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The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #2

  • 0:03 - 0:06
    Podemos desfrutar dos três sons do sino,
  • 0:06 - 0:09
    voltar ao nosso corpo,
    voltar à nossa respiração,
  • 0:10 - 0:12
    desfrutar,
  • 0:13 - 0:18
    desfrutar de estar livres dos nossos pensamentos,
    das nossas preocupações, da nossa ansiedade,
  • 0:19 - 0:26
    simplesmente desfrutar da nossa inspiração
    e da nossa expiração.
  • 0:32 - 0:33
    (Sino)
  • 0:39 - 0:44
    (Sino)
  • 1:08 - 1:14
    (Sino)
  • 1:34 - 1:40
    (Sino)
  • 2:17 - 2:22
    Querido e respeitado Thay,
    querida e nobre comunidade,
  • 2:23 - 2:28
    hoje é 24 de março
    do ano de 2021.
  • 2:29 - 2:34
    Ainda estamos na pandemia,
    e estamos a estudar
  • 2:36 - 2:42
    os 40 princípios de Plum Village,
    ensinamentos que Thay transmitiu
  • 2:44 - 2:49
    em 2005, 2006.
  • 2:53 - 2:56
    E penso que esta é a primeira vez
    que os estamos a transmitir em direto.
  • 2:56 - 3:00
    Sejam bem-vindos todos os que nos acompanham online.
  • 3:04 - 3:07
    Esta é uma oportunidade para entrarmos juntos
    no Dharma.
  • 3:07 - 3:09
    É muito empolgante.
  • 3:11 - 3:17
    É como um riacho fresco
    no verão, quando estamos com calor.
  • 3:18 - 3:24
    E tudo em que conseguimos pensar é na água,
    e em como será refrescante no nosso rosto.
  • 3:25 - 3:28
    E quando colocamos os lábios na água,
  • 3:28 - 3:32
    talvez até mergulhemos a cabeça,
    e sentimo-nos revigorados.
  • 3:32 - 3:36
    Podemos libertar-nos de qualquer preocupação,
    toda a sujidade no nosso corpo
  • 3:37 - 3:40
    pode ser levada pela corrente.
  • 3:41 - 3:48
    É assim que nos sentimos ao entrar no Dharma: revigorados.
  • 3:55 - 4:01
    A primeira coisa é regressar à nossa respiração,
    simplesmente tomar consciência da respiração,
  • 4:02 - 4:11
    independentemente da posição do nosso corpo.
    Se estivermos sentados, deitados ou de pé,
  • 4:12 - 4:17
    estejamos cientes do nosso corpo,
    desta maravilha que é o corpo.
  • 4:18 - 4:24
    Está coberto de pele,
    e de carne e osso,
  • 4:25 - 4:31
    cheio de todo o tipo de emoções,
    todo o tipo de ideias e conceitos,
  • 4:33 - 4:41
    repleto de milhões de células,
    células humanas, células bacterianas.
  • 4:47 - 4:51
    Esta maravilha não se restringe ao nosso corpo,
  • 4:52 - 4:55
    mas também ao ar à nossa volta,
    ao corpo dos outros,
  • 4:56 - 5:00
    à terra sob os nossos pés.
  • 5:02 - 5:07
    Tenho esta mesa de plástico à minha frente.
    Também é uma maravilha.
  • 5:09 - 5:17
    Um termo, a pedra na montanha,
    e o ar que respiramos.
  • 5:18 - 5:22
    Isto não é uma filosofia,
    é uma prática.
  • 5:23 - 5:28
    É uma forma de olhar
    para todas as coisas condicionadas como maravilhas.
  • 5:29 - 5:32
    Coisas que são impermanentes,
  • 5:34 - 5:38
    e livres de um eu separado.
  • 5:39 - 5:43
    Na última aula, abordámos a primeira tese.
  • 5:44 - 5:48
    E para aqueles que -
    ou o primeiro princípio.
  • 5:50 - 5:56
    Para aqueles que estão a acompanhar online,
    talvez gostem de obter uma cópia dos 40 princípios
  • 5:57 - 6:00
    e seguir connosco à medida que avançamos.
  • 6:00 - 6:04
    Penso que está disponível em vários locais
    nos sites de Plum Village,
  • 6:05 - 6:10
    assim como no site da Ordem do Interser nos EUA.
  • 6:13 - 6:18
    Vou recapitular brevemente
    o que abordámos na última aula.
  • 6:26 - 6:29
    O primeiro princípio é:
  • 6:31 - 6:36
    O espaço não é um Dharma incondicionado.
  • 6:42 - 6:57
    [O espaço não é um Dharma incondicionado]
  • 7:15 - 7:25
    Manifesta-se em conjunto
  • 7:31 - 7:34
    com o tempo,
  • 7:38 - 7:40
    a matéria
  • 7:44 - 7:46
    e a consciência.
  • 7:47 - 7:55
    [Manifesta-se em conjunto com o tempo,
    a matéria e a consciência]
  • 7:58 - 8:01
    Falámos do espaço
  • 8:05 - 8:09
    como uma experiência na nossa prática.
  • 8:09 - 8:11
    Sabemos
  • 8:11 - 8:15
    que o nosso corpo ocupa espaço,
    e que há um espaço à nossa volta.
  • 8:15 - 8:21
    À medida que nos movemos, sentimos o ar,
    a resistência do chão sob os nossos pés.
  • 8:21 - 8:25
    Mas se retirarmos o chão,
    se retirarmos o ar,
  • 8:26 - 8:31
    ainda existe espaço,
    existe uma sensação de distância,
  • 8:31 - 8:37
    de comprimento, altura, largura,
    três dimensões.
  • 8:40 - 8:46
    E é provável que os monges,
    os nossos mestres ancestrais,
  • 8:47 - 8:52
    e as monjas que praticavam
    o contacto com o espaço,
  • 8:53 - 8:57
    tivessem a prática de tocar o espaço ilimitado.
  • 8:58 - 9:03
    Nessa perceção de espaço ilimitado,
    não incluíam
  • 9:04 - 9:08
    nada que se pudesse tocar ou sentir.
  • 9:08 - 9:12
    Nesse sentido, pensavam nele
    como sendo incondicionado,
  • 9:13 - 9:17
    da mesma forma que o nirvana é incondicionado.
  • 9:20 - 9:28
    Mas se olharmos mais profundamente para o espaço,
    vemos que ele é, antes de mais, uma noção.
  • 9:29 - 9:33
    É algo que criamos
    com a mente humana,
  • 9:34 - 9:40
    através da consciência
    de algo à nossa frente,
  • 9:41 - 9:44
    ao nosso lado, acima e abaixo,
  • 9:44 - 9:49
    a sensação de que as coisas não ocupam
    um único ponto, por assim dizer,
  • 9:51 - 9:57
    mas que estão distribuídas
    em três dimensões.
  • 9:57 - 9:59
    Isso é uma ideia.
  • 10:01 - 10:06
    O espaço é uma forma de descrever
  • 10:10 - 10:17
    a nossa experiência vivida de movimento
    dentro das três dimensões.
  • 10:19 - 10:23
    Assim, nesse sentido,
    o espaço é condicionado,
  • 10:23 - 10:27
    é condicionado pelo nosso pensamento.
    É um conceito.
  • 10:28 - 10:31
    Mas se olharmos ainda mais profundamente,
  • 10:32 - 10:37
    vemos que, mesmo que tentemos atribuir
    uma base física a essa noção,
  • 10:39 - 10:42
    e dissermos: "Não,
    existe algo que é o espaço",
  • 10:43 - 10:48
    vemos que, mesmo na abordagem científica
    ao espaço,
  • 10:48 - 10:52
    também chegamos à conclusão
    de que ele é condicionado.
  • 10:52 - 10:55
    Através da teoria da relatividade,
  • 10:55 - 11:03
    sabemos que o espaço
    pode ser afetado pela massa, pela matéria.
  • 11:03 - 11:06
    Se há um corpo muito massivo,
  • 11:06 - 11:14
    mesmo corpos relativamente menos massivos
    têm algum efeito na curvatura do espaço.
  • 11:16 - 11:21
    Quando a luz vem de estrelas distantes,
  • 11:22 - 11:27
    podemos medir como, ao passar por estrelas massivas,
  • 11:27 - 11:32
    o raio de luz se curva.
  • 11:33 - 11:37
    Portanto, há uma curvatura
    do espaço-tempo.
  • 11:38 - 11:43
    Isso também demonstra
    que o espaço é condicionado.
  • 11:44 - 11:47
    Mesmo na nossa compreensão científica do espaço,
  • 11:47 - 11:51
    tentamos ir além da noção de espaço.
  • 11:51 - 11:55
    Mesmo aquilo a que chamamos espaço
  • 11:55 - 12:00
    está condicionado pela matéria,
    não é algo incondicionado.
  • 12:03 - 12:07
    Quando olhamos profundamente para o espaço,
  • 12:07 - 12:11
    vemos que ele também é composto por tempo.
  • 12:12 - 12:17
    E o tempo também é condicionado.
  • 12:17 - 12:20
    Não é algo incondicionado.
  • 12:21 - 12:26
    A nossa perceção do tempo é também uma noção.
  • 12:27 - 12:30
    Na verdade, temos apenas
    este momento presente.
  • 12:30 - 12:34
    Mas usamos a expressão "momento presente"
    para distinguir
  • 12:34 - 12:37
    entre o que acontecerá a seguir, o futuro,
  • 12:37 - 12:40
    e o que aconteceu antes, o passado.
  • 12:40 - 12:44
    Mas o passado é apenas
    a nossa memória de experiências
  • 12:44 - 12:51
    que ocorreram antes deste momento presente,
    e que deixaram uma marca na nossa consciência,
  • 12:51 - 12:55
    de alguma forma, sob a forma de um sinal,
    uma sensação ou uma memória.
  • 12:55 - 13:00
    Na verdade, só temos este momento presente,
  • 13:00 - 13:02
    mas falamos sobre o passado
  • 13:03 - 13:09
    com base nesta experiência vivida, na qual existe
    algum tipo de continuidade neste corpo.
  • 13:09 - 13:13
    Há sentimentos, há perceções,
    há formações mentais,
  • 13:13 - 13:16
    e reconheço algum tipo de
    padrão nisso.
  • 13:16 - 13:21
    Isso dá-me uma sensação de continuidade
    entre o que aconteceu antes
  • 13:22 - 13:24
    e este momento presente.
  • 13:25 - 13:30
    Depois, a minha antecipação do que acontecerá
    após este momento presente
  • 13:30 - 13:35
    também é experimentada no momento presente.
  • 13:36 - 13:39
    Mas isso é apenas
  • 13:40 - 13:46
    o aspeto de planeamento ou projeção
    da minha mente para o futuro.
  • 13:46 - 13:53
    E chamo a isso futuro. Mas tudo
    é experienciado apenas aqui e agora.
  • 13:54 - 14:01
    Na verdade, vemos que o próprio tempo
    é um conceito condicionado, é uma noção.
  • 14:02 - 14:04
    E não há -
  • 14:05 - 14:13
    Podemos usar o movimento, por exemplo,
    dos ponteiros do relógio à volta do mostrador
  • 14:13 - 14:19
    ou a queda da areia
    numa ampulheta
  • 14:20 - 14:24
    para nos dar a sensação de que o tempo está a passar.
  • 14:24 - 14:28
    Mas tudo isso são apenas elementos condicionados
    que representam
  • 14:30 - 14:36
    uma ideia do que mais precisamente
    chamamos impermanência.
  • 14:45 - 14:49
    [tempo]
  • 14:53 - 14:57
    [impermanência]
  • 15:07 - 15:10
    Em termos de nos libertarmos
    do nosso sofrimento,
  • 15:11 - 15:15
    é mais útil falar sobre
    impermanência do que sobre tempo.
  • 15:17 - 15:23
    Tendemos a quantificar o tempo, certo?
    Atribuímos-lhe números e dizemos que
  • 15:25 - 15:29
    o movimento de grandes corpos, como a rotação da Terra,
  • 15:31 - 15:37
    aproximadamente metade do tempo na sombra,
    metade do tempo ao sol,
  • 15:37 - 15:41
    onde quer que estejamos na Terra,
    isso constitui um dia.
  • 15:41 - 15:46
    E depois, o tempo que a Terra leva
    a completar a sua órbita -
  • 15:46 - 15:51
    Desculpa, a deslocar-se completamente
    em torno do Sol, isso constitui um ano.
  • 15:52 - 15:58
    Depois subdividimos o dia em horas,
    minutos, segundos e milissegundos.
  • 16:00 - 16:04
    Agora até temos um relógio atómico
  • 16:04 - 16:09
    baseado no decaimento radioativo de átomos
  • 16:10 - 16:16
    para tentar determinar
    uma perceção regular do tempo.
  • 16:16 - 16:19
    Mas, no fundo, tudo isso continua a ser condicionado.
  • 16:20 - 16:25
    Todas essas formas de medir e pensar o tempo
    são condicionadas.
  • 16:27 - 16:31
    E as coisas condicionadas são impermanentes.
  • 16:31 - 16:35
    Isso significa que estão sujeitas a mudança.
  • 16:35 - 16:38
    Ou seja, estão sujeitas
    a surgir, manifestar-se,
  • 16:39 - 16:43
    permanecer durante algum tempo
    e depois desaparecer.
  • 16:45 - 16:50
    Por isso, em vez de nos concentrarmos no tempo
  • 16:50 - 16:58
    como um cientista faria no seu
    estudo observacional,
  • 16:58 - 17:05
    nós, como praticantes,
    como cientistas da primeira pessoa,
  • 17:05 - 17:09
    da nossa própria prática interior,
  • 17:09 - 17:13
    praticamos concentrando-nos
    na natureza impermanente das coisas.
  • 17:13 - 17:16
    Não precisamos de medir
    a taxa de impermanência,
  • 17:16 - 17:18
    mas sim reconhecê-la.
  • 17:19 - 17:23
    É uma realização ver que
    este corpo, o nosso corpo, está sempre a mudar.
  • 17:23 - 17:27
    Estamos a envelhecer,
    os nossos sentidos talvez,
  • 17:27 - 17:30
    se somos muito jovens, estão a desenvolver-se.
  • 17:30 - 17:40
    E à medida que envelhecemos, tornam-se menos capazes
    de ver, ouvir, falar.
  • 17:48 - 17:51
    Reconhecer isso é, na verdade, uma liberdade.
  • 17:52 - 17:57
    Por isso, esta afirmação
    pode ser vista como uma prática.
  • 17:57 - 18:00
    Dizer que o espaço
    não é um dharma incondicionado
  • 18:00 - 18:03
    significa que o espaço também é condicionado.
  • 18:03 - 18:06
    O espaço também está sujeito à impermanência.
  • 18:06 - 18:11
    E quando falamos sobre
    impermanência em termos de espaço,
  • 18:14 - 18:16
    [espaço]
  • 18:18 - 18:23
    usamos o termo "não-eu".
  • 18:24 - 18:26
    [não-eu]
  • 18:27 - 18:31
    Ou "vazio de um eu separado".
  • 18:36 - 18:40
    Quando olhamos pelo prisma do tempo,
    vemos a impermanência.
  • 18:40 - 18:45
    Quando olhamos pelo prisma do espaço,
    vemos o não-eu.
  • 18:45 - 18:51
    Significa que não há essência,
    não há uma entidade separada
  • 18:51 - 18:58
    que esteja isolada
    de tudo o resto no universo.
  • 18:59 - 19:03
    O nosso mestre usava o termo "interser".
  • 19:04 - 19:07
    [interser]
  • 19:11 - 19:15
    Não podemos existir sozinhos.
  • 19:16 - 19:21
    Uma forma de dizer isso é "não-eu",
    não há um eu,
  • 19:22 - 19:27
    não há nada dentro de mim
    que esteja, de algum modo,
  • 19:30 - 19:36
    livre de interagir
    com algo em ti.
  • 19:37 - 19:41
    Nada está cortado
    do resto da realidade.
  • 19:41 - 19:44
    Na verdade, nós intersomos.
  • 19:46 - 19:48
    Há uma comunicação constante
  • 19:48 - 19:52
    através dos olhos, ouvidos, nariz,
    língua, corpo e mente,
  • 19:52 - 19:56
    através dos poros da nossa pele,
    através da própria carne do nosso corpo,
  • 19:56 - 19:58
    que é a continuação dos nossos antepassados,
  • 19:59 - 20:02
    que veio da Terra, da atmosfera, do Sol.
  • 20:03 - 20:06
    Tudo isso
    nos interpenetra a cada momento.
  • 20:06 - 20:10
    Não podemos ver nenhuma parte
    deste corpo, destes sentimentos,
  • 20:10 - 20:15
    das nossas perceções, das nossas formações mentais,
    da nossa consciência,
  • 20:15 - 20:17
    nada que esteja fora disso.
  • 20:18 - 20:22
    Ver isso é chamado
    de existência maravilhosa, é um milagre.
