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Economia e sustentabilidade: fatos, mitos e caos | Wilson Cabral | TEDxSãoSebastião

  • 0:16 - 0:20
    Sustentabilidade e economia são coisas
    que estão intrinsecamente relacionadas.
  • 0:20 - 0:25
    A economia reflete nosso "modus operandi",
    reflete nosso modelo de vida,
  • 0:25 - 0:28
    o que a gente faz, espera, anseia, etc.
  • 0:29 - 0:31
    E isso nos leva a ser ou não sustentáveis.
  • 0:33 - 0:36
    E quais são os fatos
    que eu gostaria de apresentar?
  • 0:36 - 0:38
    São indicadores de limites planetários.
  • 0:39 - 0:44
    Os nove indicadores estão ali, e se chegou
    à conclusão que, em quatro deles,
  • 0:44 - 0:51
    nós já atingimos limites bem superiores
    aos níveis de risco aceitáveis,
  • 0:51 - 0:54
    que são: os ciclos biogeoquímicos,
  • 0:54 - 0:58
    a biodiversidade, mudanças
    de uso da cobertura da Terra
  • 0:58 - 1:00
    e, por fim, mudanças climáticas.
  • 1:00 - 1:03
    Então, vejam que esses quatro
    estão todos entrelaçados.
  • 1:03 - 1:08
    As mudanças climáticas surgem
    como efeito das mudanças do uso da terra,
  • 1:08 - 1:11
    que têm como um mote, por exemplo,
  • 1:11 - 1:15
    a expansão da agricultura
    sob padrões convencionais,
  • 1:15 - 1:19
    bem diferentes da agricultura do Seu José,
  • 1:19 - 1:22
    que é muito mais sustentável,
    ou que é sustentável de fato.
  • 1:22 - 1:26
    Quer dizer, essa agricultura que exige
    uma quantidade muito grande de nutrientes
  • 1:26 - 1:29
    exógenos à terra,
  • 1:29 - 1:33
    que precisa processar, que precisa extrair
    inclusive do petróleo, pra lançar mão,
  • 1:33 - 1:37
    ela quebra os ciclos biogeoquímicos,
    e a gente a está expandindo,
  • 1:37 - 1:40
    e talvez esse seja o principal
    problema que a gente tem hoje.
  • 1:41 - 1:44
    A pegada ecológica
    foi criada na década de 90
  • 1:44 - 1:47
    pra tentar representar um indicador
    de quanto a gente impacta o planeta,
  • 1:47 - 1:50
    e quanto o planeta ainda tem
    capacidade de resistir.
  • 1:51 - 1:53
    E se chegou a conclusão
    que, desde a década de 70,
  • 1:54 - 1:58
    já utilizamos mais do que um planeta Terra
    pras nossas atividades.
  • 2:00 - 2:02
    Ou seja, como é que pode isso?
  • 2:02 - 2:05
    A gente já utiliza mais do que uma,
    mas só tem uma. Como é isso?
  • 2:06 - 2:09
    A gente está avançando
    exatamente na sustentabilidade;
  • 2:09 - 2:12
    a gente está avançando exatamente
    na nossa capacidade de manter
  • 2:12 - 2:17
    essa possibilidade de uso e usufruto
    da Terra pras gerações posteriores.
  • 2:19 - 2:22
    Tem jeito? Tem saída? Tem solução?
  • 2:22 - 2:26
    A mesma metodologia de pegada
    ecológica que aponta esses problemas,
  • 2:26 - 2:33
    nos diz que se eu reduzir, por exemplo,
    emissões de CO2 em 30%,
  • 2:33 - 2:36
    a gente tem condições
    de reduzir essa pegada,
  • 2:36 - 2:38
    e chegar, por exemplo, a uma vez e meia,
  • 2:38 - 2:39
    uma Terra e meia.
  • 2:39 - 2:42
    É sustentável? Não, absolutamente.
  • 2:42 - 2:46
    Mas indica que há um caminho que pode
    reduzir essa pressão sobre o planeta.
  • 2:47 - 2:49
    Esse gráfico é interessante
  • 2:49 - 2:55
    porque mostra um reflexo
    dessas projeções pra nós, pro Brasil.
  • 2:55 - 2:59
    Isso aqui é um resultado
    de precipitações, chuva, no futuro:
  • 2:59 - 3:02
    2070 até 2100.
  • 3:02 - 3:06
    Ou seja, daqui a 80 a 100 anos.
  • 3:06 - 3:11
    Ele projeta, num cenário mais otimista,
    pra boa parte do país,
  • 3:11 - 3:15
    toda a área acima de São Paulo,
    incluindo São Paulo,
  • 3:15 - 3:21
    uma redução em torno de 10 a 25%
  • 3:21 - 3:24
    de precipitação, redução de chuva.
  • 3:24 - 3:26
    O que significa isso?
  • 3:26 - 3:28
    Significa que esses eventos
    extremos de seca,
  • 3:28 - 3:35
    que a gente vivenciou no ano passado
    e ano retrasado, tendem a se multiplicar,
  • 3:35 - 3:40
    a adotar um padrão de frequência
    muito mais contundente,
  • 3:41 - 3:44
    e que, por exemplo,
    atividades econômicas como...
  • 3:44 - 3:49
    Nossa geração de eletricidade,
    hoje é 70% de origem hídrica.
  • 3:50 - 3:54
    Quer dizer, isso afeta
    todo o nosso modo de viver.
  • 3:54 - 3:58
    Então eu pego duas variantes do modelo,
  • 3:58 - 4:01
    uma que dá uma projeção
    mais pessimista e uma mais otimista,
  • 4:01 - 4:03
    e digo pra sociedade:
  • 4:04 - 4:07
    é assim que, talvez,
    se comporte o clima no futuro.
  • 4:08 - 4:10
    O que vocês querem fazer?
  • 4:11 - 4:13
    E a sociedade toma a decisão.
  • 4:13 - 4:16
    Esse é mais ou menos o raciocínio lógico
  • 4:16 - 4:19
    que se traduz a partir
    de uma pesquisa científica como essa.
  • 4:19 - 4:22
    Por que é que nós, hoje,
    vivenciamos uma era,
  • 4:22 - 4:26
    que alguns pesquisadores têm apontado
    como sendo a era do antropoceno?
  • 4:27 - 4:32
    Ou seja, a nossa pegada, a pegada
    do homem na Terra, hoje,
  • 4:32 - 4:38
    segundo esses pesquisadores,
    tem a capacidade de mudar a geosfera
  • 4:38 - 4:40
    como tempos geológicos no passado.
  • 4:40 - 4:43
    Por isso a criação de uma nova era.
  • 4:43 - 4:45
    Bom, tem mitos por trás disso,
  • 4:45 - 4:49
    da nossa forma de lidar
    com recursos naturais, etc.
  • 4:49 - 4:51
    O primeiro mito é o da superpopulação.
  • 4:52 - 4:57
    Isso começou lá com Thomas Malthus,
    na Inglaterra do século 19,
  • 4:57 - 5:02
    que achava que o crescimento da população
  • 5:02 - 5:05
    a uma taxa maior que a taxa de produção
    poderia levar o mundo ao colapso.
  • 5:06 - 5:10
    Isso foi retomado na década de 70,
  • 5:10 - 5:14
    tem uma certa lógica
    racional por trás disso,
  • 5:14 - 5:18
    mas se a gente for olhar
    a população hoje no mundo,
  • 5:18 - 5:22
    ela está entrando numa fase
    de estabilização das taxas de crescimento.
  • 5:22 - 5:26
    Então, talvez a população não seja
    mais esse grande problema.
  • 5:27 - 5:32
    Mas talvez a forma como a população
    atual lida com o meio ambiente,
  • 5:32 - 5:35
    com recursos naturais,
    etc. seja o problema.
  • 5:36 - 5:39
    Bom, aí vem o mito
    da finitude ou da infinitude.
  • 5:39 - 5:40
    Que mito é esse?
  • 5:41 - 5:44
    É um mito que está inserido
    no âmbito da economia clássica,
  • 5:44 - 5:50
    da economia que a gente vivencia
    quando um economista fala no noticiário,
  • 5:50 - 5:53
    que é: os recursos naturais são infinitos.
  • 5:53 - 5:56
    A água é infinita, o petróleo
    é infinito, isso não vai acabar.
  • 5:57 - 6:00
    E, se por acaso acabar, tender a acabar,
  • 6:00 - 6:02
    o preço vai aumentar tanto,
  • 6:02 - 6:06
    que diminui a pressão,
    e ele não acaba. Infinito.
  • 6:07 - 6:11
    E por fim, o mito
    da tecnologia. É o "tech-fix".
  • 6:12 - 6:14
    É muito comum ouvir de meus colegas,
  • 6:14 - 6:20
    ouvir da comunidade associada à engenharia
    que a tecnologia resolve tudo.
  • 6:21 - 6:23
    Que qualquer problema
    ambiental gerado hoje,
  • 6:23 - 6:27
    pode ser tecnologicamente
    resolvido no futuro.
  • 6:28 - 6:30
    De certa forma,
    há uma certa verdade nisso.
  • 6:31 - 6:33
    Mas o problema é o seguinte:
  • 6:33 - 6:37
    posso perder a resiliência ecológica
    antes que a tecnologia resolva.
