Como os telemóveis ajudaram a resolver dois homicídios
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0:00 - 0:05Venho falar de uma nova forma
de fazer jornalismo. -
0:05 - 0:08Há quem lhe chame
"jornalismo de cidadãos", -
0:08 - 0:10há quem lhe chame
"jornalismo de colaboração". -
0:10 - 0:15Mas significa o seguinte:
para os jornalistas, pessoas como eu, -
0:16 - 0:19significa reconhecer
que não podemos saber tudo, -
0:19 - 0:21e permitir que outras pessoas,
através da tecnologia, -
0:21 - 0:24sejam os nossos olhos e os nossos ouvidos.
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0:24 - 0:28E para pessoas como vocês,
toda a gente do público, -
0:28 - 0:31pode significar não ser apenas
um consumidor passivo das notícias, -
0:31 - 0:33mas também ajudar a produzir notícias.
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0:33 - 0:36Acredito que isto pode ser um processo
verdadeiramente fortalecedor. -
0:37 - 0:42Pode permitir que pessoas comuns
peçam contas às empresas poderosas. -
0:42 - 0:46Assim, vou explicar isto hoje,
com dois casos, -
0:46 - 0:48duas histórias que eu investiguei.
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0:48 - 0:51Ambas implicam mortes polémicas.
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0:51 - 0:56Em ambos casos, as autoridades emitiram
uma versão oficial dos acontecimentos -
0:56 - 0:58que, de certa forma, era equívoca.
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0:59 - 1:03Contámos uma verdade alternativa,
utilizando as novas tecnologias, -
1:03 - 1:06utilizando as redes sociais,
em especial o Twitter. -
1:06 - 1:10Essencialmente, estou a falar aqui,
como disse, do jornalismo de cidadãos. -
1:10 - 1:12Bem, vejamos o primeiro caso.
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1:12 - 1:15Este é Ian Tomlinson,
o homem em primeiro plano. -
1:15 - 1:18Era vendedor de jornais em Londres.
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1:18 - 1:25No dia 1 de abril de 2009, morreu
na manifestação do G20 em Londres. -
1:25 - 1:27Ele não era um dos manifestantes,
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1:27 - 1:30estava a tentar voltar
para casa, depois do trabalho, -
1:30 - 1:31pelo meio da manifestação.
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1:31 - 1:33Mas não chegou a casa.
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1:33 - 1:35Teve um encontro
com aquele homem atrás dele, -
1:35 - 1:39Como podem ver, o homem atrás dele
tinha a cara tapada com uma balaclava. -
1:39 - 1:42Não exibia nenhuma insígnia
com o seu número. -
1:42 - 1:45Mas posso dizer-vos agora,
que era o agente Simon Harwood, -
1:45 - 1:48um agente da polícia do Corpo da
Polícia Metropolitana de Londres. -
1:48 - 1:51e pertencia ao grupo
de apoio territorial de elite. -
1:52 - 1:57Momentos depois desta fotografia,
Harwood atingiu Tomlinson com um bastão -
1:57 - 1:59e atirou-o para o chão.
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1:59 - 2:02Tomlinson morreu momentos depois.
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2:03 - 2:06Mas essa não era a história que
a polícia queria que contássemos. -
2:06 - 2:09Inicialmente, as declaraçōes oficiais
e as informaçōes extraoficiais, -
2:09 - 2:13disseram que Ian Tomlinson
morrera de causas naturais. -
2:14 - 2:17Disseram que não tinha havido
qualquer contacto com a polícia, -
2:17 - 2:20que não tinha quaisquer marcas no corpo.
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2:20 - 2:23Disseram mesmo que,
quando a polícia tentara reanimá-lo, -
2:23 - 2:26os médicos da polícia
tinham sido impedidos de fazê-lo -
2:26 - 2:29porque os manifestantes
estavam a atirar projéteis, -
2:29 - 2:32provavelmente garrafas, à polícia.
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2:32 - 2:34O resultado disso
eram histórias como esta. -
2:35 - 2:37Mostro-vos este diapositivo
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2:37 - 2:40porque este era o jornal
que Ian Tomlinson vendera -
2:40 - 2:42durante 20 anos da sua vida.
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2:42 - 2:45Se alguma agência de notícias
tinha a obrigação -
2:45 - 2:47de analisar corretamente
o que se tinha passado -
2:47 - 2:49era o jornal Evening Standard.
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2:49 - 2:53Mas eles, tal como toda a gente
— incluindo a minha agência de notícias — -
2:53 - 2:56foram induzidos em erro pela versão
oficial divulgada pela polícia. -
2:56 - 3:00Mas vemos aqui que as garrafas
que tinham sido atiradas à polícia, -
3:00 - 3:01se transformaram em tijolos
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3:01 - 3:04no momento em que chegaram
a esta edição do jornal. -
3:05 - 3:06Ficámos desconfiados
-
3:06 - 3:08e quisemos ver se havia
mais coisas nesta história. -
3:08 - 3:11Tínhamos que encontrar os
manifestantes que ali vemos, -
3:11 - 3:14mas, claro, eles já tinham desaparecido
quando começámos a investigar. -
3:14 - 3:16Como encontrar as testemunhas?
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3:16 - 3:18Foi aí que isto começou
a ficar interessante. -
3:18 - 3:19Recorremos à Internet.
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3:20 - 3:22Isto é o Twitter.
Já ouviram falar dele hoje. -
3:22 - 3:25Quando comecei a investigar este caso,
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3:25 - 3:28eu era completamente novo nisto;
tinha-me registado dois dias antes. -
3:28 - 3:31Descobri que o Twitter
era uma página de microblogues. -
3:31 - 3:35Permitia-me enviar pequenas mensagens,
de 140 caracteres. -
3:35 - 3:38Também era uma fantástica
plataforma de pesquisa. -
3:38 - 3:42Mas era uma arena social
em que se reuniam outras pessoas -
3:43 - 3:44com um motivo em comum.
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3:44 - 3:47Neste caso, para além dos jornalistas,
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3:47 - 3:52as pessoas interrogavam-se sobre
o que tinha acontecido a Ian Tomlinson -
3:52 - 3:55nos seus últimos 30 minutos de vida.
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3:57 - 3:59Indivíduos como estes dois rapazes.
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3:59 - 4:03Tinham corrido em auxílio
de Ian Tomlinson, quando ele caiu. -
4:03 - 4:05Chamaram a ambulância.
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4:05 - 4:08Não viram nenhuma garrafa,
não viram nenhum tijolo. -
4:09 - 4:12Ficaram preocupados
porque as histórias não eram tão exatas -
4:12 - 4:14quanto a polícia afirmava.
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4:14 - 4:17Através das redes sociais,
começámos a encontrar pessoas -
4:17 - 4:20com material como este:
fotografias, provas. -
4:21 - 4:24Isto não mostra o ataque
a Ian Tomlinson, -
4:24 - 4:26mas ele parece estar
com uma certa aflição. -
4:27 - 4:29Estaria embriagado? Cairia sozinho?
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4:29 - 4:32Isto terá tido alguma coisa a ver
com os polícias ao pé dele? -
4:32 - 4:34Aqui, parece que está a falar com eles.
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4:34 - 4:39Para nós isto era suficiente para
investigar mais, para aprofundar. -
4:41 - 4:44O resultado foi publicarmos as histórias.
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4:45 - 4:47Uma das coisas mais incríveis na Internet
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4:47 - 4:50é que as informações
que as pessoas publicam -
4:50 - 4:52estão disponíveis gratuitamente
a toda a gente. -
4:52 - 4:54Isto não se aplica só
a cidadãos jornalistas -
4:54 - 4:57ou a pessoas que publicam mensagens
no Facebook ou no Twitter. -
4:57 - 5:00Isto aplica-se aos próprios jornalistas,
pessoas como eu. -
5:00 - 5:03Se as nossas notícias estiverem
no lado certo de um "paywall", -
5:03 - 5:06isto é, sejam gratuitas,
qualquer um pode ter-lhes acesso. -
5:06 - 5:07E histórias como estas,
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5:07 - 5:10que questionavam
a versão oficial dos acontecimentos, -
5:10 - 5:11e que tinham um tom de ceticismo,
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5:11 - 5:15permitiram que as pessoas se dessem
conta que nós também tínhamos dúvidas. -
5:15 - 5:17Eram como ímanes "online".
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5:17 - 5:20Pessoas com material que nos podia
ajudar foram atraídas por nós -
5:20 - 5:23por um qualquer tipo
de força gravitacional. -
5:24 - 5:28Passados seis dias, tínhamos conseguido
localizar cerca de 20 testemunhas. -
5:29 - 5:31Marcámos-las aqui no mapa.
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5:31 - 5:33Este é o local da morte de Ian Tomlinson,
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5:33 - 5:35o Banco de Inglaterra em Londres.
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5:35 - 5:37Para cada uma destas testemunhas
que marcámos no mapa -
5:38 - 5:40vocês podiam clicar nestes pontinhos,
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5:40 - 5:43e ouviriam o que eles tinham a dizer,
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5:43 - 5:44veriam as imagens fotográficas
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5:44 - 5:47e, por vezes, veriam também
as suas imagens de vídeo. -
5:48 - 5:50Mesmo assim, nesta altura,
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5:50 - 5:53com testemunhas a dizer-nos que tinham
visto a polícia atacar Ian Tomlinson -
5:53 - 5:55antes da sua morte,
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5:55 - 5:58mesmo assim, a polícia
recusou-se a aceitá-lo. -
5:58 - 6:01Não houve investigação
oficial à morte dele. -
6:02 - 6:04Mas, de repente, algo mudou.
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6:04 - 6:08Recebi um "email" de um gestor de fundos
de investimento em Nova Iorque. -
6:08 - 6:12No dia da morte de Ian Tomlinson,
ele estava em Londres em negócios, -
6:12 - 6:15tinha levado uma câmara digital
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6:15 - 6:17e tinha gravado isto.
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6:22 - 6:25Esta é a multidão na manifestação do G20
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6:25 - 6:27no dia 1 de abril, cerca das 19h20m,
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6:28 - 6:30em Cornhill, por detrás
do Banco de Inglaterra. -
6:30 - 6:33Esta gravação servirá de base
à investigação policial -
6:33 - 6:35sobre a morte deste homem.
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6:35 - 6:37Ian Tomlinson caminhava por esta área,
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6:37 - 6:40tentando chegar a casa depois do trabalho.
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6:40 - 6:42(Ruído dos manifestantes)
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6:55 - 6:58Abrandámos a velocidade
da gravação, para mostrar -
6:58 - 7:00as sérias dúvidas
quanto à conduta da polícia. -
7:00 - 7:03Ian Tomlinson estava de costas
para os agentes, alguns deles com cães -
7:03 - 7:05e estava a afastar-se deles.
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7:05 - 7:07Tinha as mãos nos bolsos.
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7:07 - 7:10Aqui o agente parece bater nas pernas
de Tomlinson com um bastão. -
7:11 - 7:13Depois, ataca Tomlinson pelas costas,
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7:15 - 7:18Tomlinson é empurrado para a frente
e cai no chão. -
7:24 - 7:26(Ruído dos manifestantes)
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7:33 - 7:34Ok. São cenas chocantes.
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7:35 - 7:36Aquele vídeo não está muito bom,
-
7:36 - 7:39mas lembro-me que, quando vi
o vídeo pela primeira vez, -
7:39 - 7:42eu tinha estado em contacto
com este gestor de Nova Iorque, -
7:42 - 7:44e tinha ficado obcecado com esta história.
-
7:44 - 7:48Eu tinha falado com muita gente
que dizia que tinha visto aquilo -
7:48 - 7:51e o homem do outro lado da linha
estava a dizer-me: -
7:51 - 7:52"Veja, o vídeo mostra tudo."
-
7:52 - 7:55Eu nem queria acreditar
até que o vi com os meus olhos. -
7:55 - 7:57Eram duas da manhã,
eu estava com um informático, -
7:57 - 7:59o vídeo nunca mais chegava.
-
7:59 - 8:01Por fim, chegou e eu cliquei nele.
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8:01 - 8:04E percebi: De facto, isto é uma coisa
muito significativa. -
8:04 - 8:07Quinze horas depois,
publicámo-lo na nossa página "web". -
8:07 - 8:09A polícia — agentes
superiores da polícia — -
8:09 - 8:11foi imediatamente ao nosso escritório
-
8:11 - 8:13e pediram para retirarmos o vídeo.
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8:13 - 8:14Dissemos que não.
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8:14 - 8:16Aliás, seria tarde demais,
-
8:16 - 8:18porque já tinha sido visto
no mundo inteiro. -
8:18 - 8:20Ao fim de dois dias,
o agente naquele filme -
8:21 - 8:23compareceu perante um júri
de inquérito em Londres -
8:23 - 8:27que concluiu que Ian Tomlinson
tinha sido morto ilegalmente. -
8:27 - 8:29Este é o primeiro caso,
mas eu falei em dois casos. -
8:29 - 8:31O segundo caso é este homem.
