Return to Video

Cinco desafios que poderíamos solucionar criando novas proteínas

  • 0:01 - 0:05
    Vou falar-vos das máquinas
    mais incríveis do mundo
  • 0:05 - 0:07
    e do que podemos fazer com elas.
  • 0:07 - 0:08
    As proteínas,
  • 0:08 - 0:11
    algumas das quais vêem aqui
    no interior de uma célula,
  • 0:11 - 0:14
    desempenham praticamente
    todas as funções importantes
  • 0:14 - 0:15
    do nosso corpo.
  • 0:15 - 0:17
    As proteínas digerem a nossa comida,
  • 0:17 - 0:19
    contraem os nossos músculos,
  • 0:19 - 0:20
    estimulam os nossos neurónios,
  • 0:20 - 0:22
    e dão energia
    ao nosso sistema imunitário.
  • 0:22 - 0:24
    Tudo o que acontece na biologia
  • 0:24 - 0:26
    - ou quase tudo -
  • 0:26 - 0:28
    acontece devido às proteínas.
  • 0:28 - 0:30
    As proteínas são cadeias lineares
    de blocos de construção
  • 0:30 - 0:32
    chamados aminoácidos.
  • 0:32 - 0:36
    A natureza usa um alfabeto
    de 20 aminoácidos,
  • 0:36 - 0:38
    alguns com nomes que podem já ter ouvido.
  • 0:39 - 0:43
    Nesta foto, e para que todos percebam,
    cada protuberância é um átomo.
  • 0:43 - 0:47
    As forças químicas entre os aminoácidos
    fazem com que essas moléculas
  • 0:47 - 0:48
    longas e filamentosas
  • 0:48 - 0:52
    se dobrem em estruturas
    tridimensionais únicas.
  • 0:52 - 0:55
    O processo de enovelamento,
    embora pareça aleatório,
  • 0:55 - 0:57
    é, na realidade, muito preciso.
  • 0:57 - 1:01
    Cada proteína dobra-se sempre
    no seu formato característico,
  • 1:01 - 1:05
    e o processo de enovelamento
    demora apenas uma fração de segundo.
  • 1:06 - 1:08
    São as formas das proteínas
  • 1:08 - 1:12
    que lhes permitem realizar
    as suas notáveis funções biológicas.
  • 1:13 - 1:14
    Por exemplo,
  • 1:14 - 1:16
    a hemoglobina tem uma forma nos pulmões
  • 1:16 - 1:20
    que é perfeitamente adequada
    para prender uma molécula de oxigénio.
  • 1:20 - 1:22
    Quando a hemoglobina
    se desloca para o músculo,
  • 1:22 - 1:24
    a forma muda ligeiramente,
  • 1:24 - 1:26
    e o oxigénio sai.
  • 1:27 - 1:29
    As formas das proteínas
  • 1:29 - 1:31
    e, portanto, as suas funções notáveis,
  • 1:31 - 1:36
    são completamente especificadas
    pela sequência de aminoácidos
  • 1:36 - 1:37
    na cadeia proteica.
  • 1:37 - 1:41
    Nesta foto, cada letra no topo
    é um aminoácido.
  • 1:43 - 1:45
    De onde vêm essas sequências?
  • 1:46 - 1:50
    Os genes do nosso genoma
    especificam as sequências de aminoácidos
  • 1:50 - 1:52
    das nossas proteínas.
  • 1:52 - 1:56
    Cada gene codifica a sequência
    de aminoácidos de uma única proteína.
  • 1:58 - 2:01
    A interpretação entre essas
    sequências de aminoácidos
  • 2:01 - 2:04
    e as estruturas e funções das proteínas
  • 2:04 - 2:06
    é conhecida como o problema
    do enovelamento de proteínas.
  • 2:06 - 2:08
    É um problema muito difícil
  • 2:08 - 2:11
    porque há muitas formas diferentes
    que uma proteína pode adoptar.
  • 2:12 - 2:14
    Devido a essa complexidade,
  • 2:14 - 2:17
    os seres humanos só conseguiram
    dominar o poder das proteínas
  • 2:17 - 2:19
    fazendo pequenas alterações
  • 2:19 - 2:22
    nas sequências de aminoácidos
    das proteínas encontradas na natureza.
