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Havia um jovem da América
que ficou no Upper Hamlet.
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Um dia, foi-lhe dada
a tarefa de escrever...
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os elementos positivos,
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as belas características
da sua mãe.
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Outras pessoas, incluindo monges,
também receberam essa tarefa
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de praticar a meditação caminhando,
a meditação sentada, a respiração consciente,
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e usar uma folha de papel
para listar todos os elementos positivos...
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da sua mãe.
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O Upper Hamlet é para os residentes,
tanto monges como leigos...
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Por isso uso a palavra "ele".
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E Richard não acreditava que
conseguiria escrever mais de três linhas.
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"O meu pai, sim, consigo.
Ele tem muitas qualidades.
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Mas a minha mãe, não penso
que tenha assim tantas qualidades."
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Como a tarefa lhe tinha sido dada,
tinha de praticar como os outros.
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Mas, passados alguns dias, ficou muito surpreendido
ao ver que a lista era muito longa.
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Conseguiu descobrir
muitas qualidades da sua mãe.
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Acho que, em algum momento,
a sua mãe o fez sofrer de alguma forma,
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e esse tipo de sofrimento impediu-o
de ver todas as outras qualidades da sua mãe.
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Quando vês uma árvore a morrer no jardim,
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pensas que todas as árvores
do jardim estão a morrer também,
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o que não é verdade.
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Muitas vezes, ficamos presos
a essa impressão...
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quando algo acontece
que não nos agrada,
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temos a tendência
de ignorar o resto.
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Isso não é muito sábio.
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Temos de ser objetivos.
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Temos de tocar todos os aspetos da realidade
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e não permitir que um único aspeto
nos impeça de ver o todo.
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Apoiado pela sangha,
ele fez o exercício...
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e descobriu tantas
qualidades maravilhosas da sua mãe.
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E depois disso, escreveu à sua mãe,
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pois isso fazia parte da tarefa.
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Escreveu-lhe uma carta muito terna,
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e na carta disse
que tinha muito orgulho em ter uma mãe como ela.
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A sua esposa,
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que vive em Washington D.C.,
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relatou que, quando a sua mãe recebeu
a carta, ficou profundamente emocionada.
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O seu filho nunca tinha falado com ela
daquela maneira.
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O seu filho nunca a tinha
reconhecido daquela forma.
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E ela encontrou...
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um novo filho nele – muito doce,
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muito compreensivo,
muito amoroso.
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Claro que ela deu à luz o seu filho.
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Mas este era um novo filho,
nascido do Dharma,
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com muito mais compreensão
e amor.
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Ela tinha um novo filho
porque o seu filho tinha uma nova mãe.
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E a sua mãe nasceu
da sua contemplação profunda.
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Porque ele praticou a contemplação profunda...
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a sua verdadeira mãe começou
a revelar-se a ele,
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e ele ficou realmente orgulhoso da sua mãe.
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E essa carta que ele escreveu
foi muito curativa para ele...
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e para a sua mãe.
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A sua esposa disse que...
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a senhora, depois de ler a carta,
chorou muito.
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E disse que lamentava
que a sua própria mãe já não estivesse viva.
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Gostaria de ter escrito uma carta assim
para a sua própria mãe.
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Mas, infelizmente, a sua mãe
já tinha falecido,
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e por isso não podia escrever
uma carta como essa.
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Mas no Upper Hamlet,
onde ele ainda praticava,
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quando soube da reação
da sua mãe através da sua esposa,
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escreveu-lhe outra carta.
Disse: "Mamã,
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não penses que
a avó já não existe.
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Ela ainda está viva em ti.
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E ela ainda está viva em mim.
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Posso tocar na avó
sempre que quiser.
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Tal como posso tocar em ti
sempre que quiser. Porque a avó...
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ainda está viva em mim,
e tu estás viva em mim.
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Sou uma continuação da avó.
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Por isso, escreve a carta na mesma.
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A avó vai recebê-la
e lê-la imediatamente.
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Nem precisas de a enviar pelo correio."
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Este é o insight que ele obteve
dos ensinamentos e da prática.
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Corresponde ao profundo ensinamento
do Buda.
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E todos nós temos de praticar
dessa forma também.
