Loie Hollowell: Corpos Transcendentes

Como pintar uma gravidez?

A pintora Loie Hollowelll cria representações do corpo humano altamente abstratas e profundamente pessoais, evocando as experiências universais da sensualidade, desejo, prazer e dor. Nascida na Califórnia, Hollowell trabalha com um vocabulário de formas orgânicas e elementares, e as transforma em cores vibrantes de alto contraste, evocando a "pura luz, puro espaço, [e] pura emoção" de gênios criativos como Robert Irwin e outros artistas do movimento californiano Luz e Espaço.

Retornando a seu ateliê em Ridgewood, Queens, após sua segunda gravidez, Hollowell e suas assistentes constroem formas sinuosas diretamente sobre a superfície de suas telas. Para Hollowell, essa estratégia transforma seu trabalho de uma pintura bidimensional em uma escultura tridimensional que pode ser pendurada, sobre a qual ela pode brincar com a luz, o espaço e a sombra - reais e ilusórias. A fisicalidade da superfície é ecoada na imagética abstrata que Hollowell pinta sobre elas, incluindo órgãos reprodutivos, seios e outras formas corporais. A artista candidamente reconta as memórias corporais que influenciaram seu trabalho: sua mãe vazando leite em público depois do nascimento de sua segunda irmã, a experiência da artista com o aborto aos vinte e poucos anos, e a preparação mental e a experiência de parir sua segunda filha. Embora frequentemente vistas como um tabu, Hollowell é levada a criar obras sobre essas experiências corporais enquanto questiona seu próprio desejo e premissas criativas. "O que é beleza e por que é belo?" pergunta a artista.

Loie Holloweell (nascida 1983, California, EUA) vive e trabalha em Nova Iorque, Nova Iorque. Saiba mais sobre a artista em: https://art21.org/artist/loie-hollowell/

Esse filme está na coleção que compreende a participação da Art21 na iniciativa multi-institucional Coalizão de Arte Feminista. A Coalizão de Arte Feminista (FAC) é uma plataforma para projetos artísticos de feministas, promovendo a colaboração entre instituições de arte que visam tornar público seu comprometimento com a justiça social e com mudanças estruturais.

CRÉDITOS | Produtor da Série "New York Close Up" : Nick Ravich. Diretor & Editor: Anna Barsan. Câmera: Rose Bush. Som: Rose Bush and Anna Barsan. Música: Blue Dot Sessions, Gisela Fullà-Silvestre, and Ryan J. Raffa. Correção de cor: Addison Post. Design de Som e Mixagem: Gisela Fullà-Silvestre. Design & Graphics: Andy Cahill and Chips. Obras de arte cortesia: Loie Hollowell. Arquivo de mídia: Artbound / KCET, Cidade de Huntington Beach, Sharon Mollerus, e Marinha dos Estados Unidos. Agradecimentos: Alicia Adamerovich, Brian Caverly, Linden Caverly, Felix (studio cat), Juniper Hollowell, Pace, Dan Perkins, e Hannah Root. © Art21, Inc. 2021. Todos os direitos reservados.

"New York Close Up" é patrocinado pela Fundação Andy Warhol para as artes; e em parte, por fundos públicos do Departamento de Cultura da Cidade de Nova Iorque em parceria com a Câmara Municipal; Dawn e Chris Fleischner; e por contribuintes individuais.

Nas minhas pinturas,
muitas vezes

é possível ver uma forma que se
parece com uma vagina,

mas com um olhar mais perto,
também pode ser

Um pênis com um saco.

Não sei o quanto disso

você vai querer colocar.

Meu trabalho é uma expressão

da minha sensualidade
profunda

Sou um corpo que experiencia desejo

que experiencia prazer.

Ele é sensual e carente

E sujo e expressivo.

Sou um corpo que está gestando

Mas não necessariamente

A mulher ou o corpo gestante
que a sociedade espera.

Estou experienciando o prazer e
a dor que qualquer um vive.

E é isso que eu coloco no meu trabalho.

"Corpos transcendentes" de Loie Hollowell

São 9 meses depois.

Eu tive meu bebê em casa, Juniper.

Ela agora tem seis meses.

Eu dei à luz na pandemia.

E agora voltei ao ateliê.

E algumas coisas mudaram no mundo.

Eu acho que quando eu tinha
7 ou 8 anos

Meu pai me deu meu próprio ateliê.

Era um closet.

Ele me colocou lá com um pequeno cavalete

e telas em branco.

Eu lembro daquele espaço tão claramente

Ter meu próprio quarto ao lado do quarto
do meu pai

e da minha mãe foi muito transformador.

Eu sempre me foquei nas minhas
pinturas e desenhos.

por ele ter me dado meu espaço
muito cedo.

Cores e luz são personagens centrais
na minha prática de pintura

Quando eu olho meu trabalho
ao longo dos anos.

Há um senso forte de claro-escuro

da luz para sombra, formando espaço.

Eu cresci na California, cercada de
artistas da Luz e Espaço

Robertt Irwin e seus discos lindos

com essa linha no meio.

Experienciando luz pura,

puro espaço

pura emoção

Há sempre aquela caça,

aquela busca por uma experiência
cheia de luz

mesmo que o tema seja escuro

ou um tema indescritível.

Por volta dos meus vinte e poucos anos,
eu engravidei

E eu não quis continuar a gravidez.

Fiz um aborto.

A maternidade planejada foi ótima
e maravilhosa.

A experiência emocional

E a queda do relacionamento foi bem
intensa emocionalmente

Eu quis descobrir como
poderia fazer pinturas sobre isso

Eu comecei fazendo basicamente
retratos da minha vagina e ovários

Tentando retratar a experiência
de ter feito um aborto.

Eu percbi que a abstação poderia
capturar

aquela sensação ou emoção

por meio da cor, ou da composição,

da textura.

Quanto eu comecei a mergulhar fundo

em criar espaços tridimensionais
nas minhas pinturas

Eu estava agora tendo que lidar

como espaço ilusório e espaço real

sombra e luz construídas

versus luz e sombras reais.

Os problemas que tivemos com essa
lixa antes é que elas

não tem camadas suficientes

E você viu que as linhas da lixa aparecem

Então recentemente, Alicia
colocou mais camadas em cima.

É isso que sinto agora,

quando você fecha os olhos
e sente aquela textura

consistente e macia

É isso!

Sim, essa é uma boa!

Descobri que o que eu amo
a respeito de fazer uma pintura

que é na verdade uma escultura

é que ela muda
em cada contexto

em cada espaço em que é pendurada.

Uma transição aconteceu realmente
para mim quando

o governador instaurou a ordem de
ficar em casa

Eu estava para parir também.

Então eu trouxe um monte de giz
e papel para casa

E comecei a desenhar em casa.

Eu estava tentando visualizar
meu segundo parto,

da minha filha,

e alcançar esse lugar de alguma forma

começar a aceitar a dor.

Tipo, o lugar insano que o seu
cérebro vai

Então eu estava desenhando
o espaço do meu cérebro

e da minha barriga

e a abertura do meu cervix

Aqueles desenhos estão me levando
a esse novo caminho

Eu estou começando a pegar moldes

que eu fiz de mim quando estava grávida

e de amigas minhas quando

estavam grávidas,

e colocando-as na superfície da pintura

Quando eu começo a me sentir
presa em um mesmo lugar,

Eu preciso mudar,

E é onde eu vejo e demando a mudança

das formas simples, geométricas

para a realidade do meu corpo.

Depois que minha mãe deu à luz
a minha segunda irmã

nós estávamos em um posto
de gasolina

E eu estava no banco de trás
do carro,

Eu lembro de vê-la enchendo o tanque

A camiseta dela começou a ficar
coberta de água

E eu pensei "O que está acontecendo?'

Ela estava vazando

Ela estava escorrendo...

Porque minha irmã estava
chorando ao meu lado

A blusa dela foi ficando
coberta de leite

São essas pequenas coisas que a gente
não consegue evitar que aconteçam.

Mas foi uma experiência tão linda

E é um tema sobre o qual
eu queria fazer arte

Ter realmente espaço para questionar
o que estou fazendo e o por quê

Colocou todas essas coisas...

Eu sinto que havia uma linguagem

em questão

"Por que cores vibrantes?"

"Por que alto contraste?"

"Por que formas geométricas?"

Acho que essas são questões que,

como artistas, devemos
nos perguntar continuamente

"Por que fazemos o que fazemos?"

"O que é beleza?"

"E por que é belo?"

"E o que faz a beleza?"