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Sally Green.
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Ela está...
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nos Estados Unidos.
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A perguntar-me quantos anos terá agora.
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Mas houve uma altura
em que era muito famosa,
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porque...
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ganhou muitos campeonatos de natação.
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Campeã
-
de natação.
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Agora vou escrever o nome dela
no quadro para que...
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todos possamos conhecê-la.
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Naquele ano, nos Jogos Olímpicos de Munique,
-
ela ganhou
-
todas as provas de natação.
-
Ela tinha muitos...
-
muitos...
-
taças,
-
troféus e medalhas.
-
Mas no ano em que fez vinte anos,
-
decidiu parar completamente de nadar.
-
Podemos dizer que
ela é a melhor nadadora do mundo.
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Mas, no ano em que fez vinte anos,
desistiu da carreira na natação.
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Surpreendido, um repórter
-
chamado Tom Parker
-
perguntou-se porquê,
-
no auge do seu sucesso,
-
como vencedora
-
de inúmeros campeonatos de natação,
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ela decidiu de repente desistir
-
aos vinte anos,
-
abandonando totalmente a natação.
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Então, na entrevista com a Srª Sally
na sua casa na Califórnia,
-
ele quis perceber a razão.
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Ele é repórter.
-
E aqui está a entrevista
-
entre o repórter...
-
Tom Parker e a Srª Sally.
-
Uma entrevista que durou provavelmente...
-
menos de dois minutos.
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O Sr. Tom perguntou-lhe:
-
— É verdade que já não nada de todo?
-
Foi isso que ele perguntou.
-
Ela respondeu:
-
— Receio que sim. Já sou demasiado velha.
-
Então o Sr. Tom disse:
-
— Mas só tens vinte anos!
-
E a Srª Sally respondeu com toda a calma:
-
— Isso é demasiado velho para uma nadadora.
-
Vinte...
-
vinte anos
-
é demasiado velho para uma nadadora.
-
— Se participasse
-
numa competição internacional agora,
não ganhava.
-
Por isso prefiro não nadar de todo.
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[Tom] — Mas só tens vinte anos!
-
[Sally] — Isso é demasiado velho para uma nadadora.
-
Se participasse numa competição internacional agora,
-
não ganhava.
-
Por isso prefiro não nadar de todo.
-
Essa foi a resposta dela.
-
O Sr. Tom
-
tentou fazer mais uma pergunta.
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Perguntou:
— Mas não gostas de nadar?
-
Tom estava a pensar:
-
“Entendo que não queiras competir,
-
mas porque razão
paraste de nadar completamente?”
-
Ela respondeu:
-
— Eu gostava de nadar
-
quando era pequena.
-
Gostava de nadar quando era pequena.
-
Mas se participares em grandes competições,
tens de trabalhar muito.
-
Costumava levantar-me às 6 da manhã para ir à piscina.
-
Tinha de treinar antes das aulas, depois das aulas,
e aos fins de semana. Nadava 35 milhas por semana!
-
O Sr. Tom fez uma última pergunta:
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— Mas tu já eras famosa aos quinze anos.
E olha para todas essas taças.
-
E a Sally respondeu a esta última pergunta,
-
enquanto o acompanhava até à porta,
-
dizendo:
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— Queres polir alguma?
-
É verdade que tenho
algumas recordações maravilhosas.
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Ao participar nessas competições,
-
tive a oportunidade de visitar muitos países.
-
Pude participar nos Jogos Olímpicos,
-
que foram muito...
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— o termo em inglês era “exciting”.
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Estou a pensar qual será o equivalente mais próximo
em vietnamita.
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Provavelmente algo como “cheio de adrenalina”.
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— Mas naquela altura,
-
perdi
-
as coisas mais importantes da vida.
-
— Mas...
-
nessa altura,...
-
gostei de visitar outros países,
-
e os Jogos Olímpicos foram muito emocionantes. Mas...
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perdi coisas mais importantes.
-
Enquanto as outras raparigas cresciam,
-
eu estava a nadar.
-
O que é que posso fazer agora?”
-
Ela disse: “Estava tão ocupada
a treinar-me para nadar
-
que não vivi muitas das coisas
que realmente valem a pena na vida.
-
Enquanto outras raparigas — desde os 15 anos —
-
vivem uma vida normal, crescem como qualquer pessoa,
-
desfrutam de cada momento do dia a dia,
-
eu não tive essa oportunidade.
-
Eu apenas nadava,
-
e nadava, e nadava, e nadava,
e nadava.
-
Exausta.
-
Mas agora já é um pouco tarde.
-
Não vivi a minha juventude.
-
O que posso fazer agora?”
-
Isto significa que a Sr.ª Sally
-
sentia-se triste
-
porque desperdiçou a juventude
-
a correr atrás da fama.
