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Transformando a Realidade com Objetos do Dia a Dia (Gabriel Orozco) | Art21

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    GABRIEL OROZCO: Eu gosto de trabalhar aqui
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    Eu gosto de caminhar.
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    Isso me acorda.
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    Em poucos quarteirões de caminhada,
    muitas coisas podem acontecer
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    E eu gosto de observar essas coisas
    e apreciá-las.
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    A câmera é um instrumento que eu uso como
    uma desculpa para observar essas coisas
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    Então a câmera, no fim, é um jeito
    de estar mais presente
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    Mesmo quando eu era criança, eu me lembro
    das ruas que eu caminhava no México,
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    Indo de casa para a escola.
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    Eu me lembro de todas as poças no caminho,
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    e todas as imperfeições nas calçadas.
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    Eu sempre gostei disso, de olhar
    para essas coisas.
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    Eu não tenho um estúdio, então eu não
    trabalho em um lugar específico.
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    Eu percebi que ás vezes, o estúdio
    é um lugar isolado,
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    Um lugar artificial, como uma bolha.
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    Eu não estou interessado, porque acho que
    fica fora da realidade.
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    O que acontece quando você
    não tem um estúdio
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    é que você se confronta com a
    realidade a todo momento.
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    Você precisa estar na rua, precisa
    caminhar, precisa viver o exterior.
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    Eu tento criar intimidade com
    tudo que consigo.
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    E para ser íntimo, você tem que se abrir
    e confiar no que está ao seu redor.
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    E assim nascem esses gestos de
    intimidade com as coisas.
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    Dessa forma, outras pessoas podem ter
    essa mesma sintonia com o mundo.
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    Eu não tenho uma técnica específica,
    eu trabalho de várias formas.
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    Então, quando eu termino algo, eu
    preciso inventar algo diferente,
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    em um meio diferente,
    em um lugar diferente.
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    Esse Citroen não é só um carro,
    ele é especial,
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    é carregado de significado por ser
    um objeto cultural.
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    Mas não é só um ícone, porque também é
    uma máquina com uma função prática.
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    E ao recriá-lo em sua própria lógica,
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    você simultaneamente analisa esse ícone
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    para torná-lo algo ativo novamente.
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    Eu fiz isso com um assistente.
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    Juntando as peças, trabalhamos um mês
    inteiro numa garagem.
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    Foi um trabalho bem intimista,
    foi muito bom.
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    Deu muito trabalho.
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    Removi o centro e montei de volta.
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    Da lateral, ele parece um carro comum,
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    mas quando você dá a volta, a perspectiva
    muda completamente.
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    Eu escrevi algo que se leria como: "Meio
    de transporte além do ponto de fuga".
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    E esses outros são desenhos
    mais orgânicos e livres.
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    Mas o verdadeiro desenho estava
    no próprio carro.
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    Porque você tem que fazer
    a linha super precisa,
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    e isso levou tipo uma semana.
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    Você pode ficar cortando sem parar.
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    Pode fazer um corte, e outro corte,
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    e mais outro, infinitamente
    e nunca vai terminar.
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    MARIA GUTIERREZ DE OROZCO: Ele teve que
    ir ao supermercado comigo
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    para me ajudar a carregar as compras,
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    mas é claro que lá ele começou a
    mexer com a comida
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    porque estava entediado comigo lendo
    todos os rótulos e ingredientes.
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    Ele percebeu como o supermercado
    é um mundo ordenado e perfeito,
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    que no minuto em que você devolve algo
    no lugar errado, surge um caos,
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    só de colocar um objeto fora do lugar e
    você sente na hora que algo está errado.
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    Então ele colocou batatas
    junto com cadernos,
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    e comida de gato junto com as melancias.
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    Na verdade, com ele tudo é muito banal,
    existe pouco mistério.
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    É tudo muito básico.
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    É como se ele tivesse essa curiosidade
    incrível que para ele é algo normal
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    até que, de repente, algo o deixa
    completamente fascinado.
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    GABRIEL OROZCO: O que eu gosto nos jogos
    é que cada jogo é um universo único.
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    Então você tem um mundinho em um
    tabuleiro ou em uma mesa,
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    projetado com perfeição pra você
    poder jogar em um cenário
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    e quando o jogo é bom,
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    é tão apaixonante que você realmente
    entra naquele mundo e vive dentro dele.
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    No pingue-pongue normal,
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    você tem uma rede que é um "não-espaço"
    entre dois espaços.
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    Mas aqui, em vez de duas pessoas jogando,
    você tem quatro pessoas em quatro mesas,
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    Quando essa barreira se desfaz,
    a rede se torna um espaço aberto,
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    E um novo espaço se forma.
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    E é esse espaço que me interessa,
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    o espaço intermediário.
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    Por ser um novo espaço, eu poderia fazer
    qualquer coisa que quisesse.
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    Eu decidi fazer um lago.
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    Eu diria que foi uma decisão aleatória,
