A minha vida é a minha mensagem | Bento Amaral | TEDxPorto
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0:07 - 0:09Olá, boa tarde.
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0:09 - 0:11Eu venho-vos falar de felicidade.
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0:12 - 0:15Mas da felicidade em momentos de crise.
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0:15 - 0:18Uma felicidade que tem de ser reinventada
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0:18 - 0:21porque o futuro não vai ser
o que nós pensamos. -
0:23 - 0:28O meu presente é muito diferente do que
eu pensava que iria ser o meu futuro. -
0:29 - 0:30Ops.
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0:39 - 0:43Em agosto de 1994,
a fazer uma carreirinha, -
0:43 - 0:44a apanhar boleia com uma onda,
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0:44 - 0:46bati com a cabeça no fundo.
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0:46 - 0:50Era um fundo de areia
e eu era um nadador experimentado. -
0:50 - 0:53Fiquei tetraplégico,
mais ou menos como estou hoje. -
0:54 - 0:56Essa onda levou-me a minha mobilidade
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0:56 - 0:59mas levou-me também
o que eram os meus sonhos, na altura. -
0:59 - 1:01Os meus sonhos na altura
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1:01 - 1:03— estava a acabar o curso
de Engenharia Alimentar — -
1:03 - 1:08era ir fazer vinho para a Austrália
e andar a conhecer o mundo a fazer vinho. -
1:08 - 1:12Portanto ia para a Austrália, depois
para os EUA, Chile e por aí fora. -
1:12 - 1:15Essa onda levou-me esses sonhos.
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1:15 - 1:18Se tivesse como sonho casar-me
— que não era um grande sonho na altura — -
1:18 - 1:20também mo teria levado.
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1:21 - 1:25Portanto, estive internado
no hospital durante seis meses. -
1:26 - 1:28Depois de seis meses no hospital,
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1:28 - 1:31tive duas grandes preocupações.
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1:33 - 1:37A minha integração social.
O que é que isto quer dizer? -
1:37 - 1:41Estava numa nova situação física,
estava numa cadeira de rodas. -
1:41 - 1:45Como devem imaginar, ninguém
gosta de se ver numa cadeira de rodas. -
1:46 - 1:51E tive de aprender a viver,
a vir para cá para fora -
1:51 - 1:55e a aceitar os olhares
das outras pessoas para mim. -
1:55 - 1:57E a saber conviver com isso.
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1:57 - 2:00E compreender que,
se houvesse algum problema, -
2:00 - 2:02era no olhar das pessoas e não em mim.
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2:04 - 2:06Depois... ops.
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2:13 - 2:18Estava eu a dizer que também
outra preocupação minha... -
2:22 - 2:25... foi com a minha
integração profissional. -
2:26 - 2:31Não se falava de "geração à rasca",
eu não sabia sequer que estava à rasca, -
2:31 - 2:34mas tive que me desenrascar.
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2:34 - 2:40Durante dois anos, pouco fiz,
apesar de vontade ter. -
2:40 - 2:43Fazia umas provas de vinhos
— que era o que eu queria — com amigos. -
2:43 - 2:46E umas pequenas provas na faculdade.
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2:46 - 2:51O meu primeiro emprego, curiosamente,
foi a trabalhar para a Microsoft, -
2:51 - 2:55através de uma empresa que se chama
Telemanutenção, com computadores. -
2:55 - 2:59Uma área completamente diferente
da minha, mas onde me realizei. -
2:59 - 3:05Era um grupo só de pessoas deficientes,
e com elas aprendi bastante. -
3:05 - 3:08Também, por exemplo, a escrever
como escrevo hoje em dia. -
3:09 - 3:14Mais tarde, isto em 1999
— cinco anos depois do acidente — -
3:15 - 3:21finalmente sim, aí apareceram até mais
do que um, dois empregos dos meus sonhos. -
3:22 - 3:25Sou provador de vinhos.
Para mim, isto é uma realização. -
3:25 - 3:28Eu digo sempre que sou provador,
não sou bebedor. -
3:28 - 3:29Também bebo, naturalmente,
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3:29 - 3:32mas tenho de deitar fora,
num dia de trabalho. -
3:32 - 3:34(Risos)
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3:34 - 3:36Não posso levar nada para casa.
