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A fotografia como remédio para a solidão | Ryan Pfluger | TEDxPasadena

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    Pra quem não percebeu, aquele ali sou eu.
  • 0:16 - 0:18
    (Risos)
  • 0:18 - 0:21
    Gostar de holofotes ou chamar atenção
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    não é a minha natureza.
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    Me misturar ao ambiente,
    observando e analisando uma situação,
  • 0:28 - 0:30
    é mais confortável pra mim,
  • 0:31 - 0:35
    ou, como vou explicar daqui a pouco,
    quando pego a estrada sozinho.
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    A não ser que esta moça esteja comigo.
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    Sim, eu chamo a minha câmera de "moça".
  • 0:41 - 0:42
    (Risos)
  • 0:42 - 0:44
    Ela é meu refúgio
  • 0:44 - 0:49
    e já passei mais tempo com ela do que
    com a maioria das pessoas que conheço.
  • 0:49 - 0:51
    Eu sou artista, sou fotógrafo,
  • 0:51 - 0:55
    sou um "nômade criativo",
    como costumo dizer.
  • 0:55 - 0:59
    É uma daquelas profissões criativas
    que faz as pessoas reagirem assim:
  • 0:59 - 1:01
    "Uau, queria fazer isso!"
  • 1:01 - 1:02
    Ou:
  • 1:03 - 1:06
    "Mas qual é o seu trabalho de verdade?"
  • 1:06 - 1:07
    (Risos)
  • 1:07 - 1:10
    Ou a minha favorita:
    "Você fez faculdade pra isso?"
  • 1:10 - 1:12
    (Risos)
  • 1:12 - 1:16
    E, como a maioria das coisas
    nas quais não somos experientes,
  • 1:16 - 1:19
    tiramos nossas próprias conclusões
    e fazemos julgamentos
  • 1:19 - 1:23
    com base nas coisas mais comuns
    que podemos imaginar.
  • 1:23 - 1:25
    Então, ao ouvirem a palavra "fotógrafo",
  • 1:25 - 1:31
    as pessoas geralmente pensam
    em retratos de casamento ou de formatura,
  • 1:31 - 1:35
    ou na forma ridícula como os fotógrafos
    são mostrados na TV e nos filmes.
  • 1:36 - 1:41
    E vou mostrar a vocês
    o que faço e por que faço.
  • 1:41 - 1:44
    Bem, quando as pessoas ouvem
    falar de mim ou me conhecem,
  • 1:44 - 1:47
    elas querem que eu fale sobre isso.
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    Eu poderia ficar aqui
  • 1:48 - 1:52
    e falar sobre como trabalhei
    com líderes mundiais
  • 1:52 - 1:56
    e sobre os surreais cinco minutos
    que passei com o presidente Obama.
  • 1:57 - 2:00
    Eu poderia falar sobre como foi
    fotografar Hillary Clinton
  • 2:00 - 2:04
    um semana antes da eleição,
    após um comício na Carolina do Norte,
  • 2:05 - 2:10
    ou sobre a tremenda tensão
    que senti ao fotografar Darren Wilson
  • 2:10 - 2:14
    um ano após o ocorrido em Ferguson,
    Missouri, para a revista The New Yorker
  • 2:14 - 2:18
    e, um ano depois,
    fotografar Bryan Stevenson,
  • 2:19 - 2:24
    advogado com escritório
    em Mobile, Alabama,
  • 2:24 - 2:26
    que luta pelos desassistidos,
  • 2:26 - 2:30
    e tivemos uma conversa sobre racismo
    da qual me lembro até hoje.
  • 2:31 - 2:35
    Ou simplesmente sobre o mais fácil
    e com que as pessoas se identificam:
  • 2:35 - 2:37
    as celebridades.
  • 2:37 - 2:39
    Poderia falar sobre Angelina Jolie,
  • 2:39 - 2:44
    ou poderia falar sobre
    Sarah Jessica Parker, ícone da TV,
  • 2:44 - 2:51
    ou sobre os diversos atores,
    músicos e famosos
  • 2:51 - 2:54
    com os quais interagi
    ao longo dos últimos dez anos.
  • 2:55 - 2:57
    Eu adoro o meu trabalho, adoro o que faço,
  • 2:57 - 3:00
    mas não é sobre isso que vim falar.
  • 3:01 - 3:05
    Vou falar sobre quando entro
    no meu Buick 2003,
  • 3:05 - 3:07
    viajando pelo país durante semanas,
  • 3:07 - 3:11
    e sobre como é aí
    que me sinto mais satisfeito.
  • 3:11 - 3:15
    Primeiro, preciso contar a vocês
    um pouco do meu passado
  • 3:15 - 3:17
    e por que faço o que faço.
