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Hoje eu tenho esperança: dependência e reabilitação | Alfred Clapp | TEDxStroudsRun

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    Eu tinha uma palestra diferente para hoje,
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    mas fiquei aqui o dia todo e ela mudou.
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    (Risos)
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    Algumas partes serão as mesmas
    porque essa é minha história.
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    Tenho esperança hoje em dia.
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    Tenho esperança porque não estou sozinho.
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    A loucura da dependência
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    é que eu posso estar
    em uma sala lotada de pessoas
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    e estar totalmente sozinho.
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    Este não é um mundo seguro para mim.
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    Não era seguro antes da dependência.
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    Na segunda série,
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    estava um ano atrasado,
    tinha mudado de escola um ano antes,
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    existia a possibilidade de abuso infantil
    quando eu era até mais novo que isso.
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    Eu corria pelos cantos do parquinho,
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    vendo as outras crianças brincarem.
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    Eu não sabia brincar.
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    Então lembro de continuar correndo
    pelos cantos do parquinho
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    vendo as outras crianças brincarem.
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    Quando eu usava drogas,
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    eu conseguia ficar bem.
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    Aquele sentimento
    de não estar bem, de não pertencer
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    era reprimido.
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    Aqueles medos,
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    aquelas sensações,
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    aquela responsabilidade de pertencer,
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    tudo ia embora.
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    Na reabilitação,
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    tenho aprendido
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    a ficar bem.
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    Eu estava olhando para as pessoas aqui...
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    Eu estava sentado ali há pouco tempo,
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    acho que antes dessa sessão começar,
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    estava observando e pensando:
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    "Têm pais nesta sala
    cujos filhos eu ensinei".
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    "Têm irmãs de amigos
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    cuja mãe é amiga de escola
    da minha esposa.
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    Elas tocavam violoncelo juntas".
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    "Tem um homem aqui
    que afinou o piano para minha mãe.
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    Aquele piano
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    era do meu avô,
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    que, quando era garoto, abria
    a porta de trás da varanda de casa
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    para deixar seu pai bêbado entrar
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    quando ele desmaiava na varanda.
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    Não sei quantas noites por semana".
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    Minha família tem um histórico
    de não estar bem,
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    de não saber lidar com a vida...
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    falta de estratégias de enfrentamento.
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    Então, enquanto eu corria
    pelos cantos do parquinho, tendo...
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    decidi isso anos depois,
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    tendo faltado no dia
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    em que entregaram o livro
    que ensinava a viver,
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    a brincar,
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    a fazer amigos,
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    a ser responsável,
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    a ser um adulto,
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    a ser uma criança,
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    a fazer, sabe, qualquer coisa.
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    Foi isso que eu fiz.
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    Eu não sabia como.
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    Então eu comia...
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    bastante.
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    Eu assistia à televisão.
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    Eu me lembro do meu...
    isso não estava na versão original.
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    Eu me lembro do meu pai
    desligando a televisão
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    e, se eu não podia assistir...
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    ou mudando o canal...
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    mas, se eu não podia assistir
    ao meu programa,
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    ele também não ia assistir ao dele.
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    Então peguei um pedaço de madeira
    e detonei a televisão.
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    Aquilo fez total sentido para mim.