-
Ela não viveu plenamente os belos anos
de quando tinha 15, 16, 17, 18 e 19 anos.
-
Esta é uma história verídica.
-
O Buda ensinou que,
-
seja o que for que estivermos a fazer, devemos desfrutar disso.
-
E também ensinou que,
-
seja o que for que formos, devemos desfrutar de o ser.
-
Isto
-
é o que se revela a nós
-
se meditarmos profundamente sobre esta entrevista.
-
Se somos um rapazinho novo,
-
devemos saber que ser um rapaz novo é uma maravilha.
-
Não apresses a chegada à idade adulta.
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Se és uma menina,
-
com cinco ou sete anos,
-
deves saber que ser uma menina de cinco ou sete anos é um milagre.
-
Não tenhas pressa
-
de crescer.
-
E se somos alguém já com alguma idade,
-
digamos, setenta anos,
-
devemos reconhecer que
-
ter 70 anos é algo belo.
-
Viver até aos 70 anos
pode ser um verdadeiro milagre.
-
Não é necessário lamentarmo-nos a pensar:
-
“Ai, perdi a juventude.
-
Quem me dera ter de novo 10 ou 20 anos.”
-
Porque temos todas as alegrias e belezas que são únicas dos 70 anos.
-
Como o Avô Mestre, agora.
-
Aos 70,
-
o Avô Mestre percebeu que
-
os 70 anos
-
têm as suas próprias alegrias e belezas.
-
Não há arrependimento,
-
nem desejo de voltar aos 20 anos.
-
Se nos identificamos como rapariga,
-
devemos saber que ser uma rapariga é um grande milagre.
-
Não precisamos pensar com desejo:
“Deveria ser outra coisa.”
-
Há aqui alguém que se identifica como rapariga,
mas desejava ser outra coisa?
-
Há uma?
-
Então é preciso praticar atenção plena
-
e aprender a aceitar quem és.
-
E se nos identificamos como rapaz,
devemos saber que ser rapaz é um grande milagre.
-
Não desejes ser outra coisa.
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Se somos um jovem monge noviço,
-
devemos reconhecer que ser um jovem noviço
-
é um milagre.
-
Não digas: “O que devo fazer para me tornar rapidamente um mestre venerável,
-
para ter alguém
-
a segurar-me o chapéu?”
-
Porque ser um jovem noviço
é um grande milagre.
-
Se não vivermos
-
com todo o coração e alma
-
como
-
um jovem noviço,
-
quando formos adultos, vamos arrepender-nos
-
exatamente como a Sr.ª Sally.
-
Isto é tão simples,
-
mas tão importante.
-
Não só as crianças,
mas também os adultos
-
precisam de aprender isto.
-
Porque muitos de nós
somos tal como a Sr.ª Sally.
-
Na altura da entrevista, a Sr.ª Sally
-
lamentava não ter vivido verdadeiramente entre os 15 e os 20 anos.
-
Mas agora, aos 20,
-
— o “agora” da entrevista —
-
pergunto-me:
-
Será que ela viveu realmente os 21, 22 e 23?
-
Ou ficou simplesmente sentada a lamentar
-
os anos entre os 15 e os 20,
por não os ter vivido plenamente?
-
Talvez possamos pedir ao Sr. Tom
-
para a entrevistar de novo,
-
para saber se ela conseguiu aproveitar a vida
a partir dos 20 anos
-
ou não.
-
Então, o que o Avô Mestre acabou de partilhar,
-
ou seja,
“Seja o que for que façamos,
-
temos de desfrutar do que fazemos,”
-
é uma prática muito importante no Budismo.
-
“Seja o que for que façamos,
-
temos de gostar de o fazer,
-
temos de desfrutar de o fazer.”
-
Não é diferente de
-
“Seja o que for que sejamos,
-
temos de gostar de o ser,
-
temos de desfrutar de o ser.”
-
Em vietnamita,
-
seja o que for que estejamos a fazer,
-
temos
-
de apreciar o que estamos a fazer.
-
Seja o que for que sejamos,
-
temos de apreciar o ser isso.
-
Não desejes ser outra coisa.
-
Imaginemos alguém a dizer:
-
“Porque é que ainda não recebi a lâmpada do Thay
para ser um professor do Dharma?”
-
Pensar assim demonstra que essa pessoa
não pratica bem a atenção plena,
-
porque ser um professor do Dharma é maravilhoso,
-
mas não ser professor do Dharma também é igualmente maravilhoso.
-
Aqueles que recebem os Dez Preceitos de Noviço
-
devem alegrar-se com os seus dez preceitos.
-
Não tenham pressa
-
em crescer rapidamente para receber os preceitos de bhikshu / bhikshuni.
