Como ser um defensor em vez de um espectador

Se você vir algo errado no seu local de trabalho, o que deve fazer? A líder empresarial Angélique Parisot-Potter diz que você deve falar abertamente, mesmo quando é algo assustador. Compartilhando sua experiência pessoal de expressar preocupações no trabalho, ela oferece três lições sobre como defender o que é certo.

Deixe-me contar uma história
com os personagens

que vou chamar de Bilal e Brenda.

Eu trabalhava numa parte
memorável do mundo.

E, numa manhã como qualquer outra,

uma colega veio me visitar.

Ela me contou que Bilal,
um dos nossos altos executivos,

estava dizendo a todos
que eu seria afastada

porque vinha incomodando
as pessoas erradas.

E agora, eu enfrentaria as consequências.

Não fiquei alarmada,

pois eu sabia que tinha feito
o que fui contratada para fazer:

meu trabalho,

que era lidar diretamente
com assuntos delicados, sendo minuciosa.

Na verdade, nos meses antes disso,

descobrimos mais do que
apenas alguns problemas.

Mas isso será assunto para outra hora.

Liguei para o meu marido, James,

para falar sobre essa conversa bizarra,

e, como se fosse um grande presságio,

ele disse: "Angelique, junte suas coisas,
e ligue para a Brenda, nesta ordem".

Liguei para a Brenda.

Trabalhamos juntas por anos
e eu confiava nela.

Foi ela que me indicou
para aquele emprego.

Fui direto ao assunto, pois a reação
do meu marido me fez perceber

que isso estava além do normal
que eu já havia enfrentado antes.

Eu digo "normal",

mas naquele momento de clareza,

percebi o que James já havia reconhecido.

Nada daquilo era normal.

Essas irregularidades,

parte de um padrão que eu temia perceber,

eram o que agora reconheço
como os segredos abertos

mantidos debaixo do tapete,
que tive a audácia de desvendar.

Para minha surpresa, soube
que isso estava acontecendo

porque eu não havia tentado explorar
o suficiente essas "áreas obscuras".

Era como se eu não soubesse quando recusar
lidar com algo que me traria problemas.

Eu não entendia

que era assim que o sistema funcionava.

A mensagem, a ameaça implícita foi clara.

Nas semanas seguintes,

fui substituída por um homem complacente,

enquanto eu ainda estava lá.

Tive uma gastrite grave

e fingi para minhas duas filhas jovens

que eu ainda tinha aquele emprego.

Eu saía toda manhã,
vestida para o trabalho,

e as deixava na escola;
fiz isso por seis meses.

Eu não desisti,

mas não vou fingir que foi
fácil me impor e falar,

ou que foi benéfico
para mim, para minha família,

ou para minha carreira.

Quando nos posicionamos
no local de trabalho

apesar das políticas contrárias,

talvez não percamos nosso emprego,

mas provavelmente perdemos
a amizade dos colegas.

Você será desacreditado, banido,

enfrentando um assédio discreto,

como quando você entra
na sala e todos se calam.

Nós pensamos que não é nossa
responsabilidade dizer algo.

Então, por que decidi agir apesar
dos riscos à minha família e a mim?

O pecado da omissão é não fazer
o que você sabe que é o certo.

Quando você se cala,

mesmo que não seja culpado
de nenhuma irregularidade,

com o que terá que conviver se não agir?

Então, quem é você neste time de atores?

O mau ator, o infrator?

O mau espectador que se beneficia
direta ou indiretamente

e age como um fantoche para o mau ator?

O espectador, consciente
dos segredos abertos,

mas que não está fazendo nada de errado?

Ou a pessoa íntegra?

Esta é a pessoa que você quer ver
quando olha no espelho.

Aprendi três coisas.

Uma, não duvide de si mesmo.

Quando vir algo estranho, pergunte,

pois está tudo bem desafiar
aqueles na posição de autoridade.

Dois, não seja cúmplice.

Você sempre tem o poder de dizer não

diante de uma irregularidade.

E três, seja íntegro.

Se posicionar não tem nada
a ver com ter coragem.

Não se trata de não sentir medo,

mas, quando você faz
o que sabe ser o certo,

pode ficar em paz consigo mesmo.

Sim, é difícil entender
como se sente naquele momento.

Faça assim mesmo. Não tenha medo.

Martin Luther King Jr. disse:

"No final, não nos lembraremos
das palavras dos nossos inimigos,

mas do silêncio dos nossos amigos".

Então, ao se olhar no espelho,

quem você verá?

Um espectador, um cúmplice,

ou uma pessoa íntegra?

Eu sei quem eu vejo.

Sei quem minhas filhas veem.

A escolha é sua.