FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
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0:08 - 0:11Você já parou para pensar
em como as histórias são contadas? -
0:11 - 0:13Quem constrói essas histórias?
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0:13 - 0:14Quem conta as histórias?
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0:14 - 0:16Como a gente conta
essas histórias? -
0:16 - 0:21No bate-papo de hoje, eu vou receber
duas pessoas incríveis aqui na mesa -
0:21 - 0:23para falar um pouco
sobre a oralidade -
0:23 - 0:26e como a gente passa
de geração em geração -
0:26 - 0:29histórias que vêm,
acompanham toda a nossa família. -
0:29 - 0:31E a gente vai falar um pouco
de literatura também. -
0:31 - 0:33Como é essa construção?
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0:33 - 0:37E tudo pela perspectiva
de profissionais incríveis, -
0:37 - 0:38pessoas negras.
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0:38 - 0:39Eu sou a Marina Franciulli,
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0:39 - 0:43sou comunicadora, especialista
em direitos humanos, -
0:43 - 0:44e eu sou uma mulher negra.
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0:44 - 0:46Hoje eu estou
com os meus cabelos soltos, -
0:46 - 0:48eles são crespos,
na altura do ombro, -
0:48 - 0:51uso brincos dourados
em formato de búzio, -
0:51 - 0:55uma corrente dourada também,
e um macacão rosa. -
0:55 - 0:58Ele é de regatinha, então estou
com os braços de fora e à mostra, -
0:58 - 1:01e tem aqui um bracelete
também dourado. -
1:01 - 1:03Vou apresentar essas
duas pessoas incríveis -
1:03 - 1:05que stão na mesa
aqui com a gente hoje. -
1:05 - 1:07Vou começar com as mulheres.
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1:07 - 1:09Egnalda Côrtes, bem-vinda.
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1:09 - 1:11Se apresente
para a gente, por favor! -
1:11 - 1:14Meu nome é Egnalda Côrtes,
fundadora e CEO da Côrtes e Companhia, -
1:14 - 1:18a primeira agência de influenciadores
negros da América Latina -
1:18 - 1:21e empresa líder da Aliança
Sem Esteriótipos da ONU Mulheres. -
1:22 - 1:24Sou uma mulher negra,
de pele clara. -
1:24 - 1:28Estou usando o cabelo
trançado nagô -
1:28 - 1:30com tranças longas loiras.
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1:30 - 1:34Estou usando acessórios
prata e dourado, -
1:34 - 1:38mas para ornar também
com a mediadora, -
1:38 - 1:39que está de dourado.
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1:39 - 1:41Estou usando uma camisa branca.
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1:42 - 1:46E estou extremamente
honrada pelo convite -
1:46 - 1:48e por estar conversando de algo
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1:48 - 1:51que é tão vívido
na nossa história. -
1:51 - 1:54Eu acho que muito da nossa sobrevivência
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1:54 - 1:57vem da nossa oralidade
e da força e competência -
1:57 - 2:00que nós temos em fazer isso.
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2:00 - 2:01Obrigada pelo convite.
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2:01 - 2:04Bem-vinda e obrigada por
topar estar aqui com a gente. -
2:04 - 2:08Reni, Reni Adriano, que conheci
há tempos e muitos tempos, -
2:08 - 2:09admiro desde sempre.
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2:09 - 2:10Bem-vindo!
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2:10 - 2:13Uma alegria, Marina, te reencontrar
aqui com essa discussão, -
2:13 - 2:15e conhecer a Agnalda.
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2:15 - 2:18Eu sou Reni Adriano,
sou escritor e dramaturgo, -
2:18 - 2:20e mediador de leitura.
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2:20 - 2:23Eu formo mediadores de leitura
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2:23 - 2:26e implemento projetos
de salas de leitura -
2:26 - 2:29em vários lugares do Brasil.
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2:29 - 2:31Eu estou, eu tenho...
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2:31 - 2:36Eu sou careca,
negro não retinto, -
2:36 - 2:39e estou usando
uma camiseta vermelha -
2:39 - 2:41sem estampa,
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2:41 - 2:44e uso nas duas orelhas
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2:44 - 2:46alargadores pequenos.
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2:46 - 2:48Vamos começar a conversar
um pouco sobre o nosso assunto. -
2:48 - 2:50Vamos começar pela oralidade?
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2:50 - 2:53Porque se tem algo que a gente
aprende a fazer desde sempre -
2:53 - 2:55é contar histórias.
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2:55 - 2:57E, ao contar histórias,
a gente traz -
2:57 - 2:59as nossas raízes,
as nossas origens. -
2:59 - 3:02A gente consegue trabalhar
muito a nossa imaginação, -
3:02 - 3:05que é tão fundamental
para a nossa existência. -
3:05 - 3:08Eu queria começar perguntando
o papel da oralidade -
3:08 - 3:09na cultura afro-brasileira.
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3:10 - 3:11Por favor.
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3:11 - 3:14Eu doida para ouvir o Reni
e ele passou a bola para mim. -
3:17 - 3:20Como eu falei na introdução,
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3:20 - 3:23a oralidade nos constitui...
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3:25 - 3:27E ela nos salvou, né,
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3:27 - 3:29por séculos.
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3:30 - 3:32Porque parte da nossa história,
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3:32 - 3:34se a gente for falar de diáspora,
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3:34 - 3:38ela foi assaltada, né,
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3:38 - 3:41ela foi devastada.
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3:43 - 3:45Me arrepia falar sobre isso
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3:45 - 3:48porque nas culturas,
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3:48 - 3:52nos povos de terreiro
e nos povos tradicionais, -
3:52 - 3:55a oralidade é que faz
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3:55 - 3:59com que aquelas
pessoas sobrevivam. -
4:02 - 4:05Então, para além
da construção do imaginário, -
4:05 - 4:08a oralidade é uma energia.
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4:09 - 4:12A comunicação é
uma grande energia. -
4:13 - 4:17E muito do que nós
falamos e somos -
4:17 - 4:20vem muito mais da energia
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4:20 - 4:23que a oralidade nos trouxe
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4:23 - 4:26do que nos foi
ensinado e imposto -
4:26 - 4:28também por séculos.
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4:28 - 4:32Se a gente falar
de sociedade brasileira, -
4:32 - 4:36o que foi passado como imagem,
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4:36 - 4:37como imagem...
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4:37 - 4:41Como foi construída a imagem
da população brasileira... -
4:42 - 4:44Na TV, por exemplo.
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4:44 - 4:48Imaginem se nós dependêssemos
somente disso -
4:48 - 4:51para sobreviver e para construir
a nossa autoestima? -
4:51 - 4:53E aí eu estou falando
de população brasileira. -
4:53 - 4:56Não estou nem fazendo
um recorte racial. -
4:56 - 5:00Nós temos ainda uma boa parte
dessa população -
5:00 - 5:02que não é branca,
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5:02 - 5:04não é branca,
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5:04 - 5:09e foi construído
um imaginário dessa brancura -
5:09 - 5:13que poderia ter nos derrotado
como população. -
5:13 - 5:14E olha só que...
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5:15 - 5:16Irônico...
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5:18 - 5:22Que mesmo assim,
nós nos tornamos -
5:22 - 5:24os maiores
comunicadores do mundo. -
5:24 - 5:27Somos premiados pela nossa arte,
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5:27 - 5:29pela nossa criatividade,
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5:29 - 5:32e pela nossa comunicação,
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5:32 - 5:35e isso vem da mistura dos povos,
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5:35 - 5:39isso vem da resistência
dessa população -
5:39 - 5:43que foi negligenciada
pela comunicação, -
5:43 - 5:47mas foi salva pela oralidade
nas comunidades, -
5:47 - 5:49nos movimentos sociais,
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5:49 - 5:51nos povos tradicionais,
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5:51 - 5:54nos povos originários.
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5:54 - 5:58A gente foi salvo por essa energia
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5:58 - 6:00que chamamos de comunicação,
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6:00 - 6:02de oralidade,
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6:02 - 6:07e que, dentro de algumas
constituições religiosas, -
6:07 - 6:09nós chamamos de...
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6:12 - 6:13Quem abre os caminhos.
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6:14 - 6:18Então, se existe esse futuro
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6:18 - 6:20que nós vivemos hoje,
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6:20 - 6:23é porque o ontem foi construído
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6:23 - 6:25a partir da oralidade.
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6:25 - 6:26Maravilhoso.
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6:26 - 6:29E a gente pode puxar um pouco
para a literatura já, né, Reni, -
6:29 - 6:33porque quando a Agnalda traz
a questão da representação, -
6:33 - 6:35do como a gente
consegue se perceber -
6:35 - 6:39e como a gente também cria
e entende essas estratégias
de resistência, -
6:39 - 6:42como a própria oralidade
se mantém importante -
6:42 - 6:46por ser a resistência da nossa
história e da nossa existência, -
6:46 - 6:49na literatura não é
necessariamente assim -
6:49 - 6:51que a gente constrói esse caminho,
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6:51 - 6:52mas ele é muito presente também.
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6:53 - 6:54Sim.
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6:54 - 6:56É interessante
o que a Agnalda falou, -
6:56 - 6:58que a oralidade é uma energia.
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6:58 - 7:00Então,
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7:00 - 7:03antes de falar da literatura
especificamente, -
7:03 - 7:06eu acho que tem duas formas
de falar de oralidade. -
7:06 - 7:10Uma é essa corrente
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7:10 - 7:15das histórias que se transmitem
de geração para geração,
e há uma que não é tão -
7:17 - 7:17interessante.
