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Alejandro Almanza Pereda Foge de Nova Iorque | Art21 "New York Close Up"

  • 0:23 - 0:27
    Bom, "Fuga de Nova Iorque"
    é o filme da minha infância.
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    - Eu não sou parvo, Plisskin.
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    - Chama-me Snake.
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    Nova Iorque foi uma espécie
    da última fronteira da resistência.
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    - Olá, Snake! Quando é que chegaste?
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    Snake Plisskin é forçado
    a ir a Nova Iorque
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    — com uma bomba relógio no corpo —
  • 0:51 - 0:54
    para salvar o presidente
    e depois vir-se embora;
  • 0:54 - 0:56
    mas Nova Iorque era uma prisão.
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    "As regras são simples.
    Depois de entrar, não se pode sair."
  • 1:01 - 1:04
    Isso faz-me lembrar a vida
    que estou a viver.
  • 1:04 - 1:07
    Acho que Manhattan já não é uma prisão,
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    passou a ser um parque de diversões
    para pessoas privilegiadas.
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    Aquilo que de certo modo
    me entristece em Nova Iorque...
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    Penso que o que define uma cidade
    são as pessoas que conhecemos.
  • 1:22 - 1:24
    Tenho visto todos os meus colegas
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    que têm muita dificuldade
    em encontrar estúdios.
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    Muitas pessoas ficam deprimidas
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    porque o espaço que obtêm
    pelo seu dinheiro é muito mau.
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    O problema é que toda a gente
    está comprometida com qualquer coisa.
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    É por isso que admiro Nova Iorque.
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    Muitas pessoas são realmente intensas.
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    Estão aqui porque
    querem fazer coisas
  • 1:45 - 1:48
    e estarem rodeadas
    por outras pessoas loucas.
  • 1:48 - 1:50
    Mas, como toda a gente quer o mesmo,
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    precisam de estar no estúdio
    ou de trabalhar
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    por isso, nunca socializam
    umas com as outras.
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    É difícil encontrá-las nas ruas
    — ou juntarem-se —
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    e é impossível porque...
    "Oh, não, preciso de..."
  • 2:00 - 2:03
    "Estou a trabalhar..."
    "Oh, não, preciso de fazer isto..."
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    Assim, o tempo e o espaço
    não se interligam.
  • 2:08 - 2:10
    Eu decidi que me ia embora.
  • 2:10 - 2:12
    Pensei: "OK, vou sair de Nova Iorque.
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    "Vou para a Cidade do México
    e tentar ali uma nova vida."
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    [Apartamento de Alejandro, Williamsburg]
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    Oh, não, que confusão!
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    Não sou bom a fazer planos.
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    Espero sempre até ao último minuto
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    porque nunca se sabe, não é?
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    É só que, este compromisso
    — não consigo fazê-lo.
  • 2:40 - 2:42
    Este compromisso mata-me.
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    Mas agora tenho bilhete de ida
    para a Cidade do México.
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    Quando comprei o bilhete,
    tinha três semanas para fazer as malas
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    — para esvaziar o meu estúdio.
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    Vender coisas. Adeus, adeus.
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    Mas, quando se aproximou
    a partida para o México
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    fiquei meio maluco
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    porque tinha de terminar um novo conjunto
    de vídeos e de fotos
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    para a minha galeria no México.
  • 3:03 - 3:04
    E fiquei a pensar:
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    "Bom, acabei de me formar na Hunter.
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    "Tenho de fazer isto aqui.
  • 3:07 - 3:09
    "E ainda tenho mais três semanas.
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    "Um local excelente em Nova Iorque.
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    "Tenho um estúdio. Vá lá, toca a usá-lo."
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    ["É melhor ter um amor e perdê-lo
    do que nunca ter tido nenhum" (2014)]
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    Tinha uma ideia para este projeto.
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    Experimentar com materiais
    e objetos debaixo de água.
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    Assim, fui a Phoenix neste verão
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    porque tínhamos acesso a piscinas.
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    Os meus pintores preferidos
    eram os holandeses das pinturas vanitas.
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    Em parte, influenciaram o meu trabalho,
  • 4:01 - 4:03
    porque eles usam objetos
  • 4:03 - 4:06
    e fazem este tipo de relações entre eles.
  • 4:06 - 4:08
    Há sempre uns pequenos pormenores.
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    "Ali está uma mosca".
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    Tratam da morte.
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    Tratam da passagem do tempo.
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    Da beleza, da decadência.
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    Não havia nenhuma piscina.
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    Perguntei às pessoas:
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    "Conhecem uma piscina?
    Jacuzzi? Qualquer coisa?"
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    Mas, definitivamente, não.
  • 4:44 - 4:46
    OK, vamos fazer isso!
  • 4:46 - 4:50
    Eu digo: "OK, será muito difícil
    fazer um tanque?"
  • 4:50 - 4:52
    Então, procurei na Internet
  • 4:52 - 4:54
    e as pessoas fazem
    aquários de contraplacado.
  • 4:55 - 4:58
    Fazem uma caixa muito resistente,
    muito agradável.
  • 4:58 - 5:00
    Podemos enchê-la de água.
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    Espero que esta vá ficar bem.
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    Tem uma data de silicone e...
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    veremos.
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    Ótimo!
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    Enchi-a de água.
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    Tive medo que uma tonelada de água
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    inundasse o meu estúdio,
    como no Shining.
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    Oh, meu Deus, temos aqui uma fuga!
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    Paciência.
    Vai ser um tanque com uma fuga.
  • 5:32 - 5:34
    E vamos ter aqui um rio
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    e vai ficar tudo molhado.
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    Parece-me que, neste momento,
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    as limitações do tempo
    e os problemas técnicos
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    — já estou a ter muitos.
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    Acho que:
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    "OK, Alejandro, concentra-te.
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    "Em três ou dois objetos. Toca a criar
    alguma coisa com um mínimo."
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    Devo dizer, estou mesmo entusiasmado.
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    "Tão grande! Diabos o levem!
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    Pode dar-me meio quilo?
    Quanto é?
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    São três dólares e meio.
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    Oh, ótimo. Porque não?
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    Tenho aqui umas beringelas... fálicas.
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    Beringelas, bananas, cerejas...
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    Acho que as cerejas não flutuam.
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    Chinatown é o meu local preferido
    na cidade de Nova Iorque.
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    É um dos locais mais intocados.
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    Com personalidade.
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    Se quisermos comprar um prego,
    podemos comprar um prego.
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    Nesta empresa não...
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    Chinatown parece-se mais
    com a baixa da Cidade do México.
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    Quebram tantas regras,
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    como as regras da cidade de Nova Iorque.
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    É confuso. É frenético.
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    É como uma cidade deve ser.
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    Eu tive um tanque para peixes
    quando era adolescente
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    e adorava aquilo.
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    Adorava como as coisas
    se comportavam debaixo de água.
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    Sempre me interessei
    por barcos, submarinos,
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    Jacques Cousteau.
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    Aqui, à superfície,
    tudo está parado,
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    devido à gravidade.
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    Na água, podemos usar estas...
  • 7:51 - 7:55
    estas levitações para criar
    diferentes esculturas.
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    É espetacular.
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    Aqui, ficamos um pouco aborrecidos,
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    a escultura está tão fixa,
    como um monumento.
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    Eu queria uma escultura como esta,
    a flutuar por aí,
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    a levitar.
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    Dia da mudança.
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    Devo dizer que penso
    que toda a gente do mundo
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    devia viver em Nova Iorque
    pelo menos um ou dois anos,
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    para ter sentido.
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    - OK, acho que estou
    mais ou menos pronto.
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    Mas não é o único
    estilo de vida que podemos ter.
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    Não é a única forma de fazer coisas.
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    Não está assim tão mau.
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    Sim!
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    Sim!
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    Bolas! as chaves... OK.
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    Nunca penso no futuro.
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    Não faço planos.
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    Para mim, é sempre uma transição.
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    Ir para o México, neste momento,
    que está numa situação má.
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    Uma crise política.
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    Muito crime.
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    É giro, por vezes quando
    me mudo para cidades
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    é sempre a pior altura.
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    É como se andasse à procura...
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    à procura de sarilhos.
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    Talvez fuja da Cidade do México.
  • 9:52 - 9:55
    Posso ir para Los Angeles
    e fugir de lá.
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    Tenho de estar sempre a fugir.
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    Tradução de Margarida Ferreira
Title:
Alejandro Almanza Pereda Foge de Nova Iorque | Art21 "New York Close Up"
Description:

PorqO artista Alejandro Almanza Pereda vive a sua “Fuga de Nova Iorque” (1981) pessoal – o filme clássico de culto de John Carpenter – completando uma enorme missão antes de o tempo se esgotar. Do seu estúdio no Hunter College MFA em Tribeca, Almanza Pereda recorda como o filme de ação retro-futuro teve grande impacto nele quando era um miúdo no México. Instalado numa Manhattan distópica que se transformou numa prisão, o filme representa o anti-herói Snake Plissken cuja missão é salvar o Presidente antes de rebentar a bomba-relógio implantada no corpo de Plissken. Almanza Pereda vê a cidade de Nova Iorque de hoje como uma prisão inacessível de tipo diferente: “Tornou-se num parque de diversões para pessoas privilegiadas.” Almanza Pereda descreve o ambiente deprimente, socialmente isolador, que os artistas em Nova Iorque enfrentam hoje. Com rendas exorbitantes para estúdios de espaços pouco adequados, os artistas são forçados a maximizar o seu tempo para ganharem dinheiro com a arte, com poucas oportunidades de participar na comunidade criativa maior que foi o que os atraiu à cidade. Mas tal como bom nova-iorquino, Almanza Pereda otimiza o seu último ativo – as três semanas que lhe restam no seu estúdio em Hunter – e embarca num audacioso projeto novo antes de se mudar para a Cidade do México. Cria um aquário em contraplacado em que fotografa clássicas naturezas mortas representando as suas apreciadas bugigangas e produtos da Chinatown vizinha. Encenando as suas representações de pernas para o ar e debaixo de água, Almanza Pereda consegue iludir as leis da gravidade a favor dum mundo alternativo em que os objetos inesperadamente flutuam e se afundam. Por vezes melancólico, sublime e imprevisível, a vida de Almanza Peneda reflete os seus sentimentos agridoces por abandonar Nova Iorque: tristeza pela perda de amigos deixados com a promessa de aventuras numa nova cidade.
Alejandro Almanza Pereda (n. 1977, Cidade do México, no México) vive e trabalha na Cidade do México, no México.
Saibam mais sobre o artista em: https://art21.org/artist/alejandro-almanza-pereda/
ue é que um artista foge da melhor cidade do mundo?

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Video Language:
English
Team:
Art21
Project:
"New York Close Up" series
Duration:
10:21

Portuguese subtitles

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