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As raízes da religião | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria

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    Vivemos num mundo
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    que está totalmente impregnado
    de religião e de espiritualidade,
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    por vezes, ao ponto de nem sequer
    o reconhecermos.
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    Afeta tudo, desde uma coisa tão simples
    como os feriados que festejamos,
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    até aos nomes que damos aos nossos filhos
  • 0:21 - 0:24
    ou a uma coisa muito mais triste
    e desanimadora
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    que é encontrar um conflito
    algures noutra parte do mundo.
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    Ou seja, não se passa um dia
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    em que algures haja alguém a lutar
    pela espiritualidade e pela religião.
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    Vejamos como tudo isto se passa
    a uma escala mundial.
  • 0:38 - 0:41
    Consoante as pessoas com quem falamos,
    há 20 religiões mundiais principais
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    ou seja, as que existem em mais de um país
    em mais de um continente.
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    Juntem-lhes centenas
    de sistemas de crenças,
  • 0:48 - 0:53
    e em 7000 milhões de pessoas
    que vivem no planeta, neste momento,
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    quase 6000 milhões afirmam
    seguir qualquer tipo de fé.
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    Tentem imaginar um mundo
    sem qualquer religião.
  • 1:01 - 1:03
    Como seria?
  • 1:03 - 1:05
    Porque, na realidade,
  • 1:05 - 1:09
    se recuarmos o suficiente
    na nossa longa história,
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    houve uma época, talvez não
    com o Homo sapiens, talvez mais antiga,
  • 1:13 - 1:15
    em que não havia qualquer religião.
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    Como veem, este diapositivo
  • 1:18 - 1:20
    é um gráfico muito simples da evolução,
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    mas as pessoas da minha área,
    a paleoantropologia, perguntaram:
  • 1:24 - 1:27
    Quando começou o impulso religioso?
  • 1:27 - 1:30
    Como é que lá chegamos?
    É muito subjetivo, não é?
  • 1:31 - 1:33
    Obviamente, o Homo sapiens
    está no topo.
  • 1:33 - 1:36
    Sabemos que o Homo sapiens
    é religioso, somos nós.
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    Então, e os heidelbergensis,
    antes de nós, e o Homo erectus,
  • 1:39 - 1:41
    e todos os outros até ao Homo habilis?
  • 1:41 - 1:44
    O Homo habilis, há 2,5 milhões de anos,
  • 1:44 - 1:48
    são considerados bons candidatos
    como primeiros fabricantes de utensílios.
  • 1:48 - 1:52
    Podem pensar - utensílios, religião -
    o que podem ter em comum?
  • 1:52 - 1:57
    Mas, se pensarmos que fazer utensílios
    é um salto cognitivo,
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    há algumas coisas em comum.
  • 2:00 - 2:03
    Por exemplo, quando fazemos um utensílio
  • 2:03 - 2:07
    - temos pedra e agarramos noutra
    para a afeiçoar -
  • 2:07 - 2:10
    temos de ter um modelo mental na cabeça
  • 2:10 - 2:12
    do que vai ser esse produto acabado.
  • 2:12 - 2:15
    Também descobrimos que esses
    primeiros criadores de utensílios
  • 2:15 - 2:20
    demonstravam premeditação
    e pré-planeamento.
  • 2:20 - 2:23
    Possivelmente, andavam
    com um pedaço de sílex
  • 2:23 - 2:26
    para que, quando um utensílio
    se estragasse ou se perdesse,
  • 2:26 - 2:29
    pudessem fazer um novo.
  • 2:29 - 2:32
    Há investigadores na minha área,
  • 2:32 - 2:35
    especialmente um deles,
    chamado Thomas Wynn,
  • 2:35 - 2:38
    que fez equipa com um neuropsicólogo,
    chamado Frederick Coolidge.
  • 2:38 - 2:41
    Os dois falaram duma coisa
    chamada memória operacional.
  • 2:42 - 2:45
    Não é um sítio no cérebro
  • 2:46 - 2:49
    é mais uma espécie de diversas funções
    que funcionam em conjunto,
  • 2:49 - 2:51
    que permitem coisas como modelos mentais
  • 2:51 - 2:53
    e permitem coisas
    como o pré-planeamento.
  • 2:53 - 2:56
    Defenderam a tese de que,
    mesmo a um nível muito básico,
  • 2:56 - 2:59
    os chimpanzés também têm
    uma espécie de memória operacional.
  • 2:59 - 3:01
    Claro, eles também usam utensílios,
  • 3:01 - 3:02
    só que não são tão bons como nós.
