Katy Grannan em «São Francisco» – 9.ª Temporada - «Arte no Século XXI» | Art21
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0:00 - 0:03Tradução: Andreia Frazão
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0:03 - 0:07[Katy Grannan
em "Arte no Século XXI"] -
0:18 - 0:21[Música de cordas]
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0:36 - 0:39— Gosto de fazer o meu trabalho cá fora.
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0:39 - 0:42É algo que nunca deixa de me fascinar.
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0:49 - 0:52Creio que nunca conseguiria inventar
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0:52 - 0:56as coisas incríveis que acontecem.
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0:58 - 1:01Adoro ir a sítios ou viver experiências
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1:01 - 1:05que não estão completamente
sob o meu controlo. -
1:15 - 1:16— Melissa?
— Sim. -
1:16 - 1:18— Estou mesmo aqui.
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1:18 - 1:20— Tudo bem?
— Sim, como estás? -
1:20 - 1:21— Ótima.
— Que bom. -
1:22 - 1:24— Podes mover o...
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1:24 - 1:26Sim, move-o um pouco.
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1:26 - 1:28— Isto é da Revlon, sabias?
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1:28 - 1:32É o que se usava nos anos 50.
Chama-se... -
1:33 - 1:35— Espera, deixa-me ver.
[Som de esforço] -
1:35 - 1:39[A sussurar] Só um momento.
Vou só resolver aqui isto. -
1:40 - 1:42Desculpa, estavas a dizer?
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1:42 - 1:45— Isto é o que as estrelas de cinema
usavam nos anos 50. -
1:45 - 1:48Chama-se "Cerejas na Neve" da Revlon.
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1:48 - 1:50E eu uso-o, adoro-o.
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1:51 - 1:53Ainda o fazem!
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1:53 - 1:55— [Risos] Deixa-me ver.
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1:56 - 1:59[Grannan] Conheci a Melissa
quando estava a trabalhar em Hollywood, -
1:59 - 2:01a tirar fotografias.
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2:01 - 2:04Ela era — e é —
uma imitadora de Marilyn Monroe. -
2:05 - 2:07Onde estás?
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2:10 - 2:12OK, vou pôr-me aqui.
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2:12 - 2:15Conhecemo-nos há dez anos.
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2:15 - 2:18Que era da Marilyn estamos a filmar?
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2:18 - 2:21— A era do "Vamo-nos Amar".
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2:21 - 2:26— Tem sido um trabalho de improvisação,
filmamos o que ela quiser filmar. -
2:26 - 2:30E ficámos muito próximas.
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2:30 - 2:33Tem a ver com criarmos algo juntas.
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2:33 - 2:35— Segura o espelho aí.
Fica bem assim. -
2:35 - 2:39A ideia é apanhar os teus olhos aqui.
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2:41 - 2:43[Música estimulante]
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2:43 - 2:47Muitas vezes, a fotografia pode ser
um gesto de amor, de certo modo. -
2:49 - 2:51— Vai um pouco para a tua esquerda.
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2:51 - 2:54Mas também tem a ver com sermos vistos.
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3:09 - 3:12Sou de Arlington, em Massachusetts.
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3:12 - 3:15Fica a cerca de 15 minutos de Boston.
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3:16 - 3:19Acho que tinha oito anos
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3:19 - 3:22quando a minha avó me deu
uma máquina fotográfica. -
3:23 - 3:28Apaixonei-me imediatamente
pelo ato de observar o mundo. -
3:29 - 3:31[Música melancólica de guitarra elétrica]
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3:34 - 3:36Por isso, quando me mudei para o Oeste,
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3:36 - 3:39a primeira coisa que me chamou a atenção
foi a qualidade da luz. -
3:42 - 3:44Então, eu andava por aí.
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3:44 - 3:49Só me apetecia andar por aí
a explorar com uma câmara. -
3:57 - 4:01Nunca quis limitar-me a fotografar
pessoas apanhadas desprevenidas. -
4:02 - 4:04Sempre quis fotografar
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4:04 - 4:08pessoas interessadas em ser fotografadas.
