-
Podemos desfrutar dos três sons do sino,
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voltar ao nosso corpo,
voltar à nossa respiração,
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desfrutar,
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desfrutar de estar livres dos nossos pensamentos,
das nossas preocupações, da nossa ansiedade,
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simplesmente desfrutar da nossa inspiração
e da nossa expiração.
-
(Sino)
-
(Sino)
-
(Sino)
-
(Sino)
-
Querido e respeitado Thay,
querida e nobre comunidade,
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hoje é 24 de março
do ano de 2021.
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Ainda estamos na pandemia,
e estamos a estudar
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os 40 princípios de Plum Village,
ensinamentos que Thay transmitiu
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em 2005, 2006.
-
E penso que esta é a primeira vez
que os estamos a transmitir em direto.
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Sejam bem-vindos todos os que nos acompanham online.
-
Esta é uma oportunidade para entrarmos juntos
no Dharma.
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É muito empolgante.
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É como um riacho fresco
no verão, quando estamos com calor.
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E tudo em que conseguimos pensar é na água,
e em como será refrescante no nosso rosto.
-
E quando colocamos os lábios na água,
-
talvez até mergulhemos a cabeça,
e sentimo-nos revigorados.
-
Podemos libertar-nos de qualquer preocupação,
toda a sujidade no nosso corpo
-
pode ser levada pela corrente.
-
É assim que nos sentimos ao entrar no Dharma: revigorados.
-
A primeira coisa é regressar à nossa respiração,
simplesmente tomar consciência da respiração,
-
independentemente da posição do nosso corpo.
Se estivermos sentados, deitados ou de pé,
-
estejamos cientes do nosso corpo,
desta maravilha que é o corpo.
-
Está coberto de pele,
e de carne e osso,
-
cheio de todo o tipo de emoções,
todo o tipo de ideias e conceitos,
-
repleto de milhões de células,
células humanas, células bacterianas.
-
Esta maravilha não se restringe ao nosso corpo,
-
mas também ao ar à nossa volta,
ao corpo dos outros,
-
à terra sob os nossos pés.
-
Tenho esta mesa de plástico à minha frente.
Também é uma maravilha.
-
Um termo, a pedra na montanha,
e o ar que respiramos.
-
Isto não é uma filosofia,
é uma prática.
-
É uma forma de olhar
para todas as coisas condicionadas como maravilhas.
-
Coisas que são impermanentes,
-
e livres de um eu separado.
-
Na última aula, abordámos a primeira tese.
-
E para aqueles que -
ou o primeiro princípio.
-
Para aqueles que estão a acompanhar online,
talvez gostem de obter uma cópia dos 40 princípios
-
e seguir connosco à medida que avançamos.
-
Penso que está disponível em vários locais
nos sites de Plum Village,
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assim como no site da Ordem do Interser nos EUA.
-
Vou recapitular brevemente
o que abordámos na última aula.
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O primeiro princípio é:
-
O espaço não é um Dharma incondicionado.
-
[O espaço não é um Dharma incondicionado]
-
Manifesta-se em conjunto
-
com o tempo,
-
a matéria
-
e a consciência.
-
[Manifesta-se em conjunto com o tempo,
a matéria e a consciência]
-
Falámos do espaço
-
como uma experiência na nossa prática.
-
Sabemos
-
que o nosso corpo ocupa espaço,
e que há um espaço à nossa volta.
-
À medida que nos movemos, sentimos o ar,
a resistência do chão sob os nossos pés.
-
Mas se retirarmos o chão,
se retirarmos o ar,
-
ainda existe espaço,
existe uma sensação de distância,
-
de comprimento, altura, largura,
três dimensões.
-
E é provável que os monges,
os nossos mestres ancestrais,
-
e as monjas que praticavam
o contacto com o espaço,
-
tivessem a prática de tocar o espaço ilimitado.
-
Nessa perceção de espaço ilimitado,
não incluíam
-
nada que se pudesse tocar ou sentir.
-
Nesse sentido, pensavam nele
como sendo incondicionado,
-
da mesma forma que o nirvana é incondicionado.
-
Mas se olharmos mais profundamente para o espaço,
vemos que ele é, antes de mais, uma noção.
-
É algo que criamos
com a mente humana,
-
através da consciência
de algo à nossa frente,
-
ao nosso lado, acima e abaixo,
-
a sensação de que as coisas não ocupam
um único ponto, por assim dizer,
-
mas que estão distribuídas
em três dimensões.
-
Isso é uma ideia.
-
O espaço é uma forma de descrever
-
a nossa experiência vivida de movimento
dentro das três dimensões.
-
Assim, nesse sentido,
o espaço é condicionado,
-
é condicionado pelo nosso pensamento.
É um conceito.
-
Mas se olharmos ainda mais profundamente,
-
vemos que, mesmo que tentemos atribuir
uma base física a essa noção,
-
e dissermos: "Não,
existe algo que é o espaço",
-
vemos que, mesmo na abordagem científica
ao espaço,
-
também chegamos à conclusão
de que ele é condicionado.
-
Através da teoria da relatividade,
-
sabemos que o espaço
pode ser afetado pela massa, pela matéria.
-
Se há um corpo muito massivo,
-
mesmo corpos relativamente menos massivos
têm algum efeito na curvatura do espaço.
-
Quando a luz vem de estrelas distantes,
-
podemos medir como, ao passar por estrelas massivas,
-
o raio de luz se curva.
-
Portanto, há uma curvatura
do espaço-tempo.
-
Isso também demonstra
que o espaço é condicionado.
-
Mesmo na nossa compreensão científica do espaço,
-
tentamos ir além da noção de espaço.
