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Malcolm Gladwell sobre Molho de Espaguete

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    Acho que eu deveria falar sobre meu novo livro,
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    que se chama "Blink", e fala sobre decisões instantâneas e primeiras impressões.
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    Ele será lançado em Janeiro, e espero que cada um de vocês compre três.
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    Mas eu estava pensando sobre isso,
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    e me dei conta de que embora meu novo livro me deixe feliz,
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    e acho que deixará minha mãe feliz,
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    ele não é exatamente sobre felicidade.
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    Então decidi que em vez disso, falarei sobre alguém que
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    eu acho que fez tanto para deixar os Americanos felizes
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    como talvez nenhum outro nos últimos 20 anos.
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    Um homem que é um grande herói para mim.
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    Alguém chamado Howard Moskowitz,
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    que é mais famoso por ter reinventado o molho de espaguete.
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    Howard é mais ou menos desta altura, é rendondo,
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    está com seus sessenta anos, usa óculos enormes
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    tem cabelo grisalho e ralo, e tem um tipo maravilhoso de exuberância e vitalidade,
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    ele tem um papagaio, e ama ópera,
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    e é um grande fã de história medieval.
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    E de profissão, ele é um psicofisiologista.
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    Bem, eu devo dizer que não faço ideia do que seja um psicofisiologista,
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    se bem que já cheguei a namorar uma garota por dois anos que estava fazendo
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    doutorado em psicofisiologia.
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    Isso deve contar algo sobre aquele relacionamento. (Risos)
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    Até onde eu sei, a psicofisiologia trata de medir coisas.
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    E Howard se interessa muito por medir as coisas.
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    Ele conseguiu seu título de doutor em Harvard,
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    e montou uma pequena consultoria em White Plains, Nova Iorque.
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    E um de seus primeiros clientes -- isto foi há vários anos, no início dos anos 70
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    -- um de seus primeiros clientes foi a Pepsi.
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    E a Pepsi chegou para Howard e disse,
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    "Você sabe, existe essa coisa nova chamada aspartame,
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    e nós queremos produzir a Pepsi Diet.
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    Nós gostaríamos que você descobrisse quanto aspartame devemos colocar em
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    cada lata de Pepsi Diet, para ter a bebida perfeita." Certo?
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    Esta parece uma pergunta incrivelmente direta para se responder,
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    e foi o que Howard pensou. Porque a Pepsi lhe disse,
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    "Olhe, nós estamos trabalhando numa faixa entre oito e 12 por cento.
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    Qualquer coisa abaixo de oito por cento a doçura não fica doce o suficiente,
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    e qualquer coisa acima de 12 por cento a doçura fica doce demais.
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    Nós queremos saber, qual o ponto ideal de doçura entre oito e 12?"
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    Agora, se eu lhes desse esse problema para resolver, todos diriam que é muito simples.
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    O que fazemos é arrumar uma grande quantidade de Pepsi experimental,
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    em todos os graus de doçura -- oito por cento, 8.1, 8.2, 8.3,
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    até chegar a 12 -- e nós testamos isso com milhares de pessoas,
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    marcamos os resultados em um gráfico,
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    e escolhemos a concentração mais popular. Certo? Muito simples.
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    Howard fez o experimento, colocou os dados coletados em um gráfico,
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    e de repente percebeu que não era uma bela curva com forma de sino.
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    Na verdade, os dados não faziam sentido algum.
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    Era uma bagunça. Estava tudo espalhado.
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    Agora, a maioria das pessoas nesse negócio, no mundo de testar alimentos e essas coisas,
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    não se desanimam quando os dados ficam bagunçados.
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    Eles pensam, bem, você sabe, descobrir o que as pessoas pensam sobre refrigerantes não é tão fácil
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    Você sabe, talvez fizemos algo errado no meio do caminho.
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    Sabe como é, vamos fazer uma suposição bem educada,
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    e eles simplesmente apontam e decidem pelos 10 por cento, bem no meio.
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    Howard não se satisfaz tão facilmente.
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    Howard é um homem com um certo grau de padrões intelectuais.
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    E isto não estava bom o suficiente para ele,
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    e essa pergunta perturbou ele durante anos.
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    E ele refletia sobre isso e dizia, o que estava errado?
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    Por que não podíamos compreender esse experimento com a Pepsi Diet?
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    Um dia, ele estava sentado em um restaurante em White Plains,
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    prestes a tentar imaginar algum trabalho para Nescafe.
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    E de repente, como um relâmpago, a resposta veio.
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    E ela era que, quando eles analizaram os dados da Pepsi Diet,
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    eles estavam fazendo a pergunta errada.
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    Eles estavam procurando pela Pepsi perfeita,
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    e eles deveriam ter procurado pelas Pepsis perfeitas. Confiem em mim.
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    Esta era uma enorme revelação.
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    Esta foi uma das mais brilhantes descobertas em toda a ciência alimentícia.
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    E Howard imediatamente pegou a estrada,
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    e foi para conferências pelo país,
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    levantava-se e dizia,
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    "Vocês têm procurado pela Pepsi perfeita. Vocês estão errados.
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    Vocês deviam procurar pelas Pepsis perfeitas."
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    E as pessoas olhavam para ele com uma expressão vazia, e lhe diziam,
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    "O que você está dizendo? Isso é uma loucura."
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    E eles diziam, você sabe, "Saia! Próximo!"
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    Tentava fazer negócios, mas ninguém contratava ele -- mas ele estava obsecado,
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    e ele falava sobre isso, e falava sobre isso, e falava sobre isso.
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    Howard ama a expressão ídiche
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    "para um verme em uma raiz-forte, o mundo é uma raiz-forte"
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    Esta era a sua raiz-forte. (Risos) Ele estava obsecado por isso!
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    E finalmente, ele teve uma descoberta. Vlasic Pickles veio para ele,
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    e eles disseram, "Sr. Moscowitz -- Doutor Moskowitz --
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    nós queremos fazer o picles perfeito." E ele disse,
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    "Não existe o picles perfeito, existem apenas os picles perfeitos."
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    E ele chegou para eles e disse, "Vocês não precisam apenas melhorar o seu tradicional,
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    vocês precisam criar sabores."
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    E foi aí que surgiu o picles picante.
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    Então a próxima pessoa veio, e era a Campbell's Soup.
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    E isto era ainda mais importante. De fato,
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    foi na Campbell's Soup que Howard construiu sua reputação.
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    Campbell's fabricava Prego, e no início da década de 80, Prego estava lutando próxima a Ragu,
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    que era o molho de tomate dominante nas décadas de 70 e 80.
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    Agora, na indústria -- eu não sei se vocês se importam sobre isso,
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    ou quanto tempo eu tenho para falar sobre isso.
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    Mas ele era, tecnicamente falando -- este é um aparte --
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    o Prego era um melhor molho de tomate que o Ragu
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    A qualidade da pasta de tomate era muito melhor, a mistura de temperos era muito superior,
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    ele aderia na massa de uma maneira muito mais prazeirosa. De fato,
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    eles fizeram um famoso teste da tigela com Ragu e Prego, na década de 70.
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    Você tinha um prato de espaguete, e você derramava ele em cima, certo?
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    E o Ragu ia todo para o fundo do prato, e o Prego ficava por cima.
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    Isso é chamado "aderência."
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    E, de alguma maneira, apesar do fato de que eles era muito superiores em aderência,
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    e a qualidade da sua pasta de tomate, Prego estava lutando.
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    Então eles vieram para Howard, e disseram, conserte-nos.
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    E Howard olhou para sua linha de produtos, e disse,
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    o que vocês tem é uma sociedade de tomates mortos.
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    Então ele disse, isso é o que eu quero fazer.
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    E ele se reuniu com a cozinha da Campbell's Soup,
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    e ele fez 45 variedades de molho de tomate. E ele mexeu neles
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    de acordo com todas as maneiras concebíveis que um molho de tomate podia variar.
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    Pela doçura, pelo nível de alho, de acidez, de amargor, pelos tomates,
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    pelos sólidos visíveis -- meu termo predileto no ramo dos molhos de espaguete. (Risos)
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    Tudo que podia variar num molho de tomate, ele variou no molho de tomate.
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    E ele pegou todo esse grupo de 45 molhos de espaguete, e ele pegou a estrada.
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    Ele foi para Nova Iorque, ele foi para Chicago, para Jacksonville,
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    ele foi para Los Angeles. E ele trazia pessoas aos montes. Para grandes salas.
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    E ele deixava eles sentados por duas horas, e dava,
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    no período dessas duas horas, dez tigelas.
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    Dez pequenas tigelas de macarrão, com um molho de espaguete diferente em cada uma.
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    E depois de comer cada tigela, eles tinham que classificar, de 0 a 100,
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    quanto eles achavam que o molho era bom.
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    Ao final do processo, após fazer isso por meses e meses,
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    ele tinha uma montanha de dados
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    sobre como o povo americano queria o molho de espaguete.
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    E então ele analisou esses dados.
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    Agora, ele estava procurando pela variedade de molho de espaguete mais popular? Não!
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    Howard não acredita que exista tal coisa.
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    Ao invés, ele olhou para os dados, e ele disse,
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    vamos ver se nós podemos agrupar esses diferentes pontos.
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    Vamos ver se eles se reunem em volta de certas ideias.
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    E certamente, se você sentasse e analizasse todos esses dados sobre molho de espaguete,
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    você perceberia que todos os americanos se encaixam em um de três grupos.
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    Tem pessoas que gostam de seu molho de espaguete uniforme,
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    tem pessoas que gostam de seu molho de espaguete picante
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    e tem pessoas que gostam dele com pedaços inteiros.
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    E desses três fatos, o terceiro era o mais significativo.
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    Porque, na época, no início da década de 80,
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    se você fosse para um supermercado,
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    você não encontraria molho de espaguete com pedaços.
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    E Prego chegou para Howard, e eles disseram,
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    "Você está me falando que um terço dos americanos suplica por molho de espaguete com pedaços inteiros
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    e ainda assim ninguém está atendendo suas necessidades?" E ele disse sim!
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    (Risos) E Prego então voltou,
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    e reformulou completamente seu molho de espaguete,
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    e lançou uma linha de molhos com pedaços que dominou o mercado
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    de molhos de espaguete neste país imediatamente.
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    E nos 10 anos seguintes, eles fizeram 600 milhões de dólares
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    de sua linha de molhos extra grossos.
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    E todo mundo na indústria viu o que Howard tinha feito, e eles disseram,
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    "Meu deus! Nós estávamos entendendo tudo errado!"
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    E foi aí que você começou a ter sete tipos diferentes de vinagre,
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    e 14 tipos diferentes de mostarda, e 71 tipos diferentes de azeite --
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    e então, um tempo depois, até Ragu contratou Howard,
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    e Howard fez para a Ragu exatamente a mesma coisa que ele fez para a Prego.
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    E hoje, se você vai ao supermercado, um bom de verdade,
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    e se você olhar quantos Ragus tem lá --
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    Você sabe quantos serão? 36!
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    Em seis variedades: Queijo, Light, Robusto,
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    Rico e Encorpado, Tradicional do Velho Mundo, Jardim dos Pedaços. (Risos)
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    Este é o feito de Howard. Este é o presente de Howard para o povo americano.
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    Agora, por que isso é importante?
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    Isso é, na verdade, extremamente importante. Eu vou lhes explicar o por quê.
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    O que Howard fez foi mudar fundamentalmente a forma como a indústria de alimentos pensa
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    sobre como nos fazer feliz.
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    A premissa número um na indústria de alimentos era
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    que a forma de descobrir o que as pessoas querem comer --
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    o que as fará felizes -- é perguntar a elas.
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    E por anos e anos e anos e anos, Ragu e Prego fizeram
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    grupos focais, e eles colocavam as pessoas sentadas, e eles diziam,
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    "O que você quer em um molho de espaguete? Diga-nos o que você quer em um molho de espaguete."
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    E por todos esses anos -- 20, 30 anos --
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    através de todas essas sessões de grupos focais,
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    ninguém disse que queria pedaços inteiros.
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    Mesmo que pelo menos um terço deles, no fundo de seus corações, realmente quisesse.
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    (Risos)
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    As pessoas não sabem o que querem! Certo?
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    Como Howard adora dizer, "A mente não sabe o que a lingua quer."
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    É um mistério!
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    E um passo criticamente importante em compreender os nossos desejos
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    e gostos é entender que não podemos sempre explicar o que queremos de verdade.
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    Se eu lhes perguntasse, por exemplo, nessa sala, o que vocês querem em um café,
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    vocês sabem o que diriam? Cada um de vocês diria "eu quero um escuro, forte e bem torrado"
  • 10:31 - 10:33
    é o que as pessoas sempre dizem quando você lhes pergunta o que eles querem em um café
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    Do que você gosta? Escuro, forte, e bem torrado!
  • 10:36 - 10:40
    Qual porcentagem de vocês realmente gosta de um escuro, forte, e bem torrado?
  • 10:40 - 10:43
    De acordo com Howard, algo entre 25 e 27 porcento de vocês.
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    A maioria de vocês gosta de café fraco e com leite
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    Mas vocês nunca vão dizer o que querem a quem perguntar --
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    que "eu quero um café fraco e com leite". (Risos)
  • 10:52 - 10:57
    Então essa foi a primeira coisa que Howard fez.
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    A segunda coisa que Howard fez foi nos fazer perceber --
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    é um outro ponto bastante crítico --
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    ele nos fez perceber a importância do que ele gosta de chamar de segmentação horizontal.
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    Por que isso é crítico? É crítico porque
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    esta é a maneira como a indústria de alimentos pensava antes de Howard. Certo?
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    No que eles estavam obsecados, no início dos anos 80? Eles estavam obsecados por mostarda.
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    Em particular, eles estavam obsecados com a história da Grey Poupon. Certo?
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    Antes, existiam duas mostardas. A French's e a Gulden's.
  • 11:23 - 11:25
    O que elas eram? Mostarda amarela. O que tem na mostarda amarela?
  • 11:25 - 11:29
    Sementes de mostarda amarela, açafrão e páprica. Isso era mostarda.
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    Grey Poupon veio com uma Dijon. Certo?
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    Sementes de mostarda marrom muito mais voláteis, um pouco de vinho branco, uma pancada no nariz,
  • 11:38 - 11:41
    aromas muito mais delicados. E o que eles fazem?
  • 11:41 - 11:46
    Eles a colocam em um pequeníssimo pote de vidro, com um maravilhoso rótulo esmaltado
  • 11:46 - 11:50
    fizeram ela parecer francesa, mesmo sendo fabricada em Oxnard, Califórnia.
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    E ao invés de cobrar um dólar e cinquenta centavos por um pote de 226 gramas,
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    como a French's e Gulden's faziam, eles decidiram cobrar quatro dólares.
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    E eles tinham aqueles anúncios, certo? Com um cara em um Rolls Royce,
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    E ele estava comendo Grey Poupon, um outro Rolls Royce encostava,
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    e ele dizia, você tem alguma Grey Poupon?
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    E essa coisa toda, depois que eles fizeram isso, Grey Poupon deslanchou!
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    Tomou o negócio das mostardas!
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    E a lição de casa de todos, a partir daí, foi
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    que a forma de fazer as pessoas felizes
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    é dá-las algo que seja mais caro, algo que elas desejem. Certo?
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    É fazer eles darem as costas ao que eles pensam que gostam agora,
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    e se esforcem para alcançar algo mais alto na hierarquia das mostardas.
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    Uma mostarda melhor! Uma mostarda mais cara!
  • 12:33 - 12:36
    Uma mostarda com mais sofisticação, cultura e significado.
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    E Howard olhou para isso e disse, isso está errado!
  • 12:39 - 12:42
    A mostarda não tem uma hierarquia.
