< Return to Video

Religião, evolução e o êxtase da auto-transcendência

  • 0:01 - 0:03
    Tenho uma pergunta para vocês:
  • 0:03 - 0:05
    Vocês são religiosos?
  • 0:06 - 0:08
    Por favor levantem a mão direita agora
  • 0:08 - 0:10
    se se consideram uma pessoa religiosa.
  • 0:11 - 0:14
    Vejamos, eu diria cerca de 3 ou 4%.
  • 0:14 - 0:17
    Não fazia ideia de que haveria
    tantos crentes numa conferência TED.
  • 0:17 - 0:19
    (Risos)
  • 0:19 - 0:20
    Ok, aqui está outra pergunta:
  • 0:20 - 0:24
    Consideram-se pessoas espirituais
    de qualquer maneira, forma ou sentido?
  • 0:24 - 0:25
    Levantem a mão.
  • 0:26 - 0:27
    Ok, é a maioria.
  • 0:28 - 0:30
    A minha palestra de hoje
    é sobre a principal razão,
  • 0:30 - 0:33
    uma das principais razões
    por que a maioria das pessoas
  • 0:33 - 0:35
    consideram ser espirituais,
    de alguma forma ou sentido.
  • 0:36 - 0:38
    A minha palestra de hoje
    é sobre a auto-transcendência.
  • 0:39 - 0:42
    Por vezes o ego dissolve-se
  • 0:42 - 0:45
    — é um facto básico do ser humano.
  • 0:46 - 0:49
    Quando isso acontece,
    temos uma sensação de êxtase
  • 0:50 - 0:52
    e temos tendência para metáforas
    ilustrando altos e baixos
  • 0:52 - 0:55
    para explicar essas sensações.
  • 0:55 - 0:57
    Fala-se de um estado
    de exaltação ou de elevação.
  • 0:58 - 1:01
    É muito difícil pensar numa coisa
    tão abstrata como esta
  • 1:01 - 1:03
    sem uma boa metáfora concreta.
  • 1:03 - 1:06
    Esta é a metáfora que vos proponho hoje.
  • 1:06 - 1:09
    Pensem no espírito como uma casa
    com muitas divisões.
  • 1:09 - 1:11
    a maioria das quais conhecemos muito bem.
  • 1:12 - 1:14
    Mas, por vezes, aparece uma porta
  • 1:14 - 1:17
    vinda não se sabe de onde,
  • 1:17 - 1:19
    que se abre para uma escada.
  • 1:20 - 1:22
    Subimos a escada
  • 1:22 - 1:24
    e sentimos um estado
    alterado de consciência.
  • 1:26 - 1:30
    Em 1902, o grande psicólogo
    norte-americano William James
  • 1:30 - 1:33
    escreveu sobre a grande variedade
    da experiências religiosas.
  • 1:33 - 1:35
    Reuniu todo o tipo de estudos de casos.
  • 1:35 - 1:37
    Citou todo o tipo de pessoas
  • 1:37 - 1:39
    que tinham vivido
    esse género de experiências.
  • 1:39 - 1:42
    Para mim, uma das mais interessantes
  • 1:42 - 1:44
    é a dum jovem, Stephen Bradley
  • 1:44 - 1:46
    que julgava ter tido um encontro
    com Jesus, em 1820.
  • 1:46 - 1:48
    Isto é o que Bradley disse dele.
  • 1:49 - 1:51
    (Vídeo
  • 1:54 - 1:56
    (Música)
  • 1:56 - 1:59
    Stephen Bradley: Pensei que tinha visto
    o Salvador, na forma humana,
  • 1:59 - 2:02
    durante um segundo, na sala,
    com os braços abertos.
  • 2:02 - 2:05
    Apareceu-me e disse: "Vem".
  • 2:05 - 2:08
    No dia seguinte, eu tremia de felicidade
  • 2:08 - 2:12
    A minha felicidade era tão grande
    que até disse que queria morrer.
  • 2:12 - 2:14
    Este mundo não era digno da minha afeição.
  • 2:14 - 2:18
    Antes desse momento,
    eu era muito egoísta e convencido.