  • 2:23 - 2:24
    Isto é semelhante ao processo
  • 2:24 - 2:27
    usado pelos nossos antepassados
    da Idade da Pedra
  • 2:27 - 2:29
    para fabricar ferramentas
    e outros utensílios
  • 2:29 - 2:32
    a partir de paus e pedras
    encontrados no mundo ao nosso redor.
  • 2:33 - 2:38
    Mas os humanos não aprenderam
    a voar modificando aves.
  • 2:39 - 2:40
    (Risos)
  • 2:41 - 2:43
    Ao invés, inspirados pelas aves,
  • 2:43 - 2:47
    os cientistas desvendaram
    os princípios da aerodinâmica,
  • 2:47 - 2:49
    e os engenheiros usaram esses princípios
  • 2:49 - 2:52
    para projectar
    máquinas voadoras modificadas.
  • 2:52 - 2:53
    De forma semelhante,
  • 2:53 - 2:55
    temos trabalhado ao longo de vários anos
  • 2:55 - 2:59
    para desvendar os princípios fundamentais
    do enovelamento de proteínas
  • 2:59 - 3:03
    e codificar esses princípios num programa
    de computador chamado Rosetta.
  • 3:04 - 3:07
    Fizemos um grande avanço nos últimos anos.
  • 3:07 - 3:10
    Podemos agora criar proteínas
    totalmente novas,
  • 3:10 - 3:12
    de raíz, no computador.
  • 3:12 - 3:15
    Uma vez criada a nova proteína,
  • 3:15 - 3:19
    codificamos a sequência de aminoácidos
    num gene sintético.
  • 3:20 - 3:22
    Temos de fazer um gene sintético
  • 3:22 - 3:24
    porque, uma vez que a proteína
    é completamente nova,
  • 3:24 - 3:28
    não há nenhum gene em qualquer organismo
    que exista hoje em dia na Terra
  • 3:28 - 3:29
    que a codifique.
  • 3:30 - 3:34
    Os nossos avanços na compreensão
    do enovelamento de proteínas
  • 3:34 - 3:36
    e em como criar proteínas,
  • 3:36 - 3:39
    juntamente com o custo decrescente
    da síntese de genes
  • 3:39 - 3:43
    e o aumento da lei de Moore
    no poder computacional,
  • 3:43 - 3:48
    permitem-nos agora criar dezenas
    de milhares de proteínas novas,
  • 3:48 - 3:50
    com formas e funções novas,
  • 3:50 - 3:51
    no computador,
  • 3:51 - 3:55
    e codificar cada uma delas
    num gene sintético.
  • 3:56 - 3:58
    Quando tivermos esses genes sintéticos,
  • 3:58 - 4:01
    colocamo-los em bactérias
    para programá-los
  • 4:01 - 4:03
    para criar essas proteínas novas.
  • 4:03 - 4:05
    Em seguida, extraímos as proteínas
  • 4:05 - 4:09
    e determinamos se elas
    funcionam como planeamos
  • 4:09 - 4:11
    e se são seguras.
  • 4:12 - 4:14
    É entusiasmante conseguir
    criar proteínas novas,
  • 4:14 - 4:17
    porque, apesar da diversidade na natureza,
  • 4:17 - 4:23
    a evolução só testou uma pequena fracção
    do número total de proteínas possíveis.
  • 4:24 - 4:27
    Eu disse-vos que a natureza usa
    um alfabeto de 20 aminoácidos,
  • 4:27 - 4:31
    e uma proteína típica é uma cadeia
    de cerca de 100 aminoácidos.
  • 4:32 - 4:37
    Assim, o número total de possibilidades
    é 20 vezes 20 vezes 20, 100 vezes,
  • 4:37 - 4:41
    o que é um número
    na ordem de 10 elevado a 130,
  • 4:41 - 4:45
    que é consideravelmente maior
    do que o número total de proteínas
  • 4:45 - 4:48
    que existem desde que começou
    a vida na Terra.
  • 4:48 - 4:52
    É esse espaço inimaginavelmente grande
    que agora conseguimos explorar
  • 4:52 - 4:55
    usando a criação computacional
    da proteína.
  • 4:56 - 4:58
    As proteínas existentes na Terra
  • 4:58 - 5:02
    evoluíram para solucionar os problemas
    que a evolução natural enfrentava
  • 5:03 - 5:06
    como por exemplo, a replicação do genoma.
  • 5:06 - 5:08
    Porém, hoje enfrentamos desafios novos.