  • 3:02 - 3:05
    Basicamente, agarram num raminho,
  • 3:05 - 3:08
    retiram-lhe as folhas e usam-no
    para apanhar as térmitas,
  • 3:08 - 3:10
    mas depois deitam-no fora.
  • 3:10 - 3:12
    É simples, já não precisam
    daquele utensílio.
  • 3:12 - 3:15
    Não há muitos exemplos
    de chimpanzés a reutilizar utensílios
  • 3:15 - 3:18
    ou de se comportarem da mesma forma
  • 3:18 - 3:21
    que vimos com o Homo habilis.
  • 3:21 - 3:24
    Com este tipo de base
    e essa ideia de memória operacional,
  • 3:24 - 3:27
    extrapolaram a ideia e disseram:
  • 3:27 - 3:30
    "Falemos de uma coisa a que se chama
    memória operacional avançada.
  • 3:31 - 3:33
    A memória operacional avançada
  • 3:33 - 3:35
    contém vários componentes.
  • 3:35 - 3:39
    É como agarrar nisto
    e introduzir-lhe esteroides.
  • 3:40 - 3:42
    Não é só ter um modelo mental
    e pré-planeamento
  • 3:42 - 3:44
    mas acrescentamos-lhe
    a capacidade de imaginar
  • 3:44 - 3:46
    e de trabalhar com conceitos abstratos.
  • 3:46 - 3:48
    Falemos agora de viagem
    mental no tempo.
  • 3:48 - 3:51
    Quando falo de viagem mental no tempo
  • 3:51 - 3:53
    falo da capacidade de pensar
    no passado e no futuro.
  • 3:53 - 3:55
    São coisas muito invulgares.
  • 3:55 - 3:57
    Consideramo-las normais,
  • 3:57 - 4:00
    mas não são uma coisa
    que as outras espécies entendam.
  • 4:01 - 4:04
    Parece que o nosso cão se lembra
    de ter ido ao veterinário,
  • 4:04 - 4:06
    o que é uma coisa interessante
  • 4:06 - 4:09
    mas sabemos que ele não tem
    um claro sentido de memórias episódicas
  • 4:09 - 4:11
    de ter estado no veterinário,
  • 4:11 - 4:14
    para além de ser uma coisa má,
    quando entrou naquele edifício,
  • 4:14 - 4:18
    e sentiu um certo cheiro
    que o alertou para um perigo.
  • 4:19 - 4:22
    A clara capacidade de dizer,
    em relação à viagem mental no tempo:
  • 4:22 - 4:24
    "Quando tentei fazer um utensílio
    usando este material,
  • 4:24 - 4:26
    "isso não funcionou muito bem.
  • 4:26 - 4:28
    "Por isso, agora
    vou fazê-lo de outro modo".
  • 4:28 - 4:31
    Ou "Vi aquela pessoa, do grupo
    de caçadores, fazer uma coisa
  • 4:31 - 4:34
    "que funcionava muito bem,
    também vou fazer aquilo".
  • 4:34 - 4:37
    Todo este tipo de coisas, assim como
    conseguir pensar no futuro,
  • 4:37 - 4:39
    portanto, pré-planear,
    mas num grau ainda maior.
  • 4:39 - 4:43
    A imaginação, porque a capacidade
    de conceber uma coisa
  • 4:43 - 4:46
    como um modelo mental,
    quando imaginamos um utensílio,
  • 4:46 - 4:48
    baseia-se em conseguir
    visualizar uma coisa
  • 4:48 - 4:50
    que não existe, naquele momento.
  • 4:50 - 4:53
    É, sobretudo, estarmos
    a olhar para o futuro.
  • 4:53 - 4:56
    E depois, a capacidade de entender
    e manipular símbolos.
  • 4:56 - 4:59
    Isso é quando chegamos a coisas
    como a linguagem e a arte.
  • 5:00 - 5:03
    Provavelmente, viram que eu disse
    "o local de Deus".
  • 5:03 - 5:05
    Aquilo de que estamos aqui a falar
  • 5:05 - 5:08
    é que, por volta dos anos 90,
  • 5:08 - 5:10
    os neuropsicólogos, em especial,
  • 5:10 - 5:13
    com as ressonâncias magnéticas
    e outros exames ao cérebro,
  • 5:13 - 5:15
    começaram a observar
  • 5:15 - 5:19
    se havia um local no cérebro
    que pudesse estar associado a Deus.
  • 5:19 - 5:22
    Até se fizeram alguns estudos
  • 5:22 - 5:25
    em que se examinaram pessoas com MRI,
    e disseram-lhes:
  • 5:25 - 5:27
    "Pensem na vossa visão de Deus
  • 5:27 - 5:30
    "ou na espiritualidade,
    enquanto estiverem aqui,
  • 5:30 - 5:33
    "para ver se conseguimos
    fazer um mapa das áreas do cérebro
  • 5:33 - 5:35
    "que se iluminam enquanto
    fazemos isto".