-
Mesmo aquilo a que chamamos espaço
-
está condicionado pela matéria,
não é algo incondicionado.
-
Quando olhamos profundamente para o espaço,
-
vemos que ele também é composto por tempo.
-
E o tempo também é condicionado.
-
Não é algo incondicionado.
-
A nossa perceção do tempo é também uma noção.
-
Na verdade, temos apenas
este momento presente.
-
Mas usamos a expressão "momento presente"
para distinguir
-
entre o que acontecerá a seguir, o futuro,
-
e o que aconteceu antes, o passado.
-
Mas o passado é apenas
a nossa memória de experiências
-
que ocorreram antes deste momento presente,
e que deixaram uma marca na nossa consciência,
-
de alguma forma, sob a forma de um sinal,
uma sensação ou uma memória.
-
Na verdade, só temos este momento presente,
-
mas falamos sobre o passado
-
com base nesta experiência vivida, na qual existe
algum tipo de continuidade neste corpo.
-
Há sentimentos, há perceções,
há formações mentais,
-
e reconheço algum tipo de
padrão nisso.
-
Isso dá-me uma sensação de continuidade
entre o que aconteceu antes
-
e este momento presente.
-
Depois, a minha antecipação do que acontecerá
após este momento presente
-
também é experimentada no momento presente.
-
Mas isso é apenas
-
o aspeto de planeamento ou projeção
da minha mente para o futuro.
-
E chamo a isso futuro. Mas tudo
é experienciado apenas aqui e agora.
-
Na verdade, vemos que o próprio tempo
é um conceito condicionado, é uma noção.
-
E não há -
-
Podemos usar o movimento, por exemplo,
dos ponteiros do relógio à volta do mostrador
-
ou a queda da areia
numa ampulheta
-
para nos dar a sensação de que o tempo está a passar.
-
Mas tudo isso são apenas elementos condicionados
que representam
-
uma ideia do que mais precisamente
chamamos impermanência.
-
[tempo]
-
[impermanência]
-
Em termos de nos libertarmos
do nosso sofrimento,
-
é mais útil falar sobre
impermanência do que sobre tempo.
-
Tendemos a quantificar o tempo, certo?
Atribuímos-lhe números e dizemos que
-
o movimento de grandes corpos, como a rotação da Terra,
-
aproximadamente metade do tempo na sombra,
metade do tempo ao sol,
-
onde quer que estejamos na Terra,
isso constitui um dia.
-
E depois, o tempo que a Terra leva
a completar a sua órbita -
-
Desculpa, a deslocar-se completamente
em torno do Sol, isso constitui um ano.
-
Depois subdividimos o dia em horas,
minutos, segundos e milissegundos.
-
Agora até temos um relógio atómico
-
baseado no decaimento radioativo de átomos
-
para tentar determinar
uma perceção regular do tempo.
-
Mas, no fundo, tudo isso continua a ser condicionado.
-
Todas essas formas de medir e pensar o tempo
são condicionadas.
-
E as coisas condicionadas são impermanentes.
-
Isso significa que estão sujeitas a mudança.
-
Ou seja, estão sujeitas
a surgir, manifestar-se,
-
permanecer durante algum tempo
e depois desaparecer.
-
Por isso, em vez de nos concentrarmos no tempo
-
como um cientista faria no seu
estudo observacional,
-
nós, como praticantes,
como cientistas da primeira pessoa,
-
da nossa própria prática interior,
-
praticamos concentrando-nos
na natureza impermanente das coisas.
-
Não precisamos de medir
a taxa de impermanência,
-
mas sim reconhecê-la.
-
É uma realização ver que
este corpo, o nosso corpo, está sempre a mudar.
-
Estamos a envelhecer,
os nossos sentidos talvez,
-
se somos muito jovens, estão a desenvolver-se.
-
E à medida que envelhecemos, tornam-se menos capazes
de ver, ouvir, falar.
-
Reconhecer isso é, na verdade, uma liberdade.
-
Por isso, esta afirmação
pode ser vista como uma prática.
-
Dizer que o espaço
não é um dharma incondicionado
-
significa que o espaço também é condicionado.
-
O espaço também está sujeito à impermanência.
-
E quando falamos sobre
impermanência em termos de espaço,
-
[espaço]
-
usamos o termo "não-eu".
-
[não-eu]
-
Ou "vazio de um eu separado".
-
Quando olhamos pelo prisma do tempo,
vemos a impermanência.
-
Quando olhamos pelo prisma do espaço,
vemos o não-eu.
-
Significa que não há essência,
não há uma entidade separada
-
que esteja isolada
de tudo o resto no universo.
-
O nosso mestre usava o termo "interser".
-
[interser]
-
Não podemos existir sozinhos.
-
Uma forma de dizer isso é "não-eu",
não há um eu,
-
não há nada dentro de mim
que esteja, de algum modo,
-
livre de interagir
com algo em ti.
-
Nada está cortado
do resto da realidade.
-
Na verdade, nós intersomos.
-
Há uma comunicação constante
-
através dos olhos, ouvidos, nariz,
língua, corpo e mente,
-
através dos poros da nossa pele,
através da própria carne do nosso corpo,
-
que é a continuação dos nossos antepassados,
-
que veio da Terra, da atmosfera, do Sol.
-
Tudo isso
nos interpenetra a cada momento.
-
Não podemos ver nenhuma parte
deste corpo, destes sentimentos,
-
das nossas perceções, das nossas formações mentais,
da nossa consciência,
-
nada que esteja fora disso.
-
Ver isso é chamado
de existência maravilhosa, é um milagre.
-
É uma espécie de felicidade,
porque já não nos sentimos sós, não nos sentimos isolados,
-
não importa onde estejamos,
mesmo que não vejamos outro ser humano durante meses,
-
se estivermos a viver numa montanha, sentimo-nos -
-
Com esta forma de olhar para
o espaço e o tempo,
-
sentimo-nos completamente conectados.
-
Se estivermos a viver com muitas pessoas
num espaço apertado
-
e essas pessoas não praticam a atenção plena,
-
talvez não sejam muito gentis,
ainda assim conseguimos tocar,
-
através da concentração
na impermanência e no não-eu,
-
conseguimos tocar
nesta natureza do interser.
-
Vemos que nada está
separado do resto da realidade.
-
Tudo se interpenetra.
-
Esta é uma forma de praticar este princípio.
-
É assim que gosto de praticá-lo.
-
Vemos que o espaço também
está vazio de um eu separado.
-
Não é um dharma incondicionado.
-
E manifesta-se juntamente com
o tempo, a impermanência,
-
e a matéria. Quando olhamos para a matéria,
-
vemos que é impermanente,
tudo está sempre a mudar.
-
Mesmo que seja de forma muito lenta.
-
Algumas partículas subatómicas estão a decair
-
a velocidades de bilhões de anos,
-
mas são, em última instância, impermanentes.
-
Portanto, a matéria tem esta qualidade.
Quando olhamos para a matéria,
-
vemos nela
o aspeto da impermanência.
-
E também vemos
o aspeto do não-eu.
-
Do ponto de vista do tempo,
a matéria é impermanente.
-
Do ponto de vista do espaço,
ela é não-eu.
-
Interpenetra tudo no universo,
interexiste com tudo.
-
E a consciência também.
-
Na tradição budista,
-
falamos da consciência
como tendo o aspeto da consciência da mente.
-
[consciência da mente]
-
Significa aquilo que está presente
na nossa mente neste momento.
-
Se a alegria se manifesta,
então a alegria está na nossa consciência da mente.
-
Estamos conscientes da alegria.
-
Se estamos a pensar num problema de matemática,
isso é o que está na nossa consciência da mente.
-
Podemos pensar num computador e
no que está no ecrã naquele momento.
-
Sabemos que dentro do disco rígido
há muitos dados.
-
Se tentássemos representar
todos esses dados no ecrã ao mesmo tempo,
-
veríamos apenas estática.
-
Portanto, só trazemos para o ecrã
aquilo que queremos ver naquele momento.
-
Isso é a nossa consciência da mente.
-
No momento presente, talvez nenhum de nós esteja zangado.
-
E nenhum de nós tem medo.
-
Mas isso não significa que acreditamos que não temos a semente da raiva
-
na nossa consciência de alguma forma.
-
Ou que não temos a semente do medo na nossa consciência, ou a semente da alegria.
-
De alguma forma, está lá, mas ainda não se manifestou,
-
ou não está a manifestar-se nesse momento, não está presente na consciência da mente.
-
Então, podemos falar sobre uma espécie de armazém de consciência .
-
[armazém de consciência]
-
Nesse armazém de consciência, estão as sementes
-
da atenção plena, da concentração, da raiva.
-
Elas podem ter formas diferentes, Alegria.
-
Um bom praticante sabe como tocar na semente da atenção plena
-
no armazém de consciência para que ela se manifeste
-
como atenção plena na consciência da mente.
-
Assim, podemos encontrar formas
-
de regar a semente da atenção plena
-
para que, quando uma semente de raiva também se manifeste,
-
algo que percebemos traga à tona a flor da raiva,
-
porque é como uma flor na nossa consciência mental.
-
E como praticantes, sabemos que nesse momento estou com raiva.
-
Reconhecemos que há raiva,
-
e então tocamos na semente da atenção plena para a trazer à tona.
-
E talvez essa raiva não desapareça, mas é como se a iluminássemos,
-
e entendêssemos melhor as suas raízes. O que eu disse no passado,
-
que tipo de conversas eu consumi, a minha vida familiar,
-
filmes, música, coisas que eu disse ou fiz aos meus amigos
-
que regaram essa semente de raiva.
-
Coisas que ouvi, coisas que me foram feitas, ditas a mim no passado
-
que tornaram essa semente forte o suficiente
-
para que agora, com uma palavra, ou uma frase, a raiva se manifeste
-
na consciência da mente.
-
Então, quando somos praticantes, sabemos como convidar a atenção plena
-
para abraçar a semente da raiva.
-
Falamos muitas vezes sobre a consciência como pontos de luz.
-
É como se tivéssemos uma vela, e a movêssemos em círculo.
-
Depois, tiramos instantâneos individuais de cada momento.
-
Veríamos apenas um ponto de luz da vela.
-
Mas se deixarmos a cortina da câmara aberta
-
por talvez um segundo, ou dois, ou três segundos,
-
e movermos o braço em círculo,
-
quando expusermos o filme, veremos um círculo contínuo.
-
A consciência tem essa natureza.
-
Uma natureza de ser como pontos em cada instante.
-
Mas experienciamos isso como uma continuidade.
-
É como se a cortina da nossa câmara estivesse mantida aberta.
-
Então, todos esses disparos de neurônios,
-
todos esses momentos de sentimentos, percepções, que acontecem em momentos.
-
A consciência do nosso olho, o que vemos, ouvimos,
-
embora possamos dividi-los em pequenos fragmentos de instantes,
-
mas a nossa experiência disso é contínua.
-
O que chamamos de consciência é na verdade esta experiência contínua de instantes
-
que vão passando, instantes de impermanência.
-
Portanto, a consciência também é impermanente,
-
E tem uma natureza de não-eu.
-
A maior parte do nosso treino como praticantes é perceber isso.
-
É isso que tento fazer na maior parte do meu dia.
-
Porque, quando as emoções se manifestam,
-
elas têm aquela aparência familiar dentro da minha consciência.
-
E eu penso que a raiva sou eu,
-
que a tristeza sou eu, e que a alegria sou eu.
-
E como praticante, sei que, enquanto eu continuar a segurar essa ideia, vou sofrer.
-
Porque, na verdade, a raiva é apenas raiva. Não é minha.
-
Quando as condições são suficientes,
então a raiva manifesta-se.
-
Assim, com mindfulness,
vejo-a como um fenómeno.
-
A raiva é um fenómeno
que se manifesta na consciência da mente,
-
não é algo que seja eu,
mim próprio ou meu.
-
Por isso, é muito divertido praticar.
-
Deixar ir a nossa ideia de nós mesmos.
-
Aqui começamos por deixar ir a ideia
de que o espaço está livre de condicionamento,
-
assim como o tempo, a matéria
e a consciência.
-
Eles são interdependentes.
-
Sem matéria,
não podemos ter consciência.
-
A consciência depende de –
-
A consciência é sempre
consciência de algo.
-
Não pode surgir sem um objeto.
-
Temos o olho em contacto com as formas.
Quando olho para o termo,
-
o meu olho entra em contacto com a luz
-
que reflete no exterior do termo,
entra na minha retina
-
e depois estimula neurónios no meu cérebro.
-
E, de alguma forma, ao longo desse caminho,
-
associo isso à palavra 'termo',
porque aprendi a palavra 'termo'.
-
Porque a empresa que fabrica estes recipientes de água quente
chama-se Thermos.
-
Então, se eu digo 'termo',
isso tem um significado para outras pessoas.
-
Mas a distância percorrida
por esses fotões de luz,
-
refletindo no exterior do termo
até entrarem no meu olho e na minha retina,
-
se desacelerarmos esse processo,
-
há uma série incrivelmente complexa
de etapas a acontecer ali.
-
Então, claramente,
-
a matéria faz parte do processo,
-
o espaço também faz parte do processo,
os fotões movem-se no espaço.
-
O tempo, certo? O fotão
a mover-se à velocidade da luz,
-
e depois o tempo que os meus neurónios
levam a disparar no meu cérebro
-
para registar a forma do termo
na minha consciência.
-
Assim, todas essas consciências
dependem de todas essas coisas.
-
Isso é apenas um breve resumo
do que aprendemos da última vez.
-
Gostaria de avançar para o segundo princípio.
-
Na dimensão histórica,
-
todo o dharma é um dharma condicionado.
-
[2. Na dimensão histórica,
todo o dharma é um dharma condicionado.]
-
Na dimensão última,
-
todo o dharma é um dharma incondicionado.
-
[Na dimensão última,
todo o dharma é um dharma incondicionado.]
-
O incondicionado
é a base de todos os dharmas.
-
[O incondicionado
é a base de todos os dharmas.]
-
Há uma frase que Thay usa, que é
‘a dialética do Dharma’.
-
Tudo o que aprendemos serve para
nos ajudar a deixar ir o nosso próprio aprendizado.
-
Cada conceito ou palavra
que o Buda nos ensina
-
serve para nos ajudar a libertar-nos
do apego a palavras e conceitos.
-
E se compreenderes esse ponto,
o Dharma torna-se muito fácil.
-
Mas enquanto estiveres à procura
de algum tipo de verdade absoluta nas palavras,
-
enquanto estiveres à procura
de uma verdade absoluta nos conceitos ou ideias,
-
então vais sofrer.
-
Porque estarás a tentar agarrar-te
a algo que não pode ser agarrado.
-
Estarás a tentar usar sinais ou representações
-
para tentar representar ou ser um sinal
-
de algo que não pode ser sinalizado ou representado.
-
O nirvana é o incondicionado.
É algo para além da descrição,
-
algo que não podemos
agarrar ou segurar,
-
algo que está presente
em cada célula do nosso corpo, em cada átomo,
-
em cada parte da natureza da realidade.
-
Podemos tocar o incondicionado,
mas o problema é que,
-
no nosso anseio pelo incondicionado,
no anseio pela liberdade,
-
tendemos a agarrar-nos a conceitos ou ideias.
-
Assim, logo no segundo princípio,
Thay já ilumina
-
esta dialética do Dharma
que nos ajuda a libertar –
-
Está a usar palavras e conceitos
para nos libertarmos das palavras e conceitos.
-
Primeiro, aprendemos que o espaço
não é um dharma incondicionado.
-
Ele manifesta-se em conjunto
com o tempo, a matéria e a consciência.
-
Mas então vemos que,
na dimensão histórica,
-
todo o dharma é um dharma condicionado.
-
Falamos da dimensão histórica
e da dimensão última.
-
A dimensão histórica são as coisas
-
que acontecem de acordo com a impermanência,
-
de acordo com o vir e ir,
nascer e morrer, ser e não ser.
-
Olhamos para a flor e dizemos:
'Bem, a flor está ali.’
-
Mas sabemos que um dia a flor
já não estará ali.
-
E sabemos que,
antes de a flor estar ali,
-
havia apenas uma semente no solo.
-
Olhamos para a semente e dizemos:
‘Não há flor.’
-
Essa é a ideia do não-ser.
Então, a flor não está ali.
-
Depois, com um pouco de água e luz solar,
o solo certo e a temperatura certa,
-
a semente manifesta-se
e logo temos uma pequena planta.
-
E então, a bela
flor de orquídea manifesta-se.
-
E dizemos: ‘Agora a flor está aqui!
Antes, não estava. Agora está.’
-
Depois, em algum momento no futuro,
ela murcha e dizemos: ‘Já não está aqui.