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8:31 - 8:35Tal como Ian Tomlinson,
era pai, vivia em Londres. -
8:35 - 8:38Era um político refugiado de Angola.
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8:39 - 8:41Há seis meses, o governo
britânico decidiu -
8:41 - 8:44que iam repatriá-lo para Angola.
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8:44 - 8:46Consideraram-no um falso
pedido de asilo. -
8:46 - 8:49Reservaram-lhe lugar num avião,
num voo de Heathrow. -
8:50 - 8:54A versão oficial dos acontecimentos,
a explicação oficial -
8:54 - 8:55sobre a morte de Jimmy Mubenga
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8:55 - 8:57foi que ele tinha adoecido.
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8:58 - 9:01Sentira-se mal durante o voo,
o avião regressara a Heathrow -
9:01 - 9:04e ele tinha sido transferido
para o hospital e declarado morto. -
9:04 - 9:06O que aconteceu a Jimmy Mubenga,
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9:06 - 9:09a história que pudemos contar,
o meu colega Mathew Taylor e eu, -
9:09 - 9:13foi que os guardas de segurança
tentaram mantê-lo no lugar -
9:13 - 9:15quando ele estava a resistir
à deportação. -
9:15 - 9:17Tentaram mantê-lo no lugar.
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9:17 - 9:20Imobilizaram-no da forma perigosa
-
9:21 - 9:24que mantém os detidos calados
— ele estava a fazer muito barulho — -
9:24 - 9:27mas também pode causar
asfixia posicional, -
9:27 - 9:28uma forma de sufocação.
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9:28 - 9:30Precisamos de imaginar:
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9:30 - 9:33Havia outros passageiros no avião
que o ouviam dizer: -
9:33 - 9:35"Não consigo respirar!
Estão a matar-me!" -
9:35 - 9:37Depois, deixou de respirar.
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9:37 - 9:39Como encontrar esses passageiros?
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9:39 - 9:42No caso de Ian Tomlinson,
as testemunhas ainda estavam em Londres. -
9:42 - 9:45Mas muitos destes passageiros
tinham regressado a Angola. -
9:45 - 9:46Como havíamos de os encontrar?
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9:46 - 9:48Voltámos a recorrer à Internet.
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9:48 - 9:51Como já disse, escrevemos histórias
que são como ímanes "online". -
9:51 - 9:53Os professores de jornalismo
franzem o sobrolho -
9:54 - 9:56com o tom destas histórias
porque eles são céticos, -
9:56 - 9:58Acham que fazemos perguntas,
especulativas, -
9:58 - 10:01ou o tipo de coisas
que os jornalistas não deviam fazer. -
10:01 - 10:04Mas tínhamos que usar também o Twitter.
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10:04 - 10:06Aqui estou a dizer que um angolano
morre num voo. -
10:06 - 10:09Esta história pode ser importante,
um nível de especulação. -
10:09 - 10:11O "tweet" seguinte diz:
"Por favor, RT". -
10:11 - 10:15Significa "por favor, partilhem",
ou seja, transmitam pela cadeia. -
10:15 - 10:18Uma das coisas fascinantes no Twitter
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10:18 - 10:20é que o padrão do fluxo de informações
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10:20 - 10:23é diferente de tudo o que conhecemos.
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10:23 - 10:24Não o percebemos muito bem,
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10:24 - 10:26mas, depois de publicarmos
uma informaçao, -
10:26 - 10:28ela viaja à velocidade do vento.
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10:28 - 10:30Não podemos determinar onde vai parar.
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10:31 - 10:33Curiosamente,
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10:33 - 10:36os "tweets" têm a capacidade excecional
de chegar ao destino pretendido. -
10:36 - 10:40Neste caso, foi este homem que diz:
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10:40 - 10:44"Eu também ia no BA77"
— era o número do voo — -
10:44 - 10:46"O homem estava a implorar ajuda
-
10:46 - 10:48"e agora sinto-me culpado
por não ter feito nada". -
10:48 - 10:49Era o Michael.
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10:50 - 10:54Estava num campo de petróleo
angolano quando me enviou este "tweet". -
10:54 - 10:56Eu estava no meu escritório em Londres.
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10:56 - 10:59Ele tinha ficado preocupado
com o que acontecera no voo. -
11:00 - 11:02Tinha ido ao computador,
pesquisara o número do voo -
11:02 - 11:06e encontrara o meu "tweet",
encontrara as nossas histórias. -
11:06 - 11:11Percebera que pretendíamos contar
uma versão diferente dos acontecimentos, -
11:11 - 11:13que estávamos céticos.