  • 5:35 - 5:37
    E detetaram um sítio
    que se iluminava, e disseram:
  • 5:37 - 5:40
    "Conseguimos!
    Encontrámos o sítio de Deus".
  • 5:40 - 5:44
    Acontece que é o sítio que se ilumina
    quando as pessoas se concentram.
  • 5:44 - 5:46
    (Risos)
  • 5:46 - 5:49
    Sabemos, certamente,
    que é onde elas se concentram
  • 5:49 - 5:52
    mas toda a gente se concentra
    quando pensa em Deus,
  • 5:52 - 5:53
    por isso, havia um problema.
  • 5:53 - 5:57
    Penso que os neuropsicólogos
    e as pessoas que trabalham na evolução
  • 5:57 - 6:00
    estão a trabalhar na ideia
    de que certamente não há um sítio.
  • 6:00 - 6:02
    Tal como a memória operacional avançada,
  • 6:02 - 6:04
    há várias partes do cérebro
  • 6:04 - 6:06
    que parece trabalharem em conjunto
  • 6:06 - 6:10
    para criar esse espaço
    e esse tipo de capacidades.
  • 6:11 - 6:13
    Então, está tudo nos lóbulos?
  • 6:13 - 6:15
    Naquele diapositivo que vemos,
  • 6:15 - 6:18
    do lado esquerdo temos o Homo erectus,
  • 6:18 - 6:20
    ou seja, há 1,65 milhões de anos.
  • 6:20 - 6:23
    Do lado direito, temos o crânio
    de um Homo sapiens
  • 6:23 - 6:26
    de há cerca de 20 000 anos,
    na Alemanha.
  • 6:26 - 6:29
    Há 20 000 anos, na Alemanha,
    o crânio deles era idêntico ao nosso
  • 6:29 - 6:31
    - eu pensei que seria mais giro
  • 6:31 - 6:34
    usar uma espécie de crânio fóssil
    para o Homo sapiens.
  • 6:34 - 6:36
    Mas o que eu queria que reparassem
  • 6:36 - 6:38
    é que, quando vemos o perfil,
  • 6:39 - 6:42
    o Homo erectus tem um rebordo na testa
  • 6:42 - 6:44
    mas, por detrás disso,
  • 6:44 - 6:48
    há uma inclinação muito pronunciada
    inclinação para trás.
  • 6:48 - 6:51
    Agora reparem naquela testa,
    bela, grande, antiga
  • 6:51 - 6:53
    no crânio do Homo sapiens
  • 6:54 - 6:57
    São os lóbulos frontais.
  • 6:58 - 7:02
    É daqui que provém grande parte
    do nosso raciocínio mais elevado,
  • 7:02 - 7:04
    é destes sítios aqui.
  • 7:05 - 7:07
    Pensando nisso, o que é interessante
  • 7:07 - 7:11
    é que, enquanto estamos aqui,
    nesta sala, a ter esta conversa,
  • 7:11 - 7:14
    estamos a usar
    a parte frontal dos lóbulos.
  • 7:15 - 7:17
    Mas a pergunta que se coloca é:
  • 7:18 - 7:21
    Pode estar ali, fisicamente,
    mas talvez seja mais uma programação?
  • 7:21 - 7:24
    Não se trata só do tamanho,
    mas da forma como se interligam,
  • 7:24 - 7:27
    da forma como percorrem
    os caminhos neurais.
  • 7:27 - 7:30
    É aqui que os académicos que referi,
  • 7:30 - 7:32
    Wynn e Coolidge, a trabalhar em conjunto,
  • 7:32 - 7:36
    defenderam a hipótese de que creem
    que o pensamento moderno,
  • 7:36 - 7:40
    essa capacidade que inclui
    a imaginação, a viagem mental no tempo,
  • 7:40 - 7:42
    começou com os seres humanos modernos.
  • 7:42 - 7:45
    O que é que eu quero dizer
    com seres humanos modernos?
  • 7:45 - 7:47
    Com cerca de 200 000 anos,
  • 7:47 - 7:49
    encontrámos os esqueletos
    mais antigos que temos
  • 7:49 - 7:52
    do que podemos chamar
    seres humanos plenamente modernos.
  • 7:52 - 7:55
    Significa que esses esqueletos
    são idênticos ao nosso
  • 7:55 - 7:58
    e o tamanho do cérebro
    é exatamente o mesmo.
  • 7:58 - 8:00
    Mas isso não significa
  • 8:00 - