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Katy Grannan em «São Francisco» – 9.ª Temporada - «Arte no Século XXI» | Art21

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    Tradução: Andreia Frazão
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    [Katy Grannan
    em "Arte no Século XXI"]
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    [Música de cordas]
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    — Gosto de fazer o meu trabalho cá fora.
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    É algo que nunca deixa de me fascinar.
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    Creio que nunca conseguiria inventar
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    as coisas incríveis que acontecem.
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    Adoro ir a sítios ou viver experiências
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    que não estão completamente
    sob o meu controlo.
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    — Melissa?
    — Sim.
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    — Estou mesmo aqui.
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    — Tudo bem?
    — Sim, como estás?
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    — Ótima.
    — Que bom.
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    — Podes mover o...
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    Sim, move-o um pouco.
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    — Isto é da Revlon, sabias?
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    É o que se usava nos anos 50.
    Chama-se...
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    — Espera, deixa-me ver.
    [Som de esforço]
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    [A sussurar] Só um momento.
    Vou só resolver aqui isto.
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    Desculpa, estavas a dizer?
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    — Isto é o que as estrelas de cinema
    usavam nos anos 50.
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    Chama-se "Cerejas na Neve" da Revlon.
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    E eu uso-o, adoro-o.
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    Ainda o fazem!
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    — [Risos] Deixa-me ver.
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    [Grannan] Conheci a Melissa
    quando estava a trabalhar em Hollywood,
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    a tirar fotografias.
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    Ela era — e é —
    uma imitadora de Marilyn Monroe.
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    Onde estás?
  • 2:10 - 2:12
    OK, vou pôr-me aqui.
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    Conhecemo-nos há dez anos.
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    Que era da Marilyn estamos a filmar?
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    — A era do "Vamo-nos Amar".
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    — Tem sido um trabalho de improvisação,
    filmamos o que ela quiser filmar.
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    E ficámos muito próximas.
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    Tem a ver com criarmos algo juntas.
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    — Segura o espelho aí.
    Fica bem assim.
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    A ideia é apanhar os teus olhos aqui.
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    [Música estimulante]
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    Muitas vezes, a fotografia pode ser
    um gesto de amor, de certo modo.
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    — Vai um pouco para a tua esquerda.
  • 2:51 - 2:54
    Mas também tem a ver com sermos vistos.
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    Sou de Arlington, em Massachusetts.
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    Fica a cerca de 15 minutos de Boston.
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    Acho que tinha oito anos
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    quando a minha avó me deu
    uma máquina fotográfica.
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    Apaixonei-me imediatamente
    pelo ato de observar o mundo.
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    [Música melancólica de guitarra elétrica]
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    Por isso, quando me mudei para o Oeste,
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    a primeira coisa que me chamou a atenção
    foi a qualidade da luz.
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    Então, eu andava por aí.
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    Só me apetecia andar por aí
    a explorar com uma câmara.
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    Nunca quis limitar-me a fotografar
    pessoas apanhadas desprevenidas.
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    Sempre quis fotografar
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    pessoas interessadas em ser fotografadas.
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    A luz era brilhante
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    e iluminava tudo,
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    incluindo o incrível sofrimento
    que aqui se vive.
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    Formalmente, interessava-me
    um certo grau de abstração
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    que removesse tudo o que era supérfluo
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    e deixasse apenas
    o que era absolutamente essencial.
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    Para mim, as fotos tornaram-se
    uma espécie de álbum de família,
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    uma recordação de cada uma destas pessoas
    e daquilo de que falámos.
  • 4:52 - 4:56
    Imagino-as sempre
    como soldados dissidentes,
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    num momento em que exigiam atenção
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    e não se podia evitar olhar para elas.
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    [Buzina de comboio a tocar]
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    [Lâminas a balançar]
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    [Lâminas a balançar]
  • 5:27 - 5:30
    Penso que, muitas vezes,
    pode haver a ideia
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    de que o artista é o autor,
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    quando, na verdade,
    é um processo colaborativo
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    e as pessoas têm ideias muito fortes.
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    [Música ambiente]
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    Em especial, quando conheci a Nicole
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    e comecei a fotografá-la,
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    ela foi a modelo mais divertida
    e mais desafiante com que já trabalhei.
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    A certa altura,
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    — já colaborávamos há algum tempo,
    éramos muito próximas —
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    ela disse:
    "Não sei... acho as tuas fotos
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    "um pouco esquisitas,
    um pouco aborrecidas.
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    "Podemos tirar umas fotos a sério?"
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    E eu respondi:
    "Bem, sim.
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    "Vou só fixar o plano,
    faz o que quiseres."
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    Ela despiu-se
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    e, no fundo, imitou
    aquelas poses provocantes,
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    mas depois aplicou-lhes
    uma certa violência.
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    Havia um desejo de ter algum glamour,
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    sex appeal ou algo do género,
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    mas, ao mesmo tempo, ela rejeitava-o.
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    E eu pensei:
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    "Isto está mais próximo
    do que eu sinto enquanto mulher."
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    Estamos a falar de algo bonito.
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    Isto é bonito, é cru, é generoso.
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    E o facto
    de ela se permitir ser vulnerável
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    é, na verdade, uma força.
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    O material mais difícil atrai-me sempre.
