William Li: Podemos fazer o cancro passar fome através daquilo que comemos?
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0:02 - 0:04Boa tarde.
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0:04 - 0:07Em nosso redor está a eclodir uma revolução médica
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0:07 - 0:09que nos irá ajudar a combater
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0:09 - 0:11algumas das condições mais temidas da sociedade,
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0:11 - 0:13incluindo o cancro.
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0:13 - 0:16Esta revolução chama-se angiogénese
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0:16 - 0:18e é baseado no processo
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0:18 - 0:21que o nosso organismo usa para fazer crescer vasos sanguíneos.
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0:21 - 0:23Então, por que devemos nos preocupar com os vasos sanguíneos?
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0:23 - 0:26Bem, o corpo humano está literalmente cheio deles:
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0:26 - 0:29cerca de 100.000 quilómetros num adulto.
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0:29 - 0:31de ponta a ponta, formaria uma linha
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0:31 - 0:34que daria a volta à Terra duas vezes.
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0:34 - 0:37Os vazos sanguíneos mais pequenos são chamados capilares;
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0:37 - 0:40o nosso corpo tem cerca de 19 mil miliões deles
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0:40 - 0:43Estes são os vasos da vida, e,
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0:43 - 0:45como irei mostrar-vos,
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0:45 - 0:48eles podem ser também os vasos da morte.
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0:48 - 0:50O aspecto notável dos nossos vasos capilares
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0:50 - 0:52é a capacidade de
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0:52 - 0:54adaptação ao ambiente que os involve
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0:54 - 0:56Por exemplo, formam canais no figado
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0:56 - 0:58para desintoxicar o sangue;
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0:58 - 1:01alinham sacos de ar para as trocas gasosas nos pulmões;
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1:01 - 1:03formam uma espiral nos músculos para que estes se possam contrair
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1:03 - 1:06sem bloquear a circulação sanguínea;
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1:06 - 1:08e criam uma rede de ligação nos nervos semelhante ao de uma rede electrica,
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1:08 - 1:10mantendo-os vivos.
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1:10 - 1:12A maior parte destes vasos sanguíneos formam-se
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1:12 - 1:14ainda dentro do útero,
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1:14 - 1:17E isto significa que em adultos,
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1:17 - 1:19os vasos sanguíneos não crescem.
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1:19 - 1:22senão em algumas circunstâncias especiais:
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1:23 - 1:25Nas mulheres, os vasos sanguíneos crescem todos os meses
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1:25 - 1:27para construirem o revestimento do útero;
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1:27 - 1:29durante a gravidez, formam a placenta,
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1:29 - 1:32que liga a mãe ao bebé.
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1:32 - 1:34Quando temos uma ferida,
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1:34 - 1:36debaixo da crosta formam-se vasos sanguíneos
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1:36 - 1:38para cicratizá-la.
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1:38 - 1:40E aqui podemos ver o aspecto,
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1:40 - 1:42de centenas de vasos sanguíneos
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1:42 - 1:44a crescerem em direcção ao centro da ferida
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1:44 - 1:47O nosso organismo tem então a habilidade de regular
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1:47 - 1:50a quantidade de vasos sanguíneos que estão presentes no nosso corpo num determinado instante
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1:50 - 1:52Ele consegue fazer isto através de um elaborado
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1:52 - 1:54de um equilíbrio delicado
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1:54 - 1:57entre factores estimuladores e factores inibidores da angiogénese
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1:57 - 2:00de forma que, quando precisamos de uma rápida explosão de vazos sanguíneos,
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2:00 - 2:03o corpo consegue-a libertando estimuladores,
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2:03 - 2:05protéinas chamadas factores angiogénicos
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2:05 - 2:07que actuam como fertilizantes naturais
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2:07 - 2:09que irão estimular o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos
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2:09 - 2:11e quando esses vasos em excesso já não são precisos,
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2:11 - 2:14o organismo remove-os de forma a voltar ao estado normal
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2:14 - 2:17usando o processo natural de inibição da angiogénese.
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2:18 - 2:20Existem porém outras situações em que se o sistema incia-se abaixo da normalidade
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2:20 - 2:23e necessitamos de desenvolver mais vasos sanguíneos para repor os valores normais
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2:23 - 2:25como por exemplo, após uma lesão
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2:25 - 2:27e o organismo consegue-o fazer igualmente
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2:27 - 2:29mas apenas para os valores normais,
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2:29 - 2:31em que se iniciou o processo.
