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Então, Torben, você acabou de passar 412 dias
na prisão nos Estados Unidos
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e você pôde dar atualizações
ocasionalmente.
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Mas o que realmente não ouvimos
é você descrever em detalhes
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como foi na prisão.
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Este é um desenho que um colega
presidiário fez da sua cela.
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Você pode segurar esse papel
e nos explicar como era a sua cela?
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Como você... qual era sua rotina diária?
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A cela... Passei mais de um ano
nela.
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O primeiro mês... os primeiros dez dias
foi de isolamento num desses.
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E depois por um mês, quase um mês
numa cela com quatro homens.
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e depois, cerca de um ano, nesta.
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Então essa é minha cela P6N com
beliche de um lado.
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E temos um chuveiro de água quente
e fria
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por 4 segundos...empurra...quatro
segundos...empurra..
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E temos uma privada e uma pia,
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e um espelho em 3,90 x 2,70 cm.
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Podíamos sair do dormitório quando
não estávamos trancados,
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mas eu passava 22 horas lá dentro, pois
a maioria das pessoas falava espanhol
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e havia muito barulho lá fora e a TV
ficava ligada em espanhol,
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e estava ligada muito alto.
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Então passei a maior parte do tempo
em minha cela.
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Como foi estar na prisão?
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Foi mais de um ano.
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Então, houve períodos com coisas
diferentes.
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De ficar traumatizado, de ficar em
choque...
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mas também teve belos períodos.
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Em primeiro lugar, nunca fui algemado
antes. Eu nunca tinha sido preso antes,
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e nem estive em uma prisão antes.
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Então, só colocar as algemas
foi o primeiro choque
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quando fui colocado em
isolamento.
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Foi como um péssimo filme.
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A única coisa que vi de uma
prisão foi em filmes,
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e realmente parecia um filme onde
eu estava quase sem cor.
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A cela em que fui colocado tinha
um mofo nojento no teto,
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desenhos, restos de roupa íntima,
restos de lixo e um colchão fino.
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E então eu simplesmente entrei e
fecharam a porta.
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E fiquei lá nos primeiros 10 dias.
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E foi muito, muito chocante!
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E ali, naqueles dez dias,
foi como uma montanha-russa,
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tipo, chorando, ficando em estado de
choque,
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orando... Eu consegui uma bíblia,...
beijava a bíblia,
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abraçava a bíblia...,
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e muitas coisas acontecem em
poucos dias.
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Foi muito difícil no começo.
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Você não tem papéis para escrever,
nenhuma Bíblia (no início) nada para fazer,
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e você simplesmente fica lá.
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Estava muito frio lá onde eu estava,
então eu dormia de macacão
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e eu não...nem tomava banho
todos os dias.
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Quando finalmente saí, a primeira
coisa que disseram foi: Você fede.
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Esse foi o primeiro comentário.
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Você fede. Mas eu tomei banho,
só que estava dormindo
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e passando 10 dias com as mesmas
roupas.
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Aí eu fui tirado do isolamento e
colocado em um dormitório.
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E isso foi assustador!
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Era assustador estar
ao redor de muitos criminosos,
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muitas pessoas que cometeram assassinatos,
pessoas presas há 20 anos.
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E uma briga começou assim que cheguei,
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porque eu estava na fila do telefone.
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E então o telefone ficou livre.
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Peguei o telefone e queria ligar
para minha esposa.
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E descobri que era o telefone preto.
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E os negros começaram a gritar:
Porque ele pegou nosso telefone?
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Ele deveria usar o outro telefone.
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Mas o outro telefone era para o
pessoal espanhol.
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E eu fiquei lá tipo, sou branco,
não sou espanhol, não sou negro,
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e qual telefone usar?
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E foi assustador!
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E eu só queria voltar
ao isolamento novamente.
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Tipo... me coloque de volta na minha cela
porque estar em volta de pessoas lá
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é assustador!
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E digo que o primeiro mês foi...irreal!
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Eu estava convencido todos os dias
que iria sair,
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porque não fiz nada errado.
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Porque não saí?
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É uma experiência muito, muito
humilhante, muito degradante
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a maneira como você passa a comida
por um buraco na porta,
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apenas num saco marrom e você
pega dois pedaços de pão
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e uma manteiga de amendoim com
geleia e maçã.
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Um dia por semana recebíamos ovos,
2 ovos.
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Então podíamos trocar os ovos com
outras pessoas.
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E ficávamos lá sentados com a manteiga
de amendoim e a geleia
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e era isso.
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E depois outra comida.
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E foi difícil!
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E você não dorme.
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Não dá para dormir muito.
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Eles apagam a luz à meia noite, 1h.
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E depois tem gritos por medicação
do pessoal
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que precisa tomar medicação por
volta das 4h, 4h30.
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E aí você acorda.
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Aquele ano, o máximo que consegui
dormir, foi cerca de 4 horas e 4,5 horas.
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E então você tenta dormir um pouco mais
e acorda,
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e é apenas um outro mundo.
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E depois de estar lá há tanto tempo,
de certo modo,
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quase tive medo de sair.
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É estranho... porque eu estava
tipo, eu me acostumei com essa rotina,
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acostumado com esse jeito de viver
e ter meus 3,90 x 2,70
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e era o meu mundo.
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E de algum modo, eu me sentia
em casa alí.
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E eu tinha minha rotina
com minha manteiga de amendoim e pão
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e eu sabia como as coisas estavam indo.
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Eu conhecia o programa tipo, terça
troca de roupa, sexta
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troca de roupa, quarta, troca de
cobertor,
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e quando saíamos para o intervalo,
eu sabia o que estava acontecendo.
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Não havia janelas no dormitório.
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Havia uma janela alta no teto.
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Mas você só via se era o sol que
brilhava,
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se era claro ou escuro, e eram as
mesmas paredes incolores
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e as mesmas pessoas deprimidas
que entravam lá.
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E ninguém queria estar lá na época
de Natal,
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Ação de Graças e Ano Novo e
tudo o mais.
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Tudo era mais difícil.
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Mas também houve um período
em que vimos Deus se mover.
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Fiz reuniões, dei aulas,
escrevi livros.
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E assim como muitas coisas
aconteceram lá fora naquele ano,
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muitas coisas aconteceram lá dentro
durante aquele ano.
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Mas realmente foi a coisa mais difícil
que já experimentei.