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7:17 - 7:21Talvez a gente talvez deva repensar
porque é pensar a oralidade -
7:21 - 7:24como o oposto daquilo que é escrito.
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7:24 - 7:26O oposto da escritora.
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7:26 - 7:29E isso é uma estratégia.
Parece que é óbvio. -
7:29 - 7:32Não foi escrito, foi, foi oralizado,
não foi escrito. -
7:32 - 7:33Então é oralidade.
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7:33 - 7:37Mas isso é só uma convenção que na verdade
tenta categorizar as coisas. -
7:37 - 7:41De modo que quando eu falo oralidade,
eu estou dizendo não é escrito. -
7:41 - 7:46Então há um rebaixamento desse status
do que é oralizado, do que é escrito, -
7:46 - 7:49porque nós estamos numa cultura letrada,
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7:49 - 7:52então o conceito prevalece.
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7:52 - 7:54Então, é um pouco capciosa essa palavra.
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7:54 - 7:57Então a gente tenta dar um pouco de
cuidado, a gente usa de um modo geral. -
7:57 - 8:00E Agnaldo
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8:00 - 8:01usa muito bem quando ela fala de energia.
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8:01 - 8:03Eu quero ir para esse, para esse lado.
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8:03 - 8:05Então os teóricos que eu tenho
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8:06 - 8:08lido, por exemplo, Adriana Cavalheiro
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8:08 - 8:12ou o Paul, um tipo que coincidentemente
foi chamado para falar desse assunto -
8:12 - 8:16sem que a Marina soubesse, por exemplo,
que eu tenho estudado a voz ultimamente. -
8:16 - 8:20A voz nessa, nessa intersecção
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8:20 - 8:25do texto literário com a performance,
vamos ouvir Elias Eu não falei nada. -
8:25 - 8:26Falei
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8:26 - 8:29Vou deixar para falar, para falar na hora,
para não enviesar tanto a discussão. -
8:30 - 8:34Então, qual é a estratégia para a gente
tirar a oralidade como sinônimo -
8:34 - 8:37daquilo que é oposto ao que é escrito
e você focar a voz -
8:38 - 8:42que quando você foca a voz,
você vai para o corpo, porque voz e corpo -
8:43 - 8:46parece óbvio,
mas porque assim o aparelho fonador -
8:46 - 8:49está aqui e corpóreo não,
Mas a voz é corpo. -
8:49 - 8:54Então tem toda uma discussão
sobre por que a voz foi tirada da -
8:55 - 8:57o pensamento ocidental.
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8:57 - 8:59Ela foi tirada da própria filosofia.
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8:59 - 9:02Quando eu falei da Adriana Cavalheiro,
ela fala na filosofia. -
9:02 - 9:06Tem esse erro profundo
de passar do pensamento -
9:06 - 9:10para o conceito e ela tira a voz do foco.
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9:10 - 9:12E qual é o problema da voz?
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9:12 - 9:15A voz é insubordinada,
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9:15 - 9:17a voz desobedece
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9:17 - 9:20a voz de situa o pensamento.
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9:20 - 9:22A voz pode ser ambígua.
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9:22 - 9:24Eu posso falar que te amo
dizendo que te odeio. -
9:24 - 9:27Você entendeu que eu te odeio,
embora eu tenha falado eu te amo. -
9:28 - 9:32Então um monte de inflexão
e tal e voz e corpo, então é na presença. -
9:32 - 9:33A voz é uma presença.
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9:33 - 9:35Isso é muito importante a gente falar.
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9:35 - 9:38Então, quando Agnaldo fala a oralidade
é uma energia. -
9:38 - 9:42Então a gente tem que pensar
o seguinte é oralidade, é corpo. -
9:43 - 9:47É esse saber que aqui foi implantado,
aqui, -
9:47 - 9:51ao qual a cultura brasileira deve tudo,
porque sem isso ela não é nada. -
9:51 - 9:54Mesmo com as pessoas brancas
que são brasileiras. -
9:54 - 9:57Isso foi trazido no corpo,
não foi na Enciclopédia Barsa, -
9:57 - 10:02porque se fosse um saber dependente
da enciclopédia, teriam queimado -
10:02 - 10:04e nós não estaríamos aqui hoje,
-
10:04 - 10:07não existiríamos nós aqui,
hoje não existiria esse país. -
10:07 - 10:11Então trouxeram esse saber no corpo,
plantaram aqui os seus orixás, né? -
10:12 - 10:16Então reconstruíram essa história,
essa cultura aqui. -
10:16 - 10:17Então é corpo.
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10:17 - 10:18Saber é saber.
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10:18 - 10:21Então e o Ocidente odeia corpo?
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10:21 - 10:24Ele é uma coisa etérea,
uma coisa sem corpo. -
10:24 - 10:24Mas por quê?
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10:24 - 10:27Porque o pensamento é
tem uma coisa aí por trás. -
10:27 - 10:32Isso não sou eu dizendo a própria Adriana
Cavalheiro, essa filósofa italiana, -
10:32 - 10:35ela fala assim Esse é um pensamento
tipicamente masculino, -
10:35 - 10:38é o macho branco, essa coisa da escrita.
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10:38 - 10:42Então, usemos sim a oralidade
de um modo corrente, como usamos. -
10:42 - 10:44Mas tomemos cuidado porque
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10:45 - 10:47o foco aqui é a voz.
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10:47 - 10:51É aqui que está a nossa resistência,
porque quem tem voz desobedece. -
10:51 - 10:54Então, quando você fala,
por exemplo, da energia na oralidade -
10:54 - 10:58como energia, nas culturas de terreiro,
eu sou chamado de EMI, né? -
10:58 - 11:01Porque tem um fluxo vital meu que sai
-
11:01 - 11:05aqui, encontra o seu
e nós trocamos essa energia. -
11:05 - 11:06Isso é corpo.
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11:06 - 11:10Então a minha verdade ela se presentifica
na hora em que eu falo diante de você. -
11:10 - 11:14Aqui está todo o meu ser inteiro
diante de você e generosamente, inclusive, -
11:15 - 11:17é uma troca generosa de igual pra igual.
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11:17 - 11:22Então o Ocidente odeia isso,
porque isso escapa ao controle. -
11:22 - 11:24E foi assim que nós escapamos.
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11:24 - 11:25Foi assim que nós fundamos um país
-
11:25 - 11:27e foi assim que nós estamos
aqui, de cabeça erguida. -
11:27 - 11:28E por causa disso.
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11:28 - 11:30Ele é genial também.
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11:30 - 11:32Então eu estou emocionada.
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11:32 - 11:35Eu estou pegando carona no que você disse.
Você trouxe a energia. -
11:35 - 11:38Eu estou emocionada porque o Remy,
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11:39 - 11:42para quem estiver vendo, para quem
não estiver vendo, vou descrever. -
11:43 - 11:46Ele fala olhando para os seus olhos
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11:47 - 11:50e com os seus olhos castanhos brilhantes.
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11:51 - 11:54Os seus olhos castanhos emitiam
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11:54 - 11:57toda a emoção da fala, da voz
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11:57 - 12:02e todo corpo que você entrega
junto com a voz e o brilho no olho -
12:02 - 12:06e o lacrimejar porque ele está
lacrimejando, porque está emocionado. -
12:06 - 12:09Então há uma entrega neste estúdio,
-
12:10 - 12:13neste dia de uma energia
-
12:13 - 12:19que é também construída no afeto,
sem afetar -
12:20 - 12:23em todos os sentidos que você possa
imaginar. -
12:23 - 12:26Porque você me afeta com a sua fala?
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12:26 - 12:28Você me afeta com o seu olhar.
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12:29 - 12:31Eu sinto
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12:31 - 12:35a visceralidade da contação
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12:35 - 12:40do que ele está colocando aqui de energia,
e é isso que nos fez sobreviver. -
12:40 - 12:43Foi essa tecnologia
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12:43 - 12:47de entender que essa era
-
12:47 - 12:50foi a única possibilidade que tivemos
então. -
12:50 - 12:55E isso foi colocado na frente
e foi isso que fez realmente, de fato, -
12:55 - 12:58a gente sobreviver e fazer esse país
ser o que ele é. -
12:58 - 13:00E a possibilidade do protagonismo.
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13:00 - 13:03Porque quando a voz desobedece, quem conta
a história -
13:04 - 13:07é quem está contando pela sua perspectiva
e não pelo registro histórico. -
13:07 - 13:10Porque a gente também sabe
que o registro histórico não foi feito -
13:10 - 13:12pelas pessoas que necessariamente
-
13:12 - 13:15vivenciaram aquilo,
mas eram outras pessoas contando. -
13:16 - 13:18E nós estamos falando de uma cultura,
-
13:18 - 13:22de um tipo de saber que
honra muito a ancestralidade, -
13:23 - 13:26mas não
porque ancestralidade está lá atrás, -
13:26 - 13:29mas porque a ancestralidade está aqui
agora, está presente. -
13:29 - 13:34Isso é muito importante
porque é uma sabedoria tão visceral, -
13:34 - 13:39tão maravilhosa, que a própria morte
é superada nesse sentido. -
13:39 - 13:44Porque então, a pessoa que morreu,
ela retorna, ela presente, -
13:44 - 13:48fica aqui agora,
quando eu falo dela, quando eu vocalizou. -
13:48 - 13:52Então tem algo da presença dessa pessoa,
disso que não morre -
13:52 - 13:55e que eu trago aqui agora, desse passado.