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2:31 - 2:34Mas o que sabemos presentemente é que nalgumas doenças,
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2:34 - 2:36existem falhas durante esse processo
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2:36 - 2:39em que o corpo não consegue remover os vasos excedentários
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2:39 - 2:41ou não consegue desenvolver em determinado local e na altura certa
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2:41 - 2:43novos vasos sangíneos em número suficiente
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2:43 - 2:45E neste caso a angiogénese
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2:45 - 2:47está desiquilibrada.
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2:47 - 2:49Quando a angiogénese está desregulada,
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2:49 - 2:51pode dar origem a inúmeras doenças
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2:51 - 2:53Como por exemplo, insuficiência angiogénica
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2:53 - 2:55vasos sanguíneos não suficientes
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2:55 - 2:58levam a que as feridas não curem, a ataques de coração,
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2:58 - 3:00falta de circulação nas penas, morte por enfarte
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3:00 - 3:02e danos nos nervos.
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3:02 - 3:04Por outro lado, angiogénese em excesso,
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3:04 - 3:07ou seja, demasiados vasos sanguíneos, deriva em doenças,
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3:07 - 3:09tais como o cancro, cegueira,
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3:09 - 3:11artrite, obesidade,
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3:11 - 3:13doença de Alzheimer.
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3:13 - 3:16No total, existem mais de 70 doenças
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3:16 - 3:19afectando mais de um mil milião de pessoas no mundo,
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3:19 - 3:21que à primeira vista parecem ser diferentes umas das outras,
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3:21 - 3:23mas na realidade partilham
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3:23 - 3:25de disfunção da angiogénese
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3:25 - 3:27como o seu principal denominador.
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3:27 - 3:29Este estudo permite-nos
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3:29 - 3:31reconceitualizar
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3:31 - 3:33a forma como vemos estas doenças
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3:33 - 3:36e controlar a angiogénese.
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3:36 - 3:38Focando-nos agora no cancro
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3:38 - 3:41porque a angiogénese é uma marca do cancro,
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3:41 - 3:43de todos os tipos de cancro.
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3:43 - 3:45Vejamos então.
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3:45 - 3:47Aqui temos um tumor: uma massa sinistra, cinzenta, escura
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3:47 - 3:49que cresce dentro de um cérebro
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3:49 - 3:51E através do microscópio, podemos ver
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3:51 - 3:53centenas de vasos sanguíneos castanhos
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3:53 - 3:55que alimentam as células cancerosas
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3:55 - 3:58trazendo até elas nutrientes e oxigénio.
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3:58 - 4:00Mas os cancros não começam assim.
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4:00 - 4:02De facto, os cancros não começam
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4:02 - 4:04com um fornecimento de sangue
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4:04 - 4:07Eles começam como pequenos ninhos microscópicos de células
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4:07 - 4:09que apenas podem crescer
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4:09 - 4:12cerca de metade de um milímetro cúbico de tamanho;
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4:12 - 4:14sensivelmente o tamanho de uma ponta de uma esferográfica.
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4:14 - 4:16Após isto, não podem crescer mais de tamanho porque não têm fornecimento de sangue,
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4:16 - 4:19logo não têm nutrientes nem oxigénio suficientes.
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4:19 - 4:21Na realidade, o nosso organismo está constantemente
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4:21 - 4:24a formar este tipo de cancros microscópicos.
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4:25 - 4:28Alguns estudos efectuados durante autópsias realizadas a vítimas de acidentes de viação
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4:28 - 4:31revelaram que cerca de 40 por cento das mulheres
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4:31 - 4:33entre os 40 e os 50 anos de idade
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4:33 - 4:35tinham cancros microscópicos
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4:35 - 4:37nos seu peito,
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4:37 - 4:39cerca de 50 por cento dos homens entre os 50 e os 60
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4:39 - 4:42tinham cancros microscópicos na próstata,
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4:42 - 4:44e quase certamente 100 por cento de nós,
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4:44 - 4:46iremos ter cancros microscópicos a desenvolverem-se na nossa tiróide
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4:46 - 4:49quando atingirmos os 70 anos de idade.
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4:49 - 4:51Contúdo, sem o fornecimento de sangue,
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4:51 - 4:53a maior parte destes cancros
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4:53 - 4:55nunca se irão tornar perigosos.
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4:55 - 4:57O Dr. Judag Folkman, que foi meu mentor
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4:57 - 5:00e pioneiro no estudo da angiogénese,
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5:00 - 5:03apelidou estes cancros de "cancro sem doença"
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5:04 - 5:07Quando a capacidade do organismo em regular o
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5:07 - 5:09processo da angiogénese funciona,
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5:09 - 5:11previne que os vasos sanguíneos alimentem o cancro.
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5:11 - 5:13E este é simplesmente
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5:13 - 5:16um dos mais importantes mecanismos de defesa do organismo
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5:16 - 5:18contra o cancro.
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5:18 - 5:20Na realidade, se conseguirmos bloquear a angiogénese
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5:20 - 5:22e impedir que os vasos sanguíneos cheguem às células cancerosas
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5:22 - 5:24os tumores simplesmente não se podem desenvolver.
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5:24 - 5:26Mas assim que a angiogénese se dá,
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5:26 - 5:29o câncro pode crescer exponencialmente.
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5:29 - 5:31E esta é a forma como
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5:31 - 5:33um câncro inofensivo
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5:33 - 5:35se torna num câncro mortal.
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5:35 - 5:37As células cancerosas entram em mutação
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5:37 - 5:39e ganham a capacidade de libertar
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5:39 - 5:41vários fertilizantes naturais, factores angiogénicos
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5:41 - 5:43que pendem a balança a favor dos vasos sanguíneos
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5:43 - 5:45que assim alcançam o câncro.
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5:45 - 5:47Assim que estes vasos atingem ao câncro,
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5:47 - 5:50este pode expandir-se e invadir os tecidos locais.
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5:50 - 5:52E os mesmos vasos que estão a alimentar os tumores
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5:52 - 5:55permitem que as células cancerosas entrem na circulação sanguínea
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5:55 - 5:57como metastases.
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5:57 - 6:00E infelizmente, é nesta fase já tardia
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6:00 - 6:02que o câncro é normalmente
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6:02 - 6:04diagnosticado,
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6:04 - 6:06quando se dá a angiogénese
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6:06 - 6:09e as células cancerosas crescem de forma descontrolada.
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6:10 - 6:12Então, se a angiogénese
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6:12 - 6:14é uma pequena fronteira
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6:14 - 6:17entre um câncro inofensivo e outro prejudicial
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6:17 - 6:20precisamos de uma nova abordagem no tratamento do câncro
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6:20 - 6:22se não houver fornecimento de sangue
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6:22 - 6:25iremos criar uma alteração na angiogénese
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6:25 - 6:28Chamamos-lhe a terapia anti-angiogénica
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6:28 - 6:30e é completamente diferente da quimioterapia
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6:30 - 6:32isto porque, podemos seleccionar o nosso alvo
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6:32 - 6:35apontando apenas em direcção dos vasos sanguíneos que alimentam o câncro.
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6:35 - 6:37Podemos fazer isto porque
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6:37 - 6:39os vasos sanguíneos que estão ligados ao tumor, são diferentes
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6:39 - 6:41dos outros vasos normais que estão por todo o nosso corpo:
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6:41 - 6:43Eles são anormais;
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6:43 - 6:45têm uma constituição fraca;
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6:45 - 6:47e por isso mesmo, são altamente vulneráveis
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6:47 - 6:49a tratamentos que estejam direccionados a si mesmos.
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6:50 - 6:52Com efeito, quando administrámos aos nossos pacientes
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6:52 - 6:54a terapia anti-angiogénica
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6:54 - 6:57neste caso, usámos um medicamento ainda em fase de experiência para um glioma,
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6:57 - 6:59que é um tipo de tumor no cérebro,
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6:59 - 7:02para impedir que o tumor se alimentasse
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7:02 - 7:04os resultados foram surpreendentes.
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7:04 - 7:06Aqui vemos uma mulher com cancro da mama
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7:06 - 7:09está a ser tratada com um medicamento anti-angiogénico chamado Avastin,
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7:09 - 7:11que está aprovado pela FDA.
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7:11 - 7:14Podemos ver então que a auréola do fluxo de sangue
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7:14 - 7:17desaparece após o tratamento.
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7:17 - 7:19Bem, acabei de vos mostrar
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7:19 - 7:21dois tipos de cancro diferentes
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7:21 - 7:24e ambos responderam bem ao tratamento anti-angiogénico.
