< Return to Video

(Class #37) Source Buddhism

  • 0:03 - 0:05
    [Sino]
  • 0:05 - 0:07
    [Sino]
  • 0:43 - 0:45
    [inaudível]
  • 1:15 - 1:19
    [Sino]
  • 1:38 - 1:44
    [Sino]
  • 2:04 - 2:08
    [Sino]
  • 2:36 - 2:41
    Querido e respeitado Thay,
    querido irmão Anthony,
  • 2:42 - 2:44
    queridos amigos online,
  • 2:45 - 2:49
    Estamos no meio de um período de repouso,
    após um dos nossos maiores retiros,
  • 2:50 - 2:53
    o retiro vietnamita, por isso, para aqueles
    que estão online,
  • 2:55 - 2:57
    está muito calmo no mosteiro.
  • 2:58 - 3:01
    E tem estado muito calor, por isso
  • 3:03 - 3:09
    temos descansado à tarde
    à sombra, e agora, à noite,
  • 3:09 - 3:11
    arrefeceu.
  • 3:13 - 3:16
    Hoje estamos a estudar o 37.º Principio.
  • 3:32 - 3:35
    Este Principio descreve
  • 3:37 - 3:40
    o alicerce da prática de Plum Village.
  • 3:41 - 3:48
    O que é que Plum Village oferece
    às várias tradições budistas,
  • 3:49 - 3:53
    ao Zen, à Terra Pura,
  • 3:54 - 3:56
    às práticas do Mantrayana.
  • 4:01 - 4:07
    As práticas fundamentais do Budismo de Origem.
  • 4:25 - 4:28
    A prática fundamental
  • 4:32 - 4:35
    do Budismo de Origem é
  • 4:37 - 4:40
    os Quatro Fundamentos da Atenção Plena.
  • 4:46 - 4:51
    Às vezes chamamos-lhes os Estabelecimentos
    da Atenção Plena.
  • 5:05 - 5:08
    A sua função é reconhecer e transformar
  • 5:31 - 5:34
    as energias habituais.
  • 5:52 - 5:55
    Foi sobre isto que aprendemos
    na aula anterior sobre [vipassana].
  • 5:57 - 6:00
    E realizar plenamente
  • 6:14 - 6:18
    os Sete Fatores do Despertar
  • 6:37 - 6:41
    e o Nobre Caminho Óctuplo.
  • 7:11 - 7:14
    A prática da meditação Mahayana,
  • 7:40 - 7:43
    incluindo o Zen dos Patriarcas,
  • 8:08 - 8:11
    precisa, de tempos a tempos, de voltar atrás,
  • 8:30 - 8:34
    de regressar e mergulhar
    no Budismo de Origem – tomar um banho
  • 8:37 - 8:39
    no Budismo de Origem,
  • 9:12 - 9:16
    para não perder a
    essência do dharma do Buda.
  • 10:07 - 10:14
    O Thay referia-se muitas vezes aos ensinamentos
    iniciais do Buda como Budismo de Origem.
  • 10:15 - 10:21
    E estas práticas de origem,
  • 10:22 - 10:26
    que são fundamentais
    nos ensinamentos budistas iniciais,
  • 10:28 - 10:34
    são os Quatro Fundamentos da Atenção Plena,
    que incluem a atenção plena à respiração,
  • 10:35 - 10:37
    o Sutra da Atenção Plena à Respiração.
  • 10:37 - 10:45
    Plum Village está organizada de tal forma,
    na agenda, nas refeições,
  • 10:45 - 10:48
    na meditação sentada, na meditação caminhando,
    que nos são dadas boas condições
  • 10:49 - 10:53
    para praticarmos os Quatro Fundamentos
    da Atenção Plena
  • 10:53 - 10:58
    a cada minuto,
    a cada hora, de cada dia.
  • 11:01 - 11:05
    Lembram-se dos Quatro
    Estabelecimentos da Atenção Plena?
  • 11:06 - 11:07
    Qual é o primeiro?
  • 11:08 - 11:09
    O corpo.
  • 11:14 - 11:16
    Começamos por estar conscientes do corpo,
  • 11:16 - 11:18
    e o corpo inclui a respiração.
  • 11:24 - 11:27
    Portanto, a prática
    que temos o tempo todo é:
  • 11:27 - 11:32
    inspirando, sei que estou a inspirar,
    expirando, sei que estou a expirar,
  • 11:32 - 11:35
    simplesmente a desfrutar da inspiração
    e da expiração.
  • 11:36 - 11:38
    Isso conduz-nos ao corpo.
  • 11:39 - 11:42
    Ajuda-nos a criar uma ligação entre
  • 11:43 - 11:47
    a mente e o corpo e
    ver que não são dualidades,
  • 11:47 - 11:49
    não estão separadas.
  • 11:49 - 11:52
    Na verdade, a mente não pode
    surgir sem o corpo,
  • 11:52 - 11:55
    tal como o corpo não pode
    surgir sem a mente.
  • 11:56 - 11:59
    Os ensinamentos budistas são não-duais.
  • 12:01 - 12:05
    No Ocidente, temos este
    conceito dualista de corpo e mente
  • 12:06 - 12:08
    que surgiu por várias razões
    ao longo da história do pensamento
  • 12:09 - 12:17
    e da filosofia ocidentais — algo ausente no Budismo.
  • 12:19 - 12:24
    Portanto, estamos conscientes do corpo, mas também
    estamos conscientes de que a mente está lá
  • 12:24 - 12:26
    no corpo.
  • 12:26 - 12:30
    Assim, ao estarmos conscientes do corpo,
    já estamos conscientes da mente.
  • 12:30 - 12:35
    Estar consciente da respiração,
    essa consciência, é a mente,
  • 12:35 - 12:37
    é
  • 12:40 - 12:45
    a luz que brilha sobre a respiração,
    sobre a experiência física,
  • 12:45 - 12:49
    o acontecimento fisiológico de respirar.
  • 12:50 - 12:55
    E podemos libertar-nos destas ideias
    que separam a consciência do
  • 12:56 - 12:58
    acontecimento do próprio acontecimento.
  • 12:59 - 13:03
    E assim, o sujeito e o objeto
    que vemos surgem juntos.
  • 13:04 - 13:07
    Não podem existir um
    sem o outro.
  • 13:08 - 13:11
    Portanto, o momento de estar consciente
    da respiração é também
  • 13:11 - 13:13
    o momento em que se cria o sujeito,
    a consciência,
  • 13:13 - 13:16
    e o objeto, que é a respiração.
  • 13:16 - 13:19
    Mas, na verdade, são um só,
    não estão separados.
  • 13:19 - 13:22
    Ao mergulharmos profundamente
    na respiração,
  • 13:22 - 13:24
    experimentamos essa unidade
    do corpo e da mente
  • 13:25 - 13:28
    de forma muito prática.
  • 13:31 - 13:34
    Quando estamos perdidos em pensamentos
    sobre o futuro ou o passado,
  • 13:34 - 13:37
    parece que a mente está
    separada do corpo.
  • 13:37 - 13:39
    O corpo está presente,
    mas a mente não está lá.
  • 13:39 - 13:42
    Na verdade, isso é uma ilusão,
  • 13:42 - 13:44
    porque não estamos realmente no futuro.
  • 13:44 - 13:48
    No momento presente, estamos
    a experienciar imagens,
  • 13:49 - 13:51
    ideias que projetamos no futuro
  • 13:51 - 13:52
    ou no passado,
  • 13:53 - 13:55
    e isso está
    a acontecer no momento presente.
  • 13:56 - 14:01
    Mas criamos a ilusão de que temos
    uma mente separada
  • 14:01 - 14:03
    do corpo.
  • 14:04 - 14:07
    E por isso, a prática da
    respiração conduz-nos de volta
  • 14:07 - 14:10
    ao corpo, leva a mente
    de volta ao corpo, para que
  • 14:10 - 14:12
    já não fiquemos presos nessa ilusão.
  • 14:13 - 14:16
    Estamos a experimentar a
    natureza não-dual da realidade.
  • 14:21 - 14:25
    Então temos o corpo, e depois
    temos o segundo fundamento – as sensações.
  • 14:27 - 14:30
    E as sensações também estão no corpo.
  • 14:34 - 14:38
    Recentemente foi publicado um livro chamado
    "O Corpo Guarda as Emoções", penso eu.
  • 14:38 - 14:43
    A ideia é que as experiências traumáticas
    que temos ficam no corpo.
  • 14:45 - 14:47
    Esse ensinamento já
    existe no Budismo.
  • 14:49 - 14:54
    Podemos ver o efeito que sentimentos
    e emoções intensas têm no nosso corpo,
  • 14:56 - 14:58
    através das nossas ações e comportamentos.
  • 14:58 - 15:03
    Ao falarmos dos Quatro Fundamentos
    da Atenção Plena, pode parecer que dividimos
  • 15:03 - 15:07
    essas experiências da realidade.
  • 15:08 - 15:13
    Mas isso é apenas para o propósito de
  • 15:14 - 15:18
    superarmos a nossa ilusão do
    corpo e das sensações.
  • 15:19 - 15:25
    Ao estudarmos este ensinamento
    dos Fundamentos da Atenção Plena,
  • 15:25 - 15:26
    por exemplo,
  • 15:26 - 15:31
    a formulação é “experienciar o
    corpo no corpo” ou “como um corpo”.
  • 15:32 - 15:38
    Para que não experienciemos
    conceitos ou ideias sobre o corpo.
  • 15:40 - 15:43
    Por exemplo, quando eu andava na escola secundária,
  • 15:45 - 15:48
    fazia parte da equipa de corta-mato e,
    antes das provas,
  • 15:48 - 15:53
    fazíamos uma visualização
    juntamente com o nosso treinador.
  • 15:53 - 15:56
    Ele pedia-nos para fecharmos os olhos e
  • 15:57 - 16:01
    criávamos na mente a imagem do percurso
    que iríamos
  • 16:02 - 16:03
    correr no dia seguinte.
  • 16:03 - 16:08
    E percorríamos o
    caminho mentalmente.
  • 16:10 - 16:14
    Alguns chamam a isso a
    natureza "homuncular" da mente.
  • 16:14 - 16:20
    No nosso sistema motor,
    podemos representar ações
  • 16:21 - 16:29
    sem ainda mover os braços –
    isso acontece no cérebro.
  • 16:31 - 16:32
    Podemos usar essa capacidade.
  • 16:34 - 16:35
    Vem da ideia do "homúnculo",
  • 16:36 - 16:38
    a ideia de que existe uma
    pessoinha dentro do cérebro.
  • 16:39 - 16:41
    Algumas filosofias ocidentais
    tiveram essa conceção.
  • 16:43 - 16:48
    As nossas ações motoras são ensaiadas
    interiormente, no cérebro,
  • 16:49 - 16:55
    como que testadas mentalmente antes
    de o corpo as executar.
  • 16:59 - 17:02
    Por um exemplo, um atleta.
  • 17:02 - 17:05
    Se fores um lançador de basebol,
    ao pensar no lançamento que vai fazer,
  • 17:05 - 17:13
    está a prepará-lo mentalmente antes
    de o corpo o executar.
  • 17:16 - 17:19
    Então, fazíamos estas visualizações
    para nos prepararmos
  • 17:19 - 17:22
    para a experiência real da corrida.
  • 17:22 - 17:27
    Assim, sabíamos que, por exemplo,
    quando o corpo sentisse falta de oxigénio,
  • 17:28 - 17:33
    não ficaríamos surpreendidos
    ou em choque,
  • 17:33 - 17:36
    porque a visualização ajudava-nos
    a perceber que isso fazia parte
  • 17:36 - 17:37
    do processo de correr.
  • 17:38 - 17:40
    Ou se tivéssemos alguma
  • 17:40 - 17:43
    dor no tornozelo
    ou se encontrássemos uma subida,
  • 17:44 - 17:45
    não nos apanharíamos de surpresa:
    "ah, não sabia
  • 17:45 - 17:48
    que havia uma colina aqui."
    Mas, como já tínhamos visualizado a corrida,
  • 17:48 - 17:52
    víamos-nos a passar
    por todas as etapas,
  • 17:52 - 17:55
    e não ficávamos chocados, surpreendidos
    ou dominados por uma emoção
  • 17:55 - 18:00
    durante a corrida. Preparávamo-nos
    mentalmente para a correr,
  • 18:02 - 18:05
    e assim corríamos de forma mais calma
    e tranquila.
  • 18:06 - 18:14
    Mas sabemos que a visualização
    não pode corresponder exatamente à realidade
  • 18:15 - 18:19
    de como vamos experienciar essa corrida.
    Muitas coisas podem acontecer.
  • 18:20 - 18:21
    Pode estar lamacento e molhado.
  • 18:22 - 18:25
    Da última vez estava seco e quente.
  • 18:27 - 18:34
    Talvez... talvez não tenhamos
    bebido água suficiente?
  • 18:34 - 18:37
    Há muitas coisas que podem afetar
  • 18:38 - 18:40
    a experiência da corrida.
  • 18:41 - 18:44
    O perigo é vivermos
    nas visualizações,
  • 18:46 - 18:51
    no aspeto idealizado do nosso pensamento,
    e deixarmos de regressar ao que
  • 18:52 - 18:53
    está realmente a acontecer.
  • 18:55 - 18:58
    Planeamento, visualização – tudo bem.
  • 19:00 - 19:03
    Falamos em viver no momento presente.
    Muitas pessoas perguntam:
  • 19:04 - 19:11
    "Então, tenho de viver no momento presente.
    Como posso planear o futuro?"
  • 19:12 - 19:16
    E tu planeias muito bem
    se estiveres consciente,
  • 19:17 - 19:21
    se aprenderes a estar atento
    e mais atento ao teu corpo,
  • 19:22 - 19:28
    então noto que o meu pensamento
    corresponde muito mais
  • 19:28 - 19:29
    àquilo que realmente acontece.
  • 19:31 - 19:36
    Assim, já não fico preso
    a pensamentos ilusórios,
  • 19:36 - 19:42
    que nada têm a ver com a realidade,
  • 19:44 - 19:48
    porque essa prática de estar consciente do corpo e das sensações
    ajuda-me a ver com mais clareza.
  • 19:51 - 19:55
    Hoje em dia, podemos ir "navegar" na internet,
  • 19:56 - 20:01
    ver vídeos ou pesquisar algo útil,
  • 20:02 - 20:05
    e, como se diz, entrar por uma
    “toca de coelho” a estudar algo.
  • 20:06 - 20:10
    E se não tivermos cuidado,
    perdemos o contacto com
  • 20:10 - 20:12
    o que está a acontecer no momento presente.
  • 20:12 - 20:14
    Perdemos o contacto com
    a respiração, com o corpo.
  • 20:14 - 20:17
    Também podemos perder o contacto
    com a comunidade em que vivemos,
  • 20:17 - 20:20
    com as pessoas que nos são próximas.
  • 20:20 - 20:22
    Perdemo-nos no telemóvel
    ou no computador.
  • 20:23 - 20:27
    As pessoas que vivem connosco,
    os nossos entes queridos,
  • 20:27 - 20:33
    talvez os nossos filhos, pais,
    ou companheiro, deixam de estar presentes
  • 20:33 - 20:37
    porque estamos absorvidos
    nos nossos pensamentos sobre aquele projeto,
  • 20:39 - 20:44
    aquele tema ou aquele vídeo.
  • 20:45 - 20:51
    Temos de ter muito cuidado
    quando estamos a viver uma espécie de
  • 20:52 - 20:57
    visualização guiada.
  • 20:58 - 21:01
    Usar a internet é como uma
    visualização guiada.
  • 21:02 - 21:08
    Através das páginas web,
    e muitas vezes de um algoritmo,
  • 21:09 - 21:13
    um algoritmo muito poderoso
    que já acompanhou o comportamento
  • 21:13 - 21:18
    de muitos outros seres humanos,
    como vídeos no YouTube
  • 21:18 - 21:24
    ou redes sociais,
    estão a prever, rapidamente,
  • 21:23 - 21:27
    o que queremos ver a seguir.
    Para que continuemos a olhar
  • 21:29 - 21:33
    para o ecrã – e isso é
    uma espécie de visualização guiada.
  • 21:35 - 21:38
    E, se tu...
  • 21:40 - 21:44
    por exemplo, se estás sempre
    a ver o que os teus amigos estão a fazer
  • 21:44 - 21:46
    e estás sentado em casa
    a pensar: "porque é que eu…?"
  • 21:48 - 21:51
    "Porque é que a minha vida
    não é tão importante como a dos outros?"
  • 21:51 - 21:53
    "O que é que eles andam a fazer…?"
  • 21:53 - 21:57
    Essa meditação pode trazer
    muito desespero e ansiedade:
  • 21:58 - 22:00
    "O que estou a fazer com a minha vida?"
  • 22:03 - 22:06
    "Sinto-me um falhado, ou algo assim."
  • 22:06 - 22:08
    FOMO – o medo de ficar de fora (Fear of Missing Out).
  • 22:10 - 22:17
    E eu tenho experiência a trabalhar
    em comunicação na Sangha,
  • 22:19 - 22:21
    por vezes usando redes sociais.
  • 22:24 - 22:28
    Tenho de as desligar rapidamente
    porque estou consciente do efeito que têm no meu corpo.
  • 22:29 - 22:33
    Estão a ser geradas sensações
    através dessa visualização
  • 22:34 - 22:39
    que me levam a querer
    ser outra pessoa.
  • 22:43 - 22:49
    Portanto, este tipo de visualizações,
    que ocorrem apenas ao nível
  • 22:50 - 22:54
    do pensamento,
    são alimentadas pelo que vemos no ecrã.
  • 22:55 - 23:01
    Também pela publicidade,
    ou são alimentadas por tudo — pelo ambiente,
  • 23:01 - 23:05
    do mosteiro, pelas plantas,
    pelos irmãos, pelo que estão a fazer.
  • 23:05 - 23:08
    Entramos na sala para beber chá
    e começam
  • 23:08 - 23:12
    a falar da família, ou de algo
    que os preocupa, e então começamos
  • 23:13 - 23:17
    a viver isso com eles também
    com eles, uma espécie de meditação guiada.
  • 23:21 - 23:27
    O que o Buda nos propõe com tudo isto
    é, na verdade, meditações guiadas
  • 23:27 - 23:37
    para usarmos com regularidade,
    de forma a nutrir um entendimento
  • 23:39 - 23:48
    da realidade vivida que nos permita
    reduzir ao máximo as perceções erradas.
  • 23:50 - 23:55
    Essa é a função
    das Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena:
  • 23:56 - 24:03
    trazer a nossa consciência
    para fora da ideação ou do que se chama
  • 24:04 - 24:09
    no budismo antigo Papanca,
  • 24:18 - 24:21
    que é uma espécie de pensamento proliferado.
  • 24:21 - 24:26
    É como um borbulhar constante de conceitos,
    ideias e noções
  • 24:26 - 24:30
    que a maioria de nós experiencia
    ao longo de todo o dia,
  • 24:31 - 24:33
    nas nossas vidas desperta.
  • 24:34 - 24:36
    São como bolhas —
    surgem, rebentam,
  • 24:38 - 24:43
    e depois ficamos com o sabor a sabão
  • 24:43 - 24:45
    dessas bolhas.
  • 24:47 - 24:50
    E é: “Quero fazer isto”, “Quero fazer aquilo”...
  • 24:52 - 24:56
    E o Buda dizia mesmo aos monges,
    quando os apanhava a falar,
  • 24:57 - 24:59
    por exemplo,
  • 24:59 - 25:03
    naquele tempo, a especular sobre política
  • 25:03 - 25:05
    ou sobre o mercado.
  • 25:06 - 25:09
    Diziam coisas como:
    "As tropas do rei vão avançar hoje,
  • 25:09 - 25:11
    amanhã ou na próxima semana?"
  • 25:12 - 25:14
    E entravam nestas conversas,
  • 25:14 - 25:17
    como nós hoje ao ler as notícias.
  • 25:17 - 25:21
    Queremos saber:
    "Será que o parlamento aprovou a lei climática?"
  • 25:21 - 25:24
    Queremos saber.
    Mas será que isso nos ajuda realmente
  • 25:25 - 25:30
    a tocar a realidade
    neste momento presente?
  • 25:33 - 25:37
    Então esta é uma pergunta
    que pratico fazer a mim próprio:
  • 25:38 - 25:43
    "Será que isto me ajuda realmente
    a estar mais presente para mim e para os meus irmãos?"
  • 25:44 - 25:47
    E muitas vezes percebo que não.
  • 25:48 - 25:49
    Por isso, tento reduzir
  • 25:49 - 25:52
    e não usar demasiada
    energia emocional
  • 25:53 - 25:56
    a pensar em coisas que estão a acontecer
    à escala mundial.
  • 25:58 - 26:02
    Há assuntos muito importantes,
    como a crise climática —
  • 26:02 - 26:06
    e isso está a acontecer,
    aconteceu no ano passado,
  • 26:07 - 26:10
    acontece desde que nascemos,
    desde antes de nascermos.
  • 26:10 - 26:13
    E devemos estar conscientes disso.
  • 26:14 - 26:15
    Mas no dia a dia?
  • 26:16 - 26:21
    Precisamos mesmo de estar
    tão atentos a quem processa quem,
  • 26:23 - 26:31
    ao que está a acontecer
    nos governos, nas guerras,
  • 26:32 - 26:33
    e por aí fora?
  • 26:34 - 26:37
    Na verdade, como comunidade
    estamos bastante informados.
  • 26:39 - 26:42
    E eu próprio fui educado
  • 26:42 - 26:46
    por um professor de estudos sociais
    no secundário a ler o jornal todos os dias.
  • 26:47 - 26:51
    E por isso costumo ver as notícias,
    mas com muito cuidado
  • 26:51 - 26:56
    na forma como as consumo,
    porque quero continuar presente aqui,
  • 26:57 - 27:01
    com a minha comunidade,
    e não ser levado por essas coisas
  • 27:02 - 27:05
    que não estão diretamente
    relacionadas com a minha vida e comunidade.
  • 27:05 - 27:09
    Mas o que é belo nestas práticas
  • 27:09 - 27:12
    dos Estabelecimentos da Atenção Plena
    é que nos ajudam a dar prioridade.
  • 27:13 - 27:18
    Na verdade, o nosso corpo e mente,
    esta experiência do momento presente —
  • 27:18 - 27:22
    quando estamos sintonizados com ela —
    dá-nos um sentido natural de prioridade.
  • 27:22 - 27:26
    Por exemplo, agora mesmo,
    o Irmão Minh Anh e o Anthony,
  • 27:26 - 27:29
    vocês são o mais importante para mim.
  • 27:30 - 27:37
    Mas se estou a pensar na minha relação
    com outro irmão ou irmã,
  • 27:37 - 27:44
    e perco a consciência de vocês os dois,
    então a minha prioridade está errada.
  • 27:47 - 27:52
    O que mais me tem beneficiado
    com esta prática é realmente voltar
  • 27:52 - 27:57
    a estar em contacto com
    a nossa intuição natural como seres humanos —
  • 27:58 - 28:01
    saber qual é a prioridade,
    o que é mais importante:
  • 28:02 - 28:05
    o que está a acontecer agora.
  • 28:06 - 28:10
    E não ficar emocionalmente preso
    ao drama de assuntos
  • 28:10 - 28:16
    que podemos afetar apenas ligeiramente,
  • 28:16 - 28:19
    e que certamente as nossas emoções fortes
    não vão ajudar
  • 28:20 - 28:21
    a transformar.
  • 28:21 - 28:23
    O mais importante é estarmos verdadeiramente presentes,
  • 28:24 - 28:26
    aqui e agora.
  • 28:26 - 28:29
    Essa é a beleza desta prática.
  • 28:33 - 28:38
    O Buda ensinou muitas formas
    de não ficarmos presos neste
  • 28:39 - 28:44
    pensamento conceptual — Papanca,
    ou pensamento proliferado.
  • 28:45 - 28:48
    Às vezes também chamado
    de fluxo interior —
  • 28:48 - 28:50
    pensamentos, conceitos,
    preocupações, medos, ansiedades.
  • 28:55 - 28:57
    E, concretamente,
    estarmos conscientes do corpo,
  • 28:58 - 29:01
    e depois conscientes das sensações.
  • 29:02 - 29:04
    Em vez de ficarmos...
  • 29:05 - 29:08
    Uma prática que me encontro
    constantemente a ensinar
  • 29:11 - 29:16
    às pessoas que chegam
    com muito sofrimento nas emoções
  • 29:16 - 29:20
    é esta: como trazer a atenção
    do nível do pensamento —
  • 29:22 - 29:26
    da ideação —
    para o nível das sensações.
  • 29:27 - 29:29
    O que se sente?
    Só estar consciente da sensação.
  • 29:30 - 29:34
    Não pensar mais sobre isso.
  • 29:34 - 29:37
    Apenas estar consciente da sensação.
  • 29:37 - 29:40
    Porque, quando estamos mesmo conscientes
    das nossas sensações, sabemos como —
  • 29:40 - 29:44
    descobrimos como —
    entrar no método para lidar com elas.
  • 29:44 - 29:49
    Mas é porque não vemos
    que esse borbulhar de pensamentos
  • 29:49 - 29:55
    é na verdade uma fonte de alimento
    para as sensações
  • 29:55 - 29:57
    que experienciamos.
  • 29:57 - 29:59
    E, por não termos consciência disso,
  • 29:59 - 30:03
    experienciamos as sensações
    como algo aleatório,
  • 30:04 - 30:07
    como se viessem do nada.
  • 30:09 - 30:12
    Por isso temos de ser honestos connosco próprios
    e ver verdadeiramente
  • 30:12 - 30:15
    como é que a nossa atenção,
    na vida diária,
  • 30:15 - 30:17
    alimenta este tipo
    de Papanca.
  • 30:18 - 30:21
    Este tipo de pensamento, tal como
    quando o Buda se aproximava dos monges
  • 30:21 - 30:24
    que estavam a falar sobre os exércitos
    a avançar e assim por diante —
  • 30:24 - 30:27
    ele dizia: "Isto não é um tema
  • 30:27 - 30:30
    apropriado para conversas de Dharma."
  • 30:32 - 30:36
    Em Plum Village, a prática
  • 30:37 - 30:39
    da partilha do Dharma
  • 30:40 - 30:44
    existe precisamente para nos ajudar
    a regressar ao corpo,
  • 30:44 - 30:46
    a regressar às nossas sensações.
  • 30:46 - 30:49
    Quando aprendemos a praticar
    a partilha do Dharma,
  • 30:50 - 30:53
    aprendemos a não partilhar sobre livros,
    ideias ou conceitos que
  • 30:53 - 30:56
    aprendemos ou pelos quais estamos entusiasmados,
  • 30:56 - 30:59
    mas sim a partilhar a nossa experiência vivida
  • 31:00 - 31:03
    da prática durante o retiro.
  • 31:03 - 31:06
    Descemos do nível da teoria
    e trazemos a nossa atenção
  • 31:07 - 31:11
    para a experiência no corpo,
  • 31:12 - 31:14
    para a experiência nas sensações.
  • 31:15 - 31:19
    E assim temos menos pensamento ilusório,
  • 31:20 - 31:22
    menos fascínio
  • 31:22 - 31:24
    pelas ideias e teorias.
  • 31:24 - 31:27
    A nossa prática do Budismo
    torna-se muito pragmática.
  • 31:30 - 31:33
    E não somos perfeitos,
    não nos deixamos prender por ideias
  • 31:34 - 31:37
    de perfeição ou de ser um praticante
    perfeito de atenção plena —
  • 31:37 - 31:41
    apenas vemos que cada momento
    é uma oportunidade de mudar hábitos,
  • 31:41 - 31:46
    de cultivar hábitos benéficos
    e largar hábitos que não são úteis,
  • 31:47 - 31:50
    que geram emoções intensas
  • 31:51 - 31:54
    ou desequilíbrios no nosso corpo.
  • 31:56 - 32:00
    O Thay dizia que, ao tomarmos
    um banho nestes ensinamentos do Budismo na Fonte,
  • 32:01 - 32:03
    podemos praticar
  • 32:05 - 32:09
    com a mesma solidez
  • 32:09 - 32:11
    que a Sangha do Buda.
  • 32:14 - 32:19
    Vivemos em Solidity Hamlet,
    e essa é uma qualidade que o Thay
  • 32:20 - 32:26
    ensinava até às crianças, cultivar a qualidade da solidez.
    E aqui ele diz que,
  • 32:26 - 32:33
    para praticarmos com a mesma solidez que a Sangha do Buda,
    precisamos de tomar um banho
  • 32:33 - 32:36
    nos ensinamentos do Budismo na Fonte.
    Não podemos limitar-nos
  • 32:40 - 32:45
    apenas a preocupar-nos com os ensinamentos
    mais tardios do Budismo.
  • 32:46 - 32:50
    Há muitos ensinamentos úteis
    e profundos que surgiram
  • 32:50 - 32:54
    ao longo das gerações
    da tradição budista.
  • 32:55 - 33:03
    Portanto, isto não é um apelo ao fundamentalismo budista.
    E é precisamente isso que admiro
  • 33:03 - 33:10
    na forma como o Thay apresenta este Princípio:
    a imagem da imersão,
  • 33:10 - 33:14
    de tomar um banho nos ensinamentos do Budismo na Fonte.
  • 33:15 - 33:19
    Tal como quando tomamos
    um banho num rio,
  • 33:19 - 33:24
    não consideramos o rio
    uma autoridade dogmática.
  • 33:26 - 33:30
    Simplesmente sentimos
    a frescura da água, e somos renovados por ela.
  • 33:32 - 33:34
    É isso que adoro neste Princípio
  • 33:34 - 33:39
    e na forma como o Thay transmite
    os ensinamentos do Buda.
  • 33:39 - 33:44
    Porque seria tão fácil cairmos na ideia:
    “Mahayana, Terra Pura, Maitreyana...
  • 33:45 - 33:48
    nada disto existia no tempo do Buda.
  • 33:49 - 33:53
    Foram ensinamentos que surgiram
    mil ou mil e quinhentos anos depois do Buda.
  • 33:54 - 33:59
    Logo, devemos abandonar tudo isso,
    é uma perda de tempo.
  • 33:59 - 34:02
    Devemos voltar apenas
    às Quatro Estabelecimentos da Atenção Plena.”
  • 34:03 - 34:07
    Essa seria uma abordagem
    muito dogmática deste sentimento.
  • 34:10 - 34:12
    E o que é tão belo
  • 34:13 - 34:17
    na apresentação do Thay
  • 34:19 - 34:24
    é que ele nos mostra
    que precisamos, de tempos a tempos,
  • 34:24 - 34:26
    de voltar e mergulhar
    no Budismo da Fonte.
  • 34:27 - 34:31
    Tal como, num dia muito quente —
  • 34:31 - 34:34
    ontem, por exemplo, alguns dos irmãos
    foram até à praia.
  • 34:35 - 34:37
    E assim que chegámos,
  • 34:41 - 34:43
    vestimos
  • 34:46 - 34:50
    os calções de banho e mergulhámos diretamente no mar.
    E soube tão bem
  • 34:50 - 34:54
    tão fresco e tão salgado, mas reconfortante.
  • 34:56 - 34:59
    Tomámos um banho no oceano.
  • 35:00 - 35:05
    Esse é o espírito com que
    praticamos as Quatro Estabelecimentos
  • 35:06 - 35:08
    da Atenção Plena
    e a Atenção à Respiração.
  • 35:09 - 35:14
    Fazemo-lo porque sabe bem,
    porque faz sentido,
  • 35:14 - 35:18
    porque é a coisa apropriada a fazer
    quando estamos sobrecarregados
  • 35:18 - 35:24
    pelo calor das nossas aflições.
    Só queremos ir tomar um banho,
  • 35:25 - 35:30
    mergulhar nestes ensinamentos.
    Porque quando o fazemos, o nosso corpo arrefece,
  • 35:30 - 35:33
    torna-se mais sólido,
    mais estável, mais livre.
  • 35:35 - 35:38
    E agora, podemos saborear a respiração,
    enquanto ouvimos o som do sino.
  • 35:48 - 35:52
    [SINO]
  • 36:11 - 36:15
    Então, o Terceiro Fundamento ou
    Estabelecimento da Atenção Plena é
  • 36:19 - 36:20
    a mente, certo?
  • 36:22 - 36:25
    as formações mentais.
  • 36:29 - 36:35
    E este papanca acontece
    ao nível da nossa mente.
  • 36:47 - 36:51
    Portanto, a mente já está
    presente no corpo,
  • 36:52 - 36:55
    a mente também está presente nas sensações.
    As sensações estão na mente.
  • 36:56 - 36:58
    Estas coisas não são
    em última análise separadas.
  • 36:59 - 37:03
    Por vezes, esta prática é,
    alguns mestres chamam-na
  • 37:05 - 37:08
    em vez de Fundamentos da Atenção Plena,
    quadros de referência.
  • 37:09 - 37:11
    Satipatthana
  • 37:14 - 37:15
    é a
  • 37:24 - 37:28
    palavra em Pali para estes,
  • 37:31 - 37:33
    aquilo que traduzimos como
    Fundamentos da Atenção Plena.
  • 37:34 - 37:45
    Então Sati é atenção plena e upatthana é
    como montar uma base, algo estável —
  • 37:46 - 37:49
    como o tripé ali onde está
    a câmara — tem três pernas,
  • 37:49 - 37:53
    monta-se e
    torna-se estável, estabelecido.
  • 37:57 - 38:01
    Portanto, a preocupação desta
    prática fundamental é
  • 38:02 - 38:07
    estabelecer uma base sólida
    para a atenção plena.
  • 38:09 - 38:13
    Assim, a nossa atenção plena torna-se muito
    estável. Não é facilmente
  • 38:18 - 38:19
    removida ou
  • 38:20 - 38:23
    ofuscada ou reprimida,
    ou algo do género.
  • 38:25 - 38:27
    Quanto mais praticamos
  • 38:27 - 38:30
    estes Quatro Fundamentos da Atenção Plena,
    mais fácil se torna trazer
  • 38:30 - 38:32
    a atenção plena a qualquer situação.
  • 38:33 - 38:37
    E especialmente quando
    temos uma emoção forte,
  • 38:38 - 38:44
    podemos trazer a atenção plena, podemos ver:
    isto não é, isto cansa o corpo,
  • 38:46 - 38:49
    isto cansa a mente,
    cansa as sensações.
  • 38:50 - 38:52
    O Buda usava essa expressão com frequência.
  • 38:52 - 38:57
    Ele via que muitas das coisas que fazemos no dia a dia
    são simplesmente exaustivas e...
  • 39:01 - 39:05
    Lembro-me de quando tive o meu único carro.
  • 39:06 - 39:08
    Herdei o carro da minha avó.
  • 39:09 - 39:12
    Era um Plymouth Reliant.
    Uma espécie de caixa cinzenta.
  • 39:13 - 39:16
    Provavelmente o carro menos sexy
    que um adolescente poderia ter.
  • 39:19 - 39:22
    E não que eu me preocupasse
    em ter um carro fixe,
  • 39:24 - 39:28
    mas estava muito feliz porque
    não precisei de comprar o carro.
  • 39:28 - 39:31
    A minha avó já não podia conduzir
    e ela já tinha o carro,
  • 39:31 - 39:33
    e estava em boas condições.
  • 39:34 - 39:41
    E por isso conduzi esse carro
    nos meus últimos anos do secundário.
  • 39:43 - 39:48
    E lembro-me de ter de trabalhar
    para pagar a gasolina.
  • 39:49 - 39:53
    Agora os preços da gasolina estão a baixar
    de novo, recentemente estavam a 6 dólares.
  • 39:54 - 39:59
    Lembro-me de que a maioria dos meus trabalhos no secundário
    era apenas para pagar a gasolina do carro,
  • 40:00 - 40:03
    para poder conduzi-lo e
    ir ver os meus amigos,
  • 40:04 - 40:06
    o que era algo inegociável
    naquela altura.
  • 40:07 - 40:11
    Hoje, provavelmente usaria
    uma das bicicletas elétricas ou algo assim.
  • 40:13 - 40:17
    Porque comecei a perceber
    como era complicado e difícil
  • 40:18 - 40:19
    tomar conta de um carro.
  • 40:21 - 40:23
    E o quanto eu gastava do meu tempo e energia
    a trabalhar
  • 40:25 - 40:29
    para pagar a gasolina para encher
    aquele carro, comecei a perguntar a mim mesmo:
  • 40:30 - 40:33
    isto é exaustivo,
    cuidar deste carro.
  • 40:33 - 40:36
    Será que preciso mesmo de ter um carro?
  • 40:37 - 40:38
    E continuei a fazer
    essa pergunta a mim mesmo.
  • 40:39 - 40:43
    Então, quando fui para a universidade, decidi
    não levar o carro, porque sabia
  • 40:43 - 40:46
    que não queria passar o meu tempo
    a trabalhar só para pagar a gasolina
  • 40:47 - 40:51
    para poder conduzi-lo, e preferia
    simplesmente não ir a lado nenhum, ou
  • 40:51 - 40:54
    se alguém me convidasse para sair
    e tivesse um carro, ótimo,
  • 40:55 - 40:59
    caso contrário, teria
    a minha bicicleta e isso seria suficiente.
  • 41:01 - 41:07
    E quando voltei a casa no Natal,
    lembro-me que estava a planear, num dia,
  • 41:07 - 41:13
    sair com a minha namorada,
    que era da minha terra natal.
  • 41:14 - 41:17
    Planeámos sair
    nessa noite,
  • 41:17 - 41:19
    e nessa noite nevou.
  • 41:21 - 41:25
    E porque eu tinha praticado visualizar
  • 41:26 - 41:31
    porque estive fora
    durante todo o período na universidade,
  • 41:31 - 41:34
    e queria passar o máximo de tempo
    possível com a minha namorada,
  • 41:34 - 41:40
    e também estava a trabalhar durante o Natal,
  • 41:41 - 41:45
    quis sair de qualquer maneira —
    essa era a minha mente iludida.
  • 41:45 - 41:49
    Estava deslumbrado com a ideia,
    e por isso fui buscá-la.
  • 41:49 - 41:52
    E nem acredito que
    os pais dela me deixaram levá-la a sair,
  • 41:53 - 41:55
    com a neve a cair como caía.
  • 41:57 - 42:02
    E conduzimos apenas alguns quilómetros
    e apanhámos uma mancha de gelo negro,
  • 42:02 - 42:05
    a ir muito devagar, a cerca de
    dez milhas por hora,
  • 42:05 - 42:09
    bati na traseira de uma carrinha pickup.
  • 42:10 - 42:14
    Repara, foi o único acidente
    que tive até hoje num carro.
  • 42:16 - 42:19
    E, a carrinha ficou praticamente intacta,
  • 42:19 - 42:23
    mas o pára-choques da frente do carro
    da minha avó ficou bastante amolgado,
  • 42:23 - 42:26
    e um dos faróis foi destruído.
  • 42:27 - 42:31
    E passei o resto das férias de Natal
    a reparar o carro.
  • 42:32 - 42:35
    Tive de encomendar um novo pára-choques,
    pintá-lo, encomendar os faróis.
  • 42:36 - 42:39
    Reparei tudo sozinho e estou tão grato
  • 42:39 - 42:44
    por ter feito isso, porque foi isso que me trouxe
    a resolução
  • 42:44 - 42:48
    de que ter um carro é mesmo,
    mesmo, um verdadeiro incómodo.
  • 42:48 - 42:50
    É mesmo exaustivo.
  • 42:51 - 42:53
    O meu tempo, a minha energia, o meu trabalho, a minha atenção!
  • 42:54 - 42:58
    E então, de alguma forma, no fundo de mim,
    decidi que não queria
  • 42:58 - 43:01
    ter um carro na minha vida.
  • 43:02 - 43:08
    O que é bastante normal na Europa — alguém
    pode decidir não querer ter um carro.
  • 43:09 - 43:14
    Mas nos Estados Unidos,
    é quase um sacrilégio.
  • 43:16 - 43:19
    É mais fácil ser ateu do que
    não ter um carro
  • 43:20 - 43:22
    nos Estados Unidos da América,
    de certa forma.
  • 43:25 - 43:32
    Portanto, acabei por — não tinha ainda
    a prática da atenção plena — mas a
  • 43:32 - 43:37
    experiência vivida do cansaço de
    ter um carro e depois essa
  • 43:38 - 43:41
    experiência de ter um pequeno acidente,
  • 43:42 - 43:48
    ajudaram-me a cultivar
    a prática de largar, de deixar ir.
  • 43:51 - 43:53
    Não quero tomar conta de um carro.
    É simplesmente demasiado difícil!
  • 43:55 - 44:01
    E esse é o espírito da prática
    do Satipatthana: é que nós
  • 44:01 - 44:04
    vemos que tantas coisas
    às quais sujeitamos o corpo,
  • 44:05 - 44:08
    tantas coisas às quais sujeitamos
    as nossas sensações, a nossa mente,
  • 44:09 - 44:12
    são apenas cansativas e
    exaustivas para o corpo.
  • 44:13 - 44:16
    Por isso, precisamos de nos perguntar
    constantemente: isto está realmente
  • 44:16 - 44:21
    a trazer-me paz, liberdade e alegria?
    E se não está, simplesmente deixo ir.
  • 44:26 - 44:29
    E temos projetos e
    coisas que fazemos na Sangha,
  • 44:31 - 44:32
    e
  • 44:33 - 44:37
    esse é um aspeto muito interessante
    da prática em Plum Village.
  • 44:37 - 44:40
    O Thay estava sempre a dar-nos coisas
    para fazer, mas ao mesmo tempo
  • 44:40 - 44:44
    praticávamos “não há para onde ir,
    nada para fazer”, e na verdade, quando
  • 44:45 - 44:49
    nos aprofundamos nisso,
    não há conflito, descobri.
  • 44:51 - 44:54
    Na verdade, podemos ter um sítio
    para onde ir, algo para fazer,
  • 44:54 - 44:57
    mas podemos fazê-lo com paz e liberdade.
  • 44:57 - 45:03
    Esse é o espírito de fazer as coisas
    na fundação da atenção plena.
  • 45:04 - 45:08
    E eu continuo a praticar,
    mesmo sendo monge
  • 45:08 - 45:10
    há já 19 anos.
  • 45:10 - 45:13
    Continuo a praticar isso todos os dias:
  • 45:14 - 45:17
    não há para onde ir, nada para fazer,
    não há mais pressa,
  • 45:17 - 45:19
    fazer as coisas na Sangha
  • 45:19 - 45:22
    e fazê-las sem
    pressa, ansiedade ou correria.
  • 45:23 - 45:28
    Porque ainda vejo, às vezes, que surge
    ansiedade, preocupação e medo.
  • 45:29 - 45:32
    Então preciso de voltar e
    tomar um banho nas práticas
  • 45:32 - 45:34
    do Budismo das Origens.
  • 45:34 - 45:38
    Fiquei demasiado enredado
    na minha aspiração Mahayana
  • 45:38 - 45:42
    de ajudar todos os seres vivos.
  • 45:43 - 45:48
    Por isso preciso de voltar atrás
    e tomar um banho na prática básica da atenção plena.
  • 45:50 - 45:53
    E penso que muitos irmãos e irmãs
    se perdem nisso,
  • 45:53 - 45:59
    o desejo de ajudar é tão grande
    que perdem a atenção plena,
  • 46:00 - 46:04
    e depois, lentamente, começam a
    perder a sua própria aspiração.
  • 46:05 - 46:11
    Por isso é mesmo importante, todos os dias,
    desde o momento em que acordamos
  • 46:11 - 46:15
    até à noite, e mesmo enquanto
    dormimos, tomar banho
  • 46:16 - 46:19
    nestas práticas básicas
    de atenção plena.
  • 46:29 - 46:35
    Portanto, como o Anthony disse, tudo
    é uma formação, incluindo a mente.
  • 46:36 - 46:40
    Na nossa tradição temos
    51 formações mentais.
  • 46:43 - 46:47
    Há formações mentais
    como a raiva, o ódio.
  • 46:47 - 46:50
    Há formações mentais
    como a compaixão e a compreensão.
  • 46:51 - 46:53
    E como praticantes,
    precisamos de conhecer
  • 46:53 - 46:55
    todas estas formações mentais.
  • 46:56 - 46:58
    São elas que povoam a nossa mente.
  • 47:00 - 47:05
    E cada uma tem as suas
    próprias qualidades e aprendemos a
  • 47:08 - 47:13
    nutrir formações mentais como
    compaixão e compreensão,
  • 47:13 - 47:16
    trazê-las à superfície e
    fazer com que fiquem connosco por muito tempo.
  • 47:17 - 47:18
    Ao viver no mosteiro,
  • 47:19 - 47:21
    estando rodeado de pessoas compassivas
    e compreensivas,
  • 47:21 - 47:23
    tendo pessoas que nos mostram
    as nossas próprias ilusões,
  • 47:23 - 47:26
    as nossas perceções erradas,
  • 47:26 - 47:28
    e depois praticar
    deixá-las ir,
  • 47:28 - 47:34
    seguir com o rio da Sangha,
    é a prática mais fundamental
  • 47:35 - 47:37
    de viver em comunidade.
  • 47:37 - 47:40
    Deixar ir a nossa ideia.
  • 47:43 - 47:46
    Não ficamos agarrados à ideia
    de que uma ideia é a certa,
  • 47:46 - 47:49
    mas sim, quando
    vivemos em comunidade,
  • 47:49 - 47:53
    vemos que há muitas formas de
    olhar para o viver em comunidade.
  • 47:53 - 47:56
    E queremos tentar
    harmonizar as nossas ideias
  • 47:58 - 47:59
    e pontos de vista,
  • 48:00 - 48:03
    o que pode significar deixar
    completamente a nossa ideia
  • 48:03 - 48:07
    ou, mais frequentemente, encontrar
    forma de caminhar juntos,
  • 48:08 - 48:12
    e integrar as nossas ideias para
    nos unirmos como uma só comunidade.
  • 48:13 - 48:19
    E assim, o olhar da Sangha
    é sempre mais profundo do que a perspetiva individual.
  • 48:24 - 48:32
    E depois, a quarta fundação —
    os objetos da atenção plena, ou fenómenos.
  • 48:46 - 48:55
    Assim, a mente como órgão sensorial,
    como a vemos na tradição budista,
  • 48:57 - 49:04
    tem objetos tal como o olho vê formas
    e o ouvido ouve sons,
  • 49:05 - 49:11
    e o paladar — desculpa — a língua
    saboreia os sabores, e assim por diante.
  • 49:12 - 49:14
    O nariz cheira.
  • 49:15 - 49:21
    Da mesma forma, a mente tem objetos
    e, nesse sentido,
  • 49:21 - 49:23
    em Pali e Sânscrito, chama-se dharma,
  • 49:24 - 49:26
    Dharma no sentido de fenómenos.
  • 49:27 - 49:32
    São aspetos fundamentais da realidade.
  • 49:33 - 49:38
    Coisas como formações mentais, sensações,
    corpos — tudo isto são objetos da mente.
  • 49:39 - 49:41
    E também são os ensinamentos.
  • 49:42 - 49:47
    Assim, os sete fatores do
    despertar são objetos da mente,
  • 49:48 - 49:51
    o Nobre Caminho Óctuplo
    são objetos da mente;
  • 49:52 - 49:55
    as Quatro Nobres Verdades
    são objetos da mente;
  • 49:55 - 49:59
    a Impermanência, o Não-Eu
    são objetos da mente.
  • 50:01 - 50:04
    Tudo pode ser objeto da mente.
  • 50:04 - 50:07
    Portanto, podemos ver que, desta forma, estas
  • 50:09 - 50:12
    quatro fundações da atenção plena intersão.
  • 50:13 - 50:16
    Não podemos separá-las completamente
    umas das outras, porque
  • 50:17 - 50:21
    o corpo pode ser objeto da mente.
    As sensações podem ser objeto da nossa mente.
  • 50:21 - 50:26
    Até a mente pode ser objeto da
    mente — a mente a ver a mente.
  • 50:28 - 50:32
    Portanto, tudo pode ser colocado
    neste domínio dos fenómenos.
  • 50:35 - 50:39
    E o importante é que
    nós, por exemplo, tal como fazemos
  • 50:39 - 50:42
    com o corpo, com as
    sensações, com a mente,
  • 50:43 - 50:45
    e com os fenómenos
    nos próprios fenómenos,
  • 50:47 - 50:50
    devemos chamá-los pelo seu verdadeiro nome.
  • 50:50 - 50:53
    Por exemplo, quando a raiva se manifesta,
    chamamos-lhe pelo seu verdadeiro nome:
  • 50:53 - 50:55
    Isto é raiva.
  • 50:56 - 51:02
    Não tentamos enganar-nos
    e, quando estamos com raiva,
  • 51:03 - 51:06
    dizer que estamos a agir com compaixão.
  • 51:09 - 51:11
    Temos de reconhecer que
    a raiva está presente
  • 51:11 - 51:14
    e ajudar a abraçar essa raiva,
  • 51:15 - 51:17
    caso contrário, podemos causar
    muito sofrimento.
  • 51:18 - 51:23
    E grande parte do meu sofrimento, sinto
    que é criado por mim mesmo e para os outros,
  • 51:23 - 51:28
    por não chamar às minhas formações mentais
    pelo seu verdadeiro nome.
  • 51:29 - 51:31
    Por não as reconhecer
    pelo que realmente são.
  • 51:33 - 51:37
    Por isso, temos esta lista de 51 formações
    mentais que nos pode ajudar a
  • 51:38 - 51:42
    olhar e ver que todos têm
    compaixão, compreensão.
  • 51:45 - 51:50
    Mas todos também têm raiva, medo,
    ansiedade, preocupação, e por aí fora.
  • 51:51 - 51:58
    E se a tua experiência de ansiedade e
    medo for ligeiramente diferente da minha,
  • 52:00 - 52:03
    então tentamos reconhecer
    essa ansiedade e medo em nós mesmos
  • 52:04 - 52:10
    e também nos outros. Há este
    refrão nas fundações da atenção plena,
  • 52:10 - 52:14
    que é: estar consciente do
    corpo no próprio corpo,
  • 52:14 - 52:18
    e também estar consciente do corpo do
    outro, fora do nosso corpo.
  • 52:21 - 52:24
    Estamos conscientes dentro e fora.
    Portanto, isto é uma abordagem muito científica
  • 52:25 - 52:30
    que é crucial para estabelecer
    a atenção plena.
  • 52:32 - 52:36
    Estamos conscientes de que podemos
    ter perceções erradas,
  • 52:37 - 52:41
    mas esta prática de ver,
    por exemplo, a raiva em nós próprios,
  • 52:41 - 52:44
    e também ser capazes de ver
    a raiva noutra pessoa,
  • 52:44 - 52:49
    ajuda-nos a entender que
    a raiva é apenas um aspeto básico
  • 52:49 - 52:51
    da mente.
  • 52:51 - 52:54
    E alguns de nós podem ter
    a semente da raiva
  • 52:55 - 52:57
    muito forte, na nossa consciência
    individual, e outros
  • 52:58 - 53:03
    talvez não tão forte, mas podemos
    reconhecer a raiva e chamá-la
  • 53:04 - 53:07
    pelo seu verdadeiro nome. Isso é
    a prática de ver os fenómenos
  • 53:08 - 53:10
    nos próprios fenómenos,
    os objetos da mente.
  • 53:13 - 53:19
    E isto é também como ser um
    cientista que estuda um
  • 53:20 - 53:26
    fenómeno na natureza. Temos de estar
    dispostos a largar o que
  • 53:26 - 53:31
    pensamos que é a raiva ou quais são as qualidades
    da nossa raiva. Por exemplo,
  • 53:32 - 53:35
    podemos pensar: "Não sou uma
    pessoa muito zangada, tenho raiva",
  • 53:36 - 53:40
    mas, na verdade, os outros podem
    experimentar-nos como alguém com muita raiva.
  • 53:41 - 53:44
    Então, isso é como um sino de atenção plena
    quando há luz a brilhar e alguém
  • 53:45 - 53:49
    partilha algo que dissemos ou fizemos
    e que teve um impacto forte.
  • 53:51 - 53:54
    Vejo isso como um sino de atenção plena,
    para regressar
  • 53:54 - 53:58
    e ver — talvez eu não esteja
    realmente a ver completamente
  • 53:59 - 54:03
    a dimensão de como a raiva está a afetar
    o meu pensamento, a minha fala e as minhas ações.
  • 54:04 - 54:09
    Assim, a prática de fazer surgir
    a semente da atenção plena
  • 54:09 - 54:14
    e depois iluminá-la sobre as formações mentais —
    essa é a prática
  • 54:15 - 54:21
    da quarta fundação da
    atenção plena: ver os
  • 54:22 - 54:25
    fenómenos nos próprios fenómenos,
    ver a raiva na própria raiva.
  • 54:26 - 54:30
    Estar disposto a mudar e adaptar-se,
    não ficar preso à nossa ideia
  • 54:30 - 54:32
    do que é a raiva.
  • 54:33 - 54:44
    E, na neurociência,
    estamos agora a aprender que não é assim tão simples
  • 54:45 - 54:46
    ter
  • 54:51 - 54:58
    uma visão redutora para descrever
    as nossas emoções, porque
  • 54:59 - 55:03
    as emoções estão muito ligadas à
    experiência vivida dessa emoção.
  • 55:04 - 55:05
    Portanto, não podemos simplesmente dizer "raiva"
  • 55:05 - 55:08
    e separá-la de qualquer
    experiência de raiva.
  • 55:10 - 55:12
    E uma vez que se experimenta raiva
  • 55:13 - 55:16
    pode ser muito diferente de outra,
    dependendo da situação
  • 55:17 - 55:20
    em que essa raiva se manifestou.
  • 55:20 - 55:23
    Portanto, é outra forma de dizer
    que as nossas emoções estão profundamente
  • 55:23 - 55:25
    enraizadas na nossa experiência
    vivida delas.
  • 55:26 - 55:31
    E mudam, crescem e
    manifestam-se de maneiras diferentes para cada um.
  • 55:32 - 55:33
    Por isso, temos de estar prontos
  • 55:34 - 55:37
    a mudar, a adaptar-nos
    e a reconhecer quando,
  • 55:41 - 55:44
    quando uma emoção
    se manifesta, que nós...
  • 55:46 - 55:51
    O que eu amo na nossa comunidade
    é que podemos abraçar a visão coletiva
  • 55:51 - 55:54
    das nossas próprias formações mentais.
  • 55:54 - 55:58
    Não é apenas a nossa
    raiva, isolada,
  • 55:59 - 56:01
    mas sim, recebemos a perceção
  • 56:02 - 56:07
    dos nossos companheiros praticantes e eles
    partilham connosco, e então é como se — oh —
  • 56:07 - 56:12
    expandíssemos a nossa perceção. Se conseguirmos
    superar o nosso orgulho, então podemos
  • 56:12 - 56:15
    expandir a nossa noção do que é
    essa formação mental,
  • 56:15 - 56:19
    para incluir também as perceções
    dos nossos irmãos e irmãs de prática.
  • 56:20 - 56:24
    Portanto, esta prática das quatro
    fundações da atenção plena, em Plum Village, não é
  • 56:25 - 56:28
    isolacionista.
  • 56:28 - 56:33
    Não se trata de um indivíduo
    afastar-se e decidir por si próprio
  • 56:34 - 56:36
    quais são as suas formações mentais,
  • 56:37 - 56:39
    mas sim de se reunir em comunidade,
  • 56:39 - 56:41
    e ser capaz de ouvir,
    de receber feedback,
  • 56:42 - 56:44
    e de saber que estamos apenas parcialmente certos.
  • 56:44 - 56:48
    Mesmo no que toca ao reconhecimento das nossas emoções.
  • 56:49 - 56:52
    Vamos melhorando com a prática,
    mas
  • 56:52 - 56:56
    precisamos também de estar abertos
    a receber contributos dos outros.
  • 57:06 - 57:09
    Este é o caminho para cultivar
    a Visão Certa,
  • 57:16 - 57:19
    um dos elementos do
    Nobre Caminho Óctuplo.
  • 57:23 - 57:27
    É soltar o apego ao nosso pensamento conceptual,
  • 57:29 - 57:32
    regressar ao corpo,
    ver o corpo no corpo,
  • 57:32 - 57:35
    as sensações nas sensações,
    a mente na mente, os fenómenos
  • 57:35 - 57:38
    nos fenómenos. Estas são formas de cultivar
    a Visão Certa.
  • 57:41 - 57:47
    Que, no fim de contas, é abandonar
    todas as visões e noções, para podermos ver
  • 57:48 - 57:54
    a bondade e a ternura
    que existem na nossa natureza mais profunda.
  • 57:55 - 57:57
    E quanto mais libertamos o nosso
  • 58:01 - 58:09
    desejo de prazeres sensoriais
    e as ambições pessoais
  • 58:09 - 58:14
    a carreira, o carro que queremos comprar,
    a casa, todas essas coisas,
  • 58:14 - 58:19
    mais a nossa natureza intrínseca
    se manifesta.
  • 58:20 - 58:22
    A forma do monge serve precisamente
    para apoiar esse processo.
  • 58:23 - 58:25
    É por isso que
  • 58:25 - 58:29
    deixamos os bens pessoais,
    vivemos de forma simples na sangha,
  • 58:29 - 58:34
    e seguimos preceitos.
    Tudo isso serve para nos ajudar
  • 58:34 - 58:39
    a largar os apegos que nos impedem
    de realizar a Visão Certa, ou a nossa
  • 58:40 - 58:42
    verdadeira natureza.
  • 58:42 - 58:45
    É por isso que, quando os Budas
    falam de abandonar todas as visões,
  • 58:45 - 58:48
    isso é Visão Certa.
    E pode ser difícil
  • 58:48 - 58:52
    abraçar essa prática.
    O Buda propôs que desenvolvêssemos
  • 58:53 - 58:56
    a compreensão e a compaixão.
  • 58:57 - 59:04
    Assim, por exemplo, no
    partilhar do Dharma, aprendemos a
  • 59:05 - 59:09
    compreender-nos melhor,
    escutando o sofrimento da experiência
  • 59:09 - 59:12
    de outra pessoa. Isso rega a semente
    da compaixão e da compreensão
  • 59:12 - 59:17
    no nosso coração. Isto é cultivar
    a Visão Certa — estamos a cultivar um bom hábito.
  • 59:21 - 59:26
    Porque se dissermos simplesmente
    que Visão Certa é abandonar todas as visões,
  • 59:29 - 59:33
    podemos, se não formos cuidadosos,
    carregar visões muito enraizadas,
  • 59:33 - 59:35
    sobre nós próprios e sobre os outros,
    que continuam escondidas
  • 59:36 - 59:38
    e influenciam a forma como vivemos.
  • 59:38 - 59:41
    E podemos andar a dizer
    que vivemos na dimensão última,
  • 59:41 - 59:45
    que já abandonámos todas as visões,
    mas, na verdade, ainda temos muitos preconceitos
  • 59:45 - 59:51
    e julgamentos escondidos,
    de forma inconsciente.
  • 59:52 - 59:58
    Por isso, quando começamos no caminho,
    cultivamos compaixão e compreensão,
  • 59:59 - 60:04
    para alcançar uma visão correta da situação
  • 60:05 - 60:10
    uma visão que leva depois
    ao Pensamento Correto.
  • 60:18 - 60:22
    Por exemplo, quando alguém partilha
    o seu sofrimento, não dizemos apenas:
  • 60:22 - 60:26
    “Tens é de largar todas as tuas visões,
    e serás livre.”
  • 60:26 - 60:30
    Isso pode não ajudar nada.
  • 60:30 - 60:35
    Algumas pessoas até podem sentir isso
    como agressivo, ou violento.
  • 60:36 - 60:39
    Por isso, com compreensão
    e compaixão, podemos ser gentis.
  • 60:40 - 60:42
    Fazer gestos de bondade por essa pessoa.
  • 60:42 - 60:46
    Reconhecer as suas qualidades,
    regar diariamente as boas sementes dentro dela.
  • 60:48 - 60:52
    “Foi muito bonito o que fizeste ali.”
    “Agradeço mesmo a forma como agiste.”
  • 60:52 - 60:56
    Mudar a narrativa. Ajudar essa pessoa
    a mudar a sua própria narrativa.
  • 60:57 - 61:02
    Pode ser que, na sua mente,
    haja muita ansiedade, medo e dúvida.
  • 61:02 - 61:08
    Aponta as coisas reais —
    não inventes coisas positivas,
  • 61:08 - 61:12
    mas reconhece as ações reais que
    essa pessoa fez e que foram benéficas,
  • 61:12 - 61:17
    que ajudaram a comunidade,
    que trouxeram compaixão. Aponta isso.
  • 61:20 - 61:24
    Primeiro, podemos pensar isso —
    e depois dizê-lo.
  • 61:25 - 61:26
    Fala Correta.
  • 61:31 - 61:34
    A Visão Certa torna-se a
    base para o Pensamento Correto.
  • 61:34 - 61:37
    E o Pensamento Correto
    torna-se a base para a Fala Correta.
  • 61:41 - 61:46
    E então, a nossa fala torna-se
    mais suave, mais gentil, e as pessoas
  • 61:46 - 61:51
    gostam de estar connosco.
    Sentem-se inspiradas pelo que dizemos.
  • 61:53 - 62:01
    Se estivermos agarrados a uma ideia de verdade,
    e dizemos coisas duras, justificando:
  • 62:01 - 62:05
    “Estou apenas a dizer a verdade.” —
    já vi isso em mim e nos outros,
  • 62:06 - 62:10
    na comunidade.
    Mas há muitas formas
  • 62:10 - 62:14
    de expressar a verdade.
    Não existe só uma maneira.
  • 62:16 - 62:19
    Por isso, mesmo que vejamos
    algo como sendo verdadeiro,
  • 62:21 - 62:25
    como é que podemos
    ajudar alguém a ver isso,
  • 62:26 - 62:33
    especialmente quando está envolvido
    com perceções erradas?