  • 2:18 - 2:22
    Mas agora desejo o bem-estar
    de toda a humanidade
  • 2:22 - 2:25
    e, de todo o meu coração,
    podia perdoar aos meus piores inimigos.
  • 2:27 - 2:31
    Jonathan Haidt: Reparem
    como o "eu" mesquinho e moralista
  • 2:31 - 2:33
    morre ao subir uma escada.
  • 2:34 - 2:37
    Neste nível superior
    torna-se amante e clemente.
  • 2:38 - 2:41
    Muitas religiões do mundo
    encontraram inúmeras formas
  • 2:41 - 2:43
    de ajudar as pessoas a subir a escada.
  • 2:43 - 2:45
    Alguns abafam o seu "eu"
    através da meditação.
  • 2:45 - 2:48
    Outros usam drogas psicadélicas.
  • 2:48 - 2:51
    Isto é de um pergaminho
    azteca do século XVI
  • 2:51 - 2:53
    e mostra um homem prestes a comer
    um cogumelo alucinogénio
  • 2:53 - 2:57
    que, ao mesmo tempo, é puxado
    para o topo da escada por um deus.
  • 2:57 - 3:02
    Outros dançam, rodopiam ou andam à roda
    para aceder à auto-transcendência.
  • 3:02 - 3:05
    Mas não precisamos duma religião
    para subir a escada.
  • 3:05 - 3:08
    Muitas pessoas encontram
    a auto-transcendência na natureza.
  • 3:08 - 3:11
    Outros ultrapassam o seu "eu" em festas.
  • 3:11 - 3:13
    Mas o local mais estranho de todos é:
  • 3:14 - 3:15
    a guerra.
  • 3:15 - 3:18
    Muitos livros sobre a guerra
    dizem a mesma coisa,
  • 3:18 - 3:22
    que nada une tanto as pessoas
    como a guerra
  • 3:23 - 3:25
    Essa união das pessoas torna possíveis
  • 3:25 - 3:28
    experiências extraordinárias
    de auto-transcendência.
  • 3:28 - 3:31
    Vou ler-vos um excerto
    deste livro de Glenn Gray.
  • 3:32 - 3:35
    Gray era um soldado do exército
    norte-americano na II Guerra Mundial.
  • 3:35 - 3:38
    Depois da guerra entrevistou
    muitos outros soldados
  • 3:38 - 3:40
    e escreveu sobre a experiência de homens
    no campo de batalha.
  • 3:40 - 3:45
    Esta é uma passagem
    em que ele descreve a escada.
  • 3:45 - 3:47
    Vídeo:
  • 3:47 - 3:49
    Glenn Gray:
    Muitos veteranos reconhecem
  • 3:49 - 3:52
    que a experiência do esforço comum
    no campo de batalha
  • 3:52 - 3:54
    foi o ponto culminante da sua vida.
  • 3:55 - 3:58
    Passa-se do "eu" para "nós",
    sem dar por isso,
  • 3:58 - 4:01
    "meu" passa para "nosso"
  • 4:01 - 4:05
    e as nossas crenças individuais
    perdem a sua importância central.
  • 4:05 - 4:09
    Creio que trata-se apenas
    da garantia da imortalidade
  • 4:10 - 4:13
    que torna o autossacrifício
    nesses momentos
  • 4:13 - 4:15
    tão fácil, relativamente.
  • 4:16 - 4:19
    Posso cair, mas não morro,
  • 4:19 - 4:22
    porque aquilo que é real em mim
    subsiste
  • 4:22 - 4:26
    e sobrevive nos meus camaradas
    por quem eu dei a minha vida.
  • 4:28 - 4:31
    JH: O que todos estes casos têm em comum
  • 4:31 - 4:34
    é que o "eu" parece diminuir
    ou desaparecer
  • 4:34 - 4:36
    e é uma boa sensação,
    uma sensação muito boa,
  • 4:36 - 4:39
    numa forma única,
    que nunca sentimos na vida normal.
  • 4:39 - 4:42
    É uma sensação de exaltação.
  • 4:42 - 4:46
    Esta ideia de elevação
    era fundamental na escrita
  • 4:46 - 4:48
    do grande sociólogo francês
    Émile Durkheim.
  • 4:48 - 4:50
    Durkheim até nos chamava Homo duplex,
  • 4:50 - 4:52
    ou seja, homem de dois níveis.
  • 4:52 - 4:55
    Chamava "nível do profano"
    ao nível inferior.
  • 4:55 - 4:58
    Ora bem, profano é o oposto de sagrado.
  • 4:58 - 5:00
    Significa apenas vulgar ou comum.
  • 5:00 - 5:03
    Na nossa vida ordinária,
    existimos como indivíduos.
  • 5:03 - 5:05
    Queremos satisfazer
    os nossos desejos individuais.
  • 5:05 - 5:09
    Procuramos os nossos objetivos individuais.
  • 5:08 - 5:12
    Mas, por vezes, acontece qualquer coisa
    que desencadeia uma mudança de fase,
  • 5:12 - 5:15
    Os indivíduos unem-se numa equipa,
  • 5:15 - 5:17
    num movimento ou numa nação,
  • 5:17 - 5:19
    que é muito mais
    do que a soma das suas partes.
  • 5:19 - 5:22
    Durkheim chamava "nível do sagrado"
    a este nível,
  • 5:22 - 5:26
    porque acreditava que a função da religião
  • 5:26 - 5:29
    era unir as pessoas num grupo,
    numa comunidade moral.
  • 5:30 - 5:33
    Durkheim acreditava
    que tudo aquilo que nos une
  • 5:33 - 5:36
    assume uma dimensão sagrada..
  • 5:36 - 5:39
    Quando as pessoas gravitam
    em torno de um objeto ou valor sagrado,
  • 5:39 - 5:42
    trabalharão como uma equipa
    e lutarão para o defender.
  • 5:42 - 5:46
    Durkheim escreveu sobre um conjunto
    de emoções coletivas intensas
  • 5:46 - 5:49
    que realizam este milagre de
    E pluribus Unum,
  • 5:49 - 5:51
    ou seja, formar um grupo
    a partir de indivíduos.
  • 5:51 - 5:54
    Pensem na alegria coletiva na Grã-Bretanha
  • 5:54 - 5:56
    no dia em que terminou
    a II Guerra Mundial.
  • 5:57 - 6:02
    Pensem na raiva coletiva na Praça Tahrir,
    que derrubou um ditador.
  • 6:03 - 6:06
    Pensem na dor coletiva,
    nos EUA,
  • 6:07 - 6:09
    que todos sentimos, que nos uniu a todos,
  • 6:09 - 6:11
    depois do 11/Setembro.
  • 6:13 - 6:15
    Vou resumir onde nos encontramos.
  • 6:16 - 6:18
    Estou a dizer que a capacidade
    para a auto-transcendência
  • 6:18 - 6:20
    faz parte do ser humano.
  • 6:21 - 6:24
    Estou a propor a metáfora
    duma escada no espírito humano.
  • 6:25 - 6:27
    Estou a dizer que somos Homo duplex
  • 6:27 - 6:31
    e que esta escada nos leva
    do nível profano ao nível do sagrado.
  • 6:32 - 6:34
    Quando subimos esta escada,
  • 6:34 - 6:37
    o interesse pessoal desvanece-se,
    ficamos muito menos egoístas
  • 6:37 - 6:42
    e sentimo-nos melhores, mais nobres,
    de certa forma, exaltados.
  • 6:43 - 6:46
    Agora a pergunta de ouro
  • 6:46 - 6:47
    para cientistas sociais como eu:
  • 6:48 - 6:52
    "Será a escada uma característica
    do nosso projeto evolutivo?
  • 6:53 - 6:57
    "Será um produto da seleção natural,
    tal como as nossas mãos?
  • 6:58 - 7:01
    "Ou será um defeito, um erro do sistema
  • 7:01 - 7:04
    " — esta coisa religiosa é apenas
    uma coisa que acontece
  • 7:04 - 7:07
    "quando os fios se cruzam no cérebro?"
  • 7:06 - 7:09
    Jili teve um ACV e teve
    aquela experiência religiosa,
  • 7:09 - 7:11
    Terá sido apenas um erro?
  • 7:11 - 7:14
    Muitos cientistas que estudam
    a religião têm essa opinião.
  • 7:14 - 7:16
    Os Novos Ateus, por exemplo,
  • 7:16 - 7:19
    defendem que a religião
    é um conjunto de memes,
  • 7:19 - 7:20
    uma espécie de memes parasitas,
  • 7:20 - 7:22
    que penetram no nosso espírito
  • 7:22 - 7:25
    e nos fazem fazer todo o tipo
    de coisas religiosas malucas,
  • 7:25 - 7:27
    coisas autodestrutivas,
    como os bombistas suicidas.
  • 7:27 - 7:29
    Afinal de contas,
  • 7:29 - 7:32
    como é que pode ser bom para nós
    perdermo-nos a nós mesmos?
  • 7:33 - 7:36
    Como é que pode ser adaptativo
    para qualquer organismo
  • 7:36 - 7:39
    esquecer o seu interesse pessoal?
  • 7:39 - 7:41
    Eu vou mostrar-vos.
  • 7:42 - 7:45
    Em "A Origem do Homem",
  • 7:45 - 7:47
    Charles Darwin escreveu muito
    sobre a evolução da moral
  • 7:47 - 7:50
    — a sua origem, a sua razão de ser.
  • 7:51 - 7:53
    Darwin assinalou
    que muitas das nossas virtudes
  • 7:53 - 7:55
    muito pouco préstimo têm para nós,
  • 7:55 - 7:57
    mas são muito úteis para os nossos grupos.
  • 7:57 - 8:01
    Descreveu um cenário em que
    duas tribos de homens primitivos
  • 8:01 - 8:03
    teriam entrado em contacto
    e em competição.
  • 8:03 - 8:06
    Disse: "Se uma das tribos tivesse
  • 8:06 - 8:09
    "um grande número de membros
    corajosos, solidários e fiéis,
  • 8:09 - 8:12
    "sempre prontos para se ajudarem
    e defenderem,
  • 8:12 - 8:15
    "essa tribo teria tido mais êxito
    e venceria a outra".
  • 8:16 - 8:18
    Continuou dizendo:
  • 8:18 - 8:21
    "As pessoas egoístas e conflituosas
    não se integram.
  • 8:21 - 8:23
    "E sem integração nada se pode fazer".
  • 8:24 - 8:25
    Por outras palavras,
  • 8:25 - 8:29
    Charles Darwin acreditava
    na seleção de grupo.
  • 8:30 - 8:33
    Esta ideia tem sido polémica
    nos últimos 40 anos,
  • 8:33 - 8:36
    mas está em vias de regressar
    em força este ano,
  • 8:36 - 8:40
    especialmente depois da saída do livro
    de E.O. Wilson, em abril próximo,
  • 8:40 - 8:41
    que defende fortemente a ideia
  • 8:41 - 8:45
    de que nós, e várias outras espécies,
    somos produto de seleção de grupo.
  • 8:45 - 8:46
    Mas a única forma de pensar nisso
  • 8:46 - 8:49
    é enquanto uma seleção a vários níveis.
  • 8:49 - 8:50
    Encarem-no sob este ângulo:
  • 8:50 - 8:54
    Entramos em competição,
    dentro do grupo e entre grupos.
  • 8:54 - 8:57
    Este é um grupo de rapazes
    duma equipa de remo universitária.
  • 8:57 - 9:01
    No seio desta equipa há competição.
  • 9:01 - 9:03
    Há rapazes que competem uns com os outros.
  • 9:03 - 9:06
    Os remadores mais lentos,
    mais fracos, serão eliminados da equipa.
  • 9:06 - 9:09
    Só alguns destes rapazes
    vão continuar neste desporto.
  • 9:09 - 9:11
    Talvez um deles consiga
    chegar aos Olímpicos.
  • 9:12 - 9:14
    Portanto, no seio da equipa,
  • 9:14 - 9:17
    os interesses individuais
    estão virados uns contra os outros.
  • 9:16 - 9:18
    Por vezes, será vantajoso
  • 9:18 - 9:22
    que um destes rapazes
    tente sabotar os outros rapazes.
  • 9:22 - 9:25
    Talvez difame o seu principal rival
    junto do treinador.
  • 9:26 - 9:29
    Mas, embora a competição
    continue dentro do barco,
  • 9:30 - 9:32
    esta competição também
    se processa entre barcos.
  • 9:32 - 9:36
    Quando colocamos estes rapazes num barco
    em competição com outro barco,
  • 9:36 - 9:38
    eles não têm alternativa senão cooperar
  • 9:38 - 9:41
    porque estão todos no mesmo barco.
  • 9:41 - 9:45
    Só podem ganhar se se unirem como equipa.
  • 9:45 - 9:47
    Ou seja, estas coisas parecem triviais
  • 9:47 - 9:49
    mas são profundas verdades evolutivas.
  • 9:49 - 9:51
    O principal argumento
    contra a seleção de grupo
  • 9:51 - 9:55
    tem sido sempre que seria bom
    ter um grupo de cooperantes
  • 9:55 - 9:58
    mas, logo que temos
    um grupo de cooperantes,
  • 9:58 - 10:01
    há parasitas que vão assumir o controlo,
  • 10:01 - 10:04
    indivíduos que vão explorar
    o trabalho duro dos outros.
  • 10:05 - 10:06
    Vou dar-vos um exemplo.
  • 10:06 - 10:09
    Suponhamos que temos um grupo
    de pequenos organismos
  • 10:09 - 10:12
    — podem ser bactérias,
    podem ser hamsters, não interessa —
  • 10:12 - 10:15
    e suponhamos que este pequeno grupo
    evoluiu para ser cooperante.
  • 10:15 - 10:18
    É ótimo. Alimentam-se,
    defendem-se uns aos outros.
  • 10:18 - 10:20
    trabalham em conjunto, geram riqueza.
  • 10:20 - 10:22
    Conforme veem nesta simulação,
  • 10:22 - 10:25
    quando interagem,
    ganham pontos, crescem
  • 10:25 - 10:28
    e dividem-se, quando
    atingem o dobro da estatura.
  • 10:28 - 10:30
    É assim que se reproduzem
    e que a população aumenta.
  • 10:30 - 10:33
    Mas suponhamos que um deles
    sofre uma mutação.
  • 10:33 - 10:34
    Ocorre uma mutação no gene
  • 10:34 - 10:37
    e um deles sofre uma mutação
    para entrar numa estratégia egoísta.
  • 10:37 - 10:39
    Tira partido dos outros.
  • 10:39 - 10:41
    Quando um verde interage com um azul,
  • 10:41 - 10:43
    vemos que o verde aumenta
    e o azul encolhe.
  • 10:43 - 10:46
    É assim que as coisas se desenrolam.
  • 10:46 - 10:47
    Começamos só com um verde
  • 10:47 - 10:51
    e, à medida que ele interage,
    ganha peso ou pontos ou comida.
  • 10:51 - 10:55
    Rapidamente, os cooperantes estão feitos.
  • 10:55 - 10:57
    Os parasitas sobrepõem-se.
  • 10:57 - 11:01
    Se um grupo não consegue resolver
    o problema dos parasitas
  • 11:01 - 11:03
    não pode colher os benefícios
    da cooperação
  • 11:03 - 11:06
    e a seleção de grupo
    não pode desencadear-se.
  • 11:07 - 11:10
    Mas há soluções para
    o problema dos parasitas.
  • 11:10 - 11:12
    O problema não é assim tão difícil.
  • 11:12 - 11:14
    A natureza já o resolveu
    muitas e muitas vezes.
  • 11:14 - 11:18
    A solução preferida da natureza
    é pôr toda a gente no mesmo barco.
