Aprimorando o desenvolvimento da primeira infância com palavras | Dra. Brenda Fitzgerald | TEDxAtlanta

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Muito obrigada.

Há um profundo indicador
de saúde e prosperidade

que pode ser determinado
aos três anos de idade.

E esse indicador é a linguagem.

A linguagem é a essência
do que significa ser humano.

Animais conseguem fazer barulhos
ou gestos para se comunicarem conosco.

Posso garantir que meu gato

pode me fazer levantar da cama
às 5 horas da manhã

porque ele está com fome,

mas seres humanos são mais hábeis

e possuem uma maior facilidade
com a linguagem.

Posso falar que o idioma
no dicionário de inglês da Oxford

tem mais de 600 mil palavras diferentes

que os norte-americanos
e os ingleses podem conhecer.

Muitas pessoas falam mais de uma língua.

Então, a habilidade dos humanos
é enorme, e nunca se viu

um chimpanzé ou um rinoceronte
lendo um livro,

mas os humanos leem livros normalmente,

e nós entendemos a língua.

Bebês vêm para este mundo

altamente programados para aprender
todas essas palavras diferentes,

para aprender a essência da língua,

porque a língua é o que nos faz
humanos e, francamente,

a língua é o que nos faz sobreviver.

Há um surto de crescimento,

um aumento enorme na capacidade do cérebro
de pelo menos um terço

que acontece na parte final da gravidez,

logo antes de os bebês virem ao mundo.

E posso dizer que os bebês são programados
para aprender línguas diferentes.

Posso lhes dizer

que o mais importante sobre os bebês
não é apenas a capacidade inata,

mas sim como aprendemos a língua
através de nossos cuidadores.

Isso significa que mães e bebês
têm uma experiência única.

Posso falar do ponto de vista maternal

que vivi isso em minha própria vida.

Bem, eu sou uma ginecologista obstetra;

fiz o parto de muitos
e muitos e muitos bebês,

mas a experiência de fazer
o parto do bebê de outra pessoa

foi completamente diferente
da minha própria gravidez.

Tenho que contar que, quando engravidei,

eu já era médica.

Eu sabia que queria
ser médica desde os oito anos.

Eu amava isso.

Eu era uma cirurgiã muito boa.

Eu nem tinha certeza
se eu queria filhos.

Então, fiquei grávida,

por escolha

e, de repente,

estava inteiramente ciente
da minha filha ainda não nascida.

De repente,

esta mulher que tinha estado
interessada no mundo exterior

estava concentrada apenas
na minha barriga de grávida.

Eu não estava interessada em nada

a mais de três metros de distância de mim.

A evidência da programação
é ainda mais profunda em bebês.

O que estamos olhando é
o desenvolvimento da linguagem,

porque a linguagem é a interação
entre o cuidador e o bebê.

Este experimento do Centro
de Desenvolvimento Infantil de Harvard

é sobre a importância
da programação que existe.

Isso chama-se experimento
do "Rosto Imóvel."

O que acontece

é que as mães são instruídas
a virar o rosto

e depois a olhar para a criança
e ficar com o rosto imóvel.

Vejam o que acontece com o bebê.

O que vamos ver acontecer
é, primeiro, ela tenta chamar a atenção.

"Haha" sorrisos, arrulhos, aponta --
para conseguir uma resposta --,

aponta, depois faz barulhos, "ha, ha, ha",

"ma, ma, ma," então ela estende a mão.

Isso é importante, isso é inato.

E de repente ela começa a ficar frustada.

Nada está chamando atenção,
há esse grito "Ahhhhh".

Ela tenta se consolar.

E então ela olha para longe
tenta se desligar,

faz mais uma tentativa final
para chamar a atenção da mãe.

E então ela desiste,
chorando sem esperança.

É instintivo.

Os experimentos do rosto imóvel

são claros indicadores do instinto.

Então, qual é a importância?

Qual é a consequência a longo prazo
desse tipo de habilidade biológica?

Por que é importante que uma mãe
se concentre em seu bebê,

ou que um bebê se concentre
e exija a atenção de sua mãe?

O efeito a longo prazo
de todas essas coisas primitivas

foi estudado num trabalho
brilhante de Hart e Risley.

Eles eram pesquisadores que já
estiveram na guerra contra a pobreza.

Estiveram envolvidos
na guerra contra pobreza,

e eles disseram:

"Há um problema aqui,

porque nós não estamos vendo

com essas primeiras
intervenções educativas,

embora sejam boas,
embora haja alguns resultados,

nós realmente não estamos vendo
o que nós queríamos ver".

Então, eles disseram:

"Podemos observar mais precocemente?

Há algo acontecendo antes de os bebês
chegarem ao jardim de infância,

antes de irem para primeira série?

Há algo de importante acontecendo?"

O trabalho foi extremo com intensa
observação da vida das famílias.

Eles foram para as casas de 42 famílias,

e observaram essas famílias intensamente.

Eles observaram essas famílias
uma hora por mês, todos os meses,

a partir do momento em que seus filhos
tinham sete meses de idade

até o final do terceiro ano.

E o que eles descobriram,

como diz o título da minha palestra,

realmente não era o que eles esperavam.

Em primeiro lugar, as crianças
estavam bem cuidadas.

Então esse não era o problema;

a diferença nas crianças
não tinha nada a ver

com não ter as necessidades
físicas supridas.

Em segundo lugar,
não tinha a ver com a raça,

não tinha a ver com o gênero.

E aqui está o segredo:

não tinha a ver com dinheiro.

Não foi determinado por quantos
brinquedos os pais poderiam comprar.

Não foi determinado
pelo bairro em que moravam.

Não foi determinado
pelo tamanho da casa em que moravam.

Foi determinado pela interação
dos pais com a criança.

E a interação que eles viram
depois de três anos de observação

foi 30 milhões de palavras a mais

que aquelas famílias,
identificadas como famílias profissionais,

30 milhões de palavras
a mais que aquelas famílias,

que aquelas mamães e papais
disseram aos seus filhos

a mais do que no caso
das crianças na pobreza.

A realidade para aquelas
famílias na pobreza

é que aqueles pais estavam dizendo
apenas cerca de 600 palavras por hora.

Para as famílias profissionais,
foram mais de 2 mil palavras por hora.

Porque as famílias profissionais

estavam tendo conversas
constantes com seu bebê.

"Ah, sua fralda precisa ser trocada.

Ah, meu Deus, vou cuidar disso."

"Ah, olhe esses dedinhos do pé.
Eles não são maravilhosos?

Ah, e olhe esse umbigo.
Essa é a coisa mais fofa que eu já vi.

Você é meu filhinho amado."

É, 30 milhões de palavras a mais.

Isso é importante porque
o desenvolvimento neurológico do cérebro,

o desenvolvimento físico real
do cérebro, depende de palavras.

Cada vez que uma palavra é dita,

aumenta o neurônio,

estimula o neurônio.

E, quando essa palavra é repetida,

esse mesmo caminho é estimulado novamente,

e fica cada vez mais forte,

e ramifica-se, então há
capacidade de aprender.

E, se essas palavras não são repetidas,

o oposto ocorre.

Esses neurônios encolhem e morrem

e vão embora.

A palavra científica para isso é "poda".

Mas o que isso significa é
que ela diminui a capacidade de aprender.

Agora tenho que contar mais uma coisa:
não é só ouvir as palavras.

Porque, no caso de bebês colocados
na frente de televisões,

é como o Experimento do Rosto Imóvel,

eles não aprendem.

Eles não aprendem,
porque é a interação que importa.

E crianças que são surdas
podem aprender a língua.

"Obrigado"

na língua de sinais é linguagem,
é um símbolo que significa algo.

É linguagem.

Então não é a audição,

e sim a interação que é o mais importante.

E isso é extremamente importante.

Este é um gráfico

do efeito dessas 30 milhões de palavras
diferentes sobre essas crianças.

Ao final dos três anos,

os bebês de pais que dependiam
da assistência social sabiam 500 palavras,

enquanto os bebês de famílias
profissionais sabiam mais de mil palavras.

Faz diferença.

Esse processo é a nutrição da linguagem.

E o que isso significa é

que a linguagem é absolutamente importante
para o desenvolvimento do cérebro.

A linguagem é absolutamente
a base da aprendizagem humana.

Se pensarmos sobre isso,

o que a nutrição da linguagem é realmente

é o desenvolvimento de neurônios,

o desenvolvimento do cérebro

é absoluta e biologicamente
dependente da linguagem,

o que leva diretamente
para a capacidade de ler,

o que leva diretamente
para a formatura do ensino médio,

o que leva à educação universitária,

ou à educação do ensino médio.

A importância de aprender a ler,

a importância dessa nutrição linguística,

é que houve efeitos profundos
de longo prazo.

Não foi apenas a curto prazo,
foi a longo prazo.

Eles observaram essas mesmas
crianças cinco anos depois

e descobriram que podiam perceber
que a lacuna havia aumentado

entre essas crianças.

Passou de 500 para mil palavras

para a capacidade de passar
em testes padronizados na terceira série.

Por que esse marco é tão importante?

A terceira série é importante
em toda a aprendizagem humana

porque, até a terceira série,
aprendemos a ler.

Depois da terceira série,

lemos para aprender.

Se a pessoa não consegue ler
em nível de terceira série,

ela não consegue ler o texto,

então não consegue acompanhar.

Pode ser que ela nunca consiga.

Aquelas crianças que não estão lendo
em nível de terceira série

são quatro vezes mais propensas
a não se formarem no ensino médio.

E lembram desse modelo
de nutrição da linguagem?

Se elas não podem ler,

elas não se formam no ensino médio,

e isso leva diretamente a um problema
com sucesso na sociedade.

Se a criança fica pra trás em leitura,

há uma chance seis vezes maior
de ela não se formar no ensino médio.

Agora, o problema na Geórgia é

que 70% das crianças do estado
não leem no nível da terceira série,

70%.

Isso tem profundas
implicações para o estado

e profundas implicações
para os indivíduos envolvidos.

Temos o "American's National Health
Rankings", um "ranking" de saúde dos EUA.

E, nesses rankings de saúde,

existem dois itens
que não me deixam dormir.

Dois itens que, como secretária
estadual de saúde, me preocupam.

Um deles é a mortalidade infantil,
a prematuridade e tudo isso.

E fizemos alguns progressos aí,

mas essa é uma conversa para outro dia.

O outro item em que eles
estavam no nível mais baixo,

em que estamos
entre os dez piores do país,

tem a ver com todo esse negócio
sobre alfabetização na terceira série.

Nós temos altos números
de crianças na pobreza,

altos números de fracasso
em se formar no ensino médio,

altos números de disparidade de renda,

falta de seguro de saúde,

subemprego,

desemprego.

Tudo isso causado

pela nossa falta de capacidade
de ler no nível da terceira série.

Além disso, como titular da saúde,

posso falar, isso é inaceitável,

não é o que se espera,

especialmente porque
sei que não é o bairro,

não é a renda,

não é a genética.

É a exposição à linguagem,

a exposição precoce à linguagem.

Estamos envolvidos
numa parceria público-privada

chamada "Talk with me baby",
fale comigo, bebê.

E isso é para resolver esse problema
que temos aqui na Geórgia.

Essa é uma parceria público-privada.

Envolve a United Way,

envolve a Fundação Annie E. Casey,

envolve saúde pública,

envolve o Departamento de Assistência
e Aprendizagem da Primeira Infância.

Mas com o mesmo objetivo;

tudo isso é para mudar o paradigma.

Por exemplo, a Fundação Marcus,
que é um das nossas parceiras,

está desenvolvendo ferramentas
para ensinar cuidadores de saúde,

ensinar enfermeiros, hospitais e médicos
a conversar com seus pacientes sobre isso,

a importância da aprendizagem precoce,

e também ensinar
seus pacientes como fazê-lo.

Na saúde pública,

vamos diretamente até as mães,

porque, na saúde pública,

nós temos um programa
interessante chamado WIC.

O WIC é um programa de nutrição
para mulheres, bebês e crianças.

O WIC é diferente de um programa
social tipo bolsa-alimentação.

No WIC, não só se pega
um cartão de plástico

e vai ao supermercado fazer o que quiser.

No WIC, a pessoa tem que vir nos ver

a cada três meses
para falar com um nutricionista.

E ela só pode comprar
certos alimentos com o seu cartão WIC.

Vemos isso como uma oportunidade única
para levar nutrição alimentar,

que é tão importante
para os nossos cidadãos deste estado,

e conversar com eles
sobre nutrição da linguagem.

E tem muita gente no WIC,

50% a 60% dos bebês
da Geórgia estão no WIC...

50% a 60%.

E todas aquelas mães de baixo risco.

E o WIC está em todo lugar,

há 159 condados na Geórgia,

e nós temos 159 ou mais
escritórios do WIC na Geórgia.