  • 62:34 - 62:38
    Como é que podemos ajudá-lo
    a transformar a sua própria história,
  • 62:39 - 62:42
    a narrativa interna sobre si mesmo,
    para que possa
  • 62:44 - 62:47
    encontrar o seu próprio caminho
    fora dessa visão errada?
  • 62:49 - 62:52
    Isso é muito interessante.
    É agir com bondade. É esse o tipo de ação
  • 62:53 - 62:57
    de um Bodhisattva, como aprendemos já
    no Mahayana.
  • 62:58 - 63:04
    Portanto, isto é usar meios hábeis para
    transformar a situação,
  • 63:06 - 63:07
    mudar a narrativa.
  • 63:07 - 63:09
    Ou, como o Thay costumava dizer,
    mudar a cavilha.
  • 63:10 - 63:12
    Temos uma cavilha podre que está a segurar...
  • 63:23 - 63:30
    duas partes fundamentais da estrutura de madeira
    que sustenta uma casa.
  • 63:30 - 63:35
    Se tens ali uma cavilha podre,
    a forma de a tirar é ter uma nova,
  • 63:36 - 63:39
    uma boa cavilha, e um martelo.
    Colocas a nova cavilha e
  • 63:39 - 63:42
    vais batendo, expulsando a velha.
    E à medida que bates na velha cavilha,
  • 63:43 - 63:44
    vais inserindo a nova.
  • 63:45 - 63:48
    Isto é a prática da
    Fala Certa, Pensamento Certo.
  • 63:48 - 63:52
    Mudas a cavilha. Não expulsas simplesmente
    a cavilha podre e deixas
  • 63:52 - 63:59
    a casa desabar. Ao retirares
    a antiga, colocas logo a nova.
  • 64:00 - 64:05
    Isso é usar meios hábeis. Pensamento Certo,
    Fala Certa e Ação Certa.
  • 64:11 - 64:16
    Por vezes, as nossas ações corporais são gentis.
    Uma coisa que fazemos muitas vezes no mosteiro
  • 64:16 - 64:19
    é alguém oferecer-se para lavar
    a loiça de outra pessoa.
  • 64:20 - 64:22
    Tão bonito. E quase não exige
    mais energia.
  • 64:24 - 64:27
    Tens de ir lavar a tua loiça de qualquer forma,
  • 64:28 - 64:30
    e ao levares a tua para os baldes de lavagem,
  • 64:30 - 64:33
    lavas também a do outro.
  • 64:33 - 64:40
    A gentileza que projetas
    ao fazer esse gesto é imensurável.
  • 64:42 - 64:46
    Pequenas coisas, pequenas ações podem,
  • 64:47 - 64:50
    com muito pouco esforço,
    trazer grande benefício.
  • 64:51 - 64:55
    Mas se não tivermos esta base
    de Visão Correta e Fala Correta,
  • 64:56 - 64:58
    é muito difícil
    chegar ao ponto
  • 64:58 - 65:02
    em que conseguimos aproximar-nos e dizer:
    “Posso lavar a tua loiça por ti?”
  • 65:03 - 65:06
    E nem estamos a falar de coisas mais
    complexas e difíceis.
  • 65:07 - 65:10
    Como quando alguém está a passar
    por uma crise mental, e
  • 65:10 - 65:13
    dedicas o teu tempo, dia após dia,
    para estares com essa pessoa.
  • 65:13 - 65:18
    Ajudá-la a ultrapassar isso.
    Isso exige muito mais esforço
  • 65:19 - 65:24
    do que oferecer-se para lavar
    a loiça de alguém. Mas se não começares
  • 65:24 - 65:28
    por simples atos de bondade no dia a dia,
    é difícil chegares a esse lugar onde consegues
  • 65:28 - 65:31
    ajudar alguém nos seus momentos
    mais difíceis.
  • 65:32 - 65:40
    Portanto, a Ação Certa assenta nestes
    elementos anteriores: Fala Certa,
  • 65:40 - 65:42
    Pensamento Certo, Visão Correta.
  • 65:45 - 65:51
    Estas são quatro das componentes
    do Nobre Caminho Óctuplo.
  • 65:51 - 65:56
    Temos também, como já aprendemos,
    o Meio de Vida Correto, o Esforço Correto,
  • 65:58 - 66:02
    e depois a Atenção Plena Correta,
    que está envolvida em todos os aspetos do caminho.
  • 66:02 - 66:06
    A Concentração Correta, mantendo a estabilidade.
  • 66:06 - 66:10
    Manter a nossa atenção plena ao longo
    do tempo, sem nos perdermos
  • 66:10 - 66:12
    ou distrairmos.
  • 66:14 - 66:17
    A Compreensão Correta ou Visão Correta.
  • 66:17 - 66:24
    Estes são os elementos do Nobre Caminho Óctuplo,
  • 66:24 - 66:30
    e os Sete Fatores do Despertar,
    que são ensinados noutros contextos.
  • 66:31 - 66:33
    Não creio que os vá abordar hoje.
  • 66:35 - 66:40
    São, essencialmente, práticas
    de cultivo de uma experiência desperta
  • 66:41 - 66:44
    do momento presente, a cada momento.
  • 66:45 - 66:47
    Cultivar atenção plena,
  • 66:47 - 66:51
    investigação, energia ou esforço diligente,
  • 66:55 - 66:59
    alegria, paz, concentração e equanimidade.
  • 67:02 - 67:06
    E são práticas maravilhosas para
    cultivar na vida quotidiana.
  • 67:07 - 67:11
    E claro, vemos que a atenção plena
    está aqui — Satipatthana — a atenção plena
  • 67:12 - 67:16
    faz parte do Nobre Caminho Óctuplo
    e é também o primeiro dos
  • 67:17 - 67:19
    Sete Fatores do Despertar.
  • 67:19 - 67:21
    Muito interessante.
  • 67:22 - 67:26
    É por isso que colocamos tanta ênfase
    na atenção plena na tradição de Plum Village.
  • 67:27 - 67:34
    Todas as práticas mais ricas e saborosas
    do Budismo envolvem atenção plena.
  • 67:36 - 67:40
    E, como o Thay dizia,
    nunca se pode ter atenção plena a mais.
  • 67:41 - 67:43
    Portanto, podemos sempre
    cultivar mais atenção plena.
  • 67:44 - 67:47
    Ter mais consciência do que
    está a acontecer dentro de nós
  • 67:48 - 67:51
    e à nossa volta, no momento presente.
  • 67:54 - 67:58
    É assim que tomamos
    um banho no Budismo de Origem.
  • 68:00 - 68:02
    Praticando as Quatro
    Fundações da Atenção Plena.
  • 68:06 - 68:11
    Somos também uma tradição Mahayana,
    por isso praticamos
  • 68:13 - 68:17
    como estudantes na linhagem
    do Mestre Zen Linji, especificamente.
  • 68:19 - 68:22
    E claro, o Zen tem muitas
    práticas desenvolvidas também,
  • 68:23 - 68:27
    para além das do
    Budismo de Origem, como a prática do Koan,
  • 68:28 - 68:30
    ou Gong-an em chinês.
  • 68:36 - 68:39
    Há também frases mais curtas
    dentro dos koans,
  • 68:39 - 68:41
    fragmentos autónomos,
    chamados [fragmentos de koan],
  • 68:43 - 68:45
    que nos ajudam a
  • 68:49 - 68:53
    superar algumas das nossas aflições mentais
    e obstáculos.
  • 68:54 - 69:01
    Mantemos essa frase ou caso —
    um koan é muitas vezes traduzido como um caso —
  • 69:02 - 69:04
    histórias de coisas que aconteceram.
  • 69:04 - 69:08
    Mantemo-los para superar
    o nosso pensamento ilusório.
  • 69:09 - 69:12
    Mas, se não tivermos cuidado,
    essa prática do koan —
  • 69:12 - 69:17
    e falo por experiência, tendo praticado noutras
    tradições antes de vir para Plum Village —
  • 69:20 - 69:24
    se não houver cuidado, pode tornar-se
    apenas um exercício intelectual.
  • 69:26 - 69:29
    Se houver um bom professor,
    na minha experiência, o koan pode ser
  • 69:29 - 69:32
    muito útil para superar
    bloqueios mentais,
  • 69:33 - 69:36
    especialmente no cultivo da
    capacidade de largar.
  • 69:37 - 69:39
    Largar o pensamento conceptual.
  • 69:39 - 69:42
    Mas, se não tivermos atenção,
    pode conduzir a ainda mais pensamento conceptual.
  • 69:43 - 69:45
    E se olharmos para a
    tradição Zen,
  • 69:47 - 69:51
    os comentários sobre os koans e
    os fragmentos de koan enchem muitos volumes.
  • 69:54 - 69:55
    E,
  • 69:58 - 70:02
    o que o Thay percebeu, à medida que se aprofundava
  • 70:03 - 70:05
    nas tradições budistas,
  • 70:05 - 70:10
    foi que o Zen, durante muito tempo,
  • 70:11 - 70:15
    deixou de regressar
    ao Budismo de Origem para tomar banho.
  • 70:17 - 70:19
    Em parte por razões geográficas,
  • 70:20 - 70:24
    mas também por razões
    dogmáticas e ideológicas.
  • 70:27 - 70:30
    E, como ele teve uma experiência profunda
    de superação
  • 70:30 - 70:34
    da sua depressão
    causada pela guerra — a guerra
  • 70:34 - 70:38
    no Vietname —, assim como da morte da sua mãe,
  • 70:41 - 70:44
    através da prática destas
    práticas fundamentais:
  • 70:45 - 70:47
    as Fundações da Atenção Plena,
    a Atenção Plena à Respiração,
  • 70:48 - 70:53
    o Thay disse que a tradição budista
    como um todo tem também de fazer isso —
  • 70:53 - 70:57
    regressar e tomar um banho
    nestes ensinamentos iniciais,
  • 70:58 - 71:00
    para se renovar e refrescar.
  • 71:00 - 71:06
    Portanto, não abandonamos o Zen dos
    Patriarcas nem os ensinamentos do Mahayana,
  • 71:07 - 71:12
    que nos podem ajudar a viver
    também de forma iluminada,
  • 71:13 - 71:16
    a ajudar-nos a nós próprios e
    a ajudar os outros a despertar.
  • 71:19 - 71:21
    Mas nós, tal como alguém que,
  • 71:26 - 71:31
    num dia muito quente, quer simplesmente
    mergulhar num rio fresco e tomar banho,
  • 71:33 - 71:36
    não precisamos de dar
    uma grande justificação para o fazer.
  • 71:37 - 71:39
    Fazemo-lo porque
    sabe bem, é refrescante.