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3:36 - 3:37(Risos).
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3:37 - 3:39Bem, mas estava a dizer,
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3:39 - 3:42sou provador de vinhos no Instituto
dos Vinhos do Douro e do Porto. -
3:42 - 3:46Tenho uma equipa, provo à volta
de 8000 vinhos do Porto e do Douro -
3:46 - 3:47e depois, de vez em quando,
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3:47 - 3:53ainda tenho o privilégio de provar outros
vinhos e para mim é uma grande paixão. -
3:53 - 3:56Além disso, também dou aulas,
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3:56 - 3:58pós-graduações de Enologia
e Marketing de Vinhos. -
3:58 - 4:01Também da parte de prova de vinhos.
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4:01 - 4:04Para mim isto tudo é mais, até,
prazer do que trabalho. -
4:04 - 4:07Tenho a sorte de me pagarem,
porque não sabiam que faria isto de borla. -
4:07 - 4:08(Risos)
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4:08 - 4:10Não digam isto a ninguém.
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4:10 - 4:11(Risos)
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4:15 - 4:22Na altura em que tive o acidente,
era um desportista, tinha 25 anos. -
4:23 - 4:28E tinha vindo de Bordéus, dum Erasmus,
há quatro ou cinco meses, -
4:28 - 4:31onde tinha começado a fazer esqui na neve.
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4:33 - 4:36E lembro-me bem dos meus
primeiros pensamentos que tive, -
4:37 - 4:41foi que nunca mais
vou conseguir fazer esqui na neve, -
4:41 - 4:45e pensar: “Tenho pena, é uma coisa
que nunca mais vou fazer." -
4:45 - 4:51Curiosamente, foi o primeiro desporto
que fiz, depois de ter tido o acidente. -
4:53 - 4:56Como é que se faz esqui numa cadeira?
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4:56 - 5:02Portanto, a cadeira em vez de ter rodas,
tem dois esquis no centro. -
5:02 - 5:08Funciona como quando se vai a descer
uma encosta íngreme de bicicleta. -
5:09 - 5:12Inclinamo-nos para um lado,
a cadeira vira para esse lado. -
5:12 - 5:15Inclinamo-nos para o outro,
a cadeira vira para o outro. -
5:15 - 5:17Se nos inclinamos demais, caímos.
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5:17 - 5:18(Risos)
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5:18 - 5:20Nada de grave.
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5:20 - 5:27Aconteceu que num ano, em 2000,
fui fazer esqui para La Plaine, nos Alpes. -
5:27 - 5:31Dois anos antes, tinha havido
lá os Jogos Olímpicos. -
5:31 - 5:34E havia uma pista
onde se media a velocidade. -
5:35 - 5:40Depois de o meu instrutor insistir,
3 ou 4 dias seguidos, -
5:40 - 5:43para irmos fazer essa pista
e medir a velocidade, e eu dizer que não, -
5:43 - 5:47acabei por ir praticamente arrastado
para o cimo dessa pista. -
5:48 - 5:54Descemos a pista, e batemos o recorde
do mundo de velocidade para deficientes, -
5:54 - 5:57para esqui adaptado, 120 km/hora.
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5:57 - 6:00(Aplausos)
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6:05 - 6:07É um recorde oficioso.
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6:07 - 6:09Para mim é uma memória,
é uma história para contar aqui, -
6:09 - 6:13mais do que propriamente uma coisa
de que me orgulhe por aí além. -
6:13 - 6:14(Risos)
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6:16 - 6:21Mas o meu desporto de eleição,
e tinha feito durante 14 anos, era a vela. -
6:24 - 6:29Com toda a parafernália
que a vela tem e exige, -
6:29 - 6:32pensei que nunca seria possível fazer.
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6:32 - 6:36Curiosamente, num fim de semana
que acabou por trazer muita emoção, -
6:36 - 6:39— o meu irmão casava-se no sábado —
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6:39 - 6:42a importância da minha família
e dos meus amigos foi fundamental -
6:42 - 6:45para a minha reabilitação
e para a minha motivação. -
6:46 - 6:49Portanto, esse dia foi emocionante,
o casamento do meu irmão. -
6:49 - 6:54No dia a seguir, tinha cá, no Porto,
um casal de australianos -
6:54 - 7:00com um barco comandado com um "joystick"
para comandar as velas e o leme. -
7:00 - 7:04Foi uma sensação de liberdade
e de autonomia que sinto na água -
7:04 - 7:07que não consigo sentir em terra.
