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Como conduzir uma conversa entre pessoas em discordância

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    Na corrida eleitoral de 2016,
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    eu estava, como a maioria de nós,
    a assistir a um crescendo de discórdia,
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    críticas e obscenidades
    nos nossos espaços públicos.
  • 0:11 - 0:15
    A polarização crescia de uma forma louca.
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    Era desanimador e inquietante.
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    Então comecei a pensar,
    com um colega jornalista, Jeremy Hay,
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    sobre como poderíamos usar
    a nossa profissão de uma forma diferente.
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    Como poderíamos chegar
    ao âmago das divisões,
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    aos locais de conflito,
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    como os jornalistas sempre fizeram,
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    mas depois, lá chegados,
    fazer algo totalmente diferente.
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    Sabíamos que queríamos usar
    as ferramentas-base do nosso trabalho
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    — a análise cautelosa de informação,
    a pesquisa diligente, a curiosidade,
  • 0:41 - 0:43
    o compromisso em servir o bem comum,
  • 0:43 - 0:45
    em servir a nossa democracia —
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    e fazer algo novo.
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    Então planeámos este processo,
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    a que chamamos de jornalismo de diálogo,
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    para chegar ao coração
    das divisões sociais e políticas,
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    e, lá chegados, construir conversas
    baseadas no jornalismo
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    entre pessoas em facções opostas
    de temas polarizantes.
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    Como fazer isto num mundo
    já tão dividido,
  • 1:07 - 1:09
    dividido tão profundamente,
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    quando vivemos num mundo
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    em que primos e tias e tios
    não se falam,
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    quando é comum vivermos
    em ecossistemas noticiosos distintos
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    e quando, de forma reflexiva e habitual,
    rejeitamos e dizemos mal
  • 1:22 - 1:23
    dos que discordam de nós?
  • 1:25 - 1:26
    Mas nós queríamos tentar.
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    Por isso, logo após a eleição de 2016,
  • 1:29 - 1:32
    naquele período entre a eleição
    e a tomada de posse,
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    juntámo-nos com o Alabama Media Group
    para algo completamente diferente.
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    Reunimos 25 apoiantes de Trump,
    do estado do Alabama,
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    para conversar com 25 apoiantes
    de Clinton, do estado da Califórnia.
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    Juntámo-los num grupo do Facebook
    fechado e moderado,
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    que mantivemos aberto durante um mês.
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    O que queríamos fazer
  • 1:53 - 1:57
    era dar-lhes um espaço para questionar
    com genuína curiosidade e abertura.
  • 1:57 - 2:00
    E queríamos ajudá-los
    a construir relações,
  • 2:00 - 2:03
    não apenas entre eles,
    mas connosco enquanto jornalistas.
  • 2:03 - 2:06
    E depois quisemos dar-lhes
    factos e informação
  • 2:06 - 2:09
    — factos e informação que pudessem
    realmente receber e processar,
  • 2:09 - 2:12
    e usar para sustentar as suas conversas.
  • 2:13 - 2:16
    Para iniciar esta conversa,
  • 2:16 - 2:19
    o primeiro passo no que nós chamamos
    jornalismo de diálogo,
  • 2:19 - 2:23
    perguntámos a cada grupo o que achava
    que o outro grupo pensava deles.
  • 2:23 - 2:27
    Quando perguntámos aos apoiantes
    de Trump, do Alabama,
  • 2:27 - 2:31
    o que pensariam os apoiantes californianos
    de Clinton sobre eles,
  • 2:31 - 2:32
    isto foi o que eles disseram:
  • 2:33 - 2:35
    "Acham que somos religiosos
    que impingem a Bíblia";
  • 2:35 - 2:38
    "Acham que somos retrógrados,
    saloios e parvos";
  • 2:38 - 2:41
    "Pensam que todos temos bandeiras
    da Confederação no jardim,
  • 2:41 - 2:43
    "que somos racistas, sexistas
    e sem educação.";
  • 2:43 - 2:45
    "Pensam que andamos descalças, e grávidas,
  • 2:45 - 2:48
    "e que as entradas das casas
    são em terra."
  • 2:48 - 2:49
    "Acham que somos todos uns púdicos,
  • 2:49 - 2:51
    "que usamos saias com armação
  • 2:51 - 2:53
    "e temos campos de algodão
    como imagem de fundo.".
  • 2:53 - 2:56
    Depois fizemos a mesma pergunta
    aos californianos:
  • 2:56 - 2:59
    "O que acham que os habitantes
    do Alabama pensam de vocês?"
  • 2:59 - 3:02
    Eles responderam: "Pensam que somos
    californianos loucos e liberais."
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    "Que não somos patriotas."
  • 3:04 - 3:05
    "Que somos convencidos e elitistas."
  • 3:05 - 3:09
    "Que não cremos em Deus
    e somos permissivos com os nossos filhos."
  • 3:09 - 3:12
    "Que nos focamos nas nossas carreiras,
    e não nas nossas famílias"
  • 3:12 - 3:14
    "Que somos elitistas, pseudo-intelectuais,
  • 3:14 - 3:17
    "cheios de dinheiro,
    que só comemos produtos biológicos,
  • 3:17 - 3:18
    muito sem noção das coisas.".
  • 3:20 - 3:23
    Fazendo perguntas como estas
    no início de cada conversa,
  • 3:23 - 3:26
    e identificando e partilhando
    estereótipos,
  • 3:26 - 3:29
    descobrimos que as pessoas
    — de todas as facções —
  • 3:29 - 3:34
    começam a ver as caricaturas simplistas
    e comummente maldosas que transmitem.
  • 3:34 - 3:36
    E assim, depois disto,
  • 3:36 - 3:39
    podemos avançar
    para o processo de conversa genuína.
  • 3:41 - 3:44
    Nos dois anos após esse lançamento
    — o do Projecto Califórnia/Alabama —
  • 3:44 - 3:46
    passámos a organizar diálogos e parcerias
  • 3:46 - 3:49
    com os meios de comunicação
    de todo o país.
  • 3:49 - 3:52
    Têm sido sobre alguns
    dos nossos temas mais controversos:
  • 3:52 - 3:55
    armas, imigração, raça, ensino.
  • 3:56 - 3:58
    O que descobrimos,
  • 3:58 - 3:59
    extraordinariamente,
  • 3:59 - 4:01
    foi que o diálogo real
    é, de facto, possível.
  • 4:01 - 4:05
    E que quando têm a oportunidade
    e a estrutura para o fazer,
  • 4:05 - 4:07
    muitos, não todos, mas muitos
    dos nossos concidadãos,
  • 4:07 - 4:10
    estão ansiosos por conversar
    com os outros.
  • 4:13 - 4:15
    Com frequência, os jornalistas
    têm agudizado as diferenças
  • 4:15 - 4:19
    em prol da emoção, do número de leitores
    ou da opinião própria.
  • 4:20 - 4:22
    E, com frequência, falámos
    com cada uma das partes
  • 4:22 - 4:25
    citando o defensor de uma parte,
    e o defensor da outra,
  • 4:25 - 4:27
    com um exemplo claramente anedótico,
  • 4:27 - 4:28
    e uma frase final cheia de significado,
  • 4:28 - 4:31
    que os leitores fazem gosto
    em minar por preconceito.
  • 4:32 - 4:36
    Mas este processo de diálogo
    é mais lento e tem um foco diferente.
  • 4:37 - 4:40
    E o nosso trabalho é conduzido
    pelo princípio que defende
  • 4:40 - 4:44
    que o diálogo na diferença é essencial
    para uma democracia funcional,
  • 4:44 - 4:48
    e que o jornalismo e os jornalistas
    têm um papel multifacetado a desempenhar
  • 4:48 - 4:50
    para o apoiar.
  • 4:51 - 4:53
    Como trabalhamos então?
  • 4:54 - 4:57
    Em cada fase, somos
    tão transparentes quanto possível
  • 4:57 - 4:59
    sobre os nossos métodos e razões.
