Como a comida modela as nossas cidades
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0:02 - 0:04Como é que se alimenta uma cidade?
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0:04 - 0:06É uma das grandes questões do nosso tempo.
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0:06 - 0:09No entanto, é uma pergunta
que raras vezes se faz. -
0:09 - 0:12Temos por garantido que,
se entrarmos numa loja ou restaurante, -
0:12 - 0:15ou mesmo no foyer deste teatro,
dentro de cerca de uma hora, -
0:15 - 0:18vai haver comida à nossa espera,
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0:18 - 0:21vinda por artes mágicas de algum lado.
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0:21 - 0:25Mas quando se pensa
numa cidade com o tamanho de Londres, -
0:25 - 0:28é necessário produzir-se comida suficiente,
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0:28 - 0:32transportá-la, vendê-la e comprá-la,
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0:32 - 0:35cozinhá-la, comê-la, deitar fora os restos,
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0:35 - 0:38e isso tem de acontecer todos os dias
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0:38 - 0:40em qualquer cidade do planeta.
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0:40 - 0:42É incrível como se consegue
alimentar as cidades. -
0:43 - 0:44Vivemos em locais como este,
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0:44 - 0:47como se fosse a coisa mais natural do mundo,
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0:47 - 0:49esquecendo que, como somos animais
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0:49 - 0:51e precisamos de comer,
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0:51 - 0:55estamos, na verdade,
tão dependentes do mundo natural -
0:55 - 0:57como os nossos antepassados estavam.
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0:57 - 0:59À medida que há mais gente
a ir para as cidades, -
0:59 - 1:03mais bocados desse mundo natural
estão a ser transformados -
1:03 - 1:05em paisagens extraordinárias
como esta atrás de mim. -
1:05 - 1:09São campos de soja
no Mato Grosso, no Brasil, -
1:09 - 1:10para nos alimentar.
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1:11 - 1:13Estas são paisagens extraordinárias.
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1:13 - 1:15Mas poucos de nós chegam a vê-las.
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1:15 - 1:19Cada vez mais, estas paisagens
não nos alimentam só a nós. -
1:20 - 1:22À medida que há mais gente
a mudar-se para as cidades, -
1:22 - 1:23há mais gente a comer carne,
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1:23 - 1:26de modo que um terço
da produção mundial de grão -
1:26 - 1:28serve agora de alimento a animais,
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1:28 - 1:30em vez de nós, animais humanos.
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1:30 - 1:34E dado que é preciso três vezes mais grão
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1:34 - 1:36— aliás, dez vezes mais grão —
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1:36 - 1:39para alimentar um ser humano
se este passar primeiro por um animal, -
1:39 - 1:43não é uma forma muito eficiente
de nos alimentarmos. -
1:44 - 1:46E é também um problema galopante.
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1:46 - 1:49Estima-se que em 2050 o número de pessoas
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1:49 - 1:51a viver em cidades será o dobro.
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1:51 - 1:54E estima-se também que vai haver o dobro
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1:54 - 1:56do consumo de carne, leite e derivados.
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1:56 - 2:00Então, o urbanismo e a carne
aumentam de mãos dadas. -
2:00 - 2:03E isso vai colocar-nos um enorme problema.
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2:03 - 2:07Seis mil milhões de carnívoros esfomeados
para alimentar em 2050. -
2:09 - 2:11Esse é um grande problema.
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2:11 - 2:13Se continuarmos como estamos,
é um problema -
2:13 - 2:15que muito provavelmente
não seremos capazes de resolver. -
2:15 - 2:18Perdem-se todos os anos 19 milhões
de hectares de floresta tropical -
2:18 - 2:20para criar nova terra arável
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2:20 - 2:24apesar de, ao mesmo tempo, estarmos
a perder uma quantidade equivalente -
2:24 - 2:27de terra arável existente
pela salinização e pela erosão. -
2:27 - 2:30Temos também muito apetite
por combustíveis fósseis. -
2:30 - 2:33São precisas cerca de 10 calorias
para produzir cada caloria -
2:33 - 2:36de comida que consumimos no Ocidente.
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2:37 - 2:41E apesar de haver comida
que produzimos a custos óptimos, -
2:41 - 2:43não lhe damos o verdadeiro valor.