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7:08 - 7:13Porque na água acabo por conseguir velejar
como qualquer outra pessoa. -
7:13 - 7:17Esta fotografia é de um barco diferente.
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7:18 - 7:23Em 2004, depois de alguns anos a treinar,
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7:24 - 7:27surgiu a oportunidade de ir...
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7:29 - 7:32fazer um campeonato do mundo à Austrália.
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7:33 - 7:35Vejam o humor irónico da minha vida.
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7:35 - 7:38A minha ideia era ir
fazer vinho para a Austrália, -
7:38 - 7:42e acabo por ir à Austrália
porque sou deficiente, a fazer vela. -
7:42 - 7:45Portanto, acabei por conseguir
esses meus objetivos. -
7:45 - 7:48Vou à Austrália e vou com uma
gastroenterite, bastante debilitado. -
7:48 - 7:53Na altura, em meio ano perdi 30 quilos,
que não me fez mal nenhum. -
7:53 - 7:54Entretanto, já ganhei 10.
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7:54 - 7:56(Risos).
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7:56 - 7:58Espero não precisar de
outra gastroenterite para ir ao sítio. -
7:58 - 8:00(Risos)
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8:00 - 8:07Mas, estava eu a dizer, nesse campeonato
do mundo, estava um bocado apreensivo -
8:07 - 8:10sobre como ia correr
e só não queria era ficar em último -
8:10 - 8:15porque pensava, isto é uma vergonha,
ficar em último, eu que já fiz vela. -
8:15 - 8:18As coisas correram bem
e fui vice-campeão do mundo. -
8:19 - 8:21No ano a seguir...
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8:21 - 8:23(Aplausos)
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8:26 - 8:29No ano a seguir
ganhei o campeonato do mundo. -
8:30 - 8:33Depois... não batam palmas
senão cortam-me no tempo. -
8:33 - 8:36(Risos)
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8:36 - 8:40No ano a seguir, fui campeão do mundo
e depois quis ir aos Jogos Paraolímpicos. -
8:41 - 8:46Para isso, tive de ir aos EUA,
a Singapura e, finalmente, a Pequim. -
8:46 - 8:49As coisas não correram tão bem
como o que queríamos, -
8:49 - 8:53mas de qualquer das maneiras,
todas as recordações que tenho da vela, -
8:53 - 8:58acima de tudo foi mais das culturas
que conheci, as experiências que troquei, -
8:58 - 9:00mais do que propriamente dos títulos.
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9:00 - 9:04Eu acho que isso é que me enriqueceu
e é isso que faz parte de mim. -
9:05 - 9:10E agora, a este capítulo chamo Carmo.
Carmo é a minha mulher. -
9:11 - 9:17Mas também deveriam estar aqui
os amigos, a família, os irmãos, -
9:17 - 9:22todas as pessoas que me acompanharam
e que me apoiaram e que me motivaram -
9:22 - 9:25para eu ser e conseguir
ser quem eu sou hoje em dia. -
9:26 - 9:29Falo da Carmo em especial pelo seguinte:
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9:29 - 9:33porque os meus amigos e a minha família,
de uma maneira geral, -
9:33 - 9:37se depararam com uma situação,
e ajudaram-me, o que já foi ótimo, -
9:37 - 9:39porque me podiam ter posto de lado.
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9:39 - 9:45A Carmo entrou numa situação delicada
e difícil, por amor e por vontade própria. -
9:45 - 9:48Fica aqui a minha admiração
para a minha mulher, para a minha família, -
9:48 - 9:50e para todos os meus amigos.
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9:50 - 9:53(Aplausos)
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9:58 - 10:00Isto começa a ficar quente.
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10:00 - 10:01(Risos)
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10:01 - 10:03Falo da Carmo, baixam as luzes
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10:03 - 10:04e aparece a primeira noite...
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10:05 - 10:07(Risos)
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10:07 - 10:09... mas não é essa.
