FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
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0:08 - 0:11Você já parou para pensar
em como as histórias são contadas? -
0:11 - 0:13Quem constrói essas histórias?
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0:13 - 0:14Quem conta as histórias?
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0:14 - 0:16Como a gente conta
essas histórias? -
0:16 - 0:21No bate-papo de hoje, eu vou receber
duas pessoas incríveis aqui na mesa -
0:21 - 0:23para falar um pouco
sobre a oralidade -
0:23 - 0:26e como a gente passa
de geração em geração -
0:26 - 0:29histórias que vêm,
acompanham toda a nossa família. -
0:29 - 0:31E a gente vai falar um pouco
de literatura também. -
0:31 - 0:33Como é essa construção?
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0:33 - 0:37E tudo pela perspectiva
de profissionais incríveis, -
0:37 - 0:38pessoas negras.
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0:38 - 0:39Eu sou a Marina Franciulli,
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0:39 - 0:43sou comunicadora, especialista
em direitos humanos, -
0:43 - 0:44e eu sou uma mulher negra.
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0:44 - 0:46Hoje eu estou
com os meus cabelos soltos, -
0:46 - 0:48eles são crespos,
na altura do ombro, -
0:48 - 0:51uso brincos dourados
em formato de búzio, -
0:51 - 0:55uma corrente dourada também,
e um macacão rosa. -
0:55 - 0:58Ele é de regatinha, então estou
com os braços de fora e à mostra, -
0:58 - 1:01e tem aqui um bracelete
também dourado. -
1:01 - 1:03Vou apresentar essas
duas pessoas incríveis -
1:03 - 1:05que estão na mesa
aqui com a gente hoje. -
1:05 - 1:07Vou começar com as mulheres.
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1:07 - 1:09Egnalda Côrtes, bem-vinda.
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1:09 - 1:11Se apresente
para a gente, por favor! -
1:11 - 1:14Meu nome é Egnalda Côrtes,
fundadora e CEO da Côrtes e Companhia, -
1:14 - 1:18a primeira agência de influenciadores
negros da América Latina -
1:18 - 1:21e empresa líder da Aliança
Sem Esteriótipos da ONU Mulheres. -
1:22 - 1:24Sou uma mulher negra,
de pele clara. -
1:24 - 1:28Estou usando o cabelo
trançado nagô -
1:28 - 1:30com tranças longas loiras.
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1:30 - 1:34Estou usando acessórios
prata e dourado, -
1:34 - 1:38mas para ornar também
com a mediadora, -
1:38 - 1:39que está de dourado.
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1:39 - 1:41Estou usando uma camisa branca.
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1:42 - 1:46E estou extremamente
honrada pelo convite -
1:46 - 1:48e por estar conversando de algo
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1:48 - 1:51que é tão vívido
na nossa história. -
1:51 - 1:54Eu acho que muito
da nossa sobrevivência -
1:54 - 1:57vem da nossa oralidade
e da força e competência -
1:57 - 2:00que nós temos em fazer isso.
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2:00 - 2:01Obrigada pelo convite.
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2:01 - 2:04Bem-vinda e obrigada por
topar estar aqui com a gente. -
2:04 - 2:08Reni, Reni Adriano, que conheci
há tempos e muitos tempos, -
2:08 - 2:09admiro desde sempre.
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2:09 - 2:10Bem-vindo!
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2:10 - 2:13Uma alegria, Marina, te reencontrar
aqui com essa discussão, -
2:13 - 2:15e conhecer a Agnalda.
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2:15 - 2:18Eu sou Reni Adriano,
sou escritor e dramaturgo, -
2:18 - 2:20e mediador de leitura.
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2:20 - 2:23Eu formo mediadores de leitura
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2:23 - 2:26e implemento projetos
de salas de leitura -
2:26 - 2:29em vários lugares do Brasil.
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2:29 - 2:31Eu estou, eu tenho...
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2:31 - 2:36Eu sou careca,
negro não retinto, -
2:36 - 2:39e estou usando
uma camiseta vermelha -
2:39 - 2:41sem estampa,
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2:41 - 2:44e uso nas duas orelhas
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2:44 - 2:46alargadores pequenos.
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2:46 - 2:48Vamos começar a conversar
um pouco sobre o nosso assunto. -
2:48 - 2:50Vamos começar pela oralidade?
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2:50 - 2:53Porque se tem algo que a gente
aprende a fazer desde sempre -
2:53 - 2:55é contar histórias.
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2:55 - 2:57E, ao contar histórias,
a gente traz -
2:57 - 2:59as nossas raízes,
as nossas origens. -
2:59 - 3:02A gente consegue trabalhar
muito a nossa imaginação, -
3:02 - 3:05que é tão fundamental
para a nossa existência. -
3:05 - 3:08Eu queria começar perguntando
o papel da oralidade -
3:08 - 3:09na cultura afro-brasileira.
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3:10 - 3:11Por favor.
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3:11 - 3:14Eu doida para ouvir o Reni
e ele passou a bola para mim. -
3:17 - 3:20Como eu falei na introdução,
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3:20 - 3:23a oralidade nos constitui...
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3:25 - 3:27E ela nos salvou, né,
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3:27 - 3:29por séculos.
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3:30 - 3:32Porque parte da nossa história,
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3:32 - 3:34se a gente for falar de diáspora,
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3:34 - 3:38ela foi assaltada, né,
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3:38 - 3:41ela foi devastada.
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3:43 - 3:45Me arrepia falar sobre isso
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3:45 - 3:48porque nas culturas,
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3:48 - 3:52nos povos de terreiro
e nos povos tradicionais, -
3:52 - 3:55a oralidade é que faz
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3:55 - 3:59com que aquelas
pessoas sobrevivam. -
4:02 - 4:05Então, para além
da construção do imaginário, -
4:05 - 4:08a oralidade é uma energia.
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4:09 - 4:12A comunicação é
uma grande energia. -
4:13 - 4:17E muito do que nós
falamos e somos -
4:17 - 4:20vem muito mais da energia
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4:20 - 4:23que a oralidade nos trouxe
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4:23 - 4:26do que nos foi
ensinado e imposto -
4:26 - 4:28também por séculos.
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4:28 - 4:32Se a gente falar
de sociedade brasileira, -
4:32 - 4:36o que foi passado como imagem,
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4:36 - 4:37como imagem...
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4:37 - 4:41Como foi construída a imagem
da população brasileira... -
4:42 - 4:44Na TV, por exemplo.
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4:44 - 4:48Imaginem se nós dependêssemos
somente disso -
4:48 - 4:51para sobreviver e para construir
a nossa autoestima? -
4:51 - 4:53E aí eu estou falando
de população brasileira. -
4:53 - 4:56Não estou nem fazendo
um recorte racial. -
4:56 - 5:00Nós temos ainda uma boa parte
dessa população -
5:00 - 5:02que não é branca,
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5:02 - 5:04não é branca,
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5:04 - 5:09e foi construído
um imaginário dessa brancura -
5:09 - 5:13que poderia ter nos derrotado
como população. -
5:13 - 5:14E olha só que...
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5:15 - 5:16Irônico...
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5:18 - 5:22Que mesmo assim,
nós nos tornamos -
5:22 - 5:24os maiores
comunicadores do mundo. -
5:24 - 5:27Somos premiados pela nossa arte,
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5:27 - 5:29pela nossa criatividade,
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5:29 - 5:32e pela nossa comunicação,
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5:32 - 5:35e isso vem da mistura dos povos,
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5:35 - 5:39isso vem da resistência
dessa população -
5:39 - 5:43que foi negligenciada
pela comunicação, -
5:43 - 5:47mas foi salva pela oralidade
nas comunidades, -
5:47 - 5:49nos movimentos sociais,
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5:49 - 5:51nos povos tradicionais,
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5:51 - 5:54nos povos originários.
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5:54 - 5:58A gente foi salvo por essa energia
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5:58 - 6:00que chamamos de comunicação,
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6:00 - 6:02de oralidade,
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6:02 - 6:07e que, dentro de algumas
constituições religiosas, -
6:07 - 6:09nós chamamos de...
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6:12 - 6:13Quem abre os caminhos.
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6:14 - 6:18Então, se existe esse futuro
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6:18 - 6:20que nós vivemos hoje,
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6:20 - 6:23é porque o ontem foi construído
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6:23 - 6:25a partir da oralidade.
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6:25 - 6:26Maravilhoso.
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6:26 - 6:29E a gente pode puxar um pouco
para a literatura já, né, Reni, -
6:29 - 6:33porque quando a Agnalda traz
a questão da representação, -
6:33 - 6:35do como a gente
consegue se perceber -
6:35 - 6:39e como a gente também cria
e entende essas estratégias
de resistência, -
6:39 - 6:42como a própria oralidade
se mantém importante -
6:42 - 6:46por ser a resistência da nossa
história e da nossa existência, -
6:46 - 6:49na literatura não é
necessariamente assim -
6:49 - 6:51que a gente constrói esse caminho,
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6:51 - 6:52mas ele é muito presente também.
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6:53 - 6:54Sim.
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6:54 - 6:56É interessante
o que a Agnalda falou, -
6:56 - 6:58que a oralidade é uma energia.
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6:58 - 7:00Então,
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7:00 - 7:03antes de falar da literatura
especificamente, -
7:03 - 7:06eu acho que tem duas formas
de falar de oralidade. -
7:06 - 7:10Uma é essa corrente
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7:10 - 7:13das histórias que se transmitem
de geração para geração, -
7:13 - 7:15e há uma que não é tão...
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7:17 - 7:20Interessante, que talvez
a gente deva repensar, -
7:20 - 7:24que é pensar a oralidade como
o oposto daquilo que é escrito, -
7:24 - 7:26o oposto da escritora.
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7:26 - 7:27E isso é uma estratégia...
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7:27 - 7:29Parece que é óbvio...
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7:29 - 7:31Ah, não foi escrito,
foi oralizado. -
7:31 - 7:33Não foi escrito,
então é oralidade. -
7:33 - 7:36Mas isso é só uma convenção
que, na verdade, -
7:36 - 7:38tenta categorizar as coisas
de modo que, -
7:38 - 7:41quando eu falo oralidade,
eu estou dizendo não é escrito, -
7:41 - 7:45então há um rebaixamento
desse status -
7:45 - 7:46do que é oralizado,
do que é escrito, -
7:46 - 7:49porque nós estamos
numa cultura letrada, -
7:49 - 7:52então o conceito prevalece.
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7:52 - 7:54É um pouco capciosa essa palavra,
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7:54 - 7:56Então a gente tenta dar
um pouco de cuidado. -
7:56 - 7:57A gente usa de um modo geral,
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7:57 - 8:01e a Agnalda usa muito bem
quando ela fala de energia, -
8:01 - 8:03e eu quero ir para esse lado.
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8:03 - 8:06Então, os teóricos
que eu tenho lido, -
8:06 - 8:09como por exemplo,
Adriana Cavalheiro ou o Paul, -
8:09 - 8:12que, coincidentemente, foi
chamado para falar desse assunto -
8:12 - 8:14sem que a Marina
soubesse, por exemplo, -
8:14 - 8:16que eu tenho estudado
a voz ultimamente, -
8:16 - 8:20a voz nessa intersecção
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8:20 - 8:23do texto literário com a performance vocal.
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8:23 - 8:25Eu não sabia. Que maravilhoso!
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8:25 - 8:28Eu não falei nada porque eu pensei:
vou deixar para falar na hora -
8:28 - 8:30para não enviesar
tanto a discussão. -
8:30 - 8:33Então, qual é a estratégia
para a gente tirar a oralidade -
8:33 - 8:36como sinônimo daquilo
que é oposto ao que é escrito? -
8:36 - 8:38É você focar a voz,
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8:38 - 8:41porque quando você foca a voz,
você vai para o corpo, -
8:41 - 8:43porque voz e corpo...
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8:43 - 8:45Parece óbvio, porque, assim,
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8:45 - 8:47o aparelho fonador
que está aqui é corpóreo. -
8:47 - 8:49Não, mas a voz é corpo.
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8:49 - 8:54Então tem toda uma discussão
sobre por que a voz foi tirada... -
8:55 - 8:57Do pensamento ocidental,
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8:57 - 8:59foi tirada da própria filosofia.
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8:59 - 9:01Quando eu falei da Adriana
Cavalheiro, ela fala: -
9:01 - 9:04"A filosofia tem
esse erro profundo -
9:04 - 9:07de passar do pensamento
para o conceito, -
9:07 - 9:10e ela tira a voz do foco".
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9:10 - 9:12E qual é o problema da voz?
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9:12 - 9:15A voz é insubordinada,
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9:15 - 9:17a voz desobedece,
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9:17 - 9:20a voz deixa de situar
o pensamento. -
9:20 - 9:22A voz pode ser ambígua.
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9:22 - 9:24Eu posso falar que te amo
dizendo que te odeio, -
9:24 - 9:25e você entendeu que eu te odeio,
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9:25 - 9:28embora eu tenha
falado eu te amo. -
9:28 - 9:29Há um monte de inflexão.
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9:29 - 9:33Então a voz é corpo,
a voz é uma presença. -
9:33 - 9:35Isso é muito importante
a gente falar. -
9:35 - 9:38Então, quando a Agnalda fala
que a oralidade é uma energia, -
9:38 - 9:42a gente tem que pensar
o seguinte: oralidade é corpo. -
9:43 - 9:47Esse saber que foi
implantado aqui -
9:47 - 9:49ao qual a cultura
brasileira deve tudo, -
9:49 - 9:51porque sem isso ela não é nada,
-
9:51 - 9:54mesmo com as pessoas
brancas que são brasileiras, -
9:54 - 9:57foi trazido no corpo,
não foi na Enciclopédia Barsa, -
9:57 - 10:01porque se fosse um saber
dependente da enciclopédia, -
10:01 - 10:04teriam queimado e nós
não estaríamos aqui hoje, -
10:04 - 10:05não existiríamos nós aqui hoje,
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10:05 - 10:07não existiria esse país.
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10:07 - 10:09Então, trouxeram
esse saber no corpo -
10:09 - 10:11e plantaram aqui os seus orixás...
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10:13 - 10:16Reconstruíram essa história,
essa cultura, aqui. -
10:16 - 10:18Então é corpo esse saber.
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10:18 - 10:21E o Ocidente odeia corpo.
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10:21 - 10:24Ele é uma coisa etérea,
uma coisa sem corpo. -
10:24 - 10:24Mas por quê?
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10:24 - 10:25Porque o pensamento...
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10:25 - 10:28E tem uma coisa aí por trás,
e isso não sou eu dizendo. -
10:28 - 10:33A própria Adriana Cavalheiro,
essa filósofa italiana, fala assim: -
10:33 - 10:35"Esse é um pensamento
tipicamente masculino. -
10:35 - 10:38É o macho branco
essa coisa da escrita. -
10:38 - 10:42Então, usemos sim a oralidade
de um modo corrente, como usamos, -
10:42 - 10:43mas tomemos cuidado
-
10:43 - 10:47porque o foco aqui é a voz,
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10:47 - 10:49é aqui que está
a nossa resistência, -
10:49 - 10:51porque quem tem
voz desobedece. -
10:51 - 10:54Então, quando você fala,
por exemplo, da energia, -
10:54 - 10:55oralidade como energia,
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10:55 - 10:58nas culturas de terreiros
é chamado de "Emi", -
10:58 - 11:01porque tem um fluxo vital meu
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11:01 - 11:03que sai aqui, encontra o seu,
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11:03 - 11:05e nós trocamos essa energia.
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11:05 - 11:06Isso é corpo.
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11:06 - 11:08Então a minha verdade
se presentifica -
11:08 - 11:10na hora em que eu falo
diante de você. -
11:10 - 11:13Aqui está todo o meu ser
inteiro diante de você, -
11:13 - 11:14e generosamente, inclusive, né?
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11:14 - 11:17É uma troca generosa
de igual para igual. -
11:17 - 11:20Então o Ocidente odeia isso
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11:20 - 11:22porque isso escapa ao controle.
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11:22 - 11:24E foi assim que nós escapamos,
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11:24 - 11:25foi assim que nós
fundamos um país -
11:25 - 11:27e foi assim que nós estamos
aqui, de cabeça erguida. -
11:27 - 11:28É por causa disso.
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11:28 - 11:30Ele é genial, está vendo?
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11:30 - 11:32Eu estou emocionada porque...
-
11:32 - 11:34Eu estou pegando carona
no que você disse. -
11:34 - 11:35Você trouxe a energia vital, né?
-
11:35 - 11:39Eu estou emocionada,
porque o Reni, -
11:39 - 11:41para quem estiver vendo...
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11:41 - 11:43Para quem não estiver vendo,
eu vou descrever. -
11:43 - 11:47Ele fala olhando para os seus olhos,
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11:47 - 11:50com os seus olhos
castanhos brilhantes. -
11:51 - 11:54Os seus olhos castanhos emitindo
-
11:54 - 11:56toda a emoção da fala, da voz.
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11:56 - 12:00É todo o corpo que você
entrega junto com a voz. -
12:00 - 12:03É o brilho no olho,
é o lacrimejar, -
12:03 - 12:06porque ele está lacrimejando,
porque ele está emocionado. -
12:06 - 12:10Então há uma entrega neste estúdio,
-
12:10 - 12:11neste dia,
-
12:11 - 12:13de uma energia
-
12:13 - 12:18que também é
construída no afeto, -
12:18 - 12:21e o afetar em todos os sentidos
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12:21 - 12:23que você possa imaginar,
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12:23 - 12:25porque você me afeta
com a sua fala, -
12:25 - 12:28você me afeta com o seu olhar.
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12:28 - 12:30Eu sinto...
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12:31 - 12:35A visceralidade da contação,
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12:35 - 12:38do que ele está
colocando aqui de energia, -
12:38 - 12:40e é isso que nos fez sobreviver.
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12:40 - 12:43Foi essa tecnologia
-
12:43 - 12:45de entender que essa...
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12:47 - 12:49Foi a única possibilidade
que tivemos. -
12:49 - 12:53E isso foi colocado na frente
-
12:53 - 12:55e que fez, de fato,
-
12:55 - 12:58a gente sobreviver e fazer
esse país ser o que ele é. -
12:58 - 13:00E a possibilidade do protagonismo, né,
-
13:00 - 13:02porque quando a voz desobedece,
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13:02 - 13:06quem conta a história é quem
está contando pela sua perspectiva -
13:06 - 13:07e não pelo registro histórico.
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13:07 - 13:10Porque a gente também sabe
que o registro histórico -
13:10 - 13:12não foi feito pelas pessoas
que necessariamente -
13:12 - 13:14vivenciaram aquilo, né?
-
13:14 - 13:15Eram outras pessoas contando.
-
13:15 - 13:18E nós estamos falando
de uma cultura, -
13:18 - 13:20de um tipo de saber,
-
13:20 - 13:23que honra muito a ancestralidade,
-
13:23 - 13:26mas não porque a ancestralidade
está lá atrás, -
13:26 - 13:29mas porque a ancestralidade
está aqui agora, está presente. -
13:29 - 13:31Isso é muito importante
-
13:31 - 13:36porque é uma sabedoria
tão visceral, tão maravilhosa, -
13:36 - 13:40que a própria morte
é superada nesse sentido. -
13:40 - 13:44Então, a pessoa
que morreu retorna, -
13:44 - 13:46presentifica aqui agora,
-
13:46 - 13:48quando eu falo dela,
quando eu vocalizo. -
13:48 - 13:52Então tem algo da presença dessa
pessoa, disso que não morre, -
13:52 - 13:55e que eu trago aqui
agora desse passado. -
13:55 - 13:59Então não é uma ideia linear
de passado, presente e futuro. -
13:59 - 14:00Como a Vanda Machado fala...
-
14:00 - 14:03A Vanda Machado é lá do Afonjá,
-
14:03 - 14:05comunidade Afonjá
da mãe Stella de Oxóssi, -
14:05 - 14:09e tem uma escola de ensino
fundamental lá no terreiro. -
14:09 - 14:11Então, tem toda
uma pedagogia voltada para isso -
14:11 - 14:13e o trabalho da Vanda
em torno disso. -
14:13 - 14:16Então ela fala: "Não é
passado, presente e futuro. -
14:16 - 14:18É presente do presente,
-
14:18 - 14:19presente do passado,
-
14:19 - 14:21e presente do futuro.