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    Quando eu estava tentando ficar bem,
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    eu estava disposto a fazer qualquer coisa
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    para não ter que lidar com a vida.
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    Isso continuou pela minha vida.
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    Eu não entendia o que era
    ter um relacionamento.
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    E agora, um dos motivos
    pelos quais a palestra de hoje mudou
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    são os relacionamentos
    que tenho com pessoas nesta sala.
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    Porque seus filhos brincam
    com os meus filhos...
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    natação, hipismo, ginástica.
  • 5:12 - 5:13
    (Risos)
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    A lista continua.
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    E as pessoas
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    com as quais compartilhei minha música...
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    meu canto, minha bateria,
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    meu violoncelo.
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    Existem tantas coisas que nos conectam.
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    Essa comunidade é tão vibrante.
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    Por isso que hoje em dia
    eu tenho esperança;
  • 5:37 - 5:40
    porque sei que não estou sozinho.
  • 5:40 - 5:42
    E ouvindo os outros compartilhando,
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    se esforçando para compartilhar,
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    se esforçando para viver,
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    se esforçando para entender tudo,
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    ou tendo ideias sobre
    como entender tudo isso
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    ou como passar por isso,
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    como se achar,
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    como voltar para a sociedade
    depois de ficar fora dela.
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    Tenho um amigo aqui
    que conheci por trás dos muros,
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    quando eu falava sobre ter esperança
    na minha reabilitação,
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    atrás dos muros da prisão de Hocking.
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    E quando eu o visitei, ele fazia
    parte do Exército de Salvação,
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    ajudando as pessoas a ingressar
    e confiando nelas
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    porque ele sabe o quão difícil isso é.
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    Participo de reuniões de reabilitação
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    há 17 anos, 3 meses e...
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    20 dias, 19 dias?
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    Uma época eu sabia, mas agora já esqueci,
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    mas faz muito tempo.
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    E a quantidade de anos
    que eu sentava nessas reuniões
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    sem me sentir bem na minha própria pele
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    e fui honesto sobre isso,
    dizendo que não queria me sentir assim,
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    foi bom.
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    Sabem por quê?
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    Porque todos estavam sentados na sala,
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    e sabe o que eles fizeram?
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    Eles assentiram com a cabeça.
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    Não tipo: "Ahã. Tá. Sei."
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    Mas tipo: "Sim, eu sei
    do que você tá falando.
  • 7:05 - 7:07
    Eu sei por que você fez o que fez.
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    Eu sei por que eu fiz o que fiz".
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    Muitos de vocês são eu.
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    Muitos de vocês me conhecem.
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    Muitos de vocês foram afetados por mim...
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    efetuados e afetados por mim,
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    sem ser escolha de vocês
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    porque estou sempre colocando uma máscara.
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    É meu grande sorriso.
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    Minha mãe tem o mesmo sorriso.
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    Nós sorrimos porque isso distancia vocês.
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    E, com o sorriso, vocês confiam em mim.
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    Vocês me deixam fazer coisas.
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    Eu fui abençoado
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    pelo fato de a minha dependência
    não ter me afundado
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    tanto quanto poderia.
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    Quando eu usava drogas,
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    eu pensava: "Agora sim!"
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    Funcionava.
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    As drogas funcionavam.
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    Eu me sentia melhor.
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    Quando fui para a reabilitação,
    eu pensava: "Agora sim!"
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    Eu realmente queria estar lá.
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    Essas pessoas,
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    assim como as pessoas que usavam,
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    todas elas me conheciam