  • 5:08 - 5:11
    Vivemos mais tempo, por isso,
    as novas doenças são importantes.
  • 5:11 - 5:14
    Estamos a aquecer e a poluir o planeta,
  • 5:14 - 5:17
    por isso, enfrentamos
    inúmeros desafios ecológicos.
  • 5:18 - 5:20
    Se tivéssemos um milhão de anos
    para esperar,
  • 5:20 - 5:23
    poderiam evoluir proteínas novas
    para solucionar estes desafios.
  • 5:24 - 5:26
    No entanto, não temos
    milhões de anos para esperar.
  • 5:26 - 5:29
    Em vez disso, com a criação
    computacional da proteína,
  • 5:29 - 5:34
    podemos criar proteínas novas
    para enfrentar esses desafios hoje.
  • 5:36 - 5:40
    A nossa ideia audaciosa é ir buscar
    a biologia da Idade da Pedra
  • 5:40 - 5:43
    através da revolução tecnológica
    na criação de proteínas.
  • 5:44 - 5:47
    Já mostrámos que podemos
    criar proteínas novas,
  • 5:47 - 5:49
    com formas e funções novas.
  • 5:49 - 5:53
    Por exemplo, as vacinas funcionam
    estimulando o sistema imunitário
  • 5:54 - 5:57
    para criar uma reacção forte
    contra um patógeno.
  • 5:58 - 5:59
    Para fazer vacinas melhores,
  • 5:59 - 6:02
    criámos partículas de proteína
  • 6:02 - 6:05
    nas quais podemos fundir
    proteínas a partir de patógenos,
  • 6:05 - 6:10
    como esta proteína azul,
    do vírus respiratório VSR.
  • 6:10 - 6:12
    Para fazer vacinas candidatas
  • 6:12 - 6:15
    que estejam literalmente
    cheias de proteína viral,
  • 6:16 - 6:18
    descobrimos que tais candidatas
  • 6:18 - 6:21
    produzem uma reacção imunológica
    muito mais forte ao vírus
  • 6:21 - 6:24
    do que quaisquer vacinas anteriores
    que tenham sido testadas.
  • 6:25 - 6:28
    Isso é importante porque o VSR
    é actualmente uma das principais causas
  • 6:29 - 6:31
    de mortalidade infantil em todo o mundo.
  • 6:32 - 6:36
    Também criámos novas proteínas
    para decompor o glúten no estômago,
  • 6:36 - 6:38
    para a doença celíaca,
  • 6:38 - 6:41
    e outras proteínas para estimular
    o sistema imunitário
  • 6:41 - 6:43
    para combater o cancro.
  • 6:43 - 6:48
    Estes avanços são o começo
    da revolução da criação de proteínas.
  • 6:49 - 6:52
    Nós fomos inspirados
    por uma revolução tecnológica anterior:
  • 6:52 - 6:54
    a revolução digital,
  • 6:54 - 6:58
    que ocorreu, em grande parte,
    devido aos avanços obtidos num local:
  • 6:59 - 7:00
    o Bell Laboratories.
  • 7:00 - 7:04
    O Bell Labs era um lugar
    com um ambiente aberto e colaborativo
  • 7:04 - 7:07
    e conseguiu atrair os melhores
    talentos de todo o mundo.
  • 7:07 - 7:11
    Isso levou a uma série
    extraordinária de inovações:
  • 7:11 - 7:15
    o transístor, o laser,
    a comunicação via satélite
  • 7:15 - 7:17
    e os alicerces da Internet.
  • 7:18 - 7:22
    O nosso objectivo é construir
    o Bell Labs da criação de proteínas.
  • 7:22 - 7:26
    Estamos a querer atrair
    cientistas talentosos de todo o mundo
  • 7:26 - 7:29
    para acelerar a revolução
    da criação de proteínas
  • 7:29 - 7:33
    e vamos concentrar-nos
    em cinco grandes desafios.
  • 7:34 - 7:40
    Primeiro: colhendo proteínas
    de tipos de gripe de todo o mundo
  • 7:40 - 7:43
    e colocando-as sobre
    as partículas de proteína criadas
  • 7:43 - 7:45
    que vos mostrei anteriormente,
  • 7:45 - 7:48
    visamos criar uma vacina
    universal contra a gripe,
  • 7:48 - 7:53
    cuja dose dê uma protecção
    vitalícia contra a gripe.