  • 3:18 - 3:22
    Pensem num episódio resumido
    de "This American Life",
  • 3:22 - 3:24
    só que não tão longo.
  • 3:24 - 3:25
    (Risos)
  • 3:26 - 3:29
    Bem, eu sou um homem branco, cisgênero,
  • 3:29 - 3:33
    vindo de uma família humilde
    de Nova Iorque,
  • 3:33 - 3:36
    e, no geral,
  • 3:36 - 3:39
    minha infância não foi
    das mais privilegiadas,
  • 3:39 - 3:42
    mas também não foi de todo ruim.
  • 3:43 - 3:47
    Meus pais, porém, estavam muito
    ocupados com seus próprios demônios,
  • 3:47 - 3:51
    e eu nunca me sentia
    verdadeiramente notado por eles.
  • 3:51 - 3:53
    Mas a culpa não era necessariamente deles.
  • 3:53 - 3:57
    Era apenas o resultado
    da realidade de vida deles.
  • 3:57 - 4:03
    Depressão, vício, raiva e ressentimento
    sobrecarregavam os dois.
  • 4:04 - 4:07
    Aos meus sete anos, minha mãe
    foi diagnosticada com câncer.
  • 4:07 - 4:13
    Foi o início de uma batalha que durou
    dez anos, mas ela sobreviveu.
  • 4:13 - 4:17
    Foi também nessa época que ela me ensinou
    a preparar drinques pra ela.
  • 4:18 - 4:24
    Aos dez anos, eu sabia que era "queer",
    que eu gostava de rapazes,
  • 4:24 - 4:27
    e, aos 13, minha mãe me tirou do armário.
  • 4:27 - 4:32
    Foi algo que me fez sentir como se minha
    identidade tivesse sido arrancada de mim.
  • 4:32 - 4:38
    Aos meus 14, acho que meu pai já tinha uma
    ou duas autuações por dirigir alcoolizado.
  • 4:39 - 4:41
    Aos meus 16, ele saiu de casa
  • 4:41 - 4:44
    e, aos 18, eu quase
    não falava mais com eles.
  • 4:46 - 4:49
    Então, minha vida até
    aquele momento me fez sentir
  • 4:49 - 4:52
    como se minhas experiências e sentimentos
  • 4:52 - 4:55
    jamais seriam tão importantes
    para os meus pais.
  • 4:55 - 4:57
    Racionalmente, eu sabia que eram,
  • 4:57 - 5:02
    mas não sabia exatamente
    o que me faria me sentir diferente.
  • 5:02 - 5:06
    Só sabia que não queria que ninguém
    que entrasse em minha vida
  • 5:06 - 5:08
    se sentisse ignorado.
  • 5:09 - 5:11
    Aí, arranjei uma câmera.
  • 5:12 - 5:15
    Pra mim, a fotografia
    sempre foi interessante
  • 5:15 - 5:19
    por causa de sua natureza
    de proximidade e colaboração.
  • 5:19 - 5:22
    Seria uma forma de eu conhecer pessoas
  • 5:22 - 5:28
    fora daquela bolha de segurança
    que eu havia criado pra mim.
  • 5:28 - 5:31
    Então, comecei a fotografar.
  • 5:31 - 5:35
    Conforme fui interagindo
    com outras pessoas,
  • 5:35 - 5:41
    percebi que a interação em si
    era na verdade mais interessante pra mim
  • 5:41 - 5:43
    do que a fotografia.
  • 5:43 - 5:45
    Quando comecei a perceber isso
  • 5:47 - 5:50
    e pensei em meu pai,
    que havia ficado sóbrio havia pouco,
  • 5:50 - 5:52
    quis que ele se sentisse visto.
  • 5:53 - 5:56
    Àquela altura, eu e ele ainda
    estávamos muito afastados.
  • 5:57 - 5:59
    Eu estava fazendo pós-graduação
  • 5:59 - 6:03
    e minha professora, Collier Schorr,
    me disse uma coisa
  • 6:03 - 6:06
    que ainda ressoa em minha mente
    praticamente todos os dias:
  • 6:07 - 6:09
    que meu trabalho era "fácil demais"
  • 6:09 - 6:12
    e que o fato de eu fazer
    algo que "parece bom"
  • 6:12 - 6:15
    não significa que seja interessante.
  • 6:16 - 6:20
    Então, eu precisava pôr à prova
    a mim e à minha arte.
  • 6:20 - 6:26
    Por incrível que pareça, após anos
    tentando me sentir confortável,
  • 6:26 - 6:28
    precisava me sentir
    desconfortável de novo.