  • 12:42 - 12:47
    A mostarda existe, assim como o molho de tomare, em um plano horizontal.
  • 12:47 - 12:50
    Não existe uma boa mostarda, ou uma má mostarda.
  • 12:50 - 12:52
    Não existe uma mostarda perfeita, nem uma mostarda imperfeita.
  • 12:52 - 12:56
    Existem apenas diferentes tipos de mostarda que servem diferentes tipos de pessoas.
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    Ele fundamentalmente democratizou a maneira como nós pensamos sobre gosto.
  • 13:01 - 13:06
    E por isso, também, nós devemos a Howard Moskowitz um grande voto de agradecimento.
  • 13:06 - 13:10
    A terceira coisa que Howard fez, e talvez a mais importante,
  • 13:10 - 13:13
    foi que Howard confrontou a noção do prato Platônico. (Risos)
  • 13:13 - 13:16
    O que eu quero dizer com isso?
  • 13:16 - 13:18
    Por um longuíssimo período na indústria de alimentos,
  • 13:18 - 13:25
    existia a ideia de que existia uma forma, a forma perfeita, de se preparar um prato.
  • 13:25 - 13:29
    Você vai ao Chez Panisse, eles lhe dão o sashimi de cauda-vermelha
  • 13:29 - 13:33
    com sementes de abóbora tostadas, em uma redução de alguma coisa
  • 13:33 - 13:36
    Eles não lhe dão cinco opções de redução, certo?
  • 13:36 - 13:40
    Eles não dizem, você quer a redução extra-grossa, ou você quer a -- não!
  • 13:40 - 13:43
    Você tem apenas a redução. Por quê? Por causa do chefe de Chez Panisse
  • 13:43 - 13:46
    possui uma noção Platônica sobre sashimi de cauda-vermelha
  • 13:46 - 13:49
    Esta é a forma como deve ser.
  • 13:49 - 13:53
    E ela serve dessa forma todo o tempo,
  • 13:53 - 13:55
    e se você discutir com ela, ela lhe dirá,
  • 13:55 - 14:00
    "Você sabe de uma coisa? Você está errado! Esta é a melhor maneira que ele deve ser aqui nesse restaurante."
  • 14:00 - 14:04
    Agora, a mesma ideia também alimentava a indústria de alimentos comerciais.
  • 14:04 - 14:07
    Eles tinham uma noção, uma noção Platônica, do que era o molho de tomate.
  • 14:07 - 14:10
    E de onde ela vinha? Ela vinha da Itália.
  • 14:10 - 14:14
    O que é o molho de tomate italiano? Ele é misturado, é fino.
  • 14:14 - 14:17
    A cultura do molho de tomate era fina.
  • 14:17 - 14:20
    Quando se falava sobre o autêntico molho de tomate, na década de 1970,
  • 14:20 - 14:23
    nós falávamos sobre o molho de tomate italiano. Nós falávamos sobre os primeiros ragus.
  • 14:23 - 14:26
    Que não possuia partes sólidas visíveis, certo?
  • 14:26 - 14:28
    Que eram finos, e você colocava apenas um pouco em cima
  • 14:28 - 14:30
    e ele afundava para o fundo da massa.
  • 14:30 - 14:32
    Era isso que ele era. E por que nós éramos ligados a isso?
  • 14:32 - 14:35
    Porque nós achávamos que o que era necessário para fazer as pessoas felizes
  • 14:35 - 14:41
    era A, oferecer o molho de tomate mais culturalmente autêntico,
  • 14:41 - 14:45
    e B, nós pensávamos que se nós déssemos a eles o molho de tomate culturalmente autêntico,
  • 14:45 - 14:47
    elas iriam adotá-lo.
  • 14:47 - 14:50
    E era isso que deveria agradar o maior número de pessoas.
  • 14:50 - 14:52
    E a razão de nós pensarmos assim -- em outras palavras,
  • 14:52 - 14:56
    as pessoas no mundo da cozinha estavam procurando por cozinhas universais.
  • 14:56 - 14:59
    Eles procuravam uma única forma de tratar a todos.
