Sobre ética e chocolate | Lúcia Helena Galvão | TEDxPassoFundo
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0:10 - 0:14A palestra é sobre ética
ou sobre chocolate? -
0:14 - 0:19São dois problemas né?
A falta de ética e o excesso de chocolate. -
0:19 - 0:23Problemas diferentes,
mas que guardam alguma semelhança. -
0:23 - 0:26Eu sou uma filósofa,
como já fui apresentada, -
0:26 - 0:32e filósofo tem uma característica
muito interessante: pensamento simbólico. -
0:32 - 0:34Isso é sensacional, gente.
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0:34 - 0:40Talvez seja uma das maiores invenções,
não nossa, mas da natureza, -
0:40 - 0:42que ainda não aprendemos a usar.
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0:42 - 0:46Talvez nós vivamos, em um aspecto
da vida, na pós-modernidade -
0:46 - 0:49e em outro na pré-antiguidade.
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0:49 - 0:52Porque talvez você pegue
um Platão lá atrás, -
0:52 - 0:57e ele tenha um pensamento simbólico
superior ao homem do século 21. -
0:57 - 1:02Existe um livro tibetano que se chama
Bardo Thodöl, o livro tibetano dos mortos, -
1:02 - 1:07que ele diz, entre muitas outras coisas
bombásticas e muito modernas, -
1:07 - 1:10que a vida é inteiramente pedagógica.
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1:10 - 1:14Não existe um momento na tua vida
que não tenha alguma coisa pra te ensinar. -
1:14 - 1:19Porque se não tivesse nada pra te ensinar,
já teria sido retirado da sua vida. -
1:19 - 1:22Então o chocolate pode
nos ensinar sobre ética? -
1:22 - 1:28Eu acho que sim, vamos ver se eu consigo
vender o peixe, ou o chocolate pra vocês. -
1:28 - 1:32Parem pra pensar a respeito
da questão do chocolate. -
1:32 - 1:33Gostem ou não,
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1:33 - 1:36é uma unanimidade esse produto.
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1:36 - 1:40Desde que os espanhóis levaram pra Europa,
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1:40 - 1:45e converteram isso em barrinhas,
adoçaram, misturaram com leite... -
1:45 - 1:49Isso é uma febre, o exército
dos chocólatras é imenso. -
1:49 - 1:52Percebam que temos
uma característica muito interessante -
1:52 - 1:53em relação ao chocolate:
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1:53 - 1:56você não precisa que ninguém
te pressione pra comer. -
1:56 - 1:57"Tem chocolate? Oba!"
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1:57 - 1:59(Risos)
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1:59 - 2:02Ninguém te ameaça:
"Se você não comer o chocolate..." -
2:02 - 2:06Não, você come o chocolate
antes que ele termine a frase. -
2:06 - 2:11Ou seja, não existe medo e desejo,
não existe coerção nem indução. -
2:11 - 2:14Gosto do chocolate, e acabou.
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2:14 - 2:18Agora vejam esse nosso
outro amigo, o jiló. -
2:18 - 2:20(Risos)
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2:20 - 2:25Jiló e assemelhados tiveram um papel
mórbido na nossa infância, -
2:25 - 2:30porque eles sempre estavam acompanhados
de ameaças ou de compensações. -
2:30 - 2:35"Come a salada, menino,
porque, se não, não ganha sobremesa." -
2:35 - 2:39"Se não comer direitinho,
Papai Noel não traz presente." -
2:39 - 2:41"Come, se não não vê televisão."
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2:41 - 2:44Ou seja, porque comíamos o jiló?
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2:44 - 2:46Nada contra,
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2:46 - 2:53porém a verdade é que nossa relação
com ele foi de prêmios ou punições. -
2:53 - 2:56Se eu comer, ganho tal coisa.
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2:56 - 2:59Se eu não comer, vou perder tal coisa.
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2:59 - 3:04Sempre coerção, sempre
indução por fatores externos. -
3:04 - 3:06Bom, pensem bem...
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3:06 - 3:11Essa relação é muito parecida
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3:11 - 3:14com aquilo que um filósofo
chamado Immanuel Kant -
3:14 - 3:18costumava chamar de imperativo categórico
e imperativo hipotético. -
3:18 - 3:19Categórico:
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3:19 - 3:23"Eu faço porque eu sou, porque eu amo,
porque eu me realizo fazendo". -
3:23 - 3:27Hipotético: "Se fizer ganha tal coisa.
Se não fizer perde outra". -
3:27 - 3:30Gente, nós estamos
muito condicionados com isso. -
3:30 - 3:34E percebam que é um condicionamento
que vem de muito tempo, -
3:34 - 3:38é um condicionamento
que não se modernizou, não saímos dessa. -
3:38 - 3:40Isso é uma coisa importante
que a gente perceba. -
3:40 - 3:43Nós estávamos lá atrás,
andando numa biga romana. -
3:43 - 3:46Hoje andamos num avião a jato.
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3:46 - 3:48A máquina evoluiu muito.
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3:48 - 3:53Mas o ser humano que conduz a máquina,
será que evoluiu na mesma velocidade? -
3:53 - 3:55Para pra pensar sobre isso.
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3:55 - 3:58E será que os problemas
fundamentais da vida, -
3:58 - 4:00perda, dor,
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4:00 - 4:02instabilidade emocional, convivência...
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4:02 - 4:04Convivência então é um inferno,
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4:04 - 4:06porque você não consegue ficar
com as pessoas, nem sem elas. -
4:06 - 4:08Isso é uma coisa de louco.
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4:08 - 4:11Os problemas não são
mais ou menos os mesmos? -
4:13 - 4:15E será que a gente tem respostas
melhores pra eles hoje -
4:15 - 4:17do que o condutor de biga tinha?
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4:17 - 4:19Olha, capaz que não!
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4:19 - 4:23Capaz que ele fosse uma pessoa
mais estável emocionalmente do que somos! -
4:23 - 4:27Capaz que ele soubesse lidar melhor
com essas situações dramáticas da vida -
4:27 - 4:28do que sabemos!
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4:28 - 4:33Ou seja, a máquina evoluiu, mas o homem
que conduz a máquina não necessariamente. -
4:33 - 4:37Nós ouvimos muito falar: "Bom as máquinas
talvez venham a ocupar o nosso lugar". -
4:37 - 4:40Eu acho ótimo! Sejam bem-vindas!
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4:40 - 4:42Eu não acredito que elas
ocupem o nosso lugar. -
4:42 - 4:45Nós é que estávamos ocupando o delas!
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4:45 - 4:47Mecanicidade é coisa de máquina.
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4:47 - 4:51Ser humano é um ser que tem
resposta pra vida, tem visão simbólica, -
4:51 - 4:54sabe aprender de todos os acontecimentos.
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4:54 - 4:57Alguém disse aqui sobre
a modernidade de Platão. Concordo! -
4:57 - 5:00A maior parte das coisas que aprendi
de útil na vida, aprendi de Platão. -
5:00 - 5:02E ele viveu há 2,4 mil anos...
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5:02 - 5:05Não tinha pós-modernidade.
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5:05 - 5:07Tinha quase que
pré-antiguidade, não é isso? -
5:07 - 5:10E tem muito a ensinar
ainda nos nossos dias. -
5:10 - 5:13Então, vejam bem, essa questão
do chocolate e do jiló... -
5:13 - 5:15"Faço porque amo!"
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5:15 - 5:18e "Faço porque, se não fizer,
tenho castigo. -
5:18 - 5:20Se fizer, ganho prêmio".
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5:20 - 5:23Bom, continuando com a nossa história.