  • 20:23 - 20:30
    É uma espécie de felicidade,
    porque já não nos sentimos sós, não nos sentimos isolados,
  • 20:31 - 20:35
    não importa onde estejamos,
    mesmo que não vejamos outro ser humano durante meses,
  • 20:35 - 20:39
    se estivermos a viver numa montanha, sentimo-nos -
  • 20:40 - 20:43
    Com esta forma de olhar para
    o espaço e o tempo,
  • 20:44 - 20:47
    sentimo-nos completamente conectados.
  • 20:48 - 20:53
    Se estivermos a viver com muitas pessoas
    num espaço apertado
  • 20:54 - 20:57
    e essas pessoas não praticam a atenção plena,
  • 20:58 - 21:02
    talvez não sejam muito gentis,
    ainda assim conseguimos tocar,
  • 21:02 - 21:07
    através da concentração
    na impermanência e no não-eu,
  • 21:07 - 21:10
    conseguimos tocar
    nesta natureza do interser.
  • 21:10 - 21:16
    Vemos que nada está
    separado do resto da realidade.
  • 21:16 - 21:19
    Tudo se interpenetra.
  • 21:20 - 21:25
    Esta é uma forma de praticar este princípio.
  • 21:26 - 21:29
    É assim que gosto de praticá-lo.
  • 21:29 - 21:34
    Vemos que o espaço também
    está vazio de um eu separado.
  • 21:35 - 21:38
    Não é um dharma incondicionado.
  • 21:38 - 21:43
    E manifesta-se juntamente com
    o tempo, a impermanência,
  • 21:46 - 21:49
    e a matéria. Quando olhamos para a matéria,
  • 21:49 - 21:54
    vemos que é impermanente,
    tudo está sempre a mudar.
  • 21:54 - 21:59
    Mesmo que seja de forma muito lenta.
  • 22:00 - 22:04
    Algumas partículas subatómicas estão a decair
  • 22:05 - 22:08
    a velocidades de bilhões de anos,
  • 22:08 - 22:11
    mas são, em última instância, impermanentes.
  • 22:12 - 22:16
    Portanto, a matéria tem esta qualidade.
    Quando olhamos para a matéria,
  • 22:16 - 22:21
    vemos nela
    o aspeto da impermanência.
  • 22:24 - 22:28
    E também vemos
    o aspeto do não-eu.
  • 22:28 - 22:33
    Do ponto de vista do tempo,
    a matéria é impermanente.
  • 22:33 - 22:37
    Do ponto de vista do espaço,
    ela é não-eu.
  • 22:37 - 22:44
    Interpenetra tudo no universo,
    interexiste com tudo.
  • 22:48 - 22:53
    E a consciência também.
  • 22:58 - 23:04
    Na tradição budista,
  • 23:04 - 23:10
    falamos da consciência
    como tendo o aspeto da consciência da mente.
  • 23:12 - 23:16
    [consciência da mente]
  • 23:22 - 23:26
    Significa aquilo que está presente
    na nossa mente neste momento.
  • 23:27 - 23:34
    Se a alegria se manifesta,
    então a alegria está na nossa consciência da mente.
  • 23:35 - 23:37
    Estamos conscientes da alegria.
  • 23:37 - 23:43
    Se estamos a pensar num problema de matemática,
    isso é o que está na nossa consciência da mente.
  • 23:44 - 23:49
    Podemos pensar num computador e
    no que está no ecrã naquele momento.
  • 23:49 - 23:54
    Sabemos que dentro do disco rígido
    há muitos dados.
  • 23:55 - 24:00
    Se tentássemos representar
    todos esses dados no ecrã ao mesmo tempo,
  • 24:00 - 24:05
    veríamos apenas estática.
  • 24:05 - 24:10
    Portanto, só trazemos para o ecrã
    aquilo que queremos ver naquele momento.
  • 24:10 - 24:12
    Isso é a nossa consciência da mente.
  • 24:13 - 24:16
    No momento presente, talvez nenhum de nós esteja zangado.
  • 24:16 - 24:19
    E nenhum de nós tem medo.
  • 24:19 - 24:23
    Mas isso não significa que acreditamos que não temos a semente da raiva
  • 24:23 - 24:26
    na nossa consciência de alguma forma.
  • 24:26 - 24:32
    Ou que não temos a semente do medo na nossa consciência, ou a semente da alegria.
  • 24:33 - 24:36
    De alguma forma, está lá, mas ainda não se manifestou,
  • 24:36 - 24:41
    ou não está a manifestar-se nesse momento, não está presente na consciência da mente.
  • 24:41 - 24:45
    Então, podemos falar sobre uma espécie de armazém de consciência .
  • 24:47 - 24:52
    [armazém de consciência]
  • 24:57 - 25:01
    Nesse armazém de consciência, estão as sementes
  • 25:01 - 25:11
    da atenção plena, da concentração, da raiva.
  • 25:18 - 25:21
    Elas podem ter formas diferentes, Alegria.
  • 25:29 - 25:33
    Um bom praticante sabe como tocar na semente da atenção plena
  • 25:33 - 25:38
    no armazém de consciência para que ela se manifeste
  • 25:40 - 25:43
    como atenção plena na consciência da mente.
  • 25:43 - 25:46
    Assim, podemos encontrar formas
  • 25:49 - 25:53
    de regar a semente da atenção plena
  • 25:54 - 25:58
    para que, quando uma semente de raiva também se manifeste,
  • 26:00 - 26:04
    algo que percebemos traga à tona a flor da raiva,
  • 26:06 - 26:09
    porque é como uma flor na nossa consciência mental.
  • 26:11 - 26:17
    E como praticantes, sabemos que nesse momento estou com raiva.
  • 26:18 - 26:20
    Reconhecemos que há raiva,
  • 26:21 - 26:24
    e então tocamos na semente da atenção plena para a trazer à tona.
  • 26:24 - 26:30
    E talvez essa raiva não desapareça, mas é como se a iluminássemos,
  • 26:31 - 26:36
    e entendêssemos melhor as suas raízes. O que eu disse no passado,
  • 26:37 - 26:43
    que tipo de conversas eu consumi, a minha vida familiar,
  • 26:44 - 26:50
    filmes, música, coisas que eu disse ou fiz aos meus amigos
  • 26:51 - 26:54
    que regaram essa semente de raiva.
  • 26:54 - 26:59
    Coisas que ouvi, coisas que me foram feitas, ditas a mim no passado
  • 26:59 - 27:04
    que tornaram essa semente forte o suficiente
  • 27:04 - 27:07
    para que agora, com uma palavra, ou uma frase, a raiva se manifeste
  • 27:08 - 27:10
    na consciência da mente.
  • 27:10 - 27:15
    Então, quando somos praticantes, sabemos como convidar a atenção plena
  • 27:15 - 27:18
    para abraçar a semente da raiva.
  • 27:20 - 27:26
    Falamos muitas vezes sobre a consciência como pontos de luz.
  • 27:37 - 27:42
    É como se tivéssemos uma vela, e a movêssemos em círculo.
  • 27:44 - 27:49
    Depois, tiramos instantâneos individuais de cada momento.
  • 27:50 - 27:53
    Veríamos apenas um ponto de luz da vela.
  • 27:53 - 27:57
    Mas se deixarmos a cortina da câmara aberta
  • 27:57 - 28:01
    por talvez um segundo, ou dois, ou três segundos,
  • 28:01 - 28:03
    e movermos o braço em círculo,
  • 28:04 - 28:09
    quando expusermos o filme, veremos um círculo contínuo.
  • 28:10 - 28:12
    A consciência tem essa natureza.
  • 28:13 - 28:19
    Uma natureza de ser como pontos em cada instante.
  • 28:22 - 28:26
    Mas experienciamos isso como uma continuidade.
  • 28:26 - 28:30
    É como se a cortina da nossa câmara estivesse mantida aberta.
  • 28:31 - 28:35
    Então, todos esses disparos de neurônios,
  • 28:36 - 28:40
    todos esses momentos de sentimentos, percepções, que acontecem em momentos.
  • 28:41 - 28:45
    A consciência do nosso olho, o que vemos, ouvimos,
  • 28:45 - 28:50
    embora possamos dividi-los em pequenos fragmentos de instantes,
  • 28:51 - 28:54
    mas a nossa experiência disso é contínua.
  • 28:54 - 28:59
    O que chamamos de consciência é na verdade esta experiência contínua de instantes
  • 28:59 - 29:04
    que vão passando, instantes de impermanência.
  • 29:08 - 29:12
    Portanto, a consciência também é impermanente,
  • 29:15 - 29:18
    E tem uma natureza de não-eu.
  • 29:19 - 29:24
    A maior parte do nosso treino como praticantes é perceber isso.
  • 29:24 - 29:27
    É isso que tento fazer na maior parte do meu dia.
  • 29:27 - 29:30
    Porque, quando as emoções se manifestam,
  • 29:31 - 29:36
    elas têm aquela aparência familiar dentro da minha consciência.
  • 29:36 - 29:39
    E eu penso que a raiva sou eu,
  • 29:40 - 29:44
    que a tristeza sou eu, e que a alegria sou eu.
  • 29:45 - 29:52
    E como praticante, sei que, enquanto eu continuar a segurar essa ideia, vou sofrer.
  • 29:53 - 29:57
    Porque, na verdade, a raiva é apenas raiva. Não é minha.
  • 29:58 - 30:03
    Quando as condições são suficientes,
    então a raiva manifesta-se.
  • 30:04 - 30:09
    Assim, com mindfulness,
    vejo-a como um fenómeno.
  • 30:10 - 30:13
    A raiva é um fenómeno
    que se manifesta na consciência da mente,
  • 30:14 - 30:18
    não é algo que seja eu,
    mim próprio ou meu.
  • 30:20 - 30:24
    Por isso, é muito divertido praticar.
  • 30:26 - 30:29
    Deixar ir a nossa ideia de nós mesmos.
  • 30:30 - 30:38
    Aqui começamos por deixar ir a ideia
    de que o espaço está livre de condicionamento,
  • 30:38 - 30:42
    assim como o tempo, a matéria
    e a consciência.
  • 30:43 - 30:46
    Eles são interdependentes.
  • 30:48 - 30:52
    Sem matéria,
    não podemos ter consciência.
  • 30:53 - 30:56
    A consciência depende de –
  • 30:57 - 31:00
    A consciência é sempre
    consciência de algo.
  • 31:01 - 31:05
    Não pode surgir sem um objeto.
  • 31:05 - 31:10
    Temos o olho em contacto com as formas.
    Quando olho para o termo,
  • 31:14 - 31:17
    o meu olho entra em contacto com a luz
  • 31:17 - 31:21
    que reflete no exterior do termo,
    entra na minha retina
  • 31:21 - 31:25
    e depois estimula neurónios no meu cérebro.
  • 31:26 - 31:29
    E, de alguma forma, ao longo desse caminho,
  • 31:29 - 31:34
    associo isso à palavra 'termo',
    porque aprendi a palavra 'termo'.
  • 31:34 - 31:38
    Porque a empresa que fabrica estes recipientes de água quente
    chama-se Thermos.
  • 31:38 - 31:42
    Então, se eu digo 'termo',
    isso tem um significado para outras pessoas.
  • 31:42 - 31:47
    Mas a distância percorrida
    por esses fotões de luz,
  • 31:47 - 31:51
    refletindo no exterior do termo
    até entrarem no meu olho e na minha retina,
  • 31:51 - 31:53
    se desacelerarmos esse processo,
  • 31:53 - 31:58
    há uma série incrivelmente complexa
    de etapas a acontecer ali.
  • 31:58 - 32:00
    Então, claramente,
  • 32:02 - 32:05
    a matéria faz parte do processo,
  • 32:05 - 32:11
    o espaço também faz parte do processo,
    os fotões movem-se no espaço.
  • 32:12 - 32:16
    O tempo, certo? O fotão
    a mover-se à velocidade da luz,
  • 32:17 - 32:21
    e depois o tempo que os meus neurónios
    levam a disparar no meu cérebro
  • 32:21 - 32:26
    para registar a forma do termo
    na minha consciência.
  • 32:26 - 32:31
    Assim, todas essas consciências
    dependem de todas essas coisas.
  • 32:32 - 32:37
    Isso é apenas um breve resumo
    do que aprendemos da última vez.
  • 32:38 - 32:41
    Gostaria de avançar para o segundo princípio.
  • 34:00 - 34:03
    Na dimensão histórica,
  • 34:18 - 34:22
    todo o dharma é um dharma condicionado.
  • 34:24 - 34:32
    [2. Na dimensão histórica,
    todo o dharma é um dharma condicionado.]
  • 34:48 - 34:51
    Na dimensão última,
  • 35:06 - 35:11
    todo o dharma é um dharma incondicionado.
  • 35:11 - 35:23
    [Na dimensão última,
    todo o dharma é um dharma incondicionado.]
  • 35:41 - 35:47
    O incondicionado
    é a base de todos os dharmas.
  • 35:51 - 36:08
    [O incondicionado
    é a base de todos os dharmas.]
  • 36:34 - 36:45
    Há uma frase que Thay usa, que é
    ‘a dialética do Dharma’.
  • 36:47 - 36:53
    Tudo o que aprendemos serve para
    nos ajudar a deixar ir o nosso próprio aprendizado.
  • 36:54 - 36:58
    Cada conceito ou palavra
    que o Buda nos ensina
  • 36:59 - 37:04
    serve para nos ajudar a libertar-nos
    do apego a palavras e conceitos.
  • 37:04 - 37:08
    E se compreenderes esse ponto,
    o Dharma torna-se muito fácil.
  • 37:09 - 37:16
    Mas enquanto estiveres à procura
    de algum tipo de verdade absoluta nas palavras,
  • 37:16 - 37:22
    enquanto estiveres à procura
    de uma verdade absoluta nos conceitos ou ideias,
  • 37:22 - 37:24
    então vais sofrer.
  • 37:25 - 37:33
    Porque estarás a tentar agarrar-te
    a algo que não pode ser agarrado.
  • 37:33 - 37:37
    Estarás a tentar usar sinais ou representações
  • 37:37 - 37:42
    para tentar representar ou ser um sinal
  • 37:43 - 37:49
    de algo que não pode ser sinalizado ou representado.
  • 37:50 - 37:55
    O nirvana é o incondicionado.
    É algo para além da descrição,
  • 37:55 - 37:58
    algo que não podemos
    agarrar ou segurar,
  • 37:59 - 38:04
    algo que está presente
    em cada célula do nosso corpo, em cada átomo,
  • 38:05 - 38:09
    em cada parte da natureza da realidade.
  • 38:09 - 38:13
    Podemos tocar o incondicionado,
    mas o problema é que,
  • 38:13 - 38:18
    no nosso anseio pelo incondicionado,
    no anseio pela liberdade,
  • 38:19 - 38:23
    tendemos a agarrar-nos a conceitos ou ideias.
  • 38:23 - 38:27
    Assim, logo no segundo princípio,
    Thay já ilumina
  • 38:27 - 38:36
    esta dialética do Dharma
    que nos ajuda a libertar –
  • 38:37 - 38:43
    Está a usar palavras e conceitos
    para nos libertarmos das palavras e conceitos.
  • 38:46 - 38:50
    Primeiro, aprendemos que o espaço
    não é um dharma incondicionado.
  • 38:51 - 38:55
    Ele manifesta-se em conjunto
    com o tempo, a matéria e a consciência.
  • 38:55 - 38:58
    Mas então vemos que,
    na dimensão histórica,
  • 38:58 - 39:02
    todo o dharma é um dharma condicionado.
  • 39:03 - 39:09
    Falamos da dimensão histórica
    e da dimensão última.
  • 39:10 - 39:13
    A dimensão histórica são as coisas
  • 39:16 - 39:20
    que acontecem de acordo com a impermanência,
  • 39:21 - 39:31
    de acordo com o vir e ir,
    nascer e morrer, ser e não ser.
  • 39:32 - 39:37
    Olhamos para a flor e dizemos:
    'Bem, a flor está ali.’
  • 39:38 - 39:42
    Mas sabemos que um dia a flor
    já não estará ali.
  • 39:42 - 39:45
    E sabemos que,
    antes de a flor estar ali,
  • 39:45 - 39:48
    havia apenas uma semente no solo.
  • 39:48 - 39:52
    Olhamos para a semente e dizemos:
    ‘Não há flor.’
  • 39:52 - 39:57
    Essa é a ideia do não-ser.
    Então, a flor não está ali.
  • 39:58 - 40:03
    Depois, com um pouco de água e luz solar,
    o solo certo e a temperatura certa,
  • 40:03 - 40:08
    a semente manifesta-se
    e logo temos uma pequena planta.
  • 40:08 - 40:11
    E então, a bela
    flor de orquídea manifesta-se.
  • 40:11 - 40:17
    E dizemos: ‘Agora a flor está aqui!
    Antes, não estava. Agora está.’
  • 40:18 - 40:22
    Depois, em algum momento no futuro,
    ela murcha e dizemos: ‘Já não está aqui.
  • 40:23 - 40:26
    Passou de ser para não-ser.’
  • 40:27 - 40:30
    Esse é um modo de pensar
    as coisas na dimensão histórica,
  • 40:31 - 40:35
    em que há coisas que não estão ali,
  • 40:35 - 40:42
    elas não são, são não-ser,
    vêm a ser e depois voltam ao não-ser.
  • 40:43 - 40:49
    Mas com um olhar mais profundo,
    com mais mindfulness, podemos olhar para a flor
  • 40:49 - 40:54
    e ver que, na verdade,
    a semente ainda está ali na flor.
  • 40:54 - 40:56
    Porque todas as condições,
  • 40:56 - 41:00
    muitas das condições necessárias
    para manifestar a flor
  • 41:00 - 41:02
    já estavam presentes na semente.
  • 41:02 - 41:10
    O ADN, a capacidade de se abrir
    com a quantidade certa de humidade,
  • 41:10 - 41:12
    a temperatura certa.
  • 41:12 - 41:16
    Tudo isso já estava ali na semente.
    A flor já estava ali.
  • 41:18 - 41:23
    Quando olhamos
    com os olhos da dimensão última,
  • 41:24 - 41:28
    podemos ver que as coisas
    já estão interligadas.
  • 41:29 - 41:35
    Assim, libertamo-nos
    das ideias de ser e não-ser.
  • 41:36 - 41:39
    Mas vemos que,
    quando as condições são suficientes,
  • 41:41 - 41:43
    os fenómenos manifestam-se.
  • 41:43 - 41:47
    E quando já não são suficientes,
    eles deixam de se manifestar.
  • 41:47 - 41:50
    Eles não passaram de ser para não-ser.
  • 41:51 - 41:56
    Mas, na verdade, isso é apenas
    um olhar muito superficial sobre as coisas.
  • 41:56 - 42:00
    Na nossa prática, estamos a treinar para –
  • 42:00 - 42:03
    Embora vivamos
    na dimensão histórica,
  • 42:03 - 42:08
    treinamos para sermos capazes
    de tocar a dimensão última,
  • 42:08 - 42:12
    onde já não existem os conceitos
    de ser e não-ser,
  • 42:12 - 42:17
    vir e ir, igual ou diferente.
  • 42:23 - 42:27
    Na dimensão histórica,
    temos nascimento e morte.
  • 42:27 - 42:32
    Sabemos que este corpo nasceu
    de uma mãe e de um pai.
  • 42:33 - 42:43
    Que vai envelhecer, adoecer e morrer.
    E isso é tudo muito normal, certo?
  • 42:46 - 42:50
    São coisas que acontecem
    à nossa volta.
  • 42:50 - 42:54
    Os fenómenos que experienciamos
    através dos olhos, dos ouvidos, e assim por diante.
  • 42:55 - 43:02
    Tudo o que experienciamos ou
    percebemos está na dimensão histórica.
  • 43:03 - 43:07
    Quando nos agarramos a algo
    como uma representação,
  • 43:08 - 43:13
    quando temos um conceito ou noção,
    estamos na dimensão histórica.
  • 43:14 - 43:17
    Mesmo a palavra nirvana ou o incondicionado
  • 43:17 - 43:20
    ocorrem na dimensão histórica.
  • 43:24 - 43:26
    A prática é:
  • 43:27 - 43:34
    como podemos tocar a dimensão última
    no meio da dimensão histórica?
  • 43:35 - 43:41
    Thay ensinava-nos a olhar, por exemplo,
    para o conceito de Deus,
  • 43:42 - 43:50
    na tradição cristã
    ou nas religiões abraâmicas.
  • 43:52 - 44:05
    Para muitos teólogos, há algo
    muito próximo do incondicionado em Deus.
  • 44:05 - 44:11
    Quando vemos Deus em todas as coisas,
    quando ele é a base de todo o ser.
  • 44:12 - 44:14
    Isso aproxima-se muito.
  • 44:14 - 44:17
    Mas, por vezes,
    ainda existe o apego a
  • 44:17 - 44:19
    separar o criador do criado.
  • 44:21 - 44:31
    Enquanto seres humanos, somos o criado
    segundo a teologia cristã,
  • 44:32 - 44:36
    e Deus é o criador.
  • 44:36 - 44:39
    E Deus, o criador, está de alguma forma separado.
  • 44:39 - 44:44
    Não podemos dizer que Deus, o criador,
    está no criado.
  • 44:44 - 44:47
    Ele é, de alguma forma, distinto do criado.
  • 44:48 - 44:54
    E isso leva a um pensamento dualista,
    onde separamos o criador e o criado.
  • 44:58 - 45:04
    No Budismo, olhamos para isto
    de um ponto de vista um pouco diferente.
  • 45:04 - 45:06
    Dizemos que,
  • 45:08 - 45:12
    em vez de falarmos do criado,
    falamos da dimensão histórica.
  • 45:12 - 45:17
    Das coisas que acontecem
    no reino do ser e do não-ser,
  • 45:17 - 45:24
    do vir e do ir, do igual e do diferente,
    do mais ou menos, do aumentar e diminuir,
  • 45:24 - 45:31
    todas essas formas de diferenciar
    uma coisa de outra.
  • 45:32 - 45:36
    Assim, na dimensão histórica,
    há uma tendência para medir,
  • 45:36 - 45:42
    para separar uma coisa
    com qualidades diferentes de outra coisa.
  • 45:42 - 45:50
    E não ver a natureza do interser,
    que pode ser tocada
  • 45:50 - 45:55
    quando olhamos mais profundamente,
    quando descemos do nível da superfície.
  • 45:58 - 46:06
    Na dimensão histórica,
    todo o dharma é um dharma condicionado.
  • 46:09 - 46:16
    Tudo o que pode ser dito
    de estar na dimensão histórica é condicionado.
  • 46:19 - 46:22
    E na dimensão última,
  • 46:22 - 46:31
    para além de qualquer conceito ou noção,
    todo o dharma é um dharma incondicionado.
  • 46:35 - 46:37
    Mesmo o espaço,
  • 46:37 - 46:42
    que acabámos de dizer que não é
    um dharma incondicionado.
  • 46:43 - 46:45
    Parece haver aqui uma contradição.
  • 46:45 - 46:49
    Como podemos dizer
    que o espaço não é um dharma incondicionado,
  • 46:50 - 46:55
    mas depois dizer que, na dimensão última,
    todo o dharma é um dharma incondicionado,
  • 46:55 - 46:59
    incluindo o espaço, o tempo,
    a matéria e a consciência?
  • 47:01 - 47:07
    A questão é que isto
    não se trata de filosofia, mas sim de prática.
  • 47:08 - 47:14
    Praticamos na dimensão histórica
    para olhar para cada célula do nosso corpo,
  • 47:15 - 47:17
    para a nossa respiração,
  • 47:19 - 47:21
    para até mesmo as nossas ideias e noções,
  • 47:22 - 47:27
    e ver que há um elemento
    do incondicionado no condicionado.
  • 47:28 - 47:30
    Todos os dharmas,
  • 47:30 - 47:34
    e quando falamos de dharma,
    referimo-nos a um fenómeno,
  • 47:35 - 47:43
    como um copo de água, ou uma nuvem,
    ou um pensamento, ou a minha raiva,
  • 47:44 - 47:47
    até mesmo o tempo, o espaço,
    qualquer tipo de conceito,
  • 47:47 - 47:51
    qualquer coisa à qual possamos
    atribuir uma noção ou percepção,
  • 47:52 - 47:54
    é um dharma.
  • 47:55 - 47:57
    Se nós,
  • 47:58 - 48:01
    por exemplo, se apenas
    nos virmos como o criado,
  • 48:02 - 48:05
    e não conseguirmos ver o criador,
  • 48:05 - 48:09
    se apenas nos virmos
    como separados de Deus,
  • 48:10 - 48:13
    então, sentiremos uma grande solidão.
  • 48:13 - 48:17
    Sentiremos que não temos valor,
  • 48:17 - 48:21
    porque não reconhecemos
    a natureza divina em nós.
  • 48:23 - 48:27
    Por isso, em vez de falarmos
    de Deus ou de um criador,
  • 48:27 - 48:30
    falamos do incondicionado.
  • 48:31 - 48:34
    Do que não pode ser expresso.
  • 48:34 - 48:40
    Do que não pode ser percebido
    por nenhuma qualidade,
  • 48:40 - 48:44
    como sabor, cor, cheiro ou padrão.
  • 48:47 - 48:51
    No Budismo, isso é um meio hábil.
  • 48:51 - 48:55
    Usamos esta dialética do Dharma
    para nos libertarmos.
  • 48:56 - 49:01
    Tocas algo, e isso traz-te alegria,
    traz-te felicidade, traz-te liberdade.
  • 49:03 - 49:06
    Mas depois tentas agarrar-te a isso,
    dizes:
  • 49:06 - 49:10
    'Mas o que é essa coisa?
    Isso é um dharma incondicionado, isso é nirvana'.
  • 49:11 - 49:14
    E nesse momento, já o perdeste.
  • 49:14 - 49:17
    Porque, na verdade,
    tornou-se condicionado.
  • 49:17 - 49:22
    Atribuíste uma qualidade
    ao incondicionado.
  • 49:22 - 49:27
    Deste-lhe um sabor, um conceito,
    um tom de pensamento qualquer.
  • 49:27 - 49:31
    E já não é incondicionado,
    é algo condicionado.
  • 49:31 - 49:34
    É apenas uma designação.
  • 49:36 - 49:41
    Então, como praticantes,
    largamos essa ideia novamente,
  • 49:41 - 49:44
    e dizemos: 'Não,
    quero tocar o incondicionado.
  • 49:45 - 49:48
    Não basta apenas agarrar-me a este corpo,
  • 49:48 - 49:52
    a estes sentimentos,
    a estas perceções, a esta consciência.
  • 49:52 - 49:55
    Quero ser verdadeiramente livre.'
  • 49:55 - 50:01
    E treinamos para largar o condicionado,
    largar, apenas continuar a largar.
  • 50:02 - 50:05
    Nos 16 passos da respiração consciente,
  • 50:05 - 50:09
    somos convidados a ver
    a natureza impermanente de todas as coisas.
  • 50:09 - 50:12
    E isso ajuda-nos a largar o desejo,
  • 50:12 - 50:17
    o nosso anseio por qualquer
    prazer dos sentidos.
  • 50:19 - 50:24
    E isso acalma a mente,
    para que ela deixe de se agitar,
  • 50:24 - 50:30
    para que deixe de ter ideias
    de ser e não-ser, de vir ou ir, de igual ou diferente.
  • 50:32 - 50:35
    E então, largamos.
  • 50:35 - 50:38
    Praticamos o largar.
    O 16.º passo
  • 50:39 - 50:44
    do Sutra da Atenção Plena na Respiração.
  • 50:46 - 50:49
    Essa é a prática de
    tocar o incondicionado.
  • 50:49 - 50:54
    Apenas largar continuamente,
    continuamente.
  • 50:54 - 50:57
    Talvez possamos ouvir
    o som do sino.
  • 51:04 - 51:06
    (Sino)
  • 51:09 - 51:15
    (Sino)
  • 51:31 - 51:35
    Neste momento, há um vulcão
    em erupção na Islândia.
  • 51:37 - 51:48
    Alguns cientistas colocaram
    uma câmara nesse vulcão e ligaram-na à internet.
  • 51:49 - 51:53
    Nos últimos dias,
    essa tem sido a minha meditação.
  • 51:53 - 51:56
    Tenho um ecrã de computador.
  • 51:57 - 51:59
    Temos um ecrã no escritório
  • 51:59 - 52:04
    com a transmissão em direto
    do vulcão em erupção,
  • 52:04 - 52:09
    com a lava a subir e a sair,
    a escorrer pelos lados,
  • 52:09 - 52:14
    e depois a espalhar-se
    pela planície em rocha derretida.
  • 52:15 - 52:21
    E também tenho um ecrã no meu quarto,
    onde deixo essa imagem.
  • 52:21 - 52:27
    Tenho usado isso como meditação,
    a ver este vulcão em erupção ao vivo.
  • 52:29 - 52:35
    Refleti sobre porque é que
    acho tão agradável ver este vulcão a entrar em erupção.
  • 52:35 - 52:38
    Às vezes, há helicópteros
    a sobrevoá-lo.
  • 52:38 - 52:42
    Às vezes, aparece um cientista,
    que acena para a câmara.
  • 52:43 - 52:49
    Fui ver ao YouTube,
    onde têm a transmissão ao vivo.
  • 52:50 - 52:57
    Hoje, havia cerca de 16.000 pessoas
    a assistir à erupção do vulcão.
  • 52:58 - 53:02
    Então refleti sobre
    o que torna isto tão interessante de ver.
  • 53:03 - 53:07
    E pensei que tem algo a ver
    com a impermanência.
  • 53:08 - 53:17
    Pratico para olhar para aquela rocha
    incandescente que sai do vulcão
  • 53:17 - 53:20
    como o meu próprio corpo.
  • 53:20 - 53:26
    Há elementos dos nossos antepassados
    presentes naquela rocha.
  • 53:27 - 53:32
    E sei que, no meu próprio corpo,
    os elementos da terra estão presentes.
  • 53:35 - 53:41
    Ao ver isso, a Terra a recriar-se
    a partir do seu interior através do calor,
  • 53:42 - 53:46
    empurrando-se para cima
    com pressão e emergindo à superfície,
  • 53:46 - 53:51
    depois criando nova terra
    sobre a terra antiga,
  • 53:52 - 53:56
    senti uma certa alegria.
  • 53:56 - 54:03
    Vejo verdadeiramente esta força vital,
    este calor que carregamos
  • 54:03 - 54:06
    de geração em geração,
  • 54:06 - 54:11
    ininterrupto há milhões, dezenas de milhões,
    centenas de milhões de anos.
  • 54:12 - 54:15
    Desde o ventre da nossa mãe,
  • 54:15 - 54:18
    aquele calor que ela nos transmitiu
    e que agora carregamos em nós
  • 54:18 - 54:23
    e podemos passar aos nossos filhos,
  • 54:23 - 54:27
    esse é também o calor
    que vem da Terra.
  • 54:29 - 54:31
    Hoje sabemos que
  • 54:31 - 54:36
    é muito provável que as bactérias
    que são os nossos antepassados
  • 54:39 - 54:42
    se tenham formado, provavelmente,
  • 54:43 - 54:50
    em fontes hidrotermais,
    como os géiseres em Yellowstone,
  • 54:50 - 54:52
    que emergem da Terra.
  • 54:52 - 54:55
    E as bactérias que vivem ali
  • 54:55 - 54:59
    formaram os lípidos que deram origem
    às primeiras membranas celulares.
  • 55:00 - 55:04
    Desculpa, os químicos que ali estavam,
  • 55:04 - 55:09
    através do calor da Terra,
    empurrados pelos géiseres,
  • 55:10 - 55:15
    deram origem aos lípidos
    que formaram as membranas das primeiras bactérias.
  • 55:15 - 55:18
    As primeiras células.
  • 55:19 - 55:24
    Refleti sobre tudo isto
    enquanto via o vulcão em erupção,
  • 55:25 - 55:31
    e liguei-me a este processo
    que ocorre na dimensão histórica.
  • 55:31 - 55:35
    Para ver se consigo tocar a dimensão última,
    olhando mais profundamente e vendo que
  • 55:35 - 55:40
    aquela rocha incandescente
    não está separada de mim.
  • 55:41 - 55:45
    Posso senti-la
    na força vital do meu corpo.
  • 55:45 - 55:50
    Vejo uma ligação profunda.
    Não estamos separados.
  • 55:51 - 55:55
    Embora não queira
    aproximar-me daquela lava incandescente.
  • 55:56 - 56:01
    Uma vez estive num vulcão ativo,
    na Indonésia.
  • 56:02 - 56:07
    Senti um pouco de medo
    ao olhar para dentro da caldeira,
  • 56:07 - 56:10
    vendo o calor a subir.
  • 56:11 - 56:15
    Não é um lugar muito agradável
    para os seres humanos.
  • 56:16 - 56:21
    Mas é fascinante, porque estou a olhar
    para o calor da força vital
  • 56:21 - 56:25
    que sustenta o meu próprio corpo
  • 56:26 - 56:31
    há centenas de milhões de anos.
    É tão maravilhoso!
  • 56:32 - 56:34
    Essa foi a minha meditação
    sobre a prática de ir
  • 56:35 - 56:37
    da dimensão histórica
    para a dimensão última.
  • 56:39 - 56:44
    Podemos fazê-lo com qualquer coisa,
    não apenas com a transmissão ao vivo de um vulcão.
  • 56:45 - 56:48
    Podemos fazê-lo com a água que bebemos.
  • 56:50 - 56:56
    O nosso mestre gostava de olhar
    para um copo de água e ver a nuvem.
  • 56:58 - 57:07
    Se permanecermos apenas na dimensão histórica,
    temos apenas um copo de água.