  • 14:59 - 15:02
    E há uma boa razão para eles estarem obsecados com essa ideia de universalismos,
  • 15:02 - 15:06
    porque toda a ciência, durante o século 19 e boa parte do 20,
  • 15:06 - 15:08
    era obsecada por universalidade.
  • 15:08 - 15:14
    Psicólogos, cientistas médicos, economistas, estavam todos interessados em descobrir
  • 15:14 - 15:17
    as regras que governam a forma como todos nós nos comportamos.
  • 15:17 - 15:19
    Mas isso mudou, certo?
  • 15:19 - 15:22
    Qual é a grande revolução da ciência nos últimos 10, 15 anos?
  • 15:22 - 15:28
    É a mudança, da busca pelo universalismo, para a compreensão da variabilidade.
  • 15:28 - 15:32
    No campo médico, agora, nós não queremos saber como necessariamente --
  • 15:32 - 15:37
    apenas como o câncer funciona, nós queremos saber como o seu câncer é diferente do meu câncer.
  • 15:37 - 15:40
    Eu pesquiso meu câncer diferente do seu câncer.
  • 15:40 - 15:44
    A genética abriu as portas para o estudo da variabilidade humana.
  • 15:44 - 15:47
    O que Howard Moskowitz estava fazendo era dizer que essa mesma revolução
  • 15:47 - 15:51
    precisava acontecer no mundo do molho de tomate.
  • 15:51 - 15:55
    E para isso, nós lhe devemos um grande voto de agradecimento.
  • 15:55 - 16:00
    Vou lhes dar uma última ilustração de variabilidade, e ela é -- oh, desculpe.
  • 16:00 - 16:03
    Howard não apenas acreditava nisso, mas ele deu um segundo passo,
  • 16:03 - 16:09
    que foi dizer que quando nós buscamos princípios universais nos alimentos,
  • 16:09 - 16:14
    nós não estamos apenas errando, na verdade estamos nos fazendo um enorme desserviço.®
  • 16:14 - 16:16
    E o exemplo que ele usou foi o café.
  • 16:16 - 16:21
    E café é algo com o que ele ele fez muitos trabalhos, com a Nescafe.
  • 16:21 - 16:24
    se eu pedisse a todos vocês para tentar e criar uma marca de café
  • 16:24 - 16:27
    -- um tipo de café, uma mistura -- que fizesse todos vocês felizes,
  • 16:27 - 16:29
    e depois eu pedisse para vocês avaliarem o café,
  • 16:29 - 16:34
    a nota média nesta sala para o café seria cerca de 60, em uma escala de 0 a 100.
  • 16:34 - 16:37
    Se, entretando, vocês me permitissem dividí-los em grupos de cafés,
  • 16:37 - 16:39
    talvez três ou quatro grupos de cafés,
  • 16:39 - 16:44
    e eu pudesse fazer um café específico para cada um dos grupos,
  • 16:44 - 16:48
    sua nota iria de 60 para 75 ou 78.
  • 16:48 - 16:53
    A diferença entre café a 60 e café a 78
  • 16:53 - 16:56
    é a diferença entre café que faz você fazer careta,
  • 16:56 - 17:00
    e café que te deixa delirantemente feliz.
  • 17:00 - 17:04
    Esta é a última, e eu acho que mais bela, lição de Howard Moskowitz.
  • 17:04 - 17:08
    Que ao abraçar a diversidade dos seres humanos,
  • 17:08 - 17:11
    nós encontraremos um caminho mais garantido para a felicidade de verdade.
  • 17:11 - 17:13
    Obrigado.
Title:
Malcolm Gladwell sobre Molho de Espaguete
Speaker:
Malcolm Gladwell
Description:

Autor de Tipping Point, Malcolm Gladwell detalha a busca pelo molho de espaguete perfeito pela indústria alimentícia -- e faz uma discussão mais ampla sobre a natureza da escolha e da felicidade

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:13
Ovidio Maribondo added a translation

Portuguese, Brazilian subtitles

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