O surpreendente declínio da violência
-
0:01 - 0:05Imagens como esta,
do campo de concentração de Auschwitz, -
0:05 - 0:09foram gravadas na nossa consciência
durante o século XX -
0:09 - 0:14e permitiram-nos uma nova compreensão
sobre quem somos, -
0:14 - 0:18de onde viemos
e os tempos em que vivemos. -
0:18 - 0:22Durante o século XX,
assistimos às atrocidades -
0:22 - 0:26de Estaline, Hitler, Mao, Pol Pot,
Ruanda e outros genocídios, -
0:26 - 0:31e embora o século XXI
tenha apenas sete anos, -
0:31 - 0:34já assistimos a um genocídio em Darfur
-
0:34 - 0:37e aos horrores diários do Iraque.
-
0:37 - 0:41Isto levou a uma perceção comum
da nossa situação, -
0:41 - 0:44a saber: que a modernidade desencadeou
uma violência terrível, -
0:44 - 0:47e talvez ainda que os povos nativos
viviam num estado de harmonia -
0:47 - 0:50do qual nos temos afastado,
para nosso mal. -
0:51 - 0:54Eis um exemplo de um artigo de opinião,
-
0:54 - 0:56sobre o Dia de Ação de Graças,
no jornal Boston Globe -
0:56 - 0:59há alguns anos, onde o autor escreveu:
-
0:59 - 1:02"A vida dos índios era difícil,
mas não havia problemas de emprego, -
1:02 - 1:05"a harmonia da comunidade era forte,
a violência abusiva desconhecida, -
1:05 - 1:09"a criminalidade quase inexistente,
a guerra que havia entre as tribos -
1:09 - 1:11"era em grande parte ritualística
-
1:11 - 1:14"e raramente conduzia
a um massacre indiscriminado." -
1:14 - 1:17Bom, todos nós conhecemos
bem esta história. -
1:17 - 1:20Ensinamo-la aos nossos filhos,
ouvimo-la na televisão -
1:20 - 1:22e em livros de histórias.
-
1:23 - 1:25O título original desta sessão era:
-
1:25 - 1:27"Tudo o que você sabe está errado".
-
1:27 - 1:30Eu vou apresentar provas
de que esta parte específica -
1:30 - 1:32do nosso conhecimento geral está errada,
-
1:32 - 1:35que os nossos antepassados eram
muito mais violentos do que nós, -
1:35 - 1:39que a violência tem sofrido
um declínio desde há muito tempo, -
1:39 - 1:41e que hoje estamos a viver, provavelmente,
-
1:41 - 1:44a época mais pacífica da existência
da nossa espécie. -
1:44 - 1:48Bom, na década de Darfur e do Iraque,
-
1:48 - 1:51uma declaração como esta
pode parecer algo alucinante ou obsceno. -
1:52 - 1:57Mas eu vou tentar convencer-vos
de que essa é a imagem correta. -
1:58 - 2:01O declínio da violência
é um fenómeno fractal. -
2:01 - 2:03Podemos constatá-lo ao longo de milénios,
-
2:03 - 2:06ao longo de séculos, ao longo de décadas
e ao longo de vários anos, -
2:06 - 2:09embora pareça ter ocorrido
um ponto de viragem -
2:09 - 2:12no início da Idade da Razão,
no século XVI. -
2:12 - 2:16É visível em todo o mundo,
embora não de forma homogénea. -
2:16 - 2:18É especialmente evidente no Ocidente,
-
2:18 - 2:22a começar na Inglaterra e na Holanda
na época do Iluminismo. -
2:22 - 2:26Vou levar-vos numa viagem
de diferentes escalas, -
2:26 - 2:28— desde a escala de milénios
até à escala de anos — -
2:28 - 2:30para tentar persuadir-vos disso.
-
2:30 - 2:34Até há 10 000 anos, todos os seres humanos
viviam como caçadores-recoletores, -
2:34 - 2:37sem povoações permanentes nem governos.
-
2:37 - 2:40É assim que normalmente se imagina
-
2:40 - 2:42uma situação de harmonia primordial.
-
2:42 - 2:48Mas o arqueólogo Lawrence Keeley,
ao observar as taxas de acidentes -
2:48 - 2:51entre os caçadores-recoletores
contemporâneos -
2:51 - 2:54— que são a nossa melhor fonte de provas
sobre este modo de vida — -
2:54 - 2:57chegou a uma conclusão bem diferente.
-
2:57 - 3:00Eis um gráfico que ele concebeu
-
3:00 - 3:04mostrando a percentagem de mortalidade
masculina causada por guerras -
3:04 - 3:08em várias sociedades de forrageamento,
ou de caça e recoleção. -
3:08 - 3:14As barras vermelhas correspondem
à probabilidade de um homem morrer -
3:14 - 3:18às mãos de outro homem, em vez de morrer
de causas naturais, -
3:18 - 3:22numa variedade de sociedades
de forrageamento -
3:22 - 3:25nas montanhas da Nova Guiné
e na Floresta Amazónica. -
3:25 - 3:28E elas variam de uma taxa
de quase 60% de probabilidade -
3:28 - 3:30de um homem morrer às mãos de outro homem
-
3:30 - 3:34para, no caso dos Gebusi,
apenas 15% de probabilidade. -
3:34 - 3:37A barrinha azul no canto inferior esquerdo
-
3:37 - 3:42mostra a estatística correspondente dos EUA
e da Europa, no século XX, -
3:42 - 3:46e inclui todas as mortes
das duas Guerras Mundiais. -
3:46 - 3:49Se a taxa de mortes em guerras tribais
-
3:49 - 3:51tivesse prevalecido durante o século XX,
-
3:51 - 3:55teria havido dois mil milhões de mortes
em vez de cem milhões. -
3:56 - 4:00Também à escala milenar,
podemos observar o modo de vida -
4:00 - 4:05das civilizações antigas tais como
as que são descritas na Bíblia. -
4:04 - 4:08Nesta suposta fonte
dos nossos valores morais -
4:08 - 4:12podemos ler as descrições
do que era esperado na guerra, -
4:12 - 4:15como a seguinte — de Números 31:
-
4:15 - 4:18"E pelejaram contra os madianitas,
como o Senhor ordenara a Moisés, -
4:18 - 4:21"e mataram todos os varões.
-
4:21 - 4:22"E disse-lhes Moisés:
-
4:22 - 4:24"Porque deixastes com vida
todas as mulheres? -
4:24 - 4:26"Matai, agora, todos os rapazes
-
4:26 - 4:29"e todas as mulheres
que coabitaram com um homem. -
4:29 - 4:32"Mas deixai viver as crianças
que não coabitaram com homem algum. -
4:32 - 4:35"deixem-nas viver e fiquem com elas."
-
4:35 - 4:40Por outras palavras,
matem os homens, matem os filhos, -
4:40 - 4:43se encontrarem alguma virgem,
deixem-na viver para que possam violá-la. -
4:43 - 4:47Podemos encontrar quatro ou cinco passagens
deste tipo na Bíblia. -
4:47 - 4:50Também na Bíblia podemos ver
que a pena de morte -
4:50 - 4:55era a punição aceite para crimes
como a homossexualidade, -
4:55 - 5:00o adultério, a blasfémia, a idolatria,
responder torto aos pais... -
5:00 - 5:01(Risos)
-
5:01 - 5:03... e apanhar lenha no sábado.
-
5:03 - 5:06Bem, vamos fazer zoom
-
5:06 - 5:09para uma ordem de grandeza abaixo
e observar a escala de séculos. -
5:09 - 5:12Embora não tenhamos dados estatísticos
-
5:12 - 5:16para as guerras de toda Idade Média
até os tempos modernos -
5:16 - 5:18— sabemos apenas
pela história convencional — -
5:18 - 5:21as evidências estiveram sempre
debaixo do nosso nariz, -
5:21 - 5:25revelando que houve uma redução em formas
socialmente sancionadas de violência. -
5:26 - 5:28Por exemplo,
qualquer história social revela -
5:28 - 5:32que a mutilação e a tortura eram
formas rotineiras de punição criminal. -
5:32 - 5:35O tipo de infração
que hoje em dia daria uma multa, -
5:35 - 5:39naqueles dias resultaria
em cortar a língua, -
5:39 - 5:42cortar as orelhas, cegar,
cortar uma mão, e assim por diante. -
5:43 - 5:47Havia inúmeras formas engenhosas
de penas capitais sádicas: -
5:47 - 5:50queimar na fogueira, estripar,
quebrar o corpo na roda, -
5:50 - 5:53ser dilacerado por cavalos,
e assim por diante. -
5:53 - 5:57A pena de morte era uma punição para
uma longa lista de crimes não-violentos: -
5:57 - 6:01criticar o rei, roubar um pedaço de pão.