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A nossa presença aqui significa
a presença de todos os nossos antepassados.
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Todos os nossos antepassados
ainda estão vivos em nós.
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E cada vez que produzimos um sorriso,
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todas as gerações dos nossos antepassados
sorriem connosco.
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E não só isso,
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os nossos filhos e muitas gerações futuras
já estão em nós.
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E sempre que conseguimos produzir um sorriso,
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os nossos filhos e os filhos deles
sorriem ao mesmo tempo connosco.
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Não praticamos apenas para nós próprios.
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Praticamos por todos.
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E o fluxo da vida continua.
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E Richard tinha razão.
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Disse: "Mamã,
por favor escreve a carta na mesma.
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Ela ainda está viva em ti e em mim."
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E a sua mãe dedicou tempo
a escrever a carta.
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E essa carta também
foi muito curativa para ela,
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porque no passado,
quando a sua mãe ainda estava viva,
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ela não conhecia
a arte de viver com atenção plena.
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E por isso, ambas cometeram erros
e criaram sofrimento uma para a outra.
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E ela arrependeu-se mais tarde...
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e isso tornou-se uma espécie de obstáculo
para a sua felicidade.
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Agora, o obstáculo foi removido.
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Por isso, a carta que ela escreveu
à sua mãe...
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também foi uma carta muito curativa.
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E ela chorou enquanto escrevia,
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e essas lágrimas
foram lágrimas de felicidade.
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Se cometeste um erro,
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se fizeste alguém que amas
sofrer no passado,
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e se essa pessoa já não está viva,
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não fiques frustrado.
Ainda podes fazer algo,
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porque a ferida ainda está em ti,
à espera de ser curada.
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E a pessoa que pensas
que já partiu
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ainda está viva em ti.
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Podes fazê-la sorrir.
Podes fazê-lo sorrir.
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Suponha que, quando a sua avó ainda estava viva,
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por esquecimento, tenha dito algo
que a deixou infeliz.
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E agora ainda se arrepende.
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Então sente-se,
respire consciente e profundamente...
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visualize a sua avó
sentada dentro de si,
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e diga-lhe:
"Avó, desculpa.
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Nunca mais direi algo assim,
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nem a ti nem a ninguém que amo."
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E se for sincero,
se estiver concentrado,
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se estiver totalmente consciente,
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então verá o seu sorriso dentro de si
e a ferida começará a curar-se.
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Porque os erros vêm da falta de habilidade...
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da falta de habilidade, do esquecimento,
que estão na mente.
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Tudo vem da mente.
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E tudo pode ser transformado pela mente.
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Esse é o ensinamento do Buda.
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Tudo vem da mente,
e pode ser removido e transformado pela mente.
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Neste ensinamento,
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embora pensemos que o passado já passou
e que o futuro ainda não chegou,
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se olharmos profundamente,
a realidade é mais do que isso.
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O passado continua, de certa forma,
a existir sob a forma do presente,
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porque o presente
é feito de uma substância chamada passado.
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O presente é feito do passado.
Por isso, o passado ainda está disponível para si.
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E neste ensinamento,
é possível...
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voltar ao passado
e reparar os danos
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que causou no passado.
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Estabelecendo-se firmemente no presente,
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e tocando na ferida,
tocando profundamente o momento presente,
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também toca no passado,
e tem o poder de o reparar.
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Esse é um ensinamento maravilhoso,
uma prática maravilhosa.
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Não tem de carregar
essas feridas para sempre.
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Todos nós, em algum momento,
podemos ser inconscientes.
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E cometemos erros no passado.
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Mas isso não significa que
temos de carregar essa culpa para sempre,
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sem a possibilidade de a transformar.
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O passado ainda está disponível.
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Toque profundamente o presente,
e poderá tocar no passado.
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E, cuidando bem do presente,
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poderá reparar o passado.
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A prática de começar de novo...
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a prática de recomeçar
é a prática da mente.
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Uma vez que compreendes
o que aconteceu no passado,
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e uma vez que tenhas sido...
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exposto à verdade,
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determinas-te a nunca mais o repetir.
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Então, a ferida será curada.
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Isto é uma prática maravilhosa.