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    mas se você quiser conectar isso
    com os lagos na cultura indiana
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    relacionando a flor de lótus,
    o começo do universo
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    e o lago como centro cósmico,
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    você consegue.
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    Um dia eu vi o Pêndulo de Foucault,
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    e, como você deve saber, foi assim que se
    provou que a Terra se move.
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    Porque existe esse pêndulo
    pendurado bem alto
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    que fica constantemente se movendo
    por causa da rotação da Terra.
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    Eu pensei: "O que aconteceria se uma
    bola de sinuca fosse um pêndulo?"
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    E em vez de usar uma mesa retangular,
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    decidi fazer uma mesa elíptica ou oval.
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    Assim acabamos jogando mais
    próximo das leis do universo.
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    Na sinuca, por conta da mesa
    ser retangular,
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    é possível calcular como a
    bola vai se mover.
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    Mas nesse caso, quando a bola começa
    a tocar a borda oval,
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    ela começa a se mover de um lado
    para o outro até se perder completamente.
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    Enfim, é um jogo totalmente
    diferente e, e...
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    bem mais complexo de várias formas.
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    E muito mais chato que um
    jogo de sinuca normal,
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    mas eu não coloquei nenhuma regra, exceto
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    as regras básicas de acertar as
    bolas com uma outra.
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    As pessoas jogam. Eu jogo ás vezes.
    E as regras ainda precisam ser inventadas.
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    Tentei usar ferramentas que
    qualquer pessoa pode usar.
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    Eu não quero ser um especialista.
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    Nem usar técnicas super difíceis.
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    Prefiro ser um iniciante.
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    Eu gosto de aprender a arrumar carros,
    assim eu fiz o Citroen.
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    Eu não sou um especialista em carros.
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    Até eu mesmo penso, quando faço cerâmica,
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    que é como se fosse um hobby pra mim.
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    É tipo: "Ah, gosto de cerâmica, é legal,
    quero aprender um pouquinho".
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    É exatamente como se define um hobby.
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    Normalmente, quando se faz cerâmica,
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    se tem muita ciência do
    espaço vazio no centro.
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    Nesse caso, eu não queria focar no
    centro, e sim na forma externa.
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    Por isso precisei de uma argila especial.
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    Esse espaço era uma fábrica
    de tijolos antes,
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    então possui máquinas que produzem
    rapidamente a argila que preciso.
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    É possível trabalhar por várias
    horas em um dia
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    quase como um operário em
    uma linha de produção.
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    Para mim, isso era importante.
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    O processo de pensar está ligado
    à bola de muitas formas.
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    Estar num trem em movimento
    ou olhar para o oceano.
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    Trabalhar com as mãos na argila,
    de modo muito físico.
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    Tudo isso gera um estímulo no cérebro,
    e você pensa.
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    Mas é a conexão entre o cérebro,
    a respiração, o suor, o tempo investido,
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    a desaceleração ou aceleração
    do pensamento,
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    que acaba criando os diferentes
    jeitos de pensar.
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    Sentir que o trabalho está pronto
    é uma decisão intuitiva.
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    O que vale é a forma carregar
    o gesto que a criou.
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    A cerâmica é um dos instrumentos mais
    complexos da história humana.
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    Ela pode ser relacionada ao
    México se você quiser,
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    mas também à Grécia,
    ou a qualquer pessoa no mundo
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    porque a cerâmica é simplesmente
    parte da nossa história.
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    A divisão entre trabalho e a vida
    cotidiana é bem definida.
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    No México é igual.
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    E esse espaço entre o trabalho e a vida
    é justamente o mais difícil de equilibrar.
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    O tempo do lazer, do prazer, do estudo,
    ou da pesquisa é o que sobra,
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    porque o importante é trabalhar para
    conseguir viver, basicamente.
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    Mas aí todos esses espaços no
    meio se perdem um pouco.
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    Todos temos que correr atrás deles.
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    Quando você vive e trabalha
    no mesmo lugar,
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    tudo vira parte do trabalho.
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    Cada móvel importa, cada coisinha.
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    Até o lixo.
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    Minha contradição é que eu digo
    não querer produzir nada,
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    mas ao mesmo tempo preciso criar
    formas de me comunicar.
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    É como um reflexo do que faço.
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    Talvez seja só obsessão por me conectar
    com as outras pessoas.
Title:
Transformando a Realidade com Objetos do Dia a Dia (Gabriel Orozco) | Art21
Description:

A Art21 traz um olhar especial sobre Gabriel Orozco no episódio "Loss & Desire", da segunda temporada de "Art in the Twenty-First Century".

No ar desde setembro de 2003 na PBS, o episódio acompanha Orozco enquanto ele brinca com objetos do dia a dia, criando composições inesperadas pelas ruas e registrando tudo com sua câmera. Seu interesse por lógica, sistemas e física aparece tanto nesses experimentos quanto em obras como La D.S., um Citroën que ele cortou ao meio e remontou, dando ao carro uma forma completamente nova.

Gabriel Orozco nasceu em Jalapa, Veracruz, México, em 1962. Quer saber mais sobre o artista? Acesse: art21.org

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Video Language:
English
Team:
Art21
Project:
"Art in the Twenty-First Century" broadcast series
Duration:
16:10

Portuguese, Brazilian subtitles

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