  • 7:53 - 7:55
    A capacidade de criar...
  • 7:55 - 7:57
    (Aplausos)
  • 8:00 - 8:03
    Criar vacinas novas no computador
  • 8:03 - 8:09
    é importante tanto para proteger
    contra as epidemias naturais da gripe
  • 8:09 - 8:12
    quanto, além disso, contra actos
    intencionais de bioterrorismo.
  • 8:13 - 8:17
    Segundo: estamos a ir muito além
    do alfabeto limitado da natureza
  • 8:17 - 8:18
    de apenas 20 aminoácidos
  • 8:18 - 8:23
    para criar novos candidatos terapêuticos
    para enfermidades como a dor crónica,
  • 8:23 - 8:26
    usando um alfabeto
    de milhares de aminoácidos.
  • 8:27 - 8:30
    Terceiro: estamos a construir
    veículos de entrega avançados
  • 8:30 - 8:32
    para guiar a medicação existente
  • 8:33 - 8:35
    exactamente para o ponto do corpo
    para onde precisa de ir.
  • 8:35 - 8:38
    Por exemplo, quimioterapia para um tumor,
  • 8:38 - 8:42
    ou terapias genéticas para o tecido
    onde é necessária a reparação genética.
  • 8:43 - 8:47
    Quarto: estamos a criar
    terapêuticas inteligentes
  • 8:47 - 8:50
    que podem fazer cálculos dentro do corpo
  • 8:50 - 8:52
    e ir muito além dos medicamentos actuais,
  • 8:52 - 8:54
    que são instrumentos pouco precisos.
  • 8:54 - 8:58
    Por exemplo, para direccionar um pequeno
    subconjunto de células imunes
  • 8:58 - 9:01
    responsáveis por uma doença auto-imune
  • 9:01 - 9:05
    e distingui-las da grande maioria
    das células imunes saudáveis.
  • 9:05 - 9:08
    Finalmente, inspirados por materiais
    biológicos extraordinários
  • 9:08 - 9:13
    como a seda, a concha de abalone,
    o dente e outros,
  • 9:13 - 9:16
    estamos a criar novos materiais
    à base de proteínas
  • 9:16 - 9:21
    para enfrentar desafios
    energéticos e ecológicos.
  • 9:22 - 9:25
    Para fazer tudo isso, estamos
    a fazer crescer o nosso instituto.
  • 9:25 - 9:30
    Procuramos atrair cientistas enérgicos,
    talentosos e variados
  • 9:30 - 9:34
    de todo o mundo,
    em todas as fases da carreira,
  • 9:34 - 9:35
    para se juntarem a nós.
  • 9:35 - 9:39
    Vocês também podem participar
    na revolução da criação de proteínas
  • 9:39 - 9:43
    através do nosso jogo de enovelamento
    e criação online: "Foldit".
  • 9:43 - 9:47
    E através do nosso projecto
    de computação distribuída: Rosetta@home,
  • 9:47 - 9:50
    ao qual vocês podem aceder
    a partir do vosso computador portátil
  • 9:50 - 9:52
    ou de um "smartphone" Android.
  • 9:53 - 9:55
    Tornar o mundo um lugar melhor
    através da criação de proteínas
  • 9:55 - 9:57
    é o trabalho da minha vida.
  • 9:57 - 10:00
    Estou muito animado
    com o que podemos fazer juntos.
  • 10:00 - 10:01
    Espero que vocês se juntem a nós,
  • 10:01 - 10:02
    e muito obrigado.
  • 10:02 - 10:05
    (Aplausos)
Title:
Cinco desafios que poderíamos solucionar criando novas proteínas
Speaker:
David Baker
Description:

As proteínas são máquinas moleculares notáveis: digerem a comida, estimulam os neurónios, dão energia ao sistema imunitário, e tantas outras coisas. E se conseguíssemos criar proteínas novas, com funções nunca antes vistas na natureza? Neste notável vislumbre do futuro, David Baker partilha como a sua equipa no Institute for Protein Design está a criar de raíz novas proteínas, e mostra como elas nos poderiam ajudar a combater cinco grandes desafios que a humanidade enfrenta.
(Este plano ambicioso faz parte do Audacious Project, uma iniciativa TED para inspirar e financiar uma mudança global.)

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:24

Portuguese subtitles

Revisions