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Como uso o sonar para navegar no mundo

  • 0:02 - 0:05
    (Estalidos)
  • 0:08 - 0:13
    Eu nasci com retinoblastoma bilateral,
  • 0:13 - 0:15
    cancro da retina.
  • 0:15 - 0:19
    O meu olho direito foi removido
  • 0:20 - 0:21
    aos sete meses de idade.
  • 0:21 - 0:25
    Tinha 13 meses quando me
    removeram o olho esquerdo.
  • 0:26 - 0:32
    A primeira coisa que fiz,
    após acordar dessa última cirurgia
  • 0:32 - 0:35
    foi sair do meu berço
  • 0:35 - 0:40
    e começar a vaguear pelo
    berçário de cuidados intensivos,
  • 0:40 - 0:43
    provavelmente à procura
    de quem me fez isto.
  • 0:43 - 0:45
    (Risos)
  • 0:47 - 0:50
    Evidentemente, vaguear pelo berçário
  • 0:50 - 0:54
    sem olhos, não era um problema para mim.
  • 0:54 - 0:56
    O problema era ser apanhado.
  • 0:58 - 1:01
    São as impressões sobre a cegueira
  • 1:01 - 1:04
    que são muito mais ameaçadoras
  • 1:04 - 1:08
    para os cegos, que a cegueira em si.
  • 1:09 - 1:13
    Pensem por um momento, sobre
    as vossas impressões de cegueira.
  • 1:13 - 1:18
    Pensem nas vossas reações
    quando subi ao palco,
  • 1:18 - 1:21
    ou na perspetiva da vossa
    própria cegueira,
  • 1:21 - 1:25
    ou de um ente querido ficar cego.
  • 1:25 - 1:31
    O terror é incompreensível
    para a maioria de nós,
  • 1:31 - 1:33
    porque a cegueira
  • 1:33 - 1:39
    é vista como se resumisse
    a ignorância e o desconhecimento,
  • 1:39 - 1:46
    a desafortunada exposição
    à devastação do escuro desconhecido.
  • 1:47 - 1:48
    Que poético.
  • 1:49 - 1:53
    Felizmente para mim,
    os meus pais não eram poéticos.
  • 1:53 - 1:55
    Eram pragmáticos.
  • 1:55 - 2:01
    Compreenderam que a ignorância e o medo
    eram apenas questões mentais,
  • 2:01 - 2:05
    e a mente é adaptável.
  • 2:05 - 2:09
    Acreditavam que eu devia crescer
  • 2:09 - 2:14
    para desfrutar das mesmas liberdades
    e responsabilidades que todos os outros.
  • 2:14 - 2:16
    Nas suas próprias palavras,
    eu iria sair de casa
  • 2:16 - 2:19
    — o que fiz, aos 18 anos —
  • 2:19 - 2:21
    iria pagar impostos
  • 2:21 - 2:23
    — obrigado.
  • 2:23 - 2:25
    (Risos)
  • 2:26 - 2:31
    E eles sabiam a diferença
    entre amar e ter medo.
  • 2:31 - 2:36
    O medo imobiliza-nos
    perante o desafio.
  • 2:36 - 2:39
    Sabiam que a cegueira iria
    ser um desafio significativo.
  • 2:39 - 2:41
    Eu não fui educado com medo.
  • 2:42 - 2:45
    Colocaram a minha liberdade acima de tudo,
  • 2:45 - 2:48
    porque isso é o que o amor faz.
  • 2:49 - 2:53
    Agora, avançando,
    como é que me safo hoje em dia?
  • 2:54 - 2:57
    O mundo é uma creche muito maior.
  • 2:57 - 3:01
    Felizmente, tenho a minha longa
    bengala de confiança.
  • 3:01 - 3:04
    Mais longa que as utilizadas
    pela maioria dos cegos.
  • 3:04 - 3:06
    Eu chamo-lhe o meu bastão da liberdade.
  • 3:07 - 3:09
    Impede-me, por exemplo,
  • 3:09 - 3:14
    de fazer uma saída indigna do palco.
  • 3:14 - 3:16
    (Risos)
  • 3:16 - 3:18
    Eu vejo aquela borda do precipício.
  • 3:18 - 3:22
    Eles avisaram-nos anteriormente
    que, aqui no palco,
  • 3:22 - 3:25
    já ocorreram todas as peripécias
    imagináveis a oradores.
  • 3:25 - 3:27
    Não quero estabelecer
    um novo precedente.