-
6:01 - 6:05A escravidão, é claro, era o dispositivo
preferido para poupar trabalho, -
6:05 - 6:08e a crueldade era uma forma popular
de entretenimento. -
6:08 - 6:11Talvez o exemplo mais expressivo
fosse a prática de queimar gatos, -
6:11 - 6:16em que um gato era içado para um palco
e lançado a uma fogueira, -
6:16 - 6:21enquanto os espetadores riam histericamente
ao ver o gato uivar de dor, -
6:21 - 6:23e a ser queimado até a morte.
-
6:23 - 6:26E que dizer dos homicídios individuais?
-
6:26 - 6:28Neste caso existem boas estatísticas,
-
6:28 - 6:32pois muitos municípios
registavam a causa da morte. -
6:33 - 6:37O criminologista Manuel Eisner
-
6:37 - 6:40consultou todos os registos históricos
em toda a Europa -
6:40 - 6:42para verificar as taxas de homicídio
-
6:42 - 6:44em todas as aldeias, vilas,
cidades e condados -
6:44 - 6:48que conseguiu encontrar,
e complementou-as com dados nacionais, -
6:48 - 6:50quando as nações começaram
a registar dados estatísticos. -
6:50 - 6:54Usou uma escala logarítmica,
-
6:54 - 7:01a partir de 100 mortes
por 100 mil pessoas por ano, -
7:01 - 7:05que era aproximadamente
a taxa de homicídios na Idade Média. -
7:05 - 7:10E o valor decai para menos de 1 homicídio
-
7:10 - 7:13por cada 100 mil pessoas por ano
-
7:13 - 7:16em sete ou oito países europeus.
-
7:16 - 7:19Depois, há um ligeiro aumento
nos anos 60. -
7:19 - 7:23As pessoas que diziam que o rock 'n' roll
levaria à decadência dos valores morais, -
7:23 - 7:25afinal tinham alguma razão.
-
7:25 - 7:29Mas houve uma queda de,
pelo menos, duas ordens de grandeza -
7:29 - 7:32em homicídios desde a Idade Média
até ao presente, -
7:32 - 7:37e a curva ocorreu no início do século XVI.
-
7:37 - 7:39Vamos clicar na escala de décadas.
-
7:39 - 7:42De acordo com organizações
não-governamentais -
7:42 - 7:46que registam estas estatísticas,
desde 1945, na Europa e nas Américas, -
7:46 - 7:51tem-se verificado um declínio acentuado
nas guerras interestatais, -
7:51 - 7:55nos tumultos étnicos mortais ou em pogrons,
bem como em golpes militares, -
7:55 - 7:57mesmo na América do Sul.
-
7:57 - 8:00Mundialmente, tem havido
um declínio acentuado de mortes -
8:00 - 8:02em guerras interestatais.
-
8:02 - 8:06As barras amarelas aqui mostram o número
de mortes, por guerra, por ano, -
8:06 - 8:09a partir de 1950 até ao presente.
-
8:09 - 8:11E, como podem ver, a taxa de mortalidade
-
8:11 - 8:16cai de 65 mil mortes, por conflito,
por ano, nos anos 50, -
8:16 - 8:20para menos de 2 mil mortes, por conflito,
por ano, nesta década, -
8:20 - 8:22mesmo sendo horrível como é.