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2:43 - 2:47Metade da comida produzida nos EUA
é, actualmente, deitada fora. -
2:47 - 2:50E o pior de tudo é que,
no final deste longo processo, -
2:50 - 2:53não conseguimos alimentar
o planeta decentemente. -
2:53 - 2:58Temos mil milhões de obesos,
enquanto outros mil milhões passam fome. -
2:58 - 3:00Nada disto faz muito sentido.
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3:00 - 3:04Quando pensamos que, actualmente,
80% do mercado global da comida -
3:04 - 3:08é controlado por apenas
cinco multinacionais, -
3:08 - 3:10é um retrato horrendo.
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3:10 - 3:14À medida que nos mudamos para as cidades,
o mundo adopta também uma dieta ocidental. -
3:14 - 3:16E, se olharmos para o futuro,
é uma dieta insustentável. -
3:18 - 3:21Então, como é que chegámos aqui?
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3:21 - 3:23E mais importante, o que é que
vamos fazer acerca disto? -
3:23 - 3:27Vou responder primeiro
à questão um pouco mais fácil. -
3:27 - 3:31Encontramos o início deste processo
há cerca de 10 000 anos, -
3:31 - 3:33no antigo Médio Oriente,
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3:33 - 3:35conhecido como o Crescente Fértil,
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3:35 - 3:38porque, como podem ver,
tinha a forma de um crescente -
3:38 - 3:39e era fértil.
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3:39 - 3:42Foi aqui, há cerca de 10 000 anos,
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3:42 - 3:44que ocorreram
duas invenções extraordinárias, -
3:44 - 3:47a agricultura e o urbanismo,
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3:47 - 3:50sensivelmente no mesmo lugar,
e ao mesmo tempo. -
3:50 - 3:52Isto não é nenhum acaso.
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3:52 - 3:55Porque a agricultura
e as cidades estão ligadas. -
3:55 - 3:56Precisam uma da outra.
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3:56 - 3:59Foi a descoberta dos cereais,
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3:59 - 4:01pelos nossos antepassados,
pela primeira vez, -
4:01 - 4:04que revelou uma fonte de alimento
suficientemente grande -
4:04 - 4:07e estável para sustentar
uma colónia permanente. -
4:08 - 4:10Se observarmos como eram essas colónias,
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4:10 - 4:12podemos ver que eram compactas.
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4:12 - 4:14Eram rodeadas por terra agrícola produtiva
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4:14 - 4:17e dominadas por grandes
complexos de templos -
4:17 - 4:19como este em Ur,
-
4:19 - 4:21que eram, efectivamente,
-
4:21 - 4:24centros de distribuição centralizada
de alimentos espiritualizados, -
4:24 - 4:27porque eram os templos
que organizavam as colheitas, -
4:27 - 4:30juntavam o grão, ofereciam-no aos deuses.
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4:30 - 4:33Depois ofereciam às pessoas
o grão que os deuses não comiam. -
4:33 - 4:35Então, se quiserem,
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4:35 - 4:38podemos dizer que toda a vida
física e espiritual destas cidades -
4:38 - 4:42era dominada pelo grão e pelas colheitas
que as sustentavam. -
4:43 - 4:46Isto é verdade para qualquer cidade antiga.
-
4:46 - 4:49Mas claro que nem todas e
ram assim tão pequenas. -
4:49 - 4:51Como se sabe, Roma tinha cerca
de um milhão de cidadãos -
4:51 - 4:53no primeiro século da nossa era.
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4:53 - 4:56Então, como é que
uma cidade destas se alimentava? -
4:57 - 5:01A resposta é aquilo a que chamo
"quilometragem antiga dos alimentos". -
5:01 - 5:03Basicamente, Roma tinha acesso ao mar,
-
5:03 - 5:07o que tornava possível a importação
de comida a partir de grandes distâncias. -
5:07 - 5:10Esta era a única forma de tornar
isso possível no mundo antigo, -
5:10 - 5:13porque era muito difícil transportar
alimentos pelas estradas, -
5:13 - 5:15que eram muito acidentadas.
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5:15 - 5:17E obviamente, a comida
estragava-se muito rapidamente. -
5:17 - 5:21Roma travou guerra com nações
como Cartago e o Egipto -
5:21 - 5:24apenas para deitar a mão
às suas reservas de grão. -
5:24 - 5:27De facto, podemos dizer
que a expansão do Império -
5:27 - 5:29foi uma espécie de longa e esgotada
-
5:29 - 5:31ida às compras militarizada, na verdade.
-
5:31 - 5:33(Risos)
-
5:33 - 5:36Adoro este facto,
tenho mesmo que falar nisto: -
5:36 - 5:39Roma, de facto chegou
a importar ostras de Londres. -
5:39 - 5:40Acho que isso é extraordinário.
-
5:40 - 5:45Então, Roma modelou o seu interior
de acordo com o seu apetite. -
5:45 - 5:48Mas o mais interessante
é que aquilo também -
5:48 - 5:50aconteceu no mundo pré-industrial.
-
5:50 - 5:52Se olharmos para um mapa
de Londres no século XVII, -
5:52 - 5:55podemos ver que o grão,
chegava pelo Tamisa, -
5:55 - 5:57na parte de baixo deste mapa.
-
5:57 - 6:00Os mercados de grão
ficavam no sul da cidade. -
6:00 - 6:04E as estradas que deles
partiam para Cheapside, -
6:04 - 6:05que era o principal mercado,
-
6:05 - 6:07eram também mercados de grão.
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6:07 - 6:09Se olharmos para o nome duma dessas ruas,
-
6:09 - 6:14Rua do Pão, podemos ver
o que lá se passava há 300 anos. -
6:14 - 6:16E claro que o mesmo também
era verdade para o peixe. -
6:16 - 6:20O peixe, claro, também chegava pelo rio.
Era a mesma coisa. -
6:20 - 6:23O famoso Billingsgate
era o mercado de peixe de Londres, -
6:23 - 6:26que se manteve em funcionamento
no mesmo local até meados dos anos 80, -
6:26 - 6:28o que é algo extraordinário,
quando se pensa nisso. -
6:28 - 6:30Toda a gente andava por ali
-
6:30 - 6:32com telemóveis que pareciam tijolos,
-
6:32 - 6:36e, ao fundo do porto
uma azáfama com cheiro a peixe. -
6:36 - 6:39Esta é outra coisa acerca
da comida nas cidades: -
6:39 - 6:41Depois de as suas raízes
se estabelecerem na cidade, -
6:41 - 6:43muito raramente se deslocam.
-
6:43 - 6:45A carne já é uma história diferente,
-
6:45 - 6:48porque os animais podiam movimentar-se
para dentro da cidade. -
6:48 - 6:51Muita da carne de Londres
vinha de noroeste, -
6:51 - 6:53da Escócia e de Gales.
-
6:53 - 6:57Chegava à cidade por noroeste,
-
6:57 - 6:59motivo pelo qual Smithfield,
-
6:59 - 7:02o muito afamado mercado de carne
de Londres, se localizava aí. -
7:02 - 7:05As aves de capoeira vinham da Ânglia Oriental
e por aí acima até ao nordeste. -
7:05 - 7:07Pareço a menina da meteorologia
a fazer isto. -
7:07 - 7:08(Risos)
-
7:08 - 7:10E então lá vinham as aves
-
7:10 - 7:13com as suas patas protegidas
por pequenos sapatos de algodão. -
7:13 - 7:15E eram vendidas quando chegavam
-
7:15 - 7:17à ponta oriental de Cheapside.
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7:17 - 7:19E é por isso que lhes chamamos "poultry".
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7:19 - 7:23Se olharmos para o mapa de qualquer cidade
-
7:23 - 7:26construída antes da era industrial,
-
7:26 - 7:29podemos ver por onde
é que a comida chegava. -
7:29 - 7:31Podemos ver como foi modelada
fisicamente pela comida. -
7:31 - 7:34Os nomes das ruas
também nos dão imensas pistas. -
7:34 - 7:36A Friday Street,numa vida anterior,
-
7:36 - 7:38era onde se ia comprar
o peixe à sexta-feira. -
7:38 - 7:41Mas também temos
que imaginar isto cheio de comida. -
7:41 - 7:43Porque as ruas e os locais públicos
-
7:43 - 7:46eram os únicos locais
onde se comprava e vendia comida. -
7:46 - 7:49Se olharmos para uma imagem
de Smithfield em 1830 -
7:49 - 7:52vemos que devia ser muito difícil
viver numa cidade como esta -
7:52 - 7:55e não ter consciência
de onde vinha a comida. -
7:55 - 7:56O almoço de domingo, provavelmente
-
7:56 - 7:59estava a mugir ou a balir junto da janela
-
7:59 - 8:01cerca de três dias antes.
-
8:01 - 8:03Esta era, obviamente, uma cidade orgânica,
-
8:03 - 8:05parte de um ciclo orgânico.
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8:06 - 8:10Depois, nos 10 anos seguintes tudo mudou.
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8:10 - 8:12Esta é uma imagem da
Grande Linha Férrea Ocidental em 1840. -
8:12 - 8:15Como podem ver, alguns dos primeiros
passageiros do comboio -
8:15 - 8:17eram porcos e ovelhas.
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8:17 - 8:20De repente, estes animais já não entram
pelo mercado adentro. -
8:20 - 8:22São abatidos longe da vista,
longe do coração, -
8:22 - 8:24algures no meio rural.
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8:24 - 8:26E chegam à cidade de comboio.
-
8:26 - 8:28Isto muda tudo.
-
8:29 - 8:32Para começar,
possibilita pela primeira vez, -
8:32 - 8:35que as cidades cresçam em tamanho e forma,
em qualquer local. -
8:35 - 8:38As cidades costumavam
estar limitadas pela geografia: -
8:38 - 8:42costumavam receber a sua comida
através de difíceis meios físicos. -
8:42 - 8:45E de repente, encontram-se, efectivamente,
emancipadas da geografia. -
8:45 - 8:48Como podem ver por estes mapas de Londres,
-
8:48 - 8:50nos 90 anos depois
do aparecimento dos comboios, -
8:50 - 8:54passa de uma pequena mancha
muito fácil de alimentar -
8:54 - 8:56por animais que chegam
pelo seu próprio pé, -
8:56 - 8:58a um grande borrão,
-
8:58 - 9:01que seria muito difícil de alimentar
por alguém a pé, -
9:01 - 9:03sejam animais ou pessoas.
-
9:04 - 9:07Claro que isso foi apenas o início.
Depois do comboio chegaram os carros. -
9:07 - 9:11E isso marca realmente
o final deste processo. -
9:11 - 9:14É a emancipação final da cidade
-
9:14 - 9:17de qualquer laço aparente com a natureza.
-
9:17 - 9:19Isto é o tipo de cidade
desprovida de cheiro, -
9:19 - 9:21desprovida de confusão,
certamente desprovida de gente. -
9:21 - 9:24Porque ninguém sonharia
caminhar num cenário destes. -
9:24 - 9:28O que se fazia para conseguir alimentos
era meterem-se nos seus carros, -
9:28 - 9:30conduzir até um caixote
algures nos arredores, -
9:30 - 9:32voltar com compras suficientes
para uma semana, -
9:32 - 9:35e interrogar-se que raio fazer com aquilo.
-
9:35 - 9:38E é este o momento em que a nossa relação,
-
9:38 - 9:40tanto com a comida como com as cidades,
muda completamente. -
9:40 - 9:43Agora temos a comida
— que costumava ser o centro, -
9:43 - 9:46o núcleo social de uma cidade
— na periferia. -
9:46 - 9:48A compra e venda de comida
era um acontecimento social, -
9:48 - 9:50agora é anónimo.
-
9:50 - 9:53Costumávamos cozinhar,
agora apenas juntamos água, -
9:53 - 9:57ou um bocadinho de ovo
se estamos a fazer um bolo. -
9:58 - 10:01Não cheiramos a comida
para ver se está boa para comer. -
10:01 - 10:04Limitamo-nos a ler a etiqueta
na parte de trás de uma embalagem. -
10:04 - 10:07E não valorizamos a comida.
Não confiamos nela. -
10:07 - 10:10Em vez de confiar nela, temos receio dela.
-
10:10 - 10:12Em vez de a valorizarmos,
deitamo-la fora. -
10:13 - 10:17Uma das grandes ironias
dos sistemas alimentares modernos -
10:17 - 10:21é que dificultaram exactamente
o que tinham prometido facilitar. -
10:21 - 10:24Ao possibilitar a construção
de cidades em qualquer lugar, -
10:24 - 10:28eles afastaram-nos
da nossa relação mais importante, -
10:28 - 10:31que é a que temos com a natureza.
-
10:31 - 10:34E também nos tornaram dependentes
de sistemas que só eles podem providenciar, -
10:34 - 10:37que, como vimos, são insustentáveis.
-
10:37 - 10:39Então o que é que havemos de fazer?
-
10:39 - 10:41Não é nenhuma nova questão.