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7:24 - 7:26Portanto, há uns anos atrás eu perguntei a mim mesmo,
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7:26 - 7:28"Será que podemos dar o passo seguinte
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7:28 - 7:30e tratar outro tipo de cancros,
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7:30 - 7:33mesmo noutras espécies?"
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7:34 - 7:36Aqui temos o Milo, um boxer com 9 anos de idade
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7:36 - 7:38que tinha um neurofibroma maligno no seu ombro
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7:38 - 7:41um tipo de tumor muito agressivo
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7:41 - 7:43que acabou por espalhar-se pelos seus pulmões.
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7:43 - 7:45O veterinário deu-lhe apenas 3 meses de vida.
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7:45 - 7:48Decidimos então criar um cocktail de medicamentos anti-angiogenicos
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7:48 - 7:50que pudesse ser misturado na sua comida
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7:50 - 7:52bem como um creme anti-angiogenico
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7:52 - 7:55que pudesse ser aplicado na superfície do tumor.
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7:55 - 7:57Passadas algumas semanas de tratamento,
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7:57 - 8:00podémos abrandar o crescimento do câncro
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8:00 - 8:03de forma a poder aumentar o tempo de vida do Milo
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8:03 - 8:06para seis vezes mais do que inicialmente previsto pelo veterinário,
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8:06 - 8:09mantendo ao mesmo tempo uma boa qualidade de vida.
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8:09 - 8:12Posteriormente tratámos mais de 600 cães.
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8:12 - 8:14A resposta ao tratamento foi positiva em cerca de 60% destes cães
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8:14 - 8:16eles iriam acabar por ser abatidos
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8:16 - 8:19e viram assim a sua vida poupada.
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8:19 - 8:21Gostaria de vos mostrar outros casos
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8:21 - 8:23ainda mais interessantes.
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8:23 - 8:25Este golfinho da Florida com 20 anos de idade,
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8:25 - 8:27tinha uma série de lesões no seu focinho
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8:27 - 8:29que com o passar dos anos,
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8:29 - 8:32desenvolveram-se em células cancerosas invasivas,
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8:32 - 8:35Decidimos então desenvolver uma pasta anti-angiogénica
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8:35 - 8:37para que fosse aplicada por cima do cancro
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8:37 - 8:39três vezes por semana.
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8:39 - 8:41Ao longo do tratamento de sete meses,
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8:41 - 8:43os cancros foram desaparecendo por completo,
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8:43 - 8:46a os resultados das biópsias vieram com valores normais.
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8:47 - 8:49Aqui temos um cancro que está a crescer no lábio
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8:49 - 8:51do Guinness, um cavalo de raça Wuarter.
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8:51 - 8:54Trata-se de um cancro bastante mortal chamado angiosarcoma.
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8:54 - 8:56Encontra-se já espalhado pelos nódulos linfáticos,
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8:56 - 8:59por isso usámos um creme de pele anti-angiogénico para o lábio
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8:59 - 9:02e um cocktail via oral, para que pudéssemos tratar simultaneamente no interior
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9:02 - 9:04e no exterior.
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9:04 - 9:06Após o decurso de 6 meses,
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9:06 - 9:09o cancro já dava sinais de remissão.
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9:09 - 9:12E aqui temos 6 anos mais tarde,
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9:12 - 9:15o Guinness e o seu dono bastante contente.
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9:15 - 9:18(Aplausos)
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9:18 - 9:20Presentemente, é óbvio que o tratamento anti-angiogénico
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9:20 - 9:23pode ser usado para um vasto número de cancros.
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9:23 - 9:25Na realidade, alguns dos primeiros tratamentos que foram usados
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9:25 - 9:27em cães e pessoas,
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9:27 - 9:29já começam a estar disponíveis.
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9:29 - 9:32Temos cerca de 12 medicamentos diferentes para 11 tipo de cancros diferentes.
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9:32 - 9:34Mas na realidade a questão é:
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9:34 - 9:36Será que irão resultar no dia-a-dia?
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9:36 - 9:39Vejamos então os dados de sobrevivência dos pacientes
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9:39 - 9:41de oito tipos de cancros diferentes.
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9:41 - 9:43As barras representam o tempo de sobrevivência
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9:43 - 9:45da época em que
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9:45 - 9:47apenas estavam disponíveis os tratamentos de quimioterapia,
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9:47 - 9:50cirurgia ou radioterapia.
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9:50 - 9:52Mas a partir de 2004,
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9:52 - 9:54quando os primeiros tratamentos anti-angiogénicos surgiram,
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9:54 - 9:56podem verificar que houve
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9:56 - 9:58um aumento da taxa de sobrevivência
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9:58 - 10:00entre os 70 e os 100 por cento
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10:00 - 10:03em pessoas com cancro do figado, mieloma múltiplo,
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10:03 - 10:06cancro do colo-rectal e cancros gastro-intestinais.
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10:07 - 10:09Isto é impressionante.
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10:09 - 10:12Mas noutro tipo de cancros e tumores,
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10:12 - 10:15os resultados foram mais modestos.
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10:15 - 10:17Comecei então a questionar-me,
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10:17 - 10:20"Por que razão não conseguiram resultados melhores?"
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10:20 - 10:22A resposta, é para mim, óbvia;
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10:22 - 10:24quando começamos a tratar o cancro já é tarde demais,
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10:24 - 10:26ele já está instalado
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10:26 - 10:29e às vezes, já começou a espalhar-se ou a criar metástases
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10:29 - 10:31Como médico, eu sei
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10:31 - 10:34que assim que uma doença entra numa fase avançada,
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10:34 - 10:36conseguir uma cura
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10:36 - 10:39pode ser difícil, senão mesmo impossível.
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10:39 - 10:41Então decidi recorrer à biologia
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10:41 - 10:43da angiogénese
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10:43 - 10:45e começei a pensar:
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10:45 - 10:47Poderá a resposta ao tratamento do cancro
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10:47 - 10:50estar em impedir a angiogénese
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10:50 - 10:52batendo desta forma o cancro no seu próprio terreno
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10:52 - 10:55e impedi-los de se tornarem perigosos?
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10:56 - 10:58Isto poderia ajudar tanto pessoas saudáveis
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10:58 - 11:00como outras que já venceram o cancro
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11:00 - 11:02uma ou mais vezes
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11:02 - 11:05e que queriam encontrar uma forma de evitar que ele volte.
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11:05 - 11:08Para poder encontrar uma forma de impedir a angiogénese no cancro,
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11:08 - 11:10tive de tentar verificar as causas da formação dos cancros.
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11:10 - 11:12Fiquei intrigado ao verificar
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11:12 - 11:14que entre 30 a 35 por cento
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11:14 - 11:16dos cancros causados por efeitos exteriores
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11:16 - 11:19está nos nossos hábitos alimentares.
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11:19 - 11:21A primeira ideia que nos vem à cabeça é
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11:21 - 11:24que alimentos poderíamos retirar ou o que eliminar nos nossos hábitos alimentares.
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11:25 - 11:28Preferi no entanto adoptar uma abordagem completamente diferente
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11:28 - 11:31e começei por questionar-me: O que podemos acrescentar na nossa dieta
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11:31 - 11:34que seja naturalmente um anti-angiogénico
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11:34 - 11:36e que possa reforçar o mecanismo de defesa do organismo
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11:36 - 11:39de forma a impedir que os vasos sanguíneos possam alimentar os cancros?
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11:39 - 11:42Por outras palavras, podemos fazer o cancro passar fome através do que comemos? (Risos)
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11:43 - 11:45A resposta é sim,
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11:45 - 11:47e irei mostrar-vos como.
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11:47 - 11:49A nossa pesquisa
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11:49 - 11:52levou-nos ao mercado, à quinta e ao armário das especiarias,
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11:52 - 11:54isto porque o que descobrimos
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11:54 - 11:56é que a natureza oferece-nos um grande número
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11:56 - 11:58de alimentos, bebidas e ervas
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11:58 - 12:00capazes de inibir naturalmente
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12:00 - 12:02a angiogénese.
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12:02 - 12:04Vejamos agora uma experiência que desenvolvemos.
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12:04 - 12:06No centro vemos um circulo no qual centenas de vasos sanguíneos
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12:06 - 12:08crescem em forma de estrela.
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12:08 - 12:10Podemos usar este processo
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12:10 - 12:12com concentrados com se obtêm na alimentação
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12:12 - 12:15e assim testar os factores alimentares.
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12:15 - 12:17Deixem-me mostrar-vos o que que acontece quando colocamos
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12:17 - 12:20um extracto de uvas vermelhas.
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12:20 - 12:22O ingrediente activo é o resveratrol,
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12:22 - 12:24também encontrado no vinho tinto.
