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FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA

  • 0:08 - 0:11
    Você já parou para pensar
    em como as histórias são contadas?
  • 0:11 - 0:13
    Quem constrói essas histórias?
  • 0:13 - 0:14
    Quem conta as histórias?
  • 0:14 - 0:16
    Como a gente conta
    essas histórias?
  • 0:16 - 0:21
    No bate-papo de hoje, eu vou receber
    duas pessoas incríveis aqui na mesa
  • 0:21 - 0:23
    para falar um pouco
    sobre a oralidade
  • 0:23 - 0:26
    e como a gente passa
    de geração em geração
  • 0:26 - 0:29
    histórias que vêm,
    acompanham toda a nossa família.
  • 0:29 - 0:31
    E a gente vai falar um pouco
    de literatura também.
  • 0:31 - 0:33
    Como é essa construção?
  • 0:33 - 0:37
    E tudo pela perspectiva
    de profissionais incríveis,
  • 0:37 - 0:38
    pessoas negras.
  • 0:38 - 0:39
    Eu sou a Marina Franciulli,
  • 0:39 - 0:43
    sou comunicadora, especialista
    em direitos humanos,
  • 0:43 - 0:44
    e eu sou uma mulher negra.
  • 0:44 - 0:46
    Hoje eu estou
    com os meus cabelos soltos,
  • 0:46 - 0:48
    eles são crespos,
    na altura do ombro,
  • 0:48 - 0:51
    uso brincos dourados
    em formato de búzio,
  • 0:51 - 0:55
    uma corrente dourada também,
    e um macacão rosa.
  • 0:55 - 0:58
    Ele é de regatinha, então estou
    com os braços de fora e à mostra,
  • 0:58 - 1:01
    e tem aqui um bracelete
    também dourado.
  • 1:01 - 1:03
    Vou apresentar essas
    duas pessoas incríveis
  • 1:03 - 1:05
    que stão na mesa
    aqui com a gente hoje.
  • 1:05 - 1:07
    Vou começar com as mulheres.
  • 1:07 - 1:09
    Egnalda Côrtes, bem-vinda.
  • 1:09 - 1:11
    Se apresente
    para a gente, por favor!
  • 1:11 - 1:14
    Meu nome é Egnalda Côrtes,
    fundadora e CEO da Côrtes e Companhia,
  • 1:14 - 1:18
    a primeira agência de influenciadores
    negros da América Latina
  • 1:18 - 1:21
    e empresa líder da Aliança
    Sem Esteriótipos da ONU Mulheres.
  • 1:22 - 1:24
    Sou uma mulher negra,
    de pele clara.
  • 1:24 - 1:28
    Estou usando o cabelo
    trançado nagô
  • 1:28 - 1:30
    com tranças longas loiras.
  • 1:30 - 1:34
    Estou usando acessórios
    prata e dourado,
  • 1:34 - 1:38
    mas para ornar também
    com a mediadora,
  • 1:38 - 1:39
    que está de dourado.
  • 1:39 - 1:41
    Estou usando uma camisa branca.
  • 1:42 - 1:46
    E estou extremamente
    honrada pelo convite
  • 1:46 - 1:48
    e por estar conversando de algo
  • 1:48 - 1:51
    que é tão vívido
    na nossa história.
  • 1:51 - 1:54
    Eu acho que muito da nossa sobrevivência
  • 1:54 - 1:57
    vem da nossa oralidade
    e da força e competência
  • 1:57 - 2:00
    que nós temos em fazer isso.
  • 2:00 - 2:01
    Obrigada pelo convite.
  • 2:01 - 2:04
    Bem-vinda e obrigada por
    topar estar aqui com a gente.
  • 2:04 - 2:08
    Reni, Reni Adriano, que conheci
    há tempos e muitos tempos,
  • 2:08 - 2:09
    admiro desde sempre.
  • 2:09 - 2:10
    Bem-vindo!
  • 2:10 - 2:13
    Uma alegria, Marina, te reencontrar
    aqui com essa discussão,
  • 2:13 - 2:15
    e conhecer a Agnalda.
  • 2:15 - 2:18
    Eu sou Reni Adriano,
    sou escritor e dramaturgo,
  • 2:18 - 2:20
    e mediador de leitura.
  • 2:20 - 2:23
    Eu formo mediadores de leitura
  • 2:23 - 2:26
    e implemento projetos
    de salas de leitura
  • 2:26 - 2:29
    em vários lugares do Brasil.
  • 2:29 - 2:31
    Eu estou, eu tenho...
  • 2:31 - 2:36
    Eu sou careca,
    negro não retinto,
  • 2:36 - 2:39
    e estou usando
    uma camiseta vermelha
  • 2:39 - 2:41
    sem estampa,
  • 2:41 - 2:44
    e uso nas duas orelhas
  • 2:44 - 2:46
    alargadores pequenos.
  • 2:46 - 2:48
    Vamos começar a conversar
    um pouco sobre o nosso assunto.
  • 2:48 - 2:50
    Vamos começar pela oralidade?
  • 2:50 - 2:53
    Porque se tem algo que a gente
    aprende a fazer desde sempre
  • 2:53 - 2:55
    é contar histórias.
  • 2:55 - 2:57
    E, ao contar histórias,
    a gente traz
  • 2:57 - 2:59
    as nossas raízes,
    as nossas origens.
  • 2:59 - 3:02
    A gente consegue trabalhar
    muito a nossa imaginação,
  • 3:02 - 3:05
    que é tão fundamental
    para a nossa existência.
  • 3:05 - 3:08
    Eu queria começar perguntando
    o papel da oralidade
  • 3:08 - 3:09
    na cultura afro-brasileira.
  • 3:10 - 3:11
    Por favor.
  • 3:11 - 3:14
    Eu doida para ouvir o Reni
    e ele passou a bola para mim.
  • 3:17 - 3:20
    Como eu falei na introdução,
  • 3:20 - 3:23
    a oralidade nos constitui...
  • 3:25 - 3:27
    E ela nos salvou, né,
  • 3:27 - 3:29
    por séculos.
  • 3:30 - 3:32
    Porque parte da nossa história,
  • 3:32 - 3:34
    se a gente for falar de diáspora,
  • 3:34 - 3:38
    ela foi assaltada, né,
  • 3:38 - 3:41
    ela foi devastada.
  • 3:43 - 3:45
    Me arrepia falar sobre isso
  • 3:45 - 3:48
    porque nas culturas,
  • 3:48 - 3:52
    nos povos de terreiro
    e nos povos tradicionais,
  • 3:52 - 3:55
    a oralidade é que faz
  • 3:55 - 3:59
    com que aquelas
    pessoas sobrevivam.
  • 4:02 - 4:05
    Então, para além
    da construção do imaginário,
  • 4:05 - 4:08
    a oralidade é uma energia.
  • 4:09 - 4:12
    A comunicação é
    uma grande energia.
  • 4:13 - 4:17
    E muito do que nós
    falamos e somos
  • 4:17 - 4:20
    vem muito mais da energia
  • 4:20 - 4:23
    que a oralidade nos trouxe
  • 4:23 - 4:26
    do que nos foi
    ensinado e imposto
  • 4:26 - 4:28
    também por séculos.
  • 4:28 - 4:32
    Se a gente falar
    de sociedade brasileira,
  • 4:32 - 4:36
    o que foi passado como imagem,
  • 4:36 - 4:37
    como imagem...
  • 4:37 - 4:41
    Como foi construída a imagem
    da população brasileira...
  • 4:42 - 4:44
    Na TV, por exemplo.
  • 4:44 - 4:48
    Imaginem se nós dependêssemos
    somente disso
  • 4:48 - 4:51
    para sobreviver e para construir
    a nossa autoestima?
  • 4:51 - 4:53
    E aí eu estou falando
    de população brasileira.
  • 4:53 - 4:56
    Não estou nem fazendo
    um recorte racial.
  • 4:56 - 5:00
    Nós temos ainda uma boa parte
    dessa população
  • 5:00 - 5:02
    que não é branca,
  • 5:02 - 5:04
    não é branca,
  • 5:04 - 5:09
    e foi construído
    um imaginário dessa brancura
  • 5:09 - 5:13
    que poderia ter nos derrotado
    como população.
  • 5:13 - 5:14
    E olha só que...
  • 5:15 - 5:16
    Irônico...
  • 5:18 - 5:22
    Que mesmo assim,
    nós nos tornamos
  • 5:22 - 5:24
    os maiores
    comunicadores do mundo.
  • 5:24 - 5:27
    Somos premiados pela nossa arte,
  • 5:27 - 5:29
    pela nossa criatividade,
  • 5:29 - 5:32
    e pela nossa comunicação,
  • 5:32 - 5:35
    e isso vem da mistura dos povos,
  • 5:35 - 5:39
    isso vem da resistência
    dessa população
  • 5:39 - 5:43
    que foi negligenciada
    pela comunicação,
  • 5:43 - 5:47
    mas foi salva pela oralidade
    nas comunidades,
  • 5:47 - 5:49
    nos movimentos sociais,
  • 5:49 - 5:51
    nos povos tradicionais,
  • 5:51 - 5:54
    nos povos originários.
  • 5:54 - 5:58
    A gente foi salvo por essa energia
  • 5:58 - 6:00
    que chamamos de comunicação,
  • 6:00 - 6:02
    de oralidade,
  • 6:02 - 6:07
    e que, dentro de algumas
    constituições religiosas,
  • 6:07 - 6:09
    nós chamamos de...
  • 6:12 - 6:13
    Quem abre os caminhos.
  • 6:14 - 6:18
    Então, se existe esse futuro
  • 6:18 - 6:20
    que nós vivemos hoje,
  • 6:20 - 6:23
    é porque o ontem foi construído
  • 6:23 - 6:25
    a partir da oralidade.
  • 6:25 - 6:26
    Maravilhoso.
  • 6:26 - 6:29
    E a gente pode puxar um pouco
    para a literatura já, né, Reni,
  • 6:29 - 6:33
    porque quando a Agnalda traz
    a questão da representação,
  • 6:33 - 6:35
    do como a gente
    consegue se perceber
  • 6:35 - 6:39
    e como a gente também cria
    e entende essas estratégias
    de resistência,
  • 6:39 - 6:42
    como a própria oralidade
    se mantém importante
  • 6:42 - 6:46
    por ser a resistência da nossa
    história e da nossa existência,
  • 6:46 - 6:49
    na literatura não é
    necessariamente assim
  • 6:49 - 6:51
    que a gente constrói esse caminho,
  • 6:51 - 6:52
    mas ele é muito presente também.
  • 6:53 - 6:54
    Sim.
  • 6:54 - 6:56
    É interessante
    o que a Agnalda falou,
  • 6:56 - 6:58
    que a oralidade é uma energia.
  • 6:58 - 7:00
    Então,
  • 7:00 - 7:03
    antes de falar da literatura
    especificamente,
  • 7:03 - 7:06
    eu acho que tem duas formas
    de falar de oralidade.
  • 7:06 - 7:10
    Uma é essa corrente
  • 7:10 - 7:15
    das histórias que se transmitem
    de geração para geração,
    e há uma que não é tão
  • 7:17 - 7:17
    interessante.
  • 7:17 - 7:21
    Talvez a gente talvez deva repensar
    porque é pensar a oralidade
  • 7:21 - 7:24
    como o oposto daquilo que é escrito.
  • 7:24 - 7:26
    O oposto da escritora.
  • 7:26 - 7:29
    E isso é uma estratégia.
    Parece que é óbvio.
  • 7:29 - 7:32
    Não foi escrito, foi, foi oralizado,
    não foi escrito.
  • 7:32 - 7:33
    Então é oralidade.
  • 7:33 - 7:37
    Mas isso é só uma convenção que na verdade
    tenta categorizar as coisas.
  • 7:37 - 7:41
    De modo que quando eu falo oralidade,
    eu estou dizendo não é escrito.
  • 7:41 - 7:46
    Então há um rebaixamento desse status
    do que é oralizado, do que é escrito,
  • 7:46 - 7:49
    porque nós estamos numa cultura letrada,
  • 7:49 - 7:52
    então o conceito prevalece.
  • 7:52 - 7:54
    Então, é um pouco capciosa essa palavra.
  • 7:54 - 7:57
    Então a gente tenta dar um pouco de
    cuidado, a gente usa de um modo geral.
  • 7:57 - 8:00
    E Agnaldo
  • 8:00 - 8:01
    usa muito bem quando ela fala de energia.
  • 8:01 - 8:03
    Eu quero ir para esse, para esse lado.
  • 8:03 - 8:05
    Então os teóricos que eu tenho
  • 8:06 - 8:08
    lido, por exemplo, Adriana Cavalheiro
  • 8:08 - 8:12
    ou o Paul, um tipo que coincidentemente
    foi chamado para falar desse assunto
  • 8:12 - 8:16
    sem que a Marina soubesse, por exemplo,
    que eu tenho estudado a voz ultimamente.
  • 8:16 - 8:20
    A voz nessa, nessa intersecção
  • 8:20 - 8:25
    do texto literário com a performance,
    vamos ouvir Elias Eu não falei nada.
  • 8:25 - 8:26
    Falei
  • 8:26 - 8:29
    Vou deixar para falar, para falar na hora,
    para não enviesar tanto a discussão.
  • 8:30 - 8:34
    Então, qual é a estratégia para a gente
    tirar a oralidade como sinônimo
  • 8:34 - 8:37
    daquilo que é oposto ao que é escrito
    e você focar a voz
  • 8:38 - 8:42
    que quando você foca a voz,
    você vai para o corpo, porque voz e corpo
  • 8:43 - 8:46
    parece óbvio,
    mas porque assim o aparelho fonador
  • 8:46 - 8:49
    está aqui e corpóreo não,
    Mas a voz é corpo.
  • 8:49 - 8:54
    Então tem toda uma discussão
    sobre por que a voz foi tirada da
  • 8:55 - 8:57
    o pensamento ocidental.
  • 8:57 - 8:59
    Ela foi tirada da própria filosofia.
  • 8:59 - 9:02
    Quando eu falei da Adriana Cavalheiro,
    ela fala na filosofia.
  • 9:02 - 9:06
    Tem esse erro profundo
    de passar do pensamento
  • 9:06 - 9:10
    para o conceito e ela tira a voz do foco.
  • 9:10 - 9:12
    E qual é o problema da voz?
  • 9:12 - 9:15
    A voz é insubordinada,
  • 9:15 - 9:17
    a voz desobedece
  • 9:17 - 9:20
    a voz de situa o pensamento.
  • 9:20 - 9:22
    A voz pode ser ambígua.
  • 9:22 - 9:24
    Eu posso falar que te amo
    dizendo que te odeio.
  • 9:24 - 9:27
    Você entendeu que eu te odeio,
    embora eu tenha falado eu te amo.
  • 9:28 - 9:32
    Então um monte de inflexão
    e tal e voz e corpo, então é na presença.
  • 9:32 - 9:33
    A voz é uma presença.
  • 9:33 - 9:35
    Isso é muito importante a gente falar.
  • 9:35 - 9:38
    Então, quando Agnaldo fala a oralidade
    é uma energia.
  • 9:38 - 9:42
    Então a gente tem que pensar
    o seguinte é oralidade, é corpo.
  • 9:43 - 9:47
    É esse saber que aqui foi implantado,
    aqui,
  • 9:47 - 9:51
    ao qual a cultura brasileira deve tudo,
    porque sem isso ela não é nada.
  • 9:51 - 9:54
    Mesmo com as pessoas brancas
    que são brasileiras.
  • 9:54 - 9:57
    Isso foi trazido no corpo,
    não foi na Enciclopédia Barsa,
  • 9:57 - 10:02
    porque se fosse um saber dependente
    da enciclopédia, teriam queimado
  • 10:02 - 10:04
    e nós não estaríamos aqui hoje,
  • 10:04 - 10:07
    não existiríamos nós aqui,
    hoje não existiria esse país.
  • 10:07 - 10:11
    Então trouxeram esse saber no corpo,
    plantaram aqui os seus orixás, né?
  • 10:12 - 10:16
    Então reconstruíram essa história,
    essa cultura aqui.
  • 10:16 - 10:17
    Então é corpo.
  • 10:17 - 10:18
    Saber é saber.
  • 10:18 - 10:21
    Então e o Ocidente odeia corpo?
  • 10:21 - 10:24
    Ele é uma coisa etérea,
    uma coisa sem corpo.
  • 10:24 - 10:24
    Mas por quê?
  • 10:24 - 10:27
    Porque o pensamento é
    tem uma coisa aí por trás.
  • 10:27 - 10:32
    Isso não sou eu dizendo a própria Adriana
    Cavalheiro, essa filósofa italiana,
  • 10:32 - 10:35
    ela fala assim Esse é um pensamento
    tipicamente masculino,
  • 10:35 - 10:38
    é o macho branco, essa coisa da escrita.
  • 10:38 - 10:42
    Então, usemos sim a oralidade
    de um modo corrente, como usamos.
  • 10:42 - 10:44
    Mas tomemos cuidado porque
  • 10:45 - 10:47
    o foco aqui é a voz.
  • 10:47 - 10:51
    É aqui que está a nossa resistência,
    porque quem tem voz desobedece.
  • 10:51 - 10:54
    Então, quando você fala,
    por exemplo, da energia na oralidade
  • 10:54 - 10:58
    como energia, nas culturas de terreiro,
    eu sou chamado de EMI, né?
  • 10:58 - 11:01
    Porque tem um fluxo vital meu que sai
  • 11:01 - 11:05
    aqui, encontra o seu
    e nós trocamos essa energia.
  • 11:05 - 11:06
    Isso é corpo.
  • 11:06 - 11:10
    Então a minha verdade ela se presentifica
    na hora em que eu falo diante de você.
  • 11:10 - 11:14
    Aqui está todo o meu ser inteiro
    diante de você e generosamente, inclusive,
  • 11:15 - 11:17
    é uma troca generosa de igual pra igual.
  • 11:17 - 11:22
    Então o Ocidente odeia isso,
    porque isso escapa ao controle.
  • 11:22 - 11:24
    E foi assim que nós escapamos.
  • 11:24 - 11:25
    Foi assim que nós fundamos um país
  • 11:25 - 11:27
    e foi assim que nós estamos
    aqui, de cabeça erguida.
  • 11:27 - 11:28
    E por causa disso.
  • 11:28 - 11:30
    Ele é genial também.
  • 11:30 - 11:32
    Então eu estou emocionada.
  • 11:32 - 11:35
    Eu estou pegando carona no que você disse.
    Você trouxe a energia.
  • 11:35 - 11:38
    Eu estou emocionada porque o Remy,
  • 11:39 - 11:42
    para quem estiver vendo, para quem
    não estiver vendo, vou descrever.
  • 11:43 - 11:46
    Ele fala olhando para os seus olhos
  • 11:47 - 11:50
    e com os seus olhos castanhos brilhantes.
  • 11:51 - 11:54
    Os seus olhos castanhos emitiam
  • 11:54 - 11:57
    toda a emoção da fala, da voz
  • 11:57 - 12:02
    e todo corpo que você entrega
    junto com a voz e o brilho no olho
  • 12:02 - 12:06
    e o lacrimejar porque ele está
    lacrimejando, porque está emocionado.
  • 12:06 - 12:09
    Então há uma entrega neste estúdio,
  • 12:10 - 12:13
    neste dia de uma energia
  • 12:13 - 12:19
    que é também construída no afeto,
    sem afetar
  • 12:20 - 12:23
    em todos os sentidos que você possa
    imaginar.
  • 12:23 - 12:26
    Porque você me afeta com a sua fala?
  • 12:26 - 12:28
    Você me afeta com o seu olhar.
  • 12:29 - 12:31
    Eu sinto
  • 12:31 - 12:35
    a visceralidade da contação
  • 12:35 - 12:40
    do que ele está colocando aqui de energia,
    e é isso que nos fez sobreviver.
  • 12:40 - 12:43
    Foi essa tecnologia
  • 12:43 - 12:47
    de entender que essa era
  • 12:47 - 12:50
    foi a única possibilidade que tivemos
    então.
  • 12:50 - 12:55
    E isso foi colocado na frente
    e foi isso que fez realmente, de fato,
  • 12:55 - 12:58
    a gente sobreviver e fazer esse país
    ser o que ele é.
  • 12:58 - 13:00
    E a possibilidade do protagonismo.
  • 13:00 - 13:03
    Porque quando a voz desobedece, quem conta
    a história
  • 13:04 - 13:07
    é quem está contando pela sua perspectiva
    e não pelo registro histórico.
  • 13:07 - 13:10
    Porque a gente também sabe
    que o registro histórico não foi feito
  • 13:10 - 13:12
    pelas pessoas que necessariamente
  • 13:12 - 13:15
    vivenciaram aquilo,
    mas eram outras pessoas contando.
  • 13:16 - 13:18
    E nós estamos falando de uma cultura,
  • 13:18 - 13:22
    de um tipo de saber que
    honra muito a ancestralidade,
  • 13:23 - 13:26
    mas não
    porque ancestralidade está lá atrás,
  • 13:26 - 13:29
    mas porque a ancestralidade está aqui
    agora, está presente.
  • 13:29 - 13:34
    Isso é muito importante
    porque é uma sabedoria tão visceral,
  • 13:34 - 13:39
    tão maravilhosa, que a própria morte
    é superada nesse sentido.
  • 13:39 - 13:44
    Porque então, a pessoa que morreu,
    ela retorna, ela presente,
  • 13:44 - 13:48
    fica aqui agora,
    quando eu falo dela, quando eu vocalizou.
  • 13:48 - 13:52
    Então tem algo da presença dessa pessoa,
    disso que não morre
  • 13:52 - 13:55
    e que eu trago aqui agora, desse passado.
  • 13:55 - 13:59
    Então não é uma ideia linear de passado,
    presente e futuro
  • 13:59 - 14:03
    como a Vanda Machado fala a Vanda Machado,
    ela do Afonjá,
  • 14:03 - 14:05
    comunidade de Afonjá, da mãe
    Stella de Oxóssi
  • 14:05 - 14:08
    e tem uma escola de ensino fundamental
    lá no terreiro.
  • 14:09 - 14:09
    Então tem
  • 14:09 - 14:12
    toda uma pedagogia voltada para isso
    e o trabalho da Vanda em torno disso.
  • 14:13 - 14:17
    Então ela fala não é passado,
    presente, futuro é presente do presente,
  • 14:18 - 14:21
    presente do passado e presente do futuro.
  • 14:21 - 14:24
    Então nem a morte pode com isso.
  • 14:24 - 14:25
    Então o contrário.
  • 14:25 - 14:26
    A morte então,
  • 14:26 - 14:30
    passa a ser só uma outra forma de vida,
    porque os ancestrais estão aqui, eles vêm,
  • 14:30 - 14:34
    eles retornam, comem com a gente,
    eles encarnam, eles tem corpo também,
  • 14:35 - 14:39
    tem corpo, abençoam as pessoas,
    comemoram os seus feitos.
  • 14:40 - 14:41
    Eles estão aqui conosco.
  • 14:41 - 14:45
    Então, o contrário da vida não é a morte.
  • 14:45 - 14:48
    O contrário da vida é o desencanto.
  • 14:48 - 14:50
    E a gente está falando de pessoas
    encantadas,
  • 14:50 - 14:53
    de pessoas que têm esse poder
    de encantamento contra isso.
  • 14:54 - 14:55
    Ninguém pode.
  • 14:55 - 14:58
    Depois, e não sei se eu.
  • 14:58 - 15:00
    Queria aqui
    falar da literatura, por favor.
  • 15:00 - 15:03
    Então, aí a literatura, ela tem essa
  • 15:05 - 15:06
    questão.
  • 15:06 - 15:09
    Eu falei do corpo, eu vou fazer,
    eu vou dar um exemplo
  • 15:09 - 15:12
    aqui pra quem está assistindo,
    que é o seguinte
  • 15:13 - 15:16
    vou contar uma história.
  • 15:16 - 15:17
    Tinha um menino.
  • 15:17 - 15:21
    Ele era uma adolescente de
    uns 13 anos de idade,
  • 15:22 - 15:23
    uma adolescente
  • 15:23 - 15:27
    como qualquer outro adolescente
    contemporâneo, Gostava de jogar videogame
  • 15:27 - 15:30
    muito com os amigos, jogava futebol também
  • 15:31 - 15:34
    e era um estudante brilhante.
  • 15:34 - 15:38
    E ele estava interessado numa menina
    que convidou ele para uma festa.
  • 15:38 - 15:41
    E aqui eu paro a história
    porque não interessa nada a história.
  • 15:41 - 15:45
    Eu quero saber,
    honestamente, você que assiste e me diz
  • 15:45 - 15:47
    Você imaginou o menino?
  • 15:47 - 15:50
    De que cor, né? Essa é a pergunta.
  • 15:50 - 15:53
    Porque quando a gente ouve uma história,
  • 15:53 - 15:57
    gente,
    imagina geralmente uma pessoa branca,
  • 15:57 - 16:00
    porque o branco é universal,
  • 16:00 - 16:03
    o negro é específico.
  • 16:03 - 16:06
    Então
    você só vai saber a cor de uma personagem
  • 16:06 - 16:08
    se o autor informar, então, mais ou menos.
  • 16:08 - 16:12
    Uma vez eu estava numa mesa, aí
    eu falei que eu era negro na apresentação.
  • 16:12 - 16:13
    Aí um autor
  • 16:13 - 16:17
    conhecidíssimo estava do meu lado branco
    e disse Esse aí na hora que foi isso,
  • 16:17 - 16:19
    apesar de ser eu não vou falar
    a minha cor.
  • 16:19 - 16:23
    Eu acho bobagens
    porque meus personagens não tem.
  • 16:23 - 16:26
    Aí eu fui interromper, falei peraí,
    eu não vou passar por uma pessoa
  • 16:26 - 16:29
    que está dizendo aquilo que sabe
    que é inútil dizer.
  • 16:30 - 16:33
    Sabe porque você não fala a cor das suas
    personagens, fulano?
  • 16:34 - 16:35
    Porque elas são brancas.
  • 16:35 - 16:40
    Se elas fossem negras, você diria
    se elas fossem indígenas você diria, né?
  • 16:41 - 16:43
    Então é sempre esse o universal branco.
  • 16:43 - 16:46
    Então a história
    assim é numa dessas embranquecer
  • 16:46 - 16:50
    ou inclusive o Machado de Assis
    foi preciso para aceitar
  • 16:50 - 16:54
    que um preto
    fosse o cânone nacional da literatura.
  • 16:54 - 16:56
    Foi preciso embranqueceu.
  • 16:56 - 16:58
    E aí teve todo
  • 16:58 - 17:03
    um celeuma que se cria
    com o enegrecimento dele
  • 17:03 - 17:06
    a restituição da cor do Machado de Assis
    Pardo.
  • 17:06 - 17:11
    Ele nasce pardo na certidão
    de nascimento de Machado de Assis.
  • 17:12 - 17:16
    Tem lá pardo, é a certidão de óbito,
  • 17:16 - 17:19
    porque aí ele era Machado de Assis,
  • 17:21 - 17:23
    respeitado, uma figura respeitada
  • 17:23 - 17:26
    pela literatura da língua portuguesa.
  • 17:26 - 17:29
    Na certidão de óbito.
  • 17:29 - 17:32
    Já assim, o homem branco.
  • 17:32 - 17:35
    De tão essa sujeito de cidade
  • 17:35 - 17:40
    que a gente reivindica,
    ela não é do acaso.
  • 17:40 - 17:46
    Ela é de séculos de negligenciar,
    inclusive essa intelectualidade.
  • 17:46 - 17:49
    Do apagamento das existências, de fato.
  • 17:49 - 17:50
    Exato.
  • 17:50 - 17:53
    E aí, quando você traz tantos
  • 17:53 - 17:57
    pensadores,
    a gente fala Machado e Juliano Moreira,
  • 17:57 - 18:00
    por exemplo, que era um médico
  • 18:00 - 18:05
    que foi o grande percursor da luta
    antimanicomial,
  • 18:05 - 18:07
    Juliano Moreira, um homem negro.
  • 18:07 - 18:09
    Quando eu falei
    isso para o meu psiquiatra,
  • 18:10 - 18:12
    que é um homem
  • 18:12 - 18:16
    de aparência de fenótipos do Oriente
    Médio, eu estou enganado.
  • 18:16 - 18:20
    Não acredito que eu passei a faculdade
    quase que inteira estudando.
  • 18:20 - 18:23
    Juliano Moreira
    Eu não sabia que ele era um homem negro,
  • 18:23 - 18:26
    um homem negro que se formou em medicina,
    entrou pra faculdade de medicina
  • 18:26 - 18:29
    aos 17 anos.
  • 18:29 - 18:30
    Então assim era.
  • 18:30 - 18:33
    Ele era genial, ele era genial.
  • 18:33 - 18:36
    E aí é quando eu estou falando
    muito disso,
  • 18:36 - 18:40
    porque, enfim,
    eu funda a Cortez e companhia
  • 18:41 - 18:43
    pra poder,
  • 18:43 - 18:48
    dentro da cultura neoliberal,
    fazer com que pessoas negras
  • 18:48 - 18:52
    continuem reverberando coisas importantes,
    como uma comunicação
  • 18:52 - 18:55
    relevante na internet, capitalizando isso.
  • 18:57 - 19:00
    E foi a partir da história
    dos heróis negros brasileiros.
  • 19:00 - 19:04
    Porque quando o pH Cortez
    começa com 13 anos a falar dos heróis
  • 19:04 - 19:08
    negros brasileiros na internet,
    era uma criança, era um menino
  • 19:09 - 19:10
    que estava falando de algo
  • 19:10 - 19:14
    tão importante
    de uma forma tão interessante, tão
  • 19:14 - 19:20
    tão funny, tão gostosinha, que as crianças
    gostavam, os adultos gostavam.
  • 19:20 - 19:23
    Só que chegou o momento
    ele com 15, com 14 anos,
  • 19:23 - 19:26
    ele fala não vou fazer mais,
    por que você não vai fazer filho?
  • 19:27 - 19:30
    Não vou fazer mais
    porque eu quero ganhar dinheiro também,
  • 19:30 - 19:33
    como todo mundo
    ganha com isso na internet.
  • 19:34 - 19:37
    E eu não quero só mudar o mundo,
    Eu quero mudar o meu mundo,
  • 19:37 - 19:40
    porque também tem a leitura de quem você
  • 19:40 - 19:43
    é no mundo e como isso se constitui.
  • 19:43 - 19:45
    E aí quando ele fala isso pra mim,
  • 19:45 - 19:48
    vem um monte de coisas na minha cabeça,
    do tipo caramba,
  • 19:49 - 19:53
    ele foi criado por mim, educado por mim,
    me vendo em cargos de liderança,
  • 19:53 - 19:56
    porque na época eu tive 22 anos de cargos
  • 19:57 - 19:59
    executivos dentro de grandes corporações.
  • 19:59 - 20:03
    Mesmo assim, esse guri está
    se vendo impedido de realizar sonhos
  • 20:04 - 20:09
    e está se vendo impedido de ser um artista
    pensador, porque ele estava
  • 20:09 - 20:13
    construindo o texto, fazendo roteiros pra
    fazer o vídeo, ele fazer tudo, ele fazer?
  • 20:13 - 20:15
    Não, ele faz tudo.
  • 20:15 - 20:17
    Hoje esse rapaz está com 22 anos
    e agora o.
  • 20:17 - 20:20
    Olho dela está brilhando
    só pra contar que.
  • 20:20 - 20:23
    É porque é muito legal
    lembrar que esse guri
  • 20:23 - 20:26
    ele só queria continuar
    fazendo o que estava fazendo.
  • 20:26 - 20:29
    Mas o mundo estava dizendo para ele
    isso aí não vale nada não, viu?
