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[Sino]
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[Sino]
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[Sino]
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[Thay faz uma vénia para entrar]
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Querida sangha, hoje é dia 29
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de julho
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de 2001.
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Estamos atualmente no Templo do Néctar da Compaixão
(Cam Lộ), Lower Hamlet, Plum Village.
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Há cerca de seis anos,
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Thay foi...
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numa digressão de ensinamentos pela Itália,
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e passou por uma...
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região onde se cultivavam apenas oliveiras.
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Em França, parecia que não tínhamos oliveiras.
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Provavelmente havia algumas no...
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sul.
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Mas em Itália, havia muitas, muitas oliveiras.
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Thay apercebeu-se de que...
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as árvores nesses olivais
cresciam de uma forma bastante curiosa.
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Em vez de serem plantadas separadamente,
essas árvores cresciam em grupos de 3 ou 4.
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Não cresciam isoladas, mas sim
em grupos de 3 ou 4 no mesmo local.
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Essas oliveiras ainda eram jovens.
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Parecia que tinham apenas...
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7 ou 8 anos de idade.
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Mas quando voltámos a perguntar, disseram-nos que,
-
7 ou 8 anos antes,
tinha havido um inverno muito rigoroso,
-
e todas as oliveiras daquela região morreram.
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Por isso, tiveram de as cortar
todas pela base do tronco.
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A parte acima do solo morreu, mas as raízes
das oliveiras continuaram vivas. Então, depois de cortarem cada uma
-
pela base do tronco,
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das raízes de uma única oliveira-mãe,
nasceram 3 ou 4 árvores-filhas.
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Assim, 9 ou 10 anos depois, vemos que
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as oliveiras cresceram em grupos.
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À vista desarmada, parecia
que havia 3 ou 4 oliveiras.
-
Mas olhando profundamente, essas 3 ou 4 árvores
eram, na verdade, apenas uma, todas a brotar do mesmo sítio.
-
Estávamos enganados, pensávamos que eram 3 ou 4 árvores separadas.
Na verdade, todas tinham as mesmas raízes.
-
Digamos que,
-
se a primeira oliveira tem ciúmes da segunda, e
a segunda se mete numa briga com a terceira,
-
seria muito engraçado, porque são uma só árvore
-
mas comportam-se como se fossem 3 ou 4.
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Nelas existe discriminação.
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"Eu sou uma oliveira, e
tu és outra oliveira".
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A verdade é que aquelas 3 ou 4 oliveiras
são apenas uma árvore.
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Perguntamo-nos se as oliveiras terão ciúmes umas das outras,
ou se ficam zangadas umas com as outras, mas...
-
muitos jovens
-
e muitos mais velhos —
-
apesar de virem da mesma raiz — continuam
com ciúmes uns dos outros e zangados entre si.
-
Comportam-se como se fossem pessoas diferentes,
sem nada em comum.
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Não sabem que todas brotam da mesma raiz.
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Por isso, acabam divididas por aquilo a que chamamos
"discriminação" e "pensamento dualista."
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"Phân biệt kỳ thị" em vietnamita
é "discriminação" em inglês.
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É essa discriminação que nos divide,
que nos faz ver o outro como inimigo
-
e não nos amar uns aos outros.
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Por vezes, irmãos e irmãs de sangue
dentro de uma mesma família veem-se como inimigos.
-
Por isso praticamos para
olhar profundamente e ver por nós mesmos
-
que todos nos manifestamos
a partir da mesma origem e raiz.
-
Quando conseguimos ver por nós mesmos que
todos nos manifestamos da mesma fonte,
-
podemos remover essa discriminação,
-
e teremos um tipo de sabedoria muito especial
chamado "a sabedoria da não-discriminação."
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A sabedoria da não-discriminação significa
a sabedoria em que não existe discriminação
-
...nem parcialidade. Isto é muito belo.
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"Trí vô phân biệt", ou
"a sabedoria da não-discriminação",
-
é um termo que devemos conhecer de cor
-
porque na escola não nos ensinam este termo.
-
A sabedoria da não-discriminação.
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Em sânscrito, é nirvikalpa-jñāna.
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"Vikalpa" significa "discriminação."
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"Nir" significa "não."
-
E "jñāna" significa "sabedoria."