-
14:21 - 14:24Então, nem a morte
pode com isso. -
14:25 - 14:28A morte então passa a ser
só uma outra forma de vida, -
14:28 - 14:31porque os ancestrais estão aqui,
eles vêm, eles retornam, -
14:31 - 14:35comem com a gente, eles encarnam,
eles têm corpo também, -
14:35 - 14:38abençoam as pessoas,
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14:38 - 14:40comemoram os seus feitos.
-
14:40 - 14:41Eles estão aqui conosco.
-
14:41 - 14:45Então, o contrário
da vida não é a morte. -
14:45 - 14:48O contrário da vida
é o desencanto. -
14:48 - 14:50A gente está falando
de pessoas encantadas, -
14:50 - 14:52de pessoas que têm esse
poder de encantamento, -
14:52 - 14:56e contra isso, ninguém
pode, ninguém pode. -
14:56 - 14:57E aí, eu não sei
se eu posso falar... -
14:57 - 14:59Eu queria que você falasse...
-
14:59 - 15:00- Da literatura?
- Sim, da literatura, por favor. -
15:00 - 15:03Então, a literatura
tem essa questão... -
15:06 - 15:08Eu falei do corpo...
-
15:08 - 15:11Eu vou dar um exemplo aqui
para quem está assistindo, -
15:11 - 15:12que é o seguinte...
-
15:13 - 15:14Eu vou contar uma história.
-
15:16 - 15:19Tinha um menino,
era uma adolescente -
15:19 - 15:22de uns 13 anos de idade,
-
15:22 - 15:25um adolescente como qualquer
outro adolescente contemporâneo, -
15:25 - 15:29que gostava muito de jogar
videogame com os amigos, -
15:29 - 15:31jogava futebol também,
-
15:31 - 15:34e era um estudante brilhante,
-
15:34 - 15:36e ele estava interessado
numa menina -
15:36 - 15:38que o convidou para uma festa.
-
15:38 - 15:41E aqui eu paro a história porque
não interessa nada a história. -
15:41 - 15:45Eu quero saber, honestamente,
de você que me assiste: -
15:45 - 15:47você imaginou
o menino de que cor? -
15:49 - 15:50Essa é a pergunta.
-
15:50 - 15:53Porque quando a gente
ouve uma história, -
15:53 - 15:57gealmente a gente imagina
uma pessoa branca, -
15:57 - 16:00porque o branco é universal,
-
16:00 - 16:03o negro é específico.
-
16:03 - 16:06Então você só vai saber
a cor de um personagem -
16:06 - 16:07se o autor informar.
-
16:07 - 16:12Uma vez eu estava numa mesa, aí
eu falei que eu era negro na apresentação. -
16:12 - 16:15Aí um autor conhecidíssimo
-
16:15 - 16:16estava do meu lado, branco,
e disse assim... -
16:16 - 16:18Aí, na hora que ele foi
se paresentar ele disse: -
16:18 - 16:19"Eu não vou falar a minha cor.
-
16:19 - 16:23Eu acho bobagem porque
os meus personagens...". -
16:23 - 16:26Aí eu interrompi e falei: peraí,
eu não vou passar por uma pessoa -
16:26 - 16:30que está dizendo aquilo
que é inútil dizer. -
16:30 - 16:33Sabe porque você não fala a cor
dos seus personagens, fulano? -
16:34 - 16:35Porque elas são brancas.
-
16:35 - 16:37Se elas fossem
negras, você diria, -
16:37 - 16:41se elas fossem
indígenas, você diria. -
16:41 - 16:43Então é sempre esse
o universal branco. -
16:43 - 16:44Então a história é assim.
-
16:44 - 16:48E numa dessas, embranqueceram
inclusive, o Machado de Assis. -
16:48 - 16:52Para aceitar que um preto
-
16:52 - 16:54fosse o cânone
nacional da literatura -
16:54 - 16:56foi preciso embranquecê-lo.
-
16:56 - 17:01E aí teve todo
um celeuma que se criou -
17:01 - 17:03com o enegrecimento dele
-
17:03 - 17:06a restituição da cor
do Machado de Assis -
17:06 - 17:08Ele nasce pardo...
-
17:08 - 17:12Na certidão de nascimento
do Machado de Assis -
17:12 - 17:13tem lá pardo,
-
17:13 - 17:16e na certidão de óbito,
-
17:16 - 17:19porque aí ele era Machado de Assis...
-
17:21 - 17:23Respeitado, uma figura respeitada
-
17:23 - 17:26pela literatura da língua portuguesa,
-
17:26 - 17:29na certidão de óbito,
-
17:29 - 17:30jaz um homem branco.
-
17:32 - 17:35Essa sujeiticidade
-
17:35 - 17:38que a gente reivindica
-
17:38 - 17:40não é do acaso.
-
17:40 - 17:43Ela é de séculos,
-
17:43 - 17:46de negligenciar, inclusive,
essa intelectualidade. -
17:46 - 17:49Do apagamento
das existências, de fato. -
17:49 - 17:50Exato.
-
17:50 - 17:52E aí, quando você traz
-
17:52 - 17:55tantos pensadores...
-
17:55 - 17:56A gente fala do Machado,
-
17:56 - 18:00mas Juliano Moreira,
por exemplo, que era um médico -
18:00 - 18:05que foi o grande percursor
da luta antimanicomial, -
18:05 - 18:07era um homem negro.
-
18:07 - 18:10Quando eu falei isso
para o meu psiquiatra, -
18:10 - 18:12que é um homem
-
18:12 - 18:15de aparência, fenótipos,
do Oriente Médio, -
18:15 - 18:17ele falou: "Agnalda, eu não acredito
-
18:17 - 18:20que eu passei a faculdade,
quase que inteira, -
18:20 - 18:21estudando Juliano Moreira,
-
18:21 - 18:23e eu não sabia que ele
era um homem negro". -
18:23 - 18:25Um homem negro
que se formou em medicina, -
18:25 - 18:27entrou para a faculdade
de medicina aos 17 anos. -
18:29 - 18:32Então, assim, ele era genial,
-
18:32 - 18:33ele era genial.
-
18:33 - 18:36E eu estou falando
muito disso -
18:36 - 18:41porque, enfim, eu fundo
a Côrtez e Companhia -
18:41 - 18:42para poder...
-
18:43 - 18:46Dentro da cultura neoliberal,
-
18:46 - 18:48fazer com que pessoas negras
-
18:48 - 18:51continuem reverberando
coisas importantes, -
18:51 - 18:54como uma comunicação
relevante na internet, -
18:54 - 18:55capitalizando isso.
-
18:57 - 19:00E foi a partir da história
dos heróis negros brasileiros, né, -
19:00 - 19:03porque quando o PH Côrtes
começa, com 13 anos, -
19:03 - 19:06a falar dos heróis negros
brasileiros na internet, -
19:06 - 19:09era uma criança, era um menino,
-
19:09 - 19:11que estava falando
de algo tão importante -
19:11 - 19:15de uma forma tão
interessante, tão funny, -
19:15 - 19:17tão gostosinha,
-
19:17 - 19:20que as crianças gostavam,
os adultos gostavam. -
19:20 - 19:23Só que chegou o momento,
ele com 14 anos, -
19:23 - 19:25falou: "Eu não vou fazer mais".
-
19:25 - 19:27Por que você
não vai fazer, filho? -
19:27 - 19:30"Não vou fazer mais porque eu
quero ganhar dinheiro também, -
19:30 - 19:34como todo mundo
ganha com isso na internet. -
19:34 - 19:36E eu não quero só mudar o mundo.
-
19:36 - 19:38Eu quero mudar o meu mundo".
-
19:38 - 19:41Porque também tem a leitura
de quem você é no mundo -
19:41 - 19:43e como isso se constitui.
-
19:43 - 19:45E aí, quando ele fala isso para mim,
-
19:45 - 19:47vem um monte de coisas
na minha cabeça, -
19:47 - 19:49do tipo... Caramba!
-
19:49 - 19:52Criado por mim, educado por mim,
-
19:52 - 19:53me vendo em cargos de liderança,
-
19:53 - 19:57porque eu tive 22 anos
de cargos executivos -
19:57 - 19:59dentro de grandes corporações.
-
19:59 - 20:04Mesmo assim, esse guri está
se vendo impedido de realizar sonhos -
20:04 - 20:07está se vendo impedido
de ser um artista pensador, -
20:07 - 20:10porque ele estava
construindo o texto, -
20:10 - 20:12fazendo roteiros,
para fazer o vídeo. -
20:12 - 20:13Ele fazia tudo.
-
20:13 - 20:14Ele fazia, não. Ele faz tudo.
-
20:14 - 20:17Hoje esse rapaz está com 22 anos.
-
20:17 - 20:20E agora é olho dela que está
brilhando só por ela contar aqui. -
20:20 - 20:23É porque é muito legal
lembrar que esse guri -
20:23 - 20:26só queria continuar fazendo
o que estava fazendo, -
20:26 - 20:28mas o mundo estava
dizendo para ele: -
20:28 - 20:30"Isso aí não vale nada não, viu?".
-
20:30 - 20:33Apesar da comunidade negra,
apesar dos professores, de jornalistas, -
20:33 - 20:34de todo mundo falar
que estava valendo... -
20:36 - 20:39Era um valor de propósito,
-
20:39 - 20:43mas não tinha o preço,
ele não ganhava. -
20:43 - 20:44E aí ele falava assim:
-
20:44 - 20:47"Ah, eu vou trabalhar
com o meu pai de office boy -
20:47 - 20:49e vou ganhar
um dinheirinho ali pelo menos". -
20:49 - 20:51Não, você não vai fazer isso.
-
20:51 - 20:55Você vai continuar fazendo
o que você quer fazer, -
20:55 - 20:58vai continuar reverberando
a história dos heróis negros brasileiros. -
20:58 - 21:01É por isso que me veio
Juliano Moreira e Machado, -
21:01 - 21:03é porque ele contou
essas histórias. -
21:03 - 21:07E eu vou arranjar um jeito
de a gente ganhar dinheiro com isso. -
21:07 - 21:09Eu sabia algo de publicidade?
-
21:09 - 21:10Nada.
-
21:10 - 21:13Sabia o que eles comiam, onde
eles andavam, o que eles faziam? -
21:13 - 21:14Não.
-
21:14 - 21:17Mas eu entendi a nossa força,
-
21:17 - 21:19a nossa energia na oralidade.
-
21:20 - 21:24Eu costumo dizer
que esse talento -
21:24 - 21:25eu puxei da minha avó.
-
21:25 - 21:27A minha vó era
uma encantadora de gente. -
21:27 - 21:30Quando ela se sentava,
-
21:30 - 21:32uma mulher preta, retinta,
-
21:32 - 21:33uma mulher rezadeira...
-
21:33 - 21:35Quando ela contava as histórias,
-
21:35 - 21:38eu mergulhava
naquele universo dela. -
21:38 - 21:40E eu sabia que eu
tinha esse talento. -
21:40 - 21:41Então...
-
21:42 - 21:44O que há de mais precioso
-
21:44 - 21:47se não você contar a história
-
21:47 - 21:48em primeira pessoa,
-
21:48 - 21:51com um olhar de encantamento,
-
21:51 - 21:53que é diferente de marketing,
-
21:53 - 21:56é diferente de venda.
-
21:58 - 22:01Fazer com que o outro se encante.
-
22:01 - 22:02É trazer o outro,
-
22:02 - 22:03e esse outro...
-
22:05 - 22:07Independentemente
se ele é branco, -
22:07 - 22:08preto, azul, vermelho,
-
22:08 - 22:12esse outro se encanta pelas histórias.
-
22:12 - 22:15Então, hoje, e naquele momento,
-
22:15 - 22:17eu sabia que eu
tinha esse talento. -
22:17 - 22:19Eu poderia trazer as pessoas
-
22:19 - 22:22para um lugar encantador.
-
22:22 - 22:25E dentro da minha
experiência comercial, -
22:25 - 22:29eu sabia que esse encantamento
tinha um valor. -
22:29 - 22:31E esse valor tem preço.
-
22:31 - 22:34Numa sociedade capitalista,
você tem que saber cobrar. -
22:34 - 22:35Então foi isso que eu fiz.
-
22:35 - 22:39Mas, veja bem, olha
a volta que é dada, -
22:39 - 22:42o repertório que tem que se ter,
-
22:42 - 22:45para poder incorporar.
-
22:45 - 22:46Porque é isso.
-
22:47 - 22:49Eu sou uma mulher de negócios.
-
22:50 - 22:54Eu sou uma mulher filha de Iabá...
-
22:55 - 22:57Mercadoras
-
22:57 - 22:59O povo nigeriano
-
22:59 - 23:01sabe fazer mercado como ninguém,
-
23:01 - 23:04sabe fazer trocas, trocas justas.
-
23:06 - 23:08Quando eu vendo,
-
23:08 - 23:11eu entrego, eu faço uma troca justa.
-
23:12 - 23:15Então o outro não
se sente invadido, -
23:15 - 23:17nem se sente
à vontade de negociar. -
23:17 - 23:21Porque não é sobre negociar
o que eu estou falando. -
23:21 - 23:23É sobre uma troca justa.
-
23:23 - 23:25Então eu acho que esse exercício...
-
23:25 - 23:27Gente, eu estou trazendo
aqui para vocês -
23:27 - 23:29a possibilidade da gente,
-
23:29 - 23:33dentro de outras cosmovisões,
-
23:33 - 23:36entender as nossas tecnologias.
-
23:36 - 23:39A gente já era um povo assim.
-
23:39 - 23:41Nós já sabemos fazer isso.
-
23:41 - 23:44Não foi a faculdade que me ensinou.
-
23:44 - 23:45Eu fiz faculdade de turismo.
-
23:46 - 23:49Sim, fui sempre
do lado comercial, -
23:49 - 23:51sempre trabalhei técnicas,
-
23:51 - 23:54mas não é isso que faz eu ser quem eu sou,
-
23:54 - 23:59mas esse jeito de fazer negócio.
-
23:59 - 24:01A minha avó me levava
para a feira, viu, gente? -
24:01 - 24:04Olha, ela tinha
um pouquinho de dinheiro, -
24:04 - 24:08uma penca de banana,
uns litros de farinha, -
24:08 - 24:10e ela fazia umas trocas na feira
-
24:10 - 24:13porque ela não tinha
dinheiro em espécie. -
24:13 - 24:15Três, quatro, cinco horas,
-
24:15 - 24:17o sol a pino,
-
24:17 - 24:20mas ela ficava horas
na conversa, -
24:20 - 24:21na troca justa.
-
24:21 - 24:24Então, o quanto
a gente está disposto -
24:24 - 24:26a contar as nossas histórias
-
24:26 - 24:30para que o outro não
entenda como um favor -
24:30 - 24:33ou até na ousadia
-
24:33 - 24:35de fazer uma proposta indecente.
-
24:35 - 24:38Como a gente faz
com que o outro se encante. -
24:38 - 24:42Eu acho que é um exercício
que a arte traz muito bem, -
24:42 - 24:43mas essa arte...
-
24:43 - 24:44Quando a gente fala, parece algo
-
24:44 - 24:47tão subjetivo.
-
24:47 - 24:49Essa arte é construída
-
24:49 - 24:53dentro de várias
tecnologias e saberes. -
24:53 - 24:56Quando o Reni fala
dessa corporeidade, -
24:56 - 25:00dessa sujeiticidade,
dessa oralidade, -
25:00 - 25:04é quanto de conhecimento
-
25:04 - 25:06do agora, pragmático,
-
25:06 - 25:09desse que você está
estudando aqui, -
25:09 - 25:12e do que você traz
ancestralmente. -
25:12 - 25:14Como você está fazendo
essa conexão? -
25:14 - 25:18Porque é ela que vai determinar
o seu diferencial no mercado. -
25:18 - 25:20Tenha certeza disso.
-
25:20 - 25:23Os certificados
são importantíssimos -
25:23 - 25:25porque eles que te
dão passabilidade -
25:25 - 25:28para você estar nos espaços.
-
25:28 - 25:29Mas o que vai fazer a diferença
-
25:29 - 25:33é como você está se conectando
-
25:33 - 25:35com essa ancestralidade
que o Reni falou. -
25:35 - 25:37Todo mundo tem, viu?
-
25:37 - 25:39A ancestralidade não está
só para o povo negro não. -
25:39 - 25:40Exato.
-
25:40 - 25:43É importante
isso porque as pessoas acham -
25:43 - 25:45que a ancestralidade é dada
pela cor da pele. -
25:45 - 25:46Sempre.
-
25:46 - 25:49Eu, por exemplo, tenho uma irmã
que é considerada branca. -
25:49 - 25:52Não é branca, mas a branca
que passa por branca, né? -
25:52 - 25:55Bom, parece que ela está
satisfeita com isso alvez. -
25:55 - 25:59Então, é muito interessante
porque a minha irmã é cosmopolita -
25:59 - 26:00porque ela é branca.
-
26:00 - 26:03Eu não, eu sou destinado à África,
-
26:03 - 26:04Então, como assim dois irmãos?
-
26:04 - 26:07Somos filhos do mesmo
pai, da mesma mãe. -
26:07 - 26:11E mesmo pessoas que não têm
ascendência negra direta, -
26:11 - 26:13mas se você é brasileiro,
se você nasceu aqui... -
26:13 - 26:16Então a questão não é dizer...
-
26:16 - 26:19"Ah, mas as pessoas estão
se apropriando, porque os brancos...". -
26:19 - 26:21"Gente, eu acho
que a questão é honrar. -
26:23 - 26:25Porque fundamento você honra.
-
26:25 - 26:27Então, o que a gente
está pedindo é: -
26:27 - 26:28honre esse fundamento
-
26:28 - 26:31seja você da cor que for.
-
26:31 - 26:35Então a questão não é porque
branco não tem essa ancestralidade, -
26:35 - 26:36o branco brasileiro.
-
26:36 - 26:38Não, tem, só que a questão
que se pede é que se honre. -
26:39 - 26:44E honrar é, inclusive,
defender os pretos -
26:44 - 26:47das injustiças causadas
em nome dos brancos. -
26:47 - 26:48Exato.
-
26:48 - 26:49Isso é honrar esse fundamento.
-
26:49 - 26:51Entender o seu papel,
-
26:51 - 26:53que... "Ah, eu não
tenho lugar de fala", -
26:53 - 26:55mas que você tem
o seu lugar de ação, -
26:55 - 26:58então usem o lugar de ação.
-
26:58 - 26:59E eu quero pegar o gancho, Agnalda,
-
26:59 - 27:01do que você trouxe, do PH,
-
27:01 - 27:03Que histórias são essas
que a gente conta -
27:03 - 27:05e quem conta essas histórias?
-
27:05 - 27:07Porque, trazendo
o gancho da oralidade -
27:07 - 27:09que o Reni trouxe
brilhantemente para a mesa, -
27:09 - 27:11que voz é essa?
-
27:11 - 27:13Como a gente registra isso?
-
27:13 - 27:16E a gente está registrando
tudo no digital agora. -
27:16 - 27:19Então, como a gente
empacota essas histórias -
27:19 - 27:22e como a gente encanta
pessoas pela comunicação, -
27:22 - 27:25que é uma ferramenta pela qual
eu sou absurdamente apaixonada, -
27:25 - 27:28que é uma ferramenta
maravilhosa e gigantesca, -
27:28 - 27:30que trata de gente.
-
27:30 - 27:32Sempre, em primeiro
lugar, é gente. -
27:32 - 27:36Depois vem todas as estratégias
que podem ser para venda, -
27:36 - 27:38mas sempre por gente,
-
27:38 - 27:40sempre tendo
esse principal canal. -
27:40 - 27:42E aí, Reni, eu queria falar
um pouco com você -
27:42 - 27:45sobre uma pesquisa do Grupo de Estudos
de Literatura Contemporânea -
27:45 - 27:48da UnB, Universidade de Brasília,
-
27:48 - 27:51que entre 2004 e 2014,
-
27:51 - 27:54apenas 2,5%
dos autores publicados -
27:54 - 27:56não eram brancos,
-
27:56 - 27:58e apenas 6,9%
-
27:58 - 28:01dos personagens retratados
-
28:01 - 28:05nos livros publicados
eram pessoas negras. -
28:05 - 28:08Como a gente traz esse
protagonismo e essa voz -
28:08 - 28:10para a população
negra na literatura? -
28:10 - 28:12Eu gosto muito dessa pesquisa.
