Por que você deve falar regularmente com estranhos | Traca Savadogo | TEDxSeattle

Desde 2006, Traca Savadogo conheceu em média 3 novas pessoas todos os dias e ouviu suas histórias, resultando em 90 conversas por mês. Compartilhando constantemente em mídias sociais e em palestras, Traca fala sobre o que a levou a lançar seu "Curiosity Conversations" e como suas interações com frequência se desenvolvem em insights surpreendentes, oportunidades inesperadas e amizades queridas. Ela se lembra dos inúmeros exemplos de conversas transformadoras que começaram com apenas um momento de curiosidade. Traca quer nos mostrar que histórias incríveis estão acontecendo ao nosso redor e que só precisamos "aparecer e ser curiosos". Ela nos deixa com uma lista de dicas para o que precisamos investigar em uma Conversa de Curiosidade e um lembrete de que, em um mundo onde muitos de nós ficamos enterrados em nossos celulares, a conexão humana é realmente o que procuramos.

Traca é uma borboleta social profissional. Ela tem paixão por grandes ideias e diálogos, e sua abordagem é simples: faça perguntas, seja curioso. Traca está constantemente à procura de lindos momentos com estranhos. Ela pergunta: "Qual sua história?" ou "Como você gostaria de ser lembrado(a)?" e observa o desenrolar das narrativas.

Originalmente do meio-oeste, onde conversar com estranhos é normal e parte de quem a sociedade é, Traca ambiciona oferecer às pessoas passos reais que elas podem utilizar para iniciar interações.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais, visite http://ted.com/tedx

Pare um pouco e olhe ao seu redor.

O que chama sua atenção?

O rapaz com um bóton colorido na jaqueta?

A linda tatuagem dela?

O homem no terno roxo?

Você questionaria um estranho sobre isso?

Eu sim.

(Risos)

Tenho feito perguntas às pessoas,
em média, três vezes ao dia desde 2006.

Foi assim que conheci Jana.

Jana tem um sorriso
que ilumina o ambiente.

Quando a conheci,
ela usava uma camisa com decote V

e notei uma cicatriz funda em seu peito.

Ela não fazia questão de escondê-la.

Então eu arrisquei:

"Posso perguntar sobre a cicatriz?"

Ela disse: "Claro. Contraí gripe,
e isso lesou meu coração".

No dia em que conheci Jana,

só 10% do seu fraco coração funcionava.

Apenas uma bateria a mantinha viva.

A cicatriz representa uma vida
que mudou para sempre.

Nos ensinam: "Não olhe. Não pergunte".

Por quê?

Ao desafiar essa ideia,

aprendi uma lição valiosa
sobre o espírito humano.

Quando a vida te derrubar,

levante-se.

Com seu frágil coração
e em plena crise de sua doença,

Jana decidiu fazer um MBA.

Por fim, ela conseguiu um transplante
e uma segunda chance na vida.

Eu tive a chance de testemunhar isso.

E tudo começou com uma simples pergunta.

Quando comecei esse experimento social,
há mais de dez anos,

tomei a decisão de ser curiosa.

Por quê?

Porque na maior parte da minha vida,
eu tentei ativamente ser invisível.

Eu ouvia as histórias das outras pessoas,
pois ninguém se interessava pelas minhas.

Quem eu queria que ligasse, não ligava.

Então tomei a decisão

de ser sujeito ativo nas aleatoriedades
da minha própria vida.

(Risos) (Aplausos) (Vivas)

Todos os dias em que eu saísse de casa,

eu iniciaria uma conversa
como a que tive com Jana.

A caminho do trabalho, na fila de espera

ou numa sala como esta.

Aprendi que tenho uma crença fundamental

de que coisas incríveis
estão para acontecer.

Eu só preciso me colocar à disposição.

Meu musical favorito,
"Hamilton", tem um trecho...

(Vivas) É.

Meu musical favorito, "Hamilton",
tem um trecho assim:

♪ Eu quero estar no lugar onde acontece,

no lugar onde acontece. ♪

Por muito tempo,

achei que eu nunca estava no lugar
onde algo de interessante acontecia.

Cresci em Peoria, Illinois,

e eu acreditava que algo incrível
estava acontecendo em algum outro lugar.

(Risos)

Mas e se aquilo não fosse verdade?

Quem está aqui nesta sala?

Quem está na sala em que você se encontra?

Eu decidi descobrir.

E descobri que há surpresas por todo lado,

se tivermos coragem
de descobrir e perguntar.

Vou dar um exemplo.

Eu estava em um hostel,

e estava com dificuldade
para fazer waffles

numa manhã, no café da manhã.

Me virei para o rapaz
que estava por ali e pedi ajuda,

e isso criou um momento.

E eu descobri que ele era um cientista
pesquisando a partícula de Deus,

(Risos)

o Bóson de Higgs.

É o pilar da física

que une tudo e forma a base do universo.

(Risos)

Eu achava que nada acontecia
nos lugares em que eu estava...