-
11:13 - 11:14E contactou-me.
-
11:15 - 11:16O Michael disse-me isto:
-
11:16 - 11:17(Áudio)
-
11:17 - 11:20Estou perfeitamente convencido
que acabou por ser asfixiado. -
11:20 - 11:24A última coisa que o ouvimos dizer
foi que não conseguia respirar. -
11:25 - 11:28Havia três guardas de segurança.
-
11:28 - 11:32Cada um deles parecia ter
mais de 100 kg, -
11:32 - 11:36em cima dele, a mantê-lo quieto
— por aquilo que eu pude ver -
11:36 - 11:37por baixo dos bancos.
-
11:37 - 11:42O que pude ver foram os três homens
a empurrá-lo para debaixo dos bancos. -
11:42 - 11:45Só via a cabeça dele
acima dos bancos -
11:45 - 11:48e estava a gritar: "Socorro!"
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11:49 - 11:52Só dizia: "Socorro! Ajudem-me!"
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11:52 - 11:55Depois, desapareceu debaixo dos bancos.
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11:57 - 12:00Podíamos ver os três seguranças
sentados em cima dele. -
12:01 - 12:03Durante o resto da minha vida
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12:03 - 12:06vou ter sempre esta imagem
na cabeça. -
12:07 - 12:08Teria podido fazer qualquer coisa?
-
12:09 - 12:12Isto vai perseguir-me sempre
que me deitar para dormir. -
12:12 - 12:14Não me intrometi
-
12:14 - 12:17com medo de ser expulso
do voo e perder o emprego. -
12:18 - 12:22Se são precisos três homens
para dominar um homem, -
12:22 - 12:24metê-lo num avião,
-
12:24 - 12:26cheio de pessoas,
-
12:27 - 12:29isso é excessivo, não acha?
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12:30 - 12:32Se o homem morreu,
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12:33 - 12:36claro que era excessivo.
-
12:38 - 12:41Esta era a interpretação dele
do que tinha acontecido no avião. -
12:41 - 12:44O Michael foi uma das muitas testemunhas
-
12:44 - 12:46que acabámos por descobrir,
-
12:46 - 12:51na maioria através da Internet,
através das redes sociais. -
12:51 - 12:53Podemos colocá-las no avião,
-
12:53 - 12:55para vermos onde estavam sentadas.
-
12:55 - 12:57Devo dizer, nesta altura,
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12:57 - 12:59que uma dimensão importante
em tudo isto, -
12:59 - 13:02para os jornalistas que utilizam
as redes sociais -
13:02 - 13:04e que utilizam o jornalismo de cidadãos
-
13:04 - 13:06é garantir que obtemos factos corretos.
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13:06 - 13:08A verificação é indispensável.
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13:09 - 13:11No caso das testemunhas
de Ian Tomlinson, -
13:11 - 13:14eu fi-las regressar ao local da morte
-
13:14 - 13:16e andámos fisicamente por ali,
-
13:16 - 13:18para nos dizerem exatamente
o que tinham visto. -
13:19 - 13:20Isso foi essencial.
-
13:20 - 13:23No caso de Mubenga,
não podíamos fazer isso, -
13:23 - 13:25mas podiam enviar-nos
os cartões de embarque. -
13:25 - 13:27Podíamos questionar
o que nos estavam a dizer -
13:27 - 13:30e garantir que era consistente
com o que os outros passageiros diziam. -
13:30 - 13:34O perigo disto tudo,
para os jornalistas — para todos — -
13:34 - 13:36é que somos vítimas de boatos
-
13:36 - 13:40ou que há informações erradas
propositadamente, no domínio público. -
13:40 - 13:42Portanto, temos que ser cautelosos.
-
13:42 - 13:46Mas ninguém pode negar
o poder do jornalismo de cidadãos. -
13:46 - 13:49Quando um avião se despenhou,
há dois anos, no Hudson, -
13:49 - 13:53o mundo soube disso
porque um homem, num barco vizinho, -
13:53 - 13:56agarrou no seu iPhone,
fotografou a imagem do avião -
13:56 - 13:58e enviou-a para o mundo inteiro
-
13:58 - 14:00— foi assim que muitas pessoas
tiveram conhecimento -
14:00 - 14:04nos primeiros minutos e horas
do avião no rio Hudson. -
14:05 - 14:08Pensem nas duas maiores
notícias deste ano. -
14:08 - 14:11Tivemos o sismo japonês
e o "tsunami". -
14:12 - 14:16Recordem as imagens
que viram nos ecrãs da televisão. -
14:17 - 14:21Havia barcos que foram parar
a terra, a 10 km da costa. -
14:21 - 14:23Havia casas a deslocarem-se
-
14:23 - 14:25como se estivessem no mar.