-
28:12 - 28:14É uma pesquisa encabeçada
pela professora -
28:14 - 28:16Regina Regina Dalcastagné,
da UnB. -
28:16 - 28:19Eu costumo trabalhar
com esses dados. -
28:21 - 28:25Ela passou muitos
anos pesquisando... -
28:26 - 28:31Das obras de 1990 a 2004,
-
28:31 - 28:33das grandes editoras,
Companhia das Letras, -
28:33 - 28:35Rocco e Record,
-
28:35 - 28:37olha só que interessante,
-
28:37 - 28:41ela viu que,
dos 1245 personagens -
28:41 - 28:43catalogados
-
28:43 - 28:45em 258 obras,
-
28:46 - 28:492,7% são mulheres negras.
-
28:49 - 28:50Dois...
-
28:50 - 28:522,7% são mulheres negras.
-
28:52 - 28:54Em 258 obras
-
28:54 - 28:56entre 1245 personagens.
-
28:56 - 29:00E nessas aparições
-
29:00 - 29:02de 2,7%,
-
29:02 - 29:03olha só,
-
29:03 - 29:07em 70% dos casos
elas são retratadas -
29:07 - 29:10como empregadas
domésticas ou prostitutas. -
29:10 - 29:13E nas outras aparições
que restam, -
29:13 - 29:15elas são donas de casa,
-
29:15 - 29:17escravas ou delinquentes.
-
29:19 - 29:21E a análise ainda aponta que,
-
29:21 - 29:23em apenas três dessas obras,
-
29:23 - 29:26uma mulher negra aparece
como protagonista -
29:26 - 29:30e em apenas um caso,
ela é a narradora. -
29:30 - 29:33E aí vale também para os homens.
-
29:33 - 29:35O perfil médio
dos personagens... -
29:37 - 29:39Masculinos pesquisados seriam:
-
29:39 - 29:42homens brancos,
-
29:42 - 29:4479,8%,
-
29:44 - 29:48provenientes
da classe média, 56,6% -
29:48 - 29:51e heterossexuais, 81%.
-
29:51 - 29:53Em 56% dos romances,
-
29:53 - 29:56não existe sequer
um personagem não branco. -
29:57 - 29:58E quem está falando?
-
29:58 - 30:0072,7%
-
30:00 - 30:02dos romances analisados
-
30:02 - 30:04foram escritos por homens.
-
30:04 - 30:05Destes,
-
30:05 - 30:0993,9%
-
30:09 - 30:10são brancos.
-
30:10 - 30:13E aí, de novo, a importância
dessa imaginação -
30:13 - 30:16e dessa construção
para as crianças -
30:16 - 30:17e para a gente também.
-
30:17 - 30:19De quem são essas pessoas
que estão nesse lugar? -
30:19 - 30:23Por isso o PH sentiu falta
de ter alguém que falasse dos heróis, -
30:23 - 30:25assim como ele também
levantou a mão e falou: -
30:25 - 30:27"Mas espera aí! Eu preciso
ganhar um dinheiro, -
30:27 - 30:28então eu vou fazer
uma outra coisa -
30:28 - 30:29porque isso não
vai me dar dinheiro, -
30:29 - 30:33eu não vou ter o reconhecimento
financeiro nesse lugar". -
30:33 - 30:34Olha, tem um problema
muito sério. -
30:34 - 30:36Se você ler uma história
para uma criança, -
30:36 - 30:38ela não imagina
personagens iguais a ela, -
30:38 - 30:42quando não é
dito nada sobre etnia, -
30:42 - 30:43tem um problema muito sério.
-
30:43 - 30:44Isso vale para nós.
-
30:44 - 30:48Eu também tenho
que fazer um esforço -
30:48 - 30:49incomum, sabe,
-
30:49 - 30:51desgastante até,
-
30:51 - 30:52se eu quiser sair do estereótipo
-
30:52 - 30:55quando eu vou
imaginar literatura, -
30:55 - 30:57que é a minha área de trabalho,
-
30:57 - 30:59porque eu também fui
condicionado a isso, -
30:59 - 31:02a entender
que o universal era branco. -
31:02 - 31:03Eu tenho que fazer esse esforço.
-
31:03 - 31:05É um esforço
consciente que eu faço, -
31:05 - 31:09porque, automaticamente,
vem o personagem branco. -
31:09 - 31:14Mas tão importante quanto
trazer essas pessoas, -
31:14 - 31:16trazer para a chamada
representatividade, -
31:16 - 31:18uma palavra até
um pouco problemática... -
31:18 - 31:21Não vamos conseguir
problematizá-la aqui. -
31:21 - 31:24Mas quando a gente
fala da representação, -
31:24 - 31:26tira a representatividade,
-
31:26 - 31:29representação dessas pessoas...
-
31:29 - 31:30Porque é disso
que nós estamos falando, -
31:30 - 31:34você representa a mulher
negra daquela forma, -
31:34 - 31:37então você cai nessa
representação estereotipada. -
31:37 - 31:38É disso que estamos falando.
-
31:38 - 31:40Então, tão importante
quanto trazer, -
31:40 - 31:43e a gente pode falar
de autores daqui a pouco, -
31:43 - 31:45autores negros e negras,
-
31:45 - 31:48é que, com o acesso
-
31:48 - 31:51de pessoas negras
nas universidades, -
31:51 - 31:53fazendo pesquisa de qualidade,
-
31:53 - 31:56em universidades públicas
principalmente, -
31:56 - 31:59a gente tem visto que, tudo isso
de que falávamos no início, -
31:59 - 32:02sobre esse saber vocal,
-
32:02 - 32:05ou oralidade,
-
32:05 - 32:07que é corpo, tudo isso,
-
32:07 - 32:10está ganhando dignidade epistêmica
dentro das universidades. -
32:10 - 32:12Isso que é importante
a gente pensar, -
32:12 - 32:15não porque esses
saberes precisam -
32:15 - 32:18da chancela
de uma universidade. -
32:18 - 32:19Não é isso.
-
32:19 - 32:23Mas é porque esses espaços
precisam ser ocupados -
32:23 - 32:24com esses saberes,
-
32:24 - 32:28que são a nossa resistência
que sustenta essa cultura. -
32:28 - 32:32Então, essa dignidade epistêmica
é muito importante. -
32:32 - 32:36Ela está sendo construída
agora, neste momento, -
32:36 - 32:39por esses novos pesquisadores,
negros e negras, -
32:39 - 32:40que estão chegando
nas universidades. -
32:40 - 32:43E uma política muito recente
de ocupação das universidades, né, -
32:43 - 32:45porque a gente também
não podia acessar. -
32:45 - 32:48E eu só quero reforçar aqui
um dado que a gente fala sempre, -
32:48 - 32:52que é do Censo 2022 do IBGE.
-
32:52 - 32:56A população negra formada
por pessoas pretas e pardas -
32:56 - 32:59representa a maior parte
da população brasileira. -
32:59 - 33:03Se a gente está em espaços
em que não há pessoas pretas e pardas, -
33:03 - 33:05a gente não tem
representação desse país, -
33:05 - 33:07seja no acadêmico,
-
33:07 - 33:10seja no mercado de trabalho,
em qualquer lugar. -
33:10 - 33:12Então, saber estes
dados é importante -
33:12 - 33:17porque se não tem diversidade
e se não tem representação, -
33:17 - 33:20não tem inovação,
não tem possibilidades -
33:20 - 33:24de continuar tentando
massificar uma população inteira -
33:24 - 33:27a partir de uma perspectiva de quem
só quer ter manutenção de poder. -
33:27 - 33:29Porque, me desculpe
falar isso para vocês, -
33:29 - 33:32mas nem vocês estão
inseridos necessariamente -
33:32 - 33:34nesses cenários
e nesses contextos. -
33:34 - 33:37Então, qual é o nosso papel
para abrir esses espaços -
33:37 - 33:40e para ter noção do contexto
e do país que a gente vive -
33:40 - 33:42para conseguir fazer diferente,
-
33:42 - 33:44porque senão não vai rolar.
-
33:44 - 33:47Não rola mais, não dá
para fingir que não existe. -
33:47 - 33:50E aí, para a gente
chegar ao fim, -
33:50 - 33:52quer trazer
algum ponto, Agnalda? -
33:52 - 33:53Você está aqui
com o olhinho brilhando.
, -
33:53 - 33:55Não, é porque...
-
33:55 - 33:59Pensando na representação
-
33:59 - 34:03e pensando particularmente
no que eu vivi em casa, -
34:03 - 34:08e a partir dessa força motriz,
-
34:08 - 34:11de novo trazendo
essa Matripotência, -
34:11 - 34:15como que mulheres negras
movimentam essa sociedade. -
34:15 - 34:19Veja bem, foi uma força
motriz e uterina -
34:19 - 34:23que me fez fundar uma empresa
-
34:23 - 34:26que abriu um mercado
que não existia. -
34:26 - 34:28Os criadores negros existiam,
-
34:28 - 34:30não existia mercado para eles.
-
34:30 - 34:32Então eu fundei um mercado.
-
34:33 - 34:37Se há algo ancestral
-
34:37 - 34:39e incrível,
-
34:39 - 34:43se não essa tecnologia pioneira.
-
34:43 - 34:45E eu não vou dizer:
ah, eu não gostaria -
34:45 - 34:48de ter necessitado.
-
34:48 - 34:50Eu não tenho...
-
34:50 - 34:54Esse futuro do pretérito
não existe para mim. -
34:54 - 34:57Ou eu faço, ou quem vai fazer?
-
34:57 - 35:02Para abrir caminhos é
necessário o movimento. -
35:02 - 35:06Isso também é para falar
para você, estudante. -
35:06 - 35:09Não espere que ninguém faça,
-
35:09 - 35:12não espere que alguém vá
abrir para você as portas. -
35:12 - 35:13Arrombe-as.
