O impacto da língua no comportamento econômico | Keith Chen | TEDxYale

Keith Chen é professor associado de Economia da Yale School of Management. Sua pesquisa atenua as fronteiras tradicionais tanto do tema quanto da metodologia, trazendo ferramentas pouco ortodoxas para lidar com problemas na intersecção entre Economia, Psicologia e Biologia. O trabalho mais recente do professor Chen centra-se em como as escolhas e atitudes econômicas das pessoas são influenciadas por sua língua.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

Muito obrigado.

No espírito da conferência dessa tarde,

quero aproveitar a oportunidade para falar

sobre um novo trabalho que estou fazendo

e como tudo começou,

porque vi um mapa que me deixou assustado.

Deixem-me mostrar esse mapa
e falar um pouco sobre o contexto.

Começo explicando que sou economista
comportamental aqui em Yale.

Uma das coisas que estudo é como pessoas
tomam decisões no decorrer do tempo.

Como elas pensam sobre o futuro

e como isso influencia seu comportamento

em relação a poupar,
a estudar para provas,

a se manter numa dieta, a parar de fumar.

O que exatamente me assustou nesse mapa?

Ele foi publicado pela
European Science Foundation

no final da década de 1990.

E fiquei muito chocado em particular
com essa área em azul.

Vou colocar isso num mapa diferente
para que seja mais fácil reconhecer.

Isso é um mapa do norte da Europa.

O que verdadeiramente me surpreendeu

foi que a European Science Foundation
divulgou um relatório

no qual vários pesquisadores
muito conceituados

afirmavam que todas as áreas
dentro dessa região em azul

não tinham nenhum futuro.

(Risos)

Isso me parece uma afirmação extremista.

Como economista,

estou acostumado a fazer previsões
que dão terrivelmente errado,

mas essa leva o prêmio.

À exceção da Islândia, talvez,

pensem na atual crise financeira europeia,

essas outras regiões na área em azul

são quase que exatamente os países
que estão se saindo melhor.

E como economista,

me parece insano dizer
que esses lugares não têm futuro.

Essas áreas têm muitos países
que poupam quantias enormes de dinheiro,

além de famílias que estão poupando,

países que não têm
problemas com seus títulos,

e investem muito em infraestrutura
pública e no futuro;

parecem se preocupar muito com ele.

Percebi que o que causou essa confusão

é que o grupo de pesquisadores
da European Science Foundation,

liderado pelo famoso Östen Dahl,

não se referia à mesma coisa
que um economista entende

por "um lugar sem futuro",

porque aquele era um grupo de linguistas,

e o que queriam dizer, na verdade,

não é que as famílias daquela região
não se importam com o futuro,

mas que as línguas daquela
região não falam sobre o futuro

da mesma forma que as línguas
fora dessa região.

E isso me levou a pensar,

sobre a conexão entre a economia,
como nos sentimos a respeito do futuro

e como a nossa língua
nos força a falar sobre ele.

Deixem-me explicar um pouco
melhor o que isso significa.

Devem ter percebido que sou chinês,

e à medida que crescia, eu percebia

que as famílias chinesas são diferentes
de formas muito interessantes.

É um tanto sutil, e percebi mais tarde,
que a língua chinesa força os nativos

a falar das famílias delas
de uma forma sutilmente diferente.

Por exemplo: suponhamos que um grupo
de amigos venha até você e diga:

"Você quer sair para jantar?"

Se você estivesse conversando em inglês,

poderia dizer: "Seria ótimo,

mas sinto muito, meu tio está de visita
e amanhã vou sair para jantar com ele".

Mas se você estivesse
conversando em chinês,

seria forçado a incluir
muito mais informação

do que eu falei agora.

Não existe uma palavra
genérica para "tio" em chinês;

você teria de especificar,

e seria forçado pela língua a dizer
se é um tio por parte de mãe ou de pai

e se ele é o irmão de um de seus pais
ou se é um tio por casamento.

Essa é uma característica
muito fundamental da língua.

