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To the Root of Addictions | with Sister Dang Nghiem

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    Querido Thay, queridos amigos.
  • 0:34 - 0:37
    Sei que ainda estão aí,
    e isso deixa-me muito feliz.
  • 0:43 - 0:48
    Hoje gostaria de partilhar convosco
    um pouco da reflexão que tenho feito
  • 0:48 - 0:50
    sobre o vício.
  • 0:51 - 0:54
    Recentemente, uma jovem muito bonita
  • 0:55 - 0:58
    veio ao Mosteiro de Deer Park
  • 0:58 - 1:03
    num Dia de Atenção Plena, e
  • 1:05 - 1:08
    aproximou-se de mim,
  • 1:08 - 1:16
    e agradeceu-me pelo meu livro,
    "Healing: Journey from Doctor to Nun" (Cura: A Viagem de Médica a Monja).
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    E depois de trocarmos algumas palavras, abracei-a.
  • 1:25 - 1:31
    E pude sentir que o corpo dela
    tremia
  • 1:32 - 1:35
    profundamente por dentro.
  • 1:37 - 1:42
    E senti de imediato
  • 1:42 - 1:46
    que era alguém a passar por um trauma.
  • 1:47 - 1:54
    Então convidei-a para caminhar comigo,
    e depois sentámo-nos
  • 1:56 - 1:58
    para conversar um pouco.
  • 2:01 - 2:07
    Fiquei a saber que está a participar
    num programa de reabilitação.
  • 2:11 - 2:19
    E contou-me que na biblioteca
    onde está hospedada, em reabilitação,
  • 2:21 - 2:22
    encontrou o meu livro.
  • 2:22 - 2:25
    E então requisitou-o
    e estava a lê-lo.
  • 2:28 - 2:30
    Sentiu-se confortada e ajudada por ele.
  • 2:31 - 2:35
    Fiquei profundamente tocada ao saber
    que há programas por aí
  • 2:36 - 2:41
    que usam ensinamentos do Dharma,
    os nossos ensinamentos no YouTube,
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    que usam os nossos livros,
  • 2:43 - 2:48
    escritos pelo nosso querido mestre,
    o Mestre Zen Thich Nhat Hanh,
  • 2:49 - 2:54
    e também pelos nossos irmãos e irmãs monásticos
  • 2:54 - 2:57
    da comunidade de Plum Village.
  • 2:58 - 3:01
    Ela disse-me que estava muito grata
  • 3:01 - 3:06
    por poder partilhar comigo a sua jornada,
  • 3:06 - 3:16
    porque o vício tem tanto estigma,
    que raramente o partilhava com alguém.
  • 3:17 - 3:23
    Por isso, foi um grande alívio para ela
    poder falar comigo
  • 3:24 - 3:28
    abertamente sobre o seu vício.
  • 3:32 - 3:41
    Vejo o vício como apenas a ponta,
    o ramo de uma árvore.
  • 3:44 - 3:47
    Muitas vezes estamos presos
  • 3:48 - 3:54
    ao estigma do vício — tanto quem sofre
    do vício como a própria sociedade.
  • 3:54 - 4:00
    Vemos isso como o problema principal.
  • 4:01 - 4:07
    Mas, na verdade, quando olhamos profundamente,
    vemos que o vício é apenas
  • 4:07 - 4:13
    uma manifestação de um problema
    mais profundo e enraizado:
  • 4:13 - 4:18
    sofrimento, trauma
    que a pessoa viveu.
  • 4:19 - 4:24
    Quer na infância, quer na adolescência,
  • 4:24 - 4:26
    ou mais tarde na vida.
  • 4:29 - 4:36
    Quando passamos por uma crise,
    por uma questão de sobrevivência,
  • 4:37 - 4:40
    encontramos formas de lidar com isso.
  • 4:40 - 4:47
    O mecanismo de defesa que,
    como seres humanos, desenvolvemos naturalmente
  • 4:48 - 4:52
    é o de lutar contra a situação,
  • 4:53 - 4:57
    ou fugir dela,
  • 4:57 - 5:01
    ou, se sentirmos que estamos encurralados,
    sem saída,
  • 5:02 - 5:08
    o sistema nervoso desliga-se automaticamente
  • 5:08 - 5:13
    e entramos numa resposta de congelamento.
  • 5:14 - 5:18
    Ficamos paralisados por dentro,
    ou a mente dissocia-se,
  • 5:18 - 5:23
    para não ter de testemunhar
    o sofrimento, a dor do corpo.
  • 5:28 - 5:33
    E, claro, dependendo do ambiente
    em que estejamos,
  • 5:34 - 5:38
    quando estamos a sofrer
    e queremos fugir,
  • 5:39 - 5:46
    se temos familiares ou amigos,
    ou se vemos na televisão,
  • 5:47 - 5:49
    vemos certos modelos a seguir.
  • 5:49 - 5:56
    E se essas pessoas usam drogas,
    pornografia,
  • 5:57 - 6:07
    álcool, trabalho, sexo, etc.,
  • 6:07 - 6:10
    para fugir aos seus problemas,
  • 6:10 - 6:14
    então também podemos aprender a fazer o mesmo.
  • 6:15 - 6:22
    Conheci pessoas que, em crianças
    ou adolescentes,
  • 6:23 - 6:33
    usaram pornografia para se anestesiar,
    para fugir aos problemas familiares.
  • 6:35 - 6:42
    Qualquer que seja o mecanismo de defesa
    que tenhamos usado
  • 6:44 - 6:48
    na fase inicial do sofrimento,
  • 6:50 - 6:52
    pode tornar-se um hábito.
  • 6:53 - 6:58
    Mesmo que já não estejamos a passar
    pela mesma crise ou trauma,
  • 6:59 - 7:04
    o mecanismo de defesa
    tornou-se um hábito.
  • 7:04 - 7:08
    Ficamos presos a ele.
    Treinámo-lo durante tanto tempo.
  • 7:09 - 7:17
    Então uma pessoa viciada em sexo,
    pornografia, drogas, álcool,
  • 7:17 - 7:25
    trabalho, entretenimento, jogos, etc., etc.,
  • 7:27 - 7:34
    o que começou por ser uma fuga,
    algo que nos ajudou a sobreviver,
  • 7:35 - 7:42
    ou a não enfrentar uma situação
    que era demasiado para nós
  • 7:42 - 7:45
    compreendermos ou aguentarmos,
  • 7:47 - 7:51
    agora tornou-se uma muleta.
  • 7:52 - 7:57
    Mesmo depois de crescermos,
    ficamos presos.
  • 7:58 - 8:02
    A criança ferida em nós
    está presa neste corpo.
  • 8:02 - 8:07
    E está presa
    a esse mecanismo de defesa,
  • 8:08 - 8:12
    que agora nos causa imenso sofrimento.
  • 8:15 - 8:20
    Acho importante ver o vício
    nesta perspetiva.
  • 8:20 - 8:29
    Para que possamos remover parte do estigma,
    da vergonha, da culpa, da impotência,
  • 8:29 - 8:34
    e da culpa atribuída a quem sofre com o vício.
  • 8:35 - 8:43
    Se olharmos com profundidade, todos nós
    já usámos mecanismos de defesa.
  • 8:43 - 8:50
    Uns mais saudáveis, mais benéficos,
    menos destrutivos, mais subtis,
  • 8:52 - 8:57
    mas todos já usamos estratégias
    para lidar com o sofrimento.
  • 8:59 - 9:02
    E se virmos desta forma,
  • 9:02 - 9:07
    ganhamos compreensão e compaixão,
  • 9:07 - 9:11
    por nós mesmos e uns pelos outros.
  • 9:12 - 9:20
    E também ganhamos esperança
    de poder transformar o vício.
  • 9:21 - 9:26
    Em vez de focarmos
    na ponta do ramo,
  • 9:26 - 9:30
    olhamos mais profundamente para as raízes
    do problema,
  • 9:31 - 9:34
    como o trauma, o sofrimento.
  • 9:35 - 9:44
    Na nossa prática, aprendemos a acalmar
    a mente, a acalmar o corpo,
  • 9:44 - 9:50
    e esta jovem partilhava comigo
    que tem ouvido muitos vídeos no YouTube
  • 9:53 - 9:57
    dos nossos irmãos e irmãs monásticos
    e do nosso Mestre.