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5:23 - 5:26Como nós escolhemos
as coisas na nossa vida? -
5:27 - 5:31Eu sou professora há 29 anos,
professora voluntária, -
5:31 - 5:36e ética é um tema muito recorrente,
dou palestra disso a toda hora. -
5:36 - 5:40Falo a respeito dos preceitos éticos
mais belos que já se disse na história, -
5:40 - 5:43e sempre as pessoas me vêm
com a mesma pergunta: -
5:43 - 5:46"Professora, por que
as pessoas não são éticas? -
5:46 - 5:50Porque mesmo a gente, sabendo de tudo
isso, na hora que coloca dentro da vida, -
5:50 - 5:54em geral não somos éticos,
muitas vezes não somos éticos. -
5:54 - 5:57Por que a humanidade não é ética?"
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5:57 - 6:00E eu já pensei em mil respostas
pra isso, gente. -
6:01 - 6:02Eu cheguei à conclusão que,
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6:02 - 6:05quando me perguntam
por que a humanidade não é ética, -
6:05 - 6:08e por que a gente não come jiló,
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6:08 - 6:11duas situações aparentemente
muito diferentes, -
6:11 - 6:13tem uma resposta única.
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6:13 - 6:16Sabe por quê? Porque a gente não gosta!
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6:16 - 6:18Porque a gente não gosta.
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6:18 - 6:22Nós vivemos uma ética de coerção
e não de convicção. -
6:22 - 6:26Se for, ganha tal coisa.
Se não for, perde tal outra. -
6:26 - 6:32Não existe um ser que esteja
profundamente identificado com a ética -
6:32 - 6:35como um privilégio tão gostoso
quanto o chocolate. -
6:35 - 6:37Percebem isso?
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6:37 - 6:43Parem pra pensar situações práticas:
andar a 40, 50, no máximo 60 km/h. -
6:43 - 6:46A maior parte das pessoas
não gosta disso. Por que anda? -
6:46 - 6:50Porque vou ser multado, isso é caro.
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6:50 - 6:52Ou as pessoas vão pensar mal de mim.
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6:52 - 6:55Ando com aquele papelzinho de lixo
na mão até encontrar uma lata de lixo, -
6:55 - 6:57se é que eu faço isso.
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6:57 - 7:02Por que faço? Vão me ver, vão dizer
que eu sou mal educado. Mas gosto disso? -
7:02 - 7:05Se não tivesse ninguém olhando, eu faria?
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7:05 - 7:08Não engano o outro,
não manipulo, não minto... -
7:08 - 7:11Porque se eu for descoberto vai ficar mal.
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7:11 - 7:14Mas se fosse impune, faria ou não faria?
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7:14 - 7:17Percebem? Do que a gente gosta realmente?
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7:17 - 7:20Qual é a nossa?
Qual é o chocolate pra nós? -
7:20 - 7:25Se não amamos essa coisa, fica um pouco
aquilo que Platão falava do pacto social. -
7:25 - 7:28Sabe por que eu não engano ninguém?
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7:28 - 7:31Porque vai que essa pessoa
é mais esperta que eu... -
7:31 - 7:34E na troca ali ela sai levando vantagem!
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7:34 - 7:37Então vamos fazer um pacto social:
eu não engano e você não engana. -
7:37 - 7:38Porque aí é mais seguro.
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7:38 - 7:43Mas, se eu pudesse
fazer impunemente, olha... -
7:43 - 7:46Vocês já ouviram falar
de um cidadão chamado Giges? -
7:46 - 7:50Giges é um dos mitos
mais famosos de Platão, genial. -
7:50 - 7:57Ele imagina um pastor lídio muito honesto,
íntegro, enquadrado socialmente, -
7:57 - 7:59que um dia acha um tal dum anel
que tem uma pedra. -
7:59 - 8:04Está aqui o belíssimo anel de Giges.
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8:04 - 8:07Ele acha um anel que tem uma pedra.
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8:07 - 8:13Quando ele vira a pedra pra dentro da mão,
gente, ele fica invisível. -
8:13 - 8:16Quando ele vira pra fora, todo mundo o vê.
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8:16 - 8:19Gente, que coisa genial isso.