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13:55 - 13:59Então não é uma ideia linear de passado,
presente e futuro -
13:59 - 14:03como a Vanda Machado fala a Vanda Machado,
ela do Afonjá, -
14:03 - 14:05comunidade de Afonjá, da mãe
Stella de Oxóssi -
14:05 - 14:08e tem uma escola de ensino fundamental
lá no terreiro. -
14:09 - 14:09Então tem
-
14:09 - 14:12toda uma pedagogia voltada para isso
e o trabalho da Vanda em torno disso. -
14:13 - 14:17Então ela fala não é passado,
presente, futuro é presente do presente, -
14:18 - 14:21presente do passado e presente do futuro.
-
14:21 - 14:24Então nem a morte pode com isso.
-
14:24 - 14:25Então o contrário.
-
14:25 - 14:26A morte então,
-
14:26 - 14:30passa a ser só uma outra forma de vida,
porque os ancestrais estão aqui, eles vêm, -
14:30 - 14:34eles retornam, comem com a gente,
eles encarnam, eles tem corpo também, -
14:35 - 14:39tem corpo, abençoam as pessoas,
comemoram os seus feitos. -
14:40 - 14:41Eles estão aqui conosco.
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14:41 - 14:45Então, o contrário da vida não é a morte.
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14:45 - 14:48O contrário da vida é o desencanto.
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14:48 - 14:50E a gente está falando de pessoas
encantadas, -
14:50 - 14:53de pessoas que têm esse poder
de encantamento contra isso. -
14:54 - 14:55Ninguém pode.
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14:55 - 14:58Depois, e não sei se eu.
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14:58 - 15:00Queria aqui
falar da literatura, por favor. -
15:00 - 15:03Então, aí a literatura, ela tem essa
-
15:05 - 15:06questão.
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15:06 - 15:09Eu falei do corpo, eu vou fazer,
eu vou dar um exemplo -
15:09 - 15:12aqui pra quem está assistindo,
que é o seguinte -
15:13 - 15:16vou contar uma história.
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15:16 - 15:17Tinha um menino.
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15:17 - 15:21Ele era uma adolescente de
uns 13 anos de idade, -
15:22 - 15:23uma adolescente
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15:23 - 15:27como qualquer outro adolescente
contemporâneo, Gostava de jogar videogame -
15:27 - 15:30muito com os amigos, jogava futebol também
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15:31 - 15:34e era um estudante brilhante.
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15:34 - 15:38E ele estava interessado numa menina
que convidou ele para uma festa. -
15:38 - 15:41E aqui eu paro a história
porque não interessa nada a história. -
15:41 - 15:45Eu quero saber,
honestamente, você que assiste e me diz -
15:45 - 15:47Você imaginou o menino?
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15:47 - 15:50De que cor, né? Essa é a pergunta.
-
15:50 - 15:53Porque quando a gente ouve uma história,
-
15:53 - 15:57gente,
imagina geralmente uma pessoa branca, -
15:57 - 16:00porque o branco é universal,
-
16:00 - 16:03o negro é específico.
-
16:03 - 16:06Então
você só vai saber a cor de uma personagem -
16:06 - 16:08se o autor informar, então, mais ou menos.
-
16:08 - 16:12Uma vez eu estava numa mesa, aí
eu falei que eu era negro na apresentação. -
16:12 - 16:13Aí um autor
-
16:13 - 16:17conhecidíssimo estava do meu lado branco
e disse Esse aí na hora que foi isso, -
16:17 - 16:19apesar de ser eu não vou falar
a minha cor. -
16:19 - 16:23Eu acho bobagens
porque meus personagens não tem. -
16:23 - 16:26Aí eu fui interromper, falei peraí,
eu não vou passar por uma pessoa -
16:26 - 16:29que está dizendo aquilo que sabe
que é inútil dizer. -
16:30 - 16:33Sabe porque você não fala a cor das suas
personagens, fulano? -
16:34 - 16:35Porque elas são brancas.
-
16:35 - 16:40Se elas fossem negras, você diria
se elas fossem indígenas você diria, né? -
16:41 - 16:43Então é sempre esse o universal branco.
-
16:43 - 16:46Então a história
assim é numa dessas embranquecer -
16:46 - 16:50ou inclusive o Machado de Assis
foi preciso para aceitar -
16:50 - 16:54que um preto
fosse o cânone nacional da literatura. -
16:54 - 16:56Foi preciso embranqueceu.
-
16:56 - 16:58E aí teve todo
-
16:58 - 17:03um celeuma que se cria
com o enegrecimento dele -
17:03 - 17:06a restituição da cor do Machado de Assis
Pardo. -
17:06 - 17:11Ele nasce pardo na certidão
de nascimento de Machado de Assis. -
17:12 - 17:16Tem lá pardo, é a certidão de óbito,
-
17:16 - 17:19porque aí ele era Machado de Assis,
-
17:21 - 17:23respeitado, uma figura respeitada
-
17:23 - 17:26pela literatura da língua portuguesa.
-
17:26 - 17:29Na certidão de óbito.
-
17:29 - 17:32Já assim, o homem branco.
-
17:32 - 17:35De tão essa sujeito de cidade
-
17:35 - 17:40que a gente reivindica,
ela não é do acaso. -
17:40 - 17:46Ela é de séculos de negligenciar,
inclusive essa intelectualidade. -
17:46 - 17:49Do apagamento das existências, de fato.
-
17:49 - 17:50Exato.
-
17:50 - 17:53E aí, quando você traz tantos
-
17:53 - 17:57pensadores,
a gente fala Machado e Juliano Moreira, -
17:57 - 18:00por exemplo, que era um médico
-
18:00 - 18:05que foi o grande percursor da luta
antimanicomial, -
18:05 - 18:07Juliano Moreira, um homem negro.
-
18:07 - 18:09Quando eu falei
isso para o meu psiquiatra, -
18:10 - 18:12que é um homem
-
18:12 - 18:16de aparência de fenótipos do Oriente
Médio, eu estou enganado. -
18:16 - 18:20Não acredito que eu passei a faculdade
quase que inteira estudando. -
18:20 - 18:23Juliano Moreira
Eu não sabia que ele era um homem negro, -
18:23 - 18:26um homem negro que se formou em medicina,
entrou pra faculdade de medicina -
18:26 - 18:29aos 17 anos.
-
18:29 - 18:30Então assim era.
-
18:30 - 18:33Ele era genial, ele era genial.
-
18:33 - 18:36E aí é quando eu estou falando
muito disso, -
18:36 - 18:40porque, enfim,
eu funda a Cortez e companhia -
18:41 - 18:43pra poder,
-
18:43 - 18:48dentro da cultura neoliberal,
fazer com que pessoas negras -
18:48 - 18:52continuem reverberando coisas importantes,
como uma comunicação -
18:52 - 18:55relevante na internet, capitalizando isso.
-
18:57 - 19:00E foi a partir da história
dos heróis negros brasileiros. -
19:00 - 19:04Porque quando o pH Cortez
começa com 13 anos a falar dos heróis -
19:04 - 19:08negros brasileiros na internet,
era uma criança, era um menino -
19:09 - 19:10que estava falando de algo
-
19:10 - 19:14tão importante
de uma forma tão interessante, tão -
19:14 - 19:20tão funny, tão gostosinha, que as crianças
gostavam, os adultos gostavam. -
19:20 - 19:23Só que chegou o momento
ele com 15, com 14 anos, -
19:23 - 19:26ele fala não vou fazer mais,
por que você não vai fazer filho? -
19:27 - 19:30Não vou fazer mais
porque eu quero ganhar dinheiro também, -
19:30 - 19:33como todo mundo
ganha com isso na internet. -
19:34 - 19:37E eu não quero só mudar o mundo,
Eu quero mudar o meu mundo, -
19:37 - 19:40porque também tem a leitura de quem você
-
19:40 - 19:43é no mundo e como isso se constitui.
-
19:43 - 19:45E aí quando ele fala isso pra mim,
-
19:45 - 19:48vem um monte de coisas na minha cabeça,
do tipo caramba, -
19:49 - 19:53ele foi criado por mim, educado por mim,
me vendo em cargos de liderança, -
19:53 - 19:56porque na época eu tive 22 anos de cargos
-
19:57 - 19:59executivos dentro de grandes corporações.
-
19:59 - 20:03Mesmo assim, esse guri está
se vendo impedido de realizar sonhos -
20:04 - 20:09e está se vendo impedido de ser um artista
pensador, porque ele estava -
20:09 - 20:13construindo o texto, fazendo roteiros pra
fazer o vídeo, ele fazer tudo, ele fazer? -
20:13 - 20:15Não, ele faz tudo.
-
20:15 - 20:17Hoje esse rapaz está com 22 anos
e agora o. -
20:17 - 20:20Olho dela está brilhando
só pra contar que. -
20:20 - 20:23É porque é muito legal
lembrar que esse guri -
20:23 - 20:26ele só queria continuar
fazendo o que estava fazendo. -
20:26 - 20:29Mas o mundo estava dizendo para ele
isso aí não vale nada não, viu? -
20:30 - 20:32Apesar da comunidade negra,
-
20:32 - 20:35apesar dos professores de jornais,
de todo mundo falar que estava valendo -
20:36 - 20:39e estava vale, Era um valor de propósito,
-
20:39 - 20:42mas não tinha o preço, ele não ganhava.