E como vemos aqui,

o linguista Roman Jakobson
expressou isso bem quando disse:

"As línguas diferem essencialmente
naquilo que devem expressar

e não naquilo que podem expressar".

Nesse sentido, a língua chinesa te força

a dizer muito sobre sua estrutura
familiar para seus amigos,

de maneiras que um falante de inglês,

simplesmente pensaria:
"Eles não precisam saber disso.

Não é da conta deles".

Voltemos para Östen Dahl
e os linguistas europeus.

Os linguistas da European
Science Foundation descobriram,

ao examinar muitas línguas globais,

que elas diferem de forma muito elementar,

forçando seus nativos a falar do futuro.

Eles dividiram as línguas
em duas categorias:

as primeiras ou "fraca-FTR",

ou "línguas com fraca
referência tempo-futuro",

são línguas como chinês,
finlandês e alemão,

que permitem que seus nativos

falem sobre o futuro basicamente
como se fosse o presente.

E as outras línguas, como inglês,
grego, italiano e russo,

são as "línguas com forte-FTR",

que forçam os nativos
a perceber gramaticalmente

e falar como se o futuro fosse algo
visceralmente diferente do presente.

Quando disse como falaria com meus amigos
sobre levar meu tio para jantar,

se fosse falar em chinês,

seria muito normal e fácil dizer apenas:

"Não posso sair para jantar amanhã.
Eu como com o tio".

Ao passo que, para um falante de inglês,
isso soaria muito estranho.

Muitas pessoas acham estranho quando
mostro essa lista pela primeira vez,

porque muitos aqui devem saber
que o inglês é uma língua germânica

e que inglês e alemão são primos próximos,

e mesmo assim, como podemos ver,
os dois são opostos nessa divisão.

Talvez muitos aqui falem alemão.

Pode-se ver essa diferença
ao tentar prever se vai chover amanhã.

Em alemão, eu poderia dizer:
"Es regnet morgen"

ou "Morgen regnet es"
ou "Morgen ist es kalt",

e isso soa estranho
para um falante de inglês,

porque o que estou dizendo literalmente é:
"Manhã é frio" ou "Amanhã chove",

em vez de: "Choverá amanhã".

Isso pode ter algum efeito
no seu comportamento?

E quanto à economia?

Fiz o que economistas
com ideias malucas fariam,

que é tentar me livrar delas rapidamente,

examinando o máximo de dados
possível ao redor do mundo,

tentando analisá-los da melhor forma.

Resumindo a hipótese que estava testando:

será que línguas que levam seus nativos

a falar do presente e do futuro de modo
similar fazem com que se sintam assim

acerca do presente e do futuro?

Por que isso pode ser importante?

Porque, se for verdade,

os falantes dessas línguas devem
ter mais facilidade para poupar,

estudar para provas,
evitar comer em excesso,

e parar de fumar.

Essa é, basicamente,
uma visão geral que encontro:

muitos desses padrões que mencionei
em cada região do planeta.

E não importa o quanto tentemos
refutar e afastar esses dados,

não conseguimos eliminar o padrão.

Vamos nos aprofundar um pouco.

Estes são países da OCDE que mostro aqui.

O que isso significa?

Esses são, em geral, países ricos
de primeiro mundo,

com democracias liberais e mercado aberto.

Falamos um pouco
sobre a crise financeira europeia.

Podemos ver à direita

a taxa média de poupança dos países
nos últimos 25 anos,

e na ponta direita está a Grécia.

(Risos)

Poupando pouco mais de 10% do seu PIB.

Isso não é uma surpresa, sabemos
que tiveram problemas com a poupança.

É meio indelicado dizer isto aqui,
mas se vocês notaram, somos os EUA

e somos os próximos no gráfico.

(Risos)

Quero que percebam

que colori algumas
dessas barras de azul claro,

representando os países que falam línguas
que não fazem forte distinção

entre presente e futuro.

E, segundo nossa hipótese,

isso deveria tornar mais fácil poupar
e se preocupar com o futuro.