Nós temos um escritório WIC
capaz de alcançar essas pessoas,

em todos os lugares na Geórgia.

Não há um único lugar na Geórgia
que não tenha um escritório do WIC.

Nós contratamos a Fundação Marcus
para criar alguns vídeos,

e esses vídeos serão
reproduzidos nas clínicas WIC.

E eles vão dizer a essas jovens mães,

essas jovens mães carentes,

essas mães na pobreza, que estamos
voltando aos estudos originais,

sobre a importância de nutrição alimentar.

Eles vão dizer a essas mães como fazer,

porque não é só ficar falando:

"Converse com seu bebê
e tudo vai dar certo".

Existem sutilezas que ela precisa saber,

e esses vídeos são pensados para isso.

Vai dizer coisas

tais como: o bebê nasce
reconhecendo a voz de sua mãe,

portanto é preciso começar
a conversar com seu bebê

quando ele ainda está no útero.

Então este programa foi projetado
para chegar a todas essas mães.

Até agora, o que fizemos foi
querer saber o que funciona;

acho que sim,

mas o que queremos saber
é se realmente funciona.

Então nós avaliamos

o número médio de palavras que as crianças
em nossa clínica WIC sabem.

E vamos começar com os vídeos,

e vamos acoplá-lo ao reforço --

lembram das visitas a cada três meses
das mulheres grávidas e crianças?

Vamos reforçar isso
com a nutrição, dizendo a elas:

"A nutrição alimentar é importante,

mas a nutrição linguística pode ser
ainda mais importante para o seu bebê ".

E quando essa mamãe
vai da clínica WIC para casa,

ela vai levar um livro.

Eu realmente acho...

que isso vai mudar a dinâmica
aqui na Geórgia.

Posso afirmar

que tudo tem a ver com a linguagem.

O conceito mais importante
é o desenvolvimento da linguagem.

Sei que a Comissão de Orçamento
da Câmara dos Deputados

recentemente fez um estudo sobre
a avaliação da guerra contra a pobreza

que foi iniciada nos anos 1960,

e, de acordo com a comissão,

nós gastamos US$ 5 trilhões.

Foi isso que aconteceu
com a taxa de pobreza.

Em 1965, quando começou,

a taxa de pobreza era 17,3.

Em 2012, depois de US$ 5 trilhões,

ela era 15.

Isso não é muito progresso.

Digo a vocês que acho que o problema é

que não procuramos a resposta
para o problema cedo o suficiente,

e nós não estávamos incluindo a linguagem.

Nós temos que incluir a linguagem.

A linguagem é a base para resolver
o problema da pobreza.

A expectativa de vida na época de Cristo
era de 20 a 30 anos.

A expectativa de vida para seres humanos
mil anos depois era de 20 a 30 anos.

Hoje, vocês sentados aí,

a sua expectativa é de 80 anos ou mais.

Vocês sobreviveram ao nascimento,
a aprender a dirigir na adolescência,

têm uma grande chance
de viver até 80 ou mais.

Essa mudança na expectativa de vida

não é por causa de cirurgias
de bypass ou tomografias.

Bypass e tomografias são ótimas;

elas podem estender um ano ou dois.

Mas essas mudanças transformacionais

são de iniciativas de saúde pública
mais básicas, primárias, primitivas.

Essas mudanças na expectativa
de vida são de água limpa,

e um esgoto eficaz,

e vacinas,

e o desenvolvimento de antibióticos.

Posso lhes dizer que, em 1900,

as coisas que nos matavam,

os três assassinos de humanos em 1900,

eram pneumonia, tuberculose e diarreia.

E eu também posso lhes dizer

que as coisas que eu mencionei,

água limpa, esgotos,
vacinas, antibióticos,

são as responsáveis pela mudança
esperada na expectativa de vida.

Também posso lhes dizer

que eu acredito

que estamos à beira da próxima
mudança transformacional

em saúde pública.

Essa mudança transformacional,

eu realmente acredito,

é a compreensão da importância
do desenvolvimento da linguagem,

e a determinação de que tenhamos

o desenvolvimento precoce da linguagem
absolutamente universal e eficaz.

Minha mensagem como titular
de saúde da Geórgia hoje é muito simples,

mas acho que é importante.

E minha mensagem para vocês é:

conversem com seu bebê.

Obrigada.

(Aplausos)