  • 57:08 - 57:12
    E a água é líquida,
    move-se no copo.
  • 57:12 - 57:15
    E depois, ao bebê-la,
    ela entra no nosso corpo.
  • 57:22 - 57:28
    Mas, com os olhos do interser, podemos ver
    que essa água já é a nossa própria natureza.
  • 57:29 - 57:32
    Somos compostos, em grande parte, por água.
  • 57:34 - 57:41
    A água neste copo já foi uma nuvem.
  • 57:42 - 57:46
    E a nuvem, depois,
    tornou-se chuva, que caiu na terra,
  • 57:46 - 57:52
    e que acabou por infiltrar-se no solo,
    e tornar-se numa nascente.
  • 57:54 - 57:59
    Eventualmente, encontrou o caminho
    até à minha garrafa térmica.
  • 58:00 - 58:08
    E agora entra no meu corpo. E depois irei suá-la,
    ou suá-la, e ela voltará a ser nuvem.
  • 58:10 - 58:14
    Todo esse processo, ao olhar profundamente
    com os olhos do interser,
  • 58:15 - 58:16
    vemos que
  • 58:17 - 58:21
    a nuvem ainda está presente na água,
    e a chuva ainda está lá.
  • 58:21 - 58:26
    Isso significa que, agora, a nuvem está no meu corpo,
    e voltará a ser nuvem.
  • 58:28 - 58:31
    Esses são os olhos
    da não-nascença e da não-morte.
  • 58:31 - 58:34
    Isso é tocar o último.
  • 58:34 - 58:39
    Assim, podemos dizer que,
    na dimensão última, vemos as coisas
  • 58:40 - 58:43
    como tendo a natureza
    da não-nascença, não-morte,
  • 58:43 - 58:45
    não-chegada, não-partida.
  • 58:46 - 58:48
    Porque vemos que nada se perde,
  • 58:48 - 58:51
    nada passa do ser para o não-ser.
  • 58:52 - 59:00
    Não é como se existíssemos agora
    e depois deixássemos de existir no futuro.
  • 59:01 - 59:04
    Somos apenas parte do processo
  • 59:06 - 59:10
    desde tempos sem início,
    de manifestação.
  • 59:11 - 59:15
    Thay costumava chamar-lhe
    um jogo das escondidas.
  • 59:15 - 59:19
    Neste momento, manifesto-me,
    e não sabemos no momento seguinte
  • 59:19 - 59:21
    se as condições continuarão a ser suficientes
  • 59:21 - 59:26
    para este corpo,
    estas sensações, estas perceções, se manifestarem.
  • 59:26 - 59:30
    Essa é a natureza das coisas.
    Então, deixamos de sentir medo,
  • 59:31 - 59:34
    não tememos a morte,
    não tememos envelhecer,
  • 59:34 - 59:37
    porque vemos que essa é apenas
    a natureza do corpo.
  • 59:37 - 59:40
    Essa é a natureza
    das nossas sensações e perceções.
  • 59:40 - 59:42
    É algo muito alegre.
  • 59:42 - 59:47
    Assim, podemos navegar
    as ondas do nascimento e da morte sem medo.
  • 59:47 - 59:52
    Isso é tocar a dimensão última.
  • 59:53 - 59:56
    Viver na impermanência,
  • 59:56 - 60:01
    ver a natureza do não-eu
    sem medo, sem apego.
  • 60:01 - 60:07
    E é uma prática,
    não se trata apenas de descrever a realidade.
  • 60:07 - 60:10
    É algo que realmente fazemos.
  • 60:10 - 60:14
    Então, é essa a prática
    que levo para a minha meditação.
  • 60:14 - 60:17
    Sento-me e respiro,
    para dentro e para fora.
  • 60:17 - 60:21
    E noto todos esses pensamentos
    que surgem dos meus projetos,
  • 60:21 - 60:26
    das conversas que tive,
    das interações que tive,
  • 60:27 - 60:32
    e vejo que estas sensações não sou eu,
    estas perceções não sou eu.
  • 60:33 - 60:38
    São fenómenos que se manifestam
    devido a causas e condições.
  • 60:39 - 60:42
    Coisas que disse no passado,
    coisas que fiz.
  • 60:44 - 60:48
    Fazem todas parte de um processo,
    mas não preciso de me agarrar a elas.
  • 60:49 - 60:53
    Enquanto me agarrar a elas,
    terei dificuldade em ver a raiz,
  • 60:54 - 61:01
    o que está realmente a acontecer
    lá no fundo da minha consciência.
  • 61:06 - 61:07
    Assim,
  • 61:09 - 61:14
    tocar o último é algo que podemos fazer
    com qualquer dharma.
  • 61:14 - 61:18
    E quando o fazemos,
    vemos a natureza incondicionada do dharma.
  • 61:19 - 61:24
    Então, tudo o que experimentamos
    na dimensão histórica,
  • 61:24 - 61:29
    que surge e desaparece, ser e não-ser,
    flores, árvores, primavera,
  • 61:29 - 61:34
    abelhas, respiração, corpo,
    sangue, sentimentos,
  • 61:35 - 61:38
    tudo o que experimentamos,
  • 61:39 - 61:44
    tudo isso tem esta natureza incondicionada.
  • 61:44 - 61:50
    Isso não é algo separado
    da sua natureza condicionada.
  • 61:51 - 61:55
    Mas está inerente a todas as coisas.
  • 61:56 - 62:01
    E essa é a prática: tocar isso,
    tornar-se livre do nosso condicionamento.
  • 62:01 - 62:05
    Por exemplo,
    podes gostar de gelado de baunilha.
  • 62:06 - 62:08
    Quem aqui gosta de gelado?
  • 62:09 - 62:13
    Só uma pessoa? Ok,
    quase toda a gente gosta de gelado.
  • 62:13 - 62:16
    E tens um sabor favorito.
  • 62:16 - 62:21
    Então, sempre que vais comer gelado,
    dizes: 'Gosto de baunilha' ou 'Quero pistácio'.
  • 62:23 - 62:25
    Esse é um pensamento condicionado.
  • 62:25 - 62:29
    'Eu sou alguém que gosta de pistácio.'
    'Eu sou alguém que gosta de baunilha.'
  • 62:29 - 62:34
    Que pena, porque há
    tantos sabores maravilhosos para experimentar!
  • 62:35 - 62:41
    Se largarmos esse apego
    ao nosso sabor favorito de gelado,
  • 62:41 - 62:46
    podemos provar pistácio,
    podemos provar manga, açúcar, sorvete,
  • 62:47 - 62:51
    podemos experimentar
    todo o tipo de sabores diferentes.
  • 62:51 - 62:55
    Da mesma forma,
    quando tocamos o incondicionado,
  • 62:55 - 63:00
    de repente, todas as possibilidades
    se abrem, coisas maravilhosas surgem.
  • 63:02 - 63:07
    E essas coisas maravilhosas
    não são novas coisas às quais nos apegamos.
  • 63:07 - 63:13
    Mas, como praticantes, treinamo-nos
    para simplesmente experimentar,
  • 63:13 - 63:17
    simplesmente desfrutar
    da natureza maravilhosa das coisas
  • 63:17 - 63:20
    sem nos agarrarmos a elas,
    sem nos apegarmos.
  • 63:20 - 63:23
    Esse é o cerne da prática.
  • 63:23 - 63:28
    Não precisamos de criar conceitos e ideias
    e depois acreditar que são realmente reais.
  • 63:29 - 63:34
    Essa é a natureza da prática.
  • 63:34 - 63:40
    Estas palavras de Thay,
    vejo-as sempre como um convite à prática.
  • 63:40 - 63:44
    Não são declarações
    para descrever a realidade
  • 63:45 - 63:47
    ou algum tipo de ontologia.
  • 63:49 - 63:52
    O incondicionado
    é o fundamento de todos os dharmas.
  • 63:53 - 63:56
    Está presente em todas as coisas.
  • 63:57 - 64:04
    Mas não pode ser descrito,
    não pode ser fisicamente tocado.
  • 64:06 - 64:09
    Não podemos tocar o incondicionado.
  • 64:09 - 64:15
    Há uma forma de o fazer,
    libertando-nos do apego ao condicionado.
  • 64:16 - 64:21
    Essa afirmação também
    não é uma declaração teológica ou ontológica,
  • 64:21 - 64:23
    mas sim uma prática.
  • 64:23 - 64:25
    Praticamos para ver,
  • 64:25 - 64:29
    porque o nosso modo habitual
    de fazer as coisas é pensar:
  • 64:29 - 64:34
    'Oh, outra vez pequeno-almoço
    com os irmãos no Solidity Hamlet!'