-
20:43 - 20:47E aí ele fala eu vou, vou,
vou trabalhar com o meu pai de office boy -
20:47 - 20:49e vou ganhar um dinheirinho ali.
-
20:49 - 20:51Pelo menos Não, você não vai fazer isso.
-
20:51 - 20:54Você vai continuar
fazendo o que você quer fazer, -
20:55 - 20:58Vai continuar reverberando
a história dos heróis negros brasileiros. -
20:58 - 21:01É por isso que me veio Juliano
Moreira Machado. -
21:01 - 21:03É porque ele contou essas histórias
-
21:03 - 21:06e eu vou arranjar um jeito
de ganhar dinheiro com isso. -
21:07 - 21:10Eu sabia algo de publicidade, Nada.
-
21:10 - 21:13Sabia o que eles comiam,
onde eles andavam, o que eles faziam. Não. -
21:14 - 21:16Mas eu entendi a nossa força,
-
21:17 - 21:19a nossa energia na oralidade.
-
21:19 - 21:20E eu?
-
21:20 - 21:24Eu costumo dizer que esse talento
-
21:24 - 21:27eu puxei de minha avó
minha forma encantadora de gente. -
21:28 - 21:33Ela quando sentava a mulher preta retinta,
uma mulher rezadeira. -
21:33 - 21:37Quando ela contava as histórias,
eu me agoniava naquele universo dela -
21:38 - 21:40e eu sabia que eu tinha esse talento.
-
21:40 - 21:46Então é o que há de mais precioso
se não você contar a história -
21:47 - 21:51em primeira pessoa,
com um olhar de encantamento -
21:51 - 21:54do que é diferente de marketing,
é diferente -
21:55 - 21:58de venda.
-
21:58 - 22:01Fazer com que o outro se encante
-
22:01 - 22:04e trazer o outro e esse outro.
-
22:04 - 22:06Ele é independente.
-
22:06 - 22:10Ele é branco, preto, azul, vermelho,
esse outro. -
22:10 - 22:12Ele se encanta pelas histórias.
-
22:12 - 22:17Então, hoje e naquele momento,
eu sabia que eu tinha esse talento. -
22:17 - 22:21Eu poderia trazer as pessoas
para o lugar encantador. -
22:22 - 22:25E dentro da minha experiência comercial,
-
22:25 - 22:29eu sabia que esse encantamento
tinha um valor. -
22:29 - 22:32E esse valor tem preço numa sociedade
capitalista. -
22:32 - 22:34Você tem que saber cobrar sim.
-
22:34 - 22:35Então foi isso que eu fiz.
-
22:35 - 22:39Mas veja bem, olha a volta que é dada,
-
22:39 - 22:43o repertório que tem que se ter para poder
-
22:43 - 22:46incorporar, porque é isso.
-
22:46 - 22:49E eu sou uma mulher de negócios.
-
22:50 - 22:54Eu sou uma mulher filha de babás,
-
22:55 - 22:57mercadorias.
-
22:57 - 23:01O povo nigeriano
sabe fazer mercado como ninguém, -
23:01 - 23:04sabe fazer trocas, trocas justas.
-
23:06 - 23:08Quando eu vendo,
-
23:08 - 23:11eu entrego, eu faço uma troca justa.
-
23:12 - 23:15Então o outro não se sente invadido,
-
23:15 - 23:17nem se sente a vontade de negociar.
-
23:17 - 23:19Porque não é sobre negociar.
-
23:19 - 23:22O que eu estou falando
é sobre uma troca justa. -
23:23 - 23:26Então eu acho que esse exercício, gente,
-
23:26 - 23:29e eu estou trazendo aqui para vocês
a possibilidade da gente, -
23:29 - 23:33dentro das nossas, de outras cosmovisões,
-
23:33 - 23:36entender as nossas tecnologias.
-
23:37 - 23:39A gente já era um povo assim,
-
23:39 - 23:42nós já sabemos fazer isso.
-
23:42 - 23:44Eu não foi a faculdade que me ensinou.
-
23:44 - 23:45Eu fiz faculdade de turismo
-
23:46 - 23:49sim, fui sempre do lado comercial,
-
23:49 - 23:54sempre trabalhei técnicas,
mas não é isso que faz eu ser quem eu sou. -
23:54 - 23:58Mais existe esse jeito de fazer negócio
-
23:59 - 24:01porque minha avó me levava para a feira,
viu gente? -
24:01 - 24:04Olha, ela tinha um pouquinho de dinheiro,
-
24:04 - 24:08uma penca de banana, uns bocadinhos,
uns litros de farinha -
24:08 - 24:12e ela fazia umas trocas na feira
que ela não tinha dinheiro em espécie. -
24:13 - 24:16Três, quatro, 05h00, sol a pino.
-
24:17 - 24:21Mas ela ficava horas na conversa,
na troca justa. -
24:21 - 24:26Então o quão a gente está disposto
a contar as nossas histórias -
24:26 - 24:30para que o outro não entenda como um favor
-
24:30 - 24:33ou até na ousadia
-
24:33 - 24:35de fazer uma proposta indecente?
-
24:35 - 24:38Como que a gente
faz com que o outro se encante? -
24:38 - 24:41Eu acho que é um exercício
que a arte traz muito bem, -
24:42 - 24:45mas essa arte,
quando a gente fala, parece algo tão -
24:46 - 24:47subjetivo.
-
24:47 - 24:52Essa arte, ela é construída
dentro de várias tecnologias e saberes. -
24:53 - 24:56Quando o Remy fala dessa corporeidade,
-
24:56 - 24:59dessa subjetividade, dessa oralidade
-
25:00 - 25:04e quanto é de conhecimento
-
25:04 - 25:08do agora pragmático
desse que você está estudando aqui -
25:09 - 25:14e do que você traz ancestralmente,
como que você está fazendo essa conexão? -
25:14 - 25:18Porque é ela que vai determinar
o seu diferencial no mercado. -
25:18 - 25:20Tem a certeza disso?
-
25:20 - 25:21Os certificados.
-
25:21 - 25:23Eles são importantíssimos
-
25:23 - 25:27porque eles que te dão passabilidade
para você estar nos espaços. -
25:28 - 25:31Mas o que vai fazer a diferença
é como você está -
25:31 - 25:35se conectando com essa ancestralidade
que o Reni falou. -
25:35 - 25:37Todo mundo tem uma sexualidade também.
-
25:37 - 25:39Não está só para o povo negro.
-
25:39 - 25:42Não é importante
isso porque as pessoas ficam. -
25:42 - 25:45Elas acham que ancestralidade é dada
pela cor da pele sempre. -
25:46 - 25:49Aí eu, por exemplo,
tenho uma irmã que é considerada branca, -
25:49 - 25:52não é branca,
mas sabe a branca que passa por branco? -
25:52 - 25:54Então parece que
ela está satisfeita com isso. -
25:55 - 25:56Então é muito interessante
-
25:56 - 26:00porque a minha irmã é cosmopolita,
porque ela é branca. -
26:00 - 26:04Eu não sou destinado a África,
então quer dizer, como irmãos, -
26:04 - 26:06somos filhos do mesmo pai, da mesma mãe.
-
26:06 - 26:11Então é mesmo pessoas que não tem
ascendência negra direta. -
26:11 - 26:14Mas se você é brasileiro,
se você nasceu aqui, então a questão não é -
26:14 - 26:18não é dizer que a imperem,
mas as pessoas estão se apropriando -
26:18 - 26:21porque os brancos, Gente,
eu acho que a questão é honrar. -
26:23 - 26:25Porque fundamento você honra
-
26:25 - 26:28então o que a gente está pedindo e honre
esse fundamento. -
26:28 - 26:31Seja você da cor que for.
-
26:31 - 26:32Então a questão não é
-
26:32 - 26:36porque branco não tem essa ancestralidade,
o branco brasileiro não tem. -
26:37 - 26:38Só que a questão
que se pede é que se honre -
26:39 - 26:42e honrar e inclusive defender
-
26:43 - 26:47os pretos das injustiças causadas
em nome dos brancos. -
26:47 - 26:50Exato. E isso e honrar esse fundamento.
-
26:50 - 26:51E entender o seu papel,
-
26:51 - 26:55que eu não tenho o lugar de fala,
mas que você tem o seu lugar de ação, -
26:55 - 26:59então usem o lugar de ação
e eu quero pegar o gancho. -
26:59 - 27:01Agnaldo,
do que você trouxe? Um pouco do pH? -
27:01 - 27:03De que histórias são essas
que a gente conta -
27:03 - 27:05e quem conta essas histórias?
-
27:05 - 27:09Porque, trazendo o gancho da oralidade que
Rene trouxe brilhantemente para a mesa? -
27:09 - 27:11Que voz é essa?
-
27:11 - 27:15Como a gente registra isso e a gente
está registrando tudo no digital agora, -
27:16 - 27:20Então, como a gente empacota
essas histórias e como a gente encanta -
27:20 - 27:22pessoas pela comunicação,
-
27:22 - 27:25que é uma ferramenta
pela qual eu sou absurdamente apaixonada, -
27:25 - 27:28que é uma ferramenta maravilhosa
e gigantesca, -
27:28 - 27:32que trata de gente
sempre em primeiro lugar a gente. -
27:32 - 27:36Depois vem todas as estratégias
que podem ser para venda, -
27:36 - 27:40mas sempre por gente,
sempre tendo esse principal canal. -
27:40 - 27:43E aí Rene, queria falar um pouco com você
sobre uma pesquisa do Grupo -
27:43 - 27:47de Estudos de Literatura Contemporânea
da Web Universidade de Brasília, -
27:48 - 27:51entre 2004 e 2014,
-
27:51 - 27:55apenas 2,5% dos autores publicados
não eram brancos -
27:56 - 28:01e apenas 6,9% dos personagens retratados
-
28:01 - 28:04nos livros publicados eram pessoas negras.