(Risos)

e um físico de partículas nucleares
estava me ajudando a fazer waffles.

(Risos) (Aplausos)

Né?

(Aplausos)

Não me entenda mal.

Não é fácil criar momentos com estranhos.

Isso às vezes também me inquieta.

Me pergunto como começar a conversa,

qual a pergunta certa.

Mas aprendi que, assim como eu,

todos anseiam por conexões,

e vale a pena arriscar.

Então, como ter uma conversa
por curiosidade?

Aprendi que existem coisas fundamentais

que transformam conversas comuns
em extraordinárias.

Primeiro, encontre uma entrada.

As pessoas deixam pistas, certo?

A cicatriz, a tatuagem,
o livro que estão lendo.

Às vezes acho que sei
a história das pessoas...

invento uma história e depois pergunto.

Sempre me surpreendo com a realidade.

Tem um rapaz no meu bairro,
vejo ele frequentemente,

e, francamente, eu tinha medo dele.

Ele raspa a cabeça, usa coturnos pretos

e um trench coat
coberto de bótons e apliques,

e nos seus ombros largos tem escrito:
"Não toque em mim".

(Risos)

Eu atravessava a rua pra evitá-lo.

(Risos)

Né?

Mas um dia fiquei curiosa
e decidi abordá-lo.

E descobri que tinha a voz doce,
com um sotaque australiano.

(Risos)

Ponto pra ele, certo?

(Risos)

E ele era escritor,
tinha escrito cinco livros.

Então finalmente tive a chance
de fazer a pergunta que não queria calar:

"Cara, qual o lance da sua jaqueta?

'Não toque em mim'?"

Ele disse: "Minha mulher sofre
de ansiedade em lugares públicos,

e seu cachorro de apoio faleceu.

Não conseguimos encontrar outro ainda,

então falei que eu seria seu apoio".

Plateia: Ahhh.

"Costurei aquele aplique na minha jaqueta

pra ajudar quando estivermos
em lugares públicos".

Essa é a história que eu inventei...

(Risos)

Eu estava completamente enganada.

E quantas vezes a gente não faz isso?

Inventamos histórias sobre as pessoas
sem nunca saber a verdade.

Então perguntem.

A magia do diálogo acontece
quando decidimos ir além.

Como no dia em que conheci Lila.

Lila é a mulher mais linda que já conheci,

e soube que ela é da Síria.

O que você sabe sobre a Síria?

Lila vem de uma linda cidade perto da agua

e vivia rodeada de amigos e familiares.

Ela e o marido eram dentistas,

então veio a guerra.

Eu perguntei a ela:

"O que fez vocês sairem de lá?"

Ela disse que uma bomba caiu
ao lado de sua casa,

alguns minutos antes, seu filho
brincava no mesmo local.

Lágrimas caíram de seus olhos.

E então perguntei a ela:

"Vocês ainda têm a casa lá

ou a venderam?"

Ela falou: "Sim, ainda temos a casa.

Eu nunca voltarei a vê-la.

Quem compra casas durante uma guerra?

É preciso ter esperança
pra isso acontecer,

e na Síria não há esperança".

Conhecer Lila trouxe contexto às notícias.

Até hoje, 5 milhões de pessoas
deixaram suas casas na Síria.

Essa é a maior crise de refugiados
do nosso tempo.

Então eu lhes pergunto:

o que transforma um diálogo
em algo extraordinário?

Seja presente.

Fui a uma reunião em um edifício
pretensioso no centro.

E perguntei ao cara
com quem eu tinha a reunião:

"Ei, como você conseguiu seu trabalho?"

(Risos)

Ele disse que atravessou o país
em função dos estudos de sua esposa.

Um dia, eles foram a uma festa juntos.

Ele conversou com outra pessoa na festa,

que era o diretor financeiro
de uma startup em rápido crescimento,

e ofereceu um emprego a ele.

"Três promoções e cinco anos depois",
ele falou, "ainda estou aqui".

Eu queria saber:

"E se você nunca tivesse
ido àquela festa?"

Ele falou: "Minha vida seria
totalmente diferente".

"E se você nunca tivesse dito oi?

E se, só por uma noite, você apagasse?"

'Veja, eu acredito fortemente

que uma conversa pode mudar toda sua vida.

Ele estava no lugar;
a oportunidade estava lá.

O que você faria?

Olharia seu celular?

(Risos)

Não.

Vá fazer sua própria sorte.

Vá conhecer alguém.

Eu mencionei antes, tenho conhecido
em média, três pessoas por dia.

Isso são 90 conversas
por curiosidade em um mês.

Ao longo de dois anos e meio,

eu poderia encher essa sala
com as pessoas que conheci.

Meu maior medo são os momentos
que deixamos escapar.

Quem está nesta sala?

Quais as conversas por curiosidade
você poderia estar tendo?

Quais conversas transformadoras
você poderia estar tendo hoje?

Quem está aqui?

Qual a história dessas pessoas?

Uma conversa que você tem hoje
pode mudar sua vida.

Obrigada.

(Aplausos) (Vivas)