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Um veterano da Guerra do Vietname, na América...
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contou-me esta história.
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Um dia, viu muitos dos seus amigos
serem mortos numa emboscada.
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E ficou tão furioso, tão cheio de ódio,
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que quis...
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vingar-se.
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Então, preparou uma emboscada...
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para matar algumas pessoas na aldeia
onde tinha acontecido a batalha.
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Colocou explosivos dentro de sanduíches,
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e deixou um saco cheio delas
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à entrada da aldeia.
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Depois, escondeu-se
para ver o que acontecia.
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Um grupo de crianças passou,
viu as sanduíches e ficou muito feliz.
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Partilharam-nas entre si.
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E depois de as comerem, começaram a chorar...
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e a dizer que tinham sido envenenadas.
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Os seus corpos começaram a tremer,
o veneno tinha entrado na corrente sanguínea.
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Nessa altura, chegaram os pais,
mas não sabiam o que fazer.
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Tentaram arranjar um carro
para os levar ao hospital,
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mas ficava muito longe.
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O soldado sabia que não havia esperança,
as crianças iam morrer.
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Por raiva,
por vontade de ferir e punir,
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tinha feito algo terrível,
matando cinco crianças.
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Quando foi dispensado do exército
e regressou a casa,
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não encontrou paz.
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Passaram-se muitos anos,
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e carregava essa ferida dentro de si
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até ao dia em que veio a um retiro
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que organizámos para veteranos
da Guerra do Vietname em Santa Bárbara.
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Os veteranos eram encorajados
a falar do seu sofrimento.
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Era muito difícil para eles fazê-lo.
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Apenas uma pessoa
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tinha ouvido a história antes — a sua mãe.
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E a sua mãe disse-lhe:
"Não sofras tanto, meu filho.
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Numa guerra, essas coisas acontecem."
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Mas isso não o ajudou.
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Sempre que estava numa sala com crianças,
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não conseguia suportar.
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Tinha de sair
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imediatamente.
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E assim viveu por mais de dez anos,
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até que veio ao retiro.
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Então, um dia, com o forte apoio da sangha...
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Tínhamos monges, monjas e outros amigos na prática.
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Havia também psicoterapeutas no retiro...
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psicoterapeutas que trabalhavam com veteranos de guerra.
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E, com o amor e o apoio da sangha,
ele conseguiu contar a história
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a um grupo de cerca de nove pessoas.
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Às vezes, tínhamos de sentar-nos e respirar
durante muito tempo,
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esperando que ele conseguisse continuar.
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Houve momentos em que esperámos uma hora...
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e ele não conseguiu dizer nada,
apenas chorou.
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Depois de ouvir a história,
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levei-o ao meu quarto
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para uma conversa privada.
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Disse-lhe: "Meu amigo,
é verdade que mataste cinco crianças.
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Mas há algo que podes fazer
para reparar isso.
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Sabes que hoje há muitas crianças a morrer?
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Não por explosivos,
mas por outras causas como...
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falta de comida e medicamentos.
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Sabes que 40.000 crianças
morrem todos os dias
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por falta de nutrição e comida?
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Então, porque não fazes algo
para salvar as crianças que estão a morrer hoje...
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em vez de te prenderes apenas
às cinco crianças do passado?
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Tens de recomeçar.
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Tens de usar a tua vida
para fazer o oposto
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do que fizeste no passado.
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Tens de fazer um voto,
receber os Treinamentos de Plena Consciência,
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e comprometer-te a, a partir de agora...
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fazer o teu melhor para proteger a vida,
proteger as crianças
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e salvá-las da morte.
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E podes salvar cinco crianças,
dez, vinte, cem.
-
Existem meios para isso.
-
Então, porque te aprisionas na culpa?
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Podes reparar o passado."
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Isso foi como abrir-lhe uma porta.
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E ele foi transformado.
Seguiu o meu conselho...
-
e a transformação aconteceu depois disso.
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Esta é a prática de começar de novo.
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E a energia da prática
vem da sangha
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e da sua determinação
em seguir o caminho certo.
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É uma força muito poderosa.
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Pode apagar
o sofrimento do passado
-
e transformar a culpa dentro de si.