  • 4:59 - 5:02
    Em cada fase, reservamos tempo
    para responder às perguntas das pessoas,
  • 5:02 - 5:05
    para explicar porque estamos
    a fazer o que fazemos
  • 5:05 - 5:07
    Explicamos que isto não é uma armadilha:
  • 5:07 - 5:09
    ninguém está lá para lhes dizer
    que são parvos,
  • 5:09 - 5:12
    ninguém está lá para lhes dizer
    que a experiência deles não importa.
  • 5:12 - 5:15
    E pedimos sempre
    um comportamento diferente,
  • 5:15 - 5:18
    uma conversa que não seja
    uma troca de insultos,
  • 5:18 - 5:20
    tão arreigada no nosso discurso
  • 5:20 - 5:24
    que a maioria de nós,
    de todas as facções, já nem notamos.
  • 5:26 - 5:29
    Por isso é comum as pessoas trazerem
    alguma raiva às nossas conversas.
  • 5:29 - 5:31
    Dizem coisas como:
    "Como podem acreditar em X?",
  • 5:32 - 5:33
    "Como podem ler Y?",
  • 5:33 - 5:36
    e "Conseguem acreditar
    que isto aconteceu?".
  • 5:37 - 5:41
    Mas geralmente, num milagre
    que nos delicia todas as vezes,
  • 5:41 - 5:42
    as pessoas começam por se apresentar
  • 5:42 - 5:46
    e por explicar quem são e de onde vêm.
  • 5:46 - 5:48
    Começam a fazer perguntas uns aos outros.
  • 5:48 - 5:51
    E lentamente, ao longo do tempo,
    voltam muitas vezes a tópicos difíceis,
  • 5:51 - 5:54
    com um pouco mais de empatia a cada vez,
  • 5:54 - 5:57
    um pouco mais de delicadeza,
    um pouco mais de curiosidade.
  • 5:58 - 6:01
    Os nossos jornalistas e moderadores
    trabalham arduamente para manter isto
  • 6:01 - 6:04
    porque não é um confronto,
    não é uma batalha,
  • 6:04 - 6:06
    não é um programa de entretenimento.
  • 6:06 - 6:09
    Não é um arremesso
    de tópicos de conversa.
  • 6:09 - 6:11
    Não é um amontoado
    de "memes" e "gifs"
  • 6:11 - 6:14
    ou artigos com títulos
    que provam uma ideia.
  • 6:14 - 6:17
    Não se trata de obter vitórias políticas
    com perguntas armadilhadas.
  • 6:20 - 6:25
    O que percebemos é que o nosso
    estado de discórdia é mau para todos.
  • 6:25 - 6:27
    É uma forma de estar
    profundamente infeliz.
  • 6:28 - 6:30
    As pessoas dizem-nos isto repetidamente.
  • 6:30 - 6:33
    Dizem que apreciam a oportunidade
    de se envolverem com respeito,
  • 6:34 - 6:35
    com curiosidade e abertura,
  • 6:35 - 6:39
    e que estão felizes e aliviados
    por terem uma hipótese de baixar as armas.
  • 6:40 - 6:43
    Por isso, fazemos o nosso trabalho
    desafiando directamente
  • 6:43 - 6:46
    o clima político no nosso país,
    neste momento,
  • 6:46 - 6:49
    e fazemo-lo sabendo que é um trabalho
    difícil e desafiante,
  • 6:49 - 6:52
    para apoiar pessoas de lados
    opostos na conversa.
  • 6:53 - 6:57
    Fazemo-lo sabendo que a democracia
    depende da nossa capacidade
  • 6:57 - 6:59
    de abordar em conjunto
    os nossos problemas comuns.
  • 7:00 - 7:04
    Fazemo-lo pondo a comunidade
    no centro do trabalho jornalístico,
  • 7:04 - 7:07
    deixando os nossos egos de parte
    e escutando primeiro, com atenção,
  • 7:07 - 7:10
    escutando além dos nossos preconceitos,
  • 7:10 - 7:12
    das nossas formas de pensar,
  • 7:12 - 7:14
    e encorajando os outros a fazer o mesmo.