-
Passou de ser para não-ser.’
-
Esse é um modo de pensar
as coisas na dimensão histórica,
-
em que há coisas que não estão ali,
-
elas não são, são não-ser,
vêm a ser e depois voltam ao não-ser.
-
Mas com um olhar mais profundo,
com mais mindfulness, podemos olhar para a flor
-
e ver que, na verdade,
a semente ainda está ali na flor.
-
Porque todas as condições,
-
muitas das condições necessárias
para manifestar a flor
-
já estavam presentes na semente.
-
O ADN, a capacidade de se abrir
com a quantidade certa de humidade,
-
a temperatura certa.
-
Tudo isso já estava ali na semente.
A flor já estava ali.
-
Quando olhamos
com os olhos da dimensão última,
-
podemos ver que as coisas
já estão interligadas.
-
Assim, libertamo-nos
das ideias de ser e não-ser.
-
Mas vemos que,
quando as condições são suficientes,
-
os fenómenos manifestam-se.
-
E quando já não são suficientes,
eles deixam de se manifestar.
-
Eles não passaram de ser para não-ser.
-
Mas, na verdade, isso é apenas
um olhar muito superficial sobre as coisas.
-
Na nossa prática, estamos a treinar para –
-
Embora vivamos
na dimensão histórica,
-
treinamos para sermos capazes
de tocar a dimensão última,
-
onde já não existem os conceitos
de ser e não-ser,
-
vir e ir, igual ou diferente.
-
Na dimensão histórica,
temos nascimento e morte.
-
Sabemos que este corpo nasceu
de uma mãe e de um pai.
-
Que vai envelhecer, adoecer e morrer.
E isso é tudo muito normal, certo?
-
São coisas que acontecem
à nossa volta.
-
Os fenómenos que experienciamos
através dos olhos, dos ouvidos, e assim por diante.
-
Tudo o que experienciamos ou
percebemos está na dimensão histórica.
-
Quando nos agarramos a algo
como uma representação,
-
quando temos um conceito ou noção,
estamos na dimensão histórica.
-
Mesmo a palavra nirvana ou o incondicionado
-
ocorrem na dimensão histórica.
-
A prática é:
-
como podemos tocar a dimensão última
no meio da dimensão histórica?
-
Thay ensinava-nos a olhar, por exemplo,
para o conceito de Deus,
-
na tradição cristã
ou nas religiões abraâmicas.
-
Para muitos teólogos, há algo
muito próximo do incondicionado em Deus.
-
Quando vemos Deus em todas as coisas,
quando ele é a base de todo o ser.
-
Isso aproxima-se muito.
-
Mas, por vezes,
ainda existe o apego a
-
separar o criador do criado.
-
Enquanto seres humanos, somos o criado
segundo a teologia cristã,
-
e Deus é o criador.
-
E Deus, o criador, está de alguma forma separado.
-
Não podemos dizer que Deus, o criador,
está no criado.
-
Ele é, de alguma forma, distinto do criado.
-
E isso leva a um pensamento dualista,
onde separamos o criador e o criado.
-
No Budismo, olhamos para isto
de um ponto de vista um pouco diferente.
-
Dizemos que,
-
em vez de falarmos do criado,
falamos da dimensão histórica.
-
Das coisas que acontecem
no reino do ser e do não-ser,
-
do vir e do ir, do igual e do diferente,
do mais ou menos, do aumentar e diminuir,
-
todas essas formas de diferenciar
uma coisa de outra.
-
Assim, na dimensão histórica,
há uma tendência para medir,
-
para separar uma coisa
com qualidades diferentes de outra coisa.
-
E não ver a natureza do interser,
que pode ser tocada
-
quando olhamos mais profundamente,
quando descemos do nível da superfície.
-
Na dimensão histórica,
todo o dharma é um dharma condicionado.
-
Tudo o que pode ser dito
de estar na dimensão histórica é condicionado.
-
E na dimensão última,
-
para além de qualquer conceito ou noção,
todo o dharma é um dharma incondicionado.
-
Mesmo o espaço,
-
que acabámos de dizer que não é
um dharma incondicionado.
-
Parece haver aqui uma contradição.
-
Como podemos dizer
que o espaço não é um dharma incondicionado,
-
mas depois dizer que, na dimensão última,
todo o dharma é um dharma incondicionado,
-
incluindo o espaço, o tempo,
a matéria e a consciência?
-
A questão é que isto
não se trata de filosofia, mas sim de prática.
-
Praticamos na dimensão histórica
para olhar para cada célula do nosso corpo,
-
para a nossa respiração,
-
para até mesmo as nossas ideias e noções,
-
e ver que há um elemento
do incondicionado no condicionado.
-
Todos os dharmas,
-
e quando falamos de dharma,
referimo-nos a um fenómeno,
-
como um copo de água, ou uma nuvem,
ou um pensamento, ou a minha raiva,
-
até mesmo o tempo, o espaço,
qualquer tipo de conceito,
-
qualquer coisa à qual possamos
atribuir uma noção ou percepção,
-
é um dharma.
-
Se nós,
-
por exemplo, se apenas
nos virmos como o criado,
-
e não conseguirmos ver o criador,
-
se apenas nos virmos
como separados de Deus,
-
então, sentiremos uma grande solidão.
-
Sentiremos que não temos valor,
-
porque não reconhecemos
a natureza divina em nós.
-
Por isso, em vez de falarmos
de Deus ou de um criador,
-
falamos do incondicionado.
-
Do que não pode ser expresso.
-
Do que não pode ser percebido
por nenhuma qualidade,
-
como sabor, cor, cheiro ou padrão.
-
No Budismo, isso é um meio hábil.
-
Usamos esta dialética do Dharma
para nos libertarmos.
