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Fotografias espantosas de Everglades ameaçado

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    Eu tive o enorme privilégio
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    de viajar a locais incríveis,
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    a fotografar distantes paisagens
    e culturas longínquas
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    por todo o mundo.
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    Adoro o meu trabalho.
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    As pessoas pensam que isso
    é um rosário de revelações,
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    de nasceres do sol e de arcos-íris,
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    quando, na realidade,
    é mais parecido com isto.
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    (Risos)
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    Esta é a minha profissão.
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    Sem poder pagar os locais mais requintados
    para passar a noite,
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    costumamos dormir ao relento.
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    Se nos mantivermos secos, já é um bónus.
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    Também sem poder pagar
    os restaurantes mais elegantes,
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    costumamos comer
    o que há no menu local.
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    Se estivermos no Páramo equatoriano,
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    vamos comer um grande roedor
    chamado porquinho-da-índia.
  • 0:44 - 0:46
    (Risos)
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    Mas o que torna as nossas experiências
    um pouco diferentes
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    e um pouco mais especiais
    do que as das pessoas vulgares,
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    é que temos esta coisa corrosiva na cabeça
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    de que, mesmo nos momentos mais difíceis,
    e em alturas de desespero, pensamos:
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    "Ei, talvez haja aqui uma boa fotografia,
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    "talvez haja aqui
    uma boa história para contar".
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    Porque é que é importante
    contar uma história?
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    Porque nos ajuda a ligar-nos
    à nossa herança cultural e natural.
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    No Sudeste, há um divórcio alarmante
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    entre o público e as áreas naturais
    que nos permitem estar aqui.
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    Somos seres visuais,
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    por isso, usamos o que vemos
    para aprendermos o que sabemos.
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    Claro que a maior parte das pessoas
    não vão de boa vontade
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    mergulhar num pântano.
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    Como é que havemos de esperar
    que essas pessoas
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    defendam que ele deve ser protegido?
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    Não podemos.
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    Assim, a minha tarefa é usar a fotografia
    como instrumento de comunicação,
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    para lançar a ponte sobre o fosso
    entre a ciência e a estética,
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    para pôr as pessoas a falar,
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    para as obrigar a pensar
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    e, em última análise,
    para que elas se preocupem.
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    Comecei a fazer isto há 15 anos,
    aqui mesmo em Gainesville,
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    aqui no meu quintal.
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    Apaixonei-me pela aventura
    e pela descoberta,
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    por ir explorar
    todos esses locais diferentes
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    que havia a minutos da minha porta da rua.
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    Há imensos locais belíssimos
    para descobrir.
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    Apesar de já terem passado
    todos estes anos,
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    ainda vejo o mundo
    com os olhos duma criança
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    e tento incorporar
    essa sensação de maravilha
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    e esse sentimento de curiosidade
    nas minhas fotografias
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    sempre que possível.
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    Temos muita sorte, porque aqui no Sul,
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    ainda temos a bênção duma tela
    relativamente em branco
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    que podemos preencher
    com as aventuras mais fantásticas
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    e experiências incríveis.
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    É só uma questão de até onde
    a nossa imaginação nos pode levar.
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    Muita gente olha para isto e diz:
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    "Sim, ok, é uma bonita árvore".
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    Mas eu não vejo só uma árvore,
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    olho para isto e vejo uma oportunidade,
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    vejo um fim de semana.
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    Porque, quando eu era miúdo,
    estes eram os tipos de imagens
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    que me faziam saltar do sofá
    e atrever-me a explorar,
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    que me desafiavam
    a ir para o bosque,
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    a meter a cabeça debaixo de água
    para ver o que havia.
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    Tenho andado a fotografar por todo o mundo
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    e garanto-vos,
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    o que temos aqui no Sul,
    o que temos no Estado do Sol,
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    não fica atrás de tudo o mais
    que tenho visto.