  • 7:16 - 7:18
    Fazemo-lo sabendo que o jornalismo,
  • 7:18 - 7:20
    enquanto instituição,
    está em dificuldades,
  • 7:20 - 7:24
    e que tem tido sempre um papel
    a desempenhar, e assim continuará,
  • 7:24 - 7:26
    ao apoiar a troca de ideias
    e de pontos de vista.
  • 7:28 - 7:31
    Para muitos dos participantes
    nos nossos grupos,
  • 7:31 - 7:33
    houve repercussões duradouras.
  • 7:33 - 7:36
    Muitas das pessoas ficaram amigas
    no Facebook, e na vida real também,
  • 7:36 - 7:38
    independentemente das cores políticas.
  • 7:38 - 7:41
    Depois de terminarmos
    o primeiro projecto Trump/Clinton,
  • 7:41 - 7:44
    cerca de 2/3 das mulheres mobilizaram-se
    para formar um grupo no Facebook
  • 7:44 - 7:46
    e escolheram um moderador de cada estado
  • 7:46 - 7:50
    e continuaram a falar sobre temas
    difíceis e desafiantes.
  • 7:50 - 7:53
    As pessoas dizem-nos repetidamente
    que estão gratas pela oportunidade
  • 7:53 - 7:55
    de fazerem parte deste projecto,
  • 7:55 - 7:58
    gratas por saber
    que os opositores não são loucos,
  • 7:58 - 8:01
    por terem tido a oportunidade
    de se ligarem a pessoas
  • 8:01 - 8:03
    com quem, de outra forma,
    não teriam conversado.
  • 8:05 - 8:07
    Muito do que temos visto e aprendido,
  • 8:07 - 8:09
    apesar de o nosso nome
    ser Spaceship Media,
  • 8:09 - 8:11
    não é ciência especializada.
  • 8:11 - 8:14
    Se chamarem nomes às pessoas,
    se as rotularem, se as insultarem,
  • 8:14 - 8:16
    elas não estão propensas a ouvir-vos.
  • 8:16 - 8:18
    Os comentários desagradáveis
    não ajudam,
  • 8:18 - 8:21
    nem a vergonha, nem a condescendência.
  • 8:22 - 8:25
    A comunicação genuína
    requer prática, esforço,
  • 8:25 - 8:28
    contenção e auto-conhecimento.
  • 8:28 - 8:32
    Não há um algoritmo que resolva
    onde estamos.
  • 8:32 - 8:36
    Porque a conexão humana real
    é, de facto, conexão humana real.
  • 8:37 - 8:39
    Por isso, avancem com curiosidade,
  • 8:39 - 8:41
    promovam o diálogo e não o debate,
  • 8:41 - 8:43
    saiam da vossa redoma,
  • 8:44 - 8:48
    porque a ligação real
    ultrapassa as diferenças.
  • 8:48 - 8:51
    Este é um bálsamo de que
    a nossa democracia precisa seriamente.
  • 8:52 - 8:53
    Obrigada,
  • 8:53 - 8:56
    (Aplausos)
Title:
Como conduzir uma conversa entre pessoas em discordância
Speaker:
Eve Pearlman
Description:

Num mundo profundamente dividido, como temos conversas com delicadeza, curiosidade e respeito? A experiente jornalista Eve Pearlman apresenta o "jornalismo de diálogo": um projecto em que os jornalistas vão ao coração das divisões sociais e políticas para apoiar discussões de ideias entre pessoas em discordância. Vejam o que aconteceu quando um grupo que nunca se cruzaria de outra forma — 25 liberais da Califórnia e 25 conservadores do Alabama — se juntou para conversar sobre temas controversos. "Conexão real para além das diferenças: isto é um bálsamo de que a nossa democracia muito precisa", diz Pearlman.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:09

Portuguese subtitles

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