O futuro da educação: Uma entrevista com Sugata Mitra | Sugata Mitra | TEDxRíodelaPlata

Esta palestra foi dada num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx.

Entrevistámos Sugata Mitra, o vencedor do Prémio TED 2013. O seu desejo: Construir uma Escola na Nuvem, onde as crianças possam explorar e aprender umas com as outras.

Analisámos o progresso feito para realizar o seu sonho e ele falou-nos da sua perspetiva sobre o futuro do ensino.

Diego Golombek: Sugata, é uma honra

tê-lo aqui no TEDxRíodelaPlata.

Penso que muitos de nós o conhecemos
pelas suas experiências anteriores.

Lembram-se de "Um buraco na parede"?

Aquela sobre um computador
que apareceu subitamente numa aldeia.

Mas agora queria perguntar-lhe
o que se passa neste momento com o SOLE,

o que aconteceu com o Prémio TED.

Como vai a implementação disso?

Está a fazer progressos?
Como é a sua avaliação?

Sugata Mitra: Penso que quer saber
o que aconteceu depois daquele filme.

Eu vou dizer o que aconteceu.

Construímos sete Escolas na Nuvem.

Cinco na Índia e duas em Inglaterra.

O que é a Escola na Nuvem?

Vou dar-vos um pequeno exemplo.

As pessoas costumavam viajar
de um lado para o outro,

numa carruagem puxada por cavalos,
durante centenas de anos,

até ser inventado o automóvel.

Quando foi inventado o automóvel
os cavalos e as carruagens desapareceram

e o cocheiro, o homem que conduzia
os cavalos e as carruagens

também desapareceu.

Os passageiros passaram
a ser os condutores.

Na Escola na Nuvem,
o que estamos a tentar descobrir

é se, nos nossos sistemas de educação,

chegou a altura de pôr
os passageiros a conduzir.

Por isso, montámos estas sete escolas.

A mais distante não tinha nada,

nem eletricidade, nem escolas,
nem cuidados de saúde.

As melhores, aqui em Inglaterra,
tinham tudo.

Depois, deixámos os alunos
conduzirem o carro.

O que é que aconteceu?

Podem pensar que vou dizer
qualquer coisa romântica, mas não vou.

Fui mordido por milhões de mosquitos.

(Risos)

(Aplausos)

Depois, as crianças começaram a mudar.

Em Inglaterra, os alunos
enviaram-me um e-mail, dizendo:

"Porque é que estão a ensinar?"

Em Korakati, a mais longínqua
das nossas Escolas na Nuvem,

as crianças disseram:

"Porque é que a mulher do Skype
fala um inglês tão básico?

"Ela não sabe que a compreendemos?"

(Risos)

Noutra aldeia de Bengala, Chandrakona

notei um sotaque perfeito de Birmingham.

(Risos)

Foi mais rápido do que eu esperava.

Não sei se vão acreditar:

Em Korakati, a aldeia em que
as crianças não sabem nada de inglês,

no terceiro dia,

um dos professores de inglês disse:

"Estas crianças são amorosas, disseram:
'Quando é que voltas?'"

Eu disse: "Em que língua
é que perguntaram isso?"

E ela: "Em inglês".

Três dias!

(Aplausos)

Obrigado.

Perguntei às crianças:

"Como é que aprenderam
a falar inglês tão depressa?"

Elas olharam para mim e disseram:

"Sabe, aquela mulher
que aparece no ecrã

"só percebe inglês".

(Aplausos)

Agora, a parte difícil.

Os sete laboratórios
têm diferentes tipos de problemas.

O maior problema não é a pedagogia,
não é o ensino e a aprendizagem,

é a tecnologia.

Eu esforço-me por manter
esses locais distantes a funcionar

mas sei que hei de encontrar o caminho,
ainda tenho mais um ano.

Sei que hei de arranjar forma
para mantê-los a funcionar

e tenho a certeza,

e digo isto pela primeira vez
num palco TED,

que os passageiros
estão a conduzir o carro.

(Aplausos)

Obrigado.

Mais uma coisa que preciso de dizer.

Costumava ser chamado para conferências,

ainda sou.

Mas, durante o ano passado, fui chamado

pelos Departamentos de Educação
de governos de vários países.

Eles estão atentos.

E só tenho uma sugestão para eles,

uma coisa que quero
que alguns governos experimentem,

talvez o governo daqui, na Argentina.

É muito simples.

Quero que permitam o uso
da Internet durante os exames.

(Aplausos)

Obrigado.

Sei que há aqui estudantes,
e sei que o dia dos exames

é o único dia da vida deles
em que não têm acesso à Internet.

Espero poder ser capaz de mudar isso.

Se a Internet entrar nos exames,

todo o sistema terá mudado.

Será pois uma ideia
que vale a pena espalhar.

DG: Sugata, uma pergunta que decerto
lhe estão sempre a fazer.

Com esta aprendizagem auto-organizada,

o que é que acontece aos professores,
o que sobra para os professores?

SM: Há um grande mal entendido
de que os professores deixam de ter um papel.

Isso não é verdade, de modo nenhum.

Num SOLE, as crianças encontram
as respostas às perguntas,

Mas quem faz as perguntas?
Quem escuta as suas respostas?

Mais importante ainda, quem diz:
"Bom trabalho"?

É isso que o professor tem que fazer.

(Aplausos)

DG: Com respeito ao que Sugata referiu,

sobre isto estar a ser implementado aqui,

há um plano para, pelo menos,
uma escola em Barracas,

que começará em breve
com este sistema SOLE

de aprendizagem auto-organizada
da Escola na Nuvem.

Uma última pergunta, Sugata.

Chegou ontem, tem andado
de um lado para o outro,

por isso é uma honra
ter passado connosco algum tempo.

A última pergunta é.

Uma das suas maiores preocupações
é a escola do futuro.

Pensemos num futuro a meio-prazo,
dentro de 50 anos.

Como é que imagina, como é que
deseja que a escola seja?

SM: É-me difícil dizer como será a escola.

Mas vai acontecer qualquer coisa
muito profunda e não vai levar 50 anos.

A nossa definição da palavra "saber".

O que é que significa dizer-se
"Eu sei uma coisa?"

Pode ser qualquer coisa
que tenhamos aprendido na escola

quando tínhamos sete anos.

ou qualquer coisa que o Google
nos disse há um minuto.

"Saber" não significa nada.

Devemos ficar tristes?
Não, acho que não.

As ideias, tal como os objetos,
tornam-se obsoletas.

Quando comecei, dizia:

"As escolas passarão a ser obsoletas".

Agora sou forçado a dizer
que saber passará a ser obsoleto.

O que ganharemos é isto:

a consciência coletiva
de sete mil milhões de pessoas.

(Aplausos)