-
(O sino toca duas vezes)
-
Que maravilhoso estarmos juntos. Saúde!
-
Isso foi o Larry, a espirrar.
-
Vamos começar por chegar aqui.
-
Como foi o teu dia, hmm?
-
Encontra agora o teu lugar na cadeira.
-
Vamos começar com um pequeno momento
de ligação ao nervo vago,
-
então talvez possamos apenas
aquecer as mãos enquanto nos acomodamos.
-
E como foi o nosso dia?
-
Olá corpo.
-
Estou aqui, a dar algum calor.
-
E agora vamos apenas esfregar as orelhas
e fazer pequenos círculos para cima.
-
Vamos fazer em ambas as direções,
mas sem pressionar,
-
apenas respirando
e fazendo um círculo suave e geral.
-
A respirar, a acalmar.
-
Certifica-te de que vais nas duas direções.
-
Pés no chão para muitos de nós,
e rabo na cadeira.
-
E agora, se conseguires puxar ligeiramente as orelhas,
-
sem magoá-las,
-
apenas um puxão suave para os lados.
-
E ao mesmo tempo,
esfregando ligeiramente as orelhas.
-
A minha mãe tinha orelhas auspiciosas.
-
Um dos sinais de um Buda
são os lóbulos longos.
-
A comunidade vietnamita adorava a minha mãe.
-
Ela não precisava de fazer nada
a não ser ter aquelas orelhas,
-
por isso lembro-me sempre das orelhas dela
quando faço isto.
-
Eu não herdei totalmente
esse sinal auspicioso.
-
Pois, então continua a esfregar as orelhas.
-
E agora voltamos a esfregar um pouco as mãos.
-
Vamos colocar as mãos sobre os olhos
e respirar pelo menos três vezes.
-
Depois movemos as mãos até à mandíbula,
o mesmo, pelo menos três respirações.
-
As crianças com quem trabalho
chamam a isto a “posição oh meu Deus”.
-
Mas para nós,
é mesmo sentir o calor na mandíbula.
-
Agora movemos as mãos até ao coração.
-
Vamos pôr uma mão na barriga
e a outra fica no coração,
-
com uma ligeira inclinação do corpo.
-
Vamos repetir isso.
-
Pelo menos três respirações sobre os olhos.
-
E repara, talvez notes
que o teu corpo se vai acomodando.
-
E podemos falar com o nosso nervo vago:
"Olá, nervo vago".
-
Depois voltamos à mandíbula,
à “posição oh meu Deus”.
-
Depois o coração.
-
E depois uma mão na barriga
e outra no coração.
-
E mais uma vez,
mãos sobre os olhos.
-
A enviar energia de luz,
de bondade amorosa,
-
a dar um descanso aos teus olhos.
-
Depois a mandíbula.
-
Depois o coração.
-
E depois coração e barriga.
-
Agora podes decidir
se queres manter as mãos aí,
-
ou simplesmente tirá-las lentamente.
-
Eu vou manter as minhas aqui.
-
E agora vamos fazer
um pouco mais de enraizamento, para começar.
-
Conscientes da energia vertical
que atravessa o nosso corpo, da Terra ao céu.
-
Conscientes da linha central do corpo.
-
E sentir-te na tua altura completa,
mesmo estando sentado,
-
como se a tua cabeça tocasse as nuvens.
-
O nosso coração eleva-se ligeiramente.
-
Às vezes os ombros
lembram-se de relaxar.
-
E agora conscientes da energia horizontal,
as “costuras” laterais do corpo,
-
os lados dos pés, das ancas, dos ombros,
-
e à medida que respiramos e sintonizamos,
-
isto é o que nos liga
energeticamente uns aos outros,
-
enquanto criamos um espaço seguro e bonito,
-
liga-nos a pessoas,
animais, plantas e minerais,
-
e à comunidade milagrosa e querida
que se reuniu neste momento.
-
E agora, conscientes da profundidade do nosso corpo.
-
Ajuda-me inclinar-me um pouco para trás
até à pélvis
-
e conectar-me verdadeiramente
com toda a parte de trás do corpo.
-
Ombros, coluna, rabo.
-
Agora sintoniza com o corpo inteiro,
a forma do corpo,
-
o espaço que ocupas na sala.
-
E faz-te três perguntas:
-
Sinto-me seguro?
-
E se não te sentes,
abre suavemente os olhos e vira-te ligeiramente,
-
para poderes olhar em todas as direções.
-
Consciente do espaço onde estás e da segurança.
-
Sinto-me confortável?
-
O teu corpo dir-te-á.
-
Estou presente?
-
E essa pergunta é feita com objetividade,
-
sem julgamento,
apenas: estou aqui, mesmo aqui?
-
E agora convida o teu corpo a relaxar
e a acomodar-se ainda mais.
-
Não há nada que precises de fazer,
nenhum lugar para onde ir.
-
(O sino toca duas vezes)
-
É um prazer estar contigo,
pela primeira vez ou não.
-
Espero que estejas bem neste dia.
-
Quero começar com um poema para ti:
-
O pó das estrelas está a cair,
-
a cair sobre os sábios e os tolos,
os esperançosos e os desanimados,
-
e ainda assim,
a floresta à porta da minha casa sorri.
-
Lembro-me agora,
da profundidade do oceano do esquecimento.
-
Continuo a ser puxado para longe
do momento presente,
-
pela melancolia do passado,
-
ou pela ansiedade do futuro.
-
Reconheço-me e a minha jornada
até ao fundo deste oceano,
-
o esquecimento torna-se
um véu sagrado que se levanta.
-
Encontro a caverna do dragão azul.
-
Entro nos meus sentimentos
de admiração e incerteza,
-
que estão comigo.
-
Avanço com destemor.
-
Destemor, destemor,
no caminho do Bodhisattva.
-
Esta partilha de hoje à noite
é inspirada pelo discurso sobre o amor
-
no livro de cânticos de Plum Village.