  • 11:19 - 11:21
    Por exemplo,
  • 11:21 - 11:25
    porque é que a mitocôndria em cada célula
  • 11:25 - 11:29
    tem o seu próprio ADN
    totalmente separado do ADN do núcleo?
  • 11:29 - 11:33
    É porque, no início, eram bactérias
    separadas, semiautónomas.
  • 11:33 - 11:36
    Mas juntaram-se e tornaram-se
    num super organismo.
  • 11:37 - 11:40
    Nunca saberemos bem como
    — talvez uma tenha engolido a outra.
  • 11:41 - 11:43
    Mas, depois de terem
    uma membrana em volta delas,
  • 11:43 - 11:45
    estão todas dentro da mesma membrana.
  • 11:45 - 11:48
    A partir daí, toda a divisão de trabalho
    criada pela riqueza,
  • 11:48 - 11:50
    toda a grandeza criada pela cooperação,
  • 11:50 - 11:52
    fica encerrada dentro da membrana
  • 11:52 - 11:54
    e temos um super organismo.
  • 11:54 - 11:56
    Voltemos agora à simulação
  • 11:56 - 11:58
    colocando um destes super organismos
  • 11:58 - 12:02
    numa população de parasitas,
    de renegados, de batoteiros
  • 12:02 - 12:03
    e vejamos o que acontece.
  • 12:04 - 12:06
    Um super organismo
    pode arrebanhar o que quiser.
  • 12:07 - 12:09
    É tão grande, poderoso e eficaz
  • 12:09 - 12:14
    que pode arrebanhar recursos
    aos verdes, aos renegados, aos batoteiros.
  • 12:15 - 12:17
    Em breve, toda a população
  • 12:17 - 12:20
    é formada por estes
    novos super organismos.
  • 12:20 - 12:21
    O que acabo de vos mostrar
  • 12:21 - 12:24
    chama-se, por vezes,
    uma "transição importante"
  • 12:24 - 12:26
    na história da evolução.
  • 12:27 - 12:29
    As leis de Darwin não mudam.
  • 12:29 - 12:32
    mas agora há um novo tipo
    de jogador no terreno
  • 12:32 - 12:34
    e agora as coisas têm um aspeto diferente.
  • 12:35 - 12:37
    Esta transição não foi um erro
    esporádico da natureza
  • 12:37 - 12:40
    que aconteceu apenas
    com algumas bactérias.
  • 12:40 - 12:43
    Aconteceu de novo há cerca
    de 120 ou 140 milhões de anos
  • 12:43 - 12:46
    quando umas vespas solitárias
  • 12:46 - 12:49
    começaram a criar pequenos ninhos,
    ou seja, colmeias,
  • 12:49 - 12:50
    simples e primitivos.
  • 12:51 - 12:54
    Quando várias vespas se juntaram
    todas na mesma colmeia,
  • 12:54 - 12:56
    não tinham outra hipótese
    senão cooperarem,
  • 12:56 - 12:58
    porque em breve foram
    forçadas a entrar em competição
  • 12:58 - 13:00
    com outras colmeias.
  • 13:00 - 13:04
    As colmeias mais unidas ganharam,
    tal como Darwin dizia.
  • 13:05 - 13:09
    Estas vespas primitivas deram origem
    às abelhas e às formigas
  • 13:09 - 13:12
    que se espalharam pelo mundo
    e alteraram a biosfera.
  • 13:12 - 13:15
    Voltou a acontecer,
    ainda de forma mais espetacular,
  • 13:15 - 13:18
    nos últimos 500 000 anos,
  • 13:18 - 13:21
    quando os nossos antepassados
    se tornaram criaturas culturais.
  • 13:21 - 13:25
    Uniram-se em volta dum lar
    ou duma fogueira,
  • 13:25 - 13:27
    dividiram o trabalho,
  • 13:27 - 13:29
    começaram a pintar o corpo,
    a falar um dialeto próprio,
  • 13:29 - 13:32
    e acabaram por adorar os seus deuses.
  • 13:33 - 13:35
    Depois de formarem todos uma mesma tribo,
  • 13:35 - 13:38
    podiam guardar lá dentro
    os benefícios da cooperação.
  • 13:38 - 13:42
    Libertaram a força mais ponderosa
    jamais vista neste planeta,
  • 13:42 - 13:44
    ou seja, a cooperação humana,
  • 13:44 - 13:48
    uma força para a construção
    e para a destruição.
  • 13:48 - 13:51
    Claro que os grupos humanos,
    em parte alguma,
  • 13:51 - 13:53
    são tão unidos como as colmeias.
  • 13:53 - 13:56
    Os grupos humanos podem parecer
    colmeias, por momentos,
  • 13:56 - 13:58
    mas têm tendência a desmanchar-se.
  • 13:58 - 14:01
    Não somos forçados à cooperação
    como as abelhas e as formigas.
  • 14:01 - 14:02
    Na verdade, frequentemente,
  • 14:02 - 14:05
    como vimos acontecer
    nas revoltas da Primavera Árabe,
  • 14:05 - 14:08
    essas divisões correspondem
    a linhas religiosas.
  • 14:09 - 14:12
    Apesar disso, quando as pessoas se unem
  • 14:12 - 14:14
    e se entregam todas ao mesmo movimento,
  • 14:14 - 14:16
    podem mover montanhas.
  • 14:17 - 14:20
    Reparem nas pessoas nestas fotos
    que vos tenho mostrado.
  • 14:20 - 14:23
    Acham que elas estão
    à procura do seu interesse pessoal?
  • 14:24 - 14:27
    Ou estarão à procura
    de um interesse comum,
  • 14:27 - 14:30
    que lhes exige que ignorem o seu "eu"
  • 14:30 - 14:33
    e se tornem apenas numa parte de um todo?
  • 14:35 - 14:39
    Ok, esta foi a minha palestra
    feita segundo a forma habitual TED.
  • 14:39 - 14:42
    Agora vou fazer toda a palestra
    de novo, em três minutos
  • 14:43 - 14:45
    numa forma de espetro total.
  • 14:47 - 14:49
    (Vídeo)
  • 14:49 - 14:52
    Os seres humanos têm grande variedade
    de experiências religiosas,
  • 14:52 - 14:54
    conforme William James explicou.
  • 14:54 - 14:57
    Uma das mais comuns
    é subirmos a escada secreta
  • 14:57 - 14:59
    e perdermo-nos a nós mesmos.
  • 14:59 - 15:02
    A escada faz-nos passar
    da experiência da vida,
  • 15:02 - 15:04
    enquanto profana ou ordinária,
  • 15:04 - 15:07
    para a experiência superior da vida,
    enquanto sagrada,
  • 15:07 - 15:09
    ou profundamente interligada.
  • 15:09 - 15:12
    Nós somos o Homo duplex,
    conforme Durkheim explicou.
  • 15:12 - 15:13
    Somos o Homo duplex
  • 15:13 - 15:16
    porque evoluímos
    por seleção a vários níveis,
  • 15:16 - 15:18
    conforme Darwin explicou.
  • 15:18 - 15:21
    Não posso ter a certeza
    se a escada é uma adaptação
  • 15:21 - 15:24
    em vez de um engano,
  • 15:24 - 15:26
    mas, se é uma adaptação,
    as implicações são profundas.
  • 15:27 - 15:29
    Se é uma adaptação,
  • 15:29 - 15:32
    evoluímos para sermos religiosos.
  • 15:32 - 15:34
    Não estou a dizer que evoluímos
  • 15:34 - 15:36
    para aderirmos a gigantescas
    religiões organizadas.
  • 15:36 - 15:38
    Essas coisas apareceram
    há muito pouco tempo.
  • 15:38 - 15:42
    Estou a dizer que evoluímos
    para ver a sacralidade à nossa volta
  • 15:42 - 15:44
    e para nos juntarmos aos outros em equipas
  • 15:44 - 15:46
    e gravitar em volta de objetos sagrados,
  • 15:46 - 15:48
    de pessoas e de ideias sagradas.
  • 15:48 - 15:51
    É por isso que a política é tão tribal.