-
Tocas algo, e isso traz-te alegria,
traz-te felicidade, traz-te liberdade.
-
Mas depois tentas agarrar-te a isso,
dizes:
-
'Mas o que é essa coisa?
Isso é um dharma incondicionado, isso é nirvana'.
-
E nesse momento, já o perdeste.
-
Porque, na verdade,
tornou-se condicionado.
-
Atribuíste uma qualidade
ao incondicionado.
-
Deste-lhe um sabor, um conceito,
um tom de pensamento qualquer.
-
E já não é incondicionado,
é algo condicionado.
-
É apenas uma designação.
-
Então, como praticantes,
largamos essa ideia novamente,
-
e dizemos: 'Não,
quero tocar o incondicionado.
-
Não basta apenas agarrar-me a este corpo,
-
a estes sentimentos,
a estas perceções, a esta consciência.
-
Quero ser verdadeiramente livre.'
-
E treinamos para largar o condicionado,
largar, apenas continuar a largar.
-
Nos 16 passos da respiração consciente,
-
somos convidados a ver
a natureza impermanente de todas as coisas.
-
E isso ajuda-nos a largar o desejo,
-
o nosso anseio por qualquer
prazer dos sentidos.
-
E isso acalma a mente,
para que ela deixe de se agitar,
-
para que deixe de ter ideias
de ser e não-ser, de vir ou ir, de igual ou diferente.
-
E então, largamos.
-
Praticamos o largar.
O 16.º passo
-
do Sutra da Atenção Plena na Respiração.
-
Essa é a prática de
tocar o incondicionado.
-
Apenas largar continuamente,
continuamente.
-
Talvez possamos ouvir
o som do sino.
-
(Sino)
-
(Sino)
-
Neste momento, há um vulcão
em erupção na Islândia.
-
Alguns cientistas colocaram
uma câmara nesse vulcão e ligaram-na à internet.
-
Nos últimos dias,
essa tem sido a minha meditação.
-
Tenho um ecrã de computador.
-
Temos um ecrã no escritório
-
com a transmissão em direto
do vulcão em erupção,
-
com a lava a subir e a sair,
a escorrer pelos lados,
-
e depois a espalhar-se
pela planície em rocha derretida.
-
E também tenho um ecrã no meu quarto,
onde deixo essa imagem.
-
Tenho usado isso como meditação,
a ver este vulcão em erupção ao vivo.
-
Refleti sobre porque é que
acho tão agradável ver este vulcão a entrar em erupção.
-
Às vezes, há helicópteros
a sobrevoá-lo.
-
Às vezes, aparece um cientista,
que acena para a câmara.
-
Fui ver ao YouTube,
onde têm a transmissão ao vivo.
-
Hoje, havia cerca de 16.000 pessoas
a assistir à erupção do vulcão.
-
Então refleti sobre
o que torna isto tão interessante de ver.
-
E pensei que tem algo a ver
com a impermanência.
-
Pratico para olhar para aquela rocha
incandescente que sai do vulcão
-
como o meu próprio corpo.
-
Há elementos dos nossos antepassados
presentes naquela rocha.
-
E sei que, no meu próprio corpo,
os elementos da terra estão presentes.
-
Ao ver isso, a Terra a recriar-se
a partir do seu interior através do calor,
-
empurrando-se para cima
com pressão e emergindo à superfície,
-
depois criando nova terra
sobre a terra antiga,
-
senti uma certa alegria.
-
Vejo verdadeiramente esta força vital,
este calor que carregamos
-
de geração em geração,
-
ininterrupto há milhões, dezenas de milhões,
centenas de milhões de anos.
-
Desde o ventre da nossa mãe,
-
aquele calor que ela nos transmitiu
e que agora carregamos em nós
-
e podemos passar aos nossos filhos,
-
esse é também o calor
que vem da Terra.
-
Hoje sabemos que
-
é muito provável que as bactérias
que são os nossos antepassados
-
se tenham formado, provavelmente,
-
em fontes hidrotermais,
como os géiseres em Yellowstone,
-
que emergem da Terra.
-
E as bactérias que vivem ali
-
formaram os lípidos que deram origem
às primeiras membranas celulares.
-
Desculpa, os químicos que ali estavam,
-
através do calor da Terra,
empurrados pelos géiseres,
-
deram origem aos lípidos
que formaram as membranas das primeiras bactérias.
-
As primeiras células.
-
Refleti sobre tudo isto
enquanto via o vulcão em erupção,
-
e liguei-me a este processo
que ocorre na dimensão histórica.
-
Para ver se consigo tocar a dimensão última,
olhando mais profundamente e vendo que
-
aquela rocha incandescente
não está separada de mim.
-
Posso senti-la
na força vital do meu corpo.
-
Vejo uma ligação profunda.
Não estamos separados.
-
Embora não queira
aproximar-me daquela lava incandescente.
-
Uma vez estive num vulcão ativo,
na Indonésia.
-
Senti um pouco de medo
ao olhar para dentro da caldeira,
-
vendo o calor a subir.
-
Não é um lugar muito agradável
para os seres humanos.
-
Mas é fascinante, porque estou a olhar
para o calor da força vital
-
que sustenta o meu próprio corpo
-
há centenas de milhões de anos.
É tão maravilhoso!
-
Essa foi a minha meditação
sobre a prática de ir
-
da dimensão histórica
para a dimensão última.
-
Podemos fazê-lo com qualquer coisa,
não apenas com a transmissão ao vivo de um vulcão.
-
Podemos fazê-lo com a água que bebemos.
-
O nosso mestre gostava de olhar
para um copo de água e ver a nuvem.
-
Se permanecermos apenas na dimensão histórica,
temos apenas um copo de água.