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Temos um tipo de sabedoria que distingue,
-
"Isto é um girassol,
-
e isto é um livro.
-
Um girassol é diferente de um livro."
-
Esse tipo de distinção e discriminação
por vezes é útil. Porque nela,
-
não há pensamento dualista,
-
não há parcialidade.
-
Podemos apenas distinguir,
"Isto é uma cenoura, aquilo é um tomate."
-
Isso também é um tipo de sabedoria, chamado
"a sabedoria da discriminação",
-
que muitas vezes é bastante útil.
-
Mas, mais profundamente, temos outro tipo
de sabedoria, chamada "a sabedoria da não-discriminação",
-
ou "a sabedoria da não-dualidade."
-
Este é um tipo de sabedoria muito importante.
-
Na escola, aprendemos muito
sobre a sabedoria da discriminação.
-
Mas num mosteiro, precisamos de aprender
outro tipo de sabedoria, chamada...
-
"a sabedoria da não-discriminação."
-
É o tipo de sabedoria que não trata
os outros como inferiores, superiores ou iguais.
-
Não dizemos,
-
"Eu não sou aquela pessoa. Ela é branca,
e eu sou negra.
-
Eu não gosto de pessoas brancas,
só gosto de pessoas negras."
-
Ou: "Aquela pessoa é negra,
e eu sou branca.
-
Só gosto de pessoas brancas,
não gosto de pessoas negras."
-
Isso chama-se...
-
discriminação baseada no pensamento dualista.
-
Dizemos: "Eles são judeus,
-
mas eu não sou judeu. Sou palestiniano."
-
Isso é discriminação baseada na dualidade.
E se uma pessoa judia disser:
-
"Sou judeu, não sou palestiniano", isso é
discriminação baseada na dualidade.
-
Os dois lados fazem sofrer um ao outro.
A verdade é que,
-
todos vimos da mesma origem e raiz.
-
No Islão, assim como no Judaísmo,
-
aprendemos que todos nascem da mesma raiz.
-
Todos vêm de Allah, todos...
-
vêm de Deus — uma fonte, uma origem.
-
E, no entanto, agora vemo-nos como inimigos,
-
temos discriminação baseada na dualidade.
-
Lutamos uns contra os outros, e queremos olho por olho.
-
Isso é discriminação baseada na dualidade
-
que precisamos remover dos nossos corações e mentes.
-
Contudo, para a remover,
é necessário meditar e olhar profundamente
-
para realizar por si mesmo
-
a sabedoria da não-discriminação
-
— la sagesse de la non-discrimination.
-
O que é "a sabedoria da não-discriminação"?
É algo que podemos compreender? É sim.
-
Podemos compreender o que é.
-
Com alguma facilidade.
-
Basta olhar para a nossa mão — a mão direita, por exemplo.
-
Esta mão tem em si
a sabedoria da não-discriminação.
-
Esta mão...
-
esta mão...
-
já fez tantas coisas.
-
É muito hábil.
-
Por vezes, é certo que tem
um pouco de falta de jeito, mas...
-
também há nela muita destreza.
-
Por exemplo, esta mão já criou...
-
centenas e milhares de poemas.
-
Todos os poemas
-
que o Avô Professor escreveu
foram feitos com a mão direita.
-
Esta mão esquerda nunca escreveu um poema.
-
Exceto numa ocasião,
-
quando o Avô Professor não tinha
papel, tinta nem caneta por perto.
-
Teve de colocar um envelope
na máquina de escrever,
-
e começou a datilografar o poema.
-
Só esse poema foi feito à máquina.
-
O poema chama-se: "O Búfalo Pequeno
a Correr Atrás do Sol."
-
"O Búfalo Pequeno a Correr Atrás do Sol."
-
Apenas esse poema foi feito pelas duas mãos juntas.
-
Todos os outros poemas
foram escritos apenas com a mão direita do Avô Professor.
-
Esta mão também faz muitas outras coisas, como...
-
sempre que é preciso segurar um martelo para pregar
um prego na parede, é esta mão direita que o segura.
-
Esta mão esquerda é um pouco desajeitada.
-
Não é tão forte.
E às vezes falha com o martelo.
-
A mão direita também falha por vezes, mas
normalmente tem um controlo melhor sobre o martelo.