-
Se andamos na escola primária,
-
devemos
-
apreciar estar na escola primária.
-
E quando vamos para o ensino básico ou secundário,
-
devemos apreciar essa fase
-
também.
-
É algo muito óbvio.
-
Mas como é que podemos apreciar o que estamos a fazer?
-
É isso que mais importa.
-
Em teoria, sabemos que
-
devemos desfrutar e saborear cada momento
daquilo que estamos a fazer.
-
No entanto, não sabemos como
desfrutar do que estamos a fazer,
-
porque, muitas vezes,
pensamos no que vem a seguir.
-
E o nosso coração e a nossa mente
-
não estão focados no que realmente está a acontecer no momento presente.
-
A Sr.ª Sally gostava de treinar
-
para as competições de natação?
-
Ela levantava-se às 6 da manhã para ir à piscina.
-
Tinha de treinar antes das aulas.
-
E depois…
-
tinha de treinar depois das aulas.
-
Tinha de treinar à noite.
-
Depois, ainda treinava aos fins de semana.
-
Ela estava farta de nadar.
-
Ela não gostava de nadar.
-
Ela nadava porque…
-
tinha de ser a número um
-
no mundo da natação.
-
Durante os seus 15 aos 20 anos, ela não viveu…
-
Ela não viveu verdadeiramente.
-
Ela tinha andado a correr atrás de algo chamado
“danh” em vietnamita,
-
que em inglês significa “fama”.
-
Quando estamos
-
agarrados à fama,
-
não vivemos verdadeiramente a nossa vida.
-
Por isso, sentimos uma profunda compaixão pela Sr.ª Sally
naquela fase dos seus 15 aos 20 anos.
-
Entretanto, meus queridos jovens, vocês sabem que...
-
nadar é um milagre,
-
não é?
-
Se houvesse uma piscina
no Upper Hamlet,
-
e pudéssemos nadar todos os dias,
seria uma alegria tão grande.
-
Podíamos ter uma grande piscina.
-
Nadar traz muita alegria.
-
Nadar no mar,
-
num lago, ou numa piscina
traz muita alegria.
-
Mas se tivermos de treinar com esforço,
-
mesmo quando não nos apetece,
-
só para
-
ganhar campeonatos,
-
então nadar torna-se uma tortura.
-
Assim, deixamos de gostar de nadar.
-
Dessa forma,
-
já não seguimos o ensinamento do Buda:
-
“O que quer que façamos, devemos desfrutar de o fazer.”
-
Quer seja em casa,
quer seja no mosteiro.
-
Vamos imaginar um Irmão — um monge noviço,
-
a ferver água
-
para fazer chá
-
para o Thay.
-
Ele deve praticar de tal forma
-
que consiga realmente
-
desfrutar de fazer o chá para o Thay,
-
não como um castigo,
-
mas como uma grande alegria.
-
Se esse Irmão conseguir fazer isto,
-
significa que está a treinar-se
de acordo com os ensinamentos do Buda.
-
Queridos jovens, se estiverem a almoçar...
-
com toda a sangha na Persimmon Village
(nome antigo de Plum Village),
-
saibam que
-
comer é um milagre.
-
Comam de tal forma
-
que cada momento da refeição
-
seja uma alegria.
-
Portanto,
-
queridos jovens, devem treinar-se
-
para garantir que conseguem almoçar
-
de uma maneira que se torne um verdadeiro prazer.
-
Imaginemos que alguém vos oferece
um cone de gelado.
-
As pessoas pensam que um gelado
é o suficiente para nos alegrar o dia.
-
E talvez vos traga mesmo alegria.
-
Mas há muitas maneiras de comer
-
um gelado.
-
Se estivermos a sentir raiva,
tristeza, e ressentimento ao mesmo tempo
-
enquanto comemos
-
o gelado,
o gelado já não vai saber bem, pois não?
-
E se o comermos depressa,
sem saborear,
-
o momento precioso de comer o gelado
foi desperdiçado.
-
Deve haver uma forma de comer um gelado
-
que nos permita saboreá-lo com alegria
durante todo o tempo.
-
Devemos aprender essa forma.
-
Há uma forma para tudo aquilo
que precisamos de aprender. E para que serve aprender?
-
Aprendemos para viver profundamente
cada momento da nossa vida.
-
Na Persimmon Village,
-
aprendemos as formas para muitas coisas.
-
Aprendemos a comer de forma
-
a que a felicidade e a paz interior
sejam possíveis durante toda a refeição.
-
Não comemos à pressa
-
só para acabar e ir fazer outra coisa.
-
Porque o Buda ensinou:
“O que quer que façamos, devemos desfrutar de o fazer.”
-
Ou, por exemplo, quando cozinhamos
-
para toda a sangha,
-
quando chega a nossa vez de cozinhar para a comunidade,
-
e a nossa equipa tem de preparar comida para, digamos,
300 pessoas...
-
Devemos cozinhar de tal forma
-
que todo o tempo passado a cozinhar
-
seja preenchido com
-
alegria, paz e felicidade.
-
Devemos aprender a gostar de cozinhar.
-
Se não soubermos como fazê-lo,
então devemos aprender.
-
E quando caminhamos em meditação
com toda a sangha,
-
nós...
-
devemos caminhar de tal forma
que cada passo traga paz e felicidade.
-
Mas se, ao caminhar, pensarmos:
-
“Porque é que estamos a demorar tanto a chegar?
E porque é que andamos...
-
tão devagar como um caracol?
-
Andar a passo de caracol não faz sentido! Não gosto disto,”
-
significa que ainda não compreendemos
a forma de caminhar
-
onde é possível encontrar felicidade em cada passo.
-
Ainda não aprendemos a desfrutar
de cada passo que damos.
-
Por isso, no nosso dia a dia,
-
não sabemos
-
como
-
desfrutar do que estamos a fazer.
-
Não sabemos como desfrutar
-
da nossa idade,
-
ou da tarefa que temos em mãos.
-
É por isso que vimos
para a Persimmon Village — para aprender isto.
-
Vamos imaginar que estás…
-
no sétimo ano.
-
A prática que o Buda ensinou é:
garantir que, enquanto estudamos…
-
história,
-
ou histoire,
-
desfrutamos de aprender história.
-
Enquanto estudamos matemática,
-
desfrutamos de aprender matemática.
-
Enquanto estudamos francês,
-
desfrutamos de aprender francês.
-
Assim, estamos a praticar
de acordo com os ensinamentos do Buda.
-
Mas se não gostamos da disciplina que estamos a estudar,
-
e só a queremos acabar rapidamente
para terminar o secundário o quanto antes,
-
então estamos a fazer algo que…
-
vai contra os ensinamentos do Buda.
-
E assim, acabamos por não ser tão diferentes da Sr.ª Sally…
-
a protagonista desta entrevista.
-
Isto não é apenas uma lição de vida importante
para os mais jovens,
-
mas uma lição de vida importante
para todos, independentemente...
-
da idade que já tenham.
-
Não importa se tens 70 ou 80 anos,
todos temos de aprender esta lição da mesma forma.
-
Com cada dia que ainda temos para viver,
-
aprendamos a viver esse dia com a maior profundidade
e alegria possível, e a sentir satisfação...
-
no que quer que estejamos a fazer,
-
e
-
a desfrutar verdadeiramente
-
de tudo o que fazemos,
-
a nossa idade,
-
a nossa vida quotidiana.
-
Isto é essencial para a nossa...
-
felicidade.
-
Hoje vamos focar a nossa partilha de Dharma
nesta prática.
-
[Sino]
-
Querida Sangha, aos 20 anos, a Miss Sally
teve um momento de despertar.
-
É que, se tivesse sido outra pessoa,
-
talvez nunca tivesse conseguido parar aos 20 anos.
-
Ela tomou consciência de que,
durante cinco ou seis anos,
-
tinha desperdiçado a sua vida a correr atrás da fama.
-
Não viveu plenamente
-
aqueles preciosos meses e anos
da sua juventude.
-
Se tivéssemos sido atirados para...
-
a fama,
-
nunca teríamos despertado a tempo como a Miss Sally.
-
Muito provavelmente, continuaríamos
-
a desperdiçar
-
ainda mais meses e anos das nossas vidas.
-
Talvez não estejamos a correr atrás da fama,
mas estamos atrás de outra coisa.
-
É tudo a mesma coisa.
-
Algumas pessoas não procuram fama,
mas procuram riqueza.
-
O termo vietnamita "danh" significa "fama".
-
E "lợi" significa "riqueza".
-
Outras pessoas procuram
aparências deslumbrantes e sexo.
-
"Sắc", em vietnamita, significa "sexo" (nota:
"sắc" também pode significar "aparências enganosas").
-
Quando corremos atrás destas três coisas,
-
estamos a abandonar,
-
a pisar,
-
e a deixar desperdiçar tantas coisas maravilhosas
nas nossas vidas.
-
Porque acreditamos profundamente que a felicidade
-
só é
-
possível
-
quando temos essas três coisas.
-
Muitos de nós sustentam...
-
essa...
-
visão errada,
-
ou seja: "Sem essas três coisas,
a felicidade não é possível."
-
Mas a verdade mostra-nos que, quando nos deixamos atrair
por essas três coisas,
-
tal como a Miss Sally,
-
não conseguimos viver a nossa vida
-
com profundidade e alegria.