-
28:05 - 28:08Como que a gente traz esse protagonismo
e essa voz -
28:08 - 28:11para a população negra na literatura?
-
28:11 - 28:12Eu gosto muito dessa pesquisa.
-
28:12 - 28:17É uma pesquisa encabeçada pela professora
Regina Dal Castanho, da Web, e eu também. -
28:17 - 28:20Eu costumo trabalhar com esses dados e
-
28:21 - 28:23ela passou muitos anos
-
28:24 - 28:27pesquisando, por exemplo,
-
28:27 - 28:30das obras de 100690A2004
-
28:31 - 28:34das grandes editoras
Companhia das Letras, Rocco e Record. -
28:35 - 28:37Olha só que interessante
-
28:37 - 28:42ela viu que 2245 personagens catalogados
-
28:43 - 28:48em 258 obras, 2,7% são mulheres negras,
-
28:49 - 28:54dois 2,7% são mulheres
negras, Tem 258 obras -
28:54 - 28:57entre 1240 e 5 personagens.
-
28:57 - 29:02E nessas aparições, de 2,7%,
-
29:02 - 29:07olha só, em 70% dos casos
elas são retratadas -
29:07 - 29:10como empregadas domésticas ou prostitutas.
-
29:10 - 29:14E nas outras aparições que estão,
elas são donas de casa, -
29:15 - 29:18escravas ou delinquentes.
-
29:18 - 29:23Então é analisando
aponta que em apenas três dessas obras -
29:23 - 29:29uma mulher negra aparece como protagonista
e em apenas um caso ela é a narradora. -
29:30 - 29:32E aí vale também
-
29:32 - 29:35para os homens
e o perfil médio das personagens -
29:37 - 29:38masculinas.
-
29:38 - 29:44Os pesquisados seriam homens brancos 79,8%
-
29:44 - 29:50provenientes da classe média, 56,6%
e heterossexuais, 81%. -
29:51 - 29:56Em 56% dos romances, não existe sequer
um personagem não branco. -
29:57 - 29:58E quem está falando?
-
29:58 - 30:0372,7% dos romances analisados
foram escritos por homens. -
30:04 - 30:10Destes, 93,9% são brancos.
-
30:10 - 30:13E aí, de novo,
a importância dessa imaginação -
30:13 - 30:17e dessa construção para as crianças
e para a gente também. -
30:17 - 30:19De quem são essas pessoas
que estão nesse lugar? -
30:19 - 30:23Por isso, PH Sentiu falta
de ter alguém que falasse dos heróis, -
30:23 - 30:26assim como ele também levantou
a mão e falou Vá, espera aí, -
30:26 - 30:28eu preciso ganhar um dinheiro,
então eu vou fazer uma outra coisa, -
30:28 - 30:29porque isso não vai me dar dinheiro.
-
30:29 - 30:32Eu não vou ter o reconhecimento
financeiro, né? -
30:32 - 30:34Esse lugar tem um problema muito sério
nessa. -
30:34 - 30:38Se você ler uma história para uma criança,
ela não imagina personagens iguais -
30:38 - 30:38a ela.
-
30:38 - 30:42Quando não é, não é dito,
dito nada sobre etnia. -
30:42 - 30:43Tem um problema muito sério.
-
30:43 - 30:44Isso vale para nós.
-
30:44 - 30:47Eu também tenho que fazer um esforço,
sabe? -
30:48 - 30:49Incomum assim, sabe?
-
30:49 - 30:51Desgastante até.
-
30:51 - 30:52Se eu quiser sair do estereótipo.
-
30:52 - 30:57Quando eu vou imaginar literatura,
que é a minha área de trabalho? -
30:57 - 30:59Porque eu também fui condicionado a isso,
-
30:59 - 31:03a entender que o universal era branco,
Eu tenho que fazer esse esforço. -
31:03 - 31:07É um esforço consciente que eu faço,
porque se vem, automaticamente -
31:07 - 31:10vem a personagem branca.
-
31:10 - 31:15Mas tão importante quanto
trazer essas pessoas e trazer para essa -
31:15 - 31:18chamada representatividade
uma palavra até um pouco problemática. -
31:18 - 31:21Não vamos conseguir problematizar la aqui,
-
31:21 - 31:26Mas quando a gente fala da representação,
tira representatividade, -
31:26 - 31:30representação dessas pessoas,
porque é disso que nós estamos falando. -
31:30 - 31:33Você representa
a mulher negra daquela forma. -
31:34 - 31:37Então você cai nessa representação
estereotipada de que estamos falando. -
31:38 - 31:41Então, tão importante quanto trazer
e a gente está, -
31:41 - 31:44pode falar de autores daqui a pouco,
autoras negras e negros, -
31:45 - 31:48e que é com o acesso
-
31:48 - 31:51de pessoas negras nas universidades,
-
31:51 - 31:55fazendo pesquisa de qualidade,
universidades públicas, principalmente. -
31:56 - 31:59A gente tem visto que tudo isso
de que falávamos -
31:59 - 32:02no início sobre esse saber vocal.
-
32:02 - 32:06Ou. Oralidade, né, Que é corpo, tudo isso
-
32:07 - 32:10está ganhando dignidade epistêmica
dentro dessas diversidade. -
32:10 - 32:14Isso que é importante
a gente pensar, não porque esses saberes -
32:14 - 32:19precisa de precisa da chancela, né,
de uma universidade, não é isso. -
32:19 - 32:24Mas é porque esses espaços
precisam ser ocupados com esses saberes, -
32:24 - 32:27que são a nossa resistência
que sustenta essa cultura. -
32:28 - 32:32Então, essa dignidade epistêmica
é muito importante. -
32:32 - 32:33Ela está sendo
-
32:33 - 32:36construída
agora, neste momento, nesse momento, -
32:36 - 32:39por esses novos pesquisadores
negros e negras que estão chegando. -
32:39 - 32:40A universidade é.
-
32:40 - 32:41Uma política muito recente
-
32:41 - 32:45de ocupação das universidades,
porque a gente também não podia acessar. -
32:45 - 32:48E eu só quero reforçar aqui
um dado que a gente fala sempre que é -
32:49 - 32:54dado Censo
2022 do IBGE e a população negra formada -
32:54 - 32:58por pessoas pretas e pardas, representa
a maior parte da população brasileira. -
32:59 - 33:03Se a gente está em espaços
em que não há pessoas pretas e pardas, -
33:03 - 33:07a gente não tem representação desse país,
seja no acadêmico, -
33:07 - 33:10seja no mercado de trabalho,
em qualquer lugar. -
33:10 - 33:15Então, saber estes dados
é importante porque se não tem diversidade -
33:15 - 33:18e se não tem representação,
não tem inovação, -
33:18 - 33:23não tem possibilidades de continuar
tentando massificar uma população inteira -
33:24 - 33:27a partir de uma perspectiva
de quem só quer ter manutenção de poder. -
33:27 - 33:31Porque desculpa falar isso para vocês,
mas nem vocês estão inseridos -
33:31 - 33:34necessariamente nesses cenários
e nesses contextos. -
33:34 - 33:37Então, qual é o nosso papel
para abrir esses espaços -
33:37 - 33:40e para ter noção do contexto e do país
que a gente vive? -
33:40 - 33:42Para conseguir fazer diferente?
-
33:42 - 33:45Porque senão não vai rolar, não rola mais.
-
33:45 - 33:48Não dá para fingir que não existe.
-
33:48 - 33:52E aí para a gente chegar ao fim,
que quer trazer algum ponto. -
33:52 - 33:54Agnaldo, você está aqui,
aqui, coelhinho, brilham. É porque, -
33:56 - 33:59pensando na representação
-
33:59 - 34:02e pensando particularmente no que eu vivi
-
34:02 - 34:05em casa e a partir
-
34:05 - 34:08dessa força motriz,
-
34:08 - 34:11de novo trazendo essa matriz potência,
-
34:11 - 34:15como que mulheres negras movimentam
essa sociedade? -
34:15 - 34:21Veja bem, foi uma força motriz e uterina
que me fez fundar -
34:21 - 34:26uma empresa que hoje,
que abriu um mercado que não existia. -
34:26 - 34:30Os criadores negros
existiam, não existia mercado para eles. -
34:30 - 34:33Então eu fundei o Mercado.
-
34:33 - 34:36Se há algo ancestral
-
34:37 - 34:39e incrível,
-
34:39 - 34:43se não essa tecnologia pioneira,
-
34:43 - 34:48e eu não vou dizer
não gostaria de ter necessitado, -
34:48 - 34:53eu não tenho esse preto desse futuro
do pretérito. -
34:53 - 34:54Não existe para mim.
-
34:54 - 34:59Ou eu faço
ou quem vai fazer para abrir caminhos. -
34:59 - 35:02E nesses é necessário o movimento.
-
35:02 - 35:06Então isso também
é para falar para você, estudante. -
35:06 - 35:12Não espere que ninguém faça, não espere
que alguém vá abrir para você as portas. -
35:12 - 35:13Arrombe as.
-
35:15 - 35:16Porque é esse
-
35:16 - 35:19movimento que vai trazer a inovação.
-
35:19 - 35:22É do incômodo que você nasceu.
