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Title:
Os segredos da mente e do livre-arbítrio, revelados por truques de magia
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Description:
Vocês controlam as vossas escolhas? Os truques de magia podem dizer o contrário, afirma a cientista e ilusionista Alice Pailhès. Observem com atenção, enquanto ela realiza truques de magia que revelam como funciona o vosso cérebro, como pode ser subtilmente influenciado e o que isso significa para o livre-arbítrio e o seu dia-a-dia. Ela adivinhou a vossa carta?
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Speaker:
Alice Pailhès
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Muito bem.
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Gostava de começar com
um pequeno exercício de imaginação.
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Imaginem que estão sentados
aqui nesta mesa, à minha frente.
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Vou pedir que empurrem
uma destas cartas na minha direção.
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Por favor imaginem-se a empurrar
uma destas cartas para mim.
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Muito bem. Vejam o número relativo
à carta que empurraram
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e lembrem-se dele, porque
é importante para mais tarde.
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Agora vou mostrar
as cartas deste baralho
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e pedir-vos que escolham
uma das cartas que virem no baralho.
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Estão prontos?
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Muito bem, agora que têm
a vossa carta em mente,
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somem o valor dessa carta
ao número anterior.
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Por exemplo, se escolheram
o seis de paus, adicionem seis,
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se for um Ás, somem um
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e somem 11 para qualquer
carta com imagens.
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Já têm o número final em mente?
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Perfeito.
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Então, por favor, vejam o item
que corresponde ao vosso número final.
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Então, a piada está aqui.
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Haverá muitas pessoas a ver este vídeo
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e todas têm peculiaridades
diferentes com preferências distintas.
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Porém,
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a grande maioria de vocês
está a pensar no quivi,
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ou, se forem canhotos,
provavelmente, na espiga de milho.
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Sim, acabei por vos enganar.
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E usei as vossas tendências psicológicas
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para influenciar as vossas duas decisões.
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Eu trabalho no MAGIC Lab
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na Universidade Goldsmiths de Londres,
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que não é apenas um lugar
onde fazemos desaparecer os assistentes,
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mas onde usamos truques de magia
para estudar processos psicológicos,
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tais como a atenção, a perceção,
o engano e o livre-arbítrio.
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Fascinam-me os fatores subtis
que influenciam as nossas escolhas
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e como a compreensão dos nossos defeitos
pode devolver-nos algum poder.
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Os truques de magia proporcionam-nos
uma poderosa ferramenta de investigação
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e as nossas experiências
têm-no demonstrado.
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Primeiro: nós, os humanos, costumamos
fazer as escolhas mais fáceis.
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No truque de cartas que fiz,
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a maioria das pessoas costuma escolher
a carta que quero que escolham,
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porque eu apresento-a durante
mais tempo que as outras.
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E ela torna-se a opção
mais fácil para o cérebro.
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No nosso caso,
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a maioria de vocês provavelmente
escolheu o dez de copas, certo?
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E muitos outros truques
baseiam-se nesse princípio
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da escolha fácil.
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Porque os mágicos sabem muito bem
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que o nosso cérebro, para não dizer "nós",
costuma ser um pouco preguiçoso.
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O exercício que fizemos com as quatro
cartas também é um bom exemplo disso.
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É baseado noutro truque que investiguei,
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no qual peço aos participantes
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que empurrem uma das 4 cartas
na minha direção.
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Descobrimos que
cerca de 60 % das pessoas
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escolhem a terceira carta à esquerda,
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e, se forem canhotos,
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normalmente escolhem
a segunda carta, a partir da esquerda.
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Isto também se baseia
no princípio da escolha mais fácil,
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porque a carta
que a maioria das pessoas escolhe
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é a mais fácil de alcançar
com a mão dominante.
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Então, eu sabia que a maioria de vocês
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acabaria por escolher
um destes dois números
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e isso permitiu-me calcular
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as duas opções mais prováveis
que acabariam por escolher.
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Mas isto não é apenas sobre magia.
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Também é sobre como somos
influenciados no nosso dia-a-dia.
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Vocês sabem, histórias e políticos
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também estão sempre a brincar
com a nossa mente
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porque eles também sabem
que temos a tendência de escolher e gostar
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do que é mais fácil de alcançar ou ver.
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Por exemplo, quando estão numa loja
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a escolher um vinho
ou um pacote de arroz,
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entre os vários artigos
nas prateleiras verticais,
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o vosso primeiro instinto é olhar apenas
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para os que estão nas prateleiras
à altura dos olhos, não é?
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É mais fácil e necessita de menos esforço.