  • 6:29 - 6:33
    Perguntei ao meu pai se ele aceitaria
    me deixar fazer uma foto dele.
  • 6:33 - 6:35
    Essa foi a primeira que fiz dele.
  • 6:36 - 6:40
    Aí, dei uma pausa porque precisava
    de muita reflexão
  • 6:40 - 6:43
    para entender o que eu realmente
    queria fazer com ele.
  • 6:44 - 6:47
    Então, continuei a fotografá-lo
  • 6:47 - 6:51
    e começamos a ter um diálogo,
    mas através das fotografias.
  • 6:53 - 6:58
    Então comecei a tirar
    retratos meus com ele
  • 6:58 - 7:04
    porque eu só queria, a princípio,
    ter uma proximidade física com ele.
  • 7:04 - 7:09
    E essa ideia me fez perceber
    que eu precisava de uma imersão total,
  • 7:09 - 7:12
    que eu não precisava
    de um plano de fuga fácil.
  • 7:12 - 7:18
    Então, perguntei a ele, meio que nem
    imaginando que ele fosse aceitar,
  • 7:18 - 7:22
    se toparia fazer comigo a viagem de carro
    que nunca fizemos quando eu era criança.
  • 7:22 - 7:26
    Pra minha surpresa, ele disse:
    "Claro, vamos sim".
  • 7:26 - 7:28
    Aí, eu e ele pegamos na estrada
  • 7:28 - 7:32
    e, durante a viagem,
  • 7:32 - 7:37
    começamos a criar uma relação de fantasia
    que na verdade nunca existira.
  • 7:37 - 7:38
    (Risos)
  • 7:39 - 7:42
    Mas a experiência de tirar essas fotos
  • 7:42 - 7:48
    criou um vínculo entre nós que de outra
    forma não conseguiríamos criar.
  • 7:48 - 7:51
    Foi um momento revelador
    pra mim com a fotografia.
  • 7:51 - 7:54
    Eu usava minha câmera
    como se fosse uma terapeuta.
  • 7:54 - 7:56
    Ela se tornou uma terceira pessoa
  • 7:56 - 7:59
    que permitia que nós dois
    nos comunicássemos
  • 7:59 - 8:02
    mesmo quando não estávamos
    conversando de fato.
  • 8:03 - 8:06
    Finalmente nós vimos um ao outro.
  • 8:06 - 8:10
    Mais ou menos uma década depois,
  • 8:10 - 8:14
    não estou mais trabalhando com meu pai,
  • 8:14 - 8:19
    mas fotografo desconhecidos
    que encontro por acaso na estrada.
  • 8:19 - 8:25
    Cerca de um mês antes da eleição,
    eu estava com extrema ansiedade
  • 8:25 - 8:28
    e me sentindo estagnado
    em relação ao meu trabalho em geral.
  • 8:29 - 8:31
    Comecei a ver amigos se afastarem
  • 8:31 - 8:37
    e a ter uma sensação de frustração
    geral nas redes sociais.
  • 8:37 - 8:40
    Pra ser bem sincero, eu só queria fugir.
  • 8:40 - 8:42
    Então, caí na estrada,
  • 8:42 - 8:45
    sem nenhum destino específico em mente.
  • 8:45 - 8:48
    Só sabia que queria
    atravessar o país de carro
  • 8:48 - 8:50
    e que queria fugir.
  • 8:51 - 8:53
    Então, após quase um dia de estrada,
  • 8:53 - 8:58
    percebi que precisava fazer alguma coisa
    enquanto estava na estrada,
  • 8:58 - 9:03
    porque estar sozinho pode levar
    a muita, muita reflexão.
  • 9:03 - 9:09
    Então, quando percebi
    que precisava fazer alguma coisa,
  • 9:09 - 9:11
    lembrei do tempo que passei com meu pai
  • 9:11 - 9:15
    e de como foi crucial
    e também transformador
  • 9:16 - 9:19
    pra mim, pra minha arte
    e pra a minha saúde mental.
  • 9:19 - 9:24
    Então, eu queria fazer isso
    com desconhecidos,
  • 9:24 - 9:27
    e entrei no Instagram, entrei no Facebook,
  • 9:27 - 9:30
    baixei todos os aplicativos de encontros
  • 9:30 - 9:33
    e comecei a enviar mensagens
    pra todos que podia
  • 9:33 - 9:36
    em cada cidade em que eu parava.
  • 9:37 - 9:41
    Bom, quando um desconhecido
    faz contato com você na internet,
  • 9:41 - 9:44
    é normal haver alguma hesitação.
  • 9:44 - 9:48
    Eu digo "desconhecido",
    mas quero que vocês saibam
  • 9:48 - 9:52
    que faço isso com uma comunidade
    que eu já conheço,
  • 9:52 - 9:55
    ou seja, homens gays e homens
    que se identificam como queer.