  • 9:57 - 10:01
    E tem aprendido
    sobre a respiração consciente,
  • 10:01 - 10:05
    e tem praticado isso.
  • 10:05 - 10:10
    A respiração consciente pode ajudar-nos
    a regressar ao corpo.
  • 10:12 - 10:17
    Talvez não seja fácil para alguns de nós
    regressar à respiração
  • 10:17 - 10:24
    porque estamos tão afastados
    do nosso próprio corpo,
  • 10:25 - 10:35
    e a respiração tornou-se tão curta
    e sufocante que custa estar consciente dela.
  • 10:36 - 10:44
    Se for esse o caso,
    podemos aprender a regressar
  • 10:44 - 10:48
    e a estar conscientes, por exemplo, das mãos.
  • 10:49 - 10:53
    Em vez de focar na respiração,
    focamos nas mãos.
  • 10:54 - 10:59
    Ao inspirar, sentimos as mãos a fechar…
  • 11:02 - 11:05
    ao expirar, sentimos as mãos a abrir.
  • 11:05 - 11:12
    E há mesmo um movimento natural,
    muito subtil, das mãos,
  • 11:12 - 11:15
    elas mexem-se assim
    ao inspirarmos,
  • 11:17 - 11:21
    e assim
    ao expirarmos, naturalmente.
  • 11:21 - 11:24
    Mas podemos exagerar esse movimento,
  • 11:25 - 11:28
    só para tomarmos consciência
    do movimento das mãos.
  • 11:29 - 11:33
    Ou podemos colocar as mãos no colo,
    e ao inspirar,
  • 11:34 - 11:36
    levantamos a mão,
  • 11:36 - 11:41
    e ao expirar, pousamos a mão no colo.
  • 11:42 - 11:44
    Também aprendi a fazer isto:
  • 11:45 - 11:48
    inspirar,
    expirar,
  • 11:48 - 11:50
    como um pequeno botão de flor.
  • 11:51 - 11:54
    Inspiração, expiração.
  • 11:55 - 11:58
    Inspiração, expiração.
  • 11:59 - 12:01
    Inspiração, expiração.
  • 12:02 - 12:11
    Ao aprendermos a regressar ao corpo,
    que foi negligenciado, abandonado ou ferido
  • 12:11 - 12:15
    durante tanto tempo — ferimo-lo,
    abusámos dele durante tanto tempo —
  • 12:16 - 12:19
    agora, lentamente, regressamos
    para fazer amizade com ele.
  • 12:20 - 12:27
    Inspirando, faço amizade com a minha respiração.
    Com a minha inspiração.
  • 12:27 - 12:34
    Ou, inspirando, faço amizade com as minhas mãos.
    Com os meus pulmões, o meu coração,
  • 12:35 - 12:36
    faço amizade com o meu corpo.
  • 12:37 - 12:41
    E expirando, sorrio
    ao meu corpo.
  • 12:42 - 12:47
    Sorrio à minha expiração,
    sorrio a mim mesma.
  • 12:48 - 12:52
    É importante aprender
    a fazer amizade connosco próprios,
  • 12:52 - 12:58
    em vez de usarmos discurso duro,
    palavras condenatórias.
  • 12:58 - 13:03
    Agora aprendemos a, gentilmente,
    dizer "olá" ao corpo,
  • 13:03 - 13:09
    dizer "olá" às partes do corpo,
    à respiração.
  • 13:11 - 13:19
    O vício não é apenas sobre as drogas,
    o objeto do nosso vício.
  • 13:20 - 13:30
    Envolve uma imagem de nós próprios
    que se enraizou:
  • 13:31 - 13:38
    “Sou viciado(a).”
    “Estou completamente perdido(a).”
  • 13:41 - 13:43
    “A minha vida está destruída.”
  • 13:45 - 13:53
    As famílias e os amigos frustram-se,
    talvez até se afastem de nós.
  • 13:55 - 14:00
    Talvez tenhamos perdido o emprego,
    o casamento,
  • 14:00 - 14:06
    a carreira,
    a confiança em nós próprios,
  • 14:07 - 14:11
    na nossa capacidade
    de cuidar de nós,
  • 14:12 - 14:17
    de lidar
    com as dificuldades da vida.
  • 14:19 - 14:21
    E por isso é um grande fardo.
  • 14:22 - 14:30
    E claro, ao usarmos drogas,
    álcool, pornografia, etc.,
  • 14:34 - 14:45
    a doença física também começa a surgir
    nas nossas vidas, no nosso corpo.
  • 14:46 - 14:56
    Podemos ter muitos sintomas de abstinência,
    podemos desenvolver ansiedade, depressão.
  • 15:05 - 15:14
    Lidamos com muitos,
    muitos, muitos problemas ao mesmo tempo.
  • 15:14 - 15:17
    E pode ser completamente esmagador.
  • 15:19 - 15:29
    A tolerância e a sensibilização
    aos objetos do nosso vício
  • 15:30 - 15:32
    causam-nos imenso sofrimento.
  • 15:33 - 15:34
    Quero falar um pouco sobre isso.
  • 15:35 - 15:38
    Digamos que, no início,
  • 15:39 - 15:43
    os nossos sentimentos, a nossa sensação
    de bem-estar ou mal-estar começa
  • 15:44 - 15:46
    num nível 5.
  • 15:48 - 15:51
    Sentimos-nos apenas a nível 5.
  • 15:51 - 15:55
    E ao experimentar aquela droga,
  • 15:56 - 15:59
    ou o álcool,
    ou a pornografia, etc.,
  • 16:00 - 16:06
    podemos sentir que o humor sobe
    para o nível 7, ou 8,
  • 16:07 - 16:11
    que é uma boa sensação. Gostamos disso.
  • 16:12 - 16:17
    E queremos voltar
    a esse nível 7, 8, ou até 9.
  • 16:18 - 16:24
    Mas em breve,
    a mesma dose da droga
  • 16:24 - 16:27
    já não nos leva ao nível 8,
  • 16:27 - 16:29
    mas só ao nível 7.
  • 16:30 - 16:36
    E depois, lentamente, 6.
    Depois, 5.
  • 16:36 - 16:41
    É aí que começamos
    a desenvolver tolerância.
  • 16:41 - 16:47
    Temos de fazer mais, a dose é maior.
  • 16:47 - 16:53
    Fazemos mais disso
    apenas para voltar ao nível 7.
  • 16:54 - 16:56
    Ou ao nível 6.
  • 16:58 - 17:04
    E agora, sem as drogas, já não nos sentimos
    no nível 5 como antes de as usarmos.
  • 17:05 - 17:10
    Mas talvez estejamos no nível 4,
    ou 3, ou 2.
  • 17:11 - 17:12
    Sentimo-nos mal.
  • 17:13 - 17:16
    Agora usamos drogas
    não porque gostamos,
  • 17:18 - 17:21
    não porque nos faz sentir bem,
  • 17:21 - 17:28
    mas porque não queremos sentir-nos
    tão mal. Tão doentes.
  • 17:29 - 17:34
    Esse desconforto e dor intensos
    no corpo e na mente.
  • 17:35 - 17:40
    E por isso procuramos a droga
    apenas para nos sentirmos “normais”.
  • 17:43 - 17:52
    E isso é algo
    que muitos de nós talvez não pensem,
  • 17:52 - 17:56
    sobretudo se não tivermos
  • 17:56 - 17:58
    aquele vício específico.
  • 17:58 - 17:59
    Podemos pensar que as pessoas
  • 17:59 - 18:03
    só querem sentir-se bem,
    por isso usam drogas.
  • 18:03 - 18:08
    Mas não — elas só querem sentir-se normais.
    Toleráveis.
  • 18:10 - 18:12
    É essa a tolerância que desenvolvemos.
  • 18:12 - 18:17
    O cérebro habitua-se,
    já não responde da mesma forma.
  • 18:17 - 18:19
    Precisa de uma dose mais forte.
  • 18:19 - 18:24
    E ao mesmo tempo, o cérebro desenvolve
    uma sensibilização.
  • 18:25 - 18:30
    Ou seja, mesmo com uma pequena quantidade,
  • 18:30 - 18:35
    induz uma ânsia muito mais forte
    do que antes.
