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Parece que estamos a perder
o nosso controlo.
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Como quando estás
a pilotar um avião,
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perdes o controlo;
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ou quando estás a conduzir um comboio,
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e, de repente, percebes que
já não consegues controlá-lo;
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estás a conduzir um carro...
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e não consegues pará-lo.
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Há uma história Zen...
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sobre uma pessoa
sentada num cavalo,
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a galopar muito rapidamente.
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E, num cruzamento...
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um amigo dele grita:
"Para onde vais?"
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E o homem responde:
"Não sei, pergunta ao cavalo!"
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E essa é a nossa situação.
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O cavalo é a tecnologia.
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Ela transporta-nos. Já não conseguimos
controlar a tecnologia.
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Essa é a nossa situação.
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Por isso, temos de começar com intenção...
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perguntando a nós próprios,
o que queremos?
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O que é que tu queres?
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O lema...
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o lema não oficial da Google é
"Não sejas mau."
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[significa] que se pode ganhar dinheiro
sem ser mau.
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Mas isso é prático?
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É possível?
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É possível ganhar muito dinheiro
sem ser mau?
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Eles tentam fazê-lo,
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mas, até agora,
não tiveram muito sucesso.
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Queres ser rico.
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Queres ser o número um.
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E isso custa-te a vida,
porque...
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és levado pelo trabalho.
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Não tens tempo
para cuidar de ti.
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Não tens tempo...
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para criar alegria e felicidade
para ti próprio.
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Não tens tempo
para cuidar dos teus entes queridos.
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Quando não tens tempo para ti,
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quando não sabes
como cuidar de ti próprio,
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como podes cuidar
das pessoas que amas?
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A tecnologia está...
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a afastar-nos
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de nós próprios,
das nossas famílias...
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e também da natureza,
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que tem o poder de curar
e nutrir.
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E passas tanto tempo
com o teu computador...
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com o teu...
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à procura de informação e...
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à procura de sentimentos para esquecer...
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para esquecer os teus verdadeiros problemas.
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A verdade é que...
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estamos a fugir de nós próprios,
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da nossa família,
da nossa Mãe Terra.
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E isso significa que...
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A nossa civilização está a seguir
na direção errada.
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Mesmo que não mates ninguém,
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ou que não roubes ninguém,
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se fazer dinheiro te rouba o tempo
para cuidares de ti,
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estás a perder a tua verdadeira vida.
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Se não tens tempo
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para cuidar da tua família e da natureza,
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isso significa que estás a fazer
algo que não é bom.
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Mesmo que não mates nem roubes ninguém,
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fazer dinheiro dessa forma
custa-te a tua vida, a tua felicidade,
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a vida e a felicidade
dos teus entes queridos,
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e a vida da natureza, da Mãe Terra.
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Por isso, isso é mau.
Fazer dinheiro é mau.
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Mas haverá outra forma
de ganhar dinheiro...
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sem ser mau?
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Tu sabes que, de alguma forma...
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estás a participar
na criação de...
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sofrimento.
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As pessoas carregam sofrimento
dentro delas.
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Têm solidão,
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têm desespero.
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Têm raiva,
têm medo.
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E a maioria das pessoas
tem medo de...
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voltar para casa
e cuidar de si próprias,
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porque acham que
serão sobrecarregadas
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pelo sofrimento interior.
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Por isso, a maioria de nós tenta esconder
o sofrimento interior através do consumo.
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Estamos a tentar fugir de nós próprios...
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para não termos de enfrentar
o sofrimento dentro de nós.
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E a tecnologia está
a ajudar-nos a fazê-lo.
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Por isso, a tecnologia é má.
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O cavalo deveria levar-nos
a um bom destino...
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o comboio também, o avião também,
a tecnologia também.
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Mas isso não está a acontecer.
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E nós não estamos no controlo.
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Até agora, a tecnologia apenas nos ajudou
a fugir de nós próprios.
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Isso custou-nos a nossa vida e felicidade,
a vida e felicidade dos nossos entes queridos,
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e a beleza da Mãe Terra.
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Por isso, não podes dizer
que não és mau.
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Porque...
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ao realizares o teu sonho
de ser rico,
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sacrificas a tua vida,
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sacrificas a felicidade
dos teus entes queridos,
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e causas danos
à Mãe Terra.
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Perdes a oportunidade
de ser nutrido e...
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curado por ela.
Por isso...
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não é assim tão fácil
não ser mau.
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Mas se a tecnologia puder ajudar-te
a regressar a ti próprio...
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e a cuidar da tua raiva,
cuidar do teu desespero,
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cuidar da tua solidão,
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se a tecnologia te ajudar a criar...
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sentimentos de alegria, sentimentos de felicidade
para ti e para os teus entes queridos,
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então está a seguir um bom caminho
e podes usá-la para o bem.
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Quando estás feliz, quando tens tempo
para ti e para os teus entes queridos,
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talvez até possas ter mais sucesso
nos negócios.
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Podes ganhar mais dinheiro
se fores realmente feliz,
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se tiveres uma boa saúde emocional,
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se conseguires reduzir
o teu stress...
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e o desespero dentro de ti.
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Durante a palestra [na Google],
Thay falou sobre os Quatro Nutrimentos.
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Na psicologia budista,
existem cinco formações mentais universais:
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contacto (xúc; 觸),
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atenção (tác ý; 作意),
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sentimentos (thọ; 受),
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perceção (tưởng; 想),
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volição (tư; 思).
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Estas são chamadas
de formações mentais [universais],
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e estão sempre presentes
em cada momento...
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expressando-se
na nossa consciência.
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A primeira é o contacto,
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a última é tư (volição).