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    A minha melhor amiga de infância
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    acabou por ter muitos problemas
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    com a toxicodependência e viveu na rua.
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    Da última vez que a vi viva, disse-me:
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    "As pessoas não querem olhar para mim.
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    "Eu sei que já não existo.
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    "As pessoas desviam os olhos.
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    "Já nem sequer sou uma pessoa,
    sou uma drogada."
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    E, com o passar do tempo,
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    as pessoas que fotografei
    ou os sítios que visitei
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    foram completamente ignorados.
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    Andava há muito tempo a pensar
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    em fazer um filme —
    ou sobre como fazer um filme —
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    porque, de certo modo, as circunstâncias
    da criação das minhas fotografias,
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    têm uma importância quase superior
    — ou igual — às próprias fotos.
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    — O que tens no cabelo?
    — No cabelo?
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    [Grannan] Tenho pensado muito
    sobre como posso representar
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    ou transmitir a energia das pessoas,
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    o seu sentido de humor,
    as suas histórias e tudo o mais.
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    As fotografias conseguem
    fazer muita coisa.
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    Mas não conseguem fazer isso.
  • 8:35 - 8:38
    — ♪ Tomei más decisões ♪
  • 8:38 - 8:40
    ♪ Na minha vida ♪
  • 8:40 - 8:42
    ♪ Oh, oh ♪
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    ♪ Mas as coisas podem melhorar ♪
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    — Este lugar é...
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    É realmente incrível, meu.
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    [Grannan] — "The Nine"
    é o nome de uma rua.
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    É o nome local da South Ninth Street
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    em Central Valley, Modesto, Califórnia.
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    [Música ambiente]
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    Todos têm em comum
    o facto de enfrentarem algo difícil.
  • 9:09 - 9:13
    E há uma franqueza e abertura
    em relação a isso.
  • 9:13 - 9:15
    [Na TV] — É simplesmente antiquado.
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    — Ninguém diz que temos de gostar,
    é como é.
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    Na "The Nine", conheci uma mulher
    chamada Vanessa
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    que me foi apresentando a outras pessoas.
  • 9:24 - 9:28
    Perguntei-lhes se teriam interesse
    em fazermos um filme em conjunto
  • 9:28 - 9:31
    e ficaram muito entusiasmados.
  • 9:32 - 9:35
    Passei muito tempo a conviver com eles,
    a ver o que acontecia,
  • 9:35 - 9:39
    a conhecer as pessoas a fundo,
    a ver o desenrolar dos acontecimentos.
  • 9:39 - 9:44
    [Música de guitarra acústica]
  • 9:44 - 9:47
    Não queria fazer um filme
    que sensacionalizasse
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    vidas que já são bastante vitimizadas,
  • 9:50 - 9:54
    mas sim mostrar
    como as suas vidas eram mundanas,
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    comuns e, de facto, reconhecíveis.
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    [Kiki] — A minha mãe costumava dizer
  • 10:04 - 10:06
    que os cabelos da minha cabeça
    estavam todos contados.
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    [Grannan] — Quando conheci a Kiki,
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    era vital que ela contasse
    a sua própria história.
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    [Kiki] — Ela disse:
    "Não tenhas medo.
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    "Vales mais do que centenas de pardais."
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    Mas não sei.
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    Para mim, até um pardal é sagrado.
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    Vamos comer.
    Venham lá, bebés!
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    [Conversa indistinta na TV]
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    [Grannan] — Não sou jornalista.
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    No meu entender,
    estávamos a fazer um filme juntas.
  • 10:45 - 10:48
    [Música ambiente]
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    Trabalhei com ela durante cinco anos.
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    Passei muito tempo com a Kiki.
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    Ao mesmo tempo,
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    via-a a magoar-se a si própria.
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    E depois tinha o privilégio
    de regressar à minha casa, em Berkeley.
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    O que quer isto dizer?
  • 11:07 - 11:09
    Tenho o direito de lá estar?
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    É difícil e levanta muitas questões.
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    Debato-me com a vontade de fazer mais.
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    Se calhar, sinto-me um pouco culpada
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    e, ao mesmo tempo,
    dou muito valor às minhas amizades.
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    Não sei...
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    O facto é que é complicado,
    não tem solução
  • 11:36 - 11:38
    e, no entanto, evitar isto
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    é tornarmo-nos cúmplices...
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    de não ver.
  • 11:46 - 11:50
    [Música entusiasmante]
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    — Foi por aqui que viemos da última vez?
    — Sim, é o mesmo caminho.
  • 12:12 - 12:15
    Devíamos esperar pelo pôr do sol.
  • 12:15 - 12:18
    A dança é bastante curta.
  • 12:19 - 12:23
    [Grannan] — Neste momento,
    estou mais ou menos no início outra vez.
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    E tenho imensas ideias.
  • 12:29 - 12:33
    Torturo-me porque tenho a sensação
    de que nunca sei para onde estou a ir,
  • 12:33 - 12:35
    mas é isso que é necessário.
  • 12:35 - 12:37
    [Melissa] — Isto é fixe.
    Gosto muito disto tudo.
  • 12:42 - 12:46
    [Grannan] — Tenho um padrão de relação
    que se vai repetindo,
  • 12:47 - 12:51
    que tem a ver
    com uma colaboração inesperada.
  • 12:53 - 12:54
    [A sussurrar] OK.
  • 12:54 - 12:56
    — Como fica?
  • 12:59 - 13:00
    — Fica tudo muito bonito.
  • 13:02 - 13:05
    Para mim, a parte mais importante
  • 13:05 - 13:07
    é provavelmente o salto de fé
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    que ambas damos
    para confiarmos uma na outra.
  • 13:13 - 13:15
    A vida é muito mais interessante
  • 13:15 - 13:18
    do que ficar fechada no meu estúdio
    ou na minha pequena bolha.
  • 13:20 - 13:22
    — Pois é, devíamos fazer
    aquela coisa com os holofotes, sabes?
  • 13:22 - 13:24
    Com as luzes do carro.
  • 13:29 - 13:32
    Suponho que ando à procura de um abanão
    que me arranque da complacência.
  • 13:32 - 13:36
    Acho que o desconforto
    é um sentimento muito importante,
  • 13:36 - 13:39
    e pode ajudar-nos a reconhecer
  • 13:39 - 13:43
    algumas das nossas próprias limitações
    em termos de como vemos o mundo.
  • 13:43 - 13:45
    Ou apenas o facto
    de existirem outras possibilidades.
  • 13:45 - 13:48
    [Risos]
    Desculpa, espera um pouco.
  • 13:55 - 13:58
    [Música ambiente etérea]
  • 13:58 - 14:02
    Para saber mais sobre a Art21
    e os nossos recursos educativos,
  • 14:02 - 14:07
    visite-nos online em PBS.org/art21.
  • 14:11 - 14:14
    A nona temporada
    da série "Arte no Século XXI"
  • 14:14 - 14:16
    está disponível em DVD.
  • 14:16 - 14:20
    Para encomendar, visite shop.PBS.org
  • 14:20 - 14:23
    ou ligue para 1-800-PLAY-PBS.
  • 14:24 - 14:28
    Este programa também está disponível
    para transferência no iTunes.
Title:
Katy Grannan em «São Francisco» – 9.ª Temporada - «Arte no Século XXI» | Art21
Description:

