido!

Sou engenheiro, também.

Sabe quanto economizamos?

35.000, então tenha calma.
Estará tudo pronto.

Ótimo trabalho, pessoal.

A cerveja é por minha conta.

Desliga esta porcaria!

-Desculpa.
-Está bem.

Espero dar conta disso tudo.

Ele está bêbado?

Estamos todos?

Agora sim.

Certo, então... quando quiser...

Vemos as faces atordoadas
das crianças Taino

escondidos na vegetação.

Do ponto de vista deles,

nós vemos Colombo e seus homens
chegando ao "Mundo Novo".

Alguns barcos pequenos
estão na costa.

As crianças sentem um
cheiro asqueroso

enquanto estranhas criaturas,
molhadas e sujas,

umas barbudas, outras calvas,
se aproximam tropeçando na areia.

As crianças riem e fazem
comentários,

tentando entender quem são
aqueles estranhos...

Eu,

Cristóvão Colombo,

humilde servo
do Rei Fernando de Aragon

e da rainha Isabel de Castilha,

em nome de Jesus Cristo,

filho do verdadeiro Deus,

tomo posse destas terras

e mares

e tudo que eles contêm.

E com este ato,

proclamo a soberania sobre
estas terras e mares

em nome
de Vossas Majestades.

Agradecemos a Virgem Maria

por nos conduzir com boa saúde
até este grande dia.

Esta deve ser a aldeia deles.

Graças a Deus,
parecem pacíficos.

Um bom lugar para um forte.

Confraternizar com eles.

O primeiro que encontar ouro
será recompensado.

Capitão,

os trate bem.

Precisamos da comida deles.

E averigue de que armas dispõem.

Almirante!

Depressa!
Você tem que ver isto!

Ouro!

Ouro.

Ouro.

-É ouro.
-Onde está o ouro?

Ouro!

Onde está o ouro?

Você sabe do que estou falando!
Ouro!

Onde está?

Que se foda o ouro!
Eu preciso é de uma bebida!

Perdão, senhorita.

Nós atores
somos totalmente egoístas.

Obrigado.

Lembra-se dele?

Viu só os olhos dele?
O olhar fixo e penetrante.

Profundo.

Ele é pequeno,
mas tem grande presença.

Sim, e fede a encrenca.

-E ele nunca atuou.
-Eu o dirigirei.

Ele é muito natural.

-E o ator peruano?
-É terrível, totalmente previsível.

Mas ele é um encrenqueiro.

Viu a confusão que armou na
escolha do elenco?

Ele é um líder,
disso que está precisando.

Costa,

eu o quero,

e a filha dele.

Eu não o quero,
ele arruinará as filmagens.

Deixa-me mostrar-lhe algo.

O que é isto? Quem é?

Eu sei quem é.
Quando você filmou isto?

-Esta manhã.
-Sem me falar?

Olha, olha!

Hatuey!
Droga, é o Hatuey!

-Certo?
-Está incrível!

Certo, é o Hatuey.

Não conseguirá controlar este
cara, estou avisando.

Um pouco de razão ele tem.

Mas o filme vem primeiro, sempre.

Como governador desta ilha,

quero agradecer-lhes por
virem me ver.

Depois de minha primeira viagem,

falei pessoalmente
com Vossas Majestades,

que instruiu-me a tratar-lhes
com respeito e cordialidade.

Solicitamos que reconheçam
a Igreja e o Papa

como mestres do universo.

E também que aceitem o Rei

e a rainha de Espanha

como legisladores destas terras.

Em troca,

vocês receberão nosso amor
e nossa caridade.

Senão?

Capitão...

Se não,

nós os escravizaremos

e trataremos vocês como
desejarmos.

Tomaremos suas posses

e vamos provocar em
todos muita dor.

O que vocês querem de nós?

Impostos.

Todo índio acima de 14 anos
deve encher um sino.

O que ele disse?

Com o quê?

Com ouro.

Toma.

Não é muito grande.

Capitão.

Alberto, você pode nos falar
sobre sua personagem?

Minha personagem
é Bartolomé de las Casas.

Chegou às Índias aos 18 anos para
cuidar de uma plantação

com escravos índios a seu cargo.

Mas depois, traumatizado
pelos massacres que testemunhou,

dedicou o resto da sua vida
a causa dos índios.

Ele se tornou um Dominicano.

Quase fora assassinado
duas vezes.

Em seu leito de morte,
e estou citando literalmente...

Não ria, escute...
Ele disse:

"Condeno a cegueira
dos que ignoraram o genocídio"

"e ditam as ordens do mundo."

Este cara foi o pai do direito
internacional,

e só tenho oito cenas no filme.

E você, Juan?

Eu faço Antônio Montesinos.

Sebastián me deu 20 livros para ler
mas não leio como ele.

Minha personagem
não é tão famosa quanto Bartolomé

mas é mais importante.

É mais importante porque fui o
primeiro a interceder pelos índios.

Fui o que começou tudo e deu
aquele sermão famoso.

"Eu sou a voz de Cristo no
deserto desta ilha"

"e estais em pecado mortal!"

Este fui eu.

Daniel, pode me dizer o que
o fez fazer este filme?

Como assim?

Do que mais você gostou em sua
personagem?