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Estas duas formações mentais
são consideradas...
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como alimento,
como nutrimentos...
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thực (食).
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Temos "xúc thực (觸食)"...
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E temos...
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[Vietnamese].
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"xúc thực" é um tipo de alimento...
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que consumimos
não com a boca.
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O alimento que consumimos com a boca
é chamado de "alimento comestível".
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[xúc thực] são impressões sensoriais.
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E isso é uma forma de alimento.
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E aqueles de nós
que querem consumir...
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para esquecer
o sofrimento interior...
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usam a tecnologia.
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Queremos consumir.
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Consumimos
não porque precisamos de consumir.
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Consumimos
com o propósito de...
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esquecer o sofrimento dentro de nós.
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Como quando estamos
sozinhos, assustados,
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e vamos...
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procurar algo para comer
no frigorífico.
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Estamos à procura de algo
para comer ou beber...
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não porque precisemos de comida,
ou de uma bebida,
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mas porque...
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queremos esquecer, nem que seja por um momento,
o sofrimento dentro de nós.
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Muitas pessoas são viciadas em comer,
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ficam obesas,
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e sofrem de muitos tipos de doenças...
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simplesmente porque procuram comida
para consumo...
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para esquecer o seu sofrimento.
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E isso é "alimento comestível".
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Mas o alimento aqui é...
"impressões sensoriais".
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Queremos ter uma sensação.
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Pegamos num livro
e lemos,
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esperando sentir algo.
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Vamos à internet...
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procuramos imagens,
músicas, vídeos...
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para ter certos tipos de
sentimentos e sensações.
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E o propósito é simplesmente
fugir de nós próprios...
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evitar-nos a nós mesmos,
ou esconder o sofrimento dentro de nós.
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Esse é o segundo tipo de nutrimento
mencionado por Buda...
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as impressões sensoriais.
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Quando ouves música,
quando lês um livro,
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quando pegas num jornal para ler,
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não é exatamente porque
precisas dessas coisas.
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Fazes isso como uma máquina.
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Porque estás
habituado a fazer isso,
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fazes para não ter...
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a oportunidade de te confrontares
contigo próprio...
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tens medo
de regressar a ti próprio.
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E isso é verdade para muitos de nós...
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temos medo
de voltar para nós próprios
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porque não sabemos como lidar
com o sofrimento dentro de nós.
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É por isso que procuramos
impressões sensoriais para...
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para consumir.
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E a tecnologia, a internet...
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está a ajudar-nos a fazê-lo.
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Muitos jovens...
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estão a fazer isso.
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Um adolescente confessou-nos,
num retiro,
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que passa pelo menos oito horas
a jogar videojogos...
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e que não consegue parar.
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No início, procurava os jogos
para esquecer,
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mas agora está viciado neles,
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porque na vida real
não sente...
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amor, compreensão,
ou algo semelhante.
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Nem na família, nem na escola,
nem na sociedade.
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Muitos jovens estão a tentar...
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preencher a solidão,
o vazio interior, procurando...
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"impressões sensoriais."
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Essa é a segunda fonte de nutrimento.
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Agora, como monge budista
ou monja budista,
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estamos a fazer o mesmo?
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Se os jovens no mundo
estão a fazer isso,
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se estão a fugir de si próprios,
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se estão a procurar impressões sensoriais
para esquecer o seu sofrimento,
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será que nós, monásticos,
devemos fazer o mesmo?
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Se vais à internet e descarregas um filme
ou uma música para te entreter,
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estás a fazer o mesmo.
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Tens de fazer o que o Buda
prescreveu que fizéssemos:
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regressar a ti próprio,
sem medo.
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Respirar e caminhar...
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para gerar a energia da atenção plena,
da concentração e da compreensão,
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e regressar a casa
para cuidar da solidão dentro de ti...
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do sofrimento dentro de ti.
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Não temos tempo
para procurar impressões sensoriais...
-
impressões dos sentidos
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para preencher a solidão,
o vazio dentro de nós.
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Se o fizermos,
não somos realmente monásticos,
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estamos apenas a fazer
exatamente o que as pessoas no mundo fazem...
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a tentar esconder a solidão,
o sofrimento interior.
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É por isso que...
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neste Retiro de Inverno
temos de...
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praticar por nossa própria escolha,
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não porque o Thay nos diga para o fazer,
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mas porque há um despertar,
uma iluminação,
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e queremos fazer algo diferente
do que as pessoas no mundo fazem...
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para podermos ajudá-las.
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Se agirmos exatamente como as pessoas no mundo,
não podemos ajudá-las.
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Temos de aprender
a regressar a nós próprios, a cuidar do sofrimento interior...
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e a encontrar a paz e a alegria
de que precisamos,
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para que possamos ajudar os outros.
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É por isso que não ter
um endereço de e-mail...
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nem internet,
nem Facebook...
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não é algo que te faz sofrer,
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mas sim...
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uma prática que te ajuda...
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a tornar-te um verdadeiro praticante.
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E se o fizeres,
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se estiveres desperto,
-
se despertares
para esse tipo de verdade,
-
vais fazê-lo com alegria
e não...
-
não como alguém
a quem tentam privar de...
-
Facebook, e-mail,
e coisas do género.
-
Há muitas pessoas que verificam
o e-mail várias vezes por dia,
-
e não encontram nada de novo.
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Porque estão vazias por dentro,
procuram algo novo.
-
Mas algo novo...
não há nada de novo no mundo, exceto o sofrimento.
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E tens de ser capaz de gerar
algo realmente novo:
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um sentimento de alegria,
um sentimento de felicidade.
-
E isso é possível
com a prática da atenção plena.