-
35:15 - 35:19Porque é esse movimento
que vai trazer a inovação. -
35:19 - 35:22É do incômodo que você nasceu.
-
35:22 - 35:26Um parto, uma gestação...
-
35:26 - 35:29Não é um momento só de flores não.
-
35:29 - 35:31Tem dor, tem incômodo,
-
35:31 - 35:33tem falta de ar
para essa mulher. -
35:33 - 35:37E é assim que a gente aprendeu
a construir as coisas. -
35:37 - 35:39O novo vem desse incômodo.
-
35:39 - 35:42E eu, lembrando do PH,
-
35:42 - 35:46como ele era com 13 anos
e quem ele é hoje com 22. -
35:46 - 35:48Ele era um menino tímido
-
35:48 - 35:51que, na câmera,
-
35:51 - 35:53ele era quem ele gostaria
de ser para o mundo. -
35:53 - 35:55E ele não conseguia ser.
-
35:55 - 35:58Era só ele e uma câmera.
-
35:58 - 35:59Ninguém aprovando
ou desaprovando. -
35:59 - 36:01Ele fazendo as edições,
-
36:01 - 36:03contando a história
do jeito que ele queria. -
36:03 - 36:06Aquilo foi fortalecendo,
-
36:06 - 36:08e a cada história de herói...
-
36:08 - 36:09Porque, gente, com 13 anos,
-
36:09 - 36:12não dá para o PH ficar
lendo livros e fazendo roteiro. -
36:12 - 36:13Eu que lia.
-
36:13 - 36:14Ele foi muito...
-
36:15 - 36:19Isso é uma visão
também de parceria, -
36:19 - 36:21porque ele foi muito honesto
com ele mesmo. -
36:21 - 36:22Ele: "Mamãe,
você pode me ajudar?" -
36:22 - 36:24Por que você quer a minha ajuda?
-
36:24 - 36:26"Não, porque você gosta de ler,
-
36:26 - 36:29você escreve bem,
e eu vou fazer do meu jeito." -
36:29 - 36:32Então eu escrevia os roteiros,
-
36:32 - 36:35eu lia as histórias,
que não são histórias... -
36:35 - 36:38São histórias de muita tragédia.
-
36:38 - 36:39Se a gente...
-
36:39 - 36:40Todas as histórias.
-
36:40 - 36:41O Lima Barreto...
-
36:41 - 36:43É muito difícil às vezes.
-
36:43 - 36:46É muito difícil,
você sofre lendo. -
36:46 - 36:49Mas como você transforma
isso em algo encantador, -
36:49 - 36:50para um jovem de 13 anos
-
36:50 - 36:52que vai repercutir isso...
-
36:52 - 36:54- Para outras crianças?
- Só corrigindo. -
36:54 - 36:56Eu não estou falando que os autores
são difíceis porque são ininteligíveis. -
36:56 - 36:59A dificuldade para pessoas negras...
-
36:59 - 37:01- É a dor que a gente aciona.
- Ler esses autores... -
37:01 - 37:03Que trazem essa dor dessa
maneira, como a gente sabe. -
37:03 - 37:04Exato.
-
37:04 - 37:07Mas se para uma pessoa adulta
-
37:07 - 37:09há um desafio, imagine...
-
37:09 - 37:10Para uma criança, é traumatizante.
-
37:10 - 37:13Então eu tinha que trazer as histórias
-
37:13 - 37:15da forma mais
encantadora possível -
37:15 - 37:17para que ele pudesse contar.
-
37:17 - 37:20E eu fico lembrando como
os olhinhos dele brilhavam, -
37:20 - 37:21e ele inventava...
-
37:21 - 37:24Tinha uns cacos de gravação
que ele inventava. -
37:24 - 37:26Porque quando ele contou
a história de Dandara... -
37:26 - 37:28Porque Dandara se mata, né?
-
37:28 - 37:30Mas ele fala assim:
-
37:30 - 37:33"Zumbi era osso duro de roer,
-
37:33 - 37:36Dandara era um osso
de quebrar os dentes". -
37:36 - 37:40Isso foi ele que colocou
no texto, -
37:40 - 37:44porque ele viu
que ela era capoeirista, -
37:44 - 37:46que ela que ensinava as estratégias,
-
37:46 - 37:50que ela que ensinava
a parte de folhas, -
37:50 - 37:51dos saberes das folhas.
-
37:51 - 37:56Ela era líder em várias frentes
dentro do quilombo. -
37:56 - 38:00Quando ele lê isso,
ele também incorpora para ele -
38:00 - 38:04a força das mulheres,
e das mulheres negras. -
38:04 - 38:05Como uma mulher...
-
38:05 - 38:07Ele só foi grande desse jeito
-
38:07 - 38:11porque ele tinha uma parceria
com uma mulher gigante. -
38:11 - 38:15E aí, quando traz o suicídio..
-
38:15 - 38:16Porque Dandara se suicida.
-
38:16 - 38:18Quando foi invadido...
-
38:18 - 38:20Pelo menos dentro
dos relatos históricos. -
38:20 - 38:23Quando o quilombo
enfim é invadido, -
38:23 - 38:25e ela sabendo que ela
poderia ser utilizada -
38:25 - 38:30como uma ferramenta
-
38:30 - 38:32de sujeição do seu povo,
-
38:32 - 38:35de pegar esse
líder e colocá-lo... -
38:35 - 38:37Enfim, ela sabia o que poderia
ser feito com ela, -
38:37 - 38:38ser estuprada, enfim.
-
38:38 - 38:40Ela sabia o que poderia
ser feito com ela. -
38:40 - 38:44Ela se joga do penhasco
antes que a peguem. -
38:44 - 38:45E aí, quando ele lê isso,
-
38:45 - 38:47ele não lê no lugar de...
-
38:48 - 38:50Ela foi embora, ela se matou.
-
38:50 - 38:51É uma dignidade, né?
-
38:51 - 38:53É a dignidade que ela mantém
-
38:53 - 38:56ao saber da sua importância
-
38:56 - 38:59dentro daquela comunidade,
da sua liderança, -
38:59 - 39:02e de como isso poderia ser
utilizado de forma negativa. -
39:02 - 39:05E aí Zumbi some por um tempo,
-
39:05 - 39:07ele consegue fugir,
-
39:07 - 39:10enquanto essa mulher
toma essa decisão. -
39:10 - 39:13Então, olha só que fantástico
-
39:13 - 39:15esse guri aprendendo
sobre o seu povo. -
39:15 - 39:17E o PH foi mudando.
-
39:17 - 39:20Esse menino foi ficando
cada vez maior, -
39:20 - 39:23e maior no sentido
de se ver grande, -
39:23 - 39:26porque ele estava lendo sobre pessoas
-
39:26 - 39:30que foram relevantes
na história do Brasil. -
39:30 - 39:31E não interessava...
-
39:31 - 39:33E na escola, gente,
-
39:33 - 39:35não era...
-
39:35 - 39:38Ele não estava sendo
valorizado por isso não. -
39:38 - 39:41A escola começa a entender
o tamanho dele, -
39:41 - 39:45quando ele vai passar
numa grande rede de TV -
39:45 - 39:48e tem lá um ator, o Lázaro,
-
39:48 - 39:51que fala assim:
"Eu amo o trabalho desse menino". -
39:51 - 39:54E aí, quando fala isso
dentro de uma grande rede, -
39:54 - 39:56aí a escola olha, todo
mundo olha para o lado... -
39:56 - 39:59"Gente, ele estuda aqui
-
39:59 - 40:00e ele está fazendo isso".
-
40:00 - 40:02Mas foi um desafio para ele,
-
40:02 - 40:05porque ele estudava
numa escola particular, -
40:05 - 40:08de maioria não racializada,
-
40:08 - 40:10e que se sentiram...
-
40:12 - 40:13Provocados.
-
40:13 - 40:15Mas não foi provocado
no lado positivo. -
40:15 - 40:16Foram provocados tipo assim:
-
40:16 - 40:17"Quem esse moleque
pensa que é?". -
40:17 - 40:18Eu não tô falando da escola.
-
40:18 - 40:19Eu estou falando dos colegas.
-
40:19 - 40:22"Quem ele está pensando que é para fazer
sucesso, -
40:22 - 40:25falar de gente preta
-
40:25 - 40:26e ser reconhecido?".
-
40:26 - 40:30Veja bem, é um trabalho
de educação, -
40:30 - 40:34porque ele ouve isso lá fora
e aqui dentro de casa -
40:34 - 40:36estimulando, estimulando.
-
40:36 - 40:38E aí, para fora de casa,
eu vou para onde? -
40:38 - 40:39Para a comunidade.
-
40:39 - 40:40E aí eu vou para onde?
-
40:40 - 40:43Para as peças de autores,
-
40:43 - 40:45de roteiristas,
de pessoas negras. -
40:45 - 40:47E isso vai fortalecendo.
-
40:47 - 40:50Ele vai entendendo que não
está só nesse passado, -
40:50 - 40:52no presente passado.
-
40:52 - 40:55Essa história está presente,
acontecendo... -
40:56 - 41:00A partir de outros corpos
parecidos com o dele. -
41:00 - 41:01Presente futuro também.
-
41:01 - 41:02Presente futuro.
-
41:02 - 41:04E aí ele vai entendendo...
-
41:04 - 41:06Por isso que ele estava
aqui no estúdio. -
41:06 - 41:09Vocês não viram, mas ele
estava aqui no estúdio. -
41:09 - 41:12Ele saiu, mas ele saiu com esse
gostinho de quero mais, -
41:12 - 41:14porque o que vocês estão falando aqui
-
41:14 - 41:16é o que eu acredito,
-
41:16 - 41:19é o que sustenta ele,
é o que o alimenta. -
41:19 - 41:21Isso é maravilhoso
porque eu acho que, -
41:21 - 41:23quando a gente sabe
da importância da palavra, -
41:23 - 41:25a gente não desperdiça palavras.
-
41:25 - 41:28E a nossa sociedade,
que é muito barulhenta, né, -
41:28 - 41:30é uma sociedade tagarela.
