Como é que as lágrimas se transformam em arte? | Maurice Mikkers | TEDxAmsterdam

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Maurice Mikkers, um fotógrafo holandês tem fascínio pelas lágrimas. As suas fotos revelam a estrutura das lágrimas a nível molecular. Nas suas imagens vemos as lágrimas cristalizadas, todas diferentes, lembrando-nos a especificidade dos flocos de neve. Algumas lágrimas parecem pequenos planetas com belas paisagens de padrões e formas. Há três tipos de lágrimas, uma das quais é emotiva. Cada lágrima conta uma história. Cada lágrima é única. Tal como as ideias que vale a pena espalhar, Maurice Mikkers acredita que vale a pena derramar lágrimas.

Vou começar com uma pergunta.

Quem aqui chorou na última semana?

Por favor, levantem as mãos.

Quem aqui chorou no último mês?

Ou nos últimos seis meses?

Bem, estatisticamente, devia ver
mais mãos do que estas

porque, de acordo com a investigação,

as mulheres choram, em média,
cinco vezes por mês,

enquanto os homens só choram uma.

Sim, gente, os homens também choram.

Mas agora vou perguntar isto:

Quantos aqui partilharam as suas lágrimas

ou as suas histórias com outra pessoa?

Chamo-me Maurice Mikkers.

Talvez aqui alguém me conheça
como o "apanhador de lágrimas",

porque eu capto a beleza das lágrimas

ao fotografá-las ao microscópio.

No ano passado, comecei um projeto
Imaginarium of Tears:

Uma coleção de fotografias de lágrimas
com histórias pessoais no seu centro.

Isto porque acredito
que devemos reconhecer as nossas lágrimas,

sejam de felicidade ou de tristeza,

porque são uma das expressões
sinceras de nós mesmos

e a nossa ligação com o mundo.

As lágrimas são especiais. São belas.

E são arte.

Mas, como diacho resolvi
pôr as lágrimas ao microscópio?

A história começou com a dislexia.

Embora fosse muito frustrante na escola,

curiosamente, a dislexia orientou-me
para onde hoje me encontro.

A minha aversão às palavras
tornou-me excelente nos temas mais difíceis,

como a física, a matemática e a química.

Passava o meu tempo livre no computador,

e gastava todo o meu dinheiro em novos
aparelhos, em vez de namoros,

coia que ainda faço.

Portanto, não é de surpreender

que eu tenha acabado por ser
analista dum laboratório médico.

Enquanto trabalhava no laboratório,

passava muito tempo
a observar ao microscópio.

Para mim isso era fascinante.

As coisas que eram consideradas
habitualmente

como rotina, ciência ou diagnósticos

para mim assumiam uma dimensão
totalmente nova, eram arte.

Mas, como tirar fotografias
ou ser criativo

não estava referido
na minha descrição de tarefas,

decidi trocar a bata do laboratório
por um portátil e uma máquina fotográfica.

Fui para a Academia Real de Arte
em Haia

e passei a ser fotógrafo profissional.

Agora, oito anos depois,

estou aqui a falar-vos da minha paixão

por visualizar histórias,
usando um microscópio.

Chamo-lhes Histórias Micrografadas.

Visualizava coisas do dia-a-dia

que encontramos e consumimos
quotidianamente.

Por exemplo, isto é ácido tartárico.

É um aditivo alimentar muito usado.

Ajuda a levedar os bolos.

Não, não há ali nenhum computador
nem Photoshop,

é o que podemos observar
quando olhamos ao microscópio.

Isto é diclofenaco,
um analgésico muito usado.

E este — é bonito, não é? —

é MDMA,
o componente ativo do ecstasy.

Não dá mesmo vontade de tomar drogas?

(Risos)

Para mim, estas micrografias
funcionam como contadoras de histórias

porque tudo o que visualizo
tem uma história oculta.

O meu objetivo final
é criar uma maior consciência

em torno dos assuntos que eu visualizo.

Mas voltemos às lágrimas.