A Art21 tem o prazer de apresentar um segmento de artista, com Katy Grannan, do episódio «Área da Baía de São Francisco» da 9.ª temporada da série «Arte no Século XXI».

O episódio «Área da Baía de São Francisco» estreou em setembro de 2018 na PBS. Pode vê-lo agora mesmo na PBS e na aplicação PBS Video: https://www.pbs.org/video/san-francisco-bay-area-myw92l/

Katy Grannan, uma fotógrafa e cineasta estabelecida em Berkeley, é fascinada pela vida de pessoas que descreve como «anónimas». Isto leva-a a desenvolver relações de longa duração com os habitantes de cidades e vilas do Oeste americano, o que dá a azo a belas e inquietantes fotografias. O presente segmento oferece uma visão geral da sua obra, desde o projeto de retratar os membros mais invisíveis da sociedade até à realização da sua primeira longa-metragem, «The Nine», e traça a dinâmica de colaboração, (por vezes, marcada por complicações) entre uma artista e as suas musas.

Katy Grannan nasceu em Arlington, Massachusetts, em 1969. Fotógrafa e cineasta, Grannan é fascinada pelas vidas das pessoas que descreve como «anónimas», que estão à margem da sociedade no Oeste americano. Grannan desenvolve relações de longa data com os habitantes transitórios, o que dá azo a retratos de uma beleza impressionante e inquietante.

Saiba mais sobre a artista em:
https://art21.org/artist/katy-grannan

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Video Language:
English
Team:
Art21
Project:
"Art in the Twenty-First Century" broadcast series
Duration:
14:44

Portuguese subtitles

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