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Estamos na igreja de Nossa
Senhora do Carmo
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na capela dentro da igreja,
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chamada de capela de Brancacci.
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é completamente pintada em afresco e têmpera.
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e no registro superior esquerdo,
há uma pintura de Masaccio.
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Na verdade, são duas pinturas.
Uma é a "Explusão do Paraíso"
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e, à sua direita, uma pintura maior,
"O Pagamento do Tributo".
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E a capela está cheia de pessoas aqui
para ver a obra-prima de Masaccio.
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Masaccio pintou algumas cenas aqui
da vida de São Pedro,
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mas o restante da capela foi pintada por
um de seus contemporâneos, Masolino.
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Mas é Masaccio que estamos aqui para ver.
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Falemos primeiro sobre
"O Pagamento do Tributo".
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É uma cena bem complicada. É uma história
do Novo Testamento que fala sobre Cristo
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sendo confrontado por um cobrador
de impostos
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que trabalha para Roma.
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O problema é que Cristo renunciou
todo tipo de posse,
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ele não tem dinheiro para pagar.
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Cristo e apóstolos não têm dinheiro
para pagar o cobrador
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que vemos aqui centro de laranja,
virado de costas para nós.
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E com uma saia curta, diferente das outras
figuras, que estão mais vestidas.
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E Cristo e os apóstolos têm auréolas,
e podemos identificar o cobrador
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porque ele não tem uma auréola.
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E ele está gesticulando, pedindo dinheiro.
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O cobrador está de pé em uma
adorável contraposição.
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Alguns historiadores da arte sugerem que
eles vinham de uma escultura romana.
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A contraposição poderia ser de Donatello.
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Com certeza.
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Cristo diz a São Pedro para pegar
o dinheiro para pagar o cobrador
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do Mar da Galileia, da
boca de um peixe.
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Então Cristo faz um milagre, os apóstolos
poderão pagar o cobrador
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porque o dinheiro aparecerá
na boca do peixe,
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que vemos São Pedro pegando
lá na esquerda,
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e depois lá na direita, vemos São Pedro
pagando o cobrador.
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Então temos três momentos diferentes.
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No Novo Testamento Cristo diz:
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"Dai, pois, a César o que é de César,
e a Deus o que é de Deus."
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Significando, se César cunhava esse
dinheiro - podemos devolvê-lo -
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não é importante. A alma é o que importa.
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Há um contexto florentino
bem específico para isso.
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O governo de Florença havia acabado
de iniciar um imposto
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chamado "Catasto", que era um
imposto no salário.
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Acredito que era visto pelos
florentinos como uma ideia
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de que Cristo estava permitindo esse
tipo de responsabilidade cívica.
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Estou realmente interessado em como
essa história é complicada,
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e em quão claramente Masaccio
pôde concebê-la
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Nosso olhar não vai primeiro
para a esquerda da cena,
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que é, provavelmente, onde começaríamos -
nós lemos da esquerda para a direita.
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Mas, ao invés disso, vai para Cristo no centro.
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Toda a atenção dos apóstolos e
do cobrador está em Cristo.
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Então nossos olhos vão para Cristo também.
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Cristo aponta para Pedro que aponta, quase
incrédulo, para o Mar da Galileia
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"Certo, você quer que eu pegue
o dinheiro de onde?"
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E isso move nossos olhos para a esquerda,
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onde vemos Pedro de novo.
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Podemos reconhecer Pedro, apesar de
seu rosto estar tão escondido.
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Ele tirou a vestimenta vermelha, para não
sujá-la ou molhá-la enquanto se ajoelha.
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Podemos vê-lo abrindo a boca do peixe.
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Eu adoro. É tão literal.
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É muito fofo.
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Masaccio também separa a cena da esquerda,
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então a lemos como uma cena separada.
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Porque ele pôs São Pedro lá no fundo.
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E realmente há um fundo.
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Isso foi conquistado de formas diferentes.
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Essa é uma perspectiva
atmosférica adorável
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que nos permite mover de
montanha para montanha,
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enquanto o céu enclaresse.
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Masaccio criou uma profunda
ilusão de espaço aqui.
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Então as figuras estão em uma
paisagem realmente crível.
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Não apenas a perspectiva atmosférica,
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mas a perspectiva linear está
empregada na direita.
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Podemos ver os ortogonais no prédio
de aparência clássica na direita.