Talvez o que representa
na resistência indígena?

Ou mostra a colonização
de um ângulo diferente?

-Ele apenas quer o dinheiro!
-Como?

Ele apenas quer o dinheiro!

Há cenas de amor?

-Quantas garotas você beija?
-Precisa tirar a roupa?

Como chegou a isso,
tão pequeno?

Não, pessoal.

O que estão cavando?

Estamos ficando sem água,

e dai nos juntamos
e compramos...

Vê aquela colina?

Compramos um poço lá

e agora fazendo um canal.

-São uns 7 kms?
-Sim. Mais ou menos.

Sete?

Sim!

Estamos cavando uma
vala para trazer

os canos ao longo da ladeira

para a água chegar aqui.

E você? O que faz aqui?

Fazemos um documentário
sobre o filme.

Está perguntando muito.
Daniel, não confie nela.

Lá vem os desgraçados.

Eles estão parando.

Pararam.

O que eles querem?

O que estão fazendo aqui?

O que estão procurando?

-Como se diz "comida"?
-Mikuna.

Mikuna.

Como se diz:
"Estava delicioso"?

Ancha miski.

Como se diz: "Eu te amo"?

Anchata munaiki.

-E "vinho"?
-Vinho, também.

"Água"?

Yaku.

Quero um pouco de "yaku".

Nada como encarnar
a personagem.

Deus lhe abençoe, padre.

Por que não enche uma sacola plástica
com as sobras desta comida,

que vale mais que o salário deles
para que levem embora,

assim suas crianças magricelas
atacam com ratos famintos!

Então se sentirá
um missionário de verdade.

Antón, relaxe.

É sábado de noite.

Quanto tempo vai se lembrar
que "água" é "yaku"?

Isso não é muito piedoso,
padre,

mas o diretor cortará isto,
como tantos detalhes importantes.

Por exemplo,

o Las Casas

queria escravos negros da África
para substituir os índios.

Por que não põe isso no filme?

Não o deixe alfinetá-lo.

Não, é verdade. Ele pensou isso
quando era jovem,

mas durante muito pouco tempo.

Ele sempre lamentou isto.

-Negociou com os negreiros?
-O quê?

Um erro que o envergonhava.

Não perca seu juízo, padreco.

Não estou,
só estou informando-lhe.

Até seu último suspiro Las Casas
condenou bispos corruptos,

os mercadores, funcionários reais...
O Estado inteiro o odiava.

-Eles o odiavam?
-Sim. Presta atenção...

Ele disse que os índios foram
sacrificados, e eu cito,

"por apetite e interesses privados".

Há 500 anos...

Então um cínico como você tenta
reduzir a vida dele a um erro.

É como no futebol...

A história é sempre cruel
com os perdedores.

Deixa esta gente de lado
e faça o filme sobre mim!

Minha aparência é melhor, certo?
Mais bonito que ele.

Ele nunca questionou a autoridade
espanhola no Mundo Novo

ou a autoridade real.

Em outras palavras,
ele era um conservador.

Ele era um radical!

Ele exigiu que os índios fosse tratados
igualmente como espanhóis.

Sob a Coroa.

Mas com o consentimento dos índios.
Ele estava à frente do tempo.

Como Disney deixou isso escapar?

O plano está claro.

Você santifica estes desgraçados
e acaba comigo!

Isto não é arte, é pura
propaganda.

-Então por que está aqui?
-Como?

Por que está fazendo isto?

Pelo ouro!

E por Jesus Cristo!

Posso dizer algo?

"Eu sou a voz de Cristo
no deserto desta ilha"

"e estais em pecado mortal!"

O que você está fazendo?

O que está fazendo?

Arruma outro cadeado.

Por que você o quebrou?

O que estão fazendo no poço?

Nós o cavamos com nossas mãos
para que nossos filhos pudessem beber.

Vocês não têm o direito
de fechar o poço!

Como podemos sobreviver
com água suja?

Vocês levam nossas terras,
nossos poços.

Vão levar o ar também?

Não pagaremos mais nada.

Não falem todos ao mesmo tempo.

Escutem.

Estes homens estão fazendo
o trabalho deles.

Que trabalho?
Roubar a nossa água?

Não, senhora, não é isso.

O poço é nosso.

Água para nossas famílias,
para nossas crianças.

Vocês são pais, também.

Nós vamos lutar contra
para sempre!

A água é para nossos filhos!

Não tirem a água de
nossos filhos!

A água é para nossos filhos!

Certo,

é março de 1511.

Pessoal, dez minutos.

Obrigado.

Certo, março de 1511.

Os dominicanos reuniram os ricos e
poderosos de Santo Domingo

para escutar o sermão.

Bartolomé está sentado lá.

-Aqui?
-Sim, aí mesmo.

Ele é como os outros,
ainda tem índios e terras.

Sim, você está aí atrás.

Nós ouvimos o hino em latim.

E termina.

Uma breve pausa.

Você olha para Bartolomé.

E nós começamos.

Os fariseus mandaram perguntar a
João Batista quem ele era.

E ele respondeu:

"Sou uma voz que clama
no meio do deserto."

Os índios

garimpam o ouro
que constrói nossas cidades

e até mesmo nossas igrejas.