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4:14 - 4:16A luz era brilhante
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4:16 - 4:19e iluminava tudo,
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4:19 - 4:22incluindo o incrível sofrimento
que aqui se vive. -
4:26 - 4:30Formalmente, interessava-me
um certo grau de abstração -
4:30 - 4:33que removesse tudo o que era supérfluo
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4:33 - 4:37e deixasse apenas
o que era absolutamente essencial. -
4:43 - 4:46Para mim, as fotos tornaram-se
uma espécie de álbum de família, -
4:46 - 4:50uma recordação de cada uma destas pessoas
e daquilo de que falámos. -
4:52 - 4:56Imagino-as sempre
como soldados dissidentes, -
4:56 - 4:59num momento em que exigiam atenção
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4:59 - 5:03e não se podia evitar olhar para elas.
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5:13 - 5:15[Buzina de comboio a tocar]
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5:21 - 5:24[Lâminas a balançar]
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5:25 - 5:27[Lâminas a balançar]
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5:27 - 5:30Penso que, muitas vezes,
pode haver a ideia -
5:30 - 5:33de que o artista é o autor,
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5:33 - 5:36quando, na verdade,
é um processo colaborativo -
5:36 - 5:39e as pessoas têm ideias muito fortes.
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5:40 - 5:43[Música ambiente]
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5:44 - 5:47Em especial, quando conheci a Nicole
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5:47 - 5:50e comecei a fotografá-la,
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5:50 - 5:54ela foi a modelo mais divertida
e mais desafiante com que já trabalhei. -
5:57 - 5:58A certa altura,
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5:58 - 6:01— já colaborávamos há algum tempo,
éramos muito próximas — -
6:01 - 6:03ela disse:
"Não sei... acho as tuas fotos -
6:03 - 6:07"um pouco esquisitas,
um pouco aborrecidas. -
6:07 - 6:09"Podemos tirar umas fotos a sério?"
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6:09 - 6:10E eu respondi:
"Bem, sim. -
6:12 - 6:16"Vou só fixar o plano,
faz o que quiseres." -
6:23 - 6:25Ela despiu-se
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6:25 - 6:28e, no fundo, imitou
aquelas poses provocantes, -
6:28 - 6:31mas depois aplicou-lhes
uma certa violência. -
6:33 - 6:38Havia um desejo de ter algum glamour,
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6:38 - 6:40sex appeal ou algo do género,
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6:40 - 6:43mas, ao mesmo tempo, ela rejeitava-o.
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6:43 - 6:44E eu pensei:
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6:44 - 6:48"Isto está mais próximo
do que eu sinto enquanto mulher." -
6:52 - 6:55Estamos a falar de algo bonito.
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6:55 - 6:59Isto é bonito, é cru, é generoso.
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7:01 - 7:05E o facto
de ela se permitir ser vulnerável -
7:05 - 7:07é, na verdade, uma força.
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7:13 - 7:16O material mais difícil atrai-me sempre.
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7:19 - 7:20A minha melhor amiga de infância
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7:21 - 7:24acabou por ter muitos problemas
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7:24 - 7:27com a toxicodependência e viveu na rua.
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7:28 - 7:31Da última vez que a vi viva, disse-me:
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7:32 - 7:36"As pessoas não querem olhar para mim.
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7:36 - 7:38"Eu sei que já não existo.
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7:38 - 7:41"As pessoas desviam os olhos.
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7:41 - 7:43"Já nem sequer sou uma pessoa,
sou uma drogada." -
7:46 - 7:49E, com o passar do tempo,
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7:50 - 7:53as pessoas que fotografei
ou os sítios que visitei -
7:53 - 7:56foram completamente ignorados.
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8:02 - 8:04Andava há muito tempo a pensar
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8:04 - 8:06em fazer um filme —
ou sobre como fazer um filme — -
8:07 - 8:11porque, de certo modo, as circunstâncias
da criação das minhas fotografias, -
8:11 - 8:16têm uma importância quase superior
— ou igual — às próprias fotos. -
8:16 - 8:18— O que tens no cabelo?
— No cabelo? -
8:18 - 8:21[Grannan] Tenho pensado muito
sobre como posso representar -
8:21 - 8:23ou transmitir a energia das pessoas,
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8:23 - 8:26o seu sentido de humor,
as suas histórias e tudo o mais. -
8:28 - 8:30As fotografias conseguem
fazer muita coisa. -
8:31 - 8:33Mas não conseguem fazer isso.