  • 20:30 - 20:32
    Apesar da comunidade negra,
  • 20:32 - 20:35
    apesar dos professores de jornais,
    de todo mundo falar que estava valendo
  • 20:36 - 20:39
    e estava vale, Era um valor de propósito,
  • 20:39 - 20:42
    mas não tinha o preço, ele não ganhava.
  • 20:43 - 20:47
    E aí ele fala eu vou, vou,
    vou trabalhar com o meu pai de office boy
  • 20:47 - 20:49
    e vou ganhar um dinheirinho ali.
  • 20:49 - 20:51
    Pelo menos Não, você não vai fazer isso.
  • 20:51 - 20:54
    Você vai continuar
    fazendo o que você quer fazer,
  • 20:55 - 20:58
    Vai continuar reverberando
    a história dos heróis negros brasileiros.
  • 20:58 - 21:01
    É por isso que me veio Juliano
    Moreira Machado.
  • 21:01 - 21:03
    É porque ele contou essas histórias
  • 21:03 - 21:06
    e eu vou arranjar um jeito
    de ganhar dinheiro com isso.
  • 21:07 - 21:10
    Eu sabia algo de publicidade, Nada.
  • 21:10 - 21:13
    Sabia o que eles comiam,
    onde eles andavam, o que eles faziam. Não.
  • 21:14 - 21:16
    Mas eu entendi a nossa força,
  • 21:17 - 21:19
    a nossa energia na oralidade.
  • 21:19 - 21:20
    E eu?
  • 21:20 - 21:24
    Eu costumo dizer que esse talento
  • 21:24 - 21:27
    eu puxei de minha avó
    minha forma encantadora de gente.
  • 21:28 - 21:33
    Ela quando sentava a mulher preta retinta,
    uma mulher rezadeira.
  • 21:33 - 21:37
    Quando ela contava as histórias,
    eu me agoniava naquele universo dela
  • 21:38 - 21:40
    e eu sabia que eu tinha esse talento.
  • 21:40 - 21:46
    Então é o que há de mais precioso
    se não você contar a história
  • 21:47 - 21:51
    em primeira pessoa,
    com um olhar de encantamento
  • 21:51 - 21:54
    do que é diferente de marketing,
    é diferente
  • 21:55 - 21:58
    de venda.
  • 21:58 - 22:01
    Fazer com que o outro se encante
  • 22:01 - 22:04
    e trazer o outro e esse outro.
  • 22:04 - 22:06
    Ele é independente.
  • 22:06 - 22:10
    Ele é branco, preto, azul, vermelho,
    esse outro.
  • 22:10 - 22:12
    Ele se encanta pelas histórias.
  • 22:12 - 22:17
    Então, hoje e naquele momento,
    eu sabia que eu tinha esse talento.
  • 22:17 - 22:21
    Eu poderia trazer as pessoas
    para o lugar encantador.
  • 22:22 - 22:25
    E dentro da minha experiência comercial,
  • 22:25 - 22:29
    eu sabia que esse encantamento
    tinha um valor.
  • 22:29 - 22:32
    E esse valor tem preço numa sociedade
    capitalista.
  • 22:32 - 22:34
    Você tem que saber cobrar sim.
  • 22:34 - 22:35
    Então foi isso que eu fiz.
  • 22:35 - 22:39
    Mas veja bem, olha a volta que é dada,
  • 22:39 - 22:43
    o repertório que tem que se ter para poder
  • 22:43 - 22:46
    incorporar, porque é isso.
  • 22:46 - 22:49
    E eu sou uma mulher de negócios.
  • 22:50 - 22:54
    Eu sou uma mulher filha de babás,
  • 22:55 - 22:57
    mercadorias.
  • 22:57 - 23:01
    O povo nigeriano
    sabe fazer mercado como ninguém,
  • 23:01 - 23:04
    sabe fazer trocas, trocas justas.
  • 23:06 - 23:08
    Quando eu vendo,
  • 23:08 - 23:11
    eu entrego, eu faço uma troca justa.
  • 23:12 - 23:15
    Então o outro não se sente invadido,
  • 23:15 - 23:17
    nem se sente a vontade de negociar.
  • 23:17 - 23:19
    Porque não é sobre negociar.
  • 23:19 - 23:22
    O que eu estou falando
    é sobre uma troca justa.
  • 23:23 - 23:26
    Então eu acho que esse exercício, gente,
  • 23:26 - 23:29
    e eu estou trazendo aqui para vocês
    a possibilidade da gente,
  • 23:29 - 23:33
    dentro das nossas, de outras cosmovisões,
  • 23:33 - 23:36
    entender as nossas tecnologias.
  • 23:37 - 23:39
    A gente já era um povo assim,
  • 23:39 - 23:42
    nós já sabemos fazer isso.
  • 23:42 - 23:44
    Eu não foi a faculdade que me ensinou.
  • 23:44 - 23:45
    Eu fiz faculdade de turismo
  • 23:46 - 23:49
    sim, fui sempre do lado comercial,
  • 23:49 - 23:54
    sempre trabalhei técnicas,
    mas não é isso que faz eu ser quem eu sou.
  • 23:54 - 23:58
    Mais existe esse jeito de fazer negócio
  • 23:59 - 24:01
    porque minha avó me levava para a feira,
    viu gente?
  • 24:01 - 24:04
    Olha, ela tinha um pouquinho de dinheiro,
  • 24:04 - 24:08
    uma penca de banana, uns bocadinhos,
    uns litros de farinha
  • 24:08 - 24:12
    e ela fazia umas trocas na feira
    que ela não tinha dinheiro em espécie.
  • 24:13 - 24:16
    Três, quatro, 05h00, sol a pino.
  • 24:17 - 24:21
    Mas ela ficava horas na conversa,
    na troca justa.
  • 24:21 - 24:26
    Então o quão a gente está disposto
    a contar as nossas histórias
  • 24:26 - 24:30
    para que o outro não entenda como um favor
  • 24:30 - 24:33
    ou até na ousadia
  • 24:33 - 24:35
    de fazer uma proposta indecente?
  • 24:35 - 24:38
    Como que a gente
    faz com que o outro se encante?
  • 24:38 - 24:41
    Eu acho que é um exercício
    que a arte traz muito bem,
  • 24:42 - 24:45
    mas essa arte,
    quando a gente fala, parece algo tão
  • 24:46 - 24:47
    subjetivo.
  • 24:47 - 24:52
    Essa arte, ela é construída
    dentro de várias tecnologias e saberes.
  • 24:53 - 24:56
    Quando o Remy fala dessa corporeidade,
  • 24:56 - 24:59
    dessa subjetividade, dessa oralidade
  • 25:00 - 25:04
    e quanto é de conhecimento
  • 25:04 - 25:08
    do agora pragmático
    desse que você está estudando aqui
  • 25:09 - 25:14
    e do que você traz ancestralmente,
    como que você está fazendo essa conexão?
  • 25:14 - 25:18
    Porque é ela que vai determinar
    o seu diferencial no mercado.
  • 25:18 - 25:20
    Tem a certeza disso?
  • 25:20 - 25:21
    Os certificados.
  • 25:21 - 25:23
    Eles são importantíssimos
  • 25:23 - 25:27
    porque eles que te dão passabilidade
    para você estar nos espaços.
  • 25:28 - 25:31
    Mas o que vai fazer a diferença
    é como você está
  • 25:31 - 25:35
    se conectando com essa ancestralidade
    que o Reni falou.
  • 25:35 - 25:37
    Todo mundo tem uma sexualidade também.
  • 25:37 - 25:39
    Não está só para o povo negro.
  • 25:39 - 25:42
    Não é importante
    isso porque as pessoas ficam.
  • 25:42 - 25:45
    Elas acham que ancestralidade é dada
    pela cor da pele sempre.
  • 25:46 - 25:49
    Aí eu, por exemplo,
    tenho uma irmã que é considerada branca,
  • 25:49 - 25:52
    não é branca,
    mas sabe a branca que passa por branco?
  • 25:52 - 25:54
    Então parece que
    ela está satisfeita com isso.
  • 25:55 - 25:56
    Então é muito interessante
  • 25:56 - 26:00
    porque a minha irmã é cosmopolita,
    porque ela é branca.
  • 26:00 - 26:04
    Eu não sou destinado a África,
    então quer dizer, como irmãos,
  • 26:04 - 26:06
    somos filhos do mesmo pai, da mesma mãe.
  • 26:06 - 26:11
    Então é mesmo pessoas que não tem
    ascendência negra direta.
  • 26:11 - 26:14
    Mas se você é brasileiro,
    se você nasceu aqui, então a questão não é
  • 26:14 - 26:18
    não é dizer que a imperem,
    mas as pessoas estão se apropriando
  • 26:18 - 26:21
    porque os brancos, Gente,
    eu acho que a questão é honrar.
  • 26:23 - 26:25
    Porque fundamento você honra
  • 26:25 - 26:28
    então o que a gente está pedindo e honre
    esse fundamento.
  • 26:28 - 26:31
    Seja você da cor que for.
  • 26:31 - 26:32
    Então a questão não é
  • 26:32 - 26:36
    porque branco não tem essa ancestralidade,
    o branco brasileiro não tem.
  • 26:37 - 26:38
    Só que a questão
    que se pede é que se honre
  • 26:39 - 26:42
    e honrar e inclusive defender
  • 26:43 - 26:47
    os pretos das injustiças causadas
    em nome dos brancos.
  • 26:47 - 26:50
    Exato. E isso e honrar esse fundamento.
  • 26:50 - 26:51
    E entender o seu papel,
  • 26:51 - 26:55
    que eu não tenho o lugar de fala,
    mas que você tem o seu lugar de ação,
  • 26:55 - 26:59
    então usem o lugar de ação
    e eu quero pegar o gancho.
  • 26:59 - 27:01
    Agnaldo,
    do que você trouxe? Um pouco do pH?
  • 27:01 - 27:03
    De que histórias são essas
    que a gente conta
  • 27:03 - 27:05
    e quem conta essas histórias?
  • 27:05 - 27:09
    Porque, trazendo o gancho da oralidade que
    Rene trouxe brilhantemente para a mesa?
  • 27:09 - 27:11
    Que voz é essa?
  • 27:11 - 27:15
    Como a gente registra isso e a gente
    está registrando tudo no digital agora,
  • 27:16 - 27:20
    Então, como a gente empacota
    essas histórias e como a gente encanta
  • 27:20 - 27:22
    pessoas pela comunicação,
  • 27:22 - 27:25
    que é uma ferramenta
    pela qual eu sou absurdamente apaixonada,
  • 27:25 - 27:28
    que é uma ferramenta maravilhosa
    e gigantesca,
  • 27:28 - 27:32
    que trata de gente
    sempre em primeiro lugar a gente.
  • 27:32 - 27:36
    Depois vem todas as estratégias
    que podem ser para venda,
  • 27:36 - 27:40
    mas sempre por gente,
    sempre tendo esse principal canal.