-
E a água é líquida,
move-se no copo.
-
E depois, ao bebê-la,
ela entra no nosso corpo.
-
Mas, com os olhos do interser, podemos ver
que essa água já é a nossa própria natureza.
-
Somos compostos, em grande parte, por água.
-
A água neste copo já foi uma nuvem.
-
E a nuvem, depois,
tornou-se chuva, que caiu na terra,
-
e que acabou por infiltrar-se no solo,
e tornar-se numa nascente.
-
Eventualmente, encontrou o caminho
até à minha garrafa térmica.
-
E agora entra no meu corpo. E depois irei suá-la,
ou suá-la, e ela voltará a ser nuvem.
-
Todo esse processo, ao olhar profundamente
com os olhos do interser,
-
vemos que
-
a nuvem ainda está presente na água,
e a chuva ainda está lá.
-
Isso significa que, agora, a nuvem está no meu corpo,
e voltará a ser nuvem.
-
Esses são os olhos
da não-nascença e da não-morte.
-
Isso é tocar o último.
-
Assim, podemos dizer que,
na dimensão última, vemos as coisas
-
como tendo a natureza
da não-nascença, não-morte,
-
não-chegada, não-partida.
-
Porque vemos que nada se perde,
-
nada passa do ser para o não-ser.
-
Não é como se existíssemos agora
e depois deixássemos de existir no futuro.
-
Somos apenas parte do processo
-
desde tempos sem início,
de manifestação.
-
Thay costumava chamar-lhe
um jogo das escondidas.
-
Neste momento, manifesto-me,
e não sabemos no momento seguinte
-
se as condições continuarão a ser suficientes
-
para este corpo,
estas sensações, estas perceções, se manifestarem.
-
Essa é a natureza das coisas.
Então, deixamos de sentir medo,
-
não tememos a morte,
não tememos envelhecer,
-
porque vemos que essa é apenas
a natureza do corpo.
-
Essa é a natureza
das nossas sensações e perceções.
-
É algo muito alegre.
-
Assim, podemos navegar
as ondas do nascimento e da morte sem medo.
-
Isso é tocar a dimensão última.
-
Viver na impermanência,
-
ver a natureza do não-eu
sem medo, sem apego.
-
E é uma prática,
não se trata apenas de descrever a realidade.
-
É algo que realmente fazemos.
-
Então, é essa a prática
que levo para a minha meditação.
-
Sento-me e respiro,
para dentro e para fora.
-
E noto todos esses pensamentos
que surgem dos meus projetos,
-
das conversas que tive,
das interações que tive,
-
e vejo que estas sensações não sou eu,
estas perceções não sou eu.
-
São fenómenos que se manifestam
devido a causas e condições.
-
Coisas que disse no passado,
coisas que fiz.
-
Fazem todas parte de um processo,
mas não preciso de me agarrar a elas.
-
Enquanto me agarrar a elas,
terei dificuldade em ver a raiz,
-
o que está realmente a acontecer
lá no fundo da minha consciência.
-
Assim,
-
tocar o último é algo que podemos fazer
com qualquer dharma.
-
E quando o fazemos,
vemos a natureza incondicionada do dharma.
-
Então, tudo o que experimentamos
na dimensão histórica,
-
que surge e desaparece, ser e não-ser,
flores, árvores, primavera,
-
abelhas, respiração, corpo,
sangue, sentimentos,
-
tudo o que experimentamos,
-
tudo isso tem esta natureza incondicionada.
-
Isso não é algo separado
da sua natureza condicionada.
-
Mas está inerente a todas as coisas.
-
E essa é a prática: tocar isso,
tornar-se livre do nosso condicionamento.
-
Por exemplo,
podes gostar de gelado de baunilha.
-
Quem aqui gosta de gelado?
-
Só uma pessoa? Ok,
quase toda a gente gosta de gelado.
-
E tens um sabor favorito.
-
Então, sempre que vais comer gelado,
dizes: 'Gosto de baunilha' ou 'Quero pistácio'.
-
Esse é um pensamento condicionado.
-
'Eu sou alguém que gosta de pistácio.'
'Eu sou alguém que gosta de baunilha.'
-
Que pena, porque há
tantos sabores maravilhosos para experimentar!
-
Se largarmos esse apego
ao nosso sabor favorito de gelado,
-
podemos provar pistácio,
podemos provar manga, açúcar, sorvete,
-
podemos experimentar
todo o tipo de sabores diferentes.
-
Da mesma forma,
quando tocamos o incondicionado,
-
de repente, todas as possibilidades
se abrem, coisas maravilhosas surgem.
-
E essas coisas maravilhosas
não são novas coisas às quais nos apegamos.
-
Mas, como praticantes, treinamo-nos
para simplesmente experimentar,
-
simplesmente desfrutar
da natureza maravilhosa das coisas
-
sem nos agarrarmos a elas,
sem nos apegarmos.
-
Esse é o cerne da prática.
-
Não precisamos de criar conceitos e ideias
e depois acreditar que são realmente reais.
-
Essa é a natureza da prática.
-
Estas palavras de Thay,
vejo-as sempre como um convite à prática.
-
Não são declarações
para descrever a realidade
-
ou algum tipo de ontologia.
-
O incondicionado
é o fundamento de todos os dharmas.
-
Está presente em todas as coisas.
-
Mas não pode ser descrito,
não pode ser fisicamente tocado.
-
Não podemos tocar o incondicionado.
-
Há uma forma de o fazer,
libertando-nos do apego ao condicionado.
-
Essa afirmação também
não é uma declaração teológica ou ontológica,
-
mas sim uma prática.