-
Existem outras versões deste discurso
por todo o Budismo,
-
mas esta é a que está
no livro de cânticos de Plum Village,
-
que vou ler-te agora:
-
Qualquer pessoa que deseje alcançar a paz
-
deve praticar ser reta, humilde,
e capaz de usar a fala amorosa.
-
Saberá viver de forma simples e feliz,
-
com os sentidos calmos,
-
sem cobiça nem se deixar levar
pelas emoções da maioria.
-
Que não façam nada
-
que os sábios desaprovem.
-
E é isto que contemplam:
-
Que todos sejam felizes e seguros,
-
que os seus corações estejam cheios de alegria,
-
que todos os seres vivam
em segurança e em paz,
-
sejam frágeis ou fortes,
altos ou baixos, grandes ou pequenos,
-
visíveis ou invisíveis,
próximos ou distantes,
-
já nascidos ou ainda por nascer.
-
Que todos eles habitem
em perfeita tranquilidade.
-
Que ninguém cause mal a ninguém.
-
Que ninguém ponha em perigo a vida de outro.
-
Que ninguém, por raiva ou má vontade,
deseje o mal a outro ser.
-
Assim como um pai ou mãe
ama e protege o seu filho
-
mesmo com a própria vida,
-
devemos cultivar um amor sem limites
para oferecer a todos os seres vivos,
-
em todo o cosmos.
-
Devemos deixar que o nosso amor sem limites
penetre todo o universo:
-
acima, abaixo e em todas as direções.
-
O nosso amor não conhecerá obstáculos.
-
O nosso coração estará completamente livre
de ódio e inimizade,
-
estejamos de pé, a andar, sentados ou deitados,
-
enquanto estivermos despertos,
-
devemos manter viva
esta atenção plena do amor
-
no nosso próprio coração.
-
Esta é a forma mais nobre de viver.
-
Livre de visões erradas,
cobiça e desejos sensuais,
-
vivendo em beleza,
e realizando a compreensão perfeita.
-
Aqueles que praticam o amor sem limites
certamente transcenderão o nascimento e a morte.
-
Então esta palestra, cada palestra organiza-se
como quer,
-
tal como escrever um poema.
-
Por isso eu apenas sigo,
de certa forma, o que está a acontecer,
-
e esta palestra organizou-se
em doze pontos,
-
o que achei interessante.
-
E por isso vou começar já,
com uma declaração geral de contexto.
-
A capacidade de viver no mundo
com o coração imperturbável pelo mundo
-
não é uma capacidade de se esconder,
é uma capacidade de abraçar.
-
Não só o mundo inteiro é um palco,
como já foi dito antes,
-
mas também a nossa própria mente.
-
É todo um palco:
esse é o primeiro ponto a lembrar,
-
e com o qual estou a aprender,
repetidamente, a praticar.
-
Quando me deparo com qualquer forma de média,
informação, texto, livro,
-
qualquer fluxo de dados
que entre na minha consciência e no meu corpo,
-
precisamos de nos lembrar
-
que esses fluxos de dados
não impactam apenas os nossos pensamentos,
-
impactam a nossa neurologia,
as nossas hormonas, os nossos equilíbrios químicos,
-
mas o que aprendi,
depois de perceber que
-
a informação que recebo
vem de uma personagem num palco
-
na mente dessa pessoa,
ou na mente dessa instituição,
-
é que é importante eu lembrar-me
-
de que é a minha mente a encontrar essa mente,
e essa mente a encontrar a minha mente.
-
Teatro.
-
Se quiserem aprofundar
os ensinamentos sobre isto,
-
podem procurar
a tese de mestrado do Thích Nhất Hạnh
-
sobre o Budismo Yogachara,
-
mas, em resumo, é isto:
-
nada pode acontecer
sem a nossa mente estar envolvida
-
(Risos)
-
no processo,
-
do que sai ou do que entra.
-
É impossível.
-
Também é impossível atingir
uma espécie de pureza nos dados.
-
Quando eu estudava e aprendia
Sânscrito e Pali para traduzir sutras,
-
aprendi que tudo o que estás a traduzir
já foi traduzido pelo menos sete vezes
-
antes de chegares a traduzir.
-
E muitos de nós
olhamos para as palavras como se fossem sólidas.
-
As nossas palavras estão cheias do universo
e podem conter todo o tipo de energia.
-
O segundo ponto que quero referir
-
sobre como interajo
com dados, notícias, média
-
—e eu vejo notícias, todos os dias—
-
é que é uma disciplina para mim
ouvir o mundo.
-
Parte do meu voto para comigo sempre foi,
-
antes mesmo de saber que era um voto,
não me esconder do sofrimento.
-
Nem do meu, nem do teu.
-
Por isso, todos os dias
faço uma viagem pelo planeta
-
com as notícias que consigo encontrar,
-
e o que tenho vindo a aprender é
-
que quando observo a voz de outra pessoa,
-
a dor de outra pessoa, celebração,
avanço, colapso,
-
apresentados a mim sob forma de dados,
-
é uma oportunidade para eu experienciar
mais conhecimento sobre o Larry.
-
Sei que todos fomos condicionados
para pensar que estamos a ouvir o outro,
-
mas na verdade (Risos)
estamos a ouvir a nós mesmos.
-
E então a primeira coisa
sobre compreender
-
como permanecer imperturbável
com o mundo e a sua natureza
-
—neste momento de visões densas,
cacofonia de opiniões em que vivemos—
-
é perceber que é tudo mente.
-
Não há nada sólido ali,
a não ser que acreditemos que há.
-
É informação: é um fluxo da vida.
-
E a terceira coisa que tenho vindo a aprender
à luz disto
-
é estar consciente da minha própria agenda.
-
Quando vejo um noticiário,
ou uma atualização, ou um documentário,
-
aprendi a prestar atenção
a onde isso impacta o meu sistema nervoso.
-
A música, os sons,
o drama, a coreografia,
-
seja num noticiário,
num filme ou numa série.
-
Presto atenção a como isso impacta o meu corpo.
-
Isso dá-me muita informação,
e o que quero dizer é:
-
a minha agressividade é ativada
-
quando leio ou ouço
ou vejo esta informação?
-
A minha imobilização,
o meu colapso, são encorajados?
