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O que aprendi na UTI de COVID-19 | Nathalia Guapyassu | TEDxSãoPaulo

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    Hoje é dia 9 de julho,
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    meu 115º dia de isolamento social,
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    e não, eu não estou esgotada.
  • 0:20 - 0:24
    Parece estranho ver uma médica
    de UTI COVID, em plena pandemia,
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    dizer que não está esgotada.
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    Eu já estive,
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    mas hoje eu queria compartilhar
    o porquê de eu não estar mais esgotada.
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    Aquele filme de terror
    que a gente viveu lá no início,
  • 0:35 - 0:40
    tentando absorver toda a mudança
    dentro e fora da nossa rotina no hospital,
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    tentando adivinhar quanto tempo
    eu passaria sem ver a minha família,
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    e transformando um almoço
    na copa da UTI COVID
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    num ritual de banho de álcool na marmita
    ou até mesmo no copo descartável.
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    Quando fazia 24 horas, era gelo no nariz
    pra aliviar a dor da máscara,
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    depois de um banho lavando o cabelo
    mais vezes do que o habitual,
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    se sentindo com a pele toda ressecada,
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    sem tomar água,
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    sem a mínima energia pra me cuidar.
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    Tudo isso, lá no início,
    parecia tanto sacrifício.
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    Ali talvez eu estivesse esgotada,
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    mas hoje, não.
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    Lá no início, apesar do medo da morte,
    a sua banalização se tornou comum,
  • 1:19 - 1:23
    e talvez pra mim foi o mais difícil
    de absorver nessa pandemia.
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    A invisibilização da morte,
    a partir de quando ela foi pra periferia,
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    ou pro grupo de risco,
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    tornou os números rotineiros,
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    desfez a identidade humana de cada morte
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    e transformou o índice num placar diário.
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    Ninguém é da sua família, não é mesmo?
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    Os caixões vazios,
  • 1:42 - 1:46
    o ser chamada de assassina por familiares
    durante uma notícia de óbito,
  • 1:46 - 1:50
    ou "Quanto você ganha
    pra atestar um óbito pra COVID?"
  • 1:51 - 1:53
    Como doía ouvir isso!
  • 1:53 - 1:55
    Como isso tudo me incomodou!
  • 1:55 - 1:58
    Como esse barulho me incomodou!
  • 1:58 - 2:01
    Mas hoje eu repito: eu não estou esgotada.
  • 2:01 - 2:05
    Hoje eu prefiro me lembrar
    do Danilo e do seu Francisco.
  • 2:05 - 2:09
    Danilo, um rapaz de 32 anos,
    filho do seu Francisco,
  • 2:09 - 2:11
    e acabava de perder o pai,
  • 2:11 - 2:14
    o quinto familiar
    que ele perdia pra COVID.
  • 2:14 - 2:18
    O Danilo nem imagina,
    mas ele mudou a minha vida.
  • 2:18 - 2:19
    Dar notícia de óbito
  • 2:19 - 2:24
    sem dúvida se tornou uma das partes
    mais difíceis pra mim nessa pandemia.
  • 2:24 - 2:26
    Aquela sensação de sair de casa
  • 2:26 - 2:30
    pra atestar óbito o dia todo
    de uma mesma doença.
  • 2:31 - 2:34
    Não poder abraçar um familiar
    que acaba de perder um parente?
  • 2:34 - 2:36
    Ter medo até de oferecer um copo de água
  • 2:36 - 2:40
    e contaminar mais um familiar
    com um copo de hospital?
  • 2:40 - 2:43
    Não saber qual seria a reação da família
  • 2:43 - 2:46
    diante de uma doença
    tão desacreditada no início.
  • 2:46 - 2:49
    Tudo era muito novo, muita ansiedade.
  • 2:49 - 2:53
    Mas o Danilo mudou a minha forma
    de enxergar essa pandemia.
  • 2:53 - 2:56
    Depois de dar a notícia
    de óbito do seu pai,
  • 2:56 - 2:58
    o Danilo teve um surto psiquiátrico.
  • 2:58 - 3:00
    Ele gritava: "Vírus desgraçado!",
  • 3:00 - 3:03
    e acabou quebrando a janela do hospital.
  • 3:03 - 3:08
    Ele chorava e enxugava as lágrimas,
    assim como todos os outros familiares.
  • 3:08 - 3:10
    E eu ali novamente precisava dizer:
  • 3:10 - 3:13
    "Danilo, eu sei que está difícil,
  • 3:13 - 3:15
    eu sei que não é o momento,
  • 3:15 - 3:18
    mas, por favor, se puder,
    evita tocar as mãos nos olhos.
  • 3:19 - 3:20
    Deixa as lágrimas escorrerem.
  • 3:20 - 3:23
    O hospital está todo contaminado".
  • 3:23 - 3:25
    O Danilo me prometeu que ia tentar
  • 3:25 - 3:28
    e continuou me contando a história
    dos outros familiares que adoeceram.
  • 3:29 - 3:33
    Já mais calmo, o Danilo me pediu
    desculpa pelo surto e me agradeceu.
  • 3:33 - 3:34
    Ele me disse:
  • 3:34 - 3:36
    "Doutora,
  • 3:38 - 3:41
    graças a Deus, o meu pai morreu
    nas mãos de alguém como a senhora.
  • 3:42 - 3:46
    Foi Deus que colocou tanto carinho
    próximo a ele no final da vida".
  • 3:46 - 3:50
    E aí, quem começou a chorar,
    tentando se segurar, fui eu.
  • 3:50 - 3:52
    Eu agradeci, me despedi
  • 3:52 - 3:54
    e, quando já estava voltando
    pra UTI COVID,
  • 3:54 - 3:57
    sem perceber, acabei levando
    minhas mãos aos olhos
  • 3:57 - 3:58
    pra enxugar uma lágrima.
  • 3:58 - 4:01
    E aí, vem o Danilo,
    correndo no corredor e me gritando:
  • 4:01 - 4:05
    "Doutora, por favor,
    não toca as mãos nos olhos.
  • 4:05 - 4:06
    Se cuida".
  • 4:07 - 4:11
    O Danilo nem sonha com a importância
    dessa frase na minha vida.
  • 4:12 - 4:14
    Eu tinha acabado de avisar pro Danilo
  • 4:14 - 4:16
    que eu e a minha equipe
    não tínhamos sido capazes
  • 4:16 - 4:19
    de devolver o seu pai
    de volta pra sua família.
  • 4:19 - 4:21
    Eu tinha acabado de avisar pro Danilo
  • 4:21 - 4:23
    que ele perdia o quinto familiar
    pra uma mesma doença.
  • 4:24 - 4:26
    E o Danilo não só não teve raiva de mim,
  • 4:26 - 4:30
    o Danilo me agradeceu,
    o Danilo quis cuidar de mim.
  • 4:31 - 4:35
    O Danilo sempre foi
    e sempre será a maioria.
  • 4:35 - 4:37
    E é esse o barulho que a gente deve ouvir.
  • 4:37 - 4:40
    Nesse mesmo dia pela manhã,
    nesse mesmo plantão,
  • 4:40 - 4:44
    eu havia sido chamada de assassina
    por uma mãe que acabava de perder a filha,
  • 4:44 - 4:46
    também pra COVID.
  • 4:46 - 4:47
    Eu não julgo.
  • 4:47 - 4:49
    Cada um tem uma resposta psicológica
    ao trauma, ao desastre,
  • 4:49 - 4:52
    mas ser chamada de assassina,
  • 4:52 - 4:55
    expondo a minha própria vida
    pra tentar salvar a dos outros?
  • 4:55 - 4:56
    Como assim?
  • 4:56 - 5:00
    Eu passei a manhã toda
    daquele plantão pensando nisso,
  • 5:00 - 5:02
    mas, no final da tarde, depois do Danilo,
  • 5:02 - 5:05
    eu realmente percebi
    qual barulho eu queria ouvir.
  • 5:06 - 5:09
    A dona Luzia foi uma outra paciente
  • 5:09 - 5:12
    que mudou, fez uma grande
    transformação na minha vida.
  • 5:12 - 5:16
    Sessenta e oito anos,
    hipertensa, diabética, obesa,
  • 5:16 - 5:19
    ela realmente precisou ser entubada.
  • 5:20 - 5:23
    Eu expliquei o procedimento,
    jurei que ela não sentiria dor,
  • 5:23 - 5:27
    e ela me pediu pra fazer uma videochamada
    com a filha antes de entubá-la.
  • 5:27 - 5:31
    A filha atendeu e, aos prantos,
    por saber que a mãe seria entubada,
  • 5:31 - 5:33
    iniciou aquele discurso
    que se tornou uma tortura
  • 5:33 - 5:36
    pra toda equipe de saúde
    que assiste a essas videochamadas:
  • 5:37 - 5:38
    aquele discurso com teor de despedida
  • 5:38 - 5:42
    que toda família tenta segurar
    e disfarçar o choro,
  • 5:42 - 5:46
    mas não consegue disfarçar
    o teor de despedida desse tipo de ligação.
  • 5:46 - 5:48
    Mas dona Luzia não permitiu.
  • 5:48 - 5:50
    A dona Luzia deu um tapa na minha cara
  • 5:50 - 5:53
    e na de toda a equipe de saúde
    que assistia à videochamada.
  • 5:54 - 5:57
    Antes que a filha e o marido
    continuassem naquele discurso pesado,
  • 5:57 - 5:59
    a dona Luzia disse:
  • 5:59 - 6:00
    "Filha, parou!
  • 6:00 - 6:03
    Parou porque a doutora não está
    com tempo pra me entubar, não.
  • 6:03 - 6:05
    Eu só liguei porque eu preciso
    fazer um pedido.
  • 6:05 - 6:07
    Na verdade, é uma ordem.
  • 6:07 - 6:09
    Eu quero...
  • 6:11 - 6:14
    que você compre um vestido
    pra minha alta".
  • 6:15 - 6:18
    Eu nunca imaginei ouvir isso
    antes de uma entubação.
  • 6:20 - 6:22
    Enquanto eu separava o material,
    a dona Luzia me disse:
  • 6:22 - 6:24
    "Doutora,
  • 6:24 - 6:26
    promete pra mim
    que eu vou ver a minha filha?"
  • 6:26 - 6:28
    E só Deus sabe
  • 6:28 - 6:31
    como dói quando a gente promete
    e não consegue cumprir.
  • 6:31 - 6:32
    Eu prometi.
  • 6:34 - 6:37
    Com todo o material separado,
    a dona Luzia me disse:
  • 6:37 - 6:39
    "Doutora, pode me entubar.
  • 6:39 - 6:41
    Eu amo a minha vida.
  • 6:41 - 6:42
    Eu vou viver".
  • 6:42 - 6:44
    A dona Luzia sabia.
  • 6:44 - 6:45
    Ela ia ver a filha.
  • 6:45 - 6:47
    Ela queria viver, e ela viveu.
  • 6:48 - 6:51
    A dona Luzia só queria um vestido
    pra alta hospitalar.
  • 6:52 - 6:54
    Dona Luzia sabe o valor da vida.
  • 6:54 - 6:59
    Quantos só se dão conta
    desse valor à vida e do respeito à vida
  • 6:59 - 7:00
    num leito de UTI?
  • 7:01 - 7:03
    Talvez estar tão próximo
    da vida e da morte
  • 7:03 - 7:05
    torne nós, da área da saúde,
  • 7:05 - 7:09
    por um lado, depressivos;
    por outro, amantes da vida.
  • 7:09 - 7:12
    E foi isso que essa pandemia me tornou.
  • 7:12 - 7:15
    Hoje eu dou muito valor à minha vida.
  • 7:16 - 7:18
    Já passou da hora
    de se deslocar pro próximo.
  • 7:18 - 7:21
    Chega de nos imunizarmos à sensibilidade.
  • 7:21 - 7:24
    Chega de banalizar sofrimento.
  • 7:24 - 7:27
    Chega de fadiga por compaixão.
  • 7:27 - 7:31
    Era isso que eu pensava
    lá atrás, há 115 dias.
  • 7:31 - 7:37
    Hoje, depois do Danilo, da dona Luzia
    e de tantos outros pacientes e familiares,
  • 7:37 - 7:41
    eu percebi que, sim,
    dá pra acreditar na humanidade
  • 7:41 - 7:43
    e, sim, vai passar.
  • 7:44 - 7:45
    Está todo mundo cansado.
  • 7:45 - 7:48
    Não é pra ser diferente, é uma pandemia.
  • 7:48 - 7:49
    Mas que quem pode
  • 7:49 - 7:52
    se lembre do privilégio
    que é poder estar em casa
  • 7:52 - 7:55
    nesse momento tão delicado pra sociedade.
  • 7:55 - 7:57
    Que quem não pode estar em casa
  • 7:57 - 7:59
    se lembre do privilégio que é poder sair
  • 7:59 - 8:02
    e se expor com saúde,
    com medidas de proteção,
  • 8:02 - 8:05
    pra continuar lutando
    pra colocar comida na mesa
  • 8:05 - 8:08
    e não lutando pela sobrevivência
    num leito de UTI.
  • 8:09 - 8:11
    Que quem está, neste exato
    momento, num leito de UTI
  • 8:11 - 8:16
    se lembre do privilégio
    que é estar numa fila de UTI.
  • 8:16 - 8:20
    Que aqueles que estão ansiosos
    por reencontrar os familiares
  • 8:20 - 8:22
    se lembrem do privilégio
    que é ter uma família completa
  • 8:22 - 8:24
    e não afetada pela COVID.
  • 8:25 - 8:27
    Que a gente saiba se postar na gratidão
  • 8:27 - 8:31
    por estarmos vivos, depois de 120 dias
    de uma pandemia mundial
  • 8:31 - 8:33
    e mais próximos do fim do que antes.
  • 8:34 - 8:38
    Aquele "todo mundo vai pegar"
    não precisa ser verdade.
  • 8:38 - 8:40
    Eu ainda não me contaminei.
  • 8:40 - 8:43
    Talvez por sorte, genética,
    imunidade cruzada.
  • 8:43 - 8:45
    Talvez por excesso de cuidados.
  • 8:46 - 8:49
    Talvez eu esteja contaminada
    neste exato momento,
  • 8:49 - 8:51
    apesar de tantos testes negativos.
  • 8:51 - 8:53
    Mas talvez eu saia dessa pandemia,
  • 8:53 - 8:56
    mesmo como uma médica
    que atua em até quatro UTIs COVID,
  • 8:56 - 8:58
    sem me contaminar.
  • 8:59 - 9:04
    Oitenta e três mil profissionais de saúde
    já adoeceram no Brasil.
  • 9:05 - 9:09
    O meu maior respeito e sentimentos
  • 9:11 - 9:14
    a todos os colegas
    que a gente perdeu nessa batalha.
  • 9:15 - 9:16
    Mas já pararam pra pensar
  • 9:16 - 9:20
    quantos profissionais de saúde
    altamente expostos
  • 9:20 - 9:22
    ainda não se contaminaram?
  • 9:22 - 9:25
    Quantos realmente não irão se contaminar?
  • 9:25 - 9:27
    Será que a gente
    precisa realmente acreditar
  • 9:27 - 9:29
    que todo mundo precisa se contaminar
  • 9:29 - 9:32
    e que, pra nós, vai ser apenas uma gripe?
  • 9:33 - 9:35
    Eu me lembro de um dia...
  • 9:36 - 9:38
    Eu não sei quando isso vai acabar.
  • 9:39 - 9:40
    Ninguém tem essa resposta.
  • 9:41 - 9:45
    A gente segue contando os dias
    sem saber quando chega o fim,
  • 9:46 - 9:49
    mas sabendo, ao menos, que a gente
    está mais próximo do que antes.
  • 9:53 - 9:56
    No início, eu via tudo isso
    como um sacrifício.
  • 9:56 - 10:00
    Hoje eu só consigo pensar
    como seria na Idade Média.
  • 10:00 - 10:02
    A gente está vivendo uma pandemia
  • 10:02 - 10:04
    com uma promessa de vacina
  • 10:04 - 10:07
    em tempo sem precedentes
    na história da humanidade.
  • 10:08 - 10:09
    Nada certo,
  • 10:09 - 10:12
    a gente ainda não tem nada concluído,
  • 10:12 - 10:13
    mas a gente tem a ciência,
  • 10:13 - 10:17
    a ciência que nos ensinou
    a cuidar melhor desses pacientes,
  • 10:17 - 10:21
    a ciência que segue buscando a cura
    e reduzindo a mortalidade.
  • 10:22 - 10:23
    Sim, a gente tem a ciência,
  • 10:23 - 10:27
    uma ciência que nos pede um tempo,
  • 10:27 - 10:29
    que nos promete uma vacina e te pede:
  • 10:30 - 10:35
    "Por favor, lave a mão, use a máscara
    e, se puder, fique em casa".
  • 10:36 - 10:38
    Isso tudo vai passar.
  • 10:38 - 10:39
    Vai passar.
  • 10:39 - 10:41
    É a única certeza, e é unânime.
  • 10:41 - 10:43
    Já está passando.
  • 10:43 - 10:46
    Será que vale mesmo a pena
    a gente chutar o balde
  • 10:46 - 10:48
    depois de 115 dias de isolamento?
  • 10:49 - 10:52
    Será que vale mesmo a pena
    a gente chutar o balde,
  • 10:52 - 10:53
    com uma das vacinas mais promissoras,
  • 10:53 - 10:55
    em pleno século 21,
  • 10:55 - 10:56
    sendo testadas no Brasil?
  • 10:57 - 10:59
    Sim, está todo mundo esgotado.
  • 10:59 - 11:01
    Eu me lembro de um dia
  • 11:01 - 11:06
    em que eu quase não lavei um talher
    que encostou na mesa da copa da UTI COVID.
  • 11:07 - 11:09
    O álcool estava longe,
    e não tinha detergente na pia.
  • 11:09 - 11:11
    Eu estava cansada daquele lava-lava.
  • 11:12 - 11:13
    Mas eu me lembrei da minha mãe,
  • 11:13 - 11:15
    e eu me lembrei de alguns pacientes.
  • 11:16 - 11:19
    Eu pensei: "Eu quero ver
    a minha mãe de novo".
  • 11:20 - 11:23
    Será que a minha vida vale a preguiça
    de passar álcool num garfo?
  • 11:24 - 11:26
    Será que ver o meu pai
    e a minha mãe de novo
  • 11:26 - 11:27
    não vale qualquer esforço?
  • 11:27 - 11:29
    E que esforço é esse?
  • 11:30 - 11:32
    Lavar a mão, usar uma máscara.
  • 11:33 - 11:35
    Sim, está todo mundo cansado.
  • 11:35 - 11:38
    Eu também quase não lavei
    o garfo nesse dia.
  • 11:38 - 11:41
    Eu também quase não usei a máscara N95
  • 11:41 - 11:44
    quando eu não estava
    no setor da COVID, no hospital.
  • 11:44 - 11:47
    Talvez esse fosse o meu "chutar o balde".
  • 11:48 - 11:51
    Mas a dona Luzia me ensinou
    que eu também quero viver,
  • 11:51 - 11:54
    e que eu não posso chamar
    de sacrifício lavar as mãos,
  • 11:54 - 11:56
    quando muitos não têm
    acesso a água e sabão.
  • 11:57 - 11:58
    Eu quero viver,
  • 11:58 - 12:01
    e não serão mais seis meses
    ou um ano de autocuidado
  • 12:01 - 12:02
    que vão me impedir disso.
  • 12:03 - 12:05
    Eu posso me contaminar,
  • 12:05 - 12:06
    eu posso adoecer,
  • 12:07 - 12:09
    mas eu vou me cuidar.
  • 12:09 - 12:14
    Que todo mundo que está agora esgotado,
    emocionalmente ou financeiramente,
  • 12:14 - 12:19
    se lembre de que lavar as mãos,
    usar máscara e não levar a mão ao rosto
  • 12:19 - 12:22
    pode te levar vivo
    até a cura ou uma vacina;
  • 12:23 - 12:25
    que confiar na ciência
  • 12:25 - 12:27
    e acreditar em dias melhores,
  • 12:27 - 12:28
    neste momento,
  • 12:28 - 12:30
    é questão de sobrevivência.
  • 12:31 - 12:32
    E que acreditem:
  • 12:33 - 12:35
    pra alguns, realmente pode ser uma gripe;
  • 12:35 - 12:37
    pra outros, pode ser a morte;
  • 12:38 - 12:40
    mas, pra você, pode ser
    apenas uma lembrança
  • 12:40 - 12:43
    de um período difícil de isolamento social
  • 12:43 - 12:44
    com medidas de higiene,
  • 12:44 - 12:46
    aguardando a cura ou a vacina.
  • 12:47 - 12:48
    Eu repito:
  • 12:48 - 12:51
    nem todos precisam se contaminar.
  • 12:51 - 12:53
    Escolham viver.
  • 12:53 - 12:54
    E acreditem:
  • 12:54 - 12:55
    vai passar.
  • 12:55 - 12:57
    Obrigada.
  • 12:57 - 12:58
    (Buzinas)
Title:
O que aprendi na UTI de COVID-19 | Nathalia Guapyassu | TEDxSãoPaulo
Description:

Nathalia conta sua experiência na UTI de dois hospitais públicos de São Paulo e explica porque temos tantos bons motivos para acreditar que esse período vai passar. Formada em medicina, Nathalia atualmente trabalha na UTI de dois hospitais públicos de São Paulo. Suas publicações nas redes sociais sobre a dura realidade de trabalhar na linha de frente no enfrentamento da pandemia da COVID-19 viralizaram, ajudando a educar milhares de pessoas.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:05

Portuguese, Brazilian subtitles

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