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    Contudo, a nossa indústria do turismo
    anda a promover todas as coisas erradas.
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    As crianças, antes dos 12 anos,
    já foram todas ao Mundo da Disney
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    mais vezes do que se meteram numa canoa,
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    ou acamparam sob um céu estrelado.
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    Não tenho nada contra a Disney,
    ou o Mickey; também costumava lá ir.
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    Mas faltam-lhes as ligações fundamentais
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    que criam um sentimento real
    de orgulho e propriedade
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    pelo local a que chamam a sua terra.
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    E isto resulta da perceção
    que as paisagens
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    que definem a nossa herança natural
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    e alimentam os aquíferos
    para a água que bebemos
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    têm sido consideradas assustadoras,
    perigosas e fantasmagóricas.
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    Quando os nossos antepassados
    chegaram aqui, avisaram:
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    "Afastem-se destas áreas,
    estão assombradas.
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    "Estão cheias de fantasmas
    e de espíritos maus".
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    Não sei onde é que eles foram
    buscar essa ideia.
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    Mas conduziu a um afastamento muito real
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    a uma mentalidade muito negativa
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    que tem mantido o público
    desinteressado, silencioso,
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    e que acaba por pôr em risco o ambiente.
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    Somos um estado que está rodeado
    por água e é definido por ela.
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    No entanto, durante séculos,
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    os pântanos e as zonas húmidas
    têm sido consideradas
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    como obstáculos a ultrapassar.
  • 4:23 - 4:26
    Por isso, temo-las tratado
    como ecossistemas de segunda classe,
  • 4:26 - 4:29
    porque têm muito pouco valor monetário
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    e, claro, sabe-se que são morada
    de jacarés e cobras
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    que, reconheço, não são
    os embaixadores mais simpáticos.
  • 4:36 - 4:37
    (Risos)
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    Portanto, chegou-se à conclusão
    que o único pântano bom
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    era um pântano drenado.
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    Na verdade, drenar um pântano
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    para dar lugar à agricultura
    e ao desenvolvimento
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    era considerado a essência da conservação,
    ainda há bem pouco tempo,
  • 4:51 - 4:53
    Mas agora estamos a remar para trás,
  • 4:53 - 4:56
    porque, quanto mais vamos aprendendo
    sobre estas paisagens alagadas,
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    mais segredos começamos a desvendar
  • 4:58 - 5:00
    sobre as relações entre espécies
  • 5:00 - 5:04
    e a interação dos "habitats",
    bacias hidrográficas e rotas de migração.
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    Reparem neste pássaro, por exemplo,
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    é o Protonotaria citrea.
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    Adoro este pássaro,
    porque é um pássaro do pântano,
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    em todos os aspetos,
    um pássaro do pântano.
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    Nidificam e acasalam
    e criam nestes pântanos
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    nestas florestas inundadas.
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    No fim da primavera,
    depois de criarem os filhos,
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    voam milhares de quilómetros
    sobre o Golfo do México
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    para a América Central e do Sul.
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    Depois, quando o inverno acaba
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    e a primavera regressa, eles voltam.
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    Voam milhares de quilómetros
    sobre o Golfo do México.
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    Para onde vão? Onde é que poisam?
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    Exatamente na mesma árvore.
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    É de doidos.
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    É um pássaro do tamanho
    duma bola de ténis.
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    Estão a ver, é uma loucura!
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    Eu precisei de um GPS
    para chegar aqui hoje
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    e esta é a minha cidade natal.
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    (Risos)
  • 5:51 - 5:53
    É uma loucura.
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    O que é que acontece, quando este pássaro
    voa sobre o Golfo do México
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    para a América Central,
    para passar o inverno
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    e, quando chega a primavera
    e ele regressa,
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    encontra isto:
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    um campo de golfe acabado de fazer?
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    Esta é uma narrativa demasiado frequente
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    aqui neste estado.
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    Isto é um processo natural
    que ocorre há milhares de anos
  • 6:13 - 6:15
    e só agora estamos aprendê-lo.
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    Podem imaginar quanto mais temos
    que aprender com estas paisagens
  • 6:18 - 6:20
    se, antes disso, as preservarmos.
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    Apesar de toda esta vida rica
    que abunda nestes pântanos,
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    eles continuam a ter má reputação.
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    Muita gente sente-se desconfortável
    com a ideia de vadear
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    nas águas negras da Flórida.
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    Eu percebo.
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    Mas o que eu gosto,
    quanto a crescer no Estado do Sol,
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    é que, para muitos de nós,
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    vivemos com este medo latente,
    mas muito palpável,
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    de que, quando pomos os pés na água,
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    pode haver qualquer coisa
    muito mais antiga
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    e muito mais adaptável do que nós.
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    Acho que, saber que não somos os maiores,
    é um desconforto apreciado.
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    Quantas vezes nesta época
    moderna, urbana e digital,
  • 7:00 - 7:04
    temos a oportunidade
    de nos sentirmos vulneráveis
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    ou de considerarmos que o mundo
    talvez não tenha sido feito só para nós?
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    Nós últimos dez anos,
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    comecei a procurar as áreas
    em que a floresta cedeu ao betão
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    e os pinheiros se transformaram
    em ciprestes.
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    Cheguei à conclusão de que todos
    esses mosquitos e répteis,
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    todos esses desconfortos,
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    eram afirmações de que eu tinha
    encontrado a verdadeira vida selvagem
  • 7:24 - 7:26
    e rendi-me a ela totalmente.
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    Enquanto fotógrafo da conservação,
    obcecado pela água negra,
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    não admira que eu tenha
    acabado por ir parar
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    ao pântano mais famoso de todos:
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    o Everglades.
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    Cresci aqui no centro norte da Flórida
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    e sempre ouvi estes nomes encantados,
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    sítios como Loxahatchee e Fakahatchee,
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    Corkscrew, Big Cypress.
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    Iniciei o que viria a ser
    um projeto de cinco anos
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    na esperança de apresentar o Everglades
    sob uma nova luz,
  • 7:52 - 7:54
    uma luz mais inspirada.
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    Eu sabia que ia ser um bico de obra,
    porque temos aqui uma área
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    que é quase um terço do estado
    da Flórida, é enorme.
  • 8:00 - 8:03
    Quando falo em Everglades,
    as pessoas dizem:
  • 8:03 - 8:04
    "Oh, o parque nacional".
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    Mas o Everglades não é só um parque;
    é uma bacia hidrográfica
  • 8:08 - 8:13
    que começa com a cadeia
    dos lagos Kissimmee no norte.
  • 8:13 - 8:15
    Quando as chuvas caem no verão,
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    as enxurradas vão parar ao lago Okeechobee
  • 8:17 - 8:20
    e o lago Okeechobee fica cheio,
    transborda das margens
  • 8:20 - 8:24
    e escorre para sul, lentamente,
    ao sabor da topografia
  • 8:24 - 8:27
    e entra no rio de ervas,
    as Pradarias Sawgrass,
  • 8:27 - 8:29
    antes de encontrar
    os pântanos de ciprestes.
  • 8:29 - 8:31
    até avançar mais para sul para os mangais,
  • 8:31 - 8:34
    e por fim, chegar à Baía da Flórida,
  • 8:34 - 8:37
    a gema esmeralda do Everglades,
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    o grande estuário,
    um estuário de 2000 km2.
  • 8:41 - 8:45
    Claro, o parque nacional
    é a parte sul deste sistema,
  • 8:45 - 8:48
    mas todas as coisas que o tornam especial
    são os contributos que lhe chegam,
  • 8:48 - 8:51
    a água doce que começa a 160 km a norte.
  • 8:51 - 8:55
    Não há forma de estas fronteiras
    políticas ou invisíveis
  • 8:55 - 8:58
    protegerem o parque contra
    as águas poluídas ou a escassez de água.
  • 8:59 - 9:02
    Infelizmente, é isso precisamente
    o que temos feito.
  • 9:03 - 9:05
    Nos últimos 60 anos,
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    drenámos, construímos barragens,
    dragámos o Everglades
  • 9:08 - 9:12
    de tal forma que agora só um terço
    da água que costumava chegar à baía
  • 9:12 - 9:14
    chega à baía atualmente.
  • 9:15 - 9:18
    Infelizmente, esta história não é só
    o brilho do sol e os arcos-íris.
  • 9:19 - 9:21
    Para o melhor ou para o pior,
  • 9:21 - 9:25
    a história do Everglades
    está intrinsecamente ligada
  • 9:25 - 9:28
    aos altos e baixos
    da relação da Humanidade
  • 9:28 - 9:29
    com o mundo da Natureza.
  • 9:29 - 9:31
    Mas vou mostrar-vos estas belas imagens,
  • 9:31 - 9:33
    porque elas vão sensibilizar-vos.
  • 9:33 - 9:37
    E enquanto prendo a vossa atenção,
    posso contar-vos a história real.
  • 9:37 - 9:38
    Acontece que nós agarramos nisto
  • 9:38 - 9:40
    e trocamos por isto,
  • 9:41 - 9:43
    num ritmo alarmante.
  • 9:44 - 9:46
    E o que as pessoas não conhecem
  • 9:46 - 9:48
    é a dimensão real
    do que estamos a apreciar.
  • 9:48 - 9:51
    Porque o Everglades
    é responsável pela água potável
  • 9:51 - 9:54
    para 7 milhões de habitantes da Flórida,
  • 9:54 - 9:56
    mas também alimenta
    hoje os campos agrícolas
  • 9:56 - 9:59
    para o tomate e as laranjas,
    durante todo o ano,
  • 9:59 - 10:02
    para mais de 300 milhões
    de norte-americanos.
  • 10:03 - 10:07
    E é a mesma quantidade sazonal
    de água, no verão,
  • 10:07 - 10:10
    que construiu o rio de ervas,
    há 6000 anos.
  • 10:10 - 10:15
    Ironicamente, também é agora
    responsável por 200 000 hectares
  • 10:15 - 10:18
    do infindável rio de cana-de-açúcar.
  • 10:18 - 10:20
    São esses mesmos campos
    que são responsáveis
  • 10:20 - 10:24
    pela descarga a níveis extremamente altos
    de fertilizantes na bacia hidrográfica,
  • 10:24 - 10:27
    que alteram o sistema, para sempre.
  • 10:27 - 10:30
    Mas para compreenderem
    como funciona este sistema
  • 10:30 - 10:33
    e também para se envolverem
    pessoalmente com ele,
  • 10:33 - 10:36
    decidi dividir a história
    em várias narrativas diferentes.
  • 10:36 - 10:39
    Quis começar essa história
    no lago Okeechobee,
  • 10:39 - 10:41
    o coração pulsante
    do sistema do Everglades.
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    Para isso, escolhi um embaixador,
  • 10:44 - 10:45
    uma espécie icónica.
  • 10:45 - 10:48
    Este é o gavião-caramujeiro de Everglades.
  • 10:48 - 10:49
    É uma grande ave.
  • 10:49 - 10:52
    Costumavam nidificar aos milhares,
  • 10:52 - 10:53
    no norte de Everglades.
  • 10:53 - 10:56
    Hoje estão reduzidos
    a cerca de 400 casais.
  • 10:56 - 10:58
    Porquê?
  • 10:58 - 11:01
    Porque só têm uma fonte alimentar,
    um caramujo,
  • 11:01 - 11:04
    um gastrópode aquático, com o tamanho
    duma bola de pingue-pongue.
