Perdi a visão e descobri o meu superpoder
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0:07 - 0:10Sabem como é quando perguntam
a uma criança qual vai ser o seu futuro -
0:10 - 0:14e ela responde que quer ter
superpoderes ou apenas ser grande? -
0:14 - 0:19Se me perguntassem em criança
como seria o meu futuro aos 16 anos, -
0:19 - 0:22provavelmente, eu diria que queria
ser mais alta do que o meu pai, -
0:22 - 0:24ter muitos amigos,
andar sozinha pela cidade, -
0:24 - 0:28ser totalmente independente
e ter o cabelo muito comprido. -
0:29 - 0:32Sempre tive muita imaginação
e sempre adorei ler. -
0:33 - 0:35Traduzir as letras em imagens e sons,
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0:35 - 0:38embora tudo estivesse
religiosamente silencioso, -
0:38 - 0:42era uma forma de uma criança,
humana e "muggle", ser especial. -
0:44 - 0:46Todas as histórias me levavam a acreditar
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0:46 - 0:50que a vida normal não era
a única coisa e que a magia existia. -
0:50 - 0:54A determinada altura comecei
a ver as coisas escuras, -
0:54 - 0:57a minha visão começava a escurecer
na área periférica, -
0:57 - 1:01até que tudo se tornava escuro
e eu ficava um pouco tonta -
1:01 - 1:03mas a minha imaginação era tão fértil
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1:03 - 1:06que eu pensava que me estava
a acontecer qualquer coisa mágica -
1:06 - 1:09ou que estava a receber
informações do universo. -
1:10 - 1:11Eu sempre quis ser especial
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1:11 - 1:14mas, à medida que crescia,
tive de enfrentar o facto -
1:14 - 1:17de que o mundo mágico estava
cada vez mais longe de mim. -
1:17 - 1:19Eu enfiava-me no armário lá de casa
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1:19 - 1:23e pensava que, se esquecesse
o painel do fundo, -
1:23 - 1:26ele se desintegraria e eu poderia
chegar a Nárnia. -
1:26 - 1:30Mas não descobri nenhum
armário mágico aos 8 anos, -
1:30 - 1:33e não recebi nenhuma carta
de Hogwarts, aos 11 anos -
1:33 - 1:36e nenhum sátiro me disse
que eu era uma semideusa, aos 12 anos. -
1:36 - 1:37(Risos)
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1:38 - 1:43A minha última esperança era que Gandalf
me levasse para uma aventura, aos 50 anos. -
1:45 - 1:48Mas, entretanto, aos 13 anos,
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1:48 - 1:51subitamente, tornei-me
numa pessoa muito especial, -
1:51 - 1:54embora não fosse da forma
que eu desejava. -
1:55 - 1:58O universo não estava a dar-me
informações secretas, -
1:58 - 2:01estava a arrastar-me para um buraco nego.
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2:01 - 2:06No dia 23 de setembro de 2015,
às 7:35 da manhã, -
2:07 - 2:09cheguei atrasada à escola,
como de costume, -
2:09 - 2:14porque o autocarro da cidade demorou
muito a chegar a minha casa, como sempre. -
2:14 - 2:17Entrei na sala de aula e caí,
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2:17 - 2:20no meio da sala,
em frente de toda a gente. -
2:20 - 2:23Não vi uma mochila que estava no chão.
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2:23 - 2:28Sentei-me na minha carteira e percebi
que não conseguia ler as letras no quadro. -
2:28 - 2:30Não conseguia ler.
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2:31 - 2:34Liguei à minha mãe
e, mais tarde, fui ao hospital, -
2:34 - 2:38pensando que seria giro
arranjar uns bonitos óculos. -
2:38 - 2:42Mas não arranjei, nem sequer
saí do hospital nesse dia. -
2:45 - 2:48Diagnosticaram-me hidrocefalia,
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2:48 - 2:52uma palavra pouco criativa que significa
que temos demasiado líquido no cérebro, -
2:52 - 2:54e vou revelar-vos um segredo.
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2:54 - 2:56No meu caso, era provocado
por um glioma -
2:56 - 2:59que se tinha formado na passagem
entre o primeiro e o terceiro ventrículo, -
3:00 - 3:01na base da cabeça.
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3:01 - 3:04Isso não permitia que o líquido
do cérebro circulasse. -
3:04 - 3:06Conseguia entrar, mas não conseguia sair
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3:06 - 3:09o que tornava muito alta
a minha pressão intracraniana -
3:09 - 3:11e estava a danificar
os meus nervos óticos. -
3:11 - 3:14Mas os médicos não perceberam isso.
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3:14 - 3:19Fiz uma operação, depois outra,
e mais outra e mais outra. -
3:19 - 3:24Eu estava numa espiral, num ciclo
em que os meus pais e eu nos erguíamos, -
3:24 - 3:26e depois a vida atingia-nos
e nós voltávamos a cair, -
3:26 - 3:28vezes sem conta.