  • 18:35 - 18:40
    À medida que o vício se intensifica,
  • 18:42 - 18:47
    precisa de menos da substância,
    menos do estímulo,
  • 18:47 - 18:49
    das imagens e sons,
  • 18:51 - 18:57
    para gerar uma ânsia intensa,
  • 18:58 - 19:02
    uma necessidade urgente
    de procurar o objeto do vício
  • 19:02 - 19:06
    para nos acalmarmos.
  • 19:09 - 19:12
    Fazemo-lo por desejo compulsivo,
    por desconforto,
  • 19:13 - 19:17
    não por prazer.
  • 19:19 - 19:23
    E muitos de nós também sofremos de negação.
  • 19:26 - 19:32
    Demora muito tempo
    para uma pessoa com uma doença mental
  • 19:32 - 19:35
    reconhecer — e aceitar —
  • 19:36 - 19:41
    que tem uma doença mental.
  • 19:41 - 19:44
    É por isso que a doença mental
    piora,
  • 19:44 - 19:49
    porque não a reconhecemos,
    não a aceitamos.
  • 19:50 - 19:55
    Então tentamos consumir drogas —
    isso é também uma situação
  • 19:55 - 20:05
    em que temos uma doença,
    um problema físico, uma dor física,
  • 20:06 - 20:11
    e não conseguimos lidar com ela.
    Então procuramos uma droga,
  • 20:11 - 20:16
    até mesmo um fármaco,
    para suprimir essa dor.
  • 20:17 - 20:21
    E assim tornamo-nos dependentes dele...
  • 20:22 - 20:30
    Reconhecer que temos um vício
    numa substância ou noutro comportamento
  • 20:30 - 20:36
    também é muito difícil para nós,
    porque sentimos que temos justificação,
  • 20:37 - 20:40
    ou queremos justificar as nossas ações.
  • 20:41 - 20:47
    E isso torna ainda mais difícil
    procurar ajuda,
  • 20:48 - 20:53
    ou tentar encontrar uma saída
    para o problema,
  • 20:53 - 20:56
    porque entramos em negação.
  • 21:01 - 21:06
    Todo o tipo de vício
    acontece porque
  • 21:06 - 21:08
    ele altera o nosso cérebro.
  • 21:11 - 21:17
    Quando eu estava na faculdade de medicina,
    não se falava muito
  • 21:17 - 21:19
    sobre neuroplasticidade.
  • 21:19 - 21:28
    Mas nos últimos 20 anos,
    a comunidade científica começou
  • 21:28 - 21:32
    a falar mais sobre neuroplasticidade.
  • 21:33 - 21:39
    O que, para mim, o Buda sempre soube,
    há 2.600 anos.
  • 21:40 - 21:45
    E é por isso que a prática budista,
    os ensinamentos do Buda,
  • 21:45 - 21:51
    dizem respeito ao cuidar da mente,
    ao cuidar dos nossos pensamentos, palavras
  • 21:51 - 21:53
    e ações corporais.
  • 21:54 - 22:03
    E até o Buda disse:
    "Há uma coisa que, se não for cultivada,
  • 22:04 - 22:08
    trará muito sofrimento e miséria."
  • 22:09 - 22:11
    Qual é essa coisa?
  • 22:12 - 22:13
    É a mente.
  • 22:15 - 22:22
    E o Buda também disse que há
    uma coisa que, se for bem cultivada,
  • 22:22 - 22:25
    trará muita felicidade.
  • 22:29 - 22:31
    Qual é essa coisa?
  • 22:34 - 22:35
    É a nossa mente.
  • 22:37 - 22:46
    É a nossa mente, a nossa capacidade
    de estar presentes para o que é,
  • 22:48 - 22:50
    de reconhecer o que é,
    e de cuidar bem disso.
  • 22:52 - 22:55
    E isso leva-me ao...
  • 22:59 - 23:07
    Alcoólicos Anónimos, esse programa,
    que tem o que se chama
  • 23:08 - 23:09
    Programa dos 12 Passos.
  • 23:11 - 23:21
    E um dia, percebi que, na verdade,
    nós, praticantes budistas,
  • 23:21 - 23:24
    também passamos por um Programa
    de 12 Passos.
  • 23:25 - 23:33
    Que inclui: as Quatro Nobres Verdades
    e o Caminho Óctuplo.
  • 23:35 - 23:41
    Se somarmos,
    dá 12 passos para todos nós.
  • 23:42 - 23:44
    Nas Quatro Nobres Verdades,
  • 23:44 - 23:49
    a primeira Nobre Verdade
    é que existe sofrimento.
  • 23:49 - 23:53
    É importante aprendermos
    a reconhecer
  • 23:54 - 23:56
    que estamos a passar por uma dificuldade.
  • 23:57 - 24:01
    Estamos a passar por um acontecimento traumático.
  • 24:03 - 24:08
    Reconhecer que há sofrimento
    já é libertador.
  • 24:08 - 24:14
    E a maioria de nós, na sociedade,
    não pratica isto.
  • 24:15 - 24:21
    Tentamos suprimir,
    tentamos encontrar algo para encobrir.
  • 24:22 - 24:24
    Não queremos reconhecer
    que há sofrimento.
  • 24:25 - 24:32
    O que há de tão nobre no sofrimento
    para que o Buda o tenha chamado de “Nobre Verdade do Sofrimento”?
  • 24:33 - 24:38
    Só é nobre porque o reconhecemos.
    Esse é o primeiro passo.
  • 24:40 - 24:41
    É uma pedra fundamental.
  • 24:42 - 24:44
    E a segunda Nobre Verdade
  • 24:44 - 24:48
    é reconhecer que há causas
    para o sofrimento,
  • 24:49 - 24:51
    tal como eu partilhei
  • 24:51 - 24:56
    sobre a raiz do vício,
    e não apenas a ponta,
  • 24:56 - 24:58
    o ramo visível,
    mas a causa enraizada.
  • 24:58 - 25:04
    Então olhamos profundamente
    para as causas, em diferentes momentos da nossa vida,
  • 25:05 - 25:10
    na situação familiar,
    no meio social,
  • 25:10 - 25:12
    no estado do mundo —
  • 25:12 - 25:18
    todos esses fatores influenciam
    a vida de um ser humano,
  • 25:18 - 25:23
    porque estamos interligados
    com tudo isso.
  • 25:46 - 25:50
    Olhar para as causas
    do nosso sofrimento
  • 25:50 - 25:53
    é muito importante, e reconhecê-las.
  • 25:54 - 25:57
    E não apenas ver as causas
    do nosso próprio sofrimento,
  • 25:58 - 26:02
    mas, à medida que praticamos mais profundamente,
  • 26:02 - 26:08
    também olhamos para as causas do sofrimento
    daqueles que nos causaram sofrimento.
  • 26:10 - 26:13
    E reconhecemos que
  • 26:14 - 26:21
    os causadores do nosso sofrimento
    também foram vítimas.
  • 26:22 - 26:29
    Há pouco tempo, dei uma consulta
    a uma mulher.
  • 26:30 - 26:35
    Ela veio com outras perguntas,
    como me disse mais tarde.
  • 26:36 - 26:41
    Mas sentámo-nos um pouco,
  • 26:41 - 26:45
    e ela começou —
    hesitantemente — a tentar
  • 26:46 - 26:51
    partilhar algo mais profundo
  • 26:51 - 26:54
    do que as perguntas que tinha pensado.
  • 26:55 - 26:58
    E então olhou para mim
  • 27:01 - 27:03
    e perguntou-me:
  • 27:04 - 27:18
    “Quando eu tinha 5 anos,
    fui imobilizada por 5 rapazes.
  • 27:21 - 27:23
    Como posso viver com isso?”
  • 27:30 - 27:35
    E à medida que começou
    a contar-me o que aconteceu,
  • 27:35 - 27:38
    o corpo dela começou a tremer.
  • 27:38 - 27:47
    Coloquei a minha mão sobre o joelho dela,
    e o corpo dela começou a tremer
  • 27:48 - 27:50
    cada vez mais violentamente.
  • 27:53 - 27:55
    E nesse momento, percebi:
  • 27:56 - 27:57
    isto é real.
  • 27:57 - 28:00
    Ela está a reviver a experiência.
  • 28:02 - 28:04
    Então disse-lhe: “Não precisas de falar.
  • 28:05 - 28:06
    Só respira.”
  • 28:06 - 28:09
    E abracei-a.
  • 28:10 - 28:14
    E o corpo dela, o corpo inteiro,
    começou a tremer.
  • 28:17 - 28:21
    Começou pelas mãos,
    depois os joelhos,
  • 28:21 - 28:23
    e depois o corpo todo.
  • 28:24 - 28:27
    Disse-lhe: “Vamos sentar-nos no chão.”
  • 28:27 - 28:31
    E ajudei-a a sentar-se no chão.
  • 28:32 - 28:37
    Segurei-a nos braços,
    e ela estava encolhida,
  • 28:37 - 28:41
    literalmente como uma criança.
    Estava encolhida assim.
  • 28:42 - 28:47
    E abracei-a por trás,
    e embalei-a para a frente e para trás.
  • 28:48 - 28:49
    Só a embalei.
  • 28:50 - 28:54
    Ela tornou-se uma criança,
    uma menina de 5 anos mesmo à minha frente.
  • 28:55 - 28:59
    E eu só a embalei
    e abracei-a com força.
  • 29:00 - 29:05
    Nesse momento, algo em mim
    disse que era isso que ela precisava,
  • 29:05 - 29:12
    uma pressão profunda, um abraço forte,
    e simplesmente estar presente com ela.
  • 29:13 - 29:16
    E ela tremeu durante muito, muito tempo.
  • 29:25 - 29:30
    E depois, aos poucos,
    o corpo dela começou a acalmar.
  • 29:31 - 29:33
    E ela disse-me: “Obrigada.”
  • 29:35 - 29:38
    “Obrigada. Obrigada.”
  • 29:38 - 29:41
    Ela sussurrava estas palavras,
  • 29:43 - 29:48
    e eu continuava a segurá-la,
    a embalar o seu corpo,
  • 29:48 - 29:51
    e disse-lhe: “Obrigada.”
  • 29:53 - 29:57
    “Obrigada por sobreviveres todos estes anos.”
  • 29:59 - 30:04
    “Obrigada por teres feito
    tantos esforços na tua vida.”
  • 30:20 - 30:22
    Ela agradeceu-me.
  • 30:24 - 30:32
    Mas agora que penso nisso,
    não sei se foi ela quem me agradeceu,
  • 30:32 - 30:34
    ou se foi a criança interior dentro dela
    que me agradeceu.
  • 30:35 - 30:39
    Mas eu estava, com certeza, a agradecer
    à criança interior dela
  • 30:40 - 30:45
    por ter tentado tanto,
    por ter sobrevivido.
  • 30:46 - 30:50
    Por ter feito
    coisas extraordinárias na sua vida,
  • 30:50 - 30:55
    apesar de toda a dor, vergonha e culpa,
  • 30:55 - 31:00
    e da tristeza que carregou
    durante toda a vida.
  • 31:00 - 31:05
    Ela até disse: "Eu estava a seguir os rapazes,
    mas era apenas uma criança,
  • 31:05 - 31:07
    eu não sabia."
  • 31:12 - 31:21
    Então, na nossa partilha, também lhe disse:
    "Para esses rapazes adolescentes
  • 31:22 - 31:28
    terem feito aquilo contigo,
    eles devem ter visto isso algures.
  • 31:31 - 31:38
    E assim, imitaram
    essa violência contigo.
  • 31:39 - 31:44
    Por isso, eles também foram vítimas."
  • 31:49 - 31:53
    Para esses rapazes terem feito aquilo
    a uma menina de apenas 5 anos,
  • 31:55 - 31:58
    as suas vidas nunca mais seriam
    as mesmas.
  • 31:59 - 32:04
    Os seus pensamentos, a sua fala,
    e as suas ações corporais mudaram para sempre.
  • 32:06 - 32:09
    As suas vidas nunca mais poderiam
    ser verdadeiramente felizes.
  • 32:11 - 32:16
    Então, ao olharmos profundamente para as causas
    do nosso sofrimento,
  • 32:16 - 32:21
    aprendemos também a olhar profundamente
    para as causas do sofrimento
  • 32:21 - 32:24
    daqueles que nos fizeram mal.
  • 32:26 - 32:31
    E isso é a Segunda Nobre Verdade.
  • 32:33 - 32:37
    E ajuda-nos a ver
    que há uma saída.
  • 32:38 - 32:39
    Que o sofrimento
  • 32:40 - 32:43
    pode ser transformado e curado,
  • 32:43 - 32:45
    e essa é a Terceira Nobre Verdade.
  • 32:46 - 32:53
    E a Quarta Nobre Verdade é
    que há um caminho concreto para sair.
  • 32:53 - 32:56
    E esse é o Nobre Caminho Óctuplo.
  • 32:57 - 33:03
    O sofrimento pode ser transformado,
    a felicidade pode ser cultivada
  • 33:04 - 33:06
    com a Atenção Plena Correta.
  • 33:07 - 33:12
    Todos temos consciência de coisas,
    mas por vezes é uma atenção errada
  • 33:12 - 33:21
    quando nos focamos apenas em imagens pornográficas,
    nas drogas, em certas situações.
  • 33:22 - 33:26
    Estamos completamente focados nisso, mas
    isso é uma atenção prejudicial.
  • 33:26 - 33:34
    Por isso, aprendemos a trazer a Atenção Plena Correta
    para a nossa consciência:
  • 33:34 - 33:37
    o que vemos, o que ouvimos,
    o que cheiramos,
  • 33:37 - 33:41
    o que colocamos dentro do nosso corpo,
    pela boca,
  • 33:42 - 33:44
    pelo corpo, pelos pensamentos.
  • 33:45 - 33:49
    A Atenção Plena Correta
    traz Concentração Correta.
  • 33:51 - 33:57
    Focamo-nos na positividade,
    no que ainda está presente nas nossas vidas.
  • 33:58 - 34:02
    Naqueles que ainda estão connosco,
    que ainda tentam ajudar-nos,
  • 34:03 - 34:07
    nas condições de felicidade
    que ainda estão presentes.
  • 34:07 - 34:15
    Para as jovens mulheres que vejo,
    os seus corpos felizmente ainda estão saudáveis.
  • 34:19 - 34:26
    Ainda têm saúde suficiente,
    ainda são jovens o suficiente para se transformarem.
  • 34:26 - 34:31
    O seu cérebro tem uma capacidade
    incrível de mudança.
  • 34:32 - 34:35
    O vício muda o nosso cérebro.
  • 34:38 - 34:42
    E à medida que praticamos,
    também mudamos o nosso cérebro.
  • 34:43 - 34:49
    A neuroplasticidade significa que o cérebro
    é maleável, é modificável.
  • 34:50 - 34:57
    Não só na infância,
    mas durante toda a nossa vida.
  • 34:58 - 35:03
    O cérebro pode sempre mudar.
    E é por isso que somos capazes,
  • 35:03 - 35:09
    todos agora sabem usar
    um iPhone, um computador,
  • 35:10 - 35:14
    mesmo que essa pessoa
    tenha 70 ou 80 anos.
  • 35:14 - 35:16
    A pessoa pode continuar a aprender.
  • 35:17 - 35:19
    Porque tem esse interesse,
  • 35:19 - 35:22
    coloca esse esforço,
    essa concentração,
  • 35:23 - 35:25
    e por isso aprende uma nova competência.
  • 35:26 - 35:31
    E isso prova que todos nós
    podemos mudar a nossa mente.
  • 35:32 - 35:39
    Em vez de termos desenvolvido todas essas
    redes neuronais associadas
  • 35:40 - 35:46
    a certos hábitos, vícios,
    certas pessoas e ambientes,
  • 35:46 - 35:52
    agora, podemos desenvolver
    novas redes neuronais.
  • 35:53 - 35:55
    Vamos chamá-las de redes neuronais conscientes.
  • 35:55 - 35:59
    Precisamos escolher um ambiente
    mais positivo.
  • 36:00 - 36:07
    Se for necessário mudarmos para outro
    lugar, outro apartamento,
  • 36:07 - 36:09
    outro bairro, outro estado,
  • 36:09 - 36:12
    por vezes as pessoas mudam até
    de país.
  • 36:13 - 36:17
    Afastamo-nos de
    certos círculos de amigos,
  • 36:17 - 36:19
    de certos tipos de trabalho,
  • 36:19 - 36:27
    precisamos de um ambiente diferente que
    nos ajude a desenvolver novos hábitos
  • 36:27 - 36:32
    e a desabituar-nos dos velhos hábitos,
    das antigas associações,
  • 36:32 - 36:34
    dos fatores que nos despoletam.
  • 36:35 - 36:39
    E assim, a Atenção Plena Correta
    e a Concentração Correta
  • 36:40 - 36:42
    levarão à Visão Correta.
  • 36:43 - 36:48
    A Visão Correta sobre a interser,
    a vítima está no agressor.
  • 36:49 - 36:52
    E o agressor tornou-se vítima.
  • 36:52 - 37:00
    E nós próprios fomos vítimas
    e também, já fomos agressores
  • 37:01 - 37:05
    do nosso próprio sofrimento,
    e do sofrimento dos outros também.
  • 37:07 - 37:10
    E assim, dessa forma, não assumimos sempre
    a posição de vítima,
  • 37:11 - 37:18
    mas tornamo-nos mais proativos,
    sentimo-nos mais responsáveis
  • 37:18 - 37:21
    pela nossa vida, e pelas vidas uns dos outros.
  • 37:21 - 37:24
    E isso ajuda-nos
  • 37:25 - 37:31
    a colocar mais esforço positivo
    na mudança, acreditando na nossa capacidade
  • 37:31 - 37:33
    de curar e transformar.
  • 37:34 - 37:39
    A Visão Correta ajuda-nos a ter
    pensamento correto no nosso dia-a-dia.
  • 37:40 - 37:47
    As pessoas podem passar por um programa
    de reabilitação uma vez, duas vezes, ou muitas vezes
  • 37:47 - 37:50
    e pode não ter sucesso.
  • 37:50 - 37:57
    E assim, ao reunir coragem suficiente
    para tentar de novo,
  • 37:57 - 37:59
    a pessoa é assombrada pelo pensamento:
  • 37:59 - 38:02
    "Falhei antes, o que é que mudou agora?"
  • 38:03 - 38:08
    Por isso, é importante encontrarmos
    um ambiente diferente, recebermos mais ajuda
  • 38:09 - 38:14
    e também, permitir que a neuroplasticidade aconteça.
  • 38:14 - 38:20
    O fator mais importante que nos ajuda
    a mudar o cérebro, a mudar a mente,
  • 38:21 - 38:23
    é através dos pensamentos.
  • 38:24 - 38:31
    Através de pensamento correto e positivo,
    visões corretas e positivas.
  • 38:32 - 38:34
    Pensamos o tempo todo.
  • 38:35 - 38:38
    Mas se conseguirmos simplesmente
    reconhecer o pensamento
  • 38:38 - 38:41
    como benéfico ou prejudicial,
  • 38:42 - 38:46
    e aprendermos a mudá-lo,
    respiramos e expiramos,
  • 38:47 - 38:49
    e sorrimos com esse pensamento negativo.
  • 38:51 - 38:57
    E transformamo-lo em algo positivo:
    "Eu amo-te, estou aqui por ti."
  • 38:57 - 39:02
    "Vamos dar-nos mais uma oportunidade."
    Dizemos isso a nós próprios.
  • 39:04 - 39:09
    Em vez de olharmos para o nosso corpo
    e sentirmos vergonha, dizemos:
  • 39:09 - 39:15
    "Obrigada, obrigada por estares aí,
    por seres tão resiliente e compassivo.
  • 39:17 - 39:22
    Ajuda-me a amar-te.
    Ajuda-me a cuidar bem de ti."
  • 39:22 - 39:29
    Por isso, a Visão Correta e o Pensamento Correto
    são os fatores mais determinantes
  • 39:30 - 39:38
    para a nossa transformação e cura,
    a forma mais eficaz de nos curarmos,
  • 39:39 - 39:46
    e isso levará à Fala Correta,
    a Fala Correta connosco próprios
  • 39:47 - 39:49
    e com os outros.
  • 39:51 - 39:53
    As Ações Corporais Corretas.
  • 39:57 - 40:00
    Aprendemos a cuidar mais do nosso corpo.
  • 40:00 - 40:04
    Ensinei aquela jovem que veio
    a um Dia de Atenção Plena
  • 40:04 - 40:08
    a massajar o rosto,
    a segurar as suas próprias mãos,
  • 40:08 - 40:10
    a abraçar-se.
  • 40:11 - 40:15
    E o corpo dela também estava a tremer,
    muito levemente.
  • 40:16 - 40:17
    Então perguntei-lhe:
  • 40:18 - 40:22
    "Sabes que o teu corpo está a tremer?
    Sabes porquê?"
  • 40:22 - 40:26
    E ela disse:
    "É a minha ansiedade."
  • 40:29 - 40:33
    Isso fez-me lembrar da mulher
    que passou por esse trauma
  • 40:33 - 40:38
    quando tinha 5 anos, e como a abracei.
  • 40:41 - 40:45
    E pensei: "Podemos fazer isso também
    uns pelos outros?"
  • 40:45 - 40:50
    Quando alguém passa por uma crise de abstinência,
    por exemplo de uma adição,
  • 40:51 - 40:56
    e o corpo começa a tremer assim,
    podemos abraçar-nos,
  • 40:56 - 41:01
    embalar-nos,
    e falar com carinho para nós mesmos?
  • 41:02 - 41:05
    Podemos fazer isso por quem amamos?
    Por um amigo?
  • 41:06 - 41:11
    Por alguém que esteja a passar
    por esse momento de tremores
  • 41:11 - 41:13
    intensos?
  • 41:13 - 41:20
    Porque esse tremor físico
    é também um tremor psicológico.
  • 41:20 - 41:27
    Todo o sofrimento está a emergir,
    a dor mental juntamente com a dor física.
  • 41:28 - 41:31
    Podemos fazer isso por nós mesmos
    e uns pelos outros?
  • 41:33 - 41:39
    Porque esta mulher, a quem abracei
    bem apertado e embalei o corpo,
  • 41:41 - 41:50
    no dia seguinte disse-me:
    "Obrigada. Sinto que a minha criança interior
  • 41:51 - 41:56
    simplesmente saiu de dentro de mim.
    A minha criança interior queria ser vista
  • 41:56 - 41:58
    e ser abraçada por ti.
  • 41:58 - 42:04
    Porque eu própria não sabia
    como fazer isso por ela durante todos estes anos.
  • 42:07 - 42:08
    Eu não sabia."
  • 42:12 - 42:21
    E ela ficou grata por eu lhe ter mostrado
    como cuidar da sua criança ferida
  • 42:21 - 42:26
    para que, quando acontecer de novo,
    se acontecer,
  • 42:26 - 42:29
    ela saiba como agir.
  • 42:29 - 42:31
    E sente-se muito mais conectada
  • 42:32 - 42:36
    a si mesma, à sua criança interior,
    muito mais leve.
  • 42:38 - 42:43
    Isso é transformação na raiz,
    é uma cura muito profunda.
  • 42:46 - 42:53
    Os animais, quando são perseguidos,
    quando escapam à morte,
  • 42:56 - 42:59
    eles tremem, violentamente.
  • 43:00 - 43:06
    Os pássaros tremem – já vi um pássaro
    bater numa janela e cair,
  • 43:06 - 43:09
    e depois levantar-se,
    tremer durante bastante tempo,
  • 43:09 - 43:12
    e então voar novamente.
  • 43:13 - 43:25
    Já vi outros animais aqui, que tremem
    depois de escaparem a uma cobra ou algo assim.
  • 43:28 - 43:31
    Os seres humanos também tremem e abanam
  • 43:31 - 43:35
    depois de um acidente de carro,
    ou depois de uma queda,
  • 43:35 - 43:41
    ou algo que nos assusta.
  • 43:44 - 43:47
    Infelizmente, não permitimos
    que o nosso corpo
  • 43:47 - 43:50
    passe por esse processo completo.
  • 43:52 - 43:58
    Levantamo-nos, tentamos seguir em frente,
    e olhamos à volta a ver se alguém viu a queda.
  • 44:00 - 44:05
    Uma pessoa escapou de se afogar.
  • 44:07 - 44:11
    E quando foi resgatada, contou-me:
  • 44:11 - 44:17
    deitou-se por uns minutos,
    e depois levantou-se,
  • 44:18 - 44:22
    foi de carro buscar o filho,
  • 44:23 - 44:29
    e no dia seguinte,
    viajou para outro estado por causa do trabalho.