-
Porque a felicidade é
o que já está a acontecer
-
em cada momento da nossa vida diária.
-
Felicidade
-
é podermos aceitar-nos como somos,
-
estarmos contentes connosco próprios.
-
Por exemplo, enquanto crianças, sentimo-nos contentes.
-
Ser criança é um grande milagre.
-
Enquanto adultos, devemos reconhecer que
ser adulto é também um grande milagre.
-
Não negamos quem somos
-
para tentar ser alguém que não somos.
-
Isto é fundamental.
-
Muitos de nós querem negar
-
a si próprios;
-
querem negar
-
a forma como
-
são,
-
para tentarem ser outra pessoa.
-
Isso vai
-
contra os ensinamentos do Buda.
-
Por isso, esta prática ensinada pelo Buda
consiste em aceitarmo-nos tal como somos.
-
É por isso que devemos aprender o caminho
-
para...
-
nos sentirmos contentes e sabermos desfrutar
-
de tudo aquilo que...
-
estamos a fazer.
-
A escrever um livro, aprendemos
a desfrutar da escrita.
-
A lavar a roupa, aprendemos
a desfrutar de lavar a roupa.
-
A lavar a loiça, aprendemos
a desfrutar de lavar a loiça.
-
A beber café, aprendemos
a desfrutar de beber café.
-
Ao estarmos
-
na companhia de bons amigos, aprendemos
a desfrutar dessa companhia.
-
A limpar o chão, aprendemos
a desfrutar de limpar o chão.
-
Tudo isto precisa de ser aprendido.
-
Porque estamos sempre a pensar
noutra coisa.
-
E “a outra coisa”, aqui, significa o fim,
-
a felicidade que visualizamos
num futuro distante.
-
Somos incapazes de habitar pacificamente
-
no momento presente.
-
Por isso, ao virmos para a Persimmon Village,
temos de aprender a fazer isso.
-
Aprendemos a parar
no momento presente,
-
a aceitar esse momento,
-
e a vivê-lo com profundidade.
-
Assim,
-
aprendemos a sentar-nos com atenção plena.
-
Sentar-nos de tal forma que sentimos um profundo
bem-estar, que nos sentimos contentes,
-
que nos sentimos confortáveis sentados.
-
Porque há quem nunca consiga estar quieto.
-
Sentam-se como se estivessem sobre brasas.
-
Muitos são assim.
-
Nunca conseguem estar quietos.
-
É um estado de agitação e descontentamento
-
no coração e na mente.
-
Com esse fogo a arder dentro de nós,
-
estamos agitados e insatisfeitos
sentados na relva macia,
-
estamos agitados e insatisfeitos
sentados num banco de pedra,
-
e estamos agitados e insatisfeitos
sentados na sala de estar.
-
Por mais luxuosa que seja a cadeira
ou o sofá, não conseguimos ficar sentados
-
por muito tempo, porque essa inquietação
já está dentro de nós.
-
É por isso que uma...
-
uma...
-
das coisas que devemos aprender
na Persimmon Village
-
é treinar-nos a estar sentados
em quietude e contentamento.
-
Praticar sentar-se em silêncio e com paz.
-
Sentar-nos de tal forma que não sejamos empurrados
a levantar-nos por uma energia muito forte...
-
que vem de dentro,
-
a fazer-nos andar às voltas sem parar.
-
Achamos que vamos encontrar paz
noutra almofada,
-
mas assim que nos sentamos
nessa almofada,
-
continuamos inquietos e insatisfeitos.
-
Essa forte energia habitual dentro de nós
-
empurra-nos a levantar
e procurar outro lugar para nos sentarmos.
-
Esta prática chama-se "an tọa" em vietnamita,
-
que significa “sentar em quietude”,
-
ou “sentar com contentamento e paz”.
-
E o Buda é alguém
extremamente bom nisso.
-
Ele conseguia sentar-se muito quieto
-
com um leve sorriso no rosto,
-
porque havia paz no seu coração e na sua mente.
-
Por isso, ir à sala de meditação
e praticar sentar juntos,
-
é um treino para nos sentarmos com quietude e paz.
-
Ir à sala de meditação e
praticar sentar juntos não é...
-
um castigo,
-
nem um trabalho forçado.
-
É uma oportunidade
de treinar o sentar com quietude.
-
Em sino-vietnamita, chama-se "tĩnh tọa".
-
Em inglês, é “still sitting” – sentar em quietude.
-
Digamos que tens
-
uma mãe
-
ou um pai
-
que nunca
-
conseguiram estar quietos e em paz.
-
Sempre andaram apressados,
-
sempre com pressa.