-
41:30 - 41:33Ela fala demais porque
ela não sabe falar, né? -
41:35 - 41:37Então a gente está falando
de um fundamento -
41:37 - 41:41em que a palavra é de extrema
responsabilidade. -
41:41 - 41:43A palavra é você no mundo.
-
41:43 - 41:44Você não joga a palavra
a torta e a direito. -
41:44 - 41:46A palavra é entidade.
-
41:46 - 41:48Exatamente, é uma entidade.
-
41:48 - 41:49É isso.
-
41:49 - 41:52E olha só, você falou
de folhas, das folhas. -
41:54 - 41:55Eu esqueci de falar.
-
41:55 - 41:57Eu poderia ter trazido no começo.
-
41:58 - 42:02Tem até um mito que fala
das folhas, muitos mitos. -
42:02 - 42:04Porque, assim, sem
folha não tem axé. -
42:04 - 42:06Então o axé precisa da folha.
-
42:06 - 42:08Só que, para despertar
o axé da folha, -
42:08 - 42:10é preciso a palavra.
-
42:10 - 42:14E aí tem o mito de Ossãe
inclusive, por causa disso. -
42:16 - 42:18Então, palavra quanto
ao seu significado, -
42:18 - 42:19mas esse sopro vital.
-
42:19 - 42:22Ossãe era o Orixá que tinha...
-
42:22 - 42:26Era detentor de todas as folhas.
-
42:26 - 42:29Aí ele desperta a inveja
dos outros Orixás, -
42:29 - 42:30porque os Orixás têm corpo,
-
42:30 - 42:32os orixás sentem inveja.
-
42:32 - 42:34São potências, né,
-
42:34 - 42:36eles têm que negociar
as potências deles. -
42:37 - 42:40Aí eles falam: "Não, a gente quer
também essas folhas aí do Ossãe, -
42:40 - 42:41mas o Ossãe quer tudo para ele".
-
42:41 - 42:44Então guardava tudo
numa cabacinha. -
42:44 - 42:46E aí os outros Orixás
se unem e falam assim: -
42:46 - 42:47"Vamos dar um jeito".
-
42:47 - 42:51Aí falam para Iansã:
"Olha, taca uma ventania lá, -
42:51 - 42:52joga essa cabacinha para longe,
-
42:52 - 42:55que a gente corre
para catar as folhas". -
42:55 - 42:58E aí ela faz isso,
ela traz a ventania, -
42:58 - 43:01e aí a cabacinha dele rola
para lá, as folhas se espalham, -
43:01 - 43:03cada Orixá vai pegando
o quanto pode. -
43:03 - 43:05Aquela loucura toda.
-
43:05 - 43:09E aí conseguem tirar do Ossãe
esse poder toda em torno das folhas. -
43:09 - 43:12Só quer a ? fala: "Ah, vocês
esqueceram uma coisa. -
43:12 - 43:14E a palavra, e o axé?
-
43:14 - 43:16E a palavra para suscitar o axé?
-
43:16 - 43:17Vocês não tem".
-
43:17 - 43:20Então ele continua
tendo esse poder, -
43:20 - 43:21porque ele tem
o poder da palavra -
43:21 - 43:26que vai suscitar na planta
aquela energia dela. -
43:26 - 43:28Por isso é preciso
conversar com a planta, -
43:28 - 43:30é preciso pedir
licença para a planta -
43:30 - 43:33quando você vai pegar
uma flor ou uma folha, -
43:33 - 43:36Não é só chegar e meter a mão.
-
43:36 - 43:38Tem axé ali, tem vida ali.
-
43:38 - 43:41Então, tudo é vivo e tudo fala.
-
43:42 - 43:43Entende?
-
43:43 - 43:47É um mundo encantado
porque o mundo é todo falante. -
43:47 - 43:50E um mundo em que tudo fala,
-
43:50 - 43:52a fala do mundo tem valor,
-
43:52 - 43:54e se tem valor...
-
43:54 - 43:58A gente está falando de um pensamento
que é essencialmente ecológico, -
43:58 - 43:59entende?
-
43:59 - 44:03Porque eu valorizo a fala do rio.
-
44:03 - 44:06O rio fala, tem um ente ali.
-
44:07 - 44:09Então eu não vou lá
emporcalhar o rio. -
44:09 - 44:11Eu tenho que falar com ele,
eu tenho que pedir licença. -
44:11 - 44:13Não é assim, eu chego
metendo a mão nas coisas. -
44:13 - 44:16Não existe
a hierarquia do existir. -
44:16 - 44:19Tudo que existe somos nós.
-
44:19 - 44:21O rio somos nós,
-
44:21 - 44:25a folha somos nós,
-
44:25 - 44:27os animais somos nós.
-
44:27 - 44:30Ou seja, tem uma ética aí.
-
44:30 - 44:32- De comportamente e de vivência.
- Eu passo por uma árvore... -
44:32 - 44:34Eu posso inclusive
cumprimentá-la, -
44:34 - 44:36porque ela é um ser,
uma entidade. -
44:36 - 44:40Eu posso conversar com ela
e pedir licença para passar ali. -
44:40 - 44:41Não é assim,
chegar e meter a mão. -
44:42 - 44:44- Então, tudo fala.
- Não é chegar e cortar. -
44:44 - 44:48A gente fala isso da gente, né,
nosso corpo. -
44:48 - 44:50A gente não faz isso, então a gente
não faz isso em lugar nenhum. -
44:50 - 44:50Exatamente.
-
44:50 - 44:53Gente, é um privilégio
poder ter vocês, -
44:53 - 44:56privilégio de ter vocês na vida.
-
44:56 - 44:59Que encontro muito maravilhoso
que a gente fez aqui. -
44:59 - 45:00Coisa maravilhosa!
-
45:00 - 45:02Antes da gente encerrar,
-
45:02 - 45:05eu achei muito bonito
a gente encerrar dessa forma, -
45:05 - 45:07porque é isso, a gente
fala tanto de protagonismo, -
45:07 - 45:08a gente fala tanto
das histórias -
45:08 - 45:11e as formas que essas
histórias tomam -
45:11 - 45:14e como elas ganham
seus espaços no mundo, -
45:14 - 45:16dependem só de pessoas.
-
45:18 - 45:22Então, que pessoas são essas que a gente
está valorizando, dando espaço, -
45:22 - 45:25e que histórias são essas
que essas pessoas contam? -
45:25 - 45:27Obrigada por contarem
as histórias de vocês aqui. -
45:27 - 45:29Mas antes de encerrar,
vocês trouxeram livros, -
45:29 - 45:33então quero dicas aqui
do que vocês trouxeram -
45:33 - 45:34e o que vocês recomendam
para a galera -
45:34 - 45:35que está acompanhando a gente.
-
45:35 - 45:40Tem bastante livro, muitas autoras
maravilhosas para indicar. -
45:40 - 45:44Eu vou indicar dois,
mas um eu trouxe -
45:44 - 45:48porque eu estou lendo agora,
que é da Viviane Mosé, -
45:48 - 45:49que é psicanalista
e está psicóloga, filósofa -
45:49 - 45:54e traz corpo, poema, poesia.
-
45:54 - 45:57Ela faz performances.
-
45:57 - 45:59Ela é maravilhosa assim, sabe?
-
45:59 - 46:02Eu não conheço ela pessoalmente,
mas vou conhecê -
46:02 - 46:05la em breve,
porque eu quero ela, uma entidade. -
46:06 - 46:08Ela quando está no palco,
-
46:08 - 46:12ela sabe o que ela está fazendo
e a responsabilidade dessa comunicação. -
46:12 - 46:15Então acho que
quando a gente fala de troca justa, -
46:15 - 46:19é muito justo eu pagar o ingresso
para assistir essa mulher, sabe? -
46:20 - 46:23Então a gente tem que entender também
onde a gente está investindo o nosso tempo -
46:24 - 46:28e esse nosso dinheiro que a gente ganha,
cada um aí da sua forma. -
46:28 - 46:33Então tem a Viviane, tem Eliane Cruz,
que tem, que é assim. -
46:33 - 46:38Todos os livros delas,
todos os livros dela são essenciais -
46:38 - 46:41para soletrar seu pensamento
-
46:41 - 46:44a partir de uma nova perspectiva.
-
46:45 - 46:48E eu falo nova porque,
como a gente ouviu aqui nas pesquisas -
46:49 - 46:55até então,
esses autores brancos heteronormativos -
46:55 - 47:00ditaram a regra do que se contar
é de construção de imagem. -
47:01 - 47:05Então essas autoras vão trazer
para vocês novas construções, -
47:06 - 47:09novas possibilidades
de imaginar o futuro e o futuro. -
47:09 - 47:13Lembre, ele é agora
e a gente constrói isso nesse agora. -
47:13 - 47:17Então, agradeço muito a oportunidade
de estar com Emi, que é. -
47:18 - 47:23Uma. Honra querida
e um gigante e um jeito. -
47:23 - 47:24Nos conhecemos hoje.
-
47:24 - 47:27Nós nos conhecemos hoje,
mas eu já estou apaixonada. -
47:27 - 47:30Mais e mais e presente, passado, presente,
presente, presente. -
47:31 - 47:33E isso a gente já foi um reencontro.
-
47:33 - 47:34Nessas águas. Aí.
-
47:36 - 47:39E a Marina sabe das nossas trocas de anos.
-
47:39 - 47:41É uma sobrevivente.
-
47:41 - 47:45Admiro você demais pelo trabalho
-
47:45 - 47:49que você faz,
onde você faz e como você faz. -
47:50 - 47:55Você é brilhante, brilhante
na forma com que você consegue -
47:55 - 47:59se conectar com um universo
às vezes bastante violento, -
48:01 - 48:04mas que é importante também ser ocupado.
-
48:04 - 48:05Parabéns!
-
48:05 - 48:08Muito obrigada pelo convite
e por toda oportunidade -
48:08 - 48:13de estar com esse time aqui hoje da FIAP,
que foi muita gente, muito Gustavo, -
48:13 - 48:19muito focada
e que acontecesse de forma tão generosa. -
48:20 - 48:21Muito obrigada pelo presente.
-
48:21 - 48:22Um presente.