  • 3:28 - 3:30
    Mas além disso,
  • 3:30 - 3:34
    muitos poderão ter-me ouvido
    a dar estalidos enquanto subia ao palco...
  • 3:34 - 3:35
    (Estalidos)
  • 3:35 - 3:37
    ... com a língua.
  • 3:37 - 3:40
    São flashes de som
  • 3:40 - 3:45
    que refletem em superfícies
    a toda à minha volta,
  • 3:45 - 3:46
    tal como o sonar de um morcego,
  • 3:46 - 3:52
    e voltam para mim com padrões,
    com pedaços de informação
  • 3:52 - 3:55
    tal como a luz volta para vocês.
  • 3:55 - 3:59
    O meu cérebro, graças aos meus pais,
  • 3:59 - 4:04
    foi ativado para formar imagens
    no meu córtex visual,
  • 4:04 - 4:07
    ao qual nós agora chamamos
    sistema de imagem,
  • 4:07 - 4:11
    a partir desses padrões de informação,
    tal como o vosso cérebro faz.
  • 4:11 - 4:14
    Eu chamo a este processo "sonar de flash".
  • 4:15 - 4:20
    É como eu aprendi a ver
    através da minha cegueira,
  • 4:20 - 4:23
    para navegar na minha viagem
  • 4:23 - 4:27
    por entre o escuro desconhecido
    dos meus próprios desafios.
  • 4:28 - 4:31
    Assim recebi a alcunha
  • 4:31 - 4:34
    de "o extraordinário Batman"
  • 4:35 - 4:38
    Ora bem, Batman eu até aceito.
  • 4:38 - 4:41
    Os morcegos são porreiros.
    O Batman é porreiro.
  • 4:41 - 4:47
    Mas não fui criado para pensar em mim,
    de forma alguma, como extraordinário.
  • 4:48 - 4:52
    Sempre me considerei igual a todos aqueles
  • 4:52 - 4:57
    que navegam no escuro desconhecido
    dos seus próprios desafios.
  • 4:57 - 5:00
    Será isso assim tão extraordinário?
  • 5:01 - 5:04
    Eu não uso os meus olhos,
    uso o meu cérebro.
  • 5:05 - 5:07
    Ora bem, alguém, algures,
  • 5:07 - 5:11
    deve achar isso extraordinário,
    ou eu não estaria aqui em cima,
  • 5:11 - 5:14
    mas vamos refletir
    nisto por um momento.
  • 5:15 - 5:19
    Quem no público
  • 5:19 - 5:22
    enfrenta ou alguma vez
    enfrentou um desafio,
  • 5:22 - 5:24
    levante a mão.
  • 5:26 - 5:28
    Ok. Está bem.
  • 5:28 - 5:31
    Muitas mãos levantadas, um momento,
    deixem-me fazer uma contagem.
  • 5:31 - 5:33
    (Estalidos)
  • 5:34 - 5:35
    Isto vai demorar um bocado.
  • 5:35 - 5:37
    (Cliques) (Risos)
  • 5:37 - 5:38
    Ok, muitas mãos no ar.
  • 5:38 - 5:41
    Mantenham-nas no ar.
    Tenho uma ideia.
  • 5:41 - 5:46
    Aqueles que usam o cérebro
    para ultrapassar esses desafios,
  • 5:46 - 5:48
    baixem as mãos.
  • 5:50 - 5:53
    OK, se ainda está alguém
    com a mão no ar
  • 5:53 - 5:56
    tem problemas sérios.
  • 5:56 - 5:58
    (Risos)
  • 5:58 - 6:01
    Então, todos nós enfrentamos desafios,
  • 6:01 - 6:05
    e todos nós enfrentamos
    o escuro desconhecido,
  • 6:05 - 6:09
    que é endémico na maioria dos desafios,
    que é o que mais receamos, certo?
  • 6:09 - 6:13
    Mas todos nós temos cérebro
  • 6:13 - 6:17
    que nos permite,
    que se ativa para nos permitir
  • 6:17 - 6:23
    navegar através da jornada
    destes desafios.
  • 6:24 - 6:29
    Caso em questão:
    Eu vim aqui acima
  • 6:29 - 6:35
    e (estalidos) eles não me disseram
  • 6:35 - 6:37
    onde estava a tribuna.
  • 6:38 - 6:41
    Por isso, não podemos confiar
    nesta gente da TED.
  • 6:43 - 6:45
    "Encontra-o sozinho", disseram eles
  • 6:45 - 6:48
    (Risos)
  • 6:49 - 6:52
    O "feedback" do sistema sonoro
    também não ajudou.
  • 6:53 - 6:56
    Então apresento-vos um desafio.
  • 6:56 - 7:00
    Podem todos fechar os olhos
    por um momento, ok?
  • 7:01 - 7:04
    Vão aprender um pouco
    acerca do sonar de flashes.
  • 7:04 - 7:05
    Eu vou fazer um som.
  • 7:05 - 7:09
    Vou segurar este painel à minha frente
    mas não o vou mover.
  • 7:09 - 7:11
    Ouçam apenas o som por um momento.
  • 7:13 - 7:16
    Shhhhhhhhhh.
  • 7:19 - 7:21
    Ok, nada de muito interessante.
  • 7:21 - 7:24
    Agora, ouçam o que acontece
    ao mesmo exato som
  • 7:24 - 7:26
    quando movo o painel.
  • 7:27 - 7:30
    Shhhhhhhhhh.
  • 7:30 - 7:33
    (Som a ficar mais grave ou agudo)
  • 7:38 - 7:42
    Vocês não conhecem
    o poder do lado negro.
  • 7:42 - 7:43
    (Risos)
  • 7:44 - 7:46
    Não consegui resistir.
  • 7:48 - 7:50
    Ok, agora mantenham os olhos fechados
  • 7:50 - 7:52
    porque, ouviram a diferença?
  • 7:52 - 7:55
    Ok. Agora, vamos ter a certeza.
  • 7:55 - 7:57
    Para o vosso desafio,
  • 7:57 - 8:02
    digam-me apenas "agora"
    quando ouvirem o painel começar a mexer-se.
  • 8:03 - 8:06
    Ok? Vamos relaxar para isto.
  • 8:08 - 8:11
    Shhhhhhhhh.
  • 8:12 - 8:14
    Audiência: Agora.
    Daniel Kish: Boa. Excelente.
  • 8:14 - 8:16
    Abram os olhos.
  • 8:16 - 8:20
    Muito bem. Apenas alguns centímetros,
  • 8:20 - 8:22
    e já tinham notado a diferença.
  • 8:22 - 8:25
    Vocês experimentaram o sonar.
  • 8:26 - 8:27
    Dariam todos excelentes cegos.
  • 8:27 - 8:29
    (Risos)
  • 8:29 - 8:31
    Vamos ver o que pode acontecer
  • 8:31 - 8:35
    quando se dá algum tempo e atenção
  • 8:35 - 8:38
    a este processo de ativação.
  • 8:39 - 8:42
    (Vídeo) Juan Ruiz:
    Vocês podem ver com os olhos
  • 8:42 - 8:45
    e nós podemos ver com os ouvidos.
  • 8:45 - 8:49
    Brian Bushway: Não é uma questão
    de desfrutar mais ou menos,
  • 8:49 - 8:51
    é uma questão de desfrutar
    de uma forma diferente.
  • 8:51 - 8:55
    Shawn Marsolais: Vai em frente.
    DK: Sim.
  • 8:55 - 8:58
    SM: E depois desce gradualmente.
  • 8:58 - 9:00
    DK: Sim!
    SM: É fantástico.
  • 9:00 - 9:02
    Eu posso ver o carro.
    Santo deus!
  • 9:10 - 9:12
    J. Louchart: Eu adoro ser cego.
  • 9:12 - 9:15
    Se tivesse a oportunidade,
    honestamente, não voltaria a ver.
  • 9:16 - 9:19
    JR: Quanto maior o objetivo,
    mais obstáculos irás enfrentar,
  • 9:19 - 9:22
    e no outro lado desse objetivo
  • 9:22 - 9:23
    está a vitória.
  • 9:25 - 9:27
    (Em italiano)
  • 9:29 - 9:31
    (Aplausos)
  • 9:38 - 9:42
    DK: Estas pessoas
    parecem-vos aterrorizadas?
  • 9:43 - 9:44
    Nem por isso.
  • 9:44 - 9:47
    Temos administrado
    treinos de ativação
  • 9:47 - 9:49
    a dezenas de milhares de pessoas
    de várias origens
  • 9:49 - 9:51
    tanto cegas como com visão,
  • 9:51 - 9:53
    em quase 40 países.