-
Nunca, em toda a sua vida, conseguiram
sentar-se em paz, respirar e sorrir.
-
Sentes compaixão por eles?
-
Merecem compaixão? Sim, merecem.
-
Porque toda a sua vida, andaram sempre
ocupados a andar às voltas.
-
Nunca tiveram um único momento
-
de quietude interior, de paz interior.
-
E nós somos filhos dessa pessoa.
-
Dizemos: “Mãe, estou sentada em paz.
-
Estou sentada por ti, Mãe.”
-
Porque tu estás em mim, Mãe,
-
e eu sou a tua continuação, Mãe.
-
Se eu próprio consigo sentar-me em quietude, respirar e sorrir,
-
significa que a Mãe em mim também pode sentar-se,
respirar e sorrir ao mesmo tempo.
-
Isso é ser bondoso e leal para com os nossos pais.
-
No entanto, seremos verdadeiramente capazes de nos sentar em quietude,
-
respirar e sorrir enquanto estamos sentados?
-
Se não conseguimos fazer isso,
-
como podemos ajudar a nossa mãe em nós
-
a sentar-se,
-
respirar e sorrir?
-
Ou
-
continuamos a perpetuar
-
o hábito enraizado da nossa mãe de
estar sempre apressada, sempre com pressa,
-
andando em círculos,
-
nunca parando e estando em quietude?
-
Isso, no Budismo, é chamado de "samsara"
-
— significando "o andar em círculos continuado de geração em geração".
-
A prática budista da atenção plena é para pôr fim ao samsara
-
— para acabar com os padrões cíclicos de dor e sofrimento numa linhagem.
-
Assim, se a nossa mãe — quando ainda estava viva,
-
nunca teve um momento de calma,
contentamento ou quietude,
-
agora, na nossa geração,
temos de aprender a tornar isso possível.
-
Temos de aprender a sentar-nos muito quietos.
-
Inspirando, sinto leveza no meu corpo e mente.
Expirando, sorrio.
-
Uma vez que já conseguimos fazer isto,
convidamos a nossa mãe: "Mãe,
-
inspira comigo."
-
Que grande alívio!
-
Expirando, dizemos: "Mãe,
sorri comigo" — e sorrimos.
-
À medida que inspiramos,
-
a nossa mente está serena e tranquila.
-
Ao expirarmos, sorrimos.
-
Essa quietude serena e esse sorriso
penetram no nosso corpo e na nossa alma.
-
E, claro, também penetram no corpo e na alma da nossa mãe.
-
É porque o corpo e a alma da nossa mãe
-
continuam em cada célula do nosso corpo e da nossa alma.
-
É porque somos apenas a sua continuação.
-
As pessoas dizem que ser bondoso e leal para com os nossos pais
-
significa prover para os nossos pais.
-
Mas isso não é necessariamente correto.
-
Ser bondoso e leal para com os nossos pais
-
significa sermos capazes de viver
com contentamento e paz,
-
com liberdade e tranquilidade.
-
Esse é o desejo mais profundo da Mãe.
-
Ao dar à luz e criar um filho,
-
o desejo mais profundo de uma mãe
-
é que o filho tenha verdadeira felicidade,
tenha paz e contentamento.
-
O seu desejo mais profundo não é que
o filho lhe traga presentes, guloseimas
-
ou dinheiro nas visitas.
-
Por essa razão, se soubermos sentar-nos
-
com liberdade e tranquilidade
-
— inspirando,
-
os nossos corações estão em paz;
-
expirando,
-
um meio sorriso nasce nos nossos lábios
-
— então essa quietude, essa paz,
penetrarão no nosso corpo e na nossa alma,
-
e, claro, também penetrarão
no corpo e na alma da nossa mãe.
-
Esse é o maior ato de bondade
que podemos fazer pela nossa mãe.
-
Se conseguirmos fazer isto repetidamente,
-
a nossa mãe em nós será libertada
deste círculo de samsara.
-
Nós somos libertados e, ao mesmo tempo,
a nossa mãe também será libertada.
-
Praticamos viver profundamente
e com atenção plena por nós mesmos,
-
mas, ao mesmo tempo, também praticamos
viver profundamente e com atenção plena pela nossa mãe.
-
Embora eu já esteja avançado em idade,
ainda me treino para fazer exatamente isto.
-
É porque
-
ao inspirar,
-
sinto um profundo sentido de quietude
-
e tranquilidade.
-
E ao expirar,
-
sinto um grande sentido de paz,
felicidade e facilidade.
-
Por isso, às vezes digo:
-
"Querida e amada Mãe,
-
respira comigo."
-
Então, mãe e filho
respiram juntos.
-
E ao expirar, digo:
"Querida e amada Mãe, sorri comigo."