  • 9:55 - 10:00
    Então, eu enviava mensagens
    com uma breve descrição do meu trabalho,
  • 10:00 - 10:03
    que eu queria encontrar aquela pessoa,
    ir até a casa dela,
  • 10:03 - 10:07
    que podíamos nos encontrar em público
    e que queria tirar um retrato dela.
  • 10:07 - 10:10
    A maioria das respostas eram nãos,
  • 10:10 - 10:15
    e muitas variações de:
    "Isso é bizarro", ou...
  • 10:15 - 10:16
    (Risos)
  • 10:16 - 10:19
    "Não sou muito fotogênico".
  • 10:19 - 10:24
    Mas uma pergunta surgia com frequência,
  • 10:24 - 10:26
    e era: "Por que eu?"
  • 10:26 - 10:29
    E esse era outro
    momento revelador pra mim.
  • 10:29 - 10:32
    Não era necessário haver um "por que eu".
  • 10:32 - 10:37
    Queria que todos com quem eu interagisse
    não apenas se sentissem especiais,
  • 10:37 - 10:40
    mas que também sentissem
    que suas histórias poderiam ser ouvidas.
  • 10:41 - 10:45
    Então, esse trabalho se chama
    "O Dia do Lobo Solitário",
  • 10:45 - 10:49
    e vem de um livro chamado
    "A Linguagem Secreta dos Aniversários",
  • 10:49 - 10:52
    que calha de ser o dia em que nasci.
  • 10:52 - 10:55
    Bem, mencionei minha mãe há pouco,
  • 10:55 - 10:58
    e não foi por acaso.
  • 10:59 - 11:01
    Eu e ela ainda somos distantes,
  • 11:01 - 11:04
    mas queria aproveitar a oportunidade
    para agradecer a ela.
  • 11:04 - 11:09
    Quando eu era mais jovem, ela lia pra mim
    "A Linguagem Secreta dos Aniversários",
  • 11:09 - 11:12
    e ela usava os traços de personalidade
  • 11:12 - 11:16
    que eram mostrados
    no Dia do Lobo Solitário
  • 11:16 - 11:21
    para me criticar e, de vez em quando,
    também me elogiar,
  • 11:21 - 11:28
    tais como "sensível",
    "impulsivo", "contraditório".
  • 11:29 - 11:31
    Hoje, nos meus 30 e poucos,
  • 11:31 - 11:34
    recuperei minha identidade
    como homem queer
  • 11:34 - 11:38
    e também recuperei
    O Dia do Lobo Solitário,
  • 11:38 - 11:40
    e crio minha arte em homenagem a isso.
  • 11:41 - 11:44
    Então, desde a primeira viagem,
  • 11:44 - 11:47
    atravessei o país mais duas vezes,
  • 11:47 - 11:52
    e a única coisa que vocês sabem
    sobre essas fotos
  • 11:52 - 11:54
    é que eu sou o denominador comum.
  • 11:55 - 11:58
    Bem, todo mundo tem uma história,
    e vocês ouviram a minha...
  • 11:59 - 12:04
    Então, embora vocês não saibam
    os detalhes das lutas dessas pessoas
  • 12:04 - 12:08
    ou de suas conquistas
    ou até de seus privilégios,
  • 12:08 - 12:11
    há uma coisa que vocês sabem:
  • 12:11 - 12:15
    elas se permitiram ficar vulneráveis
    diante de um desconhecido
  • 12:15 - 12:17
    e foi isso que fiz com com vocês hoje.
  • 12:17 - 12:18
    Obrigado.
  • 12:18 - 12:20
    (Aplausos)
Title:
A fotografia como remédio para a solidão | Ryan Pfluger | TEDxPasadena
Description:

O fotógrafo Ryan Pfluger fala sobre como ele conseguiu usar a fotografia como forma de terapia e de conexão.

Ryan Pfluger é um fotógrafo de Nova Iorque. Suas fotografias normalmente retratam a sutileza da postura corporal, o olhar e o papel do autorretrato como demonstração do que a fotografia significa na nossa cultura atual saturada de imagens. No último ano, Ryan cruzou os Estados Unidos de carro durante alguns meses fazendo retratos utilizando aplicativos de geolocalização. Alguns de seus clientes incluem a New York Times Magazine, a The New Yorker, a New York Magazine e a revista TIME. Nascido e criado em Nova Iorque, Ryan obteve seu mestrado em fotografia, vídeo e mídias relacionadas pela School of Visual Arts em 2007.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:27

Portuguese, Brazilian subtitles

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