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8:35 - 8:38— ♪ Tomei más decisões ♪
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8:38 - 8:40♪ Na minha vida ♪
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8:40 - 8:42♪ Oh, oh ♪
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8:43 - 8:45♪ Mas as coisas podem melhorar ♪
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8:46 - 8:48— Este lugar é...
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8:48 - 8:50É realmente incrível, meu.
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8:51 - 8:53[Grannan] — "The Nine"
é o nome de uma rua. -
8:53 - 8:56É o nome local da South Ninth Street
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8:56 - 9:00em Central Valley, Modesto, Califórnia.
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9:02 - 9:05[Música ambiente]
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9:06 - 9:09Todos têm em comum
o facto de enfrentarem algo difícil. -
9:09 - 9:13E há uma franqueza e abertura
em relação a isso. -
9:13 - 9:15[Na TV] — É simplesmente antiquado.
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9:15 - 9:17— Ninguém diz que temos de gostar,
é como é. -
9:17 - 9:20Na "The Nine", conheci uma mulher
chamada Vanessa -
9:20 - 9:23que me foi apresentando a outras pessoas.
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9:24 - 9:28Perguntei-lhes se teriam interesse
em fazermos um filme em conjunto -
9:28 - 9:31e ficaram muito entusiasmados.
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9:32 - 9:35Passei muito tempo a conviver com eles,
a ver o que acontecia, -
9:35 - 9:39a conhecer as pessoas a fundo,
a ver o desenrolar dos acontecimentos. -
9:39 - 9:44[Música de guitarra acústica]
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9:44 - 9:47Não queria fazer um filme
que sensacionalizasse -
9:47 - 9:50vidas que já são bastante vitimizadas,
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9:50 - 9:54mas sim mostrar
como as suas vidas eram mundanas, -
9:54 - 9:58comuns e, de facto, reconhecíveis.
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10:01 - 10:03[Kiki] — A minha mãe costumava dizer
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10:04 - 10:06que os cabelos da minha cabeça
estavam todos contados. -
10:06 - 10:08[Grannan] — Quando conheci a Kiki,
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10:08 - 10:12era vital que ela contasse
a sua própria história. -
10:13 - 10:15[Kiki] — Ela disse:
"Não tenhas medo. -
10:16 - 10:19"Vales mais do que centenas de pardais."
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10:23 - 10:25Mas não sei.
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10:27 - 10:29Para mim, até um pardal é sagrado.
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10:35 - 10:38Vamos comer.
Venham lá, bebés! -
10:38 - 10:39[Conversa indistinta na TV]
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10:40 - 10:42[Grannan] — Não sou jornalista.
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10:42 - 10:45No meu entender,
estávamos a fazer um filme juntas. -
10:45 - 10:48[Música ambiente]
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10:50 - 10:52Trabalhei com ela durante cinco anos.
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10:52 - 10:54Passei muito tempo com a Kiki.
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10:55 - 10:57Ao mesmo tempo,
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10:58 - 11:01via-a a magoar-se a si própria.
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11:01 - 11:05E depois tinha o privilégio
de regressar à minha casa, em Berkeley. -
11:05 - 11:07O que quer isto dizer?
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11:07 - 11:09Tenho o direito de lá estar?
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11:14 - 11:18É difícil e levanta muitas questões.
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11:21 - 11:24Debato-me com a vontade de fazer mais.
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11:25 - 11:27Se calhar, sinto-me um pouco culpada
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11:27 - 11:30e, ao mesmo tempo,
dou muito valor às minhas amizades. -
11:32 - 11:33Não sei...
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11:33 - 11:36O facto é que é complicado,
não tem solução -
11:36 - 11:38e, no entanto, evitar isto
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11:39 - 11:41é tornarmo-nos cúmplices...
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11:44 - 11:46de não ver.
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11:46 - 11:50[Música entusiasmante]
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12:06 - 12:11— Foi por aqui que viemos da última vez?