  • 6:38 - 6:40
    E ao perdê-la, eu perco
    minhas funções ecossistêmicas,
  • 6:40 - 6:42
    perco meu serviço, perco a água.
  • 6:44 - 6:46
    Queremos chegar até lá?
  • 6:46 - 6:53
    Bom, uma das causas a que eu atribuo
    esse nosso problema ambiental global,
  • 6:53 - 6:56
    é a supervalorização
    do indivíduo e do consumo.
  • 6:57 - 6:59
    Duas origens.
  • 6:59 - 7:04
    Uma vem de certa forma do liberalismo,
    e outra do capitalismo industrial
  • 7:04 - 7:07
    e sua máquina de mover
    o mundo a partir do consumo.
  • 7:07 - 7:10
    Juntou isso aí...
  • 7:10 - 7:15
    Eu entendo como uma boa raiz
    da nossa degradação ambiental atual,
  • 7:15 - 7:17
    a junção desses dois fenômenos.
  • 7:19 - 7:23
    Um economista famoso,
    Joseph Stiglitz, em 2001,
  • 7:23 - 7:27
    foi Nobel de economia em 2001,
    postou esta frase:
  • 7:28 - 7:32
    "O que a gente mede
    define o que a gente faz.
  • 7:32 - 7:35
    Se a gente mede mal,
    a gente faz coisa errada".
  • 7:35 - 7:36
    Literalmente é isso.
  • 7:38 - 7:40
    Crescimento econômico.
  • 7:40 - 7:42
    Hoje a gente fala muito em crescimento,
  • 7:42 - 7:45
    quando a gente fala de "mainstream",
  • 7:45 - 7:50
    de pessoas que estão na liderança
    da definição econômica do mundo,
  • 7:50 - 7:52
    sempre se fala em consumo
    e aumento do PIB.
  • 7:52 - 7:53
    PIB é o nosso referencial.
  • 7:54 - 7:57
    Infelizmente é nosso referencial,
    inclusive, de desenvolvimento.
  • 7:57 - 7:59
    E a pergunta que se faz é:
  • 7:59 - 8:03
    as nossas medidas estão certas,
    pensando no que o Stiglitz propôs?
  • 8:04 - 8:06
    Vejam bem... Alguns exemplos...
  • 8:07 - 8:10
    Se eu reduzir o consumo
    de cigarro, eu reduzo o PIB.
  • 8:11 - 8:15
    Se eu reduzir a indústria bélica,
    eu reduzo o PIB.
  • 8:16 - 8:17
    Ou seja, eu vou decrescer.
  • 8:19 - 8:22
    Será que eu decresço mesmo,
    se eu reduzir a indústria bélica?
  • 8:23 - 8:25
    A gente precisa começar
    a mexer com esses valores
  • 8:25 - 8:27
    e a entender um pouco mais
    o que está por trás disso.
  • 8:27 - 8:29
    Será que realmente
    a gente precisa crescer?
  • 8:30 - 8:35
    Toda crise econômica...
  • 8:35 - 8:38
    Podem pegar a visão
    dos economistas "mainstream".
  • 8:38 - 8:40
    Qual é a saída da crise econômica?
  • 8:41 - 8:42
    Respondam.
  • 8:43 - 8:46
    Consumo. Consumo.
  • 8:46 - 8:51
    Essa questão dos indicadores,
  • 8:51 - 8:55
    o que a gente usa pra dizer
    se vale a pena investir nisso ou naquilo,
  • 8:55 - 8:57
    vem de uma deturpação de valores também.
  • 8:57 - 9:00
    E nos coloca valores
    completamente deturpados.
  • 9:01 - 9:02
    Então, vamos voltar aos mitos.
  • 9:02 - 9:03
    Temos aí dois mitos.
  • 9:04 - 9:06
    Um mito do futebol e um mito da canoagem.
  • 9:06 - 9:10
    Este bem mais recente, muitos
    nem o conheciam antes das olimpíadas.
  • 9:10 - 9:14
    Neymar recebe em torno
    de R$ 7,5 milhões por mês.
  • 9:14 - 9:16
    O salário atual dele.
  • 9:16 - 9:18
    E o Isaquias Queiroz?
  • 9:20 - 9:22
    Será que um vale menos que o outro?
  • 9:23 - 9:26
    Nós atribuímos, de alguma forma,
    esses valores distorcidos, gente.
  • 9:27 - 9:31
    Eles são objeto do que a gente atribui.
  • 9:31 - 9:34
    Por isso a gente tem que pensar,
    quando pensa em sustentabilidade,
  • 9:34 - 9:38
    é necessário, não suficiente, é necessário
  • 9:38 - 9:40
    mudar a atribuição de valores.