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    porque elas tinham faltado
    no dia que entregaram o livro
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    e todos tínhamos achado
    algo que funcionava.
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    E na reabilitação,
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    eu estava com as pessoas
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    que também tinham faltado
    no dia que entregaram o livro da vida.
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    Mas perceberam que as drogas não ajudavam
    e estavam tentando outra coisa.
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    E eu queria aquilo.
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    Eu tentei religiões.
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    Eu tentei namoradas.
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    Eu cresci em Nova York,
    me mudei para a Califórnia,
  • 8:52 - 8:55
    me mudei para o Colorado, me mudei...
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    não, Arizona, Colorado, Califórnia,
    Colorado e agora Athens, Ohio.
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    E em todo lugar que eu ia, lá estava...
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    o lugar louco entre minhas orelhas,
  • 9:06 - 9:08
    esse lugar perigoso entre minhas orelhas,
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    que muitas pessoas que estavam
    em reabilitação entendiam
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    o quão perigoso isso era para mim.
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    Quanto mais honesto eu era
    com aquelas pessoas sobre a minha vida,
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    mais eu me identificava com elas.
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    E foi isso que eu fiz aqui
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    quando eu estava sentado
    ali no canto, chorando,
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    em lágrimas, sorrindo.
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    O Dan veio me ver.
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    Lágrimas correndo pelo rosto;
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    eu estava sentado ali, sorrindo a beça,
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    falando: "Uau!
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    Eu não estou sozinho!"
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    Eu tenho esperança hoje em dia.
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    Eu me relaciono com um grupo
    tão extenso de pessoas.
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    Meus amigos de reabilitação
  • 9:51 - 9:56
    estão em reuniões hoje em dia,
    ao redor do mundo todo.
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    Que horas... 45.
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    Então,
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    pessoas estão compartilhando
    experiências, força e esperança
  • 10:03 - 10:07
    em reuniões de discussão de tópicos.
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    Ou estão escutando alguém compartilhando
    experiências, força e esperança.
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    E quando der a hora,
    eles estarão rezando por mim.
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    Eles estão rezando para todos
    que estão em reabilitação
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    nesta sala e nessa comunidade.
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    Não estamos sozinhos.
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    Isso é tão incrível
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    porque era assim que eu estava
    quando era dependente
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    e antes da dependência:
  • 10:41 - 10:42
    sozinho,
  • 10:42 - 10:45
    correndo pelos cantos do parquinho,
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    sem ter recebido o livro.
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    Hoje reconheço que talvez
    não exista um livro.
  • 10:54 - 10:58
    Mas essa é a loucura da minha doença,
  • 10:58 - 11:01
    ela quer que eu pense que sou diferente.
  • 11:01 - 11:04
    Quer que eu pense que não pertenço.
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    Mas olhe para esta sala.
  • 11:09 - 11:11
    Olhe para essas pessoas.
  • 11:12 - 11:16
    Pense nas histórias que escutamos hoje.
  • 11:17 - 11:19
    Pense na esperança.
  • 11:22 - 11:25
    Eu estou tão, tão grato
  • 11:25 - 11:29
    pela chance de fazer parte disso.
  • 11:31 - 11:35
    Estou apaixonado por tantos de vocês.
  • 11:35 - 11:37
    E eu sei
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    que, na minha dependência,
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    dependentes me amaram
    até eu aprender a amar a mim mesmo.
  • 11:48 - 11:51
    Eu sei, neste momento,
  • 11:51 - 11:54
    porque minha loucura volta muito rápido,
  • 11:54 - 11:58
    neste momento, eu amo muito todos vocês.
  • 11:58 - 11:59
    E agradeço
  • 12:00 - 12:05
    por me ajudarem a escolher pertencer
    em vez de ficar sozinho.
  • 12:06 - 12:10
    Agradeço por esse
    compartilhamento incrível
  • 12:10 - 12:14
    e as histórias que... uau!
  • 12:14 - 12:15
    Obrigado.
  • 12:16 - 12:17
    Obrigado, e...
  • 12:19 - 12:26
    espero que possamos sair daqui
    e lembrar do que aconteceu hoje.
  • 12:26 - 12:28
    Obrigado.
  • 12:28 - 12:31
    (Aplausos)
Title:
Hoje eu tenho esperança: dependência e reabilitação | Alfred Clapp | TEDxStroudsRun
Description:

No mundo da dependência e da reabilitação, o que significa ter esperança? O palestrante Alfred Clapp diz: "Deixei de ser solitário e passei a me relacionar com outros dependentes e com as pessoas à minha volta. Eu não tinha mais medo. Todo dia, faço uma escolha: quero ficar sozinho ou quero fazer parte de um mundo maior que meu egocentrismo? Ou você é como eu, ou me conhece, ou sua vida foi afetada por mim sem a sua permissão. Seu amor talvez seja a única coisa que me manterá vivo!"

Alfred Clapp é filho e irmão. Ele se tornou dependente químico. Conseguiu se reabilitar e hoje é marido e pai adotivo.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:42

Portuguese, Brazilian subtitles

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