-
8:22 - 8:25Mesmo na escala de anos,
pode-se constatar um declínio da violência. -
8:25 - 8:28Desde o fim da Guerra Fria
houve menos guerras civis, -
8:28 - 8:30menos genocídios
-
8:30 - 8:32— de facto, houve uma redução de 90%
-
8:32 - 8:35desde os números elevados
do pós-II Guerra Mundial — -
8:35 - 8:38e até mesmo uma reversão
do aumento dos anos 60 -
8:38 - 8:40em homicídios e crimes violentos.
-
8:40 - 8:45Estes dados são retirados das Estatísticas
Criminais Uniformes do FBI. -
8:45 - 8:47Verificamos que há uma taxa
relativamente baixa de violência -
8:47 - 8:49nos anos 50 e 60.
-
8:49 - 8:52Em seguida, dispara para cima
durante várias décadas -
8:52 - 8:55e inicia um rápido declínio
a partir dos anos 90, -
8:55 - 9:00até voltar quase ao nível
em que estava em 1960. -
9:00 - 9:03Presidente Clinton,
se está aqui presente, obrigado. -
9:03 - 9:05(Risos)
-
9:04 - 9:07Então a questão é:
porque será que há tanta gente errada -
9:07 - 9:09sobre uma coisa tão importante?
-
9:09 - 9:11Eu acho que há uma série de razões.
-
9:11 - 9:13Uma delas é que possuímos
mais informações. -
9:13 - 9:18A Associated Press é melhor cronista
de guerras em todo o planeta -
9:18 - 9:21do que os monges do século XVI.
-
9:22 - 9:23Há uma ilusão cognitiva.
-
9:23 - 9:28Nós, os psicólogos cognitivos, sabemos
que, quanto mais facilmente -
9:28 - 9:30se memorizam detalhes específicos
de qualquer coisa, -
9:30 - 9:33maior probabilidade lhes é atribuída.
-
9:33 - 9:37As coisas que lemos no jornal,
com fotos sangrentas, -
9:37 - 9:41ficam mais gravadas na memória
do que relatos sobre a morte -
9:41 - 9:44de muito mais pessoas
na cama por velhice. -
9:45 - 9:49Há uma dinâmica na opinião
e nos mercados de advocacia: -
9:49 - 9:54Nunca ninguém atraiu observadores,
advogados e doadores, por dizer: -
9:54 - 9:56"As coisas parecem estar
cada vez melhores." -
9:56 - 9:58(Risos)
-
9:58 - 10:01Há um sentimento de culpa quanto
ao tratamento dos povos indígenas -
10:01 - 10:04na vida intelectual moderna,
e uma relutância em reconhecer -
10:04 - 10:06que poderá haver algo de bom
na cultura ocidental. -
10:06 - 10:10E, claro, a nossa mudança
a nível de padrões -
10:10 - 10:12pode superar a mudança
a nível de comportamento. -
10:12 - 10:14Uma das razões por que a violência caiu
-
10:14 - 10:18foi que as pessoas se enjoaram
da carnificina e crueldade do seu tempo. -
10:18 - 10:20Isto é um processo
que parece ser contínuo, -
10:20 - 10:24mas se ultrapassa o comportamento
segundo a perspetiva dos padrões da época, -
10:24 - 10:27as coisas parecem sempre mais bárbaras
do que seriam se vistas -
10:27 - 10:29da perspetiva dos padrões históricos.
-
10:29 - 10:32Pelo que hoje em dia
ficamos perturbados, e com razão, -
10:32 - 10:38se um punhado de assassinos
são executados por injeção letal, -
10:38 - 10:41no Texas, após um processo
de recurso durante 15 anos. -
10:41 - 10:46Não consideramos que, há 200 anos,
eles podiam ter sido queimados na fogueira -
10:46 - 10:50por criticar o rei depois de um julgamento
com a duração de 10 minutos -
10:50 - 10:53e de facto, isso repetia-se
vezes sem conta. -
10:54 - 10:56Hoje olhamos para a pena capital
-
10:56 - 11:00como prova de quão baixo podemos descer
em termos de comportamento, -
11:00 - 11:02em vez de pensarmos em como
os nossos padrões subiram. -
11:03 - 11:05Bom, por que terá a violência diminuído?
