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A manhã cedo no mosteiro é um momento maravilhoso.
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É muito silencioso.
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É muito fresco.
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Muitas vezes, temos nevoeiro matinal.
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Temos orvalho nas folhas, nas árvores.
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E, quando praticamos o silêncio nobre, conseguimos estar realmente presentes para todas estas coisas maravilhosas e desfrutá-las profundamente.
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Há sempre algo para experienciar.
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Mesmo que cheguemos a um lugar muito, muito tranquilo,
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ainda assim encontraremos algo para ouvir.
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E esse algo pode ser muito belo.
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Pode ser muito profundo e maravilhoso.
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A prática do silêncio nobre pode ser assim.
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Desligamos todos os nossos dispositivos e pensamos que vamos perder algo.
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Mas, depois, descobrimos a vida de uma forma mais profunda.
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Para mim, o silêncio nobre cria uma base para a nossa prática.
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Quando estamos em silêncio, temos a oportunidade de estar totalmente presentes no que estamos a fazer.
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Temos a oportunidade de estar atentos.
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As nossas mentes tendem a estar constantemente voltadas para o exterior.
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E, quando falamos e comunicamos, vivemos nesse mundo de conceitos,
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de linguagem e de olhar para fora.
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Mas, quando praticamos o silêncio nobre, temos a oportunidade de olhar mais profundamente para a vida.
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Podemos olhar para uma flor, mas não dizemos que é uma flor.
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Olhamos para ela com muito cuidado, durante bastante tempo,
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nesse espaço de silêncio, e sabemos que é muito mais do que apenas uma flor.
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Não conseguimos explicar o que ela é em palavras.
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E é graças à prática do silêncio nobre que conseguimos entrar em contacto,
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pelo menos um pouco, com essa natureza muito profunda
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da flor ou de qualquer coisa com que estejamos a lidar nesse momento.
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Querido professor respeitado, querida comunidade, queridos amigos.
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O silêncio nobre é uma das práticas mais importantes que temos no mosteiro.
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Também é uma prática que podes levar para casa,
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para o lugar onde vives, ou até para o lugar onde trabalhas ou onde gostas de passar o tempo.
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No mosteiro, temos muitos períodos de silêncio.
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Mas o maior período é à noite; após a atividade da noite
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e até depois do pequeno-almoço na manhã seguinte, observamos um silêncio profundo.
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Isto significa que não falamos uns com os outros.
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Mas não se trata apenas de silêncio exterior.
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Às vezes, podemos não estar a falar e as pessoas à nossa volta também estão em silêncio.
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Mas há muito barulho e conversas na nossa mente ao mesmo tempo.
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Isso ainda não é o verdadeiro silêncio.
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E não é para nos julgarmos ou sentirmos que não estamos a praticar bem,
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mas partilho isso para sabermos em que direção queremos ir.
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Queremos cultivar
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o silêncio no nosso coração.
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Esse é o verdadeiro silêncio nobre.
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O período de silêncio nobre ajuda-nos a voltar a nós próprios e a praticar a atenção plena
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em tudo o que fazemos à noite, antes de dormir.
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Ao sairmos da atividade da noite, seguimos os nossos passos e tomamos o nosso tempo.
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Neste período de silêncio nobre, é mais fácil praticar a caminhada consciente,
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porque não estamos a falar com as pessoas à nossa volta.
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E, ao caminharmos conscientemente, podemos desfrutar da frescura e do silêncio da noite.
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O período de silêncio nobre não é para praticarmos o silêncio longe das nossas atividades,
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mas para trazermos o silêncio para as nossas atividades.
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Ao escovar os dentes, na nossa rotina para nos prepararmos para dormir,
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em todas estas pequenas coisas, introduzimos o elemento do silêncio nessas atividades,
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para que possamos estar profundamente presentes nelas
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e continuar a cultivar a nossa prática durante estas tarefas simples e diárias, que muitas vezes tomamos como garantidas.
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Também praticamos o silêncio nobre durante muitas das nossas atividades diárias no mosteiro,
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incluindo a meditação a comer, a meditação a caminhar, a escuta da palestra do Dharma e o relaxamento profundo.
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E uma coisa que muitas destas práticas têm em comum é
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que há algum tipo de consumo a acontecer.
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Estamos a consumir alimentos durante a meditação a comer.
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Durante a palestra do Dharma, estamos a abrir a mente para receber a chuva do Dharma.
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A presença da Sangha à nossa volta, a energia coletiva da Sangha.
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Há muito alimento saudável no mosteiro, e ao praticarmos o silêncio nobre,
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facilitamos a entrada de todo esse alimento.
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E podemos fazer bom uso de todos estes alimentos maravilhosos e saudáveis que estão disponíveis para nós.
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Talvez também queiras praticar o silêncio nobre em casa.
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E penso que esta é uma ideia maravilhosa.
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Há muito barulho no mundo hoje em dia,
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entre o trânsito da cidade e os nossos vizinhos à nossa volta.
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Talvez o ambiente familiar possa ser barulhento por vezes.
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Gostei de praticar o silêncio nobre quando estava em casa com a minha família, há cerca de um ano, numa visita.
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Todas as manhãs, levantávamo-nos em silêncio nobre
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e sentávamo-nos para desfrutar de um chá juntos numa breve meditação sentada.
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Depois disso, preparávamos um pequeno-almoço simples e comíamos juntos em silêncio.
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Gostei muito dessa prática.
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Senti que criava uma boa base para o resto do dia.
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Talvez queiras praticar o silêncio nobre no teu local de trabalho, como num escritório.
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Há alguns lugares onde existe uma sala de oração ou uma sala de meditação.
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Na universidade que frequentei, tínhamos uma sala de meditação
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onde eu costumava ir durante o dia, geralmente depois do almoço, para praticar a meditação sentada.
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E achei isso muito, muito útil.
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A minha vida era tão ocupada.
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Vivia numa cidade grande,
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e muitas vezes sentia-me ansioso e sobrecarregado por todas as pessoas à minha volta.
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A velocidade a que a vida acontecia.
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E não temos de praticar apenas a meditação sentada.
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Se quisermos, podemos simplesmente dar um passeio no jardim ou na relva fora do nosso local de trabalho e deixar ir as nossas preocupações.
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Seja o que for que estivermos a pensar.
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Conecta-te com o silêncio à tua volta ou com os sons que chegam aos teus ouvidos.
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Podemos praticar a atenção plena da nossa audição.
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E, usando isso como objeto da nossa meditação,
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ajudamos a nossa mente a acalmar-se,
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mesmo que a nossa mente esteja muito ocupada, ansiosa e a pensar em muitos projetos.
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Hoje em dia, temos os nossos telemóveis, os nossos computadores,
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e quando desligamos todos estes dispositivos, podemos sentir que estamos a perder algo.
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Podemos sentir que a vida, tal como é, sem estes dispositivos, é um pouco aborrecida.
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É um pouco monótona.
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Mas, depois, descobrimos a vida de uma forma mais profunda.
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Talvez não logo de início.
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Talvez, ao princípio,
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não estejamos habituados a conectar-nos com o mundo à nossa volta através dos nossos cinco sentidos de forma profunda.
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Mas, à medida que continuamos a estar nesse espaço de silêncio nobre,
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vamos confrontar o mundo cada vez mais,
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e podemos descobrir algumas coisas de que não estávamos conscientes antes.
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Por isso, espero que desfrutes da prática do silêncio nobre.
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Pensa nisso como uma exploração.
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Há muitas coisas para aprender e descobrir através da prática.