-
14:25 - 14:30A água a subir nas salas das pessoas,
os supermercados a tremer -
14:30 - 14:32— foram imagens apanhadas
por jornalistas cidadãos -
14:32 - 14:34e instantaneamente
partilhadas na Internet. -
14:34 - 14:38A outra notícia importante
do ano: a crise política, -
14:38 - 14:41o sismo político no Médio Oriente.
-
14:42 - 14:46Não interessa se foi no Egito,
na Líbia, na Síria ou no Iémen. -
14:47 - 14:51As pessoas conseguiram iludir
as restrições repressivas -
14:51 - 14:53desses regimes,
-
14:53 - 14:55registando o ambiente
-
14:55 - 14:58e contando as suas histórias
na Internet. -
14:58 - 15:00Mais uma vez, muito difíceis de verificar,
-
15:00 - 15:04mas com grande potencial
de exigir responsabilidades. -
15:04 - 15:05Esta imagem
-
15:05 - 15:08— podia mostrar muitas,
o YouTube está cheio delas. -
15:08 - 15:12Este é um manifestante no Bahrein,
aparentemente desarmado -
15:12 - 15:15Está a ser alvejado
pelas forças de segurança. -
15:15 - 15:20Não interessa se o indivíduo
está a ser maltrado, -
15:20 - 15:22possivelmente a ser morto,
-
15:22 - 15:24se está no Bahrein ou em Londres.
-
15:24 - 15:27O jornalismo de cidadãos
e esta tecnologia introduziram -
15:27 - 15:30uma nova noção de responsabilidade
no nosso mundo -
15:31 - 15:32e eu acho que isso é muito bom.
-
15:32 - 15:36Para concluir, o tema da conferência
é "Porque não?" -
15:36 - 15:39Penso que, para os jornalistas,
é uma coisa muito simples. -
15:39 - 15:41Quero dizer, porque não utilizar
esta tecnologia -
15:41 - 15:45que alarga enormemente
os limites do que é possível, -
15:45 - 15:48aceitar que muitas das coisas
que acontecem no nosso mundo -
15:48 - 15:49estão a ser gravadas
-
15:49 - 15:53e podemos obter essas informações
através das redes sociais? -
15:53 - 15:54Para os jornalistas, isto é novidade.
-
15:55 - 15:58Penso que as histórias que vos mostrei
não poderiam ter sido investigadas -
15:58 - 16:01há 10 anos, talvez mesmo
nem há 5 anos. -
16:01 - 16:04Penso que há uma boa justificação
para dizer que as duas mortes, -
16:04 - 16:07a morte de Ian Tomlinson
e a morte de Jimmy Mubenga, -
16:07 - 16:10ainda hoje não seriam conhecidas
tal como aconteceram nestes casos. -
16:11 - 16:13"Porque não?" para pessoas como vocês?
-
16:14 - 16:16Penso que também é muito simples.
-
16:16 - 16:19Se encontrarem qualquer coisa
que achem problemática, -
16:19 - 16:23que vos perturbe, que vos diga respeito,
uma injustiça de qualquer tipo, -
16:23 - 16:26qualquer coisa que não pareça correta,
-
16:26 - 16:31porque não testemunhá-la,
registá-la e partilhá-la? -
16:32 - 16:38Este processo de testemunhar,
registar e partilhar é jornalismo. -
16:38 - 16:40Todos podemos fazer isso.
Obrigado.
- Title:
- Como os telemóveis ajudaram a resolver dois homicídios
- Speaker:
- Paul Lewis
- Description:
-
Dois homicídios permaneciam inexplicáveis e sem solução - até que o jornalista Paul Lewis começou a falar com espetadores que tinham provas nos seus telemóveis. Passo a passo, Lewis juntou as provas e as suas histórias para fazer justiça às vítimas. É o futuro do jornalismo de investigação, alimentado pela multidão.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:53
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
Isabel Vaz Belchior accepted Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How mobile phones helped solve two murders | ||
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