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(8) The Zorro of Zen: Two Levels of Truth | by Thich Nhat Hanh, 2014 06 17 (Plum Village, France)

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    Outro dia falámos sobre dois tipos de verdade,
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    a convencional e a última.
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    Ao nível da verdade convencional,
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    vemos que há um começo,
    e há um fim para tudo.
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    Há nascimento, há morte,
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    há ser e não ser.
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    E sabemos que estas noções também são úteis.
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    Falámos sobre a data de nascimento,
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    o aniversário.
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    E sem um começo, um dia de nascimento,
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    não podemos estabelecer um cartão de identidade.
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    Portanto, o nascimento e a morte são importantes.
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    Acima e abaixo são importantes.
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    Esquerda e direita são importantes.
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    Eles são úteis ao nível da
    verdade convencional.
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    Politicamente, é preciso saber se estamos
    à direita ou à esquerda.
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    Mas há outra dimensão da verdade,
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    chama-se a última verdade.
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    E os cientistas do nosso tempo estão a tentar
    tocar essa última verdade.
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    Porque, quando entram no mundo da
    realidade subatómica,
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    têm de abandonar as suas noções e ideias.
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    Aprendem a libertar-se da aparência,
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    do sinal.
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    A partícula é um sinal,
    a onda também é um sinal.
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    E se um cientista ficar preso ao sinal
    de partícula ou de onda,
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    não conseguirá ver a verdadeira natureza do eletrão.
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    Ao nível convencional,
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    uma partícula só pode ser uma partícula,
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    não pode ser uma onda.
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    Porque têm formas diferentes,
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    como a nuvem e o chá.
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    Têm formas diferentes.
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    Mas, olhando profundamente, são a mesma coisa.
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    Uma partícula pode ser, ao mesmo tempo, uma onda.
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    E se não fores capaz de ver isso,
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    então não foste capaz de compreender a natureza
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    nem da onda nem da partícula.
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    Uma partícula tem uma localização específica no espaço.
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    Mas quando a vês como uma onda, esse lugar específico
    no espaço desaparece.
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    E se fores mais fundo, uma coisa pode estar
    em todo o lado ao mesmo tempo.
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    O princípio da não-localidade.
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    Estamos, assim, a deixar o mundo da verdade
    convencional para entrar num nível mais profundo.
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    E os nossos cientistas passaram muito tempo
    a esforçar-se para conseguirem libertar-se
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    das suas noções, das suas ideias, dos seus sinais,
    para conseguirem começar a compreender
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    o mundo... o mundo subatómico.
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    Há a ciência clássica,
    representada por Newton.
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    E há muita verdade nessa ciência.
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    Mas ela não pode explicar tudo.
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    É por isso que temos de avançar para a ciência moderna,
    para a física quântica.
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    E a física quântica afirmou muitas coisas
    que contradizem... que parecem contradizer
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    as coisas afirmadas pela ciência clássica.
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    Assim, a física moderna é algo como a verdade última.
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    E há uma dificuldade em ligar os dois tipos de ciência,
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    a ciência clássica e a ciência moderna.
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    Reconhecemos que há verdade na
    ciência clássica,
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    e há verdade na ciência moderna.
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    Mas, na aparência, contradizem-se.
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    E precisamos de algum tipo de ligação para as conectar.
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    Mas, na tradição budista, há algo que nos pode ajudar
    a fazer essa ligação entre um nível de verdade
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    e outro nível de verdade, e isso é muito claro.
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    E esse tipo de distinção, esse tipo de conexão,
    pode ser útil para vermos
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    a verdadeira natureza do nascimento e da morte.
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    Este é o nível da verdade convencional.
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    E podemos ver nele a noção de
    começo e fim,
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    nascimento e morte,
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    ser e não ser,
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    igualdade e diferença.
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    Há pares de opostos por toda a parte.
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    Há eu e tu, há pai e filho, e eles não são o mesmo.
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    São distintos um do outro.
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    O homem é diferente dos animais.
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    Os animais são diferentes dos vegetais.
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    Os vegetais são diferentes dos minerais.
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    E há essa separação,
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    as coisas estão fora umas das outras.
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    Mas, quando observamos de perto,
    deixamos de ver essa separação.
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    Vemos que as coisas estão dentro umas das outras.
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    O pai está dentro do filho,
    o filho está dentro do pai;
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    não se pode retirar o pai do filho.
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    Então, passamos para o segundo nível da verdade.
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    Chama-se a verdade última.
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    E, neste nível, não há começo nem fim.
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    Não há nascimento nem morte.
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    E as noções de ser e não ser
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    desaparecem.
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    E há uma liberdade absoluta nisso.
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    Aqui vemos a extinção, a remoção de
    todas as noções e conceitos.
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    E os dois tipos de verdade
    parecem contradizer-se.
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    Mas há uma ligação, um caminho que conecta
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    a verdade convencional com a verdade última.
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    Então, desenhamos algo como um "Z" do Zorro.
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    [Thay desenha no quadro, todos riem]
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    E é esta linha, que representa a prática da meditação,
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    que nos pode levar da verdade convencional
    para a verdade última.
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    Esta linha [apontando para a linha inferior do "Z"] representa a
    compreensão do vazio.
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    O vazio.
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    E sabemos que vazio não significa inexistência.
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    Olhem para este copo.
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    Está vazio.
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    Mas...
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    O copo está vazio,
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    mas isso não significa que o copo não esteja lá, certo?
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    Portanto, vazio é algo muito diferente de inexistência.
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    E o vazio é sempre vazio de algo.
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    Está vazio de chá, concordo.
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    Mas não está vazio de ar.
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    Está cheio de ar.
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    Então, ser vazio significa ser vazio de algo.
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    Por isso, quando ouvimos o Bodhisattva Avalokita
    dizer que tudo é vazio, temos de perguntar:
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    "Sr. Bodhisattva, dizes que tudo
    é vazio, mas vazio de quê?"
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    E ele dir-nos-á que tudo é vazio
    de uma existência separada.
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    Como essa flor.
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    A flor está cheia do cosmos.
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    Quando olhas para uma flor,
    vês o cosmos inteiro nela—
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    tempo, espaço,
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    luz do sol, Terra, consciência—
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    tudo no cosmos tem de se unir
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    para que uma flor se manifeste como um milagre da vida.
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    E a flor pertence ao Reino de Deus.
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    Está cheia do cosmos, mas está vazia
    de um eu separado.
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    Porque, se removermos todos os elementos não-flor,
    não sobra flor nenhuma.
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    Portanto, a natureza da flor é o vazio.
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    O vazio significa a plenitude de tudo,
    mas vazio de uma existência separada.
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    Tu não podes existir sozinho.
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    Tens de inter-existir connosco.
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    E esse é o significado do vazio.
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    Se removermos os antepassados, o pai, a mãe, a educação,
    o alimento, a tradição...
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    a mãe, a educação,
    o alimento, a tradição...
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    não sobra um "nós".
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    Somos feitos de elementos que não são "nós".
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    Isso não significa que não existimos.
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    Estamos bem presentes.
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    Mas não temos uma existência separada.
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    Por isso, a palavra "ser"
    pode ser enganadora.
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    Na verdade, o correto seria "inter-ser".
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    Ser é impossível.
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    Inter-ser é a verdade.
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    Quando olhas para o filho,
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    vês que o
    filho não pode ser sem o pai.
  • 12:18 - 12:23
    O filho tem de inter-ser com o pai, com a mãe,
    com o avô,
  • 12:23 - 12:27
    com a avó, com tudo o resto.
  • 12:27 - 12:29
    E isso é o vazio.
  • 12:30 - 12:37
    O vazio representa a verdade última.
Title:
(8) The Zorro of Zen: Two Levels of Truth | by Thich Nhat Hanh, 2014 06 17 (Plum Village, France)
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English
Duration:
12:40

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