  • 15:51 - 15:54
    A política é em parte profana,
    uma questão de interesses pessoais
  • 15:54 - 15:57
    mas a política também é
    uma questão de sacralidade.
  • 15:57 - 16:01
    Trata de unir as pessoas
    para implementar ideias morais.
  • 16:02 - 16:04
    Trata da eterna luta entre o bem e o mal,
  • 16:04 - 16:07
    e todos acreditamos
    que estamos na equipa boa.
  • 16:07 - 16:09
    Mais importante ainda,
  • 16:09 - 16:11
    se a escada é real,
  • 16:11 - 16:15
    explica o descontentamento
    persistente da vida moderna.
  • 16:15 - 16:18
    Porque, em certa medida,
    os seres humanos
  • 16:18 - 16:20
    são criaturas gregárias, como as abelhas.
  • 16:20 - 16:23
    Somos abelhas. Saímos da colmeia
    durante o Iluminismo.
  • 16:24 - 16:26
    Deitámos abaixo as velhas instituições
  • 16:26 - 16:28
    e demos liberdade aos oprimidos.
  • 16:28 - 16:31
    Libertámos a criatividade
    que alterou a face da Terra
  • 16:31 - 16:33
    e gerámos grande riqueza e conforto.
  • 16:33 - 16:35
    Hoje voamos por aí
  • 16:35 - 16:37
    como abelhas individuais
    exultantes na nossa liberdade.
  • 16:37 - 16:39
    Mas, por vezes, pensamos:
  • 16:39 - 16:41
    "Só existe isto?
  • 16:41 - 16:43
    "O que devo fazer com a minha vida?
  • 16:43 - 16:44
    "O que falta?"
  • 16:45 - 16:47
    O que falta é que somos Homo duplex,
  • 16:47 - 16:50
    mas construímos
    uma sociedade moderna, secular
  • 16:50 - 16:53
    para satisfazer o nosso "eu"
    mesquinho e profano.
  • 16:53 - 16:56
    Cá em baixo, no nível inferior,
    sentimo-nos confortáveis.
  • 16:56 - 16:59
    Entrem, instalem-se no meu centro
    caseiro de entretenimento.
  • 16:59 - 17:02
    Um dos grandes problemas da vida moderna
  • 17:02 - 17:04
    é encontrar a escada
    no meio de toda a confusão
  • 17:04 - 17:07
    e depois fazer qualquer coisa boa e nobre
  • 17:07 - 17:10
    quando subimos até ao topo.
  • 17:10 - 17:13
    Vejo esse desejo nos meus alunos
    na Universidade da Virgínia.
  • 17:13 - 17:15
    Todos querem encontrar
    uma causa ou uma vocação
  • 17:15 - 17:17
    a que se possam entregar.
  • 17:17 - 17:19
    Andam todos à procura da sua escada.
  • 17:19 - 17:21
    Isso dá-me esperança
  • 17:21 - 17:24
    porque as pessoas não são egoístas,
    pura e simplesmente.
  • 17:24 - 17:26
    A maior parte das pessoas
    sonham em ultrapassar a mesquinhez
  • 17:26 - 17:29
    e fazerem parte de qualquer coisa maior.
  • 17:29 - 17:32
    Isso explica a ressonância extraordinária
    desta simples metáfora
  • 17:32 - 17:35
    criada há quase 400 anos:
  • 17:36 - 17:40
    "Nenhum homem é uma ilha
    formada apenas por si mesmo.
  • 17:40 - 17:45
    "Cada homem é um pedaço do continente,
    uma parte do todo".
  • 17:47 - 17:48
    Obrigado.
  • 17:48 - 17:52
    (Aplausos)
Title:
Religião, evolução e o êxtase da auto-transcendência
Speaker:
Jonathan Haidt
Description:

O psicólogo Jonathan Haidt faz uma pergunta simples, mas difícil: porque é que procuramos a auto-transcendência? Porque é que tentamos perder-nos a nós mesmos? Numa viagem pela ciência da evolução de grupo, propõe uma resposta provocadora.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:56

Portuguese subtitles

Revisions