  • 44:31 - 44:40
    O corpo dele nunca teve oportunidade
    de libertar toda aquela energia nervosa e assustadora.
  • 44:41 - 44:46
    Nunca completou o processo de tremor.
  • 44:46 - 44:50
    E por isso, ficou mesmo doente durante duas semanas,
    não conseguia ultrapassar uma constipação,
  • 44:51 - 44:54
    mesmo sendo um jovem bastante saudável.
  • 44:56 - 45:05
    Muitos de nós continuamos a sofrer
    porque de situação em situação,
  • 45:05 - 45:08
    não nos damos o
  • 45:08 - 45:14
    tempo nem o espaço
    para processar esse trauma, esse incidente
  • 45:15 - 45:20
    fisicamente, emocionalmente, psicologicamente.
  • 45:20 - 45:26
    E fica retido aqui dentro.
    O corpo começa a tremer por dentro.
  • 45:27 - 45:34
    Às vezes abraço uma pessoa,
    geralmente uma mulher jovem,
  • 45:34 - 45:38
    ou uma mulher mais velha,
    e ao abraçá-la,
  • 45:38 - 45:44
    sinto esse tremor profundo no seu interior.
  • 45:44 - 45:50
    A pessoa não tem consciência,
    mas eu consigo sentir que vem de muito fundo.
  • 45:50 - 46:00
    Um tremor subtil, mas estava lá.
    E isso é trauma, guardado
  • 46:00 - 46:02
    em cada célula do nosso corpo.
  • 46:04 - 46:12
    Por isso, tomar consciência das Quatro Nobres Verdades
    e praticar o Nobre Caminho Óctuplo:
  • 46:14 - 46:25
    Atenção Plena Correta, Concentração Correta,
    Visão Correta, Pensamento Correto, Fala Correta,
  • 46:26 - 46:30
    Ações Corporais Corretas, Meio de Vida Correto.
  • 46:32 - 46:36
    Encontrar um trabalho que seja significativo,
    que seja benéfico para nós.
  • 46:36 - 46:40
    Receber menos salário, mas ter mais tempo
    para cuidar de nós próprios,
  • 46:40 - 46:42
    dos nossos entes queridos.
  • 46:42 - 46:48
    Um trabalho que nos dê sentido,
    em que estejamos a ajudar os outros, a ajudar a Mãe Terra.
  • 46:48 - 46:54
    Meio de Vida Correto e Esforço Correto —
    fazem parte do Nobre Caminho Óctuplo.
  • 46:54 - 46:59
    O Esforço Correto é muito importante
    para todos nós.
  • 47:01 - 47:03
    Temos 4 tipos de esforço:
  • 47:05 - 47:11
    Os dois primeiros tipos de esforço
    lidam com as sementes positivas em nós.
  • 47:11 - 47:17
    Quando sofremos,
  • 47:17 - 47:23
    quando temos um vício, só conseguimos ver
    a negatividade da nossa situação.
  • 47:24 - 47:27
    Só vemos a negatividade em nós próprios.
  • 47:27 - 47:33
    Mas todos temos sementes muito positivas:
    sementes de alegria, de amor, de compreensão,
  • 47:34 - 47:41
    de bondade, de generosidade, de desejo
    de bem-estar para nós e para os outros.
  • 47:42 - 47:49
    Por isso, precisamos regar essas boas sementes
    em nós, por mais pequeninas que sejam.
  • 47:49 - 47:55
    Como um rebento — precisamos reconhecê-las,
    identificá-las e regá-las.
  • 47:55 - 48:00
    E convidá-las a permanecer mais tempo
    na nossa consciência.
  • 48:01 - 48:03
    Se vires a tua criança interior
  • 48:04 - 48:08
    através de um pensamento,
    de uma forma de falar ou de agir,
  • 48:08 - 48:12
    dizes-lhe “Olá”.
    “Olá, eu sei que estás aí.”
  • 48:13 - 48:16
    “Obrigada.
    Ajuda-me a cuidar bem de ti.”
  • 48:16 - 48:20
    Convidas a tua criança interior
    a estar contigo um pouco mais.
  • 48:20 - 48:25
    A vir ao de cima e a permanecer,
    a estar presente contigo um tempo.
  • 48:25 - 48:29
    Para se conhecerem melhor,
    para regarem as boas sementes,
  • 48:30 - 48:34
    com gratidão pela tua criança interior.
  • 48:35 - 48:41
    Os outros dois tipos de esforço
    lidam com as sementes negativas.
  • 48:41 - 48:49
    Sementes de dúvida, de vergonha,
    de culpa, de autojulgamento, de tristeza —
  • 48:50 - 48:53
    aprendemos a não as regar.
  • 48:53 - 48:57
    Reconhecê-las, sim,
    mas não alimentá-las,
    não repetir histórias internas
  • 48:58 - 49:05
    com imagens, sons, músicas, conversas,
    pensamentos que só nos tornam
  • 49:06 - 49:07
    mais negativos.
  • 49:11 - 49:20
    E não as trazer ao de cima
    com filmes, imagens, pensamentos — não as despoletar.
  • 49:22 - 49:26
    Reconhecê-las quando estão presentes,
    respirar, relaxar o corpo todo,
  • 49:27 - 49:29
    e deixá-las acalmar.
  • 49:29 - 49:33
    E então podemos olhar para elas
    e compreendê-las melhor.
  • 49:33 - 49:42
    E isso é, na prática, um verdadeiro caminho budista de 12 passos
    que todos podemos seguir,
  • 49:43 - 49:48
    seja qual for a adição que reconheçamos em nós.
  • 49:50 - 49:56
    E esse caminho ajuda-nos
    a construir confiança e fé em nós próprios.
  • 49:58 - 50:03
    A maioria de nós, por muito "bem-sucedidos"
    que possamos parecer, estamos partidos. Somos.
  • 50:05 - 50:08
    Nunca sentimos que somos suficientes.
  • 50:09 - 50:11
    Não somos bons o suficiente.
  • 50:12 - 50:13
    Não somos suficientes.
  • 50:15 - 50:22
    Mas quando praticamos a respiração consciente,
    a caminhada consciente, a fala amorosa,
  • 50:22 - 50:29
    e a escuta profunda, escuta de nós próprios,
    do nosso sofrimento, das nossas dores
  • 50:32 - 50:36
    aos poucos, começamos a ganhar confiança e fé.
  • 50:39 - 50:45
    Confiança de que conseguimos
    estar presentes para nós mesmos,
  • 50:47 - 50:49
    no que é difícil e no que é belo.
  • 50:49 - 50:53
    Conseguimos escutar-nos,
    compreender-nos,
  • 50:53 - 50:57
    cuidar de nós
    de forma concreta.
  • 50:59 - 51:04
    E assim, recuperamos a confiança
    e a fé que tínhamos perdido —
  • 51:05 - 51:10
    ou que talvez nunca tivéssemos tido por nós.
  • 51:12 - 51:22
    E também, através da nossa prática espiritual
    diária, tornamo-nos mais seguros
  • 51:22 - 51:23
    para nós próprios.
  • 51:25 - 51:30
    O nosso sistema nervoso
    está constantemente a vigiar o ambiente.
  • 51:31 - 51:35
    Está sempre a perguntar:
    "Estou seguro? Estou bem?"
  • 51:36 - 51:44
    Mas, na minha prática, descobri que
    na verdade, o meu ambiente, em geral,
  • 51:44 - 51:45
    é bastante seguro.
  • 51:46 - 51:49
    Claro que num mosteiro
    o ambiente é muito seguro.
  • 51:49 - 51:56
    Mas mesmo quando vou ao aeroporto,
    a este país ou àquele,
  • 51:58 - 52:04
    a um centro comercial, todos esses lugares
  • 52:04 - 52:11
    Na verdade, o ambiente é geralmente
    bastante seguro, felizmente.
  • 52:13 - 52:19
    Mas são os meus pensamentos negativos
    que me tornam inseguro para mim e para os outros.
  • 52:21 - 52:27
    As minhas visões negativas, cheias de discriminação
    e preferências, cheias de culpa,
  • 52:29 - 52:35
    de preconceito, é isso que me torna inseguro
    para mim e para os outros.
  • 52:36 - 52:42
    O meu discurso negativo, duro, sem gentileza
    para comigo e para com os outros,
  • 52:42 - 52:50
    é isso que torna as coisas inseguras para mim
    e para os outros.
  • 52:50 - 52:56
    Ou as minhas ações corporais — por vezes ficamos tão
    frustrados que nos magoamos,
  • 52:57 - 53:02
    cortamos os pulsos,
    arranhamos o rosto,
  • 53:02 - 53:07
    por causa do stress, da energia nervosa —
    ferimo-nos,
  • 53:07 - 53:11
    tornamo-nos inseguros para nós próprios.
  • 53:12 - 53:16
    E por isso, quando praticamos
    o Nobre Caminho Óctuplo,
  • 53:17 - 53:22
    a fala amorosa, a escuta profunda,
    o abraço bondoso,
  • 53:25 - 53:31
    tornamo-nos seguros
    e dignos de confiança para connosco.
  • 53:31 - 53:35
    E isso é uma felicidade profunda, muito profunda.
  • 53:36 - 53:44
    Tornamo-nos a nossa própria alma gémea,
    alguém que se recorda, que sabe,
  • 53:45 - 53:49
    que cuida bem de si,
    que domina a si próprio.
  • 53:50 - 53:57
    Essa é a definição de "alma gémea"
    em vietnamita — tri kỷ.
  • 53:57 - 54:01
    Recordar, saber,
  • 54:01 - 54:07
    cuidar bem de,
    dominar-se — "kỷ", a si próprio.
  • 54:08 - 54:15
    Por isso, meus queridos, sejam uma alma gémea
    para o vício que possam estar a enfrentar.
  • 54:16 - 54:18
    Conheçam-no.
  • 54:19 - 54:22
    Digam-lhe olá.
    Também tem sido um amigo.
  • 54:23 - 54:25
    Também sofreu convosco.
  • 54:27 - 54:29
    Sejam bondosos com ele.
    Aprendam com ele.
  • 54:30 - 54:37
    Peçam ajuda a esse vício, essa substância,
    essa prática que têm usado:
  • 54:37 - 54:43
    "Eu sei que me ajudaste em certo momento,
    mas agora podemos encontrar um novo caminho.
  • 54:44 - 54:50
    Ajuda-me a curar,
    ajuda-me a realizar plenamente o meu potencial
  • 54:50 - 54:52
    para viver uma vida com significado."
  • 54:55 - 54:59
    Uma jovem partilhou comigo
    que quer mesmo curar-se,
  • 55:00 - 55:02
    que desta vez quer fazer as coisas bem.
  • 55:02 - 55:07
    Os pais estão a envelhecer,
    a irmã mais nova — ela quer mesmo
  • 55:07 - 55:12
    ser um bom exemplo
    para a sua irmã mais nova.
  • 55:12 - 55:17
    Ela própria ainda é jovem,
    quer fazer o bem no mundo.
  • 55:17 - 55:20
    Estas são as motivações certas.
  • 55:20 - 55:25
    Lembra-te das tuas aspirações
    e motivações,
  • 55:25 - 55:29
    lembra-te
    de todas as condições positivas
  • 55:29 - 55:32
    que ainda estão presentes na tua vida.
  • 55:32 - 55:37
    E dá-te uma nova oportunidade,
    vez após vez,
  • 55:38 - 55:44
    porque, meus queridos,
    todos nós merecemos isso.
  • 55:45 - 55:47
    Todos nós merecemos misericórdia.
  • 55:48 - 55:51
    Todos nós merecemos compaixão.
  • 55:52 - 55:54
    Todos nós merecemos compreensão.
  • 55:55 - 56:01
    E assim, todos nós merecemos
    transformação e cura.
  • 56:06 - 56:25
    (Fora de cena)"Lindo, Irmã. Tenho uma pergunta.
    O meu pai era padeiro,
  • 56:26 - 56:29
    *mas também bebia muito.
  • 56:29 - 56:33
    Dizemos que era alcoólico, como dizem.*
  • 56:33 - 56:35
    É como um estigma.
  • 56:36 - 56:40
    Claro que ele era muito mais do que isso,
    mas era isso que víamos,
  • 56:40 - 56:41
    era isso que ele era.
  • 56:44 - 56:51
    O que diria... eu tinha 8 anos quando o meu pai
  • 56:51 - 56:54
    teve de sair de casa, a minha mãe já não aguentava mais
  • 56:54 - 56:58
    e tinha 5 filhos rapazes, eu era o do meio.
  • 57:00 - 57:08
    Nessa altura, com 5, 6, 7, ou 8 anos,
    eu não tinha meios, nem capacidades,
  • 57:08 - 57:10
    para ajudar o meu pai.
  • 57:10 - 57:16
    O que diria às pessoas que rodeiam
    pessoas com dependências fortes,
  • 57:16 - 57:26
    em qualquer área — como vê-las,
    como abordá-las e como ajudá-las?"
  • 57:43 - 57:54
    Quando estamos presos num vício,
    tornamo-nos inseguros para nós próprios
  • 57:55 - 58:01
    e muitas vezes tornamo-nos inseguros para os outros.
  • 58:03 - 58:08
    Por isso, para aqueles de nós que são alcoólicos,
  • 58:11 - 58:17
    dependentes de álcool ou drogas,
    pornografia ou sexo, etc.,
  • 58:20 - 58:28
    as nossas crianças, os jovens à nossa volta
    na família, também testemunham isso.
  • 58:30 - 58:33
    Os nossos companheiros ou companheiras sofrem muito.
  • 58:37 - 58:45
    E, muitas vezes, os filhos —
    herdam também o nosso vício.
  • 58:47 - 58:51
    Existe um pequeno fator genético,
  • 58:51 - 58:56
    alguns de nós têm, de facto,
    uma personalidade mais propensa ao vício.
  • 58:56 - 59:00
    É mais fácil para nós
    ficarmos dependentes de certas coisas.
  • 59:02 - 59:12
    Mas a maioria de nós, creio eu,
    usa as drogas ou o álcool, etc.,
  • 59:12 - 59:17
    mais como um mecanismo de sobrevivência,
    e depois desenvolvemos tolerância
  • 59:17 - 59:18
    e dependência.
  • 59:19 - 59:23
    Então, como podemos ajudar
  • 59:24 - 59:30
    alguém da nossa família
    que tem uma dependência tão severa?
  • 59:32 - 59:38
    Acho que é importante, como adultos
    nessa situação,
  • 59:38 - 59:42
    tentarmos proteger-nos a nós mesmos
    e também proteger as crianças,
  • 59:44 - 59:50
    para que elas não tenham de sofrer
  • 59:51 - 59:57
    naquele momento,
    e também pelo resto das suas vidas.
  • 59:58 - 60:03
    Por vezes, nós próprios também estamos em negação,
    não queremos falar com a pessoa
  • 60:04 - 60:09
    que tem o vício,
    por raiva, vergonha ou negação.
  • 60:10 - 60:11
    Não queremos falar sobre isso.
  • 60:12 - 60:17
    Ou quando falamos, discutimos,
    gritamos, acusamos.
  • 60:17 - 60:22
    E isso não ajuda nada
    a resolver o problema.
  • 60:23 - 60:28
    Se conseguirmos ajuda da comunidade,
    de amigos,
  • 60:31 - 60:37
    para ver o panorama mais alargado,
    para oferecer ajuda a essa pessoa,
  • 60:39 - 60:48
    aconselhamento, orientação, grupos de apoio, etc.,
    podemos passar pelo processo de uma forma mais
  • 60:48 - 60:51
    gentil e construtiva.
  • 60:52 - 60:57
    E a verdade é que a pessoa
    com dependência já sofre muito.
  • 60:59 - 61:01
    Por isso, se conseguirmos usar uma fala amorosa
    e escuta profunda,
  • 61:03 - 61:05
    isso pode ser um grande apoio.
  • 61:06 - 61:15
    Pode dar a essa pessoa esperança
    e inspiração para tentar com mais força.
  • 61:19 - 61:24
    Ainda assim, acho que é importante
    retirar as crianças dessa situação,
  • 61:24 - 61:26
    ter essa opção.
  • 61:26 - 61:32
    "Consegues ajudar a proteger os nossos filhos,
    ou precisas de sair?
  • 61:32 - 61:37
    Ou seremos nós a sair
    para os podermos proteger?"
  • 61:38 - 61:43
    Demasiados de nós tornamo-nos dependentes
    porque um dos nossos pais,
  • 61:44 - 61:46
    ou até ambos,
    eram dependentes.