-
10:42 - 10:45Há 500 anos, Thomas More interrogava-se.
-
10:46 - 10:49Esta é a capa do seu livro "Utopia".
-
10:49 - 10:51Era uma série de cidades-estado
semi-independentes -
10:51 - 10:53— se isso soa remotamente familiar —
-
10:53 - 10:54a um dia de caminhada umas das outras
-
10:54 - 10:57onde praticamente todos eram
loucos pela agricultura, -
10:57 - 10:58e cultivavam vegetais no quintal
-
10:58 - 11:01e tinham refeições comunitárias juntos.
-
11:01 - 11:02Acho que se pode argumentar
-
11:02 - 11:06que a comida é um principio fundamental
da ordem de Utopia, -
11:06 - 11:08apesar de More nunca o ter
enquadrado dessa maneira. -
11:08 - 11:11Há uma outra versão muito famosa
da visão de "Utopia", -
11:11 - 11:13a de Ebenezer Howard, "A cidade jardim".
-
11:13 - 11:17A mesma ideia. Uma sucessão
de cidades-estado semi-independentes. -
11:17 - 11:20Pequenas manchas de coisas metropolitanas
com terra arável à volta, -
11:20 - 11:22ligadas por vias-férreas.
-
11:22 - 11:24Mais uma vez, podemos dizer
-
11:24 - 11:27que a comida era o princípio
de ordem desta visão. -
11:27 - 11:29Chegou a ser construída,
mas não tem nada a ver -
11:29 - 11:31com a visão que o Howard tinha.
-
11:31 - 11:34E é esse o problema
com estas ideias utópicas, -
11:34 - 11:37é que são utópicas.
-
11:37 - 11:39A palavra "utopia" foi usada
deliberadamente por Thomas More. -
11:39 - 11:43Era uma espécie de piada, porque
os gregos atribuíam-lhe um duplo sentido. -
11:43 - 11:45Tanto significa um bom lugar,
como lugar nenhum. -
11:45 - 11:49Porque é um ideal. É uma coisa imaginária.
Não podemos tê-la. -
11:49 - 11:52E penso que, como ferramenta conceptual
-
11:52 - 11:55para pensar acerca do problema profundo
que é a habitação humana, -
11:55 - 11:56não tem muito uso.
-
11:56 - 11:59Então arranjei uma alternativa,
-
11:59 - 12:02que é "sitopia", do grego antigo,
-
12:02 - 12:04"sitos" para alimento,
e "topos" para lugar. -
12:04 - 12:07Acredito que já vivemos na Sitopia.
-
12:07 - 12:09Vivemos num mundo modelado pela comida.
-
12:09 - 12:13Se pensarmos bem, podemos usar a comida
como uma ferramenta realmente ponderosa, -
12:13 - 12:17uma ferramenta conceptual, de design,
para modelar o mundo de forma diferente. -
12:17 - 12:20Se fizéssemos isso,
como seria o aspecto de Sitopia? -
12:21 - 12:23Bem, eu penso que se parece
um pouco com isto. -
12:23 - 12:26Tenho que usar este slide.
É só pela expressão da cara do cão. -
12:26 - 12:27(Risos)
-
12:27 - 12:30De qualquer modo, isto é
a comida no centro da vida, -
12:30 - 12:32no centro da vida familiar,
sendo celebrada, -
12:32 - 12:35sendo apreciada, as pessoas
a tirarem tempo para ela. -
12:35 - 12:38É aqui que a comida deve estar
na nossa sociedade. -
12:38 - 12:42Mas não podemos ter cenários destes
se não houver pessoas como estas. -
12:42 - 12:44Já agora, também podem ser homens aqui.
-
12:44 - 12:46(Risos)
-
12:46 - 12:48São as pessoas que pensam em comida,
-
12:48 - 12:49que pensam à frente, que planeiam,
-
12:49 - 12:52que podem olhar
para um monte de vegetais crus -
12:52 - 12:53e reconhecê-los.
-
12:53 - 12:56Precisamos destas pessoas.
Fazemos parte de uma rede. -
12:56 - 13:00Porque sem este tipo de pessoas
não podemos ter locais destes. -
13:00 - 13:03Escolhi este deliberadamente porque
é um homem a comprar um vegetal. -
13:03 - 13:07Mas as redes, mercados onde a comida
é cultivada localmente. -
13:07 - 13:10É comum. É fresco.