-
O meu corpo quer simplesmente parar e congelar
quando ouço isto, leio isto ou vejo isto?
-
Quero lutar?
Fico agressivo,
-
quando me deparo com este fluxo de informação
a entrar no meu quadro de referência?
-
Sinto paz
quando recebo estes dados?
-
—no meu corpo, isso é.
-
O meu sistema nervoso mantém-se calmo,
mantém-se estável, sólido como uma montanha,
-
mesmo no meio
de informações horríveis.
-
Então, aprender a estar atento,
-
a perceber que o que vejo ou ouço
é na verdade a minha própria voz,
-
a minha própria dor,
o meu próprio sofrimento, a minha própria confusão.
-
Numa sessão de perguntas e respostas
com um mestre hindu há muitos anos,
-
no final um estudante perguntou:
"o que fazemos em relação aos outros?"
-
E o mestre disse: "quais outros?"
-
É assim que temos de aprender a ouvir,
-
não como se houvesse algo lá fora,
-
desligado de mim,
com o qual eu não tenha nada a ver,
-
que estou aqui para julgar,
estou aqui para avaliar,
-
estou aqui para debater,
estou aqui para discutir.
-
Perguntaram-me há muitos anos
-
—porque a minha esposa, que está aqui,
-
pode ter uma versão diferente disto—
-
mas perguntaram-me há anos:
-
"porque é que não discutimos
tanto como alguns casais?"
-
e eu disse que, desde cedo,
percebemos que os dois estávamos errados!
-
(Risos)
-
E temos dificuldade
em lidar com a nossa mente,
-
e por mente
quero incluir também a energia do coração.
-
Na tradição budista,
mente e coração são os mesmos símbolos,
-
pelo menos na versão chinesa.
-
Isto chama-se — para referência dos sutras —
praticar com o corpo, no corpo.
-
Aprender a praticar com atenção plena
com o nosso sistema nervoso:
-
como é que ele se ativa,
como podemos acalmar-nos,
-
como podemos tranquilizar-nos,
-
como podemos elevar-nos
sem nos magoarmos.
-
É apenas um conjunto de competências.
-
Os nossos antepassados tinham-nas,
já estão no nosso corpo.
-
Só precisamos de nos lembrar
-
e de nos reeducar
na nossa própria sabedoria.
-
Esteja atento à sua própria agenda
quando está a ouvir os outros.
-
Sem culpa, sem julgamento, apenas consciência.
-
Esteja atento ao que se chamaria
"a mente na mente".
-
Quando recebe esta informação,
-
seja a ver
o relatório do Comité de 6 de Janeiro,
-
ou qualquer outro dado
-
destes anos recentes nos EUA,
-
preste atenção a
-
quais sementes ou impulsos
na sua consciência
-
são ativados ao ouvir.
-
Eu não cheguei a um ponto
— para ser sincero —
-
em que conseguia ver a cara de Donald Trump
sem ficar ativado,
-
mas eu sabia que estava a ser ativado,
-
e então decidi
-
que não ia deixar
que esse palhaço me ativasse.
-
(Risos)
-
Por isso, podemos dominar o nosso corpo e a nossa mente
se decidirmos assumir o comando,
-
e não apenas agir
a partir do nosso condicionamento ou reatividade.
-
Cada notícia,
cada palavra ou sorriso, ou olhar, ou som,
-
pode ativar sementes de bondade em nós
assim como sementes de não-bondade,
-
assim como sementes neutras,
assim como cápsulas de memória que se podem abrir,
-
e às vezes são belas
e abençoadas quando se abrem,
-
e outras vezes lembramo-nos de dor e agonia,
no nosso corpo e na nossa mente.
-
Então compreenda que, quando—
-
quando estou a ouvir, a ler, a estudar,
estou a interagir com a minha própria mente.
-
Terceiro
-
— isto é o número seis,
se estiverem a fazer uma lista —
-
é algo que eu chamo sociedade na sociedade.
-
Temos de aprender
— ou eu estou a tentar aprender —
-
a olhar para a sociedade
de dentro para fora,
-
e para mim isso significa aprender a reconhecer
os padrões do nosso condicionamento:
-
aprender a reconhecer as suposições
que nos ensinaram sobre como viver,
-
como namorar, como amar, como trabalhar,
como rezar, como celebrar,
-
e estar consciente dessas suposições,
-
e então podemos fazer uma escolha
em relação a essas suposições.
-
Mas estamos tão programados para reagir,
que raramente, ou não muitas vezes, refletimos.
-
Eu dou por mim a aprender a refletir,
a pausar, a esperar um momento
-
e não ter pressa
em apresentar uma resposta.
-
Isso é muito importante.
-
Isto é verdade
também nas suas relações,
-
porque uma relação
é comunicação constante,
-
e a comunicação não é apenas o que é dito.
-
Isto é outra coisa para
— número 6 sobre sociabilidade — ter em mente,
-
quando ouve notícias
sobre a sua sociedade,
-
ou sobre as sociedades do mundo,
-
preste atenção ao que é dito,
-
mas especialmente preste atenção
ao que não é dito.
-
Preste atenção à voz que ouve
-
e preste atenção
às vozes que não ouve.
-
Vi uma—
-
tive uma cápsula de memória a abrir esta manhã
ao pensar num amigo meu.
-
Estávamos a trabalhar juntos na Índia
quando saiu o mapa de projeção de Peters,
-
que mostrava realmente
o tamanho verdadeiro de África e, durante
-
(Risos)
-
centenas de anos, as pessoas pensavam
que África tinha o tamanho, sabem, do Connecticut.
-
(Risos)
-
e isso é informação
-
que condicionou milhares de mentes
sobre África e o seu valor.
-
Não subestimes
nenhuma destas coisas.
-
É por isso que é usado na publicidade
-
e as pessoas pagam milhões de dólares
para que outros interajam com as nossas mentes,
-
com a sua própria intenção.
-
Por isso, tem sempre a tua agenda,
foi o que aprendi, e continuo a aprender,
-
tem sempre a tua agenda.
-
Não me refiro a algo rígido e fixo,
refiro-me a ter uma intenção.
-
Decidi passar algum tempo
-
a ouvir entrevistas de pessoas
que estiveram no tiroteio do Walmart,
-
e passei várias horas apenas a ouvir
a agonia, a dor e as lágrimas dessa mulher,
-
e pude sentir a sua experiência
de não saber como voltar a ser humana.
-
Ela viveu o choque daquilo que viu
-
—estava na sala de descanso—
escondida debaixo da mesa.
-
O choque do que presenciou
desorganizou o seu sistema nervoso.
-
Ela mal conseguia falar.
-
O rosto estava contorcido,
-
e eu pude sentir essa contorção
dentro de mim.
-
Não me era estranho.
-
Por isso, quanto mais pudermos praticar
as interações com os meios de comunicação,
-
seja um jogo,
uma conversa ou um filme
-
—tudo coisas de que gosto—
-
ou um livro
—por amor de Deus, tenho livros a mais—
-
estou a aprender vezes sem conta
sobre a mente do Larry.
-
Estou a aprender a que ideias estou preso
-
(Risadas)
-
e a que ideias nunca tinha pensado.
-
Estou a aprender a prestar atenção
à mente do autor
-
que me está a enviar isto.
-
E como alguém que gosta de estudar
—sou meio neurótico nesse aspeto, mas—
-
aprendo a mente do autor,
não apenas as suas palavras,
-
e assim tornam-se amigos para mim.
-
Tornam-se mentores,
tornam-se companheiros.
-
E tu também tens livros ou poemas
ou pessoas no teu espaço mental e nas tuas memórias
-
que fazem isso por ti, eu sei.
-
Lembra-te deles.
-
Sabes que o nosso cérebro está programado
—está mesmo programado—
-
de tal forma que podemos ter
um dia maravilhoso durante 12 horas
-
—um dia maravilhoso—
-
e uma pessoa, num carro,
com um único gesto, pode arruiná-lo.
-
O nosso cérebro está programado
para agarrar-se à negatividade,
-
e está programado assim
como precaução de segurança
-
(Risadas)
-
para o caso de encontrares esse carro outra vez
-
(Risadas)
-
Por isso, é importante
—na neurociência descobrimos que
-
para cada encontro negativo
ou experiência prejudicial que alguém tem,
-
momento a momento,
-
são necessárias cinco experiências positivas
para reequilibrar o cérebro
-
em termos do que ele recorda
e de como está programado para responder à vida.
-
Fomos ensinados
que não devíamos ser felizes, na verdade,
-
devíamos lutar para ganhar, lamentar as derrotas,
e não encontrar alegria na vida.
-
Se o fizermos, há algo de errado connosco.
-
Por isso, temos de estar atentos ao contexto
da informação que nos é dada.
-
Qual é a história por trás disto?
-
Pensa em cada pedaço de informação
como uma visita ao Feiticeiro de Oz,
-
(Risadas)
-
e queres olhar por trás da cortina.
-
Vivemos num mundo em que
-
feiticeiros, mágicos e duendes
trabalham todos na Internet.
-
Olá!
-
Podes inventar qualquer coisa
e, na semana seguinte, ter um grupo a acreditar nela.
-
É assim que as nossas mentes
se tornaram desorientadas
-
por não terem sido treinadas
para lidar com a informação,
-
em qualquer forma mediática
que essa informação surja.
-
Sabes, a sociedade
-
—ouvi uma grande citação
da Caroline Myss, há umas semanas—
-
a sociedade costumava mudar
ao ritmo da literatura,
-
a sociedade costumava mudar
ao ritmo da filosofia,
-
da teologia,
de uma nova descoberta científica,
-
e agora a sociedade está a mudar
através de milhões de opiniões
-
recolhidas num espaço neural online.
-
Isto é uma grande mudança,
-
e não temos um mecanismo coletivo
para funcionar desta maneira.
-
É por isso que sentimos
as coisas fragmentadas.
-
Nós não estamos—nós estamos num lugar
onde nunca estivemos como raça humana—
-
e parte disto é simplesmente belo,
-
porque pessoas em todo o mundo
estão a erguer-se pelo Irão
-
e não são iranianas,
-
pessoas estão a erguer-se
pelas mulheres e homens nas ruas
-
com sangue e lágrimas.
-
Pessoas estão a erguer-se
pelos manifestantes na China,
-
em todo o mundo,
-
e a levantar folhas de papel em branco
a representar o desejo de liberdade de expressão.
-
Então, também,
-
quando receberes informação e notícias,
não te deixes levar pelo sensacionalismo,
-
porque isso é um truque.
-
Sabes, é como alguém dizer
"vai haver um acidente de comboio ao meio-dia"
-
(Risos)
-
"nesta esquina"
-
e ao meio-dia
estarão lá centenas de pessoas,
-
à espera de ver o acidente,
-
venha ou não venha o comboio.
-
Não temos tempo para isso.
-
Lembra-te de olhar para a sociedade
de dentro para fora.
-
Quais são os arquétipos
que estão operativos nessa sociedade?
-
E se os rios não subirem,
como diria a minha avó,
-
espero no próximo ano
-
fazer algum trabalho e retiros
sobre os quatro arquétipos centrais de Carl Jung
-
e relacioná-los
com as forças ocultas da mudança social.
-
A anima—animus.
-
Ah, temos ali um problema
-
(Risos)
-
temos ali um problema.
-
Parece engraçado até vermos
jovens em todo o lado a matar pessoas...
-
e aí começamos a reconhecer
o desequilíbrio desse arquétipo.
-
Destruímos a capacidade
de alguns destes jovens
-
de reconhecerem
a sua própria energia feminina interior
-
—se me é permitido usar essa palavra—
-
a sua própria energia suave,
a sua própria energia bondosa,
-
e não há qualquer formação sobre como lidar
com raiva, ou frustração, ou medo.
-
Também temos de olhar
para a persona
-
(Risos)
-
que realmente, nos últimos 25 anos,
se tornou um negócio.