-
35:22 - 35:26Um parto, uma gestação não é uma.
-
35:26 - 35:28Não é um momento só de flores.
-
35:28 - 35:33Não tem dor, tem incômodo,
tem falta de ar, Pressa para essa mulher. -
35:33 - 35:36E é assim que a gente aprendeu
a construir. -
35:36 - 35:39Constrói as coisas.
O novo vem desse incômodo. -
35:39 - 35:43E eu lembrando do pH como ele era
-
35:43 - 35:46com 13 anos e quem ele está hoje com 22.
-
35:46 - 35:51Ele era um menino tímido que foi para ele
uma câmera. -
35:51 - 35:53Ele era quem ele gostaria de ser
para o mundo. -
35:53 - 35:55E ele não conseguia ser.
-
35:55 - 35:59Mas diante de uma era só ele, uma câmera,
ninguém aprovando ou desaprovando, -
35:59 - 36:03ele fazendo as edições, contando
a história do jeito que ele queria. -
36:03 - 36:07Aquilo foi fortalecendo
e a cada história de herói, -
36:08 - 36:12porque gente com 13 anos não dá para PH
ficar lendo livros e fazendo roteiro. -
36:12 - 36:17E o que lia e ele foi muito
isso é uma visão também -
36:17 - 36:21de parceria, porque ele foi muito honesto
com ele mesmo. -
36:21 - 36:22Ele Mamãe, você pode me ajudar?
-
36:22 - 36:24Eu vejo por que você quer me ajuda?
-
36:24 - 36:26Não porque você gosta de ler.
-
36:26 - 36:29Você escreve bem
e eu vou fazer do meu jeito. -
36:29 - 36:34Então eu escrevia os roteiros,
eu li as histórias que não são histórias, -
36:35 - 36:37São histórias de muita tragédia.
-
36:37 - 36:41Sim, Se a gente todas as histórias,
o Lima Barreto. -
36:41 - 36:42É muito difícil.
-
36:42 - 36:46Então, quando é muito difícil,
você sofre lendo. -
36:46 - 36:49Mas como que você transforma isso
em algo encantador -
36:49 - 36:53para um jovem de 13 anos
que vai repercutir isso para corregedoria? -
36:53 - 36:54Difícil não?
-
36:54 - 36:56Fala que os autores são difíceis
porque são ininteligíveis. -
36:56 - 36:59A dificuldade para pessoas negras.
-
36:59 - 37:00E a dor serem.
-
37:00 - 37:02Autores que trazem essa dor.
-
37:02 - 37:04Dessa maneira, como a gente sabe. Exato.
-
37:04 - 37:07Mas se para uma pessoa adulta
-
37:07 - 37:10há um desafio,
imagine para uma criança traumatizante. -
37:10 - 37:13Então eu tinha que trazer as histórias
-
37:13 - 37:17da forma mais encantadora
possível para que ele pudesse contar. -
37:17 - 37:21E eu fico lembrando como os olhinhos dele
brilhavam e ele inventava. -
37:21 - 37:24Tinha uns cacos de gravação
que ele inventava. -
37:24 - 37:26Porque teve poder
contar a história de Dandara? -
37:26 - 37:28Porque Dandara se mata.
-
37:28 - 37:32Mas ele fala assim
se Zumbi era osso duro de roer, -
37:33 - 37:36Dandara era um osso de quebrar os dentes.
-
37:36 - 37:41Então assim, isso foi ele que colocou
no texto, porque ele achou Dandara. -
37:41 - 37:46Quando ele viu que ela era capoeirista,
que ela que ensinava as estratégias -
37:46 - 37:51que ela que ensinava a partir de folhas
dos saberes das folhas. -
37:51 - 37:55Ela era líder em várias frentes
dentro do quilombo. -
37:56 - 38:00Quando ele ele lê isso,
ele também incorpora -
38:00 - 38:03pra ele a força das mulheres
e das mulheres negras. -
38:04 - 38:06Como que uma mulher só.
-
38:06 - 38:11Ele só foi grande desse jeito que ele
tinha uma parceria com uma mulher gigante. -
38:11 - 38:14E aí, quando traz o suicídio
-
38:15 - 38:20que Dandara se suicida quando é invadido,
pelo menos dentro dos relatos históricos, -
38:20 - 38:26quando o quilombo enfim é invadido e ela
sabendo que ela poderia ser utilizada como -
38:28 - 38:30uma ferramenta de
-
38:30 - 38:35subjetivação do seu povo,
de pegar esse líder e colocar ele, enfim, -
38:36 - 38:37ela sabia o que poderia ser feito com ela,
-
38:37 - 38:40ser estuprada, enfim,
ela sabia o que poderia ser feito com ela. -
38:40 - 38:43Ela se joga do penhasco
antes que a peguem. -
38:44 - 38:49E aí quando ele lê isso,
ele não lê no lugar de ela foi embora. -
38:50 - 38:53A dignidade e a dignidade que ela mantém
-
38:53 - 38:58ao saber da sua importância dentro
daquela comunidade, da sua liderança -
38:59 - 39:02e de como isso poderia ser utilizado
de forma negativa. -
39:02 - 39:05E aí Zumbi some por um tempo,
-
39:05 - 39:10ele consegue fugir
enquanto essa mulher toma essa decisão. -
39:10 - 39:14Então, olha só que fantástico esse guri
-
39:14 - 39:17aprendendo sobre o seu povo
e PH foi mudando, -
39:17 - 39:22Esse menino foi ficando cada vez
maior e maior no sentido de se ver grande, -
39:23 - 39:26porque ele estava lendo sobre pessoas
-
39:26 - 39:32que foram relevantes na história do Brasil
e não interessava na escola. -
39:32 - 39:32A gente
-
39:33 - 39:35não era.
-
39:35 - 39:38Ele não estava sendo valorizado
por isso não. -
39:38 - 39:41A escola começa a entender o tamanho dele,
-
39:41 - 39:44quando é
ele vai passar numa grande rede de TV -
39:45 - 39:48e tem lá um ator, o Lázaro,
-
39:48 - 39:51que fala assim
Eu amo o trabalho desse menino. -
39:51 - 39:54E aí quando fala isso
dentro de uma grande rede, aí -
39:54 - 39:56a escola olha, todo mundo
olha para o lado, -
39:56 - 40:00a gente estuda aqui
e ele está fazendo isso. -
40:00 - 40:04Mas foi um desafio para ele,
porque ele estava na escola particular -
40:05 - 40:08de maioria não racializada
-
40:08 - 40:11e que se sentiram.
-
40:12 - 40:14Provocados, mas não foi provocado.
-
40:14 - 40:15O lado positivo foram provocados.
-
40:15 - 40:17Tipo assim quem esse moleque pensa que é?
-
40:17 - 40:19Eu não tô falando da escola,
falo dos colegas. -
40:19 - 40:24Quem ele está pensando que é para fazer
sucesso, falar de gente preta. -
40:24 - 40:26E ser reconhecido e. Ser reconhecido.
-
40:26 - 40:32E ai, veja bem, é um trabalho de educação,
porque ele ouve isso lá fora -
40:32 - 40:37e aqui dentro de casa, estimulando,
estimulando e ir para fora de casa. -
40:37 - 40:40Eu vou para onde? Para a comunidade
e aí eu vou para onde? -
40:40 - 40:45Para as peças de autores, de roteiristas,
de pessoas negras. -
40:45 - 40:47E isso vai fortalecendo.
-
40:47 - 40:52Ele vai entendendo que não está
só nesse passado, no presente passado. -
40:52 - 40:55Essa história está presente, acontecendo
-
40:56 - 40:57a partir de
-
40:57 - 41:00outros corpos parecidos com o dele
presente. -
41:00 - 41:02Futuro também. Presente, futuro.
-
41:02 - 41:06E aí ele vai entendendo por isso
que ele estava aqui no estúdio. -
41:06 - 41:09Vocês não viram,
mas ele estava aqui no estúdio. -
41:09 - 41:12Ele saiu, mas ele saiu com esse
gostinho de quero mais. -
41:12 - 41:14Porque o que vocês estão falando aqui
-
41:14 - 41:19é o que eu acredito,
é o que sustenta ele, é o que alimenta. -
41:19 - 41:20É maravilhoso porque
-
41:20 - 41:21eu acho que quando
-
41:21 - 41:24a gente sabe da importância da palavra,
a gente não desperdiça assim. -
41:25 - 41:28E a nossa sociedade,
que é muito barulhenta, né? -
41:28 - 41:30Ela é uma sociedade tagarela.
-
41:30 - 41:34Ela é tagarela porque ela fala demais,
porque não sabe falar assim, né não? -
41:35 - 41:37Então a gente está falando
de um fundamento -
41:37 - 41:41em que a palavra é de extrema
responsabilidade. -
41:41 - 41:43A palavra é você no mundo.
-
41:43 - 41:45Você não joga a palavra
sem a torta direito. A palavra. -
41:45 - 41:48A entidade é exatamente uma entidade.
-
41:48 - 41:49É isso.
-
41:49 - 41:54E olha só, você fala de folhas, das folhas
E aí eu disse Eu me esqueci de falar. -
41:55 - 41:58Trazer um exemplo
eu poderia te trazer do começo, mas assim, -
41:58 - 42:01tem até um mito que fala das folhas,
-
42:01 - 42:04muitos mitos, porque assim, sem folha
não tem axé, não tem. -
42:04 - 42:06Então o axé precisa da folha.