Faz parte da vida social da cidade. -
13:11 - 13:13Porque sem isso não podemos
ter este tipo de local, -
13:13 - 13:16comida que é cultivada localmente
e também faz parte da paisagem, -
13:16 - 13:19e não é apenas
um bem essencial de balanço nulo, -
13:19 - 13:21algures num buraco infernal nunca visto.
-
13:21 - 13:23Vacas à vista.
-
13:23 - 13:25Montes fumegantes de húmus.
-
13:25 - 13:27Isto, basicamente, une tudo.
-
13:27 - 13:30E este é um projecto de uma comunidade
-
13:30 - 13:32que visitei recentemente em Toronto.
-
13:32 - 13:34É uma estufa, onde se ensina aos miúdos
-
13:34 - 13:36tudo sobre a comida
e cultivo da comida. -
13:36 - 13:39Aqui está uma planta
chamada Kevin, ou -
13:39 - 13:42talvez seja uma planta pertencente
a um miúdo chamado Kevin, não sei. -
13:42 - 13:44Mas de qualquer modo, estes tipos de projectos
-
13:44 - 13:48que tentam restabelecer os laços com a natureza
são extremamente importantes. -
13:49 - 13:51Então Sitopia, para mim,
é a forma de ver. -
13:51 - 13:54É reconhecer, basicamente, que Sitopia
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13:54 - 13:56já existe em pequenas bolsas
por todo o lado. -
13:56 - 13:58O truque é juntá-las
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13:58 - 14:01para usar a comida
como uma maneira de ver. -
14:01 - 14:04Se fizermos isso,
vamos deixar de ver as cidades -
14:04 - 14:07como grandes manchas metropolitanas
não produtivas, como esta. -
14:07 - 14:09Vamos vê-las mais como esta,
-
14:09 - 14:12como parte das fundações orgânicas produtivas
-
14:12 - 14:15das quais são inevitavelmente parte,
-
14:15 - 14:16unidas simbioticamente.
-
14:16 - 14:19Mas claro que esta também
não é uma grande imagem. -
14:19 - 14:21Porque já não precisamos
mais de produzir comida assim. -
14:21 - 14:24Precisamos de pensar mais em permacultura.
-
14:24 - 14:26E é por isso que penso que esta imagem
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14:26 - 14:28resume o tipo de pensamento
que precisamos de ter. -
14:28 - 14:30É a reconceptualização
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14:30 - 14:32da forma como a comida
modela a nossa vida. -
14:32 - 14:35A melhor imagem que conheço
disto tem 650 anos. -
14:35 - 14:39É a "Alegoria da Boa Governação"
de Ambrogio Lorenzetti. -
14:39 - 14:42É sobre a relação entre a cidade e o campo.
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14:42 - 14:44E penso que a mensagem disto é muito clara.
-
14:44 - 14:48Se a cidade cuidar do campo,
o campo vai cuidar da cidade. -
14:48 - 14:51Queria que pensássemos agora
-
14:51 - 14:53no que é que
Ambrogio Lorenzetti pintaria -
14:53 - 14:55se pintasse este quadro hoje.
-
14:55 - 14:58Qual seria o aspecto de uma alegoria
da boa governação nos dias de hoje? -
14:58 - 15:01Porque eu penso que é uma questão urgente.
-
15:01 - 15:03É uma coisa que temos que perguntar,
-
15:03 - 15:05e temos que começar a responder.
-
15:05 - 15:07Sabemos que somos aquilo que comemos.
-
15:07 - 15:10Precisamos de perceber que o mundo
também é o que comemos. -
15:10 - 15:12Se pegarmos nessa ideia,
podemos usar a comida -
15:12 - 15:15como uma ferramenta verdadeiramente
poderosa para modelarmos melhor o mundo. -
15:15 - 15:17Muito obrigada.
-
15:17 - 15:20(Aplausos)
- Title:
- Como a comida modela as nossas cidades
- Speaker:
- Carolyn Steel
- Description:
-
Todos os dias, numa cidade do tamanho de Londres, são servidos 30 milhões de refeições. Mas de onde vem toda esta comida? A arquitecta Carolyn Steel fala sobre o milagre diário que é alimentar uma cidade e mostra como as antigas rotas da comida modelaram o mundo moderno.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 15:25
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How food shapes our cities | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How food shapes our cities | ||
Ana Brochado added a translation |