-
Agora Hollywood saiu de Hollywood
e entrou em nossas casas,
-
e agora todos nós estamos na televisão,
todos nós estamos num ecrã.
-
Estamos todos no mundo
da consciência do ecrã plano,
-
e isso significa
-
que tudo o que aparece no ecrã plano
parece ter o mesmo valor,
-
e não tem.
-
É por isso que o discernimento
é uma parte importante da prática espiritual.
-
Nem tudo merece
o teu tempo, a tua energia, o teu pensamento.
-
Usa isso para o teu próprio propósito,
para o teu próprio sentido de missão,
-
para o teu próprio sentido de destino,
-
para o teu próprio sentido de cura,
de justiça, e de um mundo melhor.
-
Não desperdices simplesmente a tua energia.
-
Portanto, eu vejo
muitas notícias diferentes, de propósito,
-
mas faço uma escolha consciente
de que o vou fazer,
-
e há notícias
que só vejo por certos motivos,
-
para obter certos tipos de informação.
-
Sê seletivo no que decides
convidar para entrar na tua mente:
-
o conteúdo
que vai inundar,
-
a energia emocional
que vai inundar a tua mente.
-
E se quiseres olhar profundamente
para um tema ou questão
-
porque está alinhado com a tua vocação,
ou com o teu sentido de trabalho no mundo,
-
ou com o teu propósito de vida,
faz isso,
-
mas olha profundamente.
-
Olha para
as causas e condições dessas coisas.
-
Sabes, se olharmos, por exemplo,
-
para a reação que está a acontecer
nas ruas da China,
-
para as reações que estão a acontecer no Irão
-
—e estes são apenas dois grandes temas
que acompanhamos—
-
mas isto está a acontecer em todo o mundo,
está a acontecer no México,
-
e o que é que está
a acontecer em todo o mundo?
-
As pessoas estão a rejeitar a ideologia patriarcal.
-
É isso que está a acontecer.
-
Se quiseres saber porque é que os homens estão irritados,
é por isso.
-
Estão a perder o controlo mental
sobre o planeta; a perder o sentido de poder.
-
Isto é energia arquetípica,
não é apenas pessoal,
-
e por isso temos de trabalhar
em níveis cada vez mais profundos
-
para chegarmos a lugares
onde possamos e estejamos prontos para curar.
-
A sombra, ui.
-
(Risos)
-
Isso é uma vida de trabalho.
-
Essa é a minha maior crítica ao mundo
com base nas minhas próprias experiências,
-
a coisa mais difícil é admitir
que não somos perfeitos, de forma saudável.
-
Temos isto,
-
aquilo a que no budismo Thich Nhat Hạnh
gostava de chamar o Complexo de Autoestima,
-
em que eu sou melhor do que tu
ou tu és melhor do que eu,
-
ou somos iguais,
-
ou eu estou em cima e tu em baixo,
ou eu estou em baixo e tu em cima.
-
Nada disso descreve adequadamente
o milagre de ser um ser humano,
-
por isso temos simplesmente
de parar de ser estúpidos em relação a isso,
-
se quisermos compreender a nossa própria inteireza,
-
pelo menos o suficiente para criar
a nuance de inteireza que o nosso planeta precisa,
-
e depois essa jornada continuará
ao longo das gerações, claro.
-
Não somos o penúltimo
-
(Risos)
-
remédio para as coisas,
-
não somos salvadores, somos aventureiros,
a aprender a navegar os nossos mundos interiores,
-
porque estou convencido de que aprender a navegar
os nossos mundos interiores é o trabalho do futuro.
-
É certamente o trabalho do presente,
-
mas é o trabalho do futuro, só que ainda não sabemos disso.
-
Somos criaturas com 10.000 capacidades,
-
e muitos de nós vivemos toda a vida,
-
se tivermos a sorte
de viver muito neste mundo,
-
a agir como se só tivéssemos 10 capacidades.
-
Ficamos presos a pensar
que tudo é material,
-
e esquecemo-nos de que não é só material.
-
O universo não é apenas material,
é também energético — é também energia.
-
Não fiques preso
no paradigma newtoniano
-
de que tudo é separado
-
e que nada afeta realmente nada
a não ser que esteja em contacto direto.
-
Tudo afeta tudo.
-
Isto faz parte daquilo que estamos
a experienciar no mundo.
-
É por isso que está tudo louco.
-
(Risos)
-
É por isso que está
—não temos uma história que nos segure.
-
Estamos num lugar
que nunca imaginámos como espécie,
-
ao longo dos últimos 200.000 anos,
-
mas graças a esses 200.000 anos
-
temos dentro de nós o que precisamos
para dar o próximo passo na evolução,
-
com coragem,
que é isto que é, pessoas.
-
Estamos numa jornada de metamorfose,
estamos no casulo
-
(Risos)
-
a tentar perceber
a próxima forma que estamos a tomar,
-
sem instruções que pareçam claras,
-
mas há instruções.
-
A primeira é: se vires notícias
e não são benéficas para ti, ignora.
-
É isso que eu faço.
-
(Risos)
-
Se vires algo,
ouvires algo, leres algo
-
que é benéfico para ti,
leva-o a sério.
-
Faz disso parte da tua prática,
ou do teu diário,
-
ou da tua música, ou da tua dança, ou da tua arte.
-
Faz disso parte da tua vida,
-
para continuares a ser alimentado pelo bom,
-
porque vivemos num mundo
onde os media sensacionalistas são uma forma de arte,
-
somos apresentados
constantemente, e diariamente,
-
não importa o tema,
em extremos.
-
Basta olhar para a nossa linguagem.
-
Mais tarde liga a televisão
e observa a nossa linguagem
-
em todas as estações, em todos os países:
-
é desgraça, é selvajaria, é—
-
estou a falar de palavras usadas hoje
para introduzir excertos nas notícias,
-
e por isso é importante aprender como essa palavra,
"selvagem", não fica presa em mim.
-
Simplesmente passa direto.
-
Aprende o que deves agarrar
e o que não deves agarrar
-
quando vem ter contigo.
-
Muitos de nós temos vivido
em exaustão extrema
-
porque temos carregado
as ansiedades dos outros.