-
A mão direita também escreve poemas e caligrafias,
-
entre muitas outras coisas.
-
Mas a mão direita nunca discriminou ou
criticou a mão esquerda com pensamento dualista.
-
Nunca disse: "Eh, Mão Esquerda,
-
tu não serves para nada,
-
não consegues fazer coisa nenhuma.
-
Não sabes escrever poemas,
também não sabes fazer caligrafia."
-
A mão direita nunca pensa assim.
-
Nesta mão direita, não se encontra
aquilo a que chamamos "discriminação dualista."
-
Ela não acredita numa entidade própria separada, dizendo:
"Sou melhor do que / tão boa como / pior do que tu."
-
Por isso, nesta mão direita há
a sabedoria da não-discriminação.
-
E, por isso, consegue viver em harmonia, paz
e felicidade com a mão esquerda.
-
Enquanto isso, a mão esquerda não tem complexos.
-
Não diz: "Meu Deus,
tu consegues fazer coisas que eu não consigo!"
-
Esta mão esquerda não tem qualquer complexo.
-
Porque ambas as mãos
-
sabem
-
que vêm da mesma raiz,
-
que são irmãs.
-
Entre irmãs, não há discriminação
nem se tratam como entidades separadas.
-
Por essa razão,
-
não há problemas entre as duas mãos.
-
Agora, será que nós e a nossa irmã mais velha
-
nos tratamos assim, como as duas mãos?
-
Ou será que nós e o nosso irmão mais novo
-
nos tratamos como as duas mãos?
-
Às vezes ainda há socos.
-
E às vezes ainda há
zanga, ressentimento, ciúmes, etc.
-
Tudo o que possas imaginar.
-
Então, dentro de nós ainda não há muita
sabedoria da não-discriminação como há nas nossas mãos.
-
É difícil de compreender, queridos?
-
Vemos quanto sofrimento
a discriminação baseada na dualidade já causou.
-
As pessoas brancas discriminam as pessoas negras.
-
Muçulmanos
-
discriminam hindus.
-
Hindus discriminam muçulmanos.
-
Judeus discriminam palestinianos.
-
E palestinianos discriminam judeus.
-
Falhámos ao não nos tratarmos uns aos outros
como as duas mãos de um mesmo corpo,
-
porque, dentro de nós, falta uma visão profunda
-
—a visão da sabedoria da não-discriminação.
-
Devemos saber que, quando
uma mão se magoa, a outra também sofre.
-
Precisamos de ver isto por nós mesmos.
-
Uma vez,
-
Thay segurava o martelo com a mão direita
-
e um prego com a esquerda,
-
na tentativa de pendurar uma caligrafia
na parede para decoração.
-
De alguma forma, a mão direita falhou o prego
e acertou diretamente no polegar da esquerda. Doeu bastante.
-
Logo que esta mão esquerda se magoou,
a mão direita pousou o martelo
-
e segurou a esquerda,
-
enquanto procurava um antisséptico
e um penso rápido para aplicar.
-
Fez tudo isto de forma natural,
-
sem nunca dizer: "Sou a Mão Direita,
-
estou a tratar da tua ferida.
-
Estou a cuidar de ti. Não te esqueças disso.
-
Não sejas ingrata comigo."
-
A mão direita nunca teve esse pensamento.
-
Não tem...
-
discriminação
-
entre "eu" e "o outro",
-
ou entre "um" e "outro",
-
porque dentro dela há uma sabedoria
muito bonita de não-discriminação.
-
Uma ausência total de discriminação e dualismo.
-
É por isso que as duas mãos
conseguem viver em perfeita harmonia.
-
Quando as duas mãos se juntam para formar
um botão de lótus, é algo muito belo.
-
Quando comemos, a mão esquerda segura a taça
-
e a direita segura os pauzinhos.
-
A esquerda não diz: "Agora tenho de levantar esta taça,
-
que chatice!"
-
E a direita não diz:
"Tenho de apanhar o arroz, que aborrecimento!"
-
Nunca houve discriminação,
pensamento dualista, ou reclamações assim.
-
Muito belo.
-
Por isso, sabemos que
-
a sabedoria da não-discriminação,
-
ou la sagesse de la non-discrimination,
é algo real
-
que podemos ver com os nossos próprios olhos.
-
Quando praticamos para alcançar
a iluminação como um Buda,
-
um bodhisattva,
-
ou um arhat,
-
podemos verdadeiramente ser assim.
-
Deixamos de ter discriminação
e pensamento dualista.
-
Quando chegamos a Plum Village, vemos
-
que os Irmãos e Irmãs aqui
estão a dar o seu melhor para ser assim.
-
Cada Irmã no Hamlet Inferior
-
é como um dedo
-
de uma mão.
-
Esta pessoa faz isto,
aquela faz aquilo.
-
Tudo é feito em silêncio,
-
sem que ninguém saiba,
-
sem nunca dizer: “O que eu estou a fazer é mais importante
do que o que as minhas Irmãs estão a fazer.”
-
Ou: “O que as outras Irmãs estão a fazer
-
é… é… não é tão importante
quanto o que eu estou a fazer.”
-
As Irmãs nunca têm esse pensamento na mente.
-
Todas trabalham com o mesmo propósito comum.
-
Uma pessoa está a cozinhar.
-
Outra está a lavar a loiça.
-
Outra vai às compras.
-
E outra está a buscar amigos leigos
nos aeroportos ou nas estações de autocarro.
-
Outra varre e arruma.
E outra limpa a sanita.
-
Mas ninguém se queixa ou resmunga,
-
“Porque é que ninguém faz nada além de mim?”
-
Porque é assim? Porque
nelas já existe um pouco...
-
Ainda que não exatamente como um Buda ou Bodhisattva,
mas nelas já há um pouco da sabedoria
-
da não-discriminação.
-
O mesmo com os Irmãos do Hamlet Superior.
-
Há tantas tarefas a fazer,
-
especialmente no verão, quando muitos amigos leigos vêm.
-
Praticamos de forma a que os amigos leigos sintam paz e bem-estar,
-
porque tornámo-nos monásticos
porque queremos ajudar a aliviar o sofrimento.
-
Entre os amigos leigos que vêm cá,
alguns trazem muita dor e sofrimento,
-
por isso precisamos escutá-los profundamente.
-
Precisamos mostrar-lhes como caminhar em meditação,
como respirar com atenção,
-
como praticar para sofrer menos.
Essa é a nossa alegria e felicidade enquanto monásticos.
-
Uma pessoa dá um ensinamento do Dharma.
-
Outra facilita a partilha do Dharma.
Outra faz as compras.
-
E outra cuida apenas do transporte.
Todos encontram alegria no que fazem, da mesma forma.
-
Porque fazer compras também é importante.
-
Sem comida, como podem participar
num círculo de partilha do Dharma…
-
e ouvir os ensinamentos?
Estariam com demasiada fome para ouvir os ensinamentos.
-
Por isso, fazer compras e cozinhar
para toda a sangha é tão importante…
-
quanto facilitar uma família de partilha do Dharma
-
ou dar um ensinamento.
-
É por isso que é um prazer para todos fazer
o que lhes é atribuído.
-
Assim, não há discriminação nem dualismo.
-
Fazer compras ou limpar sanitas
é tão sagrado
-
e tão belo…
-
quanto facilitar uma partilha do Dharma
ou oferecer um ensinamento.
-
Por isso, ninguém tem o complexo
de ser superior a alguém,
-
ou inferior a alguém,
-
ou igual a alguém.
-
Todos trabalham juntos
-
como os cinco dedos de uma mão
-
muito harmoniosamente
-
sem… sem…
-
qualquer atrito,
-
qualquer animosidade,
-
qualquer pensamento dualista.
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Porque, ao trabalhar em conjunto,
-
existe—de certo modo, o vislumbre
-
da sabedoria da não-discriminação.
-
Um dia, o Irmão Pháp Độ foi ao Hamlet Superior
-
apanhar algumas verduras.
-
Talvez porque os que vivem no
Hamlet do Meio tendem a comer muitas verduras,
-
especialmente ervas vietnamitas,
-
o Irmão Pháp Độ passou toda a manhã
e toda a tarde a apanhar verduras ali,
-
antes de ir aos outros hamlets
continuar a apanha.
-
Então surgiu um mal-entendido,
-
de que o Hamlet do Meio tinha ficado sem comida.