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Sabiam que várias marcas negoceiam
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para ficarem à altura dos olhos nas lojas
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por causa do princípio
da escolha fácil?
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Esta é uma tática
que muitos políticos usam.
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Quando a informação está mesmo à frente
dos nossos olhos nas redes sociais,
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podemos aceder-lhe com facilidade
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e sem dúvida que afeta
o nosso comportamento eleitoral.
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Resultados políticos,
como o referendo sobre o Brexit
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ou as eleições de 2016 nos EUA
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foram fortemente influenciados
por propaganda direcionada,
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dando a algumas informações,
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não necessariamente verdadeiras,
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um acesso fácil desproporcionado
e visível a audiências específicas
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para influenciar os votos.
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Mas estas são as boas notícias:
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Alguns fatores simples têm um impacto
sobre o quanto somos influenciáveis.
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Numa experiência com o truque
das quatro cartas
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descobrimos que informar
claramente os participantes
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que têm uma escolha
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pode levá-los a tomar decisões
de maneira mais deliberada,
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comparando com comportarmo-nos
da forma que queremos que eles ajam.
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ou pedia aos participantes
que empurrassem uma das cartas
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ou dizia:
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"Escolha uma carta e depois empurre-a."
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Quando lhes pedia
que escolhessem uma carta
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a quantidade de pessoas que
escolhiam a mais fácil de alcançar
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descia de 60 para 35 %.
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Parece que, quando nos lembram
que controlamos as nossas escolhas
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e que as nossas ações têm importância,
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ao contrário de agir sem pensar,
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nós fazemos escolhas mais pessoais
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e menos influenciadas.
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Vou mostrar-vos outro truque,
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inventado pelo mentalista
britânico Derren Brown
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para ilustrar a minha ideia.
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Esse truque usa o que chamamos
de efeito "priming" na psicologia.
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O efeito "priming" acontece
quando a exposição a algo
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influencia os nossos pensamentos
e comportamentos mais tarde,
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sem nos apercebermos
de que o objetivo é manipular-nos.
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O truque costuma ser feito
num ambiente mais íntimo,
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em que eu estaria à vossa frente
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mas podemos tentar juntos.
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Concentrem-se em mim o melhor possível,
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mas não deixem que eu influencie
a vossa escolha.
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Vou tentar transmitir-vos
mentalmente o número de uma carta
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em que estou a pensar.
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Estão prontos?
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Primeiro, vamos tornar
a cor brilhante e vibrante.
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Imaginem um ecrã na vossa mente
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e, no ecrã, imaginem os pequenos números
nos cantos inferiores das cartas
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e nos cantos superiores.
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Depois, as coisas no meio,
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no centro das cartas,
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o bum, bum, bum, os naipes.
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Conseguiram?
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Então, vou apostar que a maioria de vocês
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pensou no três de ouros,
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mas escolheu outra carta, certo?
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Como devem ter notado,
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eu tentei fortemente influenciar
a vossa escolha com os meus gestos,
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enquanto vos dei as instruções.
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Ao estudar este truque,
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descobrimos que cerca de 18 %
das pessoas escolheu o três de ouros,
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e aproximadamente 40 % escolheu
o três de qualquer naipe,
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sem sequer desconfiar de que
os estava a manipular.
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Mas o que aconteceu aqui?
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Como estavam conscientes
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de que eu queria influenciar
a sua escolha,
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provavelmente prestaram
mais atenção ao que eu fazia.
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E isso levou a maioria de vocês
a escolher mais conscientemente
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que os nossos participantes,
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que não sabem quem eu sou,
o que eu estudo
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ou o que quero fazer com a sua mente.
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Então, a questão é que,
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em todas as nossas experiências,
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conseguimos influenciar bastante
as escolhas de cartas das pessoas,
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embora digam que se sentem livres
e a controlar as suas escolhas.
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E essa falta de consciência individual
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torna políticos, empresas
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e a influência de outras pessoas
ainda mais poderosa,
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porque podemos até pensar
que controlamos as escolhas e crenças,
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mas não controlamos.
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Na política ou nos nossos
hábitos de consumo,
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se não prestarmos atenção,
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os conteúdos erróneo ou anúncios
apelativos podem enganar a nossa mente.
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E se, no nosso dia a dia,
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parássemos mais frequentemente
e fizéssemos escolhas conscientes
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antes de agirmos de acordo com
o animal impulsivo e reativo interior?
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Nós podemos, de facto,
agir mais conscientemente
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se não nos esquecermos
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que temos a capacidade
de sermos influenciados.
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