-
Sabes, é como a velha piada sobre Atlas,
-
que está a segurar o mundo,
passa por ti e diz "segura isto",
-
(Risos)
-
e sem pensar
tu seguras e ele desaparece.
-
Literalmente muitos de nós estamos exaustos
a segurar os medos e ansiedades dos outros,
-
e o que precisamos de segurar
são os corações partidos uns dos outros,
-
e as mentes brilhantes uns dos outros.
-
Se queremos responsabilizar-nos uns aos outros,
vamos responsabilizar-nos uns aos outros
-
por um chamamento mais elevado neste mundo.
-
Há disciplina envolvida em como nós, como eu,
aprendo a ler, interpretar, refletir sobre as notícias,
-
mas eu nunca vejo notícias sozinhas.
-
Quando me levanto de manhã,
-
antes sequer de sair da cama,
tenho uma meditação que faço.
-
É sobre envelhecer.
-
(Risos)
-
Então, antes de pôr
os pés no chão,
-
não me esqueço de quem está
a pôr os pés no chão,
-
e depois,
tenho opções,
-
passo algum tempo
só a ouvir os pássaros,
-
a regar plantas,
a caminhar devagar na Terra,
-
a dizer para mim mesmo
"Mãe Terra, aqui estou".
-
A saudar este céu azul,
a deixá-lo cair sobre mim,
-
até conseguir sentir-me
a pisar o céu azul,
-
e a estar debaixo do céu azul
ao mesmo tempo.
-
Estudo as percepções, ensinamentos e aprendizagens dos outros,
-
por isso tento manter a minha mente
—aprendiz ao longo da vida é uma frase popular—
-
através de disciplinas:
psicologias evolucionárias, astrofísica,
-
psicologia budista, sociologia,
antropologia, mitologia.
-
Tudo isto me interessa,
o que posso dizer.
-
E isso impede a minha mente de ficar fixa,
-
porque pelo menos uma vez por semana leio algo
ou estudo algo de outra pessoa,
-
e pode ser de há muito tempo.
-
Pode ser Platão e a sua alegoria da caverna,
que acho que toda a gente devia reler,
-
porque é isso que estamos a viver agora.
-
Fomos tão bem condicionados
-
que nem sabemos
que fomos condicionados,
-
isso sim é habilidade.
-
E não quero dizer que alguém se sentou
e planeou isto tudo.
-
Estou a falar de algo que acontece naturalmente
-
em sociedade,
em qualquer organização, em qualquer grupo.
-
Está tudo bem.
-
Só temos de estar atentos
-
que as nossas mentes e corpos
não estão separados da nossa existência social.
-
Muitos de nós fomos condicionados
-
a acreditar que quando alguém
entra num supermercado
-
e começa a disparar sobre pessoas
-
há algo de errado com essa pessoa.
-
E há.
-
Mas para que algo esteja tão errado
com ela assim,
-
há algo de errado
com o resto de nós também.
-
Há algo de errado com as nossas mentes,
-
e com a forma como nos condicionamos
para ser violentos, como glorificamos isso,
-
como o adoramos.
-
Não estamos muito longe de sermos apenas
-
(Risos)
-
primitivos,
-
a não ser que façamos o trabalho espiritual
para aprender a viver sem causar dano,
-
como primeira resposta
à frustração, ao medo, ao facto de estarmos vivos.
-
Há uma palavra
—aprendi durante a minha formação em investigação—
-
chama-se, talvez conheças, titulação.
-
Portanto, qualquer input que vás receber,
seja um livro, um filme, um programa de TV,
-
um amigo, uma conversa,
vai tomando aos poucos.
-
É a velha frase:
-
"Como se come um elefante?
Uma colher de cada vez."
-
Quando estiveres a olhar,
-
especialmente para algo
que despertou a tua curiosidade,
-
não percas a tua curiosidade,
é uma qualidade muito importante em ti,
-
mas vai tomando aos poucos.
-
E o mesmo se quiseres investigar
-
as causas e condições
que criaram sofrimento.
-
Sabe o que consegues aguentar emocionalmente
sem te retraumatizares.
-
Está bem. Cuida de ti.
-
Vai tomando as coisas aos poucos
mas toma-as profundamente:
-
essa é a diferença entre consumo
e transformação com informação.
-
Reconhece o teu próprio coração e mente
no que ouves, no que vês,
-
e quanto mais trabalho com isto,
-
percebo que é assim que estou a aprender
a praticar com todos os fenómenos.
-
A abelha, o pássaro, a árvore, a raposa:
-
estou a aprender a reconhecer o que está lá,
de forma não julgadora: simplesmente está lá.
-
Tive um grande professor no meu doutoramento,
chamava-se Dr. Lawki.
-
Ele já faleceu,
mas era extremamente rigoroso quanto à metodologia,
-
e a palavra que ele usava em todas as aulas
-
—ele escrevia-a bem grande no quadro—
-
era evidência.
-
(Risos)
-
E ele dizia:
-
"não me entregues um trabalho
sem evidência."
-
(Risos)
-
"Não me interessa no que acreditas,
-
não me interessa no que o teu professor
te disse para acreditares,
-
quero evidência para o teu pensamento,
-
e por que chegaste
à conclusão a que chegaste."
-
Por que chegaste a essa visão,
por que apreciaste essa prática,
-
explica, compreende como interages
e mudas com todos os fenómenos da vida.
-
Então tudo
-
—hoje encontrei quatro pombas pequenas,
quase bebés—
-
estavam sentadas na nossa vedação
a observar-nos,
-
e apreciei
a sua comunicação de segurança.
-
Sentiam-se seguras o suficiente para descansar ali,
-
e por isso pude perguntar a mim mesmo:
"Como está o meu medidor de segurança hoje, Larry?"
-
e não ser perturbado por um mundo perturbador
é a essência da prática,
-
e isso não significa ser indiferente.
-
Não significa virar a cara para o lado,
não significa esconder-se de nada.
-
Significa olhar destemidamente
para a totalidade da vida,
-
e compreender que tu
estás no centro dela.