  • 9:41 - 9:44
    Já encaminhando pro final da apresentação,
  • 9:44 - 9:45
    pra onde vamos?
  • 9:45 - 9:48
    Isto é um mapa aqui da região.
  • 9:48 - 9:53
    Nós fizemos uma pesquisa recente, pegando
    aqueles dados e projeções do INPE, etc.,
  • 9:54 - 9:59
    e analisamos quais são
    as vulnerabilidades do litoral norte
  • 9:59 - 10:03
    em termos de mudanças climáticas, elevação
    do nível do mar e outras variáveis.
  • 10:04 - 10:08
    Estas áreas em vermelho e amarelo
    são áreas de média e alta vulnerabilidade.
  • 10:08 - 10:12
    São áreas que deveriam
    ser olhadas com muito cuidado.
  • 10:13 - 10:18
    São áreas que, para um legislador
    ou para o governo, deveria dizer:
  • 10:18 - 10:22
    "Cuidado com essas áreas,
    não as ocupe inadvertidamente
  • 10:22 - 10:25
    porque elas são vulneráveis
    e podem estar em risco no futuro".
  • 10:26 - 10:28
    E no entanto, o que vocês estão vendo:
  • 10:28 - 10:32
    ela está projetada em cima do mapa
    do zoneamento ecológico do estado,
  • 10:32 - 10:36
    do que se propõe do zoneamento
    ecológico do estado.
  • 10:37 - 10:40
    Vocês podem ver
    que essas áreas estão em áreas
  • 10:40 - 10:44
    em que se prevê expansão
    das atividades econômicas.
  • 10:46 - 10:50
    Nós não estamos olhando, enquanto
    sociedade, pra essa vulnerabilidade.
  • 10:50 - 10:53
    Aqui em Caraguá, é um caso até pior,
  • 10:53 - 10:58
    uma área muito mais contígua
    e problemática, e estamos aceitando isso.
  • 10:58 - 11:03
    O que a gente pode... quais são
    as nossas saídas enquanto sociedade?
  • 11:03 - 11:05
    Ou nós aceitamos este "caos",
  • 11:05 - 11:09
    alguns acham que não, que isso vai
    se reequilibrar e que a gente sai disso,
  • 11:10 - 11:13
    ou, o que a gente pode fazer?
  • 11:14 - 11:17
    Bom, se eu tivesse a resposta certa,
  • 11:17 - 11:20
    eu a estaria vendendo
    a um preço bastante alto.
  • 11:21 - 11:25
    Mas eu diria que a resposta
    certa, de certa forma,
  • 11:25 - 11:30
    já vem sendo dada
    desde as 13:50 neste auditório.
  • 11:31 - 11:37
    É a resposta certa do Seu José,
    que pra mim é um doutor "honoris causa".
  • 11:37 - 11:41
    É a resposta certa do Guilherme.
  • 11:41 - 11:43
    É a resposta certa de diversas pessoas
  • 11:43 - 11:47
    que passaram por aqui
    e apontaram caminhos e soluções.
  • 11:47 - 11:49
    É sairmos do global para o local
  • 11:49 - 11:52
    e começarmos a repensar
    o nosso sistema de valores.
  • 11:52 - 11:59
    Eu diria, como sugestão:
    reduzir consumo, quebrar mitos, pensar...
  • 12:00 - 12:04
    A gente tem deixado de pensar,
    na sociedade atual, cada vez mais.
  • 12:05 - 12:07
    Mudar valores, participar.
  • 12:08 - 12:10
    Efetivamente participar.
  • 12:10 - 12:12
    Quando a gente não participa,
    tomam decisões por nós.
  • 12:12 - 12:16
    E é exatamente o que está acontecendo
    em relação às mudanças climáticas
  • 12:16 - 12:18
    e em relação à degradação do planeta.
  • 12:20 - 12:24
    Pra finalizar, eu diria
    que sustentabilidade implica
  • 12:25 - 12:30
    em uma mudança da sociedade do "ter"
    pra sociedade do "ser".
  • 12:30 - 12:33
    Sem isso, nós não seremos sustentáveis.
  • 12:34 - 12:35
    Obrigado.
  • 12:35 - 12:38
    (Aplausos)
Title:
Economia e sustentabilidade: fatos, mitos e caos | Wilson Cabral | TEDxSãoSebastião
Description:

Wilson Cabral é oceanólogo, mestre em sensoriamento remoto e doutor em economia. Atualmente é professor no ITA. Ele conduziu diversas pesquisas com o intituto de energia e meio ambiente na Universidade de São Pauloe com o Sustainability Research Centre na University of Sunshine Coast/Australia. Nesta palestra, ele fala sobre o futuro da sustentabilidade e da economia.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:43

Portuguese, Brazilian subtitles

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