-
Então, mãe e filho sorriem
ao mesmo tempo. É maravilhoso!
-
Não é trabalho árduo de forma alguma.
-
Só quando já conseguimos fazer isto,
é que convidamos a nossa mãe em nós a fazê-lo connosco.
-
Depois de fazer isto com a minha mãe,
faço-o com a minha avó materna.
-
"Querida avó materna,
respira comigo."
-
Querida avó materna,
-
expira e sorri comigo."
-
Depois de fazer isto 3~4 vezes, quando
tanto nós como a nossa avó estamos felizes,
-
passamos para...
-
o nosso pai.
-
"Querido e amado Pai, respira e desfruta
de um profundo sentido de bem-estar comigo.
-
Querido e amado Pai,
expira e sorri comigo."
-
Há uma sensação palpável
de que nós e o nosso pai somos um.
-
Entre nós e o nosso pai, há uma...
-
profunda sensação de unidade.
-
Ao crescer, nunca vimos o nosso pai
-
ter, por uma vez, a oportunidade de entrar em contacto
com os verdadeiros significados do Dharma,
-
de conhecer o que é a caminhada consciente,
-
ou o que é a meditação sentada.
-
Embora ele recite sutras
e invoque os nomes do Buda,
-
nunca foi capaz de tocar
-
o contentamento, a paz e a felicidade
que agora tocámos.
-
É por isso que devemos praticar viver
profundamente e com atenção plena pelo nosso pai.
-
Depois de nós e o nosso pai em nós
-
já termos paz e contentamento,
-
então convidamos o nosso
avô e avó paternos
-
a respirar e viver profundamente connosco.
-
Que milagre!
-
Chegarás a perceber que
meia hora sentado em meditação
-
passa muito depressa,
-
porque há felicidade
-
nessa meia hora.
-
Também devemos levantar-nos
e esticar as pernas.
-
E enquanto esticamos as pernas, podemos também treinar-nos
a viver profundamente e com atenção plena.
-
Ao dar um passo, inspiramos
-
e dizemos: “Cheguei.”
-
Ao dar outro passo, expiramos
e dizemos: “Estou em casa.”
-
Porque durante tanto tempo,
fui uma criança perdida, afastada do lar.
-
Andei a perseguir arco-íris,
-
sem chegar a lado nenhum,
-
indo nesta direção (isto é: fama, riqueza, prazer).
-
E…
-
fiquei com arranhões, magoei-me, sangrei,
pisei espinhos, fiquei perfurado,
-
bati com a testa e fiz um galo
porque andei à procura da felicidade nessa direção.
-
Agora despertei,
-
sei que a verdadeira felicidade está aqui,
-
neste momento presente.
-
Posso sempre encontrar satisfação e
descobrir felicidade ao lavar tachos,
-
cozinhar,
-
sentar-me em quietude,
-
lavar roupa,
-
arranjar flores.
-
É por isso que já parei.
-
Já cheguei.
Já cheguei ao meu verdadeiro lar.
-
Já cheguei à minha verdadeira felicidade.
-
Esse verdadeiro lar
-
é o momento presente,
o aqui e agora.
-
O Buda ensinou-nos que o nosso verdadeiro lar
-
é o momento presente.
-
Por isso, esta manhã, quando entoámos
O Grande Cântico do Sino,
-
ele diz,
-
“Eu escuto, eu escuto,
-
este som maravilhoso traz-me de volta
ao meu verdadeiro lar.”
-
Porque o Buda ensinou que
o nosso verdadeiro lar é o momento presente.
-
No momento presente,
estamos a lavar a louça,
-
a cozinhar, a lavar roupa,
-
a segurar um bebé, ou a desfrutar
da companhia de bons amigos.
-
Esse é o momento mais importante da nossa vida.
-
A senhora Sally não conhecia esta forma de viver.
-
Ela perseguia a fama, por isso tinha de nadar
de manhã, à tarde e à noite.
-
Era um trabalho árduo
-
com apenas um propósito em mente:
chegar em primeiro nas competições.
-
Por isso, não conseguia verdadeiramente
viver cada momento da sua vida diária.
-
Entretanto, o Buda ensinou-nos a aprender
-
a viver cada momento do nosso dia
-
com atenção plena e profundidade.
-
Desta forma, “Cheguei”
-
significa que já
-
parei de vaguear longe de casa
e de ir sem rumo de um lado para o outro.
-
Já regressei ao Buda em mim,
-
à minha mãe e ao meu pai em mim.
-
Aprendi a respirar e a sentar-me com atenção plena,
-
e consigo reunir-me com
-
o meu mestre Thay,
-
com o Buda,
-
com a minha mãe, o meu pai e aqueles que amo.