-
Correu o rumor de que o Hamlet do Meio
-
ficaria sem comida nos dias seguintes.
-
Mas isso foi uma perceção errada.
-
Ao ouvir isso, o Hamlet Superior
-
levou alguma comida ao Hamlet do Meio.
-
Depois,...
-
o Hamlet Inferior também levou comida
ao Hamlet do Meio.
-
E o Hamlet Novo também levou
comida ao Hamlet do Meio.
-
Porquê?
-
Porque o Hamlet Superior, o Hamlet Inferior
e o Hamlet Novo
-
vêem-se como dedos de uma mesma mão.
-
Ao ouvir a notícia de que um dos hamlets
estava com falta de comida,
-
assumiram a responsabilidade de cuidar disso.
Não disseram: “Somos deste hamlet.
-
Somos nós que levamos comida
ao vosso hamlet. Não se esqueçam disso.”
-
Nunca houve tal pensamento.
-
Há um provérbio vietnamita:
“Quando um irmão cai, o outro levanta-o.”
-
Sabemos que todos vimos da mesma raiz,
por isso cuidamos bem uns dos outros, e…
-
não discriminamos uns contra os outros.
-
[Tocar o sino]
-
[Sino]
-
No texto A Visão Que Nos Leva à Outra Margem,
há um verso que diz:
-
“Ouve, Śāriputra, este Corpo em si
-
é Vacuidade
-
e a Vacuidade em si é este Corpo.
-
Este Corpo não é diferente da Vacuidade
e a Vacuidade não é diferente deste Corpo.”
-
Agora podemos aplicar isto na nossa família, dizendo:
-
“Irmã, tu és eu
e eu sou tu.
-
Tu não és diferente de mim
e eu não sou diferente de ti.
-
O mesmo se aplica ao nosso pai, mãe,
avó, avô, etc.”
-
“O mesmo se aplica aos Sentimentos, Perceções,
Formações Mentais e Consciência.”
-
Significa que todos viemos da mesma raiz.
-
Precisamos ver por nós próprios que...
-
somos todos...
-
dedos de uma mesma mão.
-
Assim, o polegar em si
-
é o dedo indicador.
-
O dedo indicador em si é o polegar.
-
O polegar não é diferente do dedo indicador
-
e o dedo indicador não é diferente do polegar.
-
O mesmo se aplica ao dedo do meio,
ao anelar e ao mindinho.
-
Isto é aplicar A Visão Que Nos Leva à Outra Margem.
-
“Ouve, Śāriputra, este Corpo em si é Vacuidade
e a Vacuidade em si é este Corpo.
-
Este Corpo não é diferente da Vacuidade
e a Vacuidade não é diferente deste Corpo.
-
O mesmo se aplica aos Sentimentos, Perceções,
Formações Mentais e Consciência.”
-
Agora podemos dizê-lo com toda a clareza:
-
“Ouve, Śāriputra,
o polegar em si é o dedo indicador
-
e o dedo indicador em si é o polegar.
-
O polegar não é diferente do dedo indicador
e o dedo indicador não é diferente do polegar.
-
O mesmo se aplica ao dedo do meio,
ao anelar e ao mindinho.”
-
Esse é o espírito da não-discriminação.
-
Assim, mesmo sendo jovens,
-
podemos compreender A Visão Que Nos Leva à Outra Margem—
um sutra muito profundo no budismo.
-
Portanto, esta tarde, queridas crianças,
-
vamos fazer uma peça de teatro.
-
Nessa peça, haverá um pai, uma mãe,
um avô paterno, uma avó materna,
-
e algumas crianças.
-
Ao início, as crianças...
-
não têm ainda a sabedoria da não-discriminação,
-
por isso discutem entre si
e não cedem umas às outras.
-
Então, a avó materna
irá chamá-las e dizer:
-
“Não sabiam que
-
a irmã mais velha é o irmão mais novo,
e o irmão mais novo é a irmã mais velha?
-
A irmã mais velha não é diferente do irmão mais novo,
-
e o irmão mais novo não é diferente da irmã mais velha.
-
O mesmo se aplica aos avós maternos,
aos avós paternos e aos pais.”
-
Isso é expressar A Visão Que Nos Leva à Outra Margem.
-
Com isso, os dois irmãos podem rebentar numa gargalhada,
abraçarem-se, e deixarem de estar zangados um com o outro.
-
No dia seguinte,
os pais parecem estar numa discussão acesa.
-
Então, uma das crianças
pode ir até lá e dizer: “Pai,
-
não sabias que tu és a Mãe
e que a Mãe é tu?
-
Tu não és diferente da Mãe
e a Mãe não é diferente de ti.
-
O mesmo se aplica aos meus avós paternos,
avós maternos e a todos nós, crianças.”
-
Essa é A Visão Que Nos Leva à Outra Margem.
-
Podemos aplicá-la imediatamente.
-
Vamos ensaiar.
-
Sempre que houver discriminação, preconceito,
zanga, etc., precisamos recitar esse mantra:
-
“Deve-se saber que é um Grande Mantra,
o mantra mais iluminador,
-
o mantra supremo,
um mantra incomparável.
-
A Verdadeira Sabedoria que tem o poder de pôr fim
a todo o tipo de dualismo e discriminação.”
-
Quando entramos num mosteiro,
-
como o Mosteiro Bút Tháp
na província de Bắc Ninh (Vietname),
-
veremos uma...
-
estátua do Bodhisattva Avalokiteśvara.
-
Essa estátua do Bodhisattva
-
não tem apenas dois braços,
-
mas mil braços.
-
Podemos ficar admirados, a pensar,
“Como pode uma pessoa ter tantos braços?”
-
Algum de vocês já viu
uma estátua de Bodhisattva com muitos braços?
-
Nunca? E se fizéssemos uma agora mesmo?
-
Irmã Tuệ Nghiêm, por favor,
vem aqui ajudar os pequenos
-
a criar uma estátua do Bodhisattva Chunde com muitos braços.
-
Querida criança, podes segurar isto, está bem?
-
Esta mão segura esta coisa.
-
E esta outra mão segura esta.
-
Aqui tens, segura esta.
-
Um de vocês precisa sentar-se.
-
\[Irmã Tuệ Nghiêm\] Queres sentar-te, querida criança?
-
Vejam. Esta é uma pessoa com muitos braços.
-
Este é o Bodhisattva Chunde.
-
Muito bonita.
-
Vamos imaginar
-
que estamos a ver apenas uma pessoa—
uma pessoa com muitos e muitos braços.
-
Mas a estátua no Mosteiro Bút Tháp
-
tem mil braços.
-
Aqui temos só... Vamos ver, 4… 6…
8… 10… 12 braços… Bem, só 14 braços.
-
Já são muitos braços.
-
O Bodhisattva Avalokiteśvara tem grande compaixão
-
e ela/ele/elu aspira fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
-
Digam-me quando os vossos braços estiverem cansados, queridos.
-
Quando temos amor ilimitado,
-
quando temos grande compaixão,
queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
-
Queremos deitar água num copo para quem amamos.
-
Queremos ajudar os irmãos mais novos com os estudos.
-
Queremos ler um livro à avó materna.
-
Queremos escrever uma carta a um amigo.
-
Queremos oferecer uma flor ao pai
no seu dia de continuação.
-
Queremos oferecer uma flor à mãe
no seu dia de continuação.
-
Queremos controlar o tempo
para que ninguém chegue atrasado à escola.
-
Queremos… queremos…
-
ler as nossas cartas aos amigos.
-
Queremos gravar a palestra do Dharma
do Avô Professor para os que não puderam vir hoje.
-
Queremos enviar este livro à mãe.
-
Queremos...
-
usar este livro para ensinar os irmãos mais novos.
-
Queremos usar aquele livro...
-
para nos gravarmos a lê-lo numa cassete.
Quando temos grande amor,
-
queremos fazer muitas coisas.
-
Se só tivermos dois braços,
como podemos fazer tantas coisas?
-
Então, o Bodhisattva tem...
-
mil mãos
-
e mil braços.
-
Muito obrigado, queridos pequenos. Agora, por favor, devolvam esses itens deixando-os aqui.
-
Agora, imaginemos em Lower Hamlet,
-
ou seja, este templo — Néctar da Compaixão,
como sendo um bodhisattva,
-
chamado Bodhisattva Lower Hamlet.
-
Perguntamo-nos então: quantas mãos tem
o Bodhisattva Lower Hamlet?
-
Tem tantas mãos e braços
quantas são as monjas e os amigos leigos.
-
Então, quantas mãos e braços
tem a Lower Hamlet?
-
Chamamos a isso, Bodhisattva Lower Hamlet.
-
Uma mão cuida da abadessa.
-
Outra mão, do conselho de manutenção.
-
Outra mão ainda, do escritório de registo.
-
Outra, dos transportes
-
e dos alojamentos para os amigos leigos.
-
Bem, são tantas mãos.
-
Então, imaginemos
-
que o Bodhisattva Lower Hamlet...
-
tem centenas de mãos.
-
Não olhemos para a Lower Hamlet
como muitas pessoas,
-
mas sim como uma só pessoa.
-
Ao chegarmos a Lower Hamlet,
-
vemos que o Bodhisattva Lower Hamlet
estende centenas de braços para nos acolher.
-
Uma mão mostra-nos onde são os nossos quartos.
-
Outra mão dá...
-
dá...
-
a outra pessoa um copo de água, por exemplo.
-
Cada Irmã
-
desempenha o papel de...
-
um braço de um bodhisattva.
-
Esses braços não têm fricção
nem se envolvem em confrontos entre si.
-
Embora haja muitos braços,
eles trabalham juntos com uma grande harmonia.
-
Não há conflitos que provoquem discussões,
desentendimentos ou rupturas nas relações.
-
Por isso, praticamos olhar para a Lower Hamlet
como um bodhisattva com muitos braços e mãos.
-
Praticamos também ver a Upper Hamlet
-
como um bodhisattva com muitos braços.
Cada Irmão é um braço
-
desse bodhisattva.
-
Alguma vez vimos os Irmãos
em discussões ou confrontos físicos?
-
Alguma vez vimos os Irmãos
-
a discriminar e a tratar os outros com preconceito,
causando sofrimento uns aos outros?
-
O mesmo acontece com a New Hamlet.
A New Hamlet também é um bodhisattva com muitos braços e mãos.
-
Cada Irmã ou cada residente permanente é um braço.
-
Todos realizam o trabalho de um bodhisattva
-
para cuidar dos amigos leigos, para trazer...
-
paz e felicidade aos amigos leigos,
tanto jovens como mais velhos, durante o tempo que passam em Plum Village.
-
Quanto maior for essa paz e felicidade...
-
e esse espírito de harmonia
e de não-discriminação,
-
maior será a paz e felicidade dos amigos leigos.
-
Alguma vez vimos as Irmãs
zangarem-se umas com as outras,
-
tratarem-se com preconceito, ou
atacarem-se verbalmente?
-
É porque as Irmãs estão a praticar
a sabedoria da não-discriminação.
-
Embora não o façam tão bem como os grandes Bodhisattvas,
-
e nem tão bem...
-
como os Budas,
-
em cada Irmã e em cada Irmão,
-
já existe um pouco
da visão da não-discriminação.
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Por essa razão, podem viver juntos
em harmonia, paz e felicidade.
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Graças a isso, conseguem...
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construir e criar felicidade
para aqueles que vêm até eles.
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Há cerca de cinco ou seis anos,
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Thay foi...
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à Coreia numa viagem de ensinamentos.
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Thay foi convidado por uma universidade budista
em Seul para dar um ensinamento do Dharma.
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Essa universidade é a Universidade Dongguk.
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Lá, Thay disse: "A universidade
tem de ser um bodhisattva,
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e cada professor da universidade
tem de ser um braço do bodhisattva."
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E Thay
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desenvolveu ainda mais esse tema.
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A palestra foi muito apropriada,
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porque, de outra forma,
deixaria de ser uma universidade budista.
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Uma universidade budista
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tem de estar organizada
como o corpo de um bodhisattva.
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Desde o Diretor da Escola
e os professores,
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até aos membros do staff, todos devem ser
braços de um grande bodhisattva
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para poder oferecer e dedicar aos seus estudantes
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duas substâncias: sabedoria e amor compassivo.
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Se a única coisa que uma universidade oferece
é conhecimento,
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isso não é suficiente.
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Uma universidade deve ir além do conhecimento,
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isto é, deve oferecer sabedoria e amor compassivo.