  • 11:04 - 11:08
    Quando começámos a construir
    barragens no Everglades,
  • 11:08 - 11:10
    quando começámos a fazer diques
    no lago Okeechobee
  • 11:10 - 11:12
    e a drenar as zonas húmidas,
  • 11:12 - 11:14
    demos cabo do "habitat" do caramujo.
  • 11:14 - 11:16
    Assim, a população dos gaviões diminuiu.
  • 11:17 - 11:20
    Por isso, eu queria uma foto
    que transmitisse esta relação
  • 11:20 - 11:23
    entre as zonas húmidas,
    o caramujo e a ave,
  • 11:23 - 11:26
    mas também queria uma foto
    que transmitisse
  • 11:26 - 11:28
    como esta relação era incrível
  • 11:28 - 11:32
    e como é muito importante
    que eles estejam dependentes um do outro,
  • 11:32 - 11:34
    as zonas húmidas e esta ave.
  • 11:34 - 11:36
    Para isso, fartei-me de remoer esta ideia.
  • 11:36 - 11:39
    Comecei por esboçar planos
    para fazer a fotografia
  • 11:40 - 11:42
    e enviei-os para o biólogo
    da vida selvagem em Okeechobee.
  • 11:42 - 11:46
    Como é uma espécie em perigo, é preciso
    uma autorização especial para isso.
  • 11:46 - 11:48
    Construí uma plataforma submersa
  • 11:48 - 11:51
    que mantinha presos os caramujos,
    mesmo à superfície da água.
  • 11:51 - 11:54
    Passei meses a planear esta ideia louca.
  • 11:54 - 11:57
    Levei a plataforma para o lago Okeechobee
  • 11:57 - 12:00
    e passei uma semana dentro de água,
  • 12:00 - 12:03
    com a água pelo peito, 9 horas por dia,
    do amanhecer ao entardecer,
  • 12:03 - 12:06
    para conseguir uma imagem
    que pudesse transmitir isso.
  • 12:06 - 12:09
    Este é o dia em que finalmente consegui:
  • 12:09 - 12:11
    (Vídeo): Depois de instalar a plataforma,
  • 12:11 - 12:15
    afasto-me e vejo um gavião a aproximar-se
    por cima das ervas.
  • 12:15 - 12:16
    Vejo-o a perscrutar e a procurar.
  • 12:16 - 12:19
    Passa mesmo por cima da armadilha
    e percebo que ele a viu.
  • 12:19 - 12:22
    Avança direitinho para a armadilha.
  • 12:22 - 12:25
    Naquele momento, todos os meses
    de planeamento, de espera,
  • 12:25 - 12:28
    todas as queimaduras do sol,
    as picadas dos mosquitos,
  • 12:28 - 12:30
    tudo isso, de repente, valeu a pena.
  • 12:30 - 12:33
    "Oh, meu Deus, não acredito!"
  • 12:34 - 12:37
    Podem imaginar como eu estava excitado,
    quando isto aconteceu.
  • 12:37 - 12:40
    A ideia era que, para alguém
    que nunca tinha visto esta ave,
  • 12:40 - 12:43
    e não tinha razões
    para se preocupar com ela,
  • 12:43 - 12:45
    estas fotos, estas novas perspetivas,
  • 12:45 - 12:49
    ajudassem a lançar uma nova luz
    numa única espécie
  • 12:49 - 12:52
    que torna esta bacia hidrográfica
    tão especial, tão valiosa, tão importante.
  • 12:53 - 12:56
    Eu sei que não posso chegar
    aqui a Gainesville
  • 12:56 - 12:58
    e falar-vos de animais no Everglades
  • 12:58 - 13:00
    sem falar dos jacarés.
  • 13:00 - 13:03
    Eu adoro jacarés,
    em miúdo adorava jacarés.
  • 13:03 - 13:04
    Os meus pais sempre disseram
  • 13:04 - 13:06
    que eu tinha uma relação doentia
    com jacarés.
  • 13:06 - 13:08
    O que eu gosto neles
  • 13:08 - 13:10
    é que eles são como o equivalente
    dos tubarões na água doce.
  • 13:10 - 13:12
    São temidos, são odiados,
  • 13:12 - 13:15
    e são tragicamente mal compreendidos.
  • 13:15 - 13:18
    Porque eles são uma espécie especial,
    não são apenas superpredadores.
  • 13:18 - 13:22
    Nos Everglades, eles são
    os verdadeiros arquitetos dos Everglades,
  • 13:22 - 13:25
    porque, quando a água baixa no inverno,
  • 13:25 - 13:26
    durante a estação seca,
  • 13:26 - 13:29
    começam a escavar aqueles buracos,
    os "buracos de jacaré".
  • 13:29 - 13:32
    Eles fazem isso, porque,
    quando a água baixa,
  • 13:32 - 13:34
    eles podem manter-se húmidos
    e podem procurar comida.
  • 13:35 - 13:37
    Isto não os afeta só a eles,
  • 13:37 - 13:39
    há outros animais que também
    dependem destas relações,
  • 13:39 - 13:42
    portanto, eles também são
    uma espécie fundamental.
  • 13:43 - 13:47
    Como é que fazemos que um superpredador,
    um antigo réptil,
  • 13:47 - 13:50
    pareça, de imediato, que domina o sistema
  • 13:50 - 13:52
    e, ao mesmo tempo, pareça vulnerável?
  • 13:53 - 13:57
    Patinhamos num poço com 120 jacarés
  • 13:57 - 13:59
    e esperamos ter tomado a decisão certa.
  • 13:59 - 14:01
    (Risos)
  • 14:03 - 14:04
    Não perdi nenhum dedo, fixe.
  • 14:05 - 14:08
    Mas percebo que não vos vou mobilizar,
  • 14:08 - 14:11
    não vou arregimentar tropas para
    "Salvem os Everglades para os jacarés!"
  • 14:11 - 14:14
    Isso não acontecerá
    porque eles são omnipresentes,
  • 14:14 - 14:15
    estamos a vê-los agora.
  • 14:15 - 14:18
    São uma das grandes histórias
    de êxito da conservação nos EUA.
  • 14:18 - 14:21
    Mas há uma espécie nos Everglades
    que, sejam vocês quem forem,
  • 14:21 - 14:24
    não podem deixar de os amar,
    é o colhereiro americano.
  • 14:24 - 14:28
    Estas aves são lindas, mas têm
    uma vida difícil aqui nos Everglades,
  • 14:28 - 14:32
    porque começaram por ser milhares
    de casais na Baía da Flórida
  • 14:32 - 14:34
    e, no virar do século XX,
  • 14:34 - 14:37
    ficaram reduzidos a dois, dois casais.
  • 14:37 - 14:39
    Porquê?
  • 14:39 - 14:42
    Porque as mulheres achavam
    que eles eram mais bonitos nos chapéus
  • 14:42 - 14:44
    do que a voar no céu.
  • 14:45 - 14:47
    Então, proibiu-se o comércio das penas
  • 14:47 - 14:49
    e o número deles recomeçou a aumentar.
  • 14:49 - 14:51
    Quando o número começou a aumentar,
  • 14:51 - 14:53
    os cientistas começaram
    a prestar-lhes atenção.
  • 14:53 - 14:55
    Começaram a estudar estes animais.
  • 14:55 - 14:58
    Descobriram que
    o comportamento destas aves
  • 14:58 - 15:01
    está intrinsecamente ligado
    ao ciclo anual da água nos Everglades,
  • 15:01 - 15:04
    aquilo que define
    a bacia hidrográfica dos Everglades.
  • 15:04 - 15:07
    Descobriram que estas aves
  • 15:07 - 15:09
    começam a nidificar no inverno,
    quando a água baixa,
  • 15:09 - 15:13
    porque, como se alimentam pelo tacto,
    têm que tocar em tudo o que comem.
  • 15:13 - 15:16
    Por isso, esperam por estas poças
    cheias de peixes
  • 15:16 - 15:18
    para comerem o suficiente
    para alimentarem as crias.
  • 15:19 - 15:22
    Estas aves tornaram-se
    num verdadeiro ícone dos Everglades.
  • 15:22 - 15:25
    uma espécie indicadora
    da saúde geral do sistema.
  • 15:26 - 15:29
    E mesmo quando o número deles
    estava a aumentar, em meados do século XX
  • 15:29 - 15:33
    — disparando para 900, 1000, 1100, 1200 —
  • 15:33 - 15:37
    mesmo quando isso estava a acontecer,
    começámos a drenar o sul dos Everglades.
  • 15:37 - 15:41
    Impedimos dois terços dessa água
    de correr para o sul.
  • 15:41 - 15:43
    Isso teve consequências drásticas.
  • 15:44 - 15:47
    Mesmo quando aqueles números
    estavam a atingir o máximo.
  • 15:47 - 15:50
    Infelizmente, a verdadeira história
    hoje disponível,
  • 15:50 - 15:53
    a foto do aspeto que aquilo agora tem,
    é mais parecida com isto.
  • 15:55 - 15:59
    E hoje, estamos com menos de 70 casais
    na Baía da Florida,
  • 16:00 - 16:02
    porque desequilibrámos o sistema.
  • 16:02 - 16:05
    Todas as diversas organizações
    andam aos gritos, aos berros:
  • 16:05 - 16:08
    "O Everglades é frágil! É frágil!"
  • 16:08 - 16:09
    Não é.
  • 16:09 - 16:10
    É resiliente.
  • 16:10 - 16:13
    Porque, apesar de tudo
    o que lhe temos tirado,
  • 16:13 - 16:14
    de tudo o que fizemos e drenámos,
  • 16:14 - 16:16
    apesar das barragens e das dragagens,
  • 16:16 - 16:19
    ainda há ali bocados,
    à espera de serem recompostos.
  • 16:19 - 16:22
    É isto que eu adoro no sul da Flórida.
  • 16:22 - 16:25
    Neste local, temos esta força
    imparável da Humanidade,
  • 16:25 - 16:29
    frente ao objeto imutável
    da Natureza tropical.
  • 16:29 - 16:33
    Esta é a nova fronteira a que
    somos forçados, com uma nova avaliação.
  • 16:33 - 16:35
    Quanto vale a vida selvagem?
  • 16:35 - 16:38
    Qual é o valor da biodiversidade
    ou da água potável?
  • 16:39 - 16:42
    Felizmente, depois de décadas de debates,
  • 16:42 - 16:45
    estamos finalmente a agir
    sobre estas questões.
  • 16:45 - 16:47
    Estamos, lentamente,
    a empreender esses projetos
  • 16:47 - 16:50
    de canalizar mais água doce para a baía.
  • 16:50 - 16:54
    Mas cabe-nos a nós, enquanto cidadãos,
    enquanto residentes, enquanto guardiões,
  • 16:54 - 16:56
    obrigar os eleitos a cumprir
    as suas promessas.
  • 16:57 - 17:00
    O que é vocês podem fazer para ajudar?
  • 17:00 - 17:01
    É muito fácil.
  • 17:01 - 17:02
    Saiam daqui, vão lá para fora.
  • 17:02 - 17:05
    Saiam com os vossos amigos,
    com os vossos filhos,
  • 17:05 - 17:06
    saiam com a vossa família.
  • 17:06 - 17:08
    Contratem um guia de pescas.
  • 17:08 - 17:11
    Mostrem ao estado
    que a proteção da vida selvagem,
  • 17:11 - 17:14
    para além do sentido ecológico,
    tem também um sentido económico.