As pessoas perguntam-me muitas vezes:

"Como é que crias estas imagens?"

"Porque é que as lágrimas
têm este aspeto?"

"As lágrimas são todas iguais?"

Bem, quando eu comecei este projeto,
não tinha nenhuma pista

sobre qual seria o aspeto duma lágrima
vista ao microscópio.

Mas um dia tive que chorar.

Bati com o dedo do pé contra a mesa
com toda a força

e senti-me cheio de sorte
por não ter que dar à luz.

Enquanto estava cheio de dores,

apanhei uma lágrima a escorrer
pela bochecha, com uma pipeta

e deitei-me ao trabalho.

Naquele momento,

não tinha nenhuma pista sobre
que técnica havia de usar ao microscópio,

por isso comecei com a técnica
do campo brilhante.

É uma técnica de microscópio
que se usa normalmente no liceu.

Depois, experimentei
a técnica de polarização.

Mas fiquei realmente estupefacto
quando usei a iluminação de campo escuro.

Reparem como as formas da lágrima
parecem um pequeno planeta.

Estes padrões
e as belas estruturas nos padrões!

Fiquei agarrado e comecei a explorar
mais lágrimas vistas ao microscópio.

Sentia-me como um "Planeteer".

Portanto, já sabem
como tornar visível uma lágrima,

mas eu não expliquei
porque é que ela tem este aspeto.

Quando choramos,
vemos só uma gota de água,

mas é muito mais do que isso.

Sabiam que há três tipos de lágrimas?

Que a mono-lágrima do mundo
é a lágrima emotiva?

Reage a emoções positivas e negativas

como a tristeza, a felicidade,
o prazer ou a dor.

Mas apanhar uma lágrima não é fácil.

Como sabemos,
chorar de propósito é muito difícil,

por isso, para este projeto,
eu tinha que esperar

até se apresentarem momentos genuínos.

Por exemplo,

esta é uma lágrima de tristeza
que me foi dada por uma amiga minha

porque o pai dela estava muito doente

e ela não podia fazer nada.

Ou a lágrima de total frustração
da minha irmã,

porque o patrão dela não a deixava
trabalhar com todo o potencial.

Ou a lágrima de despedida dum jovem

que teve que regressar ao seu país,
abandonando todos os seus amigos.

Ou a lágrima de felicidade que eu tive

quando ouvi dizer que eu ia ser
um dos oradores do TEDxAmsterdão do ano?

(Risos)

Todos nós temos uma história
para partilhar,

e há muitas mais histórias.

Que tal a história do alívio

quando vocês ouvem dizer finalmente
que o vosso cancro está em remissão?

Ou a lágrima de felicidade

quando descobrem que estão grávidas
depois de anos de tentativas?

Ou as lágrimas de tristeza e de frustração

por causa dos recentes
ataques terroristas devastadores?

Todos nós temos uma história
para partilhar.

Como é que cada lágrima
acaba por ser tão diferente?

Vamos dar uma olhadela ao microscópio.

Aqui podem ver como acontece a magia.

Este processo de cristalização
normalmente leva 5 a 30 minutos,

mas depende de várias variáveis
como a humidade e a temperatura,

sem esquecer a fisiologia única de cada um.

Aqui, podem ver como os cristais
começam lentamente a tomar forma

e a crescer até formarem um cristal.

Depois de totalmente desenvolvido,
a lágrima está pronta a ser fotografada.

Devíamos partilhar as nossas lágrimas,
porque as lágrimas são histórias

e as histórias ligam-nos
a um nível mais profundo.

Por isso, convido-vos a doar hoje
uma das vossas lágrimas.

Podem-me encontrar lá em baixo na entrada.

Eu visualizo a vossa lágrima ao microscópio.

Esta é a única oportunidade
de transformar uma vossa lágrima em arte.

Porque, tal como as ideias
que vale a pena espalhar,

eu acredito que vale a pena
derramar lágrimas.

(Risos)

Obrigado.

(Aplausos)