-
11:06 - 11:10Ninguém sabe realmente,
mas eu li quatro explicações, -
11:10 - 11:14e penso que todas elas
têm alguma plausibilidade. -
11:14 - 11:17A primeira é:
talvez Thomas Hobbes estivesse certo. -
11:17 - 11:19Foi ele quem disse
que a vida num estado de natureza -
11:19 - 11:23era "solitária, pobre, sórdida,
embrutecida e curta". -
11:24 - 11:26"Não porque", argumenta,
-
11:26 - 11:29"os seres humanos tenham
uma sede primordial de sangue, -
11:29 - 11:33"ou um instinto agressivo
ou um imperativo territorial, -
11:33 - 11:35mas por causa da lógica da anarquia.
-
11:35 - 11:38Num estado de anarquia
há uma tentação constante -
11:38 - 11:40de invadir os vizinhos preventivamente,
-
11:40 - 11:42antes que eles nos invadam primeiro.
-
11:42 - 11:45Mais recentemente,
Thomas Schelling propôs a analogia -
11:45 - 11:47de um proprietário
que ouve um ruído na cave. -
11:47 - 11:50Como bom americano,
tem uma pistola na mesa de cabeceira, -
11:50 - 11:52pega na arma e desce as escadas.
-
11:52 - 11:55E que vê ele senão um assaltante
com uma arma na mão? -
11:55 - 11:57Cada um deles está a pensar:
-
11:57 - 12:00"Eu não quero matar este gajo,
mas ele vai matar-me. -
12:00 - 12:04"Talvez seja melhor disparar sobre ele
antes que ele dispare sobre mim, -
12:04 - 12:07"até porque, mesmo que ele
não me queira matar, -
12:07 - 12:10"deve estar preocupado
com a possibilidade de eu o matar -
12:10 - 12:11"antes que ele me mate."
-
12:12 - 12:17Os povos caçadores-recoletores passam
explicitamente por este raciocínio, -
12:17 - 12:21e atacam frequentemente os seus vizinhos
com medo de serem atacados primeiro. -
12:22 - 12:26Uma maneira de lidar com este problema
é pela dissuasão: -
12:26 - 12:30não atacando primeiro, mas possuindo
uma política anunciada publicamente -
12:30 - 12:33de que haverá uma feroz retaliação
se ocorrer uma invasão. -
12:33 - 12:36O único problema é que essa política
-
12:36 - 12:39pode ser considerada como uma bazófia,
-
12:39 - 12:42e, portanto, só pode funcionar
se for credível. -
12:42 - 12:45Para torná-la credível,
é necessário vingar todos os insultos -
12:45 - 12:50e acertar todas as contas, o que leva
a ciclos de vinganças sangrentas. -
12:50 - 12:53A vida torna-se um episódio
dos "Sopranos". -
12:53 - 12:56A solução de Hobbes, o "Leviatã", era que,
-
12:56 - 12:59se a autoridade
para o uso legítimo de violência -
12:59 - 13:04for atribuída a um único
órgão democrático — um leviatã — -
13:04 - 13:08então um tal estado poderá reduzir
a tentação de ataque, -
13:08 - 13:10porque qualquer tipo de agressão
será punido, -
13:10 - 13:14anulando assim o seu proveito.
-
13:14 - 13:17Isso eliminaria a tentação
de invadir preventivamente -
13:17 - 13:20por medo de se ser atacado primeiro.
-
13:20 - 13:23E elimina a necessidade de um estado
de prontidão avançada para a retaliação -
13:23 - 13:26para tornar credível
a sua ameaça dissuasiva. -
13:26 - 13:29Por conseguinte, isso conduziria
a um estado de paz. -
13:29 - 13:35Eisner — que mostrou as taxas de homicídio
que não conseguiram ver no slide há pouco — -
13:35 - 13:39argumentou que o momento
da queda de homicídios na Europa -
13:39 - 13:43coincidiu com o surgimento
de estados centralizados, -
13:43 - 13:46o que corrobora em parte
a teoria do Leviatã. -
13:46 - 13:50Outro elemento que corrobora a teoria
é vermos hoje em dia explosões de violência -
13:50 - 13:55em zonas de anarquia:
em estados falhados, impérios em ruínas, -
13:55 - 13:59regiões fronteiriças, máfias,
gangues de rua, etc. -
14:00 - 14:03A segunda explicação é que,
em muitas épocas e lugares, -
14:03 - 14:07há um sentimento generalizado
de que a vida não vale nada. -
14:07 - 14:11Antigamente, quando o sofrimento
e a morte precoce eram comuns -
14:11 - 14:16na vida das pessoas, havia menos escrúpulos
em infligi-los a outras pessoas. -
14:16 - 14:19E à medida que a tecnologia
e a eficácia económica -
14:19 - 14:21tornam a vida mais longa e agradável,
-
14:21 - 14:24dá-se um valor maior à vida em geral.
-
14:24 - 14:27Este foi um argumento
do cientista político James Payne. -
14:27 - 14:32Uma terceira explicação invoca o conceito
de um "jogo de soma não-zero", -
14:32 - 14:36e foi elaborada no livro "Não Zero",
escrito pelo jornalista Robert Wright. -
14:36 - 14:39Wright aponta para o facto
de que, em certas circunstâncias, -
14:39 - 14:43a cooperação, incluindo a não-violência,
pode beneficiar ambas as partes -
14:43 - 14:46numa interação, como os ganhos
numa troca comercial -
14:46 - 14:50quando duas entidades negoceiam
os seus excedentes e ambas saem a ganhar, -
14:50 - 14:53ou quando ambas as partes baixam as armas
-
14:53 - 14:56e dividem os chamados dividendos da paz
-
14:56 - 14:59cujo resultado leva a que não tenham
de lutar o tempo todo. -
14:59 - 15:01Wright argumenta que a tecnologia aumentou
-
15:01 - 15:06o número de jogos de soma positiva em que
os seres humanos tendem a envolver-se -
15:06 - 15:09ao permitir o comércio de bens,
serviços e ideias -
15:09 - 15:13entre áreas separadas por longas distâncias
e entre grupos maiores de pessoas. -
15:13 - 15:17O resultado é que as outras pessoas
são mais valiosas vivas do que mortas, -
15:17 - 15:20e a violência diminui
por motivos egoístas. -
15:20 - 15:22Tal como diz Wright:
-
15:22 - 15:25"Entre as muitas razões pelas quais
eu acho que não devemos bombardear -
15:25 - 15:28"os japoneses é que eles construíram
o meu monovolume." -
15:28 - 15:29(Risos)
-
15:29 - 15:34A quarta explicação está bem resumida
o título de um livro -
15:34 - 15:37chamado "O Círculo em Expansão",
do filósofo Peter Singer, -
15:37 - 15:41que argumenta que a evolução
legou aos humanos um sentido de empatia: -
15:41 - 15:45uma capacidade de considerarmos
os interesses de outras pessoas -
15:45 - 15:48como sendo comparáveis
com os nossos próprios interesses. -
15:48 - 15:51Infelizmente, por defeito,
apenas aplicamos esta empatia -
15:51 - 15:53num círculo muito restrito
de amigos e familiares. -
15:53 - 15:57As pessoas fora desse círculo
são tratadas como sub-humanas, -
15:57 - 15:59e podem ser exploradas com impunidade.
-
15:59 - 16:03Mas ao longo da história,
o círculo tem-se expandido. -
16:03 - 16:05Podemos verificar,
em documentos históricos, -
16:05 - 16:08que se tem expandido da vila,
para o clã, para a tribo, -
16:08 - 16:11para a nação, para outras raças,
para ambos os sexos -
16:11 - 16:14e, seguindo os argumentos de Singer,
é algo que devemos estender -
16:14 - 16:16a outras espécies conscientes.
-
16:16 - 16:22A questão é: Se isso aconteceu,
o que tem alimentado essa expansão? -
16:22 - 16:24Há uma série de possibilidades.
-
16:24 - 16:29Círculos crescentes de reciprocidade
nos termos que Robert Wright defende. -
16:29 - 16:33A lógica da regra de ouro:
quanto mais uma pessoa pensar e interagir -
16:33 - 16:37com outras pessoas,
mais ela percebe que é insustentável -
16:37 - 16:41privilegiar os seus interesses
sobre os dos outros, -
16:41 - 16:43pelo menos se se pretende ser ouvido.
