Jon Ronson: Respostas estranhas a um teste de psicopatia
-
0:00 - 0:04Essa história começa assim: eu tava na casa de uma amiga
-
0:04 - 0:08e ela tinha na estante uma cópia do manual DSM,
-
0:08 - 0:11que é o manual das doenças mentais.
-
0:11 - 0:13Ele lista todas as doenças mentais
-
0:13 - 0:17e costumava ser, nos anos 1950, um livro fininho.
-
0:17 - 0:20Depois foi só aumentando, aumentando e aumentando,
-
0:20 - 0:23e agora tem 886 páginas.
-
0:23 - 0:27Atualmente ele lista 374 doenças mentais.
-
0:27 - 0:29Eu tava dando uma folheada nele
-
0:29 - 0:31e imaginando se tinha alguma doença mental,
-
0:31 - 0:34e parece que tenho 12.
-
0:34 - 0:35(Risos)
-
0:35 - 0:37Tenho o transtorno da ansiedade generalizada,
-
0:37 - 0:38que é adquirido.
-
0:38 - 0:40Tenho o transtorno dos pesadelos,
-
0:40 - 0:42que se caracteriza
-
0:42 - 0:46por sonhos recorrentes de ser perseguido ou de ser considerado um fracasso.
-
0:46 - 0:50E todos meus sonhos envolvem pessoas me perseguindo pela rua
-
0:50 - 0:51dizendo: "Você é um fracasso."
-
0:51 - 0:53(Risos)
-
0:53 - 0:56Tenho problemas de relacionamento pais e filhos,
-
0:56 - 0:58cuja culpa atribuo a meus pais.
-
0:58 - 1:00(Risos)
-
1:00 - 1:03Tô brincando. Não tô brincando.
-
1:03 - 1:04Tô brincando.
-
1:04 - 1:06E tenho a mania de fingir que estou doente.
-
1:06 - 1:07Acho que, na verdade, é bem raro
-
1:07 - 1:11ter tanto essa mania quanto o transtorno da ansiedade generalizada,
-
1:11 - 1:13pois fingir que estou doente me deixa bastante ansioso.
-
1:13 - 1:15Bom, tava olhando esse livro
-
1:15 - 1:18e imaginando se era bem mais doido que pensava,
-
1:18 - 1:21ou talvez se não era uma péssima ideia ficar se autodiagnosticando com uma doença mental
-
1:21 - 1:23se você não é um profissional treinado,
-
1:23 - 1:28ou talvez a profissão de psiquiatra tenha um estranho desejo
-
1:28 - 1:33de rotular o que é essencialmente normal no comportamento humano como doença mental.
-
1:33 - 1:35Não sabia qual dessas coisas era verdade,
-
1:35 - 1:37mas achei que era interessante.
-
1:37 - 1:40E pensei que talvez devesse procurar um crítico da psiquiatria
-
1:40 - 1:41pra ouvir a opinião deles.
-
1:41 - 1:46Foi assim que acabei almoçando com os cientologista.
-
1:46 - 1:47Era um homem chamado Brian
-
1:47 - 1:50que coordena uma equipe de craques em cientologia
-
1:50 - 1:55determinados a destruir a psiquiatria de todo jeito.
-
1:55 - 1:56O nome do grupo era "Comissão de Cidadãos para os Direitos Humanos".
-
1:56 - 1:59Aí perguntei a ele: "Vocês conseguem me provar
-
1:59 - 2:03que a psiquiatria é uma pseudociência na qual não se pode confiar?
-
2:03 - 2:05E ele respondeu: " Sim, podemos te provar.".
-
2:05 - 2:07Aí perguntei, "Como?"
-
2:07 - 2:10E ele disse: "Vamos te apresentar o Tony."
-
2:10 - 2:12Eu perguntei: "Quem é Tony?"
-
2:12 - 2:16Ele falou: "Tony está em Broadmoor."
-
2:16 - 2:18Broadmoor é o Hospital Broadmoor.
-
2:18 - 2:23Costumava ser conhecido como o Sanatório Broadmoor para os Criminosos Insanos.