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8:19 - 8:23E aí Giges, que era o homem
mais honesto daquela região, -
8:23 - 8:26começa a praticar todo tipo de falcatrua
que vocês possam imaginar. -
8:26 - 8:29Nós somos muito imaginativos
pra pensar em falcatrua, né? -
8:29 - 8:33Tudo, começa a praticar
todo tipo de desonestidade. -
8:33 - 8:36Giges era honesto ou não era?
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8:36 - 8:39Era uma honestidade
pra inglês ver, ou pra lídio ver, -
8:39 - 8:41não tinha inglês naquela época.
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8:41 - 8:42Não é isso?
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8:42 - 8:46E aí Platão continua com a sua reflexão.
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8:46 - 8:50E se Giges ficasse invisível
e continuasse honesto? -
8:52 - 8:54E se as pessoas soubessem disso?
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8:54 - 9:00Ele imagina: "Olha, em primeiro lugar
elas diriam: 'Puxa! Exemplar os Giges! -
9:00 - 9:03Como ele é bom, admirável', por medo,
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9:03 - 9:07porque vai que ele usa
os seus poderes contra elas. -
9:07 - 9:08Mas intimamente pensariam:
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9:08 - 9:14'Que idiota, se fosse eu que tivesse
uma oportunidade dessas, ia me dar bem'." -
9:14 - 9:18Ou seja, ele conclui:
"As pessoas não amam a ética, -
9:18 - 9:22elas fazem por um pacto social,
por um jogo de conveniências, -
9:22 - 9:26mas quando a última porta
se fecha atrás delas, -
9:26 - 9:29elas não são assim, isso não é íntimo".
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9:29 - 9:31Sabe o que que isso gera?
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9:31 - 9:33Voltando a um slide anterior nosso:
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9:33 - 9:35coerção e convicção;
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9:35 - 9:37medo e desejo.
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9:38 - 9:40Isso é adestramento, gente.
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9:40 - 9:43Isso funciona muito bem
com o cachorrinho da sua casa. -
9:43 - 9:46Isso funciona muito bem
com a foquinha do circo. -
9:46 - 9:49É a sardinha ou o chicote do domador.
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9:49 - 9:50É bárbaro, mas acontece.
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9:50 - 9:55Isso funciona bem com
uma mentalidade condicionada, animal. -
9:55 - 10:00Condicionamento no ser humano gera
um verniz de muito pouca cobertura. -
10:00 - 10:02Qualquer situação de exceção social:
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10:02 - 10:04"Teve um terremoto!"
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10:04 - 10:05"Teve um blackout!"
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10:05 - 10:09Você vê as pessoas
que tinham aquele verniz, -
10:09 - 10:11tão bem tratadinho, tão brilhante,
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10:11 - 10:15saírem às ruas como uma horda
de vândalos, suevos, visigodos. -
10:15 - 10:17Ou vocês nunca viram isso?
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10:17 - 10:21Pessoas aparentemente
de classe média quebrando vitrines, -
10:21 - 10:24roubando eletrodomésticos,
roubando eletrônicos. -
10:24 - 10:28Olha, recentemente eu vi uma fotografia
de uma situação assim ocorrida. -
10:28 - 10:31No Chile, na Inglaterra,
quantas vezes temos visto isso? -
10:31 - 10:33Sabe o que é isso?
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10:33 - 10:38Uma película de pouca cobertura,
criada pra inglês ver, superficial. -
10:38 - 10:43Por trás não existem raízes,
não existe amor à ética. -
10:43 - 10:45É sempre um jogo de manipulação.
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10:45 - 10:50Nós estamos acostumados com uma relação
que é sempre de coerção, -
10:50 - 10:52um imperativo hipotético.
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10:52 - 10:57Se eu ganhar, eu faço tal coisa,
se eu perder, então evito tal coisa. -
10:57 - 10:59Sempre medo e desejo.
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10:59 - 11:03Isso é uma equação no eu animal,
é o chicote ou a sardinha da foca. -
11:03 - 11:07Funciona bem pra focas,
não funciona bem pra homens. -
11:07 - 11:12Os homens ou amam a ética,
ou não vamos ter ética. -
11:12 - 11:16Você é o que você faz quando
a última porta se fecha atrás de você. -
11:16 - 11:19Como isso é moderno, gente!
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11:19 - 11:21Embora pensado há 2,4 mil anos atrás.
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11:21 - 11:23Como é moderno!
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11:23 - 11:26Pensem em como jogamos, como manipulamos.
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11:26 - 11:30Pensem como o papel humano
está desocupado na sociedade! -
11:30 - 11:34Eu acho bom que as máquinas
nos empurrem pra fora da mecanicidade, -
11:34 - 11:36porque o emprego de ser humano
está desocupado! -
11:36 - 11:39Alguém tem que ocupar esse cargo.
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11:39 - 11:42A natureza necessita de humanos,
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11:42 - 11:44e o humano ama ser,
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11:44 - 11:48e não necessariamente o que eu vou
ganhar ou deixar de perder com isso. -
11:48 - 11:51Chegamos a um nível de manipulação
-
11:51 - 11:54que, segundo Platão,
manipulamos até o divino. -
11:54 - 11:58Ele dizia: "Olha, ofende mais aos deuses
não é quem não acredita neles. -
11:58 - 12:03É quem acredita e acha
que pode comprá-los". -
12:03 - 12:07Existe uma mestra de uma tradição
antiga Sufi, Rabia al-Adawiyya, -
12:07 - 12:11que ela tinha uma oração,
onde ela falava sobre isso: -
12:11 - 12:13"Senhor meu Deus,
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12:13 - 12:19se eu Te busco por medo do Teu inferno,
queima-me no Teu inferno. -
12:19 - 12:22Se eu Te busco por desejo do Teu céu,
expulsa-me do Teu céu. -
12:22 - 12:28Mas se eu Te busco apenas pelo que és,
recebe-me do seio da Tua glória". -
12:28 - 12:31Vocês entendem?
Pelo que és, pelo que eu sou. -
12:31 - 12:34Sabe por que que eu sou ético?
Porque eu sou humano, eu mereço isso. -
12:34 - 12:35Me realizo aí.
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12:35 - 12:37Bom, esse é um cidadão que é sólido,
-
12:37 - 12:43esse é um cidadão que está apto a ocupar
o papel de ser humano na sociedade. -
12:43 - 12:47E cidadãos desse tipo, juntos,
constroem uma sociedade humana, -
12:47 - 12:49constroem um mundo humano.
-
12:49 - 12:54E a natureza espera ardentemente
por isso, porque ela precisa disso. -
12:54 - 12:58Bom, continuando com a nossa história,
-
12:58 - 13:00ingredientes pra isso:
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13:00 - 13:02aprender a gostar.
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13:02 - 13:06Pense numa coisa que eu acho fundamental,
primeiro lugar, como filósofa, -
13:06 - 13:10me preocupa muito que o ser humano
não acredite em si próprio. -
13:10 - 13:15A descrença no ser humano é uma das piores
coisas que pode acometer ao homem, -
13:15 - 13:18porque, acreditando em si próprio,
mudar já é difícil. -
13:18 - 13:21Sem acreditar, esquece, não vai dar.
-
13:21 - 13:26E um dos elementos que fazem parte
desse pacote "não acredito em mim mesmo" -
13:26 - 13:30é "achamos que não mudamos,
achamos que somos produtos prontos, -
13:30 - 13:33achamos que somos rígidos,
que não vamos mudar". -
13:33 - 13:38Podemos mudar, podemos
por exemplo aprender a gostar, -
13:38 - 13:39gostar de ética.
-
13:39 - 13:42Mudar a ética jiló pela ética chocolate,
-
13:42 - 13:44podemos aprender!
-
13:44 - 13:49E isso é interessante porque existe
um filósofo do século passado, Sri Ram, -
13:49 - 13:55que ele dizia que a evolução
nada mais é do que a depuração do gosto. -
13:55 - 13:57A depuração do gosto.
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13:57 - 14:03Até do ponto de vista do paladar físico,
aqueles que trabalham com dietética sabem -
14:03 - 14:05que podemos mudar
a nossa percepção do paladar físico. -
14:05 - 14:08Agora imaginem no paladar
emocional, mental. -
14:08 - 14:12Quantas situações vocês
rejeitaram por capricho, -
14:12 - 14:14e poderiam ter sido boas.
-
14:14 - 14:17Quantos relacionamentos,
quantas experiências, -
14:17 - 14:22quantas coisas ruins tomamos
como princípio porque gostamos, -
14:22 - 14:25numa afeição totalmente infantil.
-
14:25 - 14:29Percebam esse anacronismo que temos
às vezes de uma mente de século 21 -
14:29 - 14:33com um emocional de pré-história.
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14:33 - 14:37Como somos às vezes infantis e imaturos
-
14:37 - 14:40do ponto de vista
de uma coisa chamada caráter. -
14:40 - 14:43Aí é outra história complicada.
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14:43 - 14:45Uma das ofensas prediletas
que nós usamos hoje em dia: -
14:45 - 14:47"Fulano não tem muito caráter".
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14:47 - 14:49"Fulano não tem bom caráter."
-
14:49 - 14:54Olha, bom caráter é aquele que gosta
do que é bom do ponto de vista humano, -
14:54 - 14:59que te faz crescer em relação ao ideal
humano, valores, virtudes, sabedoria. -
14:59 - 15:05Mau caráter é aquele que gosta das coisas
que te animalizam, que te embrutecem. -
15:05 - 15:08Sob essa definição, quem de nós
tem tão bom caráter assim? -
15:08 - 15:13Fomos tão bem educados a ponto de que tudo
que eu gosto é bom pro ser humano, -
15:13 - 15:15e tudo o que eu rejeito é mau?
-
15:15 - 15:17Não, não fomos.
-
15:17 - 15:20Precisamos acreditar
que o caráter pode ser reformado, -
15:20 - 15:22podemos reeducar a nós mesmos.
-
15:22 - 15:23Isso é um primeiro elemento.
-
15:23 - 15:27Segundo elemento dessa solução
que a filosofia propõe: -
15:27 - 15:32respeito por si próprio, vida interior.
-
15:32 - 15:34Não fazer as coisas pra inglês ver,
-
15:34 - 15:38ou pelo menos imaginar que tem um inglês
dentro de você, que merece respeito. -
15:38 - 15:41Kant dizia que respeito vem de "respiciō",
-
15:41 - 15:45de saber ver, olhar mais uma vez,
olhar pra dentro de si próprio -
15:45 - 15:49e considerar que tem algo aí
que é digno de respeito. -
15:49 - 15:53Existe uma história, um conto zen,
-
15:53 - 15:55que diz que havia
um mosteiro muito antigo, -
15:55 - 15:58vivia aí uma comunidade
de monges mendicantes, -
15:58 - 16:02e o mosteiro estava quase desmoronando.
-
16:02 - 16:05Num determinado momento, os discípulos
se dirigem ao mestre e dizem: -
16:05 - 16:07"Mestre, a gente precisa
reformar esse mosteiro, -
16:07 - 16:09senão vai cair na nossa cabeça".
-
16:09 - 16:11E o mestre resolve
submetê-los a uma prova. -
16:11 - 16:14Diz: "É verdade, discípulo,
isso aqui vai desmoronar. -
16:14 - 16:18Então vocês vão até a cidade mais próxima,
porque a gente não tem recursos... -
16:18 - 16:23Vão lá e roubem. Roubem tudo
que vocês puderem carregar. -
16:23 - 16:25Agora, tem um detalhe!
-
16:25 - 16:29Não deixem que ninguém veja vocês,
porque nós somos um mosteiro tradicional. -
16:29 - 16:31Se alguém nos vê, isso vai
causar uma desonra. -
16:31 - 16:34Vão lá e roubem o máximo
que puderem, mas ninguém os veja". -
16:34 - 16:37Eles vão lá. "Bom, mas será
que o mestre está louco? -
16:37 - 16:38O mestre virou maquiavélico?"
-
16:38 - 16:40Maquiavel nem tinha
nascido ainda nessa época. -
16:40 - 16:43Como é que foi isso, enfim... Foram.
-
16:43 - 16:46E aí ele se levanta, entra
no mosteiro e chega lá, -
16:46 - 16:49tinha um jovem fazendo
seus afazeres normalmente. -
16:49 - 16:52Falou: "Rapaz, por que você
não foi junto com os outros?" -
16:52 - 16:55"Ué mestre, eu estou fazendo
o que o senhor mandou." -
16:55 - 16:57"Como assim o que eu mandei?"
-
16:57 - 17:01"É sim, o senhor mandou que eu não
roubasse se tivesse alguém me vendo. -
17:01 - 17:06E eu estou me vendo, o tempo
todo eu estou me vendo." -
17:06 - 17:08Portanto não dava pra roubar.
-
17:08 - 17:11Vocês sabem o que significa isso?
Vamos lá pro nosso mosteiro... -
17:14 - 17:20Vida interior, existe algo dentro
de mim que merece respeito. -
17:20 - 17:24Algo dentro de mim que está
me vendo o tempo todo. -
17:24 - 17:30E se não faço as coisas por isso,
nós temos uma sociedade de ética jiló. -
17:30 - 17:33Uma sociedade que trabalha por um verniz,
-
17:33 - 17:37mas que nunca vai ser consistente
o suficiente para ser um mundo ético. -
17:37 - 17:39E não esqueçam,
-
17:39 - 17:44o fator fundamental do nosso
sofrimento ou da nossa felicidade -
17:44 - 17:48não é se nós estamos viajando
de biga ou de avião a jato. -
17:48 - 17:53É se somos honestos, se sabemos
conviver, se temos vida interior, -
17:53 - 17:57se sabemos lidar com as nossas
instabilidades emocionais. -
17:57 - 18:01Esse é o fator fundamental. É o ser.
-
18:01 - 18:03E esse ser é uma questão muito antiga,
-
18:03 - 18:06que nós ainda não nos resolvemos
em relação a ela. -
18:06 - 18:10Talvez a história esteja nos empurrando
pra sair do papel das máquinas -
18:10 - 18:12e entrar no papel humano.
-
18:12 - 18:14Filósofo, gente, é um bicho esquisito.
-
18:14 - 18:19Primeiro lugar, tem visão simbólica
e procura aprender com tudo na vida. -
18:19 - 18:26Segundo lugar, filósofo acredita que o ser
humano é a maior invenção da natureza, -
18:26 - 18:29uma invenção genial, melhor que chocolate.
-
18:29 - 18:32Que quando a gente
aprender a usar essa invenção, -
18:32 - 18:35ela vai recompensar
a natureza de muitas formas. -
18:35 - 18:41Ela vai ser muito boa, vai ser a melhor
boa nova que já se ouviu na história. -
18:41 - 18:46Nós acreditamos que o ser humano
pode ser construído, -
18:46 - 18:51que o ser humano é
uma excelente ideia da natureza. -
18:51 - 18:52Nós trabalhamos por isso.
-
18:53 - 18:58Eu espero que vocês também acreditem
nessa ideia, e também trabalhem por ela. -
18:58 - 18:59Obrigada.
-
18:59 - 19:01(Aplausos)
- Title:
- Sobre ética e chocolate | Lúcia Helena Galvão | TEDxPassoFundo
- Description:
-
Nesta fala, a professora Lúcia Helena discute a presença (ou a falta) da ética em nossa vida cotidiana.
Filósofa “à Maneira Clássica”, é professora pioneira da Nova Acrópole no Brasil, organização internacional que tem como objetivo a formação humana por meio da filosofia, dedicando-se a diversos temas como Sociopolítica, Filosofia da História, Introdução à Sabedoria Oriental, Psicologia, Simbologia Teológica entre outros. Já publicou livros de poesias e de crônicas inspiradas na temática filosófica clássica.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:12
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