-
Lembro-me de uns comentários ótimos
do Stephen Covey, há anos atrás,
-
sobre a diferença entre
-
o teu círculo de preocupação
e o teu círculo de influência.
-
São duas coisas diferentes no pensamento dele
—e ouvi isto há muito tempo—
-
e a coisa que quero lembrar-me
e lembrar-te:
-
não és apenas um círculo de preocupação,
embora o sejas;
-
não és apenas um círculo de influência,
embora o sejas;
-
mas és um círculo de energia
que pode ir em qualquer direção.
-
Compreende isto sobre ti:
-
Não és apenas um amontoado de matéria
-
com a visita ocasional
de um comboio de pensamentos,
-
és um ser cósmico,
-
e meu Deus, o que aconteceria
se começássemos a agir assim?
-
Pensar assim?
Cuidar assim?
-
Abordar a justiça assim,
-
o bem-estar assim,
e a comunidade assim?
-
Somos seres cósmicos.
-
Somos manifestações de uma realidade
que não compreendemos.
-
Nem conseguimos abranger com a mente,
e não temos de o fazer.
-
Tudo o que temos de fazer
é aprender a estar presentes.
-
A Peggy e eu tivemos
o privilégio de tomar o pequeno-almoço
-
com Thích Nhất Hạnh uma vez
quando recebeu notícias difíceis.
-
Foi numa altura em que ainda estava exilado
do Vietname e não podia regressar.
-
Faleceu um membro da família dele,
-
e ele não pôde voltar
para as cerimónias fúnebres.
-
E estávamos com ele
quando a chamada telefónica chegou
-
e lhe passaram a informação ao ouvido,
-
e vimos a sua energia mudar.
-
Levantou-se devagar, fez-nos uma vénia,
e saiu para fazer meditação caminhando,
-
abrandando tudo,
acalmando tudo.
-
Pisando nas maravilhas do nobre silêncio.
-
Voltou passados uns trinta minutos
uma pessoa diferente;
-
rosto diferente, energia diferente,
-
e a Peggy inclinou-se para mim e disse:
"isso teria demorado seis anos para mim."
-
(Risos)
-
Este é o benefício da prática.
-
É por isso que a faço todos os dias.
-
Não é que eu não fique perturbado,
mas esse estado de perturbação nunca me domina.
-
Percebes o que estou a dizer?
-
Estivemos em Minneapolis
há umas semanas atrás,
-
a trabalhar com centros Zen
e comunidades budistas lá,
-
e visitámos os locais dos motins
e a praça George Floyd,
-
e nem consigo pensar nisso
sem ser ativado emocionalmente,
-
mas essa ativação
agora move-me ainda mais
-
na direção de
'o que significa ter uma sociedade saudável?'
-
A maior parte da nossa linguagem sobre tudo
é prescritiva
-
e analítica e estamos doentes,
-
(Risos)
-
e temos muito pouco retorno
dos meios de comunicação,
-
do que lemos e escrevemos
—a maioria de nós— que afirme a nossa existência,
-
que afirme o nosso direito de estar aqui
neste planeta precioso.
-
Então quando interagires com os media,
-
e quando leres as notícias,
não sejas arrastado pela enxurrada.
-
A enxurrada de opiniões,
a enxurrada de percepções erradas.
-
Sabes, é como as mulheres no Irão,
-
e as pessoas nas ruas da China,
da Colômbia e de França,
-
e podemos dar a volta ao mundo,
é como se estivessem a acordar de um transe.
-
É como se uma manhã as pessoas acordassem
-
e dissessem "Espera lá,
isto não faz sentido,
-
viver assim, ser tratado assim,
ser magoado assim."
-
E então o que está a acontecer
é que o mundo se levanta
-
e pessoas de todo o lado
se levantam umas pelas outras,
-
como se todos pertencêssemos aqui juntos.
-
Os lugares que pensam que têm poder
estão a tremer.
-
É como os veados na floresta
-
que conseguem sentir
que já há um vento novo no ar.
-
Então, por favor, meus amigos,
coloquem a vossa energia nesse vento novo.
-
Tive aqui o que pensei
ser uma infeção no ouvido,
-
e um amigo meu levou-me
a um dos seus especialistas em ouvidos
-
—um médico cubano muito engraçado—
-
que fez todos os exames,
limpou-me os ouvidos e tudo mais,
-
e disse "não tens nenhuma infeção no ouvido,
essa é a boa notícia,
-
a má notícia é
que tens algo pior."
-
(Risos)
-
E começou a rir-se
e eu também,
-
e o que ele disse foi "tens, sabes,
-
há um osso no ouvido
ligado ao teu equilíbrio,
-
está a desintegrar-se."
-
Então pensei, bem,
isso está de acordo com o resto de mim.
-
(Risos)
-
não tenho problema com a desintegração,
é por isso que estou aqui.
-
A questão é: o que emitimos?
-
Uma das coisas
na tradição Yogachara
-
é que se fala da nossa energia,
das nossas palavras, do nosso pensamento,
-
e do nosso comportamento a perfumar o mundo.
-
A questão é:
com o que estamos a perfumar o mundo?
-
E cada vez mais pessoas
pelo mundo fora estão a perceber:
-
"Sabes, não gostamos deste cheiro,
desta morte, desta violência, deste horror,
-
desta opressão, desta violação,
deste homicídio casual, desta brutalidade.
-
Não gostamos,
não precisamos disto para sermos plenamente humanos."
-
De alguma forma fomos convencidos
-
de que temos de ser guardados por gorilas gigantes
para não nos tornarmos nós próprios gorilas gigantes.
-
Isso não faz sentido nenhum.
-
Uma nova sensibilidade está de facto a emergir,
-
e por isso, quando receberes informação,
agarrate a ti mesmo,
-
agarrate à tua preciosa alma e coração,
-
não te percas,
-
porque seja qual for a informação
-
—isto é provavelmente
-
a coisa mais desconfortável
que percebi sobre aprender algo—
-
o que quer que eu aprenda,
um dia esquecerei, para sempre.
