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Por que estamos confusos sobre consentimento – reescrevendo nossas histórias sobre sedução|Michele Meek| TEDxProvidence

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    Olá!
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    Alguns anos atrás, minha filha e eu
    assistimos, em sua liga de beisebol,
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    à exibição do filme,
    "Se brincar o bicho morde", de 1993.
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    É uma história sobre o amadurecimento
    de um grupo de garotos pré-adolescentes
  • 0:42 - 0:45
    que estão aprendendo sobre a vida
    e descobrindo a paixão pelo beisebol.
  • 0:46 - 0:49
    O filme tem muito poucos
    personagens femininos,
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    e um deles é uma salva-vidas
    por quem todos os garotos têm uma queda.
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    E, em uma das cenas,
    um garoto finge se afogar
  • 0:58 - 1:02
    para que a salva-vidas
    pule na piscina e o salve
  • 1:02 - 1:05
    e comece uma ressuscitação boca a boca.
  • 1:06 - 1:11
    E nesse momento ele a agarra
    pela cabeça e começa a beijá-la.
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    Depois escuta-se a voz
    de um garoto dizendo:
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    "o que ele fez foi baixo,
    sujo e sorrateiro
  • 1:22 - 1:27
    e supermassa, porque ele teve
    a coragem de beijá-la devagar e gostoso".
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    Nesse exato momento,
    percebi que aquele é o tipo de cena
  • 1:34 - 1:38
    que frequentemente passa
    por nós sem que notemos,
  • 1:38 - 1:43
    entretanto são elas que nos ensinam
    e a nossas crianças sobre consentimento.
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    Apesar de nós, pais,
    educadores e técnicos,
  • 1:47 - 1:50
    sermos cuidadosos em proteger
    nossas crianças
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    de cenas de violência e sexo explícito,
    ainda partilhamos histórias de coerção
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    que de alguma maneira
    são supostamente engraçadas
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    ou mesmo inocentes e admiráveis.
  • 2:04 - 2:05
    Ao longo da minha carreira,
  • 2:05 - 2:09
    trabalhei como cineasta, cinegrafista
    e professora universitária.
  • 2:10 - 2:14
    Tendo passado os últimos anos
    estudando histórias sobre consentimento,
  • 2:14 - 2:16
    eu acredito que exista um obstáculo-chave
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    para que melhor possamos entender
    a respeito do consentimento
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    e reduzir ataques sexuais.
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    Apesar de dizermos
    "não é não" e "sim é sim",
  • 2:25 - 2:29
    nós continuamos a ver e partilhar
    histórias em que o"não significa talvez"
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    ou então em que o "não significa
    tente com mais afinco".
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    Em suma, nossas histórias de sedução
    são constantemente histórias de coerção.
  • 2:40 - 2:43
    Quando falo sobre histórias de sedução,
    estou falando da clássica história
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    de um garoto que conhece uma garota,
    mas isso requer uma medida mais drástica
  • 2:48 - 2:52
    como engano, disfarce, degradação
  • 2:53 - 2:56
    e normalmente um toque de violência.
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    Podemos rever a variedade
    das experiências sexuais,
  • 2:59 - 3:02
    onde de um lado temos
    "sim significa sim",
  • 3:02 - 3:06
    que significa consenso sexual,
    desejo mútuo e vontade.
  • 3:08 - 3:10
    Do outro lado temos "não significa não",
  • 3:10 - 3:14
    que inclui ataque sexual,
    coerção e relutância.
  • 3:14 - 3:18
    Mas o que estou sugerindo
    é que continuamente misturamos as duas,
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    e é isso o que quero dizer sobre sedução.
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    Dependendo de como uma situação é vista
    pelos participantes e por outros,
  • 3:25 - 3:29
    a sedução pode ser vista
    como persuasão com consentimento
  • 3:29 - 3:32
    ou a coerção de um participante relutante.
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    Esse padrão existe dentro do espectro
    de gênero e da preferência sexual.
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    E quero deixar claro
    que não enxergo sedução
  • 3:42 - 3:44
    como uma zona indefinida.
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    Eu a vejo como uma luz amarela
    do tipo: "Proceda com cuidado" .
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    Sedução retrata o sexo como uma conquista,
    como uma caça entre o caçador e sua caça.
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    Pense no filme "Cinquenta tons de cinza",
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    em que a universitária Anastacia Steele