  • 27:40 - 27:43
    E aí Rene, queria falar um pouco com você
    sobre uma pesquisa do Grupo
  • 27:43 - 27:47
    de Estudos de Literatura Contemporânea
    da Web Universidade de Brasília,
  • 27:48 - 27:51
    entre 2004 e 2014,
  • 27:51 - 27:55
    apenas 2,5% dos autores publicados
    não eram brancos
  • 27:56 - 28:01
    e apenas 6,9% dos personagens retratados
  • 28:01 - 28:04
    nos livros publicados eram pessoas negras.
  • 28:05 - 28:08
    Como que a gente traz esse protagonismo
    e essa voz
  • 28:08 - 28:11
    para a população negra na literatura?
  • 28:11 - 28:12
    Eu gosto muito dessa pesquisa.
  • 28:12 - 28:17
    É uma pesquisa encabeçada pela professora
    Regina Dal Castanho, da Web, e eu também.
  • 28:17 - 28:20
    Eu costumo trabalhar com esses dados e
  • 28:21 - 28:23
    ela passou muitos anos
  • 28:24 - 28:27
    pesquisando, por exemplo,
  • 28:27 - 28:30
    das obras de 100690A2004
  • 28:31 - 28:34
    das grandes editoras
    Companhia das Letras, Rocco e Record.
  • 28:35 - 28:37
    Olha só que interessante
  • 28:37 - 28:42
    ela viu que 2245 personagens catalogados
  • 28:43 - 28:48
    em 258 obras, 2,7% são mulheres negras,
  • 28:49 - 28:54
    dois 2,7% são mulheres
    negras, Tem 258 obras
  • 28:54 - 28:57
    entre 1240 e 5 personagens.
  • 28:57 - 29:02
    E nessas aparições, de 2,7%,
  • 29:02 - 29:07
    olha só, em 70% dos casos
    elas são retratadas
  • 29:07 - 29:10
    como empregadas domésticas ou prostitutas.
  • 29:10 - 29:14
    E nas outras aparições que estão,
    elas são donas de casa,
  • 29:15 - 29:18
    escravas ou delinquentes.
  • 29:18 - 29:23
    Então é analisando
    aponta que em apenas três dessas obras
  • 29:23 - 29:29
    uma mulher negra aparece como protagonista
    e em apenas um caso ela é a narradora.
  • 29:30 - 29:32
    E aí vale também
  • 29:32 - 29:35
    para os homens
    e o perfil médio das personagens
  • 29:37 - 29:38
    masculinas.
  • 29:38 - 29:44
    Os pesquisados seriam homens brancos 79,8%
  • 29:44 - 29:50
    provenientes da classe média, 56,6%
    e heterossexuais, 81%.
  • 29:51 - 29:56
    Em 56% dos romances, não existe sequer
    um personagem não branco.
  • 29:57 - 29:58
    E quem está falando?
  • 29:58 - 30:03
    72,7% dos romances analisados
    foram escritos por homens.
  • 30:04 - 30:10
    Destes, 93,9% são brancos.
  • 30:10 - 30:13
    E aí, de novo,
    a importância dessa imaginação
  • 30:13 - 30:17
    e dessa construção para as crianças
    e para a gente também.
  • 30:17 - 30:19
    De quem são essas pessoas
    que estão nesse lugar?
  • 30:19 - 30:23
    Por isso, PH Sentiu falta
    de ter alguém que falasse dos heróis,
  • 30:23 - 30:26
    assim como ele também levantou
    a mão e falou Vá, espera aí,
  • 30:26 - 30:28
    eu preciso ganhar um dinheiro,
    então eu vou fazer uma outra coisa,
  • 30:28 - 30:29
    porque isso não vai me dar dinheiro.
  • 30:29 - 30:32
    Eu não vou ter o reconhecimento
    financeiro, né?
  • 30:32 - 30:34
    Esse lugar tem um problema muito sério
    nessa.
  • 30:34 - 30:38
    Se você ler uma história para uma criança,
    ela não imagina personagens iguais
  • 30:38 - 30:38
    a ela.
  • 30:38 - 30:42
    Quando não é, não é dito,
    dito nada sobre etnia.
  • 30:42 - 30:43
    Tem um problema muito sério.
  • 30:43 - 30:44
    Isso vale para nós.
  • 30:44 - 30:47
    Eu também tenho que fazer um esforço,
    sabe?
  • 30:48 - 30:49
    Incomum assim, sabe?
  • 30:49 - 30:51
    Desgastante até.
  • 30:51 - 30:52
    Se eu quiser sair do estereótipo.
  • 30:52 - 30:57
    Quando eu vou imaginar literatura,
    que é a minha área de trabalho?
  • 30:57 - 30:59
    Porque eu também fui condicionado a isso,
  • 30:59 - 31:03
    a entender que o universal era branco,
    Eu tenho que fazer esse esforço.
  • 31:03 - 31:07
    É um esforço consciente que eu faço,
    porque se vem, automaticamente
  • 31:07 - 31:10
    vem a personagem branca.
  • 31:10 - 31:15
    Mas tão importante quanto
    trazer essas pessoas e trazer para essa
  • 31:15 - 31:18
    chamada representatividade
    uma palavra até um pouco problemática.
  • 31:18 - 31:21
    Não vamos conseguir problematizar la aqui,
  • 31:21 - 31:26
    Mas quando a gente fala da representação,
    tira representatividade,
  • 31:26 - 31:30
    representação dessas pessoas,
    porque é disso que nós estamos falando.
  • 31:30 - 31:33
    Você representa
    a mulher negra daquela forma.
  • 31:34 - 31:37
    Então você cai nessa representação
    estereotipada de que estamos falando.
  • 31:38 - 31:41
    Então, tão importante quanto trazer
    e a gente está,
  • 31:41 - 31:44
    pode falar de autores daqui a pouco,
    autoras negras e negros,
  • 31:45 - 31:48
    e que é com o acesso
  • 31:48 - 31:51
    de pessoas negras nas universidades,
  • 31:51 - 31:55
    fazendo pesquisa de qualidade,
    universidades públicas, principalmente.
  • 31:56 - 31:59
    A gente tem visto que tudo isso
    de que falávamos
  • 31:59 - 32:02
    no início sobre esse saber vocal.
  • 32:02 - 32:06
    Ou. Oralidade, né, Que é corpo, tudo isso
  • 32:07 - 32:10
    está ganhando dignidade epistêmica
    dentro dessas diversidade.
  • 32:10 - 32:14
    Isso que é importante
    a gente pensar, não porque esses saberes
  • 32:14 - 32:19
    precisa de precisa da chancela, né,
    de uma universidade, não é isso.
  • 32:19 - 32:24
    Mas é porque esses espaços
    precisam ser ocupados com esses saberes,
  • 32:24 - 32:27
    que são a nossa resistência
    que sustenta essa cultura.
  • 32:28 - 32:32
    Então, essa dignidade epistêmica
    é muito importante.
  • 32:32 - 32:33
    Ela está sendo
  • 32:33 - 32:36
    construída
    agora, neste momento, nesse momento,
  • 32:36 - 32:39
    por esses novos pesquisadores
    negros e negras que estão chegando.
  • 32:39 - 32:40
    A universidade é.
  • 32:40 - 32:41
    Uma política muito recente
  • 32:41 - 32:45
    de ocupação das universidades,
    porque a gente também não podia acessar.
  • 32:45 - 32:48
    E eu só quero reforçar aqui
    um dado que a gente fala sempre que é
  • 32:49 - 32:54
    dado Censo
    2022 do IBGE e a população negra formada
  • 32:54 - 32:58
    por pessoas pretas e pardas, representa
    a maior parte da população brasileira.
  • 32:59 - 33:03
    Se a gente está em espaços
    em que não há pessoas pretas e pardas,
  • 33:03 - 33:07
    a gente não tem representação desse país,
    seja no acadêmico,
  • 33:07 - 33:10
    seja no mercado de trabalho,
    em qualquer lugar.
  • 33:10 - 33:15
    Então, saber estes dados
    é importante porque se não tem diversidade
  • 33:15 - 33:18
    e se não tem representação,
    não tem inovação,
  • 33:18 - 33:23
    não tem possibilidades de continuar
    tentando massificar uma população inteira
  • 33:24 - 33:27
    a partir de uma perspectiva
    de quem só quer ter manutenção de poder.
  • 33:27 - 33:31
    Porque desculpa falar isso para vocês,
    mas nem vocês estão inseridos
  • 33:31 - 33:34
    necessariamente nesses cenários
    e nesses contextos.
  • 33:34 - 33:37
    Então, qual é o nosso papel
    para abrir esses espaços
  • 33:37 - 33:40
    e para ter noção do contexto e do país
    que a gente vive?
  • 33:40 - 33:42
    Para conseguir fazer diferente?
  • 33:42 - 33:45
    Porque senão não vai rolar, não rola mais.
  • 33:45 - 33:48
    Não dá para fingir que não existe.
  • 33:48 - 33:52
    E aí para a gente chegar ao fim,
    que quer trazer algum ponto.
  • 33:52 - 33:54
    Agnaldo, você está aqui,
    aqui, coelhinho, brilham. É porque,
  • 33:56 - 33:59
    pensando na representação
  • 33:59 - 34:02
    e pensando particularmente no que eu vivi
  • 34:02 - 34:05
    em casa e a partir
  • 34:05 - 34:08
    dessa força motriz,
  • 34:08 - 34:11
    de novo trazendo essa matriz potência,
  • 34:11 - 34:15
    como que mulheres negras movimentam
    essa sociedade?
  • 34:15 - 34:21
    Veja bem, foi uma força motriz e uterina
    que me fez fundar
  • 34:21 - 34:26
    uma empresa que hoje,
    que abriu um mercado que não existia.
  • 34:26 - 34:30
    Os criadores negros
    existiam, não existia mercado para eles.
  • 34:30 - 34:33
    Então eu fundei o Mercado.
  • 34:33 - 34:36
    Se há algo ancestral
  • 34:37 - 34:39
    e incrível,
  • 34:39 - 34:43
    se não essa tecnologia pioneira,
  • 34:43 - 34:48
    e eu não vou dizer
    não gostaria de ter necessitado,
  • 34:48 - 34:53
    eu não tenho esse preto desse futuro
    do pretérito.
  • 34:53 - 34:54
    Não existe para mim.
  • 34:54 - 34:59
    Ou eu faço
    ou quem vai fazer para abrir caminhos.
  • 34:59 - 35:02
    E nesses é necessário o movimento.
  • 35:02 - 35:06
    Então isso também
    é para falar para você, estudante.
  • 35:06 - 35:12
    Não espere que ninguém faça, não espere
    que alguém vá abrir para você as portas.
  • 35:12 - 35:13
    Arrombe as.
  • 35:15 - 35:16
    Porque é esse
  • 35:16 - 35:19
    movimento que vai trazer a inovação.
  • 35:19 - 35:22
    É do incômodo que você nasceu.
  • 35:22 - 35:26
    Um parto, uma gestação não é uma.
  • 35:26 - 35:28
    Não é um momento só de flores.
  • 35:28 - 35:33
    Não tem dor, tem incômodo,
    tem falta de ar, Pressa para essa mulher.
  • 35:33 - 35:36
    E é assim que a gente aprendeu
    a construir.
  • 35:36 - 35:39
    Constrói as coisas.
    O novo vem desse incômodo.
  • 35:39 - 35:43
    E eu lembrando do pH como ele era
  • 35:43 - 35:46
    com 13 anos e quem ele está hoje com 22.
  • 35:46 - 35:51
    Ele era um menino tímido que foi para ele
    uma câmera.
  • 35:51 - 35:53
    Ele era quem ele gostaria de ser
    para o mundo.
  • 35:53 - 35:55
    E ele não conseguia ser.
  • 35:55 - 35:59
    Mas diante de uma era só ele, uma câmera,
    ninguém aprovando ou desaprovando,
  • 35:59 - 36:03
    ele fazendo as edições, contando
    a história do jeito que ele queria.
  • 36:03 - 36:07
    Aquilo foi fortalecendo
    e a cada história de herói,
  • 36:08 - 36:12
    porque gente com 13 anos não dá para PH
    ficar lendo livros e fazendo roteiro.
  • 36:12 - 36:17
    E o que lia e ele foi muito
    isso é uma visão também
  • 36:17 - 36:21
    de parceria, porque ele foi muito honesto
    com ele mesmo.
  • 36:21 - 36:22
    Ele Mamãe, você pode me ajudar?
  • 36:22 - 36:24
    Eu vejo por que você quer me ajuda?
  • 36:24 - 36:26
    Não porque você gosta de ler.
  • 36:26 - 36:29
    Você escreve bem
    e eu vou fazer do meu jeito.
  • 36:29 - 36:34
    Então eu escrevia os roteiros,
    eu li as histórias que não são histórias,
  • 36:35 - 36:37
    São histórias de muita tragédia.
  • 36:37 - 36:41
    Sim, Se a gente todas as histórias,
    o Lima Barreto.
  • 36:41 - 36:42
    É muito difícil.
  • 36:42 - 36:46
    Então, quando é muito difícil,
    você sofre lendo.
  • 36:46 - 36:49
    Mas como que você transforma isso
    em algo encantador
  • 36:49 - 36:53
    para um jovem de 13 anos
    que vai repercutir isso para corregedoria?
  • 36:53 - 36:54
    Difícil não?
  • 36:54 - 36:56
    Fala que os autores são difíceis
    porque são ininteligíveis.
  • 36:56 - 36:59
    A dificuldade para pessoas negras.
  • 36:59 - 37:00
    E a dor serem.
  • 37:00 - 37:02
    Autores que trazem essa dor.
  • 37:02 - 37:04
    Dessa maneira, como a gente sabe. Exato.
  • 37:04 - 37:07
    Mas se para uma pessoa adulta
  • 37:07 - 37:10
    há um desafio,
    imagine para uma criança traumatizante.
  • 37:10 - 37:13
    Então eu tinha que trazer as histórias
  • 37:13 - 37:17
    da forma mais encantadora
    possível para que ele pudesse contar.
  • 37:17 - 37:21
    E eu fico lembrando como os olhinhos dele
    brilhavam e ele inventava.
  • 37:21 - 37:24
    Tinha uns cacos de gravação
    que ele inventava.
  • 37:24 - 37:26
    Porque teve poder
    contar a história de Dandara?
  • 37:26 - 37:28
    Porque Dandara se mata.
  • 37:28 - 37:32
    Mas ele fala assim
    se Zumbi era osso duro de roer,
  • 37:33 - 37:36
    Dandara era um osso de quebrar os dentes.
  • 37:36 - 37:41
    Então assim, isso foi ele que colocou
    no texto, porque ele achou Dandara.
  • 37:41 - 37:46
    Quando ele viu que ela era capoeirista,
    que ela que ensinava as estratégias
  • 37:46 - 37:51
    que ela que ensinava a partir de folhas
    dos saberes das folhas.
  • 37:51 - 37:55
    Ela era líder em várias frentes
    dentro do quilombo.
  • 37:56 - 38:00
    Quando ele ele lê isso,
    ele também incorpora
  • 38:00 - 38:03
    pra ele a força das mulheres
    e das mulheres negras.
  • 38:04 - 38:06
    Como que uma mulher só.
  • 38:06 - 38:11
    Ele só foi grande desse jeito que ele
    tinha uma parceria com uma mulher gigante.
  • 38:11 - 38:14
    E aí, quando traz o suicídio
  • 38:15 - 38:20
    que Dandara se suicida quando é invadido,
    pelo menos dentro dos relatos históricos,
  • 38:20 - 38:26
    quando o quilombo enfim é invadido e ela
    sabendo que ela poderia ser utilizada como
  • 38:28 - 38:30
    uma ferramenta de
  • 38:30 - 38:35
    subjetivação do seu povo,
    de pegar esse líder e colocar ele, enfim,
  • 38:36 - 38:37
    ela sabia o que poderia ser feito com ela,
  • 38:37 - 38:40
    ser estuprada, enfim,
    ela sabia o que poderia ser feito com ela.
  • 38:40 - 38:43
    Ela se joga do penhasco
    antes que a peguem.
  • 38:44 - 38:49
    E aí quando ele lê isso,
    ele não lê no lugar de ela foi embora.
  • 38:50 - 38:53
    A dignidade e a dignidade que ela mantém
  • 38:53 - 38:58
    ao saber da sua importância dentro
    daquela comunidade, da sua liderança
  • 38:59 - 39:02
    e de como isso poderia ser utilizado
    de forma negativa.
  • 39:02 - 39:05
    E aí Zumbi some por um tempo,
  • 39:05 - 39:10
    ele consegue fugir
    enquanto essa mulher toma essa decisão.
  • 39:10 - 39:14
    Então, olha só que fantástico esse guri
  • 39:14 - 39:17
    aprendendo sobre o seu povo
    e PH foi mudando,
  • 39:17 - 39:22
    Esse menino foi ficando cada vez
    maior e maior no sentido de se ver grande,
  • 39:23 - 39:26
    porque ele estava lendo sobre pessoas
  • 39:26 - 39:32
    que foram relevantes na história do Brasil
    e não interessava na escola.
  • 39:32 - 39:32
    A gente
  • 39:33 - 39:35
    não era.
  • 39:35 - 39:38
    Ele não estava sendo valorizado
    por isso não.
  • 39:38 - 39:41
    A escola começa a entender o tamanho dele,
  • 39:41 - 39:44
    quando é
    ele vai passar numa grande rede de TV
  • 39:45 - 39:48
    e tem lá um ator, o Lázaro,
  • 39:48 - 39:51
    que fala assim
    Eu amo o trabalho desse menino.
  • 39:51 - 39:54
    E aí quando fala isso
    dentro de uma grande rede, aí
  • 39:54 - 39:56
    a escola olha, todo mundo
    olha para o lado,
  • 39:56 - 40:00
    a gente estuda aqui
    e ele está fazendo isso.
  • 40:00 - 40:04
    Mas foi um desafio para ele,
    porque ele estava na escola particular
  • 40:05 - 40:08
    de maioria não racializada
  • 40:08 - 40:11
    e que se sentiram.
  • 40:12 - 40:14
    Provocados, mas não foi provocado.
  • 40:14 - 40:15
    O lado positivo foram provocados.
  • 40:15 - 40:17
    Tipo assim quem esse moleque pensa que é?
  • 40:17 - 40:19
    Eu não tô falando da escola,
    falo dos colegas.
  • 40:19 - 40:24
    Quem ele está pensando que é para fazer
    sucesso, falar de gente preta.
  • 40:24 - 40:26
    E ser reconhecido e. Ser reconhecido.
  • 40:26 - 40:32
    E ai, veja bem, é um trabalho de educação,
    porque ele ouve isso lá fora
  • 40:32 - 40:37
    e aqui dentro de casa, estimulando,
    estimulando e ir para fora de casa.
  • 40:37 - 40:40
    Eu vou para onde? Para a comunidade
    e aí eu vou para onde?
  • 40:40 - 40:45
    Para as peças de autores, de roteiristas,
    de pessoas negras.
  • 40:45 - 40:47
    E isso vai fortalecendo.
  • 40:47 - 40:52
    Ele vai entendendo que não está
    só nesse passado, no presente passado.
  • 40:52 - 40:55
    Essa história está presente, acontecendo
  • 40:56 - 40:57
    a partir de
  • 40:57 - 41:00
    outros corpos parecidos com o dele
    presente.
  • 41:00 - 41:02
    Futuro também. Presente, futuro.
  • 41:02 - 41:06
    E aí ele vai entendendo por isso
    que ele estava aqui no estúdio.
  • 41:06 - 41:09
    Vocês não viram,
    mas ele estava aqui no estúdio.
  • 41:09 - 41:12
    Ele saiu, mas ele saiu com esse
    gostinho de quero mais.
  • 41:12 - 41:14
    Porque o que vocês estão falando aqui
  • 41:14 - 41:19
    é o que eu acredito,
    é o que sustenta ele, é o que alimenta.
  • 41:19 - 41:20
    É maravilhoso porque
  • 41:20 - 41:21
    eu acho que quando
  • 41:21 - 41:24
    a gente sabe da importância da palavra,
    a gente não desperdiça assim.
  • 41:25 - 41:28
    E a nossa sociedade,
    que é muito barulhenta, né?
  • 41:28 - 41:30
    Ela é uma sociedade tagarela.
  • 41:30 - 41:34
    Ela é tagarela porque ela fala demais,
    porque não sabe falar assim, né não?
  • 41:35 - 41:37
    Então a gente está falando
    de um fundamento
  • 41:37 - 41:41
    em que a palavra é de extrema
    responsabilidade.
  • 41:41 - 41:43
    A palavra é você no mundo.
  • 41:43 - 41:45
    Você não joga a palavra
    sem a torta direito. A palavra.
  • 41:45 - 41:48
    A entidade é exatamente uma entidade.
  • 41:48 - 41:49
    É isso.
  • 41:49 - 41:54
    E olha só, você fala de folhas, das folhas
    E aí eu disse Eu me esqueci de falar.
  • 41:55 - 41:58
    Trazer um exemplo
    eu poderia te trazer do começo, mas assim,
  • 41:58 - 42:01
    tem até um mito que fala das folhas,
  • 42:01 - 42:04
    muitos mitos, porque assim, sem folha
    não tem axé, não tem.
  • 42:04 - 42:06
    Então o axé precisa da folha.