  • 17:15 - 17:18
    É muito divertido, façam-no,
    metam os pés dentro de água.
  • 17:18 - 17:21
    O pântano vai transformar-vos, garanto.
  • 17:22 - 17:24
    Ao longo dos anos,
    temos sido muito generosos
  • 17:24 - 17:26
    com outras paisagens, por todo o país,
  • 17:26 - 17:29
    cobrindo-as com este orgulho americano,
  • 17:29 - 17:32
    locais que agora achamos que nos definem:
  • 17:32 - 17:34
    o Grand Canyon, Yosemite, Yellowstone.
  • 17:35 - 17:37
    Usamos esses parques
    e essas áreas naturais
  • 17:37 - 17:40
    como faróis e como bússolas culturais.
  • 17:41 - 17:45
    Tristemente, o Everglades
    normalmente fica fora dessa conversa.
  • 17:46 - 17:49
    Mas eu creio que ele é em tudo
    tão icónico e emblemático
  • 17:49 - 17:51
    de quem nós somos enquanto país
  • 17:51 - 17:53
    como qualquer outro
    desses parques naturais.
  • 17:53 - 17:56
    Só que é um tipo de Natureza diferente.
  • 17:56 - 17:58
    Mas sinto-me encorajado,
  • 17:58 - 18:01
    porque, finalmente, talvez estejamos
    a mudar de opinião,
  • 18:01 - 18:03
    porque o que outrora era considerado
    um deserto pantanoso,
  • 18:03 - 18:06
    hoje é um local de Património Mundial.
  • 18:06 - 18:08
    É um pântano de importância internacional.
  • 18:09 - 18:12
    Percorremos um longo caminho
    nestes últimos 60 anos.
  • 18:12 - 18:16
    Com o maior e mais ambicioso projeto
    de recuperação de um pantanal,
  • 18:16 - 18:20
    os olhos internacionais estão postos
    sobre nós, no Estado do Sol.
  • 18:20 - 18:23
    Porque, se conseguirmos
    curar este sistema,
  • 18:23 - 18:26
    ele vai ser um ícone
    para a recuperação dos pantanais
  • 18:26 - 18:27
    no mundo inteiro.
  • 18:28 - 18:33
    Mas cabe-nos a todos decidir qual o legado
    a que queremos hastear a nossa bandeira.
  • 18:34 - 18:37
    Diz-se que o Everglades
    é o nosso maior teste.
  • 18:38 - 18:41
    Se o passarmos,
    conseguimos conservar o planeta.
  • 18:42 - 18:43
    Adoro esta citação,
  • 18:43 - 18:46
    porque é um desafio, é um estímulo.
  • 18:46 - 18:47
    Poderemos fazê-lo? Fá-lo-emos?
  • 18:47 - 18:50
    Temos que o fazer, é necessário.
  • 18:50 - 18:52
    Mas o Everglades não é apenas um teste,
  • 18:52 - 18:54
    também é uma dádiva
  • 18:54 - 18:57
    e, em última análise,
    é da nossa responsabilidade.
  • 18:57 - 18:59
    Obrigado.
  • 18:59 - 19:02
    (Aplausos)
Title:
Fotografias espantosas de Everglades ameaçado
Speaker:
Mac Stone
Description:

Durante séculos, as pessoas consideraram os pântanos e as zonas húmidas como obstáculos a evitar. Mas, para o fotógrafo Mac Stone, que documenta as histórias da vida animal no Everglades da Florida, o pântano não é um impedimento, é um tesouro nacional. Através das suas fotografias espantosas, Stone lança uma nova luz numa natureza selvagem negligenciada, antiga e importante. A sua mensagem: Saiam e experimentem por vocês mesmos. "Façam-no — metam os pés dentro de água", diz ele. "O pântano transformar-vos-á, garanto".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:15

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