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3:28 - 3:29O meu mundo virou-se ao contrário
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3:30 - 3:32e estávamos todos anestesiados
com esta situação. -
3:32 - 3:35Os meus pensamentos mágicos
foram substituídos, de repente, -
3:35 - 3:37por uma cascata de santos e de seres
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3:37 - 3:39tão imateriais
como a minha esperança em Gandalf. -
3:40 - 3:43O problema é que o médico achava
que sabia o que estava de errado comigo -
3:43 - 3:47mas, como o meu problema era causado
por uma coisa totalmente diferente, -
3:47 - 3:48drenavam demasiado líquido
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3:49 - 3:52e transformaram a pressão intracraniana
demasiado alta -
3:52 - 3:54numa pressão demasiado baixa.
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3:54 - 3:58Em oito meses, sofri quatro operações
com este procedimento. -
3:58 - 4:02e outras três para tentar remediar
as asneiras que aquele médico fez. -
4:03 - 4:05Mas os estragos estavam feitos.
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4:06 - 4:08Por fim, pude voltar para a escola
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4:08 - 4:10mas eu já não era a mesma.
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4:10 - 4:13A vida continuava para as pessoas normais
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4:13 - 4:15mas eu tinha perdido
muitos dos acontecimentos clássicos -
4:15 - 4:19e a crise da adolescência,
coisa que, honestamente, não me faz falta. -
4:22 - 4:24Praticamente, passei um ano a dormir
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4:24 - 4:26porque, como me tinham
tirado a literatura, -
4:26 - 4:29era a única forma de mergulhar
noutra realidade, -
4:29 - 4:31numa altura em que mais precisava.
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4:31 - 4:33Mas, atenção, estou hoje aqui.
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4:34 - 4:36Há um ditado que diz:
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4:36 - 4:39"Caí num buraco,
saí de lá como um gigante". -
4:39 - 4:41É assim que eu me sinto
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4:41 - 4:45porque sempre que uma coisa difícil
nos acontece, há uma força, -
4:45 - 4:48mesmo que seja quase invisível,
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4:48 - 4:50que nos obriga a levantar-nos
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4:50 - 4:53e, dessa vez, seremos muito mais sábios.
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4:53 - 4:56Eu agora consigo concentrar-me
e prestar muito mais atenção. -
4:57 - 5:00E comer é uma experiência
totalmente diferente. -
5:01 - 5:03Sempre que como "bolinhos de chuva",
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5:03 - 5:05tipo bolas de Berlim,
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5:05 - 5:08sou transportada imediatamente
a um sítio bom e seguro -
5:08 - 5:11onde há nuvens de açúcar e canela.
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5:11 - 5:13Também quando oiço ou toco música,
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5:14 - 5:17é uma forma de fugir às dificuldades
que passo na minha vida. -
5:18 - 5:20E agora lembro-me
de todas as letras de Bob Dylan -
5:20 - 5:22o que é uma loucura.
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5:23 - 5:26A minha imaginação
é mais intensa do que nunca, -
5:26 - 5:30porque agora uso-a
como um dos sentidos mais importantes. -
5:30 - 5:33É o sentido que me permite
criar um mundo totalmente novo, -
5:33 - 5:36com base naquilo que vi
e noutros canais sensoriais. -
5:36 - 5:40Tenho de usar a imaginação
como um instrumento criativo e lógico -
5:40 - 5:44para sobreviver nesta realidade
que repousa demasiado na simulação visual. -
5:45 - 5:50Consigo fazer isso porque há uma diferença
entre olhar e ver -
5:50 - 5:53como a que existe entre ouvir e escutar.
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5:53 - 5:58Ver e escutar não são apenas
capacidades apuradas dos nossos sentidos -
5:59 - 6:00mas significam sensibilidade
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6:00 - 6:03para compreender as coisas
e sentir empatia pelos outros, -
6:03 - 6:07por isso penso que agora
vejo melhor do que antes. -
6:07 - 6:11Por exemplo, vejo que vocês
estão a prestar atenção. -
6:13 - 6:19Na mitologia grega, o adivinho
mais famoso, Tirésias, era cego -
6:19 - 6:21porque não se deixava enganar
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6:21 - 6:24pela armadilha do aspeto
e do mundo visual. -
6:26 - 6:29Claro que não sou a pessoa de 16 anos
que pensava vir a ser -
6:29 - 6:31e não tenho a vida que julgava vir a ter
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6:31 - 6:34mas, se me perguntarem
se eu gostaria de voltar atrás -
6:34 - 6:36e impedir o que me aconteceu,
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6:36 - 6:40eu aprendi tanta coisa que não quero
esquecer que a resposta é não. -
6:40 - 6:41Obrigada.
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6:41 - 6:44(Aplausos)
- Title:
- Perdi a visão e descobri o meu superpoder
- Description:
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Portais mágicos, cartas de Hogwarts, aventuras com Gandalf — são apenas algumas das fantasias literárias com que Maria Stockler sonhava. Mas, aos 13 anos, depois de uma série espantosa de acontecimentos que lhe fizeram perder a visão, Maria também deixou de ver o mundo dos seus sonhos. Nesta palestra inspirada, Maria conta como perder um dos seus sentidos a ajudou a conquistar um novo sentido, um sentido que acabou por se tornar no seu superpoder. "Há uma diferença entre olhar e ver... penso que agora vejo melhor do que nunca".
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TED-Ed
- Duration:
- 06:47
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