-
E isso ajuda-me a não ficar
demasiado ansioso com as coisas,
-
nem demasiado tenso com as coisas,
nem demasiado fixo nas coisas,
-
nem demasiado extremo e certo das coisas.
-
Outra coisa maravilhosa
com que tenho praticado
-
ao andar pelo mundo em que vivemos,
-
que o Buda às vezes chamava
o mundo de um emaranhado de opiniões.
-
Vivemos num mundo
de bilhões de opiniões.
-
Agora temos 8,9 mil milhões de pessoas
-
e a maioria de nós tem dificuldade
em ordenar as opiniões na nossa própria cabeça.
-
Imaginar que podemos, juntos,
descobrir o nosso caminho para o futuro,
-
guiar-nos uns aos outros para o futuro,
para mim, é para isso que estamos aqui.
-
É para isso que nascemos.
-
Este é o nosso grande trabalho.
-
Não o vamos terminar,
e não é suposto que o terminemos.
-
É suposto sermos a ponte,
-
para que os nossos futuros ancestrais
-
e os ancestrais do passado,
que estão sempre connosco nesta viagem,
-
(Risos)
-
também o possam terminar.
-
Há uma disciplina envolvida
em não nos deixarmos perturbar por um mundo perturbador.
-
E a parte mais importante
dessa disciplina para mim é o silêncio.
-
Começo o dia com silêncio.
-
Começo o dia a ouvir
os sons do mundo.
-
Para não pensar que estou isolado,
-
para estar em contacto
com as maravilhas da vida,
-
e depois, silêncio nobre ao longo do dia,
aqui e ali,
-
tirando tempo para parar de correr
por qualquer razão, e fazer uma pausa,
-
e à medida que isto acontece
-
tornamo-nos cada vez mais
estáveis dentro de nós,
-
e essa quietude em nós, essa solidez
como o monte Fuji dentro de nós,
-
é o que precisamos
para transformar o nosso mundo.
-
É o que nos protege
de cair no ódio
-
como motivador para mudar o nosso mundo.
-
A equanimidade protege-nos
-
de usar a energia da inveja
na esperança de mudar o nosso mundo,
-
ou a energia da ganância,
-
embora todas estas coisas
existam na nossa própria consciência.
-
É a nossa habilidade
em aprender a reconhecer-nos
-
que nos libertará de nós mesmos,
-
e à medida que nos libertamos de nós próprios
-
tornamo-nos mais capazes
de libertar os outros.
-
Em termos neurocientíficos, tornamo-nos capazes
de uma profunda co-regulação,
-
que é a base da co-criatividade,
para a qual estamos biologicamente preparados,
-
apenas fomos convencidos
de que não estamos, de que somos apenas sombra.
-
Estou a falar agora do quarto arquétipo,
a alma, a totalidade.
-
Não somos apenas isto,
não somos apenas aquilo,
-
somos o todo da vida
no momento presente.
-
As lágrimas que chorei ao ver as mulheres
a marchar nas ruas do Irão
-
eram as minhas lágrimas e as delas.
-
E ao perceber isso
fui para além da causa,
-
fui para além da política,
entrei na profundidade da humanidade,
-
e é dessa profundidade
-
—que todos nós...
é um poço no qual todos podemos cair—
-
está disponível,
-
mas tens de desenvolver uma disciplina
-
—e sei que muitos de vocês já o fazem—
-
de nutrir isto,
nutrir isto, nutrir isto,
-
mas ao nutrir-te,
-
por favor minimiza o teu julgamento
sobre ti mesmo.
-
Tantos de nós—há um amigo meu
que escreveu um livro há muitos anos.
-
Chamava-se Marty Selman.
-
Era sobre comunicação
—era um tipo super-vendedor—
-
e a sua pesquisa mostrava
que a pessoa média
-
fala consigo mesma
mais de duas mil vezes por dia.
-
Falamos principalmente connosco.
-
Eu falo principalmente comigo próprio,
-
por isso é muito importante saber
quem convidamos para conversar,
-
quem convidamos para entrar,
-
e como recebemos o nosso hóspede
—a pensar em Rumi—
-
como somos o anfitrião.
-
E às vezes ser o anfitrião
significa deixar as coisas ser.
-
Vocês sabem disto.
-
(Risos)
-
Às vezes ser o anfitrião
significa deixar as coisas ir,
-
e às vezes ser o anfitrião
significa simplesmente deixar as coisas fluir.
-
Portanto, não precisamos de nos agarrar
à informação, às imagens,
-
como se fossem a definição das nossas vidas.
-
Suportamos as nossas experiências, dos nossos sentidos,
as nossas vistas e sons, e movimentos,
-
do nosso corpo e da nossa mente,
mas não temos intenção de nos deixar levar.
-
Quero terminar com um poema favorito meu
que está ligado
-
àquilo que acho que é a prática central
-
de não sermos levados
pelo mundo, pelo sofrimento e pela loucura.
-
Pablo Neruda
-
Chama-se 'manter o silêncio'
-
Agora vamos contar até doze
e todos ficaremos quietos
-
pela primeira vez na face da terra,
não falemos nenhuma língua;
-
vamos parar por um segundo,
e não mexer tanto os braços.
-
Seria um momento exótico
sem pressa, sem motores;
-
estaríamos todos juntos
num estranho repentino.
-
Pescadores no mar frio
não fariam mal às baleias
-
e o homem que junta sal
não olharia para as suas mãos feridas.
-
Aqueles que preparam guerras verdes,
guerras com gás, guerras com fogo,
-
vitórias sem sobreviventes,
vestiriam roupas limpas
-
e passeariam com os seus irmãos e irmãs
à sombra, sem fazer nada.
-
Se não fôssemos tão obstinados
em manter as nossas vidas em movimento,
-
e, pela primeira vez, conseguíssemos não fazer nada,
-
talvez um enorme silêncio
pudesse interromper esta tristeza
-
de nunca nos entendermos
e de nos ameaçarmos com a morte.
-
Agora vou contar até doze
e tu fica em silêncio e eu partirei.
-
(Sino toca quatro vezes)