-
42:06 - 42:10Só que para despertar o axé da folha
é preciso a palavra. -
42:10 - 42:11E aí tem.
-
42:11 - 42:15Tem o mito de Ossãe,
inclusive por causa disso, porque -
42:16 - 42:16então não é a
-
42:16 - 42:19palavra quanto ao seu significado,
mas esse sopro vital. -
42:19 - 42:22Ossaim era o Orixá que tinha,
-
42:23 - 42:26era detentor de todas as folhas.
-
42:26 - 42:30Aí ele desperta a inveja dos outros
Orixás, porque os Orixás têm corpo, -
42:30 - 42:33os orixás sentem inveja,
então poder são potências, -
42:34 - 42:37eles têm que negociar as potências deles,
então eles só. -
42:37 - 42:41A gente quer também essas folhas
aí do açaí, mas o açaí quer tudo para ele. -
42:41 - 42:44Então guardava tudo numa cabacinha.
-
42:44 - 42:47E aí os outros orixás se unem e fala assim
Vamos, vamos, vamos, -
42:47 - 42:51dá um jeito e aí fala pra Iansã, Olha,
está com a ventania lá, -
42:51 - 42:54Joga essa cabacinha para longe
que a gente corre para catar as folhas. -
42:55 - 42:59E aí ela faz isso,
ela traz a ventania e aí a cabacinha dele -
42:59 - 43:03rola para lá, as folhas se espalham,
cada orixá vai pegando o quanto pode. -
43:03 - 43:05Aquela loucura toda
-
43:05 - 43:09e aí conseguem tirar do Ossãe
esse poder toda em torno das folhas. -
43:09 - 43:12Só quer ir e falar
Vocês esqueceram uma coisa? -
43:12 - 43:14E a palavra e o axé
-
43:14 - 43:17é a palavra para suscitar o axé,
vocês não tem. -
43:17 - 43:21Então ele continua tendo esse poder,
porque ele tem o poder da Palavra -
43:21 - 43:25que vai suscitar na planta
aquela energia dela. -
43:26 - 43:28Por isso é preciso conversar com a planta.
-
43:28 - 43:30É preciso pedir licença para a planta.
-
43:30 - 43:31Quando você vai pegar uma flor,
-
43:31 - 43:35uma flor ou uma folha,
não é só chegar e meter a mão. -
43:36 - 43:38Tem axé ali, tem vida ali, Então
-
43:38 - 43:41tudo é vivo e tudo fala.
-
43:41 - 43:43Sim, entende?
-
43:43 - 43:45É um mundo encantado, porque é o mundo.
-
43:45 - 43:49Ele é todo falante,
é um mundo em que todo fala. -
43:50 - 43:54A fala do mundo tem valor e se tem valor,
então -
43:54 - 43:57a gente está falando de um pensamento
que é essencialmente ecológico, -
43:58 - 43:59entende?
-
43:59 - 44:03Porque eu valorizo a fala do rio.
-
44:03 - 44:07O rio fala, tem, tem um ente ali, né?
-
44:07 - 44:09Então não vou lá emporcalhar o rio.
-
44:09 - 44:11Eu tenho que falar com ele,
Eu tenho que pedir licença, né? -
44:11 - 44:13Assim eu chego metendo.
-
44:13 - 44:16Não existe hierarquia do existir.
-
44:16 - 44:19Tudo que existe somos nós.
-
44:19 - 44:23O rio somos nós, a folha somos nós
-
44:24 - 44:27e os animais somos nós.
-
44:27 - 44:27Ou seja.
-
44:27 - 44:32Tem uma ética aí eu passo por uma árvore.
-
44:32 - 44:36Eu posso inclusive cumprimentá la,
porque ela é um ser, uma entidade. -
44:36 - 44:40Eu posso conversar com ela
e pedir licença para passar ali. -
44:40 - 44:42Não é assim. Chegar e meter a mão.
-
44:42 - 44:44Então tudo. Fala, cortar tudo. Fala.
-
44:44 - 44:48A gente fala isso da gente no nosso corpo,
a gente não faz isso, -
44:48 - 44:50então a gente não faz isso em lugar
nenhum. Exatamente. -
44:50 - 44:55Gente, é um privilégio poder ter
vocês, privilégio de ter vocês na vida -
44:56 - 44:59que encontra muito maravilhoso
que a gente já fez aqui. -
44:59 - 45:00Coisa maravilhosa!
-
45:00 - 45:03Eu quero, antes da gente encerrar,
eu achei muito bonito a gente -
45:03 - 45:05encerrar dessa forma, porque é isso,
-
45:05 - 45:08a gente fala tanto de protagonismo
e a gente fala tanto das histórias -
45:08 - 45:14e as formas que essas histórias tomam
e como elas ganham seus espaços no mundo -
45:14 - 45:18dependem só de pessoas de exatas.
-
45:18 - 45:21Então, que pessoas são essas que a gente
está valorizando, dando espaço? -
45:22 - 45:25E que histórias são essas
que essas pessoas contam? -
45:25 - 45:27Obrigada por contarem
as histórias de vocês aqui. -
45:27 - 45:28Mas antes de encerrar,
-
45:28 - 45:32vocês trouxeram livros,
então quero dicas aqui do que vocês -
45:32 - 45:35trouxeram e o que vocês recomendam
pra galera que está acompanhando. -
45:35 - 45:40A gente tem bastante livro,
muitas autoras maravilhosas pra indicar. -
45:40 - 45:44Eu vou indicar dois, mas um eu trouxe
porque eu tô lendo agora, que é da Viviane -
45:44 - 45:49Mosé, que é psicanalista
e está psicóloga, filósofa -
45:49 - 45:54e traz corpo, poema, poesia, traz.
-
45:54 - 45:57Ela faz performances.
-
45:57 - 45:59Ela é maravilhosa assim, sabe?
-
45:59 - 46:02Eu não conheço ela pessoalmente,
mas vou conhecê -
46:02 - 46:05la em breve,
porque eu quero ela, uma entidade. -
46:06 - 46:08Ela quando está no palco,
-
46:08 - 46:12ela sabe o que ela está fazendo
e a responsabilidade dessa comunicação. -
46:12 - 46:15Então acho que
quando a gente fala de troca justa, -
46:15 - 46:19é muito justo eu pagar o ingresso
para assistir essa mulher, sabe? -
46:20 - 46:23Então a gente tem que entender também
onde a gente está investindo o nosso tempo -
46:24 - 46:28e esse nosso dinheiro que a gente ganha,
cada um aí da sua forma. -
46:28 - 46:33Então tem a Viviane, tem Eliane Cruz,
que tem, que é assim. -
46:33 - 46:38Todos os livros delas,
todos os livros dela são essenciais -
46:38 - 46:41para soletrar seu pensamento
-
46:41 - 46:44a partir de uma nova perspectiva.
-
46:45 - 46:48E eu falo nova porque,
como a gente ouviu aqui nas pesquisas -
46:49 - 46:55até então,
esses autores brancos heteronormativos -
46:55 - 47:00ditaram a regra do que se contar
é de construção de imagem. -
47:01 - 47:05Então essas autoras vão trazer
para vocês novas construções, -
47:06 - 47:09novas possibilidades
de imaginar o futuro e o futuro. -
47:09 - 47:13Lembre, ele é agora
e a gente constrói isso nesse agora. -
47:13 - 47:17Então, agradeço muito a oportunidade
de estar com Emi, que é. -
47:18 - 47:23Uma. Honra querida
e um gigante e um jeito. -
47:23 - 47:24Nos conhecemos hoje.
-
47:24 - 47:27Nós nos conhecemos hoje,
mas eu já estou apaixonada. -
47:27 - 47:30Mais e mais e presente, passado, presente,
presente, presente. -
47:31 - 47:33E isso a gente já foi um reencontro.
-
47:33 - 47:34Nessas águas. Aí.
-
47:36 - 47:39E a Marina sabe das nossas trocas de anos.
-
47:39 - 47:41É uma sobrevivente.
-
47:41 - 47:45Admiro você demais pelo trabalho
-
47:45 - 47:49que você faz,
onde você faz e como você faz. -
47:50 - 47:55Você é brilhante, brilhante
na forma com que você consegue -
47:55 - 47:59se conectar com um universo
às vezes bastante violento, -
48:01 - 48:04mas que é importante também ser ocupado.
-
48:04 - 48:05Parabéns!
-
48:05 - 48:08Muito obrigada pelo convite
e por toda oportunidade -
48:08 - 48:13de estar com esse time aqui hoje da FIAP,
que foi muita gente, muito Gustavo, -
48:13 - 48:19muito focada
e que acontecesse de forma tão generosa. -
48:20 - 48:21Muito obrigada pelo presente.
-
48:21 - 48:22Um presente.
-
48:22 - 48:25Recíproco e totalmente. Verdadeiro.
-
48:25 - 48:26Não é?
-
48:26 - 48:28E eu assino
embaixo de tudo o que você falou. -
48:28 - 48:31E quando você falava da Viviane Mosé
eu me lembrei. -
48:31 - 48:34Inclusive a Viviane
foi muito importante para organizar -
48:35 - 48:38o livro de poemas da Estela do Patrocínio.
-
48:38 - 48:41Estela do Patrocínio ficou décadas.
-
48:41 - 48:45Foi a mulher negra,
ficou décadas internada no Juliano Moreira -
48:46 - 48:49e ninguém sabia de onde veio essa mulher.
