-
Então, não podes reduzir algo
a nada.
-
Uma folha de papel, tal como uma nuvem,
nunca pode morrer.
-
Ela pode apenas ser transformada
noutras formas.
-
E é por isso que
a verdadeira natureza da chama,
-
a verdadeira natureza do papel,
a verdadeira natureza da nuvem
-
é a natureza do não vir, não ir,
não-nascimento, não-morte.
-
Olha para este pequeno pedaço de papel.
-
E olha com concentração.
-
Quando olho profundamente
para esta folha de papel,
-
consigo ver
-
uma nuvem a flutuar nela.
-
Não precisas de ser poeta
-
para ver uma nuvem
num pedaço de papel.
-
Sabemos muito bem que
-
se não houvesse nuvem,
não haveria chuva.
-
E as árvores não poderiam crescer.
-
E sem as árvores,
não se pode
-
fazer a pasta para o papel.
-
Então, realmente, a nuvem está aqui.
-
Está dentro do papel.
-
O papel é feito de elementos que não são papel.
-
E a água, a nuvem,
é um desses elementos não-papel.
-
Consegues ver a chuva.
-
Consegues ver a floresta, as árvores.
-
Com os olhos
de um praticante de meditação,
-
consegues ver coisas
que outras pessoas não conseguem ver.
-
Quando toco na folha de papel,
toco na floresta, toco nas árvores.
-
Se removeres a floresta, se removeres
as árvores da folha de papel,
-
a folha de papel
não pode estar aqui para ti.
-
Então eu toco na nuvem.
-
Eu toco nas árvores.
-
E sabes que
-
a árvore carrega a terra.
-
Sem a terra e
os minerais por baixo,
-
as árvores não podem crescer.
-
Portanto, quando toco no papel,
toco na terra, toco nos minerais.
-
Eles estão todos aqui.
-
E quando toco na folha de papel,
toco no sol.
-
Sem o sol, nenhuma árvore pode crescer.
-
Consigo tocar no sol
sem queimar o meu dedo.
-
É por isso que
-
vemos que
-
tudo pode ser encontrado, pode ser tocado
numa folha de papel.
-
E agora, pergunto sobre
a vinda da folha de papel.
-
Descobrimos a mesma coisa?
-
O papel não veio de lado nenhum.
-
Ele apenas se manifesta
na forma de uma folha de papel.
-
E antes de tomar a forma
de uma folha de papel,
-
foi outras coisas,
como as árvores, a nuvem, o sol.
-
Isto é apenas uma continuação,
não uma criação.
-
Criar significa que, a partir do nada,
algo se torna algo.
-
De ninguém, de repente,
torna-se alguém.
-
Mas este não é o caso.
-
O papel não veio do nada.
-
Ele veio das árvores,
do sol, da nuvem,
-
da terra,
do trabalhador na fábrica.
-
Então, a natureza da folha de papel
é a natureza do não-nascimento.
-
Nascer.
-
Pensamos que nascer significa,
do nada, de repente, tornar-se algo.
-
Do não-ser, tornar-se ser.
-
De ninguém, tornar-se alguém.
-
Isso significa "nascer".
-
Isso significa nascimento.
-
Mas olhando profundamente, vemos que
-
antes de tomar a forma
de uma folha de papel,
-
a folha de papel
-
tinha sido outra coisa.
-
E podes apontar para as árvores,
e as árvores podem ser vistas aqui.
-
'Querido Thay, querida sangha,
na minha vida passada, fui uma árvore.
-
Fui uma nuvem.'
-
Ali, podemos acreditar na folha de papel.
-
Ela está a dizer-nos a verdade.
-
A verdadeira natureza da folha de papel
-
é a natureza do não vir, não-nascimento.
-
E isso também é verdade para a chama.
-
Tu –
-
E se a folha de papel
nunca nasceu,
-
porque o momento que acreditamos
ser o momento do nascimento
-
é apenas um momento de continuação.
-
É como uma nuvem.
-
Quando ela
-
se torna chuva,
-
isso não é um momento de morte.
-
É apenas um momento de continuação.
-
Porque morrer,
na nossa mente, significa
-
passar de algo a nada.
-
Tornas-te um não-coisa.
-
De alguém,
de repente, tornas-te ninguém.
-
É impossível para uma nuvem morrer.
-
Não podes reduzir uma nuvem a nada.
-
Uma nuvem pode apenas transformar-se
em chuva,
-
neve, granizo, gelo.
-
Mas é impossível que uma nuvem morra,
que se torne nada.
-
Portanto, a verdadeira natureza de uma nuvem
-
é não-morte.
-
Não vir, não ir,
não-nascimento, não-morte.
-
A folha de papel é assim também.
-
Mesmo que eu queime a folha de papel,
-
não posso reduzi-la ao nada.
-
Se observares
-
a queima de uma folha de papel,
-
posso pedir à chama que o faça,
mas somos suficientemente poderosos
-
para ver sem…
-
a forma.
-
No processo de queima,
-
podemos ver a manifestação do calor.
-
Tem cuidado! Queimas o teu dedo.
-
E o calor penetra no Thay,
em todos vós, no cosmos.
-
Essa é a continuação do papel.
-
O fim de uma forma de manifestação
é, ao mesmo tempo,
-
o início de
outras formas de manifestação.
-
E porque o observas
com toda a tua concentração,
-
vês o fumo a subir.
-
Mais uma vez, o fumo a subir
é uma nova continuação da folha de papel.
-
E então, podemos olhar para cima e dizer:
-
'Até à próxima, folha de papel!
Vemo-nos em breve!'
-
Porque a folha de papel
agora está na sua nova forma,
-
fumo.
-
Irá juntar-se a uma nuvem.
-
E amanhã podemos encontrá-la novamente
sob a forma de uma gota de chuva.
-
Aqui mesmo, na nossa testa.
-
Temos de reconhecer
-
a folha de papel
na sua nova manifestação.
-
O calor que agora está em nós,
-
que agora está no cosmos.
-
O fumo que agora está no céu.
-
E talvez amanhã,
na nossa chávena de chá.
-
Isso é o que os praticantes
de meditação podem ver.
-
E então,
-
restam algumas cinzas.
-
E um noviço pode
-
colocar as cinzas de volta na terra.
-
E talvez, daqui a alguns anos,
-
tenhamos outro retiro em Stonehill.
-
E vemos uma folha de erva,
que é a continuação das cinzas.
-
Portanto, não podes reduzir algo
a nada.
-
Uma folha de papel, tal como uma nuvem,
nunca pode morrer.
-
Ela pode apenas ser transformada
-
noutras formas.
-
É por isso que a verdadeira natureza da chama,
a verdadeira natureza do papel,
-
a verdadeira natureza da nuvem
é a natureza do não vir, não ir,
-
não-nascimento, não-morte.
-
Não-nascimento, não-morte.
-
[Se removeres a floresta,
-
se removeres as árvores
da folha de papel,
-
a folha de papel
não pode estar aqui para ti.
-
Thich Nhat Hanh]