-
2:23 - 2:26É pra lá que eles mandam os assassinos em série
-
2:26 - 2:28e as pessoas que não conseguem se ajudar.
-
2:28 - 2:30Eu perguntei ao Brian, "O que o Tony fez?"
-
2:30 - 2:33Ele falou: "Praticamente nada.
-
2:33 - 2:36Ele espancou alguém ou coisa parecida,
-
2:36 - 2:42e decidiu fingir que estava louco pra escapar da sentença de prisão.
-
2:42 - 2:46Mas ele fingiu tão bem que agora está preso em Broadmoor
-
2:46 - 2:49e ninguém acredita que ele seja normal.
-
2:49 - 2:53Quer que a gente tente te levar a Broadmoor pra conhecer o Tony?"
-
2:53 - 2:54Eu disse: "Sim, por favor."
-
2:54 - 2:57Daí, peguei o trem pra Broadmoor.
-
2:57 - 3:01Comecei a bocejar incontrolavelmente perto do parque Kempton,
-
3:01 - 3:04o que, aparentemente, é o que os cachorros fazem quando estão ansiosos --
-
3:04 - 3:06eles bocejam incontrolavelmente.
-
3:06 - 3:07E chegamos a Broadmoor.
-
3:07 - 3:12Passei por portões e mais portões
-
3:12 - 3:13até chegar ao centro de saúde,
-
3:13 - 3:15onde podemos visitar os pacientes.
-
3:15 - 3:19O prédio se parece com um gigantesco hotelzinho.
-
3:19 - 3:23Era todo em pêssego e verde, cores calmantes.
-
3:23 - 3:28A única cor forte era o vermelho dos botões de pânico.
-
3:28 - 3:31Os pacientes começaram a andar por ali.
-
3:31 - 3:36Estavam bem acima do peso, usavam calças de moletom
-
3:36 - 3:38e tinham o olhar bem dócil.
-
3:38 - 3:40Brian, o cientologista, sussurou pra mim:
-
3:40 - 3:42"Estão medicados",
-
3:42 - 3:45o que para um cientologista é tipo o pior mal no mundo,
-
3:45 - 3:48mas achei que isso provavelmente era uma boa ideia.
-
3:48 - 3:50(Risos)
-
3:50 - 3:52E Brian disse "Olha o Tony aqui."
-
3:52 - 3:54Um homem foi se aproximando.
-
3:54 - 3:58Ele não era obeso e estava em ótima forma.
-
3:58 - 4:00Não estava usando calças de moletom.
-
4:00 - 4:03Usava um terno de risca de giz.
-
4:03 - 4:05E tinha o braço estendido como
-
4:05 - 4:07alguém do programa "O Aprendiz".
-
4:07 - 4:10Parecia um homem que queria usar uma roupa
-
4:10 - 4:14que me convencereria de que ele era bastante normal.
-
4:14 - 4:16Aí ele se sentou.
-
4:16 - 4:19Eu perguntei: "Então é verdade que você mentiu pra vir pra cá?"
-
4:19 - 4:22Ele respondeu: "É. É sim. Com certeza. Eu espanquei alguém quando tinha 17.
-
4:22 - 4:25Estava preso aguardando julgamento,
-
4:25 - 4:26quando meu colega de cela me falou:
-
4:26 - 4:28"Sabe o que você tem que fazer?
-
4:28 - 4:29Finja loucura.
-
4:29 - 4:33Diga que é louco. Eles vão te mandar pra algum hospital tranquilo
-
4:33 - 4:35onde as enfermeiras vão te trazer pizza.
-
4:35 - 4:37Você vai ter seu próprio playstation".
-
4:37 - 4:39Aí eu disse: "Então como você fez?"
-
4:39 - 4:42Ele disse: "Pedi pra ver o psiquiatra da prisão.
-
4:42 - 4:44Eu tinha acabado de ver o filme 'Crash',
-
4:44 - 4:48em que as pessoas têm prazer sexual batendo o carro na parede.
-
4:48 - 4:49Daí eu falei para o psiquiatra:
-
4:49 - 4:53'Eu tenho prazer sexual batendo carros em paredes.' "
-
4:53 - 4:55Daí perguntei: "E o que mais?"
-
4:55 - 4:57Ele disse: " Ah, sim. Disse para o psiquiatra
-
4:57 - 5:01que queria assistir mulheres morrendo,
-
5:01 - 5:03pois isso faria eu me sentir mais normal."
-
5:03 - 5:05E eu perguntei: "De onde você tirou isso?"
-
5:05 - 5:08Ele respondeu: "Ah, da biografia do Ted Bundy
-
5:08 - 5:09que eles tinham na biblioteca da prisão."
-
5:09 - 5:14Afinal, ele fingiu ser louco tão bem, ele disse.
-
5:14 - 5:16Mas não mandaram ele para um hospital tranquilo.
-
5:16 - 5:18Mandaram ele para o Broadmoor.
-
5:18 - 5:20E, no instante que pisou o pé lá,
-
5:20 - 5:23disse que deu uma olhada no lugar e pediu pra ver o psiquiatra
-
5:23 - 5:24e falou pra ele: "Houve um engano terrível.
-
5:24 - 5:27Não sou um doente mental."
-
5:27 - 5:29Perguntei: "Há quanto tempo você está aqui?"
-
5:29 - 5:33Ele disse: "Bom, se eu tivesse cumprido meu tempo na prisão pelo crime original,
-
5:33 - 5:35teria pego 5 anos.
-
5:35 - 5:41Estou em Broadmoor há 12 anos."
-
5:41 - 5:45Tony disse que é muito mais difícil convencer as pessoas de que você é normal
-
5:45 - 5:47do que convencê-las de que você é louco.
-
5:47 - 5:49Ele disse: "Pensei que o melhor jeito de parecer normal
-
5:49 - 5:52seria conversar com as pessoas normalmente sobre coisas normais
-
5:52 - 5:54como futebol ou sobre programas de TV.
-
5:54 - 5:56Assinei a revista "New Scientist",
-
5:56 - 5:58e recentemente lá tinha um artigo
-
5:58 - 6:02sobre como o exército americano estava treinando zangões para farejar explosivos.
-
6:02 - 6:03Daí falei pra enfermeira:
-
6:03 - 6:06"Você sabia que o exército americano está treinando zangões
-
6:06 - 6:08para farejar explosivos?"
-
6:08 - 6:09Quando li meu prontuário médico,
-
6:09 - 6:11vi que escreveram lá:
-
6:11 - 6:15"Ele acredita que abelhas podem farejar explosivos."
-
6:15 - 6:17Ele disse: "Sabe, eles estão sempre procurando
-
6:17 - 6:20por pistas não-verbais sobre meu estado mental.
-
6:20 - 6:23Mas como se sentar de maneira normal?
-
6:23 - 6:26Como cruzar as pernas de maneira normal?
-
6:26 - 6:28É simplesmente impossível."
-
6:28 - 6:29Quando Tony me disse isso,
-
6:29 - 6:32eu pensei comigo: "Estou sentado como um jornalista?"
-
6:32 - 6:36Estou cruzando as pernas como um jornalista?"
-
6:36 - 6:41Ele disse: "Sabe, de um lado tenho o Estrangulador de Stockwell
-
6:41 - 6:45e do outro o estuprador da ponta dos pés.
-
6:45 - 6:48Assim, passo bastante tempo no meu quarto, porque acho eles bem assustadores.
-
6:48 - 6:51E eles tomam isso como um sinal de loucura.
-
6:51 - 6:54Eles dizem que isso prova que sou um lunático e com mania de grandeza."
-
6:54 - 6:58Parece que só mesmo em Broadmoor não querer ficar perto de assassinos em série
-
6:58 - 7:00é um sinal de loucura.
-
7:00 - 7:03De todo jeito, ele me pareceu completamente normal -- mas o que eu sabia?
-
7:03 - 7:07Quando cheguei em casa, mandei um e-mail para o médico dele, Anthony Maden.
-
7:07 - 7:08E perguntei: "Qual que é a história?"
-
7:08 - 7:13Ele disse: "Bom, admitimos que o Tony fingiu ser louco para se livrar da prisão,
-
7:13 - 7:18porque, pra começar, suas alucinações eram bem clichês
-
7:18 - 7:20e desapareceram no momento em que pisou em Broadmoor.
-
7:20 - 7:22No entanto, nós o avaliamos.
-
7:22 - 7:27E concluímos que ele é um psicopata."
-
7:27 - 7:29E, na verdade, fingir loucura
-
7:29 - 7:33é exatamente o tipo de ato ardil e manipulativo próprio de um psicopata.
-
7:33 - 7:36Está na lista dos sintomas: ardiloso e manipulativo.
-
7:36 - 7:38Assim, fingir que seu cérebro anda mal
-
7:38 - 7:41é uma evidência de que tem algo errado com seu cérebro.
-
7:41 - 7:42Daí conversei com outros especialistas
-
7:42 - 7:46e eles disseram: terno risca de giz -- o psicopata clássico.
-
7:46 - 7:48Tem a ver com os dois primeiros itens da lista de sintomas --
-
7:48 - 7:53loquacidade, charme superficial, valor próprio grandioso.
-
7:53 - 7:56E eu falei: "Bom, mas por que ele não queria ficar com os outros pacientes?"
-
7:56 - 8:00Psicopata clássico -- tem a ver com a mania de grandeza e com a falta de empatia também.
-
8:00 - 8:04Assim, tudo que parecia supernormal em Tony
-
8:04 - 8:07era uma evidência, de acordo com esse médico,
-
8:07 - 8:09que ele era louco à sua maneira.
-
8:09 - 8:11Ele era um psicopata.
-
8:11 - 8:12E o médico dele me disse:
-
8:12 - 8:14"Se quiser saber mais sobre psicopatas,
-
8:14 - 8:17você pode fazer um curso de detecção de psicopatas
-
8:17 - 8:21ministrado por Robert Hare, que inventou a lista de sintomas que define um psicopata."
-
8:21 - 8:22E assim eu fiz.
-
8:22 - 8:24Frequentei um curso de detecção de psicopatas,
-
8:24 - 8:28e agora sou um credenciado --
-
8:28 - 8:31e, devo dizer, extremamente perito --
-
8:31 - 8:33reconhecedor de psicopata.
-
8:33 - 8:35E aqui estão as estatísticas:
-
8:35 - 8:40uma em cada 100 pessoas é psicopata.
-
8:40 - 8:44Tem umas 1500 pessoas nesta sala.
-
8:44 - 8:50Quinze de vocês são psicopatas.
-
8:50 - 8:52Mas esse número sobe para 4%
-
8:52 - 8:55entre os presidentes e líderes empresariais.
-
8:55 - 8:58Portanto, acho que existe uma boa chance
-
8:58 - 9:03de termos uns 30 ou 40 psicopatas nesta sala.
-
9:03 - 9:05Corremos o risco de uma carnificina até o fim da noite.
-
9:05 - 9:09(Risos) (Risos)
-
9:09 - 9:14Hare disse que a razão disso é o fato de o capitalismo, na sua forma mais cruel,
-
9:14 - 9:17recompensar o comportamento psicopata --
-
9:17 - 9:22falta de empatia, loquacidade,
-
9:22 - 9:24ardilosidade, manipulação.
-
9:24 - 9:27Na verdade, o capitalismo, talvez na sua forma mais impiedosa,
-
9:27 - 9:32seja uma manifestação física da psicopatia.
-
9:32 - 9:33É como uma forma de psicopatia
-
9:33 - 9:38que veio para afetar todos nós.
-
9:38 - 9:40E Hare me falou: "Sabe do que mais? Esqueça esse cara em Broadmoor,
-
9:40 - 9:42que pode ter ou não fingido loucura.
-
9:42 - 9:44Quem se importa? Não é uma grande estória.
-
9:44 - 9:46A grande estória, ele disse: "é a piscopatia corporativa.
-
9:46 - 9:51Você deveria entrevistar alguns psicopatas corporativos."
-
9:51 - 9:54Então fiz uma tentativa. Escrevi para o pessoal da Enron e
-
9:54 - 9:56perguntei: "Será que posso entrevistar vocês na prisão
-
9:56 - 9:58para descobrir se são psicopatas?"
-
9:58 - 10:02Mas eles não responderam.
-
10:02 - 10:04Daí mudei de tática.
-
10:04 - 10:08Mandei um e-mail para Al Dunlap, apelidado de “Al Motosserra”,
-
10:08 - 10:11o desmantelador de ativos dos anos 1990.
-
10:11 - 10:16Ele entrava em empresas falidas e despedia 30% da força de trabalho,
-
10:16 - 10:19simplesmente transformando cidades americanas em cidades fantasma.
-
10:19 - 10:20Aí mandei um e-mail pra ele e disse:
-
10:20 - 10:22"Acredito que você tenha uma anomalia bem especial no cérebro
-
10:22 - 10:25que faz de você uma pessoa especial,
-
10:25 - 10:29interessado no espírito predatório e destemido.
-
10:29 - 10:31Será que poderia ir aí te entrevistar
-
10:31 - 10:33sobre essa anomalia especial do seu cérebro?"
-
10:33 - 10:36Daí ele falou: "Pode vir".
-
10:36 - 10:39Aí fui para a mansão imponente do Al Dunlap na Flórida,
-
10:39 - 10:44que era cheia de esculturas de animais predadores.
-
10:44 - 10:47Tinha leões e tigres.
-
10:47 - 10:48Ele estava me mostrando o jardim.
-
10:48 - 10:51Tinha falcões e águias.
-
10:51 - 10:52Ele estava me dizendo: "Ali tem tubarões."
-
10:52 - 10:55Ele falava isso de um jeito menos afeminado.
-
10:55 - 11:01"Tem mais tubarões e tem tigres."
-
11:01 - 11:03Era como o país de Nárnia.
-
11:03 - 11:06(Risos)
-
11:06 - 11:09E aí fomos pra cozinha.
-
11:09 - 11:13Então Al Dunlap tinha sido trazido para salvar companhias em processo de falência.
-
11:13 - 11:15Ele tinha despedido 30% dos trabalhadores.
-
11:15 - 11:18E tinha, de forma bastante frequente, despedido pessoas com uma piada.
-
11:18 - 11:21Por exemplo, um caso famoso sobre ele era que
-
11:21 - 11:24alguém chegou pra ele e disse: "Acabei de comprar um carro".
-
11:24 - 11:26E ele disse: "Você até pode ter um carro novo,
-
11:26 - 11:32mas vou lhe dizer o que você não tem mais - um emprego."
-
11:32 - 11:35Aí, na cozinha dele --- ele em pé lá com sua esposa, Judy,
-
11:35 - 11:38e o guarda-costas, Sean -- eu falei: "Você sabe, como disse no e-mail,
-
11:38 - 11:41é possível que você tenha uma anomalia especial no cérebro que faz de você uma pessoa especial?"
-
11:41 - 11:43Ele falou: "É, essa é uma teoria impressionante.
-
11:43 - 11:46É como Star Trek. Você está indo aonde nenhum homem jamais foi. "
-
11:46 - 11:54E falei: "Bem, alguns psicólogos podem dizer
-
11:54 - 11:57que isso faz de você ..." (Balbucios)
-
11:57 - 11:59(Risos)
-
11:59 - 12:00E ele perguntou: "O quê?"
-
12:00 - 12:02E eu falei: "Um psicopata."
-
12:02 - 12:07E dissei: "Tenho aqui no bolso uma lista com as características dos psicopatas.
-
12:07 - 12:09Posso ler pra você?"
-
12:09 - 12:12E, mesmo sem querer deixar transparecer, ele pareceu intrigado
-
12:12 - 12:13e disse: OK, pode continuar".
-
12:13 - 12:16E eu disse: "OK. Senso grandioso de autovalor."
-
12:16 - 12:19O que, tenho de reconhecer, teria sido difícil pra ele negar,
-
12:19 - 12:22já que ele estava em pé debaixo de um retrato enorme dele pintado a óleo.
-
12:22 - 12:27(Risos)
-
12:27 - 12:30Ele falou: "Ué, você tem de acreditar em si mesmo!"
-
12:30 - 12:33E eu continuei: "Manipulativo."
-
12:33 - 12:36Ele disse: "Isso é liderança."
-
12:36 - 12:38E eu disse: "Afeto superficial:
-
12:38 - 12:40uma inabilidade de experimentar uma gama de emoções."
-
12:40 - 12:43Ele disse: "Quem quer ser derrubado por algumas emoções sem sentido?"
-
12:43 - 12:46Dessa forma, ele basicamente estava transformando
-
12:46 - 12:49a lista de sintomas em "Quem mexeu no meu queijo?"
-
12:49 - 12:53(Risos)
-
12:53 - 12:56Mas notei que estava acontecendo algo comigo no dia em que estive com Al Dunlap.
-
12:56 - 12:58Tudo o que ele dizia me parecia normal --
-
12:58 - 13:02como quando ele disse não concordar com a deliquência juvenil.
-
13:02 - 13:03Ele disse que foi aceito na academia West Point,
-
13:03 - 13:06e lá eles não permitem delinquentes.
-
13:06 - 13:09Ele disse não concordava com relacionamentos conjugais curtos.
-
13:09 - 13:11Ele se casou apenas duas vezes.
-
13:11 - 13:14É público e notório que sua primeira esposa alegou nos papéis do divórcio
-
13:14 - 13:16que uma vez ele ameaçou a vida dela com uma faca,
-
13:16 - 13:19dizendo que sempre tinha imaginado qual seria o gosto de carne humana,
-
13:19 - 13:23mas em casamentos ruins as pessoas, no calor da briga, dizem coisas estúpidas umas para as outras,
-
13:23 - 13:26e seu segundo casamento durou 41 anos.
-
13:26 - 13:29Assim, tudo que ele me falava soava não-psicopata.
-
13:29 - 13:33Eu pensei: bem, não vou colocar isso no meu livro.
-
13:33 - 13:37Aí percebi que me tornar um detector de psicopatas
-
13:37 - 13:40me tornou um pouco psicopata.
-
13:40 - 13:45Porque eu estava doido pra colocá-lo numa caixa com o rótulo psicopata.
-
13:45 - 13:50Estava louco para defini-lo por seus limites mais loucos.
-
13:50 - 13:53Aí percebi - ah, meu Deus. Isso é o que tenho feito por 20 anos.
-
13:53 - 13:55É o que todos jornalistas fazem.
-
13:55 - 13:59Viajamos ao redor do mundo com nossas anotações nas mãos,
-
13:59 - 14:00e esperamos pelas pérolas.
-
14:00 - 14:05E as pérolas são sempre os aspectos mais externos
-
14:05 - 14:07da personalidade dos nossos entrevistados.
-
14:07 - 14:10E costuramos tudo junto como monges medievais.
-
14:10 - 14:14E deixamos o material normal no chão.
-
14:14 - 14:21E este é um país que superdignostica bastante certas desordens mentais.
-
14:21 - 14:24Infância bipolar - crianças de 4 anos
-
14:24 - 14:26são rotuladas como bipolares,
-
14:26 - 14:29porque têm ataques de birra
-
14:29 - 14:33que elevam sua pontuação na lista dos dos sintomas bipolares.
-
14:33 - 14:37Quando voltei a Londres, Tony me ligou.
-
14:37 - 14:40Ele falou: "Por que você não retorna minhas ligações?"
-
14:40 - 14:44Eu disse: "Bem, eles dizem que você é um psicopata."
-
14:44 - 14:46E ele respondeu: "Não sou um psicopata."
-
14:46 - 14:49Ele falou: "E sabe de uma coisa, um dos itens da lista é a falta de remorso,
-
14:49 - 14:52mas um outro item da lista é astúcia, a manipulação.
-
14:52 - 14:55Aí quando você diz que sente remorso pelo seu crime,
-
14:55 - 14:57eles dizem: "é típico do psicopata
-
14:57 - 15:00espertamente dizer que ele sente remorso, quando não sente'.
-
15:00 - 15:03É como bruxaria. Eles distorcem tudo."
-
15:03 - 15:06Ele disse: "Tenho uma audiência em breve.
-
15:06 - 15:08Você vai assistir?"
-
15:08 - 15:10Aí falei que sim.
-
15:10 - 15:13Então fui assistir à audiência dele.
-
15:13 - 15:18E, depois de 14 anos em Broadmoor, eles o libertaram.
-
15:18 - 15:21Decidiram que ele não poderia ficar internado indefinidamente
-
15:21 - 15:24simplesmente por ter atingido uma pontuação alta numa lista,
-
15:24 - 15:29o que pode significar que ele tem uma chance maior do que a média de reincidência.
-
15:29 - 15:31Então eles soltaram ele.
-
15:31 - 15:33E no corredor ele me disse:
-
15:33 - 15:34"Sabe o que, Jon?
-
15:34 - 15:37Todo mundo é um pouco psicopata."
-
15:37 - 15:41Ele falou: "Você é. Eu sou. Bem, obviamente eu sou."
-
15:41 - 15:43Eu perguntei: "O que você vai fazer agora?"
-
15:43 - 15:46Ele disse: "Estou indo pra Bélgica,
-
15:46 - 15:48porque lá tem uma mulher de quem eu gosto.
-
15:48 - 15:51Mas ela é casada, então vou ter de fazer ela se separar do marido."
-
15:51 - 15:56(Risos)
-
15:56 - 15:59De qualquer forma, isso foi há dois anos atrás,
-
15:59 - 16:01e é onde termina meu livro.
-
16:01 - 16:05E nos últimos 20 meses tudo estava ótimo.
-
16:05 - 16:07Não aconteceu nada de ruim.
-
16:07 - 16:09Ele estava vivendo perto de Londres com uma garota.
-
16:09 - 16:11Ele estava, de acordo com Brian, o Cientologista,
-
16:11 - 16:15recuperando o tempo perdido - que sei que soa ameaçador,
-
16:15 - 16:16mas que não o é necessariamente.
-
16:16 - 16:19Infelizmente, depois de 20 meses,
-
16:19 - 16:21ele passou um mês na cadeia.
-
16:21 - 16:26Ele arranjou uma confusão num bar, como ele chamou --
-
16:26 - 16:28e terminou indo parar um mês na prisão,
-
16:28 - 16:29que sei que é ruim,
-
16:29 - 16:32mas, pelo menos um mês só significa que qualquer que tenha sido a confusão
-
16:32 - 16:35não foi tão ruim assim.
-
16:35 - 16:38Aí ele me ligou.
-
16:38 - 16:42E, querem saber, eu acho certo ele estar solto.
-
16:42 - 16:46Pois você não deve rotular as pessoas pelos seus limites mais loucos.
-
16:46 - 16:50E o que Tony é, ele é um semipsicopata.
-
16:50 - 16:55Ele é uma área cinza num mundo que não gosta de áreas cinza.
-
16:55 - 17:00Mas as áreas cinza são onde encontramos a complexidade,
-
17:00 - 17:03é onde a gente encontra a humanidade
-
17:03 - 17:06e é onde encontramos a verdade.
-
17:06 - 17:08E Tony virou pra mim e disse:
-
17:08 - 17:12"Jon, posso te pagar uma bebida?
-
17:12 - 17:15Só queria te agradecer por tudo que você fez por mim."
-
17:15 - 17:21Mas eu não fui. O que vocês teriam feito?
-
17:21 - 17:22Obrigado.
-
17:22 - 17:39(Aplausos)
- Title:
- Jon Ronson: Respostas estranhas a um teste de psicopatia
- Speaker:
- Jon Ronson
- Description:
-
Será que existe uma linha divisória nítida separando a lucidez da loucura? Com uma palestra de arrepiar os cabelos, Jon Ronson, autor do livro "O Teste do psicopata", lança luz sobre as áreas nebulosas entre as duas. (Mixagem de som ao vivo feita por Julian Treasure e animação de Evan Grant.)
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:01
![]() |
Jenny Zurawell approved Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Wanderley Jesus accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Wanderley Jesus edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Wanderley Jesus edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test | |
![]() |
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Strange answers to the psychopath test |