-
48:49 - 48:50A princípio, tinha um sobrinho
-
48:50 - 48:53que a visitava, depois sumiu e ninguém,
por mais que procurassem, -
48:53 - 48:57ninguém conseguiu encontrar
parentes dessa mulher. -
48:57 - 49:01As origens dela e as enfermeiras.
-
49:01 - 49:05Uma enfermeira percebeu que ela falava
-
49:05 - 49:08umas coisas interessantes
na fala da loucura dela -
49:08 - 49:13e gravou algumas falas
da Estela de Patrocínio. -
49:13 - 49:17E aí a Viviane Mosé
organizou isso num livro chamado -
49:17 - 49:20O Reino dos Bichos e dos Animais
e o meu nome. -
49:22 - 49:25Então a Viviane fez essa organização
dessa mulher negra -
49:25 - 49:28totalmente invisibilizada no manicômio
-
49:30 - 49:31e que eu falei de Juliano Moreira.
-
49:31 - 49:35Mas assim que o hospício
que ganhou o nome dele, sem mais -
49:35 - 49:38o Juliano e dessa luta antimanicomial
-
49:38 - 49:42e a essa altura inclusive já
tinha melhorado muito essa essa questão. -
49:42 - 49:47Mas enfim, essa mulher negra como
muitos encarcerados, vão para a prisão. -
49:48 - 49:50Enfim. Então me lembrei dela, mas
-
49:51 - 49:53eu também tenho indicação.
-
49:53 - 49:56No começo eu falei dessa questão do tempo
-
49:57 - 50:00presente, do presente pra gente,
do passado presente, do futuro, -
50:00 - 50:04que é o tempo espiralar,
que é o que a Leda Maria Martins, -
50:05 - 50:09uma dramaturga, poeta brasileira, nasceu
no Rio de Janeiro, -
50:09 - 50:10radicada em Minas Gerais,
-
50:10 - 50:14ela tem esse livro, que é uma referência
para as artes cênicas e uma referência -
50:14 - 50:17para a poesia,
para o pensamento contemporâneo. -
50:17 - 50:21Performances do tempo
espiralar poéticas do corpo tela. -
50:21 - 50:26Esse livro aqui é um
é um clássico já e ele é muito importante -
50:26 - 50:29para quem quiser se aprofundar
nesse assunto e de literatura. -
50:29 - 50:32Além dos que Agnaldo
-
50:33 - 50:36sugeriu Mulheres, hoje
a gente está falando só de mulheres, -
50:36 - 50:39sem a Ana Maria Gonçalves,
que deu um defeito de cor. -
50:39 - 50:42É obrigatório
porque nasceu clássico. Também. -
50:42 - 50:46E que bom que teve até enredo
de escola de samba e você falou muito nele -
50:46 - 50:50E eu vou deixar aqui
a sugestão da Marilene Filinto. -
50:50 - 50:56Um livro chamado As Mulheres de Tijuco
Papo As Mulheres de Tijuco. -
50:56 - 50:58Papo é uma potência sim.
-
50:58 - 51:02Eu acho que uma das grandes escritoras
contemporâneas, a Marilene Felinto. -
51:02 - 51:05Esse é o primeiro romance dela,
Então fica a dica. -
51:05 - 51:06Tá bom?
-
51:06 - 51:09Eu não trouxe,
mas vou dar uma dica de um livro infantil -
51:09 - 51:13que chama do Hugo e do Tadeu França,
que é um influenciador inclusive. -
51:13 - 51:17E ele conta a história de um novelo
e da sua convivência -
51:17 - 51:21em ambientes com pessoas
que não reconhecem a força dos seus pelos. -
51:21 - 51:25Esse livro mexeu com as crianças lá
de casa, os meus filhos, os meus sobrinhos -
51:26 - 51:29e é um livro bem importante
pela representação, -
51:29 - 51:32que traz um livro infantil
gostosinho de ler. -
51:32 - 51:35Os meninos amam, então recomendo.
-
51:35 - 51:38A Marina Brito
essa leitura trazida às crianças. -
51:38 - 51:41Assim
eu posso também indicar um outro infantil, -
51:42 - 51:46A melhor Mãe do Mundo, da Nina Rizzi,
da Companhia das Letrinhas. Esse -
51:48 - 51:50é um livro que fala de uma.
-
51:50 - 51:53É uma criança que narra história,
um menino -
51:53 - 51:57e ela dá todas as indicações
de que é um menino periférico. -
51:57 - 51:59Ela fala, mas que não é estereotipada.
-
51:59 - 52:03E ele vai falando
muito amorosamente dessa mãe. -
52:03 - 52:05E a mãe está encarcerada.
-
52:05 - 52:07É uma mulher que está presa.
-
52:07 - 52:10Eu nunca vi esse tema na literatura
infantil. -
52:10 - 52:11Esse livro é belíssimo.
-
52:11 - 52:15Eu eu formo mediadores de leitura,
como eu falei no começo, então eu trabalho -
52:15 - 52:19muito com esse livro e ele toca demais
as pessoas, adultos e crianças, -
52:19 - 52:20inclusive, tem.
-
52:20 - 52:23Feito a indicação de indicações.
-
52:23 - 52:26Tem mais uma leitora
-
52:26 - 52:28infanto juvenil que o São Oliveira.
-
52:28 - 52:30Todos que.
-
52:30 - 52:32São. Queridos são lindos.
-
52:32 - 52:36As peças teatrais que ela também monta
a partir dos livros dela são maravilhosos! -
52:36 - 52:40E tem um livro gente muito interessante
-
52:40 - 52:44que eu estou lendo e isso
eu já estou no sétimo capítulo, Assim -
52:45 - 52:46do Renato Nogueira,
-
52:46 - 52:50um novo Mulheres e Divindades que ele traz
-
52:51 - 52:56como que foi formada
a feminilidade a partir das divindades -
52:56 - 53:00européias e greco romanas ali.
-
53:00 - 53:03E aí ele traz as divindades
-
53:04 - 53:08iorubás e divindades dos povos
originários. -
53:09 - 53:12É um livro que traz os mitos.
-
53:12 - 53:17Como que é construído
esse arquétipo da rivalidade? -
53:17 - 53:19É muito interessante.
-
53:19 - 53:22Assim, achei brilhante a ideia do Renato
-
53:22 - 53:26de trazer essa construção do feminino
a partir -
53:27 - 53:29de uma ideia
-
53:29 - 53:32de mulheres que se odeia, que rivalizam.
-
53:32 - 53:35Cara, isso não é de agora, é muito tempo.
-
53:35 - 53:38Foi muito tempo plantado assim.
-
53:38 - 53:43Então como que a gente escapa disso
senão a partir da educação e do -
53:43 - 53:46porque quando a gente
consegue racionalizar o porquê, -
53:46 - 53:49você consegue fazer o caminho
contrário de não presente, -
53:49 - 53:52passado, presente, presente,
presente, futuro. -
53:52 - 53:55Então acho que agora me veio assim.
-
53:55 - 53:58Eu achei tão interessante.
-
53:58 - 54:01Super indico também que que leiam assim.
-
54:01 - 54:04E tem no pra
quem não está, não tem muito tempo de ler, -
54:04 - 54:09mas fica muito tempo no trem, metrô,
ônibus, enfim, mora longe. -
54:09 - 54:14Tem o livro,
não sei lá se não consegue ler, -
54:14 - 54:17mas se você gosta de ouvir
podcast, vai para o audiolivro. -
54:18 - 54:22Alguns livros até são gratuitos
e tem alguns da Eliane mais. -
54:22 - 54:26Mas saindo um pouquinho do instagran
de vez em quando dá pra ler também. -
54:26 - 54:29Eu já da ver, não é assim você pegar.
-
54:29 - 54:32Não tem nada mais gostoso do que eu. Li,
eu amo. -
54:32 - 54:34Mas é que é isso. Não são. Livros, são.
-
54:34 - 54:37Realmente os que tem
esse daí de você ficar ouvindo as vezes -
54:37 - 54:42vai treinar, coloca o livro
lá para escutar o livro então assim. -
54:43 - 54:47Então tem esses autores também
estão nessas plataformas de áudio boa. -
54:48 - 54:52Quem é assinante
tem muitos livros gratuitos lá, -
54:52 - 54:57então isso é democratização
da informação e da educação e -
54:58 - 54:59não dá mais
-
54:59 - 55:02para ter a não consigo ou não dá.
-
55:02 - 55:06De um jeito ou de outro,
busque conhecimento em outros lugares, -
55:06 - 55:09para além do Instagram,
para além do YouTube, -
55:10 - 55:14porque vai te fazer bem, vai te fazer bem
construir esse repertório. -
55:15 - 55:18O que você vê aqui,
aqui tem mais de um século -
55:19 - 55:24de repertório pela idade atual
dessas pessoas físicas que tem, -
55:24 - 55:28que estão aqui tem um século e meio,
pelo menos aqui. E é. -
55:28 - 55:32Mas a gente traz a oralidade há milênios.
-
55:32 - 55:34Então é mais isso.
-
55:34 - 55:38Você tem que ativar e a gente ativa isso
buscando vários recursos. -
55:39 - 55:41Busque seu e escolham suas companhias.
-
55:41 - 55:45Então a gente termina por aqui
dando essas dicas maravilhosas para vocês -
55:45 - 55:48escolherem as histórias
que vocês vão acessar -
55:48 - 55:51e como vocês passam essas histórias
daqui em diante. -
55:52 - 55:53Obrigada, até mais!
- Title:
- FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Duration:
- 55:57
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