  • 61:47 - 61:51
    E assim, o ciclo de sofrimento
    repete-se.
  • 61:51 - 61:57
    Ou as crianças crescem com muitos outros
    problemas — podem não desenvolver o vício,
  • 61:57 - 62:01
    mas podem desenvolver outros mecanismos
    negativos de sobrevivência.
  • 62:02 - 62:05
    E por isso, precisamos de proteger as crianças.
  • 62:06 - 62:14
    E tenho de dizer
    que precisamos de muita ajuda
  • 62:16 - 62:18
    à nossa volta.
  • 62:20 - 62:28
    Mas no fim, somos nós que temos
    de nos levantar e dar o nosso melhor
  • 62:28 - 62:32
    para nos curarmos e transformarmos.
  • 62:33 - 62:37
    Temos de nos enfrentar a nós mesmos,
    enfrentar o nosso sofrimento,
  • 62:38 - 62:41
    e procurar uma saída por nós próprios.
  • 62:42 - 62:49
    Caso contrário, os nossos entes queridos esforçam-se tanto,
    mas também têm as suas limitações.
  • 62:49 - 62:55
    Eles próprios estão a tentar sobreviver,
    e no fim podem ficar demasiado frustrados,
  • 62:55 - 62:59
    podem falar de forma pouco habilidosa,
    por frustração e dor,
  • 63:00 - 63:03
    ou podem afastar-se de nós.
  • 63:04 - 63:10
    Por isso, temos de ser nós próprios
    a ficar connosco mesmos
  • 63:11 - 63:17
    nos momentos bons e nos maus,
    a levantar-nos e a procurar ajuda por nós.
  • 63:18 - 63:24
    E para nós, familiares,
    é importante percebermos que só podemos ajudar
  • 63:25 - 63:30
    até certo ponto,
    só podemos ser responsáveis até certo ponto.
  • 63:32 - 63:36
    Não conseguimos mudar alguém
    que não quer mudar,
  • 63:36 - 63:38
    que ainda não vê o seu problema,
  • 63:38 - 63:43
    ou que ainda não tem força interior
    suficiente para o fazer.
  • 63:44 - 63:49
    Aquilo que podemos realmente oferecer
    é amor.
  • 63:49 - 63:52
    Oferecer fala amorosa
    e escuta profunda.
  • 63:53 - 63:56
    Dizer:
    "Eu sei que estás a sofrer muito,
  • 63:56 - 64:02
    e lamento tanto ver-te sofrer,
    lamento não conseguir ajudar-te.
  • 64:03 - 64:04
    Mas eu amo-te.
  • 64:06 - 64:09
    E desejo que encontres uma saída."
  • 64:10 - 64:15
    Isso pode mesmo salvar essa pessoa —
    o teu amor.
  • 64:16 - 64:21
    Tenho um irmão mais novo,
    três anos e meio mais novo do que eu.
  • 64:25 - 64:31
    Crescemos juntos, viemos juntos para os EUA,
    eu sofri de depressão,
  • 64:31 - 64:38
    ele também sofreu de depressão,
    ele teve pensamentos suicidas, e eu também.
  • 64:40 - 64:48
    Mas eu pensava no meu irmão,
    e não queria fazer nada à minha vida
  • 64:48 - 64:54
    que o deixasse sozinho neste mundo.
  • 64:55 - 64:58
    E sabes, ele fez o mesmo por mim.
  • 64:59 - 65:05
    Contou-me que houve momentos
    em que tinha a arma junto à têmpora,
  • 65:07 - 65:09
    mas pensava em mim.
  • 65:09 - 65:12
    Não queria deixar-me sozinha
    neste mundo,
  • 65:13 - 65:15
    porque os nossos pais
    já tinham falecido.
  • 65:16 - 65:18
    Então, ele salvou-se por mim.
  • 65:20 - 65:28
    Às vezes, não conseguimos salvar-nos
    por causa do sofrimento —
  • 65:28 - 65:31
    é demasiado profundo,
    ou o hábito está demasiado enraizado.
  • 65:33 - 65:38
    Mas podemos salvar-nos
    pelos que amamos,
  • 65:38 - 65:41
    e às vezes isso resulta.
  • 65:44 - 65:52
    E eu gastei muito dinheiro com o meu irmão
    quando estava na universidade.
  • 65:52 - 65:58
    A certa altura, cheguei a calcular —
    gastei mais de 50 mil dólares com ele.
  • 65:59 - 66:01
    Isto foi há mais de 20 anos.
  • 66:02 - 66:04
    E eu era apenas uma estudante universitária.
  • 66:06 - 66:13
    Esse dinheiro vinha apenas
    de bolsas e do meu trabalho.
  • 66:14 - 66:16
    E de uma vida simples.
  • 66:16 - 66:20
    Não gastava com nada,
    só com o meu irmão.
  • 66:21 - 66:27
    Mas também aprendi
    a nunca lhe falar com dureza,
  • 66:27 - 66:30
    nunca disse: "Dei-te todo este dinheiro!"
  • 66:31 - 66:34
    Não. Nunca disse isso.
    Apenas chorava e dizia:
  • 66:35 - 66:41
    "Só quero que sejas feliz, querido.
    Só quero que estejas em segurança."
  • 66:43 - 66:50
    Escrevi tantos poemas sobre a morte dele,
    porque achava que um dia
  • 66:50 - 66:58
    ia receber a notícia —
    num acidente de mota, numa festa,
  • 66:58 - 67:01
    ou por suicídio, sabes?
  • 67:03 - 67:05
    Mas amava-o tanto.
    Continuava a dizer-lhe
  • 67:07 - 67:11
    que tudo o que queria
    era que ele estivesse seguro, feliz.
  • 67:10 - 67:15
    E mantive-me ao lado dele,
    todos estes anos.
  • 67:15 - 67:18
    Nunca esperei que ele
    fosse para a universidade como eu,
  • 67:19 - 67:20
    nem que fosse médico como eu,
  • 67:22 - 67:26
    só queria que ele estivesse seguro
    e feliz.
  • 67:28 - 67:30
    E agora ele está bem.
  • 67:31 - 67:32
    Trabalha muito.
  • 67:32 - 67:36
    Parte-me o coração às vezes ver
    quanto ele trabalha, porque não tem
  • 67:37 - 67:42
    um diploma, uma formação académica,
    por isso faz trabalho manual.
  • 67:42 - 67:47
    Faz construção, cria coisas,
    mas é muito criativo.
  • 67:48 - 67:50
    Tem uma mente incrível.
  • 67:51 - 67:54
    Pensa numa coisa,
    desenha-a e constrói-a.
  • 67:55 - 67:58
    E eu tenho tanto orgulho nele.
  • 67:59 - 68:05
    E mais do que tudo, sinto-me tão feliz,
    porque ele está seguro.
  • 68:05 - 68:07
    E agora,
  • 68:09 - 68:11
    cuida bem da filha,
  • 68:12 - 68:17
    está presente para a esposa, para a família,
    está vivo!
  • 68:20 - 68:22
    E essa é a minha maior felicidade.
  • 68:23 - 68:29
    E tu também podes fazer isso
    por ti e pelos teus entes queridos.
  • 68:29 - 68:35
    Oferece-lhes o teu amor da melhor forma que conseguires,
    e oferece esse amor a ti próprio.
  • 68:35 - 68:41
    Levanta-te, dá o teu melhor —
    e é só isso que podes pedir de ti.
  • 68:41 - 68:46
    Só faz o melhor que conseguires, meu querido.
    E tu és suficiente.
  • 68:47 - 68:50
    Está bem?
    Tu és mais do que suficiente.
  • 68:57 - 69:01
    (Fora de cena)Muito obrigada, querida Irmã,
    por estares presente para ti,
  • 69:01 - 69:04
    para o teu irmão,
  • 69:06 - 69:10
    e para o meu pai,
    que já não está entre nós,
  • 69:10 - 69:14
    mas há tantas pessoas
    como o meu pai por aí
  • 69:15 - 69:21
    que serão reconfortadas
    e ajudadas pelo que partilhaste hoje.
  • 69:28 - 69:32
    (sons de pássaros)
Title:
To the Root of Addictions | with Sister Dang Nghiem
Description:

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Video Language:
English
Duration:
01:10:07

Portuguese subtitles

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