O ouro financia nossas conquistas
em lugares distantes

e assim gira a grande roda
do comércio.

A todos interessa
o suor dos índios,

até mesmo Sua Majestade
e os bispos dele!

Como padre,

devo seguir os mandamentos
do evangelho

o primeiro deles é pregar
a verdade.

Eu sou a voz de
Cristo no deserto desta ilha

e estais em pecado mortal!

O que está dizendo?
Ficou doido!

Vivem em pecado e nele morrerão!

Por quê?

Pela crueldade e pela tirania
com que tratam essa gente inocente.

Digam-me com que direito
e com que justiça

mantém estes índios nesta cruel
e horrível escravidão?

Viviam pacificamente
na terra deles!

-Ultrajante!
-Que autoridade tem...

para lutar com esta gente?

Que direito tem de mantê-los
tão oprimidos,

famintos e exaustos?

Estão morrendo por nossa culpa.

Ou melhor, vocês os matam!

Que vergonha,
isto é intolerável!

Como podem ser tão negligentes?

Como podem viver
nesse sonho letárgico?

Olhe nos olhos dos índios.

Acaso não são homens?

Não têm almas racionais?

Acaso não estão obrigados
a amá-los como a si mesmos?

Quem você pensa quem é?

Seu sermão de hoje

pôs em xeque minha autoridade
e a do Rei.

Você sabe que as concessões
dos indios são legais.

Exijo um retração oficial,
Padre Montesinos.

A verdade tem muitos inimigos.

A mentira tem muitos amigos.

Isto é uma ofensa capital!
Enforquem o traidor! Queimem-no!

Montesinos, volte para a Espanha
antes que cortemos sua língua!

Muito bom.

-Ele fez bem, não?
-Sim. Não, ele nunca se retratou.

No sábado seguinte ele fez
o mesmo sermão.

Ele os denunciou durante anos
até que o mataram.

Na Venezuela.

Ele foi a primeira voz da
consciência

contra todo um império.

Assim,

de uma igrejinha como esta.

Certo?

Sim.

Ótimo.

Ótimo.

Se apossam de nossos rios
contra nossa vontade,

nossos poços, nossos lagos,

e até mesmo a chuva
que cai sobre nossas cabeças.

Por uma lei!

Companheiros, eles não nos permitem
recolher a água da chuva.

É contra a lei.

E quem é dono da chuva?

Uma empresa cujos donos ficam
em Londres e Califórnia.

E depois o que vão nos roubar?

O ar que respiramos?

O suor do nosso rosto?

Pois tudo que vão conseguir de mim
é uma boa mijada.

Calma, pessoal!

Costa,

dizem que querem mobilizar
milhares de pessoas,

Do campo,
da cidade, dos sindicatos.

Essa gente está furiosa.

Não é à toa.
Estão roubando a água.

Vão lhes roubar a água.

Imagine um documentário sobre isto.

Me deixe fazer isto...

Eu não gasto mais nada.

O bicho vai pegar.

Vamos perder esta grande
oporunidade?

Eu disse que não!

Não sou "ongueiro"!
Não tenho nada a ver com isso.

Mas está aqui.

Entre.

Nossa, o chefe em pessoa.

Disseram que precisa
de uma ajuda.

Você?

Entre.

Ninguém mais se atreveria a vir
na caverna do ogro...

Sou eu,

novamente.

Tentei todos os números.

Não consigo contatá-la.
As crianças não têm meu número?

E a pequena?

Me ligue.

Malditas máquinas.

Você tem filhos?

Um menino de 14 anos.

Como ele é?

Para ser franco, eu não sei.
Ele vive com a mãe.

Este negócio arrebenta
as famílias.

Aqui.

Algo errado?

Esta maldita cabeça.
Não consigo me lembrar...

do maldito começo.
Minha fala...

São tão ingênuos...

São tão ingênuos e generosos
com o que têm

que nunca negam nada.

Não importa o que seja.
Se pedir eles dão.

Convidam para
compartilhar tudo com eles.

Eu ainda não descobri
se eles têm propriedade privada.

Com apenas 50 homens,

poderia subjugá-los

e obrigá-los a fazer
o que quiser.

O que quiser.

-Na primeira...
-Na primeira ilha que encontrei,

tomei vários a força.

Vossas Majestades verão

que darei todo ouro
que desejarem

em troca de uma pequena ajuda.

Além de temperos e algodão,
há escravos,

tantos quantos precisarem.

Toda Cristandade deveria
se alegrar

e solenemente agradecer a
Santíssima Trindade

por ter convertido tantas almas

pela santa fé,

e,

pelos incontáveis
benefícios materiais que nos trará.

Não só a Espanha

mas a toda Cristandade

desfrutará de conforto

e lucro.

Claro que não pode se lembrar.
Ninguém fala assim.

Esta é exatamente a primeira carta que
Colombo enviou do Mundo Novo

à Coroa espanhola.

É por isso que Sebastián
é tão fiel ao texto.

Não sei não...
É arriscado, mas eu gosto.

Mas,

se ele me desse espaço
para mostrar

o homem com suas dúvidas,
ansiedades...

Diga-lhe.

Por que bebe tanto?

Porque

estou sempre

com muita

muita

sede.