  • 64:35 - 64:40
    Todos a olhar para as suas
    tigelas de cereais, meio abatidos.
  • 64:41 - 64:46
    E parece: 'Oh, isto já aconteceu
    centenas de vezes.
  • 64:46 - 64:50
    É a mesma comida,
    a mesma aveia, o mesmo pão,
  • 64:50 - 64:56
    a mesma manteiga de amendoim,
    manteiga de amêndoa e azeite.’
  • 64:56 - 64:59
    Temos comida muito boa,
    mas ainda assim torna-se aborrecido.
  • 65:00 - 65:02
    Pensamos: 'Oh, é sempre o mesmo,
    todos os dias.'
  • 65:04 - 65:07
    Mas quando noto isso em mim,
    tento ver de outra forma:
  • 65:08 - 65:10
    E se olhasse para isto com novos olhos?
  • 65:11 - 65:15
    Lembro-me do primeiro dia
    em que voltei a Deer Park, há alguns anos,
  • 65:15 - 65:17
    depois de estar afastado durante 10 anos,
  • 65:18 - 65:22
    e pensei: 'Olha para toda esta comida
    maravilhosa ao pequeno-almoço. É incrível!'
  • 65:22 - 65:27
    Fruta fresca, estamos na Califórnia,
    aveia deliciosa!
  • 65:28 - 65:34
    O irmão faz granola, é incrível!
    Olha para toda esta comida maravilhosa!
  • 65:34 - 65:38
    Mas como é que, com o passar dos dias
    e dos meses, comecei a descer para o pequeno-almoço
  • 65:38 - 65:41
    e pensar: 'Oh, é a mesma comida.'?
  • 65:41 - 65:47
    Foi porque perdi a minha capacidade
    de tocar o último
  • 65:47 - 65:52
    nas pequenas, normais,
    maravilhosas manifestações
  • 65:52 - 65:56
    que acontecem à mesa do pequeno-almoço.
  • 65:57 - 66:02
    É assim que, cultivando esta
    mente de principiante, este tipo de abertura,
  • 66:02 - 66:05
    voltamos sempre à respiração,
    voltamos sempre ao corpo,
  • 66:06 - 66:13
    voltamos aos nossos hábitos,
    à nossa ansiedade, à nossa preocupação,
  • 66:13 - 66:16
    e olhamos para tudo isso com novos olhos.
  • 66:16 - 66:20
    Agora, no estudo da psicologia emocional,
  • 66:21 - 66:25
    estão a abandonar
    as ideias clássicas sobre as emoções,
  • 66:25 - 66:32
    dizendo que, por exemplo, a raiva
    não é algo fixo e igual para toda a gente,
  • 66:32 - 66:35
    não é algo programado da mesma forma
    em mim como é em ti.
  • 66:35 - 66:37
    Eu posso experienciar a raiva
  • 66:37 - 66:39
    de uma forma muito diferente da tua.
  • 66:40 - 66:42
    O que tenho notado,
    desde que compreendi isto,
  • 66:42 - 66:44
    é que, quando olho para a minha raiva,
  • 66:44 - 66:48
    ela está sempre a manifestar-se
    de novas formas.
  • 66:48 - 66:54
    Não posso dizer que é
    a mesma raiva de ontem ou do dia anterior.
  • 66:54 - 66:57
    Estou a experienciar coisas novas,
    novas condições,
  • 66:58 - 67:02
    novas qualidades, com base nas minhas experiências
    e na forma como essa raiva se manifesta.
  • 67:02 - 67:08
    Então, olho para ela com plena consciência,
    com os olhos da alegria, e digo:
  • 67:09 - 67:12
    'Uau! Raiva, estás aí,
    estás a manifestar-te de uma nova forma.
  • 67:13 - 67:15
    Como posso aprender contigo,
    para que não me dominem,
  • 67:15 - 67:18
    para que não tomes conta da minha mente?'
  • 67:18 - 67:20
    Porque eu não quero estar com raiva,
  • 67:21 - 67:22
    quero estar feliz.
  • 67:23 - 67:27
    Mas sei que preciso de ver
    a tua natureza incondicionada, raiva,
  • 67:27 - 67:29
    se quero libertar-me de ti.’
  • 67:30 - 67:36
    Essa é a visão de um praticante.
  • 67:36 - 67:39
    E é isso que tento fazer
    na minha prática diária,
  • 67:40 - 67:43
    e a forma como tento praticar
    este segundo princípio.
  • 67:44 - 67:47
    Mover-me da dimensão histórica,
  • 67:48 - 67:51
    onde cada dharma
    é um dharma condicionado,
  • 67:52 - 67:55
    para a dimensão última.
  • 67:55 - 67:59
    Não se trata de mudar a realidade,
  • 67:59 - 68:03
    mas sim de mudar a forma como a vemos.
  • 68:03 - 68:07
    Libertar-nos dos conceitos
    e das ideias fixas. Essa é a essência.
  • 68:08 - 68:14
    E o incondicionado já está aqui, já está presente.
    O nirvana está no samsara.
  • 68:17 - 68:21
    Já está aqui, não precisamos
    de ir procurar o nirvana noutro lugar.
  • 68:22 - 68:27
    Ele é a base de todos os dharmas,
    de todos os fenómenos condicionados.
  • 68:28 - 68:33
    Então, é tudo por hoje,
    a menos que haja alguma pergunta?
  • 68:34 - 68:37
    Eu disse que deixaria algum tempo.
  • 68:43 - 68:45
    Talvez possamos...
  • 68:47 - 68:49
    Ela tem uma pergunta?
  • 68:52 - 68:55
    (inaudível)
  • 69:00 - 69:02
    Talvez possamos ouvir
    o som do sino.
  • 69:15 - 69:17
    (Sino)
  • 69:20 - 69:27
    (Sino)
  • 69:44 - 69:49
    (Sino)
  • 70:06 - 70:12
    (Sino)
  • 70:44 - 70:49
    Caros amigos, para aqueles que nos seguem online,
  • 70:50 - 70:54
    espero que se sintam um pouco mais leves,
    um pouco mais refrescados.
  • 70:55 - 71:01
    Eu sei que eu sinto.
    Isto é como tomar um banho no Dharma.
  • 71:05 - 71:08
    E é muito útil
    tomar um banho no Dharma.
  • 71:09 - 71:14
    Estamos ainda a perceber
    como fazer este curso online.
  • 71:15 - 71:19
    Esperamos realizá-lo todas as quartas-feiras
    às 19h30, horário do Pacífico.
  • 71:20 - 71:25
    Os irmãos são muito generosos
    ao disponibilizar o seu tempo para colocar isto online.
  • 71:28 - 71:33
    E vamos tentar encontrar formas
    para tornar o curso um pouco mais interativo,
  • 71:34 - 71:37
    para que as pessoas que assistem online
    possam colocar perguntas.
  • 71:37 - 71:40
    Talvez, por agora, possam
    deixá-las nos comentários do YouTube,
  • 71:41 - 71:44
    e veremos, nas próximas aulas,
    como organizar melhor isso.
  • 71:44 - 71:47
    Talvez criemos uma lista de e-mails
    só para este curso,
  • 71:47 - 71:50
    para que as pessoas possam manter-se em contacto.
  • 71:51 - 71:57
    Acho que é muito bonito
    termos um grupo que segue junto.
  • 71:58 - 72:03
    Porque eu também estou
    a aprofundar estes ensinamentos para a minha própria prática.
  • 72:03 - 72:08
    Quero saborear plenamente
    estes 40 princípios.
  • 72:11 - 72:14
    Então, é bom fazê-lo juntos,
  • 72:14 - 72:18
    para que o curso tenha continuidade.
  • 72:19 - 72:22
    Talvez na próxima semana
    tenhamos mais informações
  • 72:22 - 72:27
    sobre como se podem manter ligados
    a estas aulas.
  • 72:28 - 72:30
    Mas, por agora, vamos simplesmente criar
    uma playlist no YouTube.
  • 72:30 - 72:34
    Convidamos aqueles que ainda não viram
    a primeira aula a assisti-la
  • 72:34 - 72:38
    quando tiverem um momento
    durante esta semana, antes da próxima sessão.
  • 72:38 - 72:40
    Obrigado.
  • 72:49 - 72:51
    (sino)
  • 72:53 - 72:55
    (sino)
Title:
The 40 Tenets of Plum Village with Brother Phap Luu | Class #2
Description:

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Video Language:
English
Duration:
01:13:16

Portuguese subtitles

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