-
É assim
-
que praticamos quando nos sentamos em meditação.
-
Inspirando,
-
dizemos: “Cheguei.”
-
“Cheguei” significa que já terminei
a minha caminhada longe do meu verdadeiro lar.
-
Expirando, dizemos: “Estou em casa.”
-
Inspirando, dizemos: “Cheguei.”
-
Expirando: “Estou em casa.”
-
Fazemos o mesmo com a caminhada consciente.
-
Durante tanto tempo, andámos a caminhar
como se estivéssemos a ser perseguidos por fantasmas.
-
Agora que chegámos à Persimmon Village,
temos de aprender novamente a caminhar.
-
Tendo já aprendido a sentar-nos,
agora aprendemos a caminhar de novo.
-
Dando um passo, inspiramos e dizemos:
-
“Cheguei.”
-
Dando outro passo, expiramos
e dizemos: “Estou em casa.”
-
Cheguei.
-
Estou em casa.
-
Cada passo é um milagre.
-
Cheguei.
-
Estou em casa.
-
O Mestre Linji
-
disse uma vez:
-
“O milagre
-
é caminhar sobre a Terra.”
-
Quando já estivermos mortos,
transformados num corpo rígido,
-
já não poderemos ver nada,
-
já não poderemos ouvir ou sentir nada.
-
As nossas pernas já não poderão caminhar.
-
Neste momento,
-
estamos ainda muito vivos.
-
Ao abrirmos os olhos, já conseguimos ver
o céu azul e as nuvens brancas.
-
Com um pouco de atenção,
já conseguimos ouvir os pássaros a chilrear
-
e as vozes familiares dos nossos entes queridos.
-
E se quisermos caminhar,
basta apenas mover os pés.
-
Por isso,
-
o facto de estarmos ainda vivos é um milagre.
-
Um milagre maravilhoso.
-
De todos os grandes milagres,
-
o facto de estarmos vivos
-
é o maior de todos.
-
Por isso, ao inspirar,
sabemos que estamos vivos.
-
Ao expirar, sorrimos,
-
sabendo que estamos vivos.
-
Só isso
-
já nos pode trazer muita felicidade.
-
Inspirando, sei que ainda estou vivo.
-
Expirando, sorrio.
-
Inspirando, cheguei.
-
Expirando, estou em casa.
-
Treinamo-nos a sentar em meditação
-
desta forma.
-
Ou, quando nos levantamos e
praticamos dar cada passo
-
da mesma forma,
estamos a treinar-nos a caminhar.
-
Qual é o propósito de nos treinarmos
a sentar e a caminhar desta maneira?
-
Aprender a viver cada momento
da nossa vida diária com profundidade, paz e felicidade.
-
Treinamo-nos a fazer algo
que a senhora Sally não conseguiu fazer
-
em cinco anos.
-
Ela desperdiçou inconscientemente a sua juventude.
-
A senhora Sally tinha apenas 20 anos na altura,
-
mas já se tinha dado conta de que desperdiçara cinco preciosos anos da sua vida.
-
Esse despertar pode já ter ajudado
a viver profundamente os anos que lhe restavam.
-
O mesmo acontece connosco.
-
Tendo a oportunidade
de ouvir o verdadeiro Dharma,
-
devemos assegurar-nos de viver
os anos restantes da nossa vida
-
com profundidade,
-
com paz e com felicidade.
-
Ao olhar agora para a nossa vida, perguntemo-nos:
“O que fiz da minha vida?”
-
“O que fiz da minha vida?”
-
Queimámos a nossa vida.
-
Vivemos como a senhora Sally.
-
Desperdiçámos
-
e banalizámos a nossa juventude.
-
Queremos continuar a viver assim:
-
viver na inconsciência,
-
viver apressadamente,
-
perseguir sombras de felicidade
num futuro distante e…
-
deitar fora a felicidade
-
que já existe no momento presente?
-
Uma vez despertos para esta verdade,
tomamos a resolução
-
de nunca
-
deixar escapar o que é precioso para nós
-
— as coisas mais preciosas da nossa vida.
-
Aprendemos a regressar sempre
ao momento presente
-
para viver profundamente o momento presente.
-
É por isso que praticamos o sentar consciente
-
e o caminhar consciente.
-
E então também devemos praticar
o comer com atenção plena.
-
Comer uma refeição de tal forma que haja
descontração e leveza no corpo e na mente,
-
que haja alegria e felicidade
em cada momento da refeição.
-
É preciso prática para conseguir isto.
-
Por exemplo, para os mais pequenos,
comer gelado com atenção plena não é fácil,
-
porque muitos já estão habituados
a desperdiçar o gelado.
-
Não há felicidade
em cada colherada de gelado.