Mas conseguirá fazê-lo?

Senão estamos ferrados.

Que bom que precisam de mim.

Olhe para o tamanho disto.

-Podemos subir?
-Perguntaremos ao Costa.

Olá.

Tiveram mesmo que encher
isto com pó de ouro?

Parece que sim.

Daniel,

eu o vi em uma manifestação,
com a polícia.

Saiba que se algo acontece a você,
estamos ferrados.

Sem você,
não podemos terminar o filme.

Você não pode manter-se
fora disto?

São apenas três semanas.

Sim?

Alô!

O cara da grana. Viram você
na rua e disseram que esteve ótimo.

Estou aqui com o Hatuey.

Não, eu não percebi,
mas Sebastián tinha razão.

Sim, tinha razão.

Não, é do caralho, cara.
É do caralho.

Sabe, é mais barato
pôr alguém de contrapeso

que pagar um saco de areia.

Sim, sim, sim...

Dois dólares ao dia,
e riem à toa.

Deixa algumas bombas de água

e uns caminhões velhos
ao acabar... pronto,

200 extras!

Certo.

...a gente se fala, tchau.

Vamos fazer um filme fantástico,
você verá.

Não, mesmo.

Sebastián prepara umas
cenas incríveis,

centenas no desfiladeiro,
atrás de ouro.

E você está nessa!
Você está nessa!

É do caralho, homem.

Como?

É do caralho.

Só dois dólares, certo?

E eles riem à toa.

Trabalhei dois anos
em construção nos EUA.

Eu conheço essa história.

Belén, deixa isso.

Vamos.

-Não queria ir no barco?
-Temos que ir para casa.

Vamos, vamos.

Em fila.

Andando.

Capitão...

O que é isto?

Tentando me enganar?

Aqui só há areia.

Fale como um cristão!
Não o entendo!

Isto é areia.

Levem-no.

Próximo.

Não tem o bastante.

Não tem o bastante.

Muita areia.

Leve-o embora.

Pai!

Você, venha!

-Bem feito, garota, foi ótimo.
-Obrigada.

-Está feliz?
-Sim.

Senhorita, muito bem.

-Obrigada.
-Você tem talento.

Uma cena para se orgulhar.

Espero que lhe paguem
como deveriam.

Me pagam melhor do que
os extras.

Mais que os extras?
Meu Deus!

-Sabe quanto me pagam?
-Quanto?

Dois milhões de bolivianos.

-Papai!
-Olá.

Acabei de ver a cena
que fiz na selva.

Era muito interessante...

Era triste, mas interessante.
Eu gostei muito.

Não é de verdade, mas é legal.

-Você gostou?
-Sim, muito.

Devo desculpas a você.

É uma decisão terrível...

desesperadora.

Não podem suportar a ideia de que
os cães vão comer os bebês.

Falarão com Hatuey

e verão que não há outra
solução.

Terão que tomar esta decisão
e todas juntas

para dar coragem umas às outras.

Então vocês levarão os bebês,

lentamente,

pelo rio,

os colocarão na água
e os afogarão.

Vamos fazer assim.

Na primeira tomada vocês
entrarão com os bebês

e assim que estiver até
a cintura

a gente para,

traremos aquelas bonecas,

e trocamos os bebês.
Está bem?

Tudo bem?

Algum problema, Daniel?

Diga que é totalmente seguro.

Os bebês nem mesmo
vão se molhar.

Quando a água estiver na cintura,
nós cortaremos e então...

Tragam os bonecos para que...

Sebastián,

me dê um momento.

Ok, mas não temos muito tempo.

O que foi?

Eu não sei.

-O que foi?
-Elas não farão isto.

Olhe, eu sei que é difícil, mas temos
que conseguir que façam.

É importante para o filme...

Nem em pensamento
fariam isto.

Não estou inventando, é fato.

Precisamos mostrar.

É importante para o filme.

Algumas coisas são
mais importantes que seu filme.

Cristo!

O que eu faço?

Nada.

Vamos para a cena seguinte.

Pessoal, silêncio, por favor!
Escutem.

Nós estamos demorando muito
e está ficando quente.

Estudamos a possibilidade de ocupar
a Praça 14 de Setembro.

Pessoal!

Pessoal!

E ocupar o prédio
da Companhia de Água

e não sair até
que nos devolvem a água!

Não, isso é o que eles querem.

Estão procurando uma desculpa
para outro massacre.

Pessoal!

Nós todos bebemos água, não é?

Então todos temos que
ir na marcha.

Eu não concordo.

Vamos apanhar, levar bombas de gás.
E nossas crianças?

Vai cuidar delas?

Somos mulheres, temos filhos.
Não deveríamos ir.

Como podemos pagar
$450 ao ano?

É um roubo.
Melhor se nos dessem um tiro.

Silêncio, por favor!

Decidiremos por votação.
Nós votaremos.

Aquele que deseja lutar,
levante as mãos e diga:

"A água é nossa!"

A água é nossa!

A água é nossa!

A água é nossa!

A água é nossa!

-O que queremos?
-Água!

-Quando queremos?
-Agora!

É o Daniel?

O que ele está aprontando?

Após consultar os moradores...

Encrenca, o que mais?

Eu disse.
E agora? Devo trancafiá-lo?