— Sim, é o mesmo caminho. -
12:12 - 12:15Devíamos esperar pelo pôr do sol.
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12:15 - 12:18A dança é bastante curta.
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12:19 - 12:23[Grannan] — Neste momento,
estou mais ou menos no início outra vez. -
12:25 - 12:27E tenho imensas ideias.
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12:29 - 12:33Torturo-me porque tenho a sensação
de que nunca sei para onde estou a ir, -
12:33 - 12:35mas é isso que é necessário.
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12:35 - 12:37[Melissa] — Isto é fixe.
Gosto muito disto tudo. -
12:42 - 12:46[Grannan] — Tenho um padrão de relação
que se vai repetindo, -
12:47 - 12:51que tem a ver
com uma colaboração inesperada. -
12:53 - 12:54[A sussurrar] OK.
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12:54 - 12:56— Como fica?
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12:59 - 13:00— Fica tudo muito bonito.
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13:02 - 13:05Para mim, a parte mais importante
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13:05 - 13:07é provavelmente o salto de fé
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13:07 - 13:10que ambas damos
para confiarmos uma na outra. -
13:13 - 13:15A vida é muito mais interessante
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13:15 - 13:18do que ficar fechada no meu estúdio
ou na minha pequena bolha. -
13:20 - 13:22— Pois é, devíamos fazer
aquela coisa com os holofotes, sabes? -
13:22 - 13:24Com as luzes do carro.
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13:29 - 13:32Suponho que ando à procura de um abanão
que me arranque da complacência. -
13:32 - 13:36Acho que o desconforto
é um sentimento muito importante, -
13:36 - 13:39e pode ajudar-nos a reconhecer
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13:39 - 13:43algumas das nossas próprias limitações
em termos de como vemos o mundo. -
13:43 - 13:45Ou apenas o facto
de existirem outras possibilidades. -
13:45 - 13:48[Risos]
Desculpa, espera um pouco. -
13:55 - 13:58[Música ambiente etérea]
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13:58 - 14:02Para saber mais sobre a Art21
e os nossos recursos educativos, -
14:02 - 14:07visite-nos online em PBS.org/art21.
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14:11 - 14:14A nona temporada
da série "Arte no Século XXI" -
14:14 - 14:16está disponível em DVD.
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14:16 - 14:20Para encomendar, visite shop.PBS.org
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14:20 - 14:23ou ligue para 1-800-PLAY-PBS.
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14:24 - 14:28Este programa também está disponível
para transferência no iTunes.
- Title:
- Katy Grannan em «São Francisco» – 9.ª Temporada - «Arte no Século XXI» | Art21
- Description:
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A Art21 tem o prazer de apresentar um segmento de artista, com Katy Grannan, do episódio «Área da Baía de São Francisco» da 9.ª temporada da série «Arte no Século XXI».
O episódio «Área da Baía de São Francisco» estreou em setembro de 2018 na PBS. Pode vê-lo agora mesmo na PBS e na aplicação PBS Video: https://www.pbs.org/video/san-francisco-bay-area-myw92l/
Katy Grannan, uma fotógrafa e cineasta estabelecida em Berkeley, é fascinada pela vida de pessoas que descreve como «anónimas». Isto leva-a a desenvolver relações de longa duração com os habitantes de cidades e vilas do Oeste americano, o que dá a azo a belas e inquietantes fotografias. O presente segmento oferece uma visão geral da sua obra, desde o projeto de retratar os membros mais invisíveis da sociedade até à realização da sua primeira longa-metragem, «The Nine», e traça a dinâmica de colaboração, (por vezes, marcada por complicações) entre uma artista e as suas musas.
Katy Grannan nasceu em Arlington, Massachusetts, em 1969. Fotógrafa e cineasta, Grannan é fascinada pelas vidas das pessoas que descreve como «anónimas», que estão à margem da sociedade no Oeste americano. Grannan desenvolve relações de longa data com os habitantes transitórios, o que dá azo a retratos de uma beleza impressionante e inquietante.
Saiba mais sobre a artista em:
https://art21.org/artist/katy-grannan - Video Language:
- English
- Team:
Art21
- Project:
- "Art in the Twenty-First Century" broadcast series
- Duration:
- 14:44