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Se, nesta sabedoria, também conseguir oferecer
a sabedoria da não-discriminação, será muito bem feito.
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Portanto, quem estiver a pensar
em dirigir uma universidade budista
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deve ter isto em mente.
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Uma universidade, no futuro, tem de ser um bodhisattva.
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Essa universidade deve dedicar-se
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a oferecer as substâncias da sabedoria
e do amor compassivo.
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A sabedoria da discriminação já foi
oferecida por muitas universidades.
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Mas poucas são as universidades
que se dedicam à sabedoria da não-discriminação.
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Se uma igreja budista, um mosteiro,
ou uma universidade budista
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opera verdadeiramente em nome da tradição,
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então tem de oferecer
a sabedoria da não-discriminação.
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Não é suficiente oferecer apenas
a sabedoria da discriminação.
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O conhecimento do mundo que ajuda alguém
a tornar-se médico, engenheiro,
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ou professor de ciências ou literatura,
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não é suficiente.
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É necessário também haver formação nesta área,
ou seja, na “sabedoria da não-discriminação”,
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porque é desta sabedoria que nasce o amor,
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ou seja, a bondade amorosa e a compaixão.
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Sem a sabedoria da não-discriminação,
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não haverá aceitação nem verdadeiro amor.
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Nas escolas do mundo, só nos é oferecida
a sabedoria da discriminação.
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Mas numa universidade budista,
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e num mosteiro,
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devemos dar o nosso melhor para também oferecer
esta sabedoria da não-discriminação.
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Só quando a sabedoria da não-discriminação
é transmitida, é que a aceitação e o amor se tornam possíveis.
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Só então, a paz, o bem-estar
e a harmonia podem surgir.
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Então, só precisamos olhar com atenção
para a mão direita. Perceberemos que ela tem muito a ensinar-nos.
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Ela contém em si a sabedoria da não-discriminação.
E o mesmo acontece com esta mão esquerda.
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Ela não carrega nenhum complexo,
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como “sou melhor do que”, “sou pior do que” ou “sou igual a”.
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Muito bem.
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São, por isso, dois belos exemplos
de irmandade.
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Agora, vamos todos olhar com atenção
para as nossas mãos.
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Usa uma mão para segurar a outra, para sentir...
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para sentir...
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que são como dois irmãos a viver juntos
em harmonia e com muita alegria,
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porque em cada mão existe...
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a sabedoria da não-discriminação.
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Viste as duas mãos a abraçarem-se?
Todos, independentemente da idade, estão convidados
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a usar a mão direita
para abraçar a mão esquerda,
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para verem que são verdadeiros irmãos,
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que podem viver juntos em harmonia
graças à...
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sabedoria da não-discriminação que há nelas.
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Já o fizeste?
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Vamos respirar três vezes.
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Consegues ver a sabedoria
da não-discriminação nas tuas mãos?
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Muito bem. Agora,...
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usa as tuas mãos para segurar as mãos
de quem está sentado ao teu lado,
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para veres se essas mãos...
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também carregam a sabedoria da não-discriminação.
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Rapazes, se ao vosso lado estiver uma rapariga,
podem segurar-lhe a mão. Não há problema.
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Irmão Thông Hội...
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Aqui.
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Somos todos irmãos e irmãs.
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Amigos franceses seguram as mãos dos amigos britânicos.
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Amigos britânicos seguram as mãos dos amigos alemães.
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Amigos palestinianos seguram
as mãos dos amigos judeus.
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Amigos judeus seguram as mãos
dos amigos palestinianos.
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Vamos dar as mãos uns aos outros,
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para que possamos aprender a lição
da sabedoria da não-discriminação.
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Eu próprio sou tu,
e tu próprio és eu.
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Eu não sou diferente de ti,
e tu não és diferente de mim.
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Este é o espírito de prajñā.
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Este é o espírito
da sabedoria da não-discriminação.
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Esta é uma palestra do Dharma cujo significado —
ainda que profundamente profundo,
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pode ainda assim ser compreendido
pelos mais jovens, pelos mais pequeninos.
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Se vocês, jovens, continuarem a aprender
nesta direção, ao crescerem,
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terão um conhecimento e uma prática
profundos e firmes no Budismo.
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[Sino]
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[Sino]
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