-
Praticamos para ver,
-
porque o nosso modo habitual
de fazer as coisas é pensar:
-
'Oh, outra vez pequeno-almoço
com os irmãos no Solidity Hamlet!'
-
Todos a olhar para as suas
tigelas de cereais, meio abatidos.
-
E parece: 'Oh, isto já aconteceu
centenas de vezes.
-
É a mesma comida,
a mesma aveia, o mesmo pão,
-
a mesma manteiga de amendoim,
manteiga de amêndoa e azeite.’
-
Temos comida muito boa,
mas ainda assim torna-se aborrecido.
-
Pensamos: 'Oh, é sempre o mesmo,
todos os dias.'
-
Mas quando noto isso em mim,
tento ver de outra forma:
-
E se olhasse para isto com novos olhos?
-
Lembro-me do primeiro dia
em que voltei a Deer Park, há alguns anos,
-
depois de estar afastado durante 10 anos,
-
e pensei: 'Olha para toda esta comida
maravilhosa ao pequeno-almoço. É incrível!'
-
Fruta fresca, estamos na Califórnia,
aveia deliciosa!
-
O irmão faz granola, é incrível!
Olha para toda esta comida maravilhosa!
-
Mas como é que, com o passar dos dias
e dos meses, comecei a descer para o pequeno-almoço
-
e pensar: 'Oh, é a mesma comida.'?
-
Foi porque perdi a minha capacidade
de tocar o último
-
nas pequenas, normais,
maravilhosas manifestações
-
que acontecem à mesa do pequeno-almoço.
-
É assim que, cultivando esta
mente de principiante, este tipo de abertura,
-
voltamos sempre à respiração,
voltamos sempre ao corpo,
-
voltamos aos nossos hábitos,
à nossa ansiedade, à nossa preocupação,
-
e olhamos para tudo isso com novos olhos.
-
Agora, no estudo da psicologia emocional,
-
estão a abandonar
as ideias clássicas sobre as emoções,
-
dizendo que, por exemplo, a raiva
não é algo fixo e igual para toda a gente,
-
não é algo programado da mesma forma
em mim como é em ti.
-
Eu posso experienciar a raiva
-
de uma forma muito diferente da tua.
-
O que tenho notado,
desde que compreendi isto,
-
é que, quando olho para a minha raiva,
-
ela está sempre a manifestar-se
de novas formas.
-
Não posso dizer que é
a mesma raiva de ontem ou do dia anterior.
-
Estou a experienciar coisas novas,
novas condições,
-
novas qualidades, com base nas minhas experiências
e na forma como essa raiva se manifesta.
-
Então, olho para ela com plena consciência,
com os olhos da alegria, e digo:
-
'Uau! Raiva, estás aí,
estás a manifestar-te de uma nova forma.
-
Como posso aprender contigo,
para que não me dominem,
-
para que não tomes conta da minha mente?'
-
Porque eu não quero estar com raiva,
-
quero estar feliz.
-
Mas sei que preciso de ver
a tua natureza incondicionada, raiva,
-
se quero libertar-me de ti.’
-
Essa é a visão de um praticante.
-
E é isso que tento fazer
na minha prática diária,
-
e a forma como tento praticar
este segundo princípio.
-
Mover-me da dimensão histórica,
-
onde cada dharma
é um dharma condicionado,
-
para a dimensão última.
-
Não se trata de mudar a realidade,
-
mas sim de mudar a forma como a vemos.
-
Libertar-nos dos conceitos
e das ideias fixas. Essa é a essência.
-
E o incondicionado já está aqui, já está presente.
O nirvana está no samsara.
-
Já está aqui, não precisamos
de ir procurar o nirvana noutro lugar.
-
Ele é a base de todos os dharmas,
de todos os fenómenos condicionados.
-
Então, é tudo por hoje,
a menos que haja alguma pergunta?
-
Eu disse que deixaria algum tempo.
-
Talvez possamos...
-
Ela tem uma pergunta?
-
(inaudível)
-
Talvez possamos ouvir
o som do sino.
-
(Sino)
-
(Sino)
-
(Sino)
-
(Sino)
-
Caros amigos, para aqueles que nos seguem online,
-
espero que se sintam um pouco mais leves,
um pouco mais refrescados.
-
Eu sei que eu sinto.
Isto é como tomar um banho no Dharma.
-
E é muito útil
tomar um banho no Dharma.
-
Estamos ainda a perceber
como fazer este curso online.
-
Esperamos realizá-lo todas as quartas-feiras
às 19h30, horário do Pacífico.
-
Os irmãos são muito generosos
ao disponibilizar o seu tempo para colocar isto online.
-
E vamos tentar encontrar formas
para tornar o curso um pouco mais interativo,
-
para que as pessoas que assistem online
possam colocar perguntas.
-
Talvez, por agora, possam
deixá-las nos comentários do YouTube,
-
e veremos, nas próximas aulas,
como organizar melhor isso.
-
Talvez criemos uma lista de e-mails
só para este curso,
-
para que as pessoas possam manter-se em contacto.
-
Acho que é muito bonito
termos um grupo que segue junto.
-
Porque eu também estou
a aprofundar estes ensinamentos para a minha própria prática.
-
Quero saborear plenamente
estes 40 princípios.
-
Então, é bom fazê-lo juntos,
-
para que o curso tenha continuidade.
-
Talvez na próxima semana
tenhamos mais informações
-
sobre como se podem manter ligados
a estas aulas.
-
Mas, por agora, vamos simplesmente criar
uma playlist no YouTube.
-
Convidamos aqueles que ainda não viram
a primeira aula a assisti-la
-
quando tiverem um momento
durante esta semana, antes da próxima sessão.
-
Obrigado.
-
(sino)
-
(sino)