Vemos que isso é verdade.

Essa é uma característica
só de países ricos?

De economias bem desenvolvidas?

Não, aqui está um grupo muito maior
de países de todo o mundo.

Esta linha se inclinando para baixo indica
que aquele mesmo padrão parece válido

praticamente em todas
as regiões do planeta.

Se falamos uma língua que não distingue
fortemente o futuro e o presente,

simplesmente poupamos muito mais, certo?

Este gráfico também mostra algo
que nos dá a oportunidade

de enfrentar essa questão mais firmemente.

O que é?

Os sete países que vemos no meio da tela

possuem várias línguas nacionais.

O bom disso é que em muitos deles
há muitas línguas nacionais

e é possível encontrar famílias

que vivem praticamente
ao lado umas das outras,

mas que falam línguas diferentes.

O que isso nos permitirá fazer?

Poderemos examinar países como a Suíça,
onde vemos pessoas que falam alemão,

francês, italiano
e famílias que falam romanche,

e países em outras partes
do mundo, como a Nigéria,

com falantes de hauçá
próximos a falantes de iorubá,

próximos a falantes de igbo.

Vou acrescentar mais um.

Temos oito países no mundo
com essa característica.

Vou tentar agir como um epidemiologista:

encontrar pares
correspondentes de famílias.

O que isso significa?

Suponhamos que eu estivesse aqui
no palco com 1,4 bilhões de baldes.

E classificasse cada um de vocês
dentro de um deles.

Com base em quê?

No país onde sua família nasceu e reside,
no sexo e idade do chefe de família,

na renda exata do domicílio,
no nível de escolaridade,

no estado civil;

parece que na Europa existem
seis modos diferentes de se casar;

o número de crianças no domicílio,

e, finalmente, e mais importante,
a religião a que se pertence,

ou seja, 72 religiões mundiais.

São muitos baldes.

Se você tiver sorte,
descobrirá que não está sozinho,

mas sim em um balde com outra família.

Isso pode ser bom para você,

pois terá muito o que conversar.

E bom para mim, como pesquisador,

de tempos em tempos,
que duas famílias estejam no mesmo balde,

mas falem línguas que tratam
o futuro de forma diferente.

Tudo o que direi daqui em diante é real,
mesmo quando se compara

apenas às famílias que são idênticas
em quase todos os outros aspectos.

O que vemos?

Exatamente o que previmos,

mesmo após confrontar os dados
com esses 1,4 bilhões de baldes.

Famílias falantes de línguas

que fazem distinção fraca
entre presente e futuro

têm 30% mais probabilidade
de poupar em um dado ano.

Lembrem-se, isso se dá
mantendo a renda constante.

Elas terão acumulado 25% mais riqueza
quando se aposentarem.

Terão 24% menos chances
de terem fumado muito,

mais de um maço por dia
durante um ano na vida.

E não são só comportamentos
monetários, mas relacionados à saúde:

13% menos chances de serem obesas,

24% menos chances de já terem fumado,
e em quase todos os aspectos,

estarão em melhores condições
de saúde a longo prazo.

Força de preensão, capacidade pulmonar,
velocidade de marcha, todas essas medidas,

pode-se imaginar a capacidade cumulativa
para cuidar de si mesmo no futuro,

comer melhor, se exercitar
e evitar o cigarro.

Tudo isso se soma, mesmo quando
comparamos famílias do mesmo balde.

Eu gostaria de trazer
essa informação para vocês.

Primeiro, muito obrigado por ouvirem.

Em segundo lugar, estamos apenas
começando essa pesquisa.

Um grupo de linguistas, eu, economista,

e vários psicólogos aqui de Yale
estamos conduzindo experimentos

para tentar identificar
os mecanismos psicológicos exatos

pelos quais se operam essas relações.

Convido todos a visitarem meu site
e se manterem informados

sobre um novo projeto muito estimulante:

investigar o que economistas
têm a aprender com linguistas.

Muito obrigado.

(Aplausos)