-
16:43 - 16:48Não podemos dizer que temos interesses
mais especiais do que os de outrem, -
16:48 - 16:51tal como não podemos dizer
que o ponto específico -
16:51 - 16:53em que nos encontramos
é uma parte única do universo -
16:53 - 16:56só porque por acaso estamos
neste mesmo ponto, neste mesmo instante. -
16:57 - 16:59A expansão pode também ser alimentada
pelo cosmopolitismo: -
16:59 - 17:05por histórias, jornalismo, memórias,
ficção realista, viagens e alfabetização, -
17:05 - 17:09que permitem a uma pessoa
projetar-se na vida de outras pessoas -
17:09 - 17:12que anteriormente teria talvez tratado
como sub-humanas, -
17:12 - 17:18e também perceber a contingência acidental
da sua própria situação na vida, -
17:18 - 17:20no sentido de "estou sujeito ao destino".
-
17:21 - 17:24Seja qual for a sua causa,
o declínio da violência -
17:24 - 17:26tem profundas implicações.
-
17:26 - 17:29Devemos obrigar-nos
a não perguntar apenas: -
17:29 - 17:33"Porque é que há guerra?"
mas também "Porque é que há paz?" -
17:32 - 17:36Não só "O que estamos a fazer de errado?"
mas também "O que fizemos certo?" -
17:37 - 17:39Porque, de facto,
temos feito coisas certas, -
17:39 - 17:41e seria bom descobrir o quê.
-
17:41 - 17:43Muito obrigado.
-
17:43 - 17:47(Aplausos)
-
17:53 - 17:56Chris Anderson:
Gostei imenso desta palestra. -
17:56 - 17:58Creio que muitos aqui na sala diriam
-
17:58 - 18:01que essa expansão de que Peter Singer fala
-
18:01 - 18:04também é impulsionada pela tecnologia,
-
18:04 - 18:07por uma maior visibilidade do outro,
e o sentido de que o mundo -
18:07 - 18:09se está a tornar mais pequeno.
-
18:09 - 18:11Será que isso também tem
um fundo de verdade? -
18:11 - 18:15Steven Pinker: Muito. Isso enquadrar-se-ia
na teoria de Wright, -
18:15 - 18:19no sentido em que nos permite desfrutar
dos benefícios da cooperação -
18:19 - 18:21em círculos cada vez maiores.
-
18:21 - 18:26Mas creio que nos ajuda igualmente
a imaginar como é ser outra pessoa. -
18:26 - 18:29Acho que quando lemos
sobre as torturas horríveis -
18:29 - 18:31que eram comuns na Idade Média, pensamos:
-
18:31 - 18:33"Como é que eles eram capazes daquilo,
-
18:33 - 18:35"como é que eram capazes
de não sentir empatia -
18:35 - 18:38com a pessoa que estavam a desmembrar?
-
18:38 - 18:41Mas claramente, na opinião deles,
a pessoa era apenas um ser estranho -
18:41 - 18:44que não tinha sentimentos como os deles.
-
18:44 - 18:46Qualquer coisa, creio eu,
que torne mais fácil -
18:46 - 18:48imaginar trocar de lugar com outra pessoa
-
18:48 - 18:51aumenta logo a consideração moral
para com essa outra pessoa. -
18:51 - 18:54CA: Adorava que todos
os dirigentes da comunicação social -
18:54 - 18:56ouvissem esta palestra no próximo ano.
-
18:56 - 18:57Obrigado.
-
18:57 - 18:58SP: O prazer é meu.
- Title:
- O surpreendente declínio da violência
- Speaker:
- Steven Pinker
- Description:
-
Steven Pinker acompanha o declínio da violência desde os tempos bíblicos até ao presente, e argumenta que, embora possa parecer ilógico e até mesmo obsceno se considerarmos a situação no Iraque e em Darfur, nós estamos a viver o período mais pacífico de toda a existência da nossa espécie.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:58
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The surprising decline in violence | ||
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Francisco Dubiela added a translation |