Qual é a relação entre o sono e a doença de Alzheimer?

Não dormir o suficiente leva à doença de Alzheimer? O cientista do sono Matt Walker explica a relação entre ambos - e como pesquisadores estão explorando o uso do sono para diminuir nossas chances de desenvolver essa doença.

Estamos agora nos conscientizando
de uma relação significativa

entre o sono e a doença de Alzheimer.

[Dormindo com a Ciência]

A doença de Alzheimer
é uma forma de demência

geralmente caracterizada
por perda e declínio da memória.

Começamos a entender

que existem várias proteínas diferentes

que parecem não funcionar bem
na doença de Alzheimer.

Uma dessas proteínas

é uma substância tóxica viscosa
chamada beta-amiloide,

que se acumula no cérebro.

A outra é algo chamado proteína tau.

Como elas estão relacionadas ao sono?

Primeiro, se observarmos em um nível
epidemiológico em grande escala,

sabemos que indivíduos

que dizem dormir normalmente
menos de seis horas por noite,

têm um risco significativamente maior

de desenvolver grandes quantidades
de beta-amiloide no cérebro

mais tarde na vida.

Também sabemos
que dois distúrbios do sono,

inclusive insônia e apneia do sono,
ou ronco pesado,

estão associados a um risco
significativamente maior

de doença de Alzheimer em idade avançada.

Esses estudos são, é claro,
simplesmente associativos.

Não provam uma relação causa-efeito.

Mas, mais recentemente,

identificamos essa evidência
de relação causal.

Se tomarmos um ser humano saudável

e o privarmos de sono
por apenas uma noite,

vemos, no dia seguinte,

um aumento imediato desse beta-amiloide,

circulando tanto na corrente sanguínea

quanto no que chamamos
de líquido cefalorraquidiano.

Mais recentemente,
após apenas uma noite de sono,

pelo uso de tecnologia especial
de neuroimagens,

os cientistas descobriram
um aumento imediato de beta-amiloide

diretamente no próprio cérebro.

Portanto, essa é a evidência
da relação causal.

O que há então no sono

que parece fornecer um mecanismo

que evita o aumento dessas proteínas
relacionadas ao Alzheimer?

Há vários anos,

uma cientista chamada Maiken Nedergaard

fez uma descoberta extraordinária.

Ela identificou um sistema
de limpeza do cérebro.

Antes disso,

sabíamos que o corpo
tinha um sistema de limpeza,

e muitos podem estar
familiarizados com isso.

É chamado de sistema linfático.

Mas não achávamos que o cérebro
tivesse seu próprio sistema de limpeza.

Pelo estudo de ratos,

ela conseguiu identificar um sistema
de saneamento dentro do cérebro

chamado "sistema glinfático",

que tem esse nome
devido às células que o compõem,

chamadas de células gliais.

Se isso não fosse
extraordinário o bastante,

ela fez mais duas descobertas incríveis.

Primeiro, ela descobriu
que esse sistema de limpeza do cérebro

nem sempre é ativado em alto fluxo

durante o período de 24 horas.

Em vez disso, foi quando
esses ratos estavam dormindo,

principalmente quando entravam
em sono profundo não REM,

que o sistema de limpeza
entrava em alta velocidade.

O terceiro componente que ela descobriu,

e isso é o que o torna relevante

para nossa discussão
sobre a doença de Alzheimer,

é que um dos subprodutos metabólicos,

uma das toxinas que foram
eliminadas durante o sono,

era aquela proteína tóxica
e viscosa, beta-amiloide,

relacionada à doença de Alzheimer.

Recentemente, cientistas
de Boston descobriram

um tipo muito semelhante de mecanismo
cerebral de pulsação e limpeza

também em seres humanos.

Parte dessa discussão pode parecer
um pouco deprimente.

Sabemos que, à medida que envelhecemos,

nosso sono parece normalmente diminuir,

e nosso risco de Alzheimer aumenta.

Mas acho que existe uma esperança,

porque, ao contrário
de muitos outros fatores

associados ao envelhecimento
e à doença de Alzheimer,

como, por exemplo, mudanças
na estrutura física do cérebro,

essas são extremamente difíceis de tratar.

A medicina não tem qualquer boa abordagem
em grande escala neste momento.

Mas o fato do sono
ser uma peça que faltava

no quebra-cabeça explicativo
do envelhecimento e da doença de Alzheimer

é emocionante, porque podemos
conseguir fazer algo a respeito.

E se pudéssemos aumentar o sono humano

e tentar melhorar a qualidade
desse sono profundo na meia-idade,

que é quando vemos o declínio
do sono profundo começando a acontecer.

E se pudéssemos mudar

de um modelo de tratamento em estágio
avançado da doença de Alzheimer

para um modelo de prevenção na meia-idade?

Poderíamos ir do atendimento a doentes
à assistência médica de fato?

E, ao modificar o sono,

será que conseguiríamos reduzir
o risco da doença de Alzheimer?

Estou muito animado com isso,

e é algo que estamos pesquisando
ativamente neste momento.