  • 71:39 - 71:44
    E é com esse espírito que podemos
    praticar o Mahayana
  • 71:44 - 71:49
    e, todos os dias, continuar a banhar-nos
    nessas águas frescas dos
  • 71:50 - 71:53
    ensinamentos do Budismo de Origem.
  • 71:54 - 72:01
    Plum Village herda também
    a sua linhagem da tradição da Terra Pura.
  • 72:04 - 72:11
    Quando somos jovens monges, e em
    muitos lugares da Ásia Oriental onde
  • 72:11 - 72:18
    a tradição da Terra Pura é ensinada,
    os jovens monges e monjas precisam de aprender e memorizar
  • 72:18 - 72:21
    por exemplo, o Sutra [Shirmagadi],
  • 72:22 - 72:24
    assim como o Sutra de Sukhavati.
  • 72:25 - 72:28
    Em Plum Village,
    não memorizamos os sutras.
  • 72:28 - 72:32
    Por vezes lemos excertos, mas
    se foste criado na tradição da Terra Pura,
  • 72:32 - 72:38
    como aspirante e jovem noviço,
  • 72:39 - 72:43
    tens de memorizar esses sutras em chinês clássico,
  • 72:44 - 72:50
    para os poderes entoar
    de cor, e o
  • 72:51 - 72:54
    ensinamento da Terra Pura, na tradição de Plum Village,
  • 72:55 - 72:57
    é que a Terra Pura está aqui e agora.
  • 72:57 - 73:04
    Não precisamos de esperar até morrer
    e recitar o nome do Buda
  • 73:05 - 73:09
    para renascer na
    terra do Buda Amitabha.
  • 73:10 - 73:15
    Podemos experienciar a Terra Pura
    do Buda Amitabha aqui mesmo, agora mesmo.
  • 73:16 - 73:20
    O ensinamento profundo
    da Terra Pura é que
  • 73:20 - 73:23
    essa Terra está presente
    na nossa própria consciência.
  • 73:23 - 73:26
    É a forma como olhamos para o mundo e
    como o experienciamos que cria a Terra Pura
  • 73:26 - 73:31
    ou que cria um inferno.
    Por isso, quando cantamos
  • 73:32 - 73:37
    a canção "Aqui é a Terra Pura,
    a Terra Pura está aqui", e eu gosto muito
  • 73:38 - 73:40
    de cantar essa canção, porque é
    um ensinamento profundo,
  • 73:42 - 73:46
    é transformador, vai
    ao fundo da transformação
  • 73:47 - 73:49
    de toda a tradição da Terra Pura,
  • 73:50 - 73:55
    que é reconhecer que a verdadeira
    Terra Pura está aqui e agora,
  • 73:56 - 74:00
    e que tudo depende da forma como vemos.
    Vemos o Buda numa folha de outono,
  • 74:01 - 74:06
    e reconhecemos que Amitabha
    já está presente nessa folha.
  • 74:10 - 74:13
    O Dharma é uma nuvem flutuante.
    Vemos a impermanência,
  • 74:13 - 74:15
    a natureza de não-eu dessa nuvem.
  • 74:15 - 74:19
    Olhamos, e recebemos o Dharma,
    o ensinamento, diretamente.
  • 74:24 - 74:26
    E vemos o corpo da sangha em todo o lado.
  • 74:27 - 74:30
    Assim, a nossa verdadeira casa está aqui,
  • 74:30 - 74:34
    não precisamos de a procurar
    noutro lugar.
  • 74:35 - 74:39
    Portanto, a tradição da Terra Pura — é assim que
    o Thay ajudou a trazer a tradição da Terra Pura
  • 74:40 - 74:43
    para tomar banho nos
    ensinamentos do Budismo de Origem.
  • 74:49 - 74:54
    E o mesmo se aplica à tradição do Mantrayana.
  • 74:56 - 74:57
    No Vietname, também existe
    a prática de recitação de mantras.
  • 74:58 - 75:01
    Quando o Thay regressou ao Vietname em 2007,
  • 75:04 - 75:10
    foram organizadas três cerimónias
    fúnebres em massa para honrar
  • 75:10 - 75:15
    e também transformar o sofrimento
    dos que morreram na guerra —
  • 75:16 - 75:20
    no Norte, no Sul e também os americanos.
    E isso foi muito
  • 75:21 - 75:29
    controverso no Vietname. Muitas pessoas
    perguntaram ao Thay:
  • 75:30 - 75:33
    “Thay, estás a organizar estas cerimónias
    com três dias de recitação de mantras
  • 75:34 - 75:36
    e rituais complexos —
  • 75:38 - 75:41
    estás a abandonar os ensinamentos
    de Plum Village?
  • 75:42 - 75:47
    Pensávamos que eras só sobre
    atenção plena, concentração e
  • 75:47 - 75:51
    compreensão. Por que estás
    a recitar mantras?” E o Thay respondeu:
  • 75:53 - 75:56
    “Quando recitamos um mantra com
    atenção plena, podemos gerar
  • 75:57 - 75:59
    transformação e cura.
  • 76:00 - 76:02
    Não é o mantra em si, é como o recitamos.”
  • 76:04 - 76:10
    E, para tocar a consciência
    coletiva do Vietname,
  • 76:10 - 76:15
    para gerar o tipo de cura
    que era necessária para superar
  • 76:15 - 76:18
    o sofrimento de
  • 76:19 - 76:24
    todos esses amigos
    desaparecidos — soldados, famílias —
  • 76:26 - 76:28
    cujos túmulos nunca foram assinalados,
  • 76:28 - 76:32
    cujas mortes nunca foram
    verdadeiramente honradas de forma adequada,
  • 76:33 - 76:35
    o Thay teve de recorrer à
    energia coletiva desta prática
  • 76:36 - 76:38
    do Mantrayana durante esses três dias —
  • 76:39 - 76:41
    a cerimónia mais elaborada
    do Leste Asiático,
  • 76:42 - 76:46
    o Badrayana
  • 76:49 - 76:53
    para que a atenção plena
    na recitação dos mantras e a participação
  • 76:54 - 76:57
    nas cerimónias gerasse
    uma transformação coletiva.
  • 76:58 - 77:03
    Então, essa é a prática do Thay de também integrar
    a prática do Mantrayana,
  • 77:04 - 77:08
    a prática do Badarayana, e de se
    banhar no Budismo da Fonte.
  • 77:08 - 77:12
    Trazer atenção plena ao
    canto. Atenção plena à
  • 77:12 - 77:17
    cerimónia — isso é o que traz
    a eficácia e a transformação.
  • 77:20 - 77:29
    Então, o ponto principal deste Princípio,
    para que possamos compreender a
  • 77:29 - 77:34
    base da prática em Plum Village, é que
    não rejeitamos nada.
  • 77:40 - 77:44
    O Budismo não tem
    um movimento protestante.
  • 77:48 - 77:50
    Somos muito
  • 77:50 - 77:55
    cuidadosos ao longo dos séculos
    para não ficar presos ao dogma.
  • 77:56 - 77:57
    Claro que isso acontece,
  • 77:58 - 78:01
    mas, felizmente, está integrado
    no Budismo a libertação
  • 78:01 - 78:04
    da ideologia, de ficar
    preso a uma ideologia ou dogma.
  • 78:05 - 78:07
    E assim,
  • 78:12 - 78:16
    não nos tornamos violentos em relação às
    ideologias ou dogmas.
  • 78:17 - 78:22
    Honramos as tradições. Assim,
    aprendemos a recorrer à prática para trazer
  • 78:23 - 78:26
    uma transformação coletiva e
    cura. Quando percebemos que a tradição
  • 78:27 - 78:32
    ficou um pouco presa, surge
    uma energia renovadora,
  • 78:33 - 78:38
    e por isso usamos a nossa própria intuição.
    Por isso não podemos ficar presos apenas
  • 78:38 - 78:41
    à forma da prática, porque
    então ficamos presos e
  • 78:41 - 78:43
    apegados à forma.
  • 78:44 - 78:47
    Ao aprofundar na
    tradição, podemos promover
  • 78:47 - 78:52
    a transformação. Esse é
    o espírito da prática em Plum Village.
  • 78:52 - 78:57
    E o Thay disse, contou a um dos meus
    irmãos mais velhos, que se estivermos
  • 78:58 - 79:03
    a praticar exatamente da mesma forma daqui a
    50 anos, então o Thay não
  • 79:03 - 79:07
    nos ensinou muito bem.
    Não estamos a honrar o caminho do Thay.
  • 79:08 - 79:12
    Por isso também temos que usar a nossa intuição
    para conseguir trazer novas
  • 79:14 - 79:22
    transformações à tradição. E
    não é fácil, porque sinto que o Thay
  • 79:22 - 79:27
    fez um trabalho incrível em
    tantos aspetos, renovando as
  • 79:27 - 79:30
    tradições budistas, mas precisamos mesmo
  • 79:30 - 79:32
    de aplicar isso na nossa vida,
    e ver
  • 79:32 - 79:39
    se são adequadas. Porque o Thay quer
    que continuemos e aprofundemos as nossas perceções,
  • 79:40 - 79:45
    trazendo novos insights até mesmo
    sobre o que o Thay já viu
  • 79:46 - 79:48
    na sua própria prática
  • 79:48 - 79:52
    e na vida da comunidade.
    Esse é o ponto principal.
  • 79:52 - 79:54
    Não rejeitamos nada.
  • 79:57 - 80:04
    Gosto muito deste Princípio e da
    abordagem do Thay ao Budismo.
  • 80:04 - 80:07
    Não cortamos nenhuma parte dos
    ensinamentos budistas, estamos simplesmente
  • 80:08 - 80:11
    a regressar alegremente e a tomar
    um banho nos ensinamentos originais,
  • 80:11 - 80:18
    para que possamos renovar a intenção
    e o propósito originais, assim como
  • 80:18 - 80:26
    o Mahayana, o Zen, a Terra Pura e os ensinamentos
    do Mantrayana.
  • 80:29 - 80:31
    Está bem. Já passei um pouco do tempo.
    Obrigado, irmãos.
  • 80:38 - 80:40
    Muito alegre.
  • 80:42 - 80:45
    Desfrutem os três sons
    do sino.
  • 81:03 - 81:04
    [Sino]
  • 81:31 - 81:33
    [Sino]
  • 81:57 - 82:00
    [Sino]
Title:
(Class #37) Source Buddhism
Description:

more » « less
Video Language:
English
Duration:
01:22:50

Portuguese subtitles

Revisions Compare revisions