-
48:22 - 48:25Recíproco e totalmente. Verdadeiro.
-
48:25 - 48:26Não é?
-
48:26 - 48:28E eu assino
embaixo de tudo o que você falou. -
48:28 - 48:31E quando você falava da Viviane Mosé
eu me lembrei. -
48:31 - 48:34Inclusive a Viviane
foi muito importante para organizar -
48:35 - 48:38o livro de poemas da Estela do Patrocínio.
-
48:38 - 48:41Estela do Patrocínio ficou décadas.
-
48:41 - 48:45Foi a mulher negra,
ficou décadas internada no Juliano Moreira -
48:46 - 48:49e ninguém sabia de onde veio essa mulher.
-
48:49 - 48:50A princípio, tinha um sobrinho
-
48:50 - 48:53que a visitava, depois sumiu e ninguém,
por mais que procurassem, -
48:53 - 48:57ninguém conseguiu encontrar
parentes dessa mulher. -
48:57 - 49:01As origens dela e as enfermeiras.
-
49:01 - 49:05Uma enfermeira percebeu que ela falava
-
49:05 - 49:08umas coisas interessantes
na fala da loucura dela -
49:08 - 49:13e gravou algumas falas
da Estela de Patrocínio. -
49:13 - 49:17E aí a Viviane Mosé
organizou isso num livro chamado -
49:17 - 49:20O Reino dos Bichos e dos Animais
e o meu nome. -
49:22 - 49:25Então a Viviane fez essa organização
dessa mulher negra -
49:25 - 49:28totalmente invisibilizada no manicômio
-
49:30 - 49:31e que eu falei de Juliano Moreira.
-
49:31 - 49:35Mas assim que o hospício
que ganhou o nome dele, sem mais -
49:35 - 49:38o Juliano e dessa luta antimanicomial
-
49:38 - 49:42e a essa altura inclusive já
tinha melhorado muito essa essa questão. -
49:42 - 49:47Mas enfim, essa mulher negra como
muitos encarcerados, vão para a prisão. -
49:48 - 49:50Enfim. Então me lembrei dela, mas
-
49:51 - 49:53eu também tenho indicação.
-
49:53 - 49:56No começo eu falei dessa questão do tempo
-
49:57 - 50:00presente, do presente pra gente,
do passado presente, do futuro, -
50:00 - 50:04que é o tempo espiralar,
que é o que a Leda Maria Martins, -
50:05 - 50:09uma dramaturga, poeta brasileira, nasceu
no Rio de Janeiro, -
50:09 - 50:10radicada em Minas Gerais,
-
50:10 - 50:14ela tem esse livro, que é uma referência
para as artes cênicas e uma referência -
50:14 - 50:17para a poesia,
para o pensamento contemporâneo. -
50:17 - 50:21Performances do tempo
espiralar poéticas do corpo tela. -
50:21 - 50:26Esse livro aqui é um
é um clássico já e ele é muito importante -
50:26 - 50:29para quem quiser se aprofundar
nesse assunto e de literatura. -
50:29 - 50:32Além dos que Agnaldo
-
50:33 - 50:36sugeriu Mulheres, hoje
a gente está falando só de mulheres, -
50:36 - 50:39sem a Ana Maria Gonçalves,
que deu um defeito de cor. -
50:39 - 50:42É obrigatório
porque nasceu clássico. Também. -
50:42 - 50:46E que bom que teve até enredo
de escola de samba e você falou muito nele -
50:46 - 50:50E eu vou deixar aqui
a sugestão da Marilene Filinto. -
50:50 - 50:56Um livro chamado As Mulheres de Tijuco
Papo As Mulheres de Tijuco. -
50:56 - 50:58Papo é uma potência sim.
-
50:58 - 51:02Eu acho que uma das grandes escritoras
contemporâneas, a Marilene Felinto. -
51:02 - 51:05Esse é o primeiro romance dela,
Então fica a dica. -
51:05 - 51:06Tá bom?
-
51:06 - 51:09Eu não trouxe,
mas vou dar uma dica de um livro infantil -
51:09 - 51:13que chama do Hugo e do Tadeu França,
que é um influenciador inclusive. -
51:13 - 51:17E ele conta a história de um novelo
e da sua convivência -
51:17 - 51:21em ambientes com pessoas
que não reconhecem a força dos seus pelos. -
51:21 - 51:25Esse livro mexeu com as crianças lá
de casa, os meus filhos, os meus sobrinhos -
51:26 - 51:29e é um livro bem importante
pela representação, -
51:29 - 51:32que traz um livro infantil
gostosinho de ler. -
51:32 - 51:35Os meninos amam, então recomendo.
-
51:35 - 51:38A Marina Brito
essa leitura trazida às crianças. -
51:38 - 51:41Assim
eu posso também indicar um outro infantil, -
51:42 - 51:46A melhor Mãe do Mundo, da Nina Rizzi,
da Companhia das Letrinhas. Esse -
51:48 - 51:50é um livro que fala de uma.
-
51:50 - 51:53É uma criança que narra história,
um menino -
51:53 - 51:57e ela dá todas as indicações
de que é um menino periférico. -
51:57 - 51:59Ela fala, mas que não é estereotipada.
-
51:59 - 52:03E ele vai falando
muito amorosamente dessa mãe. -
52:03 - 52:05E a mãe está encarcerada.
-
52:05 - 52:07É uma mulher que está presa.
-
52:07 - 52:10Eu nunca vi esse tema na literatura
infantil. -
52:10 - 52:11Esse livro é belíssimo.
-
52:11 - 52:15Eu eu formo mediadores de leitura,
como eu falei no começo, então eu trabalho -
52:15 - 52:19muito com esse livro e ele toca demais
as pessoas, adultos e crianças, -
52:19 - 52:20inclusive, tem.
-
52:20 - 52:23Feito a indicação de indicações.
-
52:23 - 52:26Tem mais uma leitora
-
52:26 - 52:28infanto juvenil que o São Oliveira.
-
52:28 - 52:30Todos que.
-
52:30 - 52:32São. Queridos são lindos.
-
52:32 - 52:36As peças teatrais que ela também monta
a partir dos livros dela são maravilhosos! -
52:36 - 52:40E tem um livro gente muito interessante
-
52:40 - 52:44que eu estou lendo e isso
eu já estou no sétimo capítulo, Assim -
52:45 - 52:46do Renato Nogueira,
-
52:46 - 52:50um novo Mulheres e Divindades que ele traz
-
52:51 - 52:56como que foi formada
a feminilidade a partir das divindades -
52:56 - 53:00européias e greco romanas ali.
-
53:00 - 53:03E aí ele traz as divindades
-
53:04 - 53:08iorubás e divindades dos povos
originários. -
53:09 - 53:12É um livro que traz os mitos.
-
53:12 - 53:17Como que é construído
esse arquétipo da rivalidade? -
53:17 - 53:19É muito interessante.
-
53:19 - 53:22Assim, achei brilhante a ideia do Renato
-
53:22 - 53:26de trazer essa construção do feminino
a partir -
53:27 - 53:29de uma ideia
-
53:29 - 53:32de mulheres que se odeia, que rivalizam.
-
53:32 - 53:35Cara, isso não é de agora, é muito tempo.
-
53:35 - 53:38Foi muito tempo plantado assim.
-
53:38 - 53:43Então como que a gente escapa disso
senão a partir da educação e do -
53:43 - 53:46porque quando a gente
consegue racionalizar o porquê, -
53:46 - 53:49você consegue fazer o caminho
contrário de não presente, -
53:49 - 53:52passado, presente, presente,
presente, futuro. -
53:52 - 53:55Então acho que agora me veio assim.
-
53:55 - 53:58Eu achei tão interessante.
-
53:58 - 54:01Super indico também que que leiam assim.
-
54:01 - 54:04E tem no pra
quem não está, não tem muito tempo de ler, -
54:04 - 54:09mas fica muito tempo no trem, metrô,
ônibus, enfim, mora longe. -
54:09 - 54:14Tem o livro,
não sei lá se não consegue ler, -
54:14 - 54:17mas se você gosta de ouvir
podcast, vai para o audiolivro. -
54:18 - 54:22Alguns livros até são gratuitos
e tem alguns da Eliane mais. -
54:22 - 54:26Mas saindo um pouquinho do instagran
de vez em quando dá pra ler também. -
54:26 - 54:29Eu já da ver, não é assim você pegar.
-
54:29 - 54:32Não tem nada mais gostoso do que eu. Li,
eu amo. -
54:32 - 54:34Mas é que é isso. Não são. Livros, são.
-
54:34 - 54:37Realmente os que tem
esse daí de você ficar ouvindo as vezes -
54:37 - 54:42vai treinar, coloca o livro
lá para escutar o livro então assim. -
54:43 - 54:47Então tem esses autores também
estão nessas plataformas de áudio boa. -
54:48 - 54:52Quem é assinante
tem muitos livros gratuitos lá, -
54:52 - 54:57então isso é democratização
da informação e da educação e -
54:58 - 54:59não dá mais
-
54:59 - 55:02para ter a não consigo ou não dá.
-
55:02 - 55:06De um jeito ou de outro,
busque conhecimento em outros lugares, -
55:06 - 55:09para além do Instagram,
para além do YouTube, -
55:10 - 55:14porque vai te fazer bem, vai te fazer bem
construir esse repertório. -
55:15 - 55:18O que você vê aqui,
aqui tem mais de um século -
55:19 - 55:24de repertório pela idade atual
dessas pessoas físicas que tem, -
55:24 - 55:28que estão aqui tem um século e meio,
pelo menos aqui. E é. -
55:28 - 55:32Mas a gente traz a oralidade há milênios.
-
55:32 - 55:34Então é mais isso.
-
55:34 - 55:38Você tem que ativar e a gente ativa isso
buscando vários recursos. -
55:39 - 55:41Busque seu e escolham suas companhias.
-
55:41 - 55:45Então a gente termina por aqui
dando essas dicas maravilhosas para vocês -
55:45 - 55:48escolherem as histórias
que vocês vão acessar -
55:48 - 55:51e como vocês passam essas histórias
daqui em diante. -
55:52 - 55:53Obrigada, até mais!
- Title:
- FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Duration:
- 55:57
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