  • 9:53 - 9:57
    Quando os cegos aprendem a ver,
  • 9:57 - 10:00
    os que têm visão parecem inspirados
  • 10:00 - 10:06
    a quererem aprender a ver da forma deles,
    melhor, mais claro, com menos medo,
  • 10:07 - 10:13
    porque isto exemplifica
    a imensa capacidade dentro de nós
  • 10:13 - 10:19
    para navegar por qualquer tipo de desafio,
    através de qualquer forma de escuridão,
  • 10:19 - 10:23
    para descobertas inimagináveis
  • 10:23 - 10:27
    quando somos ativados.
  • 10:28 - 10:33
    Desejo-vos a todos uma jornada
    bastante ativadora.
  • 10:34 - 10:35
    Muito obrigado.
  • 10:35 - 10:38
    (Aplausos)
  • 10:44 - 10:46
    Chris Anderson: Daniel, meu amigo.
  • 10:46 - 10:51
    Como sei que consegues ver, está
    uma fantástica ovação de pé no TED.
  • 10:51 - 10:54
    Obrigado por uma palestra extraordinária.
  • 10:54 - 11:00
    Só mais uma pergunta sobre o teu mundo,
    o mundo interno que constróis.
  • 11:00 - 11:05
    Nós pensamos que temos coisas no nosso
    mundo que tu, sendo cego, não tens,
  • 11:05 - 11:07
    mas como é o teu mundo?
  • 11:07 - 11:10
    O que é que tens que nós não temos?
  • 11:10 - 11:13
    DK: Visão 360º.
  • 11:13 - 11:17
    O meu sonar funciona tão bem
    à minha frente como atrás de mim.
  • 11:17 - 11:18
    Funciona em torno de cantos.
  • 11:18 - 11:21
    Funciona através de superfícies.
  • 11:22 - 11:27
    No geral, é tipo uma distorcida
    geometria tridimensional.
  • 11:27 - 11:31
    Um dos meus alunos,
    que é agora instrutor,
  • 11:31 - 11:34
    quando perdeu a visão,
    após alguns meses
  • 11:34 - 11:36
    estava sentado na sua casa de três andares
  • 11:36 - 11:40
    e percebeu que conseguia ouvir
    tudo o que se passava pela casa:
  • 11:40 - 11:45
    conversas, pessoas na cozinha,
    pessoas na casa de banho,
  • 11:45 - 11:47
    vários pisos à distância,
    várias paredes de distância.
  • 11:47 - 11:51
    Ele disse que era algo
    como ter visão raios x.
  • 11:51 - 11:55
    CA: Em que é que imaginas
    que estás agora?
  • 11:55 - 11:58
    Como visualizas este anfiteatro?
  • 11:58 - 12:03
    DK: Muitos altifalantes, francamente.
  • 12:04 - 12:09
    É interessante.
    Quando as pessoas fazem um som,
  • 12:09 - 12:14
    quando riem, quando se contorcem,
    quando bebem uma bebida ou assoam o nariz
  • 12:14 - 12:17
    ou o que quer que seja,
    ouço tudo.
  • 12:17 - 12:20
    Ouço o mais pequeno movimento
    que cada pessoa faz.
  • 12:20 - 12:23
    Nada escapa à minha atenção,
  • 12:23 - 12:24
    e depois, de uma perspetiva sonar,
  • 12:24 - 12:30
    o tamanho da sala, a curvatura
    do auditório em redor do palco,
  • 12:30 - 12:34
    é a altura da sala...
  • 12:34 - 12:37
    É como eu digo, é toda aquela espécie
    de superfície tridimensional
  • 12:37 - 12:39
    toda à minha volta.
  • 12:39 - 12:41
    CA: Bem, Daniel,
    fez um trabalho espetacular
  • 12:41 - 12:44
    a ajudar-nos todos a ver o mundo
    de uma maneira diferente.
  • 12:44 - 12:46
    Muito obrigado por isso, sinceramente.
    DK: Obrigado.
  • 12:46 - 12:50
    (Aplausos)
Title:
Como uso o sonar para navegar no mundo
Speaker:
Daniel Kish
Description:

Daniel Kish é cego desde os 13 meses de idade, mas aprendeu a "ver" utilizando uma forma de ecolocalização. Daniel estala a língua e emite flashes de som que refletem nas superfícies e voltam para ele, ajudando-o a construir e perceber o espaço que o rodeia. Numa emocionante palestra, Kish demonstra como este sistema funciona e pede-nos que nos libertemos do medo da "escuridão desconhecida".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
13:03

Portuguese subtitles

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