  • 42:06 - 42:10
    Só que para despertar o axé da folha
    é preciso a palavra.
  • 42:10 - 42:11
    E aí tem.
  • 42:11 - 42:15
    Tem o mito de Ossãe,
    inclusive por causa disso, porque
  • 42:16 - 42:16
    então não é a
  • 42:16 - 42:19
    palavra quanto ao seu significado,
    mas esse sopro vital.
  • 42:19 - 42:22
    Ossaim era o Orixá que tinha,
  • 42:23 - 42:26
    era detentor de todas as folhas.
  • 42:26 - 42:30
    Aí ele desperta a inveja dos outros
    Orixás, porque os Orixás têm corpo,
  • 42:30 - 42:33
    os orixás sentem inveja,
    então poder são potências,
  • 42:34 - 42:37
    eles têm que negociar as potências deles,
    então eles só.
  • 42:37 - 42:41
    A gente quer também essas folhas
    aí do açaí, mas o açaí quer tudo para ele.
  • 42:41 - 42:44
    Então guardava tudo numa cabacinha.
  • 42:44 - 42:47
    E aí os outros orixás se unem e fala assim
    Vamos, vamos, vamos,
  • 42:47 - 42:51
    dá um jeito e aí fala pra Iansã, Olha,
    está com a ventania lá,
  • 42:51 - 42:54
    Joga essa cabacinha para longe
    que a gente corre para catar as folhas.
  • 42:55 - 42:59
    E aí ela faz isso,
    ela traz a ventania e aí a cabacinha dele
  • 42:59 - 43:03
    rola para lá, as folhas se espalham,
    cada orixá vai pegando o quanto pode.
  • 43:03 - 43:05
    Aquela loucura toda
  • 43:05 - 43:09
    e aí conseguem tirar do Ossãe
    esse poder toda em torno das folhas.
  • 43:09 - 43:12
    Só quer ir e falar
    Vocês esqueceram uma coisa?
  • 43:12 - 43:14
    E a palavra e o axé
  • 43:14 - 43:17
    é a palavra para suscitar o axé,
    vocês não tem.
  • 43:17 - 43:21
    Então ele continua tendo esse poder,
    porque ele tem o poder da Palavra
  • 43:21 - 43:25
    que vai suscitar na planta
    aquela energia dela.
  • 43:26 - 43:28
    Por isso é preciso conversar com a planta.
  • 43:28 - 43:30
    É preciso pedir licença para a planta.
  • 43:30 - 43:31
    Quando você vai pegar uma flor,
  • 43:31 - 43:35
    uma flor ou uma folha,
    não é só chegar e meter a mão.
  • 43:36 - 43:38
    Tem axé ali, tem vida ali, Então
  • 43:38 - 43:41
    tudo é vivo e tudo fala.
  • 43:41 - 43:43
    Sim, entende?
  • 43:43 - 43:45
    É um mundo encantado, porque é o mundo.
  • 43:45 - 43:49
    Ele é todo falante,
    é um mundo em que todo fala.
  • 43:50 - 43:54
    A fala do mundo tem valor e se tem valor,
    então
  • 43:54 - 43:57
    a gente está falando de um pensamento
    que é essencialmente ecológico,
  • 43:58 - 43:59
    entende?
  • 43:59 - 44:03
    Porque eu valorizo a fala do rio.
  • 44:03 - 44:07
    O rio fala, tem, tem um ente ali, né?
  • 44:07 - 44:09
    Então não vou lá emporcalhar o rio.
  • 44:09 - 44:11
    Eu tenho que falar com ele,
    Eu tenho que pedir licença, né?
  • 44:11 - 44:13
    Assim eu chego metendo.
  • 44:13 - 44:16
    Não existe hierarquia do existir.
  • 44:16 - 44:19
    Tudo que existe somos nós.
  • 44:19 - 44:23
    O rio somos nós, a folha somos nós
  • 44:24 - 44:27
    e os animais somos nós.
  • 44:27 - 44:27
    Ou seja.
  • 44:27 - 44:32
    Tem uma ética aí eu passo por uma árvore.
  • 44:32 - 44:36
    Eu posso inclusive cumprimentá la,
    porque ela é um ser, uma entidade.
  • 44:36 - 44:40
    Eu posso conversar com ela
    e pedir licença para passar ali.
  • 44:40 - 44:42
    Não é assim. Chegar e meter a mão.
  • 44:42 - 44:44
    Então tudo. Fala, cortar tudo. Fala.
  • 44:44 - 44:48
    A gente fala isso da gente no nosso corpo,
    a gente não faz isso,
  • 44:48 - 44:50
    então a gente não faz isso em lugar
    nenhum. Exatamente.
  • 44:50 - 44:55
    Gente, é um privilégio poder ter
    vocês, privilégio de ter vocês na vida
  • 44:56 - 44:59
    que encontra muito maravilhoso
    que a gente já fez aqui.
  • 44:59 - 45:00
    Coisa maravilhosa!
  • 45:00 - 45:03
    Eu quero, antes da gente encerrar,
    eu achei muito bonito a gente
  • 45:03 - 45:05
    encerrar dessa forma, porque é isso,
  • 45:05 - 45:08
    a gente fala tanto de protagonismo
    e a gente fala tanto das histórias
  • 45:08 - 45:14
    e as formas que essas histórias tomam
    e como elas ganham seus espaços no mundo
  • 45:14 - 45:18
    dependem só de pessoas de exatas.
  • 45:18 - 45:21
    Então, que pessoas são essas que a gente
    está valorizando, dando espaço?
  • 45:22 - 45:25
    E que histórias são essas
    que essas pessoas contam?
  • 45:25 - 45:27
    Obrigada por contarem
    as histórias de vocês aqui.
  • 45:27 - 45:28
    Mas antes de encerrar,
  • 45:28 - 45:32
    vocês trouxeram livros,
    então quero dicas aqui do que vocês
  • 45:32 - 45:35
    trouxeram e o que vocês recomendam
    pra galera que está acompanhando.
  • 45:35 - 45:40
    A gente tem bastante livro,
    muitas autoras maravilhosas pra indicar.
  • 45:40 - 45:44
    Eu vou indicar dois, mas um eu trouxe
    porque eu tô lendo agora, que é da Viviane
  • 45:44 - 45:49
    Mosé, que é psicanalista
    e está psicóloga, filósofa
  • 45:49 - 45:54
    e traz corpo, poema, poesia, traz.
  • 45:54 - 45:57
    Ela faz performances.
  • 45:57 - 45:59
    Ela é maravilhosa assim, sabe?
  • 45:59 - 46:02
    Eu não conheço ela pessoalmente,
    mas vou conhecê
  • 46:02 - 46:05
    la em breve,
    porque eu quero ela, uma entidade.
  • 46:06 - 46:08
    Ela quando está no palco,
  • 46:08 - 46:12
    ela sabe o que ela está fazendo
    e a responsabilidade dessa comunicação.
  • 46:12 - 46:15
    Então acho que
    quando a gente fala de troca justa,
  • 46:15 - 46:19
    é muito justo eu pagar o ingresso
    para assistir essa mulher, sabe?
  • 46:20 - 46:23
    Então a gente tem que entender também
    onde a gente está investindo o nosso tempo
  • 46:24 - 46:28
    e esse nosso dinheiro que a gente ganha,
    cada um aí da sua forma.
  • 46:28 - 46:33
    Então tem a Viviane, tem Eliane Cruz,
    que tem, que é assim.
  • 46:33 - 46:38
    Todos os livros delas,
    todos os livros dela são essenciais
  • 46:38 - 46:41
    para soletrar seu pensamento
  • 46:41 - 46:44
    a partir de uma nova perspectiva.
  • 46:45 - 46:48
    E eu falo nova porque,
    como a gente ouviu aqui nas pesquisas
  • 46:49 - 46:55
    até então,
    esses autores brancos heteronormativos
  • 46:55 - 47:00
    ditaram a regra do que se contar
    é de construção de imagem.
  • 47:01 - 47:05
    Então essas autoras vão trazer
    para vocês novas construções,
  • 47:06 - 47:09
    novas possibilidades
    de imaginar o futuro e o futuro.
  • 47:09 - 47:13
    Lembre, ele é agora
    e a gente constrói isso nesse agora.
  • 47:13 - 47:17
    Então, agradeço muito a oportunidade
    de estar com Emi, que é.
  • 47:18 - 47:23
    Uma. Honra querida
    e um gigante e um jeito.
  • 47:23 - 47:24
    Nos conhecemos hoje.
  • 47:24 - 47:27
    Nós nos conhecemos hoje,
    mas eu já estou apaixonada.
  • 47:27 - 47:30
    Mais e mais e presente, passado, presente,
    presente, presente.
  • 47:31 - 47:33
    E isso a gente já foi um reencontro.
  • 47:33 - 47:34
    Nessas águas. Aí.
  • 47:36 - 47:39
    E a Marina sabe das nossas trocas de anos.
  • 47:39 - 47:41
    É uma sobrevivente.
  • 47:41 - 47:45
    Admiro você demais pelo trabalho
  • 47:45 - 47:49
    que você faz,
    onde você faz e como você faz.
  • 47:50 - 47:55
    Você é brilhante, brilhante
    na forma com que você consegue
  • 47:55 - 47:59
    se conectar com um universo
    às vezes bastante violento,
  • 48:01 - 48:04
    mas que é importante também ser ocupado.
  • 48:04 - 48:05
    Parabéns!
  • 48:05 - 48:08
    Muito obrigada pelo convite
    e por toda oportunidade
  • 48:08 - 48:13
    de estar com esse time aqui hoje da FIAP,
    que foi muita gente, muito Gustavo,
  • 48:13 - 48:19
    muito focada
    e que acontecesse de forma tão generosa.
  • 48:20 - 48:21
    Muito obrigada pelo presente.
  • 48:21 - 48:22
    Um presente.
  • 48:22 - 48:25
    Recíproco e totalmente. Verdadeiro.
  • 48:25 - 48:26
    Não é?
  • 48:26 - 48:28
    E eu assino
    embaixo de tudo o que você falou.
  • 48:28 - 48:31
    E quando você falava da Viviane Mosé
    eu me lembrei.
  • 48:31 - 48:34
    Inclusive a Viviane
    foi muito importante para organizar
  • 48:35 - 48:38
    o livro de poemas da Estela do Patrocínio.
  • 48:38 - 48:41
    Estela do Patrocínio ficou décadas.
  • 48:41 - 48:45
    Foi a mulher negra,
    ficou décadas internada no Juliano Moreira
  • 48:46 - 48:49
    e ninguém sabia de onde veio essa mulher.
  • 48:49 - 48:50
    A princípio, tinha um sobrinho
  • 48:50 - 48:53
    que a visitava, depois sumiu e ninguém,
    por mais que procurassem,
  • 48:53 - 48:57
    ninguém conseguiu encontrar
    parentes dessa mulher.
  • 48:57 - 49:01
    As origens dela e as enfermeiras.
  • 49:01 - 49:05
    Uma enfermeira percebeu que ela falava
  • 49:05 - 49:08
    umas coisas interessantes
    na fala da loucura dela
  • 49:08 - 49:13
    e gravou algumas falas
    da Estela de Patrocínio.
  • 49:13 - 49:17
    E aí a Viviane Mosé
    organizou isso num livro chamado
  • 49:17 - 49:20
    O Reino dos Bichos e dos Animais
    e o meu nome.
  • 49:22 - 49:25
    Então a Viviane fez essa organização
    dessa mulher negra
  • 49:25 - 49:28
    totalmente invisibilizada no manicômio
  • 49:30 - 49:31
    e que eu falei de Juliano Moreira.
  • 49:31 - 49:35
    Mas assim que o hospício
    que ganhou o nome dele, sem mais
  • 49:35 - 49:38
    o Juliano e dessa luta antimanicomial
  • 49:38 - 49:42
    e a essa altura inclusive já
    tinha melhorado muito essa essa questão.
  • 49:42 - 49:47
    Mas enfim, essa mulher negra como
    muitos encarcerados, vão para a prisão.
  • 49:48 - 49:50
    Enfim. Então me lembrei dela, mas
  • 49:51 - 49:53
    eu também tenho indicação.
  • 49:53 - 49:56
    No começo eu falei dessa questão do tempo
  • 49:57 - 50:00
    presente, do presente pra gente,
    do passado presente, do futuro,
  • 50:00 - 50:04
    que é o tempo espiralar,
    que é o que a Leda Maria Martins,
  • 50:05 - 50:09
    uma dramaturga, poeta brasileira, nasceu
    no Rio de Janeiro,
  • 50:09 - 50:10
    radicada em Minas Gerais,
  • 50:10 - 50:14
    ela tem esse livro, que é uma referência
    para as artes cênicas e uma referência
  • 50:14 - 50:17
    para a poesia,
    para o pensamento contemporâneo.
  • 50:17 - 50:21
    Performances do tempo
    espiralar poéticas do corpo tela.
  • 50:21 - 50:26
    Esse livro aqui é um
    é um clássico já e ele é muito importante
  • 50:26 - 50:29
    para quem quiser se aprofundar
    nesse assunto e de literatura.
  • 50:29 - 50:32
    Além dos que Agnaldo
  • 50:33 - 50:36
    sugeriu Mulheres, hoje
    a gente está falando só de mulheres,
  • 50:36 - 50:39
    sem a Ana Maria Gonçalves,
    que deu um defeito de cor.
  • 50:39 - 50:42
    É obrigatório
    porque nasceu clássico. Também.
  • 50:42 - 50:46
    E que bom que teve até enredo
    de escola de samba e você falou muito nele
  • 50:46 - 50:50
    E eu vou deixar aqui
    a sugestão da Marilene Filinto.
  • 50:50 - 50:56
    Um livro chamado As Mulheres de Tijuco
    Papo As Mulheres de Tijuco.
  • 50:56 - 50:58
    Papo é uma potência sim.
  • 50:58 - 51:02
    Eu acho que uma das grandes escritoras
    contemporâneas, a Marilene Felinto.
  • 51:02 - 51:05
    Esse é o primeiro romance dela,
    Então fica a dica.
  • 51:05 - 51:06
    Tá bom?
  • 51:06 - 51:09
    Eu não trouxe,
    mas vou dar uma dica de um livro infantil
  • 51:09 - 51:13
    que chama do Hugo e do Tadeu França,
    que é um influenciador inclusive.
  • 51:13 - 51:17
    E ele conta a história de um novelo
    e da sua convivência
  • 51:17 - 51:21
    em ambientes com pessoas
    que não reconhecem a força dos seus pelos.
  • 51:21 - 51:25
    Esse livro mexeu com as crianças lá
    de casa, os meus filhos, os meus sobrinhos
  • 51:26 - 51:29
    e é um livro bem importante
    pela representação,
  • 51:29 - 51:32
    que traz um livro infantil
    gostosinho de ler.
  • 51:32 - 51:35
    Os meninos amam, então recomendo.
  • 51:35 - 51:38
    A Marina Brito
    essa leitura trazida às crianças.
  • 51:38 - 51:41
    Assim
    eu posso também indicar um outro infantil,
  • 51:42 - 51:46
    A melhor Mãe do Mundo, da Nina Rizzi,
    da Companhia das Letrinhas. Esse
  • 51:48 - 51:50
    é um livro que fala de uma.
  • 51:50 - 51:53
    É uma criança que narra história,
    um menino
  • 51:53 - 51:57
    e ela dá todas as indicações
    de que é um menino periférico.
  • 51:57 - 51:59
    Ela fala, mas que não é estereotipada.
  • 51:59 - 52:03
    E ele vai falando
    muito amorosamente dessa mãe.
  • 52:03 - 52:05
    E a mãe está encarcerada.
  • 52:05 - 52:07
    É uma mulher que está presa.
  • 52:07 - 52:10
    Eu nunca vi esse tema na literatura
    infantil.
  • 52:10 - 52:11
    Esse livro é belíssimo.
  • 52:11 - 52:15
    Eu eu formo mediadores de leitura,
    como eu falei no começo, então eu trabalho
  • 52:15 - 52:19
    muito com esse livro e ele toca demais
    as pessoas, adultos e crianças,
  • 52:19 - 52:20
    inclusive, tem.
  • 52:20 - 52:23
    Feito a indicação de indicações.
  • 52:23 - 52:26
    Tem mais uma leitora
  • 52:26 - 52:28
    infanto juvenil que o São Oliveira.
  • 52:28 - 52:30
    Todos que.
  • 52:30 - 52:32
    São. Queridos são lindos.
  • 52:32 - 52:36
    As peças teatrais que ela também monta
    a partir dos livros dela são maravilhosos!
  • 52:36 - 52:40
    E tem um livro gente muito interessante
  • 52:40 - 52:44
    que eu estou lendo e isso
    eu já estou no sétimo capítulo, Assim
  • 52:45 - 52:46
    do Renato Nogueira,
  • 52:46 - 52:50
    um novo Mulheres e Divindades que ele traz
  • 52:51 - 52:56
    como que foi formada
    a feminilidade a partir das divindades
  • 52:56 - 53:00
    européias e greco romanas ali.
  • 53:00 - 53:03
    E aí ele traz as divindades
  • 53:04 - 53:08
    iorubás e divindades dos povos
    originários.
  • 53:09 - 53:12
    É um livro que traz os mitos.
  • 53:12 - 53:17
    Como que é construído
    esse arquétipo da rivalidade?
  • 53:17 - 53:19
    É muito interessante.
  • 53:19 - 53:22
    Assim, achei brilhante a ideia do Renato
  • 53:22 - 53:26
    de trazer essa construção do feminino
    a partir
  • 53:27 - 53:29
    de uma ideia
  • 53:29 - 53:32
    de mulheres que se odeia, que rivalizam.
  • 53:32 - 53:35
    Cara, isso não é de agora, é muito tempo.
  • 53:35 - 53:38
    Foi muito tempo plantado assim.
  • 53:38 - 53:43
    Então como que a gente escapa disso
    senão a partir da educação e do
  • 53:43 - 53:46
    porque quando a gente
    consegue racionalizar o porquê,
  • 53:46 - 53:49
    você consegue fazer o caminho
    contrário de não presente,
  • 53:49 - 53:52
    passado, presente, presente,
    presente, futuro.
  • 53:52 - 53:55
    Então acho que agora me veio assim.
  • 53:55 - 53:58
    Eu achei tão interessante.
  • 53:58 - 54:01
    Super indico também que que leiam assim.
  • 54:01 - 54:04
    E tem no pra
    quem não está, não tem muito tempo de ler,
  • 54:04 - 54:09
    mas fica muito tempo no trem, metrô,
    ônibus, enfim, mora longe.
  • 54:09 - 54:14
    Tem o livro,
    não sei lá se não consegue ler,
  • 54:14 - 54:17
    mas se você gosta de ouvir
    podcast, vai para o audiolivro.
  • 54:18 - 54:22
    Alguns livros até são gratuitos
    e tem alguns da Eliane mais.
  • 54:22 - 54:26
    Mas saindo um pouquinho do instagran
    de vez em quando dá pra ler também.
  • 54:26 - 54:29
    Eu já da ver, não é assim você pegar.
  • 54:29 - 54:32
    Não tem nada mais gostoso do que eu. Li,
    eu amo.
  • 54:32 - 54:34
    Mas é que é isso. Não são. Livros, são.
  • 54:34 - 54:37
    Realmente os que tem
    esse daí de você ficar ouvindo as vezes
  • 54:37 - 54:42
    vai treinar, coloca o livro
    lá para escutar o livro então assim.
  • 54:43 - 54:47
    Então tem esses autores também
    estão nessas plataformas de áudio boa.
  • 54:48 - 54:52
    Quem é assinante
    tem muitos livros gratuitos lá,
  • 54:52 - 54:57
    então isso é democratização
    da informação e da educação e
  • 54:58 - 54:59
    não dá mais
  • 54:59 - 55:02
    para ter a não consigo ou não dá.
  • 55:02 - 55:06
    De um jeito ou de outro,
    busque conhecimento em outros lugares,
  • 55:06 - 55:09
    para além do Instagram,
    para além do YouTube,
  • 55:10 - 55:14
    porque vai te fazer bem, vai te fazer bem
    construir esse repertório.
  • 55:15 - 55:18
    O que você vê aqui,
    aqui tem mais de um século
  • 55:19 - 55:24
    de repertório pela idade atual
    dessas pessoas físicas que tem,
  • 55:24 - 55:28
    que estão aqui tem um século e meio,
    pelo menos aqui. E é.
  • 55:28 - 55:32
    Mas a gente traz a oralidade há milênios.
  • 55:32 - 55:34
    Então é mais isso.
  • 55:34 - 55:38
    Você tem que ativar e a gente ativa isso
    buscando vários recursos.
  • 55:39 - 55:41
    Busque seu e escolham suas companhias.
  • 55:41 - 55:45
    Então a gente termina por aqui
    dando essas dicas maravilhosas para vocês
  • 55:45 - 55:48
    escolherem as histórias
    que vocês vão acessar
  • 55:48 - 55:51
    e como vocês passam essas histórias
    daqui em diante.
  • 55:52 - 55:53
    Obrigada, até mais!
Title:
FS CAP05 2025 VIDEOCAST LITERATURA E ORALIDADE CULTURA AFRO-BRASILEIRA
Video Language:
Portuguese, Brazilian
Duration:
55:57

Portuguese, Brazilian subtitles

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