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12:24 - 12:27Consegue inibir a angiogénese que está a mais
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12:27 - 12:29em 60 por cento.
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12:29 - 12:32Vejamos então o que acontece quando adicionamos extractos de morangos;
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12:32 - 12:35inibe fortemente a angiogénese.
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12:35 - 12:38Agora extracto de rebentos de soja.
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12:39 - 12:41E aqui temos a nossa lista
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12:41 - 12:43de alimentos e bebidas antiangiogénicas
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12:43 - 12:45que estamos interessados em estudar.
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12:45 - 12:47Para cada tipo de comida,
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12:47 - 12:49acreditamos que existam diferentes tipos de potencialidades
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12:49 - 12:52em diferentes linhagens e variedades.
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12:52 - 12:54Nós queremos analizar isto para que,
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12:54 - 12:56quando estamos a comer um morango
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12:56 - 12:58ou a beber um chá,
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12:58 - 13:00possamos saber aquele que é mais eficaz
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13:00 - 13:02a prevenir o cancro.
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13:02 - 13:05Vejamos então quatro tipos diferentes de chá que testámos.
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13:05 - 13:07São todos chás vulgares:
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13:07 - 13:09Jasmim chinês, Sencha Japonês,
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13:09 - 13:11Earl Grey e uma mistura especial que preparámos.
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13:11 - 13:13Podem ver claramente
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13:13 - 13:15que os chás variam no seu potencial
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13:15 - 13:18do menos potente para o mais potente.
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13:18 - 13:20Mas o mais curioso
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13:20 - 13:22é que quando combinamos os dois
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13:22 - 13:24menos potentes,
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13:24 - 13:26a combinação
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13:26 - 13:29é mais potente do que enquanto separados.
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13:29 - 13:32Isto significa que há uma sinergia na comida.
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13:34 - 13:36Vejamos mais alguns dados dos nossos testes.
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13:36 - 13:39Em laboratório, podemos simular a angiogénese num tumor,
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13:39 - 13:41representada aqui com a barra preta.
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13:41 - 13:44Usando este processo, podemos testar a eficácia de medicamentos de combate ao cancro
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13:44 - 13:46Então, a barra mais pequena,
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13:46 - 13:49representa menos angiogénese, isso é bom.
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13:49 - 13:51Aqui temos alguns medicamentos vulgares
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13:51 - 13:53que foram associados à diminuição do risco
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13:53 - 13:55de cancro em pessoas.
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13:55 - 13:57Estatinas, medicamentos anti-inflamatórios e não esteróides
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13:57 - 13:59e outros,
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13:59 - 14:02eles inibem a angiogénese também.
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14:02 - 14:04E aqui temos os factores alimentares
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14:04 - 14:07que se batem lado a lado com estes medicamentos.
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14:07 - 14:09Podem ver que conseguem igualar-se
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14:09 - 14:11e em alguns casos, até ultrapassar
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14:11 - 14:13os medicamentos existentes no mercado.
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14:13 - 14:15Soja, salsa, alho,
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14:15 - 14:17uvas, bagas;
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14:17 - 14:19Eu posso usar estes ingredientes em casa
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14:19 - 14:21e fazer uma iguaria
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14:21 - 14:23Agora imaginem se criássemos
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14:23 - 14:25o primeiro sistema do mundo
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14:25 - 14:27em que pudéssemos pontuar alimentos
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14:27 - 14:29de acordo com o seu potencial anti-angiogénico,
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14:29 - 14:31e as suas propriedades anti-cancerosas.
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14:31 - 14:34Actualmente, é isso mesmo que estamos a fazer.
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14:34 - 14:36Deixem-me mostrar-vos agora uma quantidade de dados de laboratório,
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14:36 - 14:38e a verdadeira questão é:
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14:38 - 14:40Qual é a prova que a redução
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14:40 - 14:42da angiogénese no cancro está
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14:42 - 14:45associada a pessoas que comem certos alimentos?
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14:45 - 14:47Bem, o melhor exemplo de que tenho conhecimentos
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14:47 - 14:49é um estudo efectuado em 79.000 homens
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14:49 - 14:51ao longo de 20 anos,
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14:51 - 14:53no qual foi descoberto que os homens que consumiam
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14:53 - 14:55tomates cozinhados duas a três vezes por semana
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14:55 - 14:58tinham uma redução até 50 por cento
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14:58 - 15:01no risco de contrairem cancro da próstata.
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15:01 - 15:04Presentemente, sabemos que os tomates são uma boa fonte de licopeno,
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15:04 - 15:07e o licopeno é um anti-angiogénico.
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15:07 - 15:09Mas o mais interessante neste estudo
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15:09 - 15:12é que nos homens que desenvolveram cancro da próstata,
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15:12 - 15:15aqueles que comeram mais molho de tomate
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15:15 - 15:17tinham menos vasos sanguíneos
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15:17 - 15:19a alimentar o seu cancro.
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15:19 - 15:21Este estudo em humanos é um excelente exemplo
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15:21 - 15:23de como as substâncias anti-angiogénicas
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15:23 - 15:26que existem nestes alimentos, quando consumidas regularmente
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15:26 - 15:28podem impedir o cancro.
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15:28 - 15:30Com a ajuda do Dean Ornish,
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15:30 - 15:32estamos a levar a cabo um estudo na UCFS e na Universidade Tufts
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15:32 - 15:35acerca do papel de uma dieta saudável
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15:35 - 15:38nos marcadores da angiogénese
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15:38 - 15:41que encontramos na corrente sanguínea
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15:41 - 15:44Obviamente aquilo que eu partilhei convosco, envolve outras áreas distintas
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15:44 - 15:46que vão para além do estudo do cancro.
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15:46 - 15:49Isto porque se estivermos certos, poderá ter impactos nos hábitos de consumo,
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15:49 - 15:51na restauração, na saúde pública
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15:51 - 15:53e até na indústria dos seguros.
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15:53 - 15:55Na realidade, algumas companhias de seguros
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15:55 - 15:57já estão a debruçar-se sob este assunto.
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15:57 - 16:00Observem este anúncio da Blue Cross Blue Shield of Minnesota.
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16:01 - 16:03Prevenir o cancro atravé da dieta
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16:03 - 16:05pode ser a única solução possível
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16:05 - 16:07para um grande número de pessoas no planeta
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16:07 - 16:10nem toda a gente pode suportar os custos elevados dos tratamentos de cancros em fase terminal
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16:10 - 16:12mas todos poderíamos beneficiar
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16:12 - 16:15de uma dieta saudável baseada em
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16:15 - 16:17agricultura anti-angiogénica local e sustentável.
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16:18 - 16:20Concluíndo,
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16:20 - 16:22Falei-vos de comida,
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16:22 - 16:24e falei-vos de cancro,
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16:24 - 16:27agora resta-me apenas uma outra doença que que ainda gostaria de vos falar
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16:27 - 16:29a obesidade.
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16:29 - 16:31Isto porque,
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16:31 - 16:33a gordura e os tecidos adiposos,
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16:33 - 16:35são altamente dependentes da angiogénese.
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16:35 - 16:38E tal como um tumor, a gordura cresce quando os vasos sanguíneos crescem.
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16:38 - 16:41Então a questão será: Podemos reduzir a gordura
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16:41 - 16:43se cortarmos-lhe o fornecimento de sangue?
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16:43 - 16:46A curva de cima mostra-nos o peso corporal
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16:46 - 16:48de um rato geneticamente obeso
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16:48 - 16:50e que se alimenta sem parar
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16:50 - 16:53até se tornar gordo, como esta bola de ténis.
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16:54 - 16:57E a curva de baixo é o peso de um rato normal.
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16:57 - 16:59Se pegarmos no rato obeso e dermos
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16:59 - 17:01um inibidor da angiogénese, ele perde peso.
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17:01 - 17:03Paramos o tratamento e ele recupera o peso de volta.
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17:03 - 17:05Recomeçamos o tratamento e ele perde peso de novo.
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17:05 - 17:07Paramos o tratamento e ele ganha peso novamente.
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17:07 - 17:09Efectivamente, podemos criar este ciclo de ganhos e perdas de peso
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17:09 - 17:12simplesmente inibindo a angiogénese.
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17:12 - 17:14Então este estudo que realizámos para a prevenção do cancro
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17:14 - 17:16pode ter também utilidade
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17:16 - 17:18no controlo da obesidade.
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17:18 - 17:20O verdadeiro aspecto interessante de tudo isto
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17:20 - 17:22é que não podemos pegar nestes ratos obesos
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17:22 - 17:24e fazer com que percam mais peso
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17:24 - 17:27do que aquilo que um rato normal deve pesar.
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17:27 - 17:29Por outras palavras, não podemos criar um rato supermodelo.
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17:29 - 17:31(Risos)
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17:31 - 17:33E isto explica como a angiogénese
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17:33 - 17:36pode dar pontos no controlo da nossa saúde.
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17:36 - 17:38Albert Szent-Gyorgi disse um dia,
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17:38 - 17:41"Descobrir consiste em ver aquilo que todos nós já vimos,
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17:41 - 17:43e pensar naquilo que ninguém pensou."
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17:43 - 17:45Espero ter conseguido convencer-vos
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17:45 - 17:48que, para doenças como o cancro, obesidade e outras,
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17:48 - 17:50poderá haver uma grande vantagem
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17:50 - 17:53em atacar o seu denominador em comum: a angiogénese.
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17:53 - 17:56Isto é o que eu penso que o mundo precisa de se concentrar agora. Obrigado.
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17:56 - 18:07(Aplausos)
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18:07 - 18:10June Cohen: Eu tenho uma questão muito rápida para lhe colocar. Estes medicamentos não são exactamente...
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18:10 - 18:13os métodos principais de tratamento de cancros.
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18:13 - 18:15Para qualquer um que aqui esteja e tenha cancro,
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18:15 - 18:17o que recomendaria?
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18:17 - 18:20Recomedaria-lhes procurarem este tipo de tratamentos para a maioria do cancros?
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18:20 - 18:22William Li: Vejamos, temos os medicamentos anti-angiogénicos
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18:22 - 18:24que são aprovados pela FDA,
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18:24 - 18:26se é um doente de cancro
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18:26 - 18:28ou se está a tratar de alguém com esta doença
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18:28 - 18:30então deveria procura-los.
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18:30 - 18:33Existem também vários testes em clínicas.
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18:33 - 18:36A Fundação da Angiogénese está a acompanhar quase 300 empresas,
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18:36 - 18:38e existem cerca de 100 medicamentos
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18:38 - 18:40que estão a ser testados.
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18:40 - 18:42Opte então por aqueles que já estão aprovados,
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18:42 - 18:44procure estudos clínicos,
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18:44 - 18:46mas entre aquilo que o médico pode fazer por nós,
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18:46 - 18:48precisamos de começar a pensar naquilo que podemos fazer por nós.
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18:48 - 18:50E este é um dos temas que tenho vindo a falar,
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18:50 - 18:52nós temos o poder de fazer coisas
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18:52 - 18:54que os médicos não podem fazer por nós,
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18:54 - 18:56usar a informação ao nosso alcance e agirmos.
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18:56 - 18:59Se a natureza deu-nos algumas pistas,
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18:59 - 19:01pensamos que poderá haver um novo futuro
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19:01 - 19:03na forma como damos valor aquilo que comemos.
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19:03 - 19:06E aquilo que comemos é na realidade a nossa quimioterapia três vezes ao dia.
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19:06 - 19:08JC: Certo. E nesse sentido,
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19:08 - 19:11para pessoas com factores de risco de contrairem cancro,
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19:11 - 19:14recomendaria-lhe que procurassem algum tipo de tratamento profilático
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19:14 - 19:16ou simplesmente ter um dieta adequada
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19:16 - 19:18com bastante molho de tomate?
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19:18 - 19:21WL: Sabe, existem provas de natureza epidemiológica.
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19:21 - 19:23Penso que nesta era da informação,
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19:23 - 19:25não é muito difícil recorrer a uma fonte credível
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19:25 - 19:27como a PubMed ou na Biblioteca Nacional de Medicina,
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19:27 - 19:29para encontrarmos estudos epidemiológicos
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19:29 - 19:31de redução do risco de cancro
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19:31 - 19:34baseados em dieta e em medicamentos vulgares.
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19:34 - 19:36E isto é certamente algo que qualquer um pode pesquisar.
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19:36 - 19:38JC: Ok. Muito obrigado.
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19:38 - 19:40(Aplausos)
- Title:
- William Li: Podemos fazer o cancro passar fome através daquilo que comemos?
- Speaker:
- William Li
- Description:
-
William Li apresenta uma nova abordagem para combater o cancro: angiogénese, prevenir o crescimento da rede de vasos sanguíneos que nutre os tumores. O passo fundamental (e o melhor): Comer alimentos que combatem o cancro usando o seu próprio método de desenvolvimento.
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- English
- Team:
closed TED
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- TEDTalks
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