...e os companheiros dos sindicatos,

nós, povo de Cochabamba,
declaramos

que se a privatização da água não
for revogada em 48 horas,

começaremos um bloqueio indefinido
da cidade e das estradas!

A água é nossa!

-O que queremos?
-Água!

-Quando queremos?
-Agora!

"Fusil, metralha, o povo
não se cala!"

"Fusil, metralha, o povo
não se cala!"

Obrigado.

-Sejam bem vindos.
-Obrigado.

-É um prazer conhecê-lo.
-O prazer é meu.

-Eu vi todos seus filmes.
-Todos?

É muita honra tê-lo
em nossa cidade.

Uma foto para meu
álbum de recordações?

Obrigado.

Por aqui.

Estamos duplamente honrados
que estejam aqui para contar a história

de Bartolomé de Las Casas.

Um homem pouco valorizado,
do meu ponto de vista.

Sim, é verdade.

Obrigado pelos policiais
que nos enviou.

Nós nos sentimos
muito mais seguros.

Estão queimando as contas de água.

Perdão, uma briga doméstica.

Nada com que devam se preocupar.

Não se preocupe, enquanto houver
champanha para beber,

"deixe-os comer brioches", como
disse Maria Antonietta.

É só uma desculpa para
alguns fanáticos

incitar os desesperados
e fazer seu nome em cima deles.

Me perdoe por dizer assim,

mas parece bem razoável
o que eles pedem.

Talvez se você estivesse
melhor informado...

Somos um país com poucos recursos.

É difícil de manter um serviço de
abastecimento de água

sem investimento estrangeiro.

Esta gente pensa que o dinheiro do
governo cresce em árvores.

Dado a longa história
de exploração,

os índios levam a desconfiança
nos genes.

É difícil argumentar com eles,

especialmente quando
são analfabetos.

Assim que é.

Temos relatórios
de professores de Harvard, do FMI...

Eu gostaria de ver como fariam
esses desgraçados do FMI

para alimentar suas famílias
com 40 dólares por mês!

De qualquer maneira, neste
mundo globalizado...

-Com licença, estão me chamando.
-Tudo bem.

Neste mundo globalizado
os índios queimam contas de água

e lançam pedras na polícia.

É o culto do vitimismo versus
a modernidade.

Eu não quero ser rude,

mas se alguém ganha dois
dólares por dia,

não tem como pagar 300%
de aumento na água.

Pelo menos é o que dizem.

O impressionante

é quanto disseram que vocês
pagam aos extras.

Sim, mas nós temos
um orçamento muito apertado.

É o que acontece com todos.

Eu serei honesto.
Os rumores são preocupantes.

Esta disputa pela água...

pode sair do controle
e teremos que parar de filmar.

Pode fazer algo?

Imagino que estejam tentando
chegar a um acordo.

Se cedermos um centímetro,

estes índios nos levarão de novo
à Idade da Pedra.

Agora, se me derem
licença...

-Sintam-se em casa.
-Obrigado.

Está mais claro que água, pessoal.
O seguro não cobre, e cito:

"guerra, conflitos civis
ou políticos,"

"golpe de estado, revolução
ou invasão de qualquer tipo".

De baratas a alienígenas.

Meu conselho é que recolham
tudo e vazem daí!

Ir embora?

Para onde?
E rodar em um maldito estúdio?

Não, cara, não vai funcionar,
já viu as cenas...

Se virem!
Mas aviso, podem perder tudo.

Se algo acontecer,
não pagarei um tostão.

Droga!

Como ele está?

Bateram nele.

-No rosto também?
-Vamos disfarçar com o cabelo dele.

Minha nossa!

Costa, faça-o entender.

Se fizermos a cena com a cruz,
estamos quites com filme.

Se não, estamos ferrados.

Faça-o entender.
Que tenha palavra!

O que está aprontando, Daniel?

Você não pensa

no tempo e esforço
investidos neste filme?

As centenas de pessoas
trabalhando nisto,

o dinheiro que estamos gastando?

Se você aprontar,
estamos todos ferrados.

São três semanas, é pedir demais?

Não há outro para resolver
esta coisa da água?

Está ouvindo?

Ah... O gato comeu sua língua,
honorável índio?

Ótimo.

Se for pego em outra manifestação
não ganha mais um centavo.

Está claro?

Escute bem...

Eu pago mais $5.000

se ficar longe de manifestações
até terminarmos.

Certo?

O quê?

Me perdoe, não é digno de você.

Ou não o suficiente?

Hein, Daniel?

Não é o suficiente?

8.000?

10.000?

10.000, Daniel!

Metade agora...
O resto quando terminarmos!

Você nunca viu
tanto dinheiro em sua vida!

É sua única maldita chance

de sair deste buraco onde vive.
É esperto para entender!

Ou não?

Droga!

Tudo bem.

O quê?

Está bem.

Chega de manifestações

e faça como combinamos
até acabar.

Tenho sua palavra?

Conto com sua palavra?

Teresa, guarde esse dinheiro.

Guarde o dinheiro.

Vamos precisar.

Bruno!

Droga, Bruno!

Estou falando.
Peça para se calarem, por favor.

Certo? Por favor.

Bruno, você é surdo?

Escute, todos na primeira posição.

Estamos aqui para trabalhar,
não para passear.

O que você quer?

-É o Costa.
-Passa para cá.

Olá.

Onde você está?

Não, Costa, não!
Onde estão meus bugres?

Onde o Daniel se meteu?

Um dia de distúrbios em
Cochabamba.

Desde o raiar do dia,
os camponeses bloquearam a cidade.

Esse grupo,
unido aos manifestantes,

e todos os moradores
afetados pelo problema de água

ameaçam promover ações todos os
dias a partir da próxima semana.

Centenas de pessoas,
inclusive de empresas privadas,

uniram-se ao protesto
organizado pelos camponeses

que anunciaram que manterão
as vias de pressão.

Isto parece realmente ruim.

-Podemos filmar assim?
-Sim, podemos.

...e forças militares
só causaram mais violência."

"Se não nos escutam,"
disseram,

"amanhã, a cidade será paralisada."

Em várias partes da cidade

foram registrados graves
enfrentamentos entre manifestantes...

Que animal!

...os manifestantes
bloquearam alguns...

Filho da puta!

...Jovens violentos lutam
contra a tropa de choque...

Veja como estão batendo!

É o Daniel?

Arrebentaram a cara dele.

É um idiota!
Será mandado para a prisão!

O quê?

O que está olhando, seu bêbado?

Veja,

sem a cena da cruz,
não há filme.

Certo?

Cris?

Aqui é o Costa.

Quanto dinheiro vivo podemos
conseguir esta noite?

Sim, hoje à noite.

5.000.

Está bem.
Olhe, o Daniel foi preso...

Escute!

Descubra onde ele está, e o nome
do chefe de policia,

e marque uma reunião.

Sim, agora.

Outra coisa...

Chame todo mundo,
amanhã faremos a cena da cruz.

Depois não sei o que faremos.
E não me importa.

Sim, você ouviu direito.

Eu dou um jeito neste desgraçado.
Vamos.

Aqui há dois mil.

Precisamos deste homem
para terminar o filme.

De acôrdo.

Mas com uma condição.

Assim que terminarem de filmar

eu o trago de volta.

Está bem.

-Não podemos fazer isso.
-Por que não?

Não podemos.

Podemos conversar um minuto?

Vai nos desculpar?

Com licença...

-Costa!
-O quê?

E se a polícia o matar?

Se for torturado ou desaparecer?
Os malditos são capazes de tudo.

Não quero isso
em minha consciência.

Mas ele já está na prisão!
Não o pusemos lá.

E o desgraçado nos enganou.

Sem a cena, não há filme.

-Você sabe disso.
-Sim, eu sei.

Estou dizendo.

-Mas acertamos com ele.
-Como quiser.

Mas depois de filmarmos a cena.
Senão o cara some.

-Droga, é...
-Agora não, Sebastian!

-Depois.
-Não posso.

Sim, você pode.

Sim, você pode.

Daniel?

Você me prometeu.

Fizemos um trato
e você não cumpriu.

Água é vida.
Você não entende.

Obrigado, rapazes.

Passou a noite acordado
e vomitando.

Não sei se consigo fazer.

Então o idiota que nos trouxe aqui
fala que ele pode fazer.

Sabe quando percebi que
você era louco?

Há sete anos.

Você me ligou às 02:00 da manhã.

Deve não se lembrar.

"Precisa ouvir esta!"

Você disse que foi escrito
por um padre,

chamado Montesinos,
no século XVI.

Eu não estava nem ligando.
No meio de um bar,

uma música ensurdecedora, bêbado,
todos a minha espera,

mal podia te ouvir,
mas você continua falando...

De uma humilde igreja de palha...

Um homem contra um império,

uma voz clamando no deserto.

Acaso não são homens?

Não têm almas racionais?

Não estão obrigados
a amá-los como a si mesmos?

Por isso se interessou.

Foi isso que o agarrou,

Meteu-se em sua cabeça
como um vírus.

Você não é do tipo que se rende.

Não mesmo.

Não pode desistir.

Venha.

Qual o problema?

Vamos.

Vamos.

Tragam todos aqui!
Mulheres, crianças, idosos.

Todos precisam ver isto.

Eu imploro, comandante.

Isto jogará os índios contra nós
por gerações.

A Coroa o processará por isto!

Eu duvido, padre.

Isto não é Cristão!

Escolha 13 e o resto estará livre.

Um para cada discípulo e um
para o próprio Cristo!

Quer escolher, padre?

Isto é um sacrilégio.

Não, padre.

É um exemplo.

Por que não se une aos franciscanos
e salve as almas deles?

Se é que eles têm.

Se ele interferir, o prenda.

Vamos!

Os evangelistas.

Mateus, Marcos...

Lucas e João.

Padre,

pode me ajudar?

Eu esqueci os nomes.

-César.
-Carlos.

-Manolo.
-Paco.

-Federico.
-Felipe.

Vejamos.
Quem será o Jesus Cristo?

Eu o batizo e terá
glória e paz eterna no Céu.

Caso contrário sofrerá
tormento eterno no Inferno.

Em nome de Cristo você ainda
pode salvar sua alma.

Aprender a diferença
entre o Céu e Inferno.

Peça perdão a Deus.

Eu o batizarei e terá
glória e paz eterna no Céu.

Caso contrário sofrerá
tormento eterno no Inferno.

Ele entendeu?

Cristãos vão para Céu?

Os bons cristãos, sim.

Manda-me ao Inferno!

Silêncio!

Isto é o que acontecerá se
desafiarem os cristãos.

O que estão dizendo?

O que dizem?

"Eu o desprezo."

"Desprezo seu Deus."

"Desprezo sua ganância."

Faça com que se calem!

Faça com que se calem!

Silêncio!

Silêncio!

O que estão dizendo, padre?

????????

O nome dele!

Graças a você, isto nunca
será esquecido!

OK, corta!

OK, pessoal, foi incrível!
Obrigado.

Vamos conseguir!

Droga!

Quem é Daniel?

Venha conosco.

Você está preso.

Venha conosco.

Um, dois, três.

-Volte!
-Me deixe passar!

Com licença!

Calma! Calma!
Por favor, por favor.

-Por favor, por favor!
-Atrás deles!

Soltem ele!

-Droga!
-Corra, Daniel!

É como um sonho.

Inacreditável...

Inacreditável...

O Comitê da Água disse que se
as "Águas bolivianas" não partirem,

os bloqueios nas ruas e nos
acessos à cidade, continuarão.

O Comitê, de sua parte,
pediu que continue os bloqueios,

e assim permanece neste estado
a maioria das estradas e ruas.

O governo declarou
estado de emergência

e enviou o batalhão de choque
de La Paz

para prevenir atos de vandalismo
e violência.

A Praça 14 de Setembro ainda
está tomada pelos cidadãos.

As estradas que ligam Cochabamba
com o resto do país

continuam bloqueadas.

Segundo o Vice Presidente da república
este é um ato de subversão

que tem como fim, desestabilizar

um governo constitucional
democraticamente eleito.

É um protesto oportunista

que pretende afundar o país
em desordem e caos.

Pessoal...

Pessoal! Pessoal!

Sinto muito,
mas estou com medo.

Quero voltar para casa.
É sério.

-Eu também.
-Como podem deixar o filme?

Não podem pular fora...

-Vocês assinaram um contrato.
-Não encha o saco!

-Sequer garante nossa segurança!
-Eu garanto.

-Uma ova!
-Garanto! Cale-se e escute!

Serão oito horas.

A zona rural
segue a mesma, está segura.

Costa!
Estou com medo!

Entendeu?

Medo.

E tenho um filho novo.

Tudo pode acontecer.

E não quero estar aqui
para ver.

Corram, coelhinhos, corram...

Covardes.

-O que faria Bartolomé?
-Não enche!

É, "yaku" prá cá, "coitadinhos"
para lá, e agora?

Que se fodam!

O que podemos fazer?

Já disseram!

Vá para um lugar seguro e acabe
o nosso trabalho!

É o que devemos fazer!
Nós devemos!

Prometo que aqui é seguro.

Falei com eles há 15 minutos.
Contrataram segurança particular.

Vamos empacotar e necessário e cair fora
antes de sermos apanhados.

As estradas ainda estão limpas.

Sim, mas
não sei por quanto tempo.

Por favor,

de verdade,

estou implorando.

Eu vou.

Vamos!

Vamos, pessoal.

Sim?

-Sim.
-Obrigado.

Pode me ouvir, Costa?
Estamos indo.

OK, perfeito.
Nós também estamos partindo.

Vão e não esperem por nós.
Nos alcançamos.

Adeus.

Estão prestes a fechar a estrada.
Devemos ir agora!

Todos nos carros!

Vamos, estamos indo!

Faltando alguém?

Droga, Wardrobe!
Não muda!

Teresa, qual o problema?

Eu queria pedir-lhe um favor.
Minha filha aprontou.

Ela estava brincando com as crianças
e pararam na manifestação.

-Manifestação?
-E agora ela está ferida.

-Me ligaram dos correios.
-Ela está ferida?

Alguns vizinhos me ligaram e disseram
que ela está ferida.

Como pôde deixa Belén
no meio disto?

Se não formos ela pode morrer,
por favor, me ajude!

Ajuda-me a levá-la ao hospital.

Ela está sangrando.
Você pode entender.

Estou desesperada.
Não sei o que fazer.

Eu imploro, por favor...

Certo, eu enviarei alguém.

Outra pessoa não!

Não deixarão ninguém passar.
A polícia está lá.

Ninguém pode passar, mas
talvez você possa.

Mas eu não posso ir.
Estou de partida com a equipe.

A quem mais posso recorrer?
Não há ninguém mais.

-Só você.
-Qual é o problema?

Me ajude, estou implorando.
Por favor, implorando.

Espere aqui.

-Algo aconteceu a Belén.
-O quê?

-Ela está ferida.
-Droga!

-Pediu que fosse com ela...
-Não, você não vai.

Você não vai a lugar nenhum.

É uma zona de guerra, Costa.

-Mas ela me pediu.
-Você não pode fazer nada!

Não me fode!
Fala prá ela que você não vai!

Precisamos de você!

Eu mandarei alguém...

Tem que ser você, por favor!

Outra pessoa será inútil,
não deixarão passar.

Não posso ir, Teresa.
Sou responsável pela equipe toda.

Não posso deixá-los agora.

Não posso fazer isto, Teresa!

Venha, vamos!

Por favor, você é um amigo.

Espere aqui.

Só um segundo, Bruno.

-Estou levando Belén para o hospital.
-Não, você está louco!

Me escute!

Este confronto vai terminar
e será esquecido.

Mas nosso filme
vai durar para sempre.

Por favor, venha conosco.
Se algo com você acontece, ferrou!

-Escute...
-Não...

Me escute
uma vez em sua vida!

Se algo acontecer àquela criança
eu nunca me perdoarei.

O exército está a caminho!
Esmagarão todo mundo! Você também!

-Eu não posso deixar a criança lá!
-O que vai fazer?

Eu não posso a deixar lá.

Me ajude, cara, por favor.

-Droga!
-Ajuda-me, Sebastián, por favor!

Você vai com a equipe.

Não posso deixar
aquela criança lá, não posso.

Você vai com eles.

Teresa, venha.

Está bloqueado.

Não tem como passar.

Vai por baixo.

-Por aqui?
-Sim, lá por baixo.

Dá para ver o prédio
da Companhia de Águas.

Estou na esquina.

A um quarteirão apenas.

Posso ver o mastro da bandeira.

Os soldados se defendem
em suas trincheiras.

Estão armados com rifles,
gás lacrimogêneo, balas de borracha,

ou algo pior que não posso
ver claramente.

Mas atrás de mim, a imagem é...

impressionante.

Jovens e idosos, cidadãos
de todas as idades,

camponeses e cocaleiros
estão se alinhando.

Acho que vão atacar.

Deve haver uns 2.000 deles

e mais estão em ruas laterais.

Lá vão eles!

Um exército do povo,

armados com pedaços de pau!

O que faremos?

Eu falarei com eles.

Obrigado! Obrigado!

O exército está atirando!

Com munição de verdade!

Dezenas caíram

mas a manifestação ainda continua.

Pedras contra balas!

Corpos caem próximo a mim.

Dezenas de feridos.

Droga, Costa, atenda!

Alto, senhor.

Jamais sairemos daqui, pessoal.
Jamais!

Abaixe!

Belén, meu amor,
o que eles fizeram com você?

O que fizeram?

Estou aqui, meu amor.

-São parentes?
-É a mãe dela. Como ela está?

Está piorando... Muito fraca.

Tenho um carro. Nós podemos levá-la
com outros para o hospital.

Não, as estradas estão bloqueadas
pela polícia. Como passará?

-Com dinheiro, sempre funciona.
-É?

Está bem.

Belén,

é o Costa.

Onde está o papai?

Não preocupe, amorzinho,
logo ele estará aqui.

Estou aqui,
você não está sozinha.

Não posso sentir minha perna.

Belén,

não chore.

Vamos levá-la ao hospital.

Mas que inferno!
Não vê que estamos trabalhando?

Vamos!

Estão saindo.

O que estão aprontando?

Seu idiota, calado!

Desgraçado!

-Quebrou o pescoço dele!
-Calma!

-Desgraçado!
-Calado!

O que é isso?
Dá uma olhada pela janela!

Dá uma olhada pela janela!

O que estamos fazendo aqui?

Olhe aquilo!

Pronto

Estamos indo, já decidimos.
Vamos ao aeroporto.

Terminou, Sebastián.

Você não vê?

-Vou ficar.
-Eu sinto muito, terminou.

-Vamos nessa.
-Maria...

Vamos com eles,
estou com sua bolsa.

Sebastián, vamos.

É um teimoso.

Você também vai?

Eu sinto muito.

Venha, Sebastián.

-Antón?
-Ninguém espera por mim.

Certo, continue andando!

Ei você!
Não pode falar com os prisioneiros!

-Posso vê-la?
-Sim, adiante.

Doutor, como ela está?

Foi por pouco. Perdeu
muito sangue mas está estável.

Ela vencerá.

O problema é que...

O quê?

Nós salvamos a perna dela

mas o dano foi sério.

Ela terá dificuldade para
andar, se é que...

Preciso achar o pai dela.

Obrigado, doutor.

Onde está o exército?

Chega de luta.

A água é de vocês.

Chega de luta.

Chega de luta.

A água é de vocês.

A água é de vocês.

Como está Belén?

Você está em todos os jornais.

"Multinacional desiste da Bolívia
após guerra por água."

Este é você.

Sempre nos custa tentar.

Nunca é fácil.
Oxalá houvesse outro jeito,

mas não há.

E a parte mais dura está por vir.

O que vai fazer?

Eu não sei.

Ajudar Sebastián a terminar isto.

De alguma maneira.

Em algum lugar.

Mas não sei como.

O que vai fazer?

Sobreviver, como sempre.

O que nós fazemos melhor.

Vou te ajudar com Belén,
eu prometo.

Voltará?

Eu acho que não.

É um presente.

Obrigado.

Você salvou a vida de minha filha.

Nunca me esquecerei.

Eu tenho que ir.

Se cuida.

Por favor.

Se cuida.

Você também.

Yaku.

Tradução e revisão:
-== Pinguim-SP e Rmonta ==-