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Na verdade, algumas vezes suspeitei
que o único motivo
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para sequer haver um
prédio nessa pintura,
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é porque Masaccio é tão interessado
na perspectiva linear.
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Este é um dos primeiros exemplares
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sobreviventes do empego da perspectiva
linear em uma pintura.
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E temos "Santíssima Trindade"
apenas um ano antes.
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A cabeça de Cristo é o ponto de fuga
em seu uso da perspectiva linear
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não apenas é toda a atenção dada a Cristo
por seus apóstolos,
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mas a estrutura da pintura
leva nossos olhos para lá.
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Então você olha para Cristo -
ele parece calmo.
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Você segue seus gestos para São Pedro
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e São Pedro parece agitado e irritado.
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Ele parece amuado, não parece?
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E descrente.
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E então você vê essa reunião circular
dos apóstolos em volta deles e você
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começa a registrar suas reações.
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Como se alguns estivessem dizendo
"O que acontecerá depois?"
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Apreensivos.
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Alguns deles parecendo
um pouco mais calmos.
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Mas em tudo isso, Cristo permanece central
e calmo nesse momento
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em que ele faz um milagre.
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É realmente um tipo de conversa.
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É toda a gesticulação para
contar a história.
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Realmente ativando a história.
Com certeza.
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Eu também adoro o contraste entre alguns apóstolos.
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Por exemplo, você está totalmente certa.
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Pedro parece irritado.
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E não está certo se deveria realmente estar
protegendo Cristo do cobrador ou não.
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Enquanto João, do lado dele, de cabelo
loiro, tem um rosto tão passivo.
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Muito calmo.
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Tão calmo que só consigo pensar
que Masaccio pôs
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estes rostos juntos para atingir
o máximo de contraste.
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Penso que não há dúvida.
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Quero dizer, Masaccio pensa em
todas as maneiras possíveis
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de fazer a imagem parecer real.
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E acredito que o espaço, para um
espectador do século XV,
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parecia incrivelmente realista.
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O uso de luz e sombra utilizando
a realização de Giotto
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no século anterior. E levando adiante,
dramaticamente.
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Para mim, o elemento que adiciona o maior
realismo são as sombras no chão.
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Sim, são incríveis.
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São tão críveis. Quero dizer, você realmente
tem um senso de que as figuras
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estão em uma paisagem. A luz
batendo neles da direita,
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que é, por sinal, a mesma direção
da real luz da capela.
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Há uma janela à direita.
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Acima do altar.
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Se seguir essas sombras de volta,
se olhar para o chão,
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elas te dão uma alternância
de luz e escuridão
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que ajuda a estabelecer
a frente e o fundo.
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Tenho que dizer que fui tomado
pela representação dos pés.
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Conversamos sobre o senso de massa
e volume nas figuras.
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Todas essas figuras parecem tão plantadas.
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Adoro seus pés.
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Estão tão ligados ao chão. Se você
olhar, por exemplo,
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para a esquerda do cobrador, você verá
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que o lado esquerdo do seu
tornozelo está na sombra,
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mas a parte da frente do seu pé
esquerdo está na luz solar.
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Masaccio dá muita atenção
à luz e à sombra.
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E olha para essas auréolas encurtadas
que Masaccio colocou
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para não ficarem como círculos
sem profundidade que...
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Elas estão encurtadas, assim como o rosto
de Pedro na esquerda da pintura.
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Certo, exceto que a auréola não é real.
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Em algum sentido, tirar esse símbolo
de espiritualidade e
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tratá-lo como se fosse sólido no mundo.
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É este momento do século XV quando as
tradições simbólicas da representação,
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que foram transmitidas do Medieval,
entram em contato
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com uma espécie de instalação naturalista
e um interesse no naturalismo.
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E você entende essas relações engraçadas.
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Então Masaccio está nos dando
uma obra-prima do
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ilusionismo, da ilusão do espaço,
da ilusão de volume.
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Para mim, as figuras são completamente
humanas em um sentido que penso
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em pinturas de Donatello ou San Michele.
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Elas têm profundidade psicológica.
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O que há na cultura florentina que permite
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este tipo de expressão tão humana?
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Este é um dos grandes centros do humanismo
que está voltando ao classicismo
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e certamente vemos de diferentes
maneiras diretas.
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Mas mais que isso, é este enobrecimento
da experiência humana
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que eu acho tão central à licença que
Masaccio está tomando aqui.
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Legendado por Raysa Valentim
Revisado por Pedro Mota Byrro