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10:09 - 10:11(Risos)
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10:12 - 10:15A primeira noite de que vos vou falar
nem é a primeira noite, -
10:15 - 10:17é a seguir ao acidente.
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10:19 - 10:23A primeira noite passei-a provavelmente
drogado, anestesiado, não me lembro. -
10:23 - 10:29O primeiro dia, passei entretido
a olhar para os outros doentes, -
10:29 - 10:34passei entretido a olhar para os médicos,
para os enfermeiros a trabalhar. -
10:34 - 10:37Na noite a seguir é que foi complicado.
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10:37 - 10:43Foi a noite... foi o tempo em que tive
consciência da situação em que estava, -
10:43 - 10:46e que perguntei a mim:
O que é que vai ser de mim? -
10:47 - 10:49E agora? O que é que eu vou fazer?
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10:52 - 10:55Durante esse tempo, passaram-me
umas imagens que vos vou passar agora. -
10:55 - 10:58Não vou pôr exatamente estas,
com direitos de autor -
11:00 - 11:03— e que me fizeram pensar.
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11:05 - 11:11Se eu nunca pus em causa o equilíbrio
do mundo, a justiça ou a falta dela, -
11:12 - 11:16quando sei que há
tanta gente a sofrer e sofreu, -
11:16 - 11:19porque é que há de ser diferente
agora que o sofrimento é meu? -
11:19 - 11:22Eu sou diferente de qualquer outra pessoa?
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11:23 - 11:24Eu não mereço sofrer?
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11:24 - 11:27Ou... estarei isento do sofrimento?
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11:28 - 11:31Não me parece, é a minha opinião.
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11:33 - 11:35Ainda nessa noite pensei:
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11:35 - 11:41"Vou tentar reagir e fazer o melhor
com a minha vida." -
11:41 - 11:46E foi isso que tentei.
E então passei para a felicidade. -
11:48 - 11:52A felicidade tem sempre
um aspeto dourado. -
11:54 - 11:59Pode ser mesmo da riqueza,
ou do poder, ou da beleza; -
11:59 - 12:01provavelmente para a semana,
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12:01 - 12:04para muita gente, na forma do iPad 2.
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12:04 - 12:07(Risos)
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12:07 - 12:09Para mim a felicidade...
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12:12 - 12:15aprendi um pouco mais
o que poderia ser a felicidade -
12:15 - 12:17através de um episódio que vos vou contar.
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12:18 - 12:20Num dia em que estava a fazer fisioterapia
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12:21 - 12:24— eu deveria até continuar
a fazer fisioterapia mas não tenho feito — -
12:24 - 12:28Num dia em que estava a fazer fisioterapia
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12:28 - 12:32estava ao meu lado, deitado, um amigo meu,
que a fazia com alguma regularidade. -
12:32 - 12:36Estávamos a falar daquelas coisas
que fazemos no dia-a-dia: -
12:36 - 12:40"Então como é que vais? Onde
foste ontem à noite?" e por aí fora. -
12:40 - 12:44Bem, este meu amigo tem mais mobilidade
do que o que eu tenho. -
12:44 - 12:49Consegue mexer bem os braços, e com isso
consegue passar da cadeira para o carro, -
12:49 - 12:53consegue até guiar,
com a ajuda duns equipamentos, -
12:53 - 12:55consegue tomar banho sozinho,
que eu não consigo, -
12:55 - 12:57vira-se durante a noite sozinho,
eu não consigo -
12:57 - 13:01— é a minha mulher que me vira
duas vezes por noite — e por aí fora. -
13:01 - 13:04Portanto. tinha o que eu queria ter.
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13:05 - 13:10A dada altura aparece uma terceira pessoa
com uma lesão ainda mais baixa, -
13:10 - 13:16e que consegue dar uns passos com
a ajuda de um equipamento, uns aparelhos. -
13:16 - 13:21Esta pessoa, que estava sentada
ao meu lado, -
13:21 - 13:24vira-se para mim e diz:
"Quem me dera estar como ele." -
13:24 - 13:27E eu pensei: "Que grande lata,
que falta de sensibilidade." -
13:27 - 13:30(Risos)
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13:30 - 13:33Então vem-me dizer isto a mim?