    é seduzida pelo bilionário Christian Grey.
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    Christian é tão obcecado por consentimento
  • 4:06 - 4:10
    que ele redige um contrato
    bem detalhado para a Anastacia,
  • 4:10 - 4:12
    que ela na verdade nunca assina.
  • 4:12 - 4:16
    Mas, como parte de sua sedução,
    ele entra no apartamento dela
  • 4:16 - 4:18
    e a despe enquanto ela está inconsciente,
  • 4:19 - 4:23
    e vende o carro dela sem a sua permissão.
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    Muitos ficaram chocados
    quando o diretor do filme disse
  • 4:28 - 4:32
    que Christian era um herói
    romântico e antiquado.
  • 4:33 - 4:36
    Mas, de fato, essa história não é nova.
  • 4:38 - 4:41
    Muitos de vocês que são da minha
    geração provavelmente vão se lembrar
  • 4:41 - 4:45
    que viram ou quiseram ver o filme,
    de 1986, "Nove e meia semanas de amor",
  • 4:46 - 4:49
    especificamente por suas cenas de sexo
    marcadas com um toque de violência.
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    Mas isso vem de muito antes ainda;
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    temos desde a "A megera
    domada", de Shakespeare,
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    em que Petrucchio quebra
    as defesas de Catarina,
  • 4:58 - 5:02
    que a princípio não tem interesse
    em Petrucchio ou em qualquer homem.
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    E, pra dar a vocês uma ideia
    de quão antigo é esse tema,
  • 5:11 - 5:13
    podemos olhar a mitologia grega,
  • 5:13 - 5:17
    em que a deusa Hera inicialmente rejeita
    a proposta de casamento de Zeus,
  • 5:17 - 5:20
    e então ele se disfarça
    como um pássaro em sua janela
  • 5:20 - 5:22
    e, quando ela o deixa entrar,
  • 5:22 - 5:25
    ele a viola, e ela então aceita
    sua proposta de casamento.
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    Histórias de sedução à primeira vista
    podem parecer perfeitamente inofensivas.
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    Pensem na série de TV "Stranger Things",
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    onde Steve, o namorado de Nancy, recebe
    seus "nãos" à maneira de um vendedor:
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    "Tente com mais afinco".
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    Ela se recusa a encontrá-lo.
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    Ela se recusa a encontrá-lo,
    então ele sobe em sua janela,
  • 5:50 - 5:54
    ela evita um beijo e ele tenta novamente.
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    Similarmente à maneira de Tom
    em "Parks and Recreation",
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    que pretende converter
    o "não" de Ann em um "sim".
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    E a grande maioria das comédias
    sexuais adolescentes
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    de "American Pie" a "É hoje"
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    retrata rapazes que são obcecados
    em seduzir jovens moças.
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    Essa falta de clareza
    entre consentimento e coerção
  • 6:16 - 6:19
    não é menos perturbadora
    quando os papéis de gêneros são trocados.
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    Consideremos como o filme
    "A primeira noite de um homem"
  • 6:22 - 6:25
    simplesmente troca o agressor
    por um personagem feminino mais velho
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    que persegue um jovem rapaz inocente.
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    E isso tem surgido também
    em comédias adolescentes mais recentes
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    como "Não vai dar"
    e "O diário de uma virgem",
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    onde garotas perseguem ativamente
    seus próprios escravos sexuais,
  • 6:40 - 6:41
    às vezes sem pensar
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    que elas precisam do consentimento
    de seus parceiros masculinos primeiro.
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    O problema aqui não é apenas
    na área afetiva.
  • 6:51 - 6:54
    Uma em cada três mulheres
    é violentada sexualmente durante a vida,
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    e um em cada seis homens também.
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    A maioria dos ataques sexuais
    não são reportados.
  • 7:02 - 7:05
    Apenas para enfatizar um exemplo:
  • 7:05 - 7:09
    80% dos ataques sexuais
    a estudantes universitárias
  • 7:09 - 7:11
    entre 1995 a 2013
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    não foram reportados à polícia,
    de acordo com o Ministério da Justiça.
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    Então quando enfatizamos um problema
    como violência sexual no câmpus
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    apenas falando de situações
    que são preto no branco,
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    estamos perdendo a oportunidade de falar
    sobre casos nessa zona intermediária.
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    Um dos problemas do consentimento sexual
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    é que nós normalmente
    não o obtemos por escrito,
  • 7:38 - 7:40
    talvez alguns de vocês o façam,
  • 7:40 - 7:43
    ou verbalmente se necessário.
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    Então dependemos do comportamento
  • 7:46 - 7:49
    e sabemos que isso pode causar problemas.
  • 7:49 - 7:53
    Um exemplo comum é que a risada
    de alguém pode parecer consentimento,
  • 7:53 - 7:56
    mas na verdade pode ser
    que a pessoa esteja bastante nervosa
  • 7:56 - 7:58
    e não saiba como dizer não.
  • 7:59 - 8:03
    Parte da maneira como nos comportamos
    aprendemos através de histórias,
  • 8:03 - 8:06
    e histórias não são apenas
    filmes e televisão.
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    Existem lições nas escolas,
    existem coisas que nossos pais nos dizem,
  • 8:10 - 8:14
    histórias que amigos nos contam e coisas
    que vemos na mídia e no noticiário.
  • 8:15 - 8:20
    Qualquer história sobre sexo
    é também uma história sobre consentimento.
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    Então, o que estamos aprendendo?
  • 8:25 - 8:28
    Brad Perry, coordenador de prevenção
    à violência sexual e escritor,
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    conta que, quando jovem,
    ele aprendeu com os amigos
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    que seduzir garotas requeria agentes
    de liberação como álcool e drogas.
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    Até que então uma de suas amigas
    foi violada e tentou suicídio,
  • 8:40 - 8:44
    e ele então percebeu
    o quão suas próprias táticas
  • 8:44 - 8:46
    eram parecidas com aquelas
    do violador de sua amiga.
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    Testemunhos assim são poucos e raros.
  • 8:51 - 8:53
    Por outro lado,
  • 8:53 - 8:56
    garotas são frequentemente desencorajadas
    de enxergarem a si próprias
  • 8:56 - 8:58
    como agentes sexuais,
  • 8:58 - 9:01
    por causa de padrões duplos
    e desmoralização
  • 9:01 - 9:06
    garotas ainda respondem frequentemente
    aos avanços de seus parceiros masculinos
  • 9:06 - 9:10
    em vez de saberem o que realmente
    querem e iniciarem o ato.
  • 9:11 - 9:15
    Em minhas próprias aulas
    de estudos de gênero,
  • 9:15 - 9:17
    eu pergunto aos estudantes:
  • 9:17 - 9:20
    "O que aprenderam em educação
    sexual, e o que queriam aprender?"
  • 9:20 - 9:22
    E todos os anos é bem semelhante:
  • 9:22 - 9:26
    eles aprenderam sobre doenças
    sexualmente transmissíveis,
  • 9:26 - 9:28
    abistinência e gravidez,
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    mas o que eles realmente queriam aprender
  • 9:31 - 9:35
    era sobre consentimento, ataques,
    prazer e relacionamento.
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    Eu amo filmes e vou continuar
    compartilhando-os com meus filhos,
  • 9:42 - 9:44
    mas, quando eu vir uma cena
    que sei estar errada,
  • 9:44 - 9:47
    terei uma conversa com eles a respeito.
  • 9:47 - 9:53
    Também continuo à procura de histórias
    que sejam melhores histórias de sedução.
  • 9:55 - 9:59
    Eu sei que, ao trocar
    as histórias que contamos,
  • 9:59 - 10:02
    podemos mudar como pensamos
    a respeito do consentimento,
  • 10:02 - 10:05
    e como agimos a respeito
    de consentimento sexual.
  • 10:05 - 10:06
    Obrigada.
  • 10:06 - 10:08
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Por que estamos confusos sobre consentimento – reescrevendo nossas histórias sobre sedução|Michele Meek| TEDxProvidence
Description:

Quando se trata de consentimento sexual, defendemos que "não significa não" e que "sim significa sim". Ainda assim as histórias de sedução que compartilhamos geralmente retratam "não" como "talvez" ou "tente com mais afinco". Nesta palestra, Michele Meek nos mostra como momentos que misturam coerção e consentimento frequentemente passam por nós despercebidos, e ainda assim são eles que nos ensinam e a nossos filhos sobre consentimento. Ela nos alerta a prestar atenção às histórias de sedução que partilhamos para que possamos então começar a reescrevê-las.

Dra. Michele Meek é uma escritora de Providence, cineasta e professora assistente em Estudos de Comunicação em Bridgewater State University. em suas publicações acadêmicas recentes, ela foca "quebra-cabeças de consentimento" ou representações ética e esteticamente ambíguas sobre consentimento sexual. Ela recentemente publicou uma compilação editada "Independent Female Filmmakers: A Chronicle through Interviews, Profiles, and Manifestos" (em tradução livre: mulheres cineastas Independentes: uma crônica através de entrevistas, perfis e manifestos), com Routledge. Ela escreveu e dirigiu vários filmes premiados, e também é fundadora da NewEnglandFilm.com.

Esta palestra for dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
10:16

Portuguese, Brazilian subtitles

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