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13:33 - 13:34(Risos)
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13:34 - 13:36E eu que queria era ficar como ele está.
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13:36 - 13:38(Risos)
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13:39 - 13:42E eu fiquei a pensar naquilo
durante muito tempo. -
13:43 - 13:45Hoje em dia vejo as coisas
de maneira diferente. -
13:45 - 13:49Eu penso, eu se estivesse na cabeça dele
diria exatamente a mesma coisa. -
13:49 - 13:55E se estivesse na cabeça do que
estava a dar uns passos com os aparelhos, -
13:55 - 14:01estava a pensar: "Quem me dera era estar
como o futebolista com o joelho lesionado -
14:01 - 14:03"que estava ali a fazer fisioterapia."
-
14:03 - 14:06E o futebolista com o joelho lesionado,
a fazer fisioterapia, -
14:06 - 14:10estava a pensar: "Estou tramado,
estou com a época lixada." -
14:11 - 14:15Mas portanto, na realidade,
a conclusão a que eu chego -
14:16 - 14:22é que estamos a pôr a felicidade
sempre em coisas que não temos. -
14:22 - 14:24Estamos a adiar a nossa felicidade.
-
14:24 - 14:30Quando o que me parece é que devemos
saber ser felizes agora e como estamos. -
14:31 - 14:36Eu acabo por pedir só mais 30 segundos
extra aqui à organização, -
14:36 - 14:43com este último "slide" que é, se pudesse
voltar ao dia do acidente, o que faria? -
14:44 - 14:47Esta é uma pergunta
que me fazem com regularidade. -
14:48 - 14:51E eu só dou graças a Deus
por não poder voltar ao dia do acidente. -
14:52 - 14:55Porque provavelmente
poderia tomar a decisão errada. -
14:56 - 14:58Compreendem que...
-
15:00 - 15:05a minha vida tem sido
bastante rica, depois do acidente, -
15:06 - 15:10que aprendi muito,
que me sinto uma pessoa diferente -
15:11 - 15:13e mais ligada às outras pessoas.
-
15:14 - 15:18Que provavelmente se pudesse
estalar os dedos agora e ficar bom, -
15:20 - 15:24que não gostaria de apagar a experiência
que tinha tido para trás. -
15:25 - 15:30Então, porque é que eu acho
que daqui para a frente -
15:30 - 15:35a minha experiência numa cadeira de rodas
não será melhor do que andar, -
15:35 - 15:40se nos últimos 16 anos
me parece que isso aconteceu? -
15:40 - 15:44É uma reflexão, é uma pergunta
que eu não sei responder. -
15:44 - 15:48Só sei responder que o sofrimento
faz parte da vida. -
15:48 - 15:54Que muitas vezes confundimos o sofrimento
e achamos que podemos evitar o sofrimento -
15:54 - 15:56mas não é possível.
-
15:56 - 15:58O sofrimento existe
na vida de toda a gente. -
15:58 - 16:01Temos é que aprender a viver
com o sofrimento. -
16:02 - 16:06E pronto, termino por aqui
e a minha mensagem final é: -
16:07 - 16:10aprendam a ser felizes
com o que têm ao vosso alcance. -
16:10 - 16:11Muito obrigado.
-
16:11 - 16:14(Aplausos)
- Title:
- A minha vida é a minha mensagem | Bento Amaral | TEDxPorto
- Description:
-
Aos 25 anos, Bento Amaral teve um acidente na praia e ficou tetraplégico. Mas não deixou que a perspetiva de uma vida passada numa cadeira de rodas o impedisse de alcançar os seus sonhos. Aos 41 anos, quando fez esta palestra no Porto, responde desta forma quando lhe perguntam, o que faria se pudesse voltar ao dia do acidente: "Eu só dou graças a Deus por não poder voltar ao dia do acidente. Porque provavelmente poderia tomar a decisão errada. A minha vida tem sido bastante rica, depois do acidente. Provavelmente, se pudesse estalar os dedos agora e ficar bom, não gostaria de apagar a experiência que tinha tido para trás."
Esta palestra foi feita num evento TEDx, organizado de forma independente por uma comunidade local mas usando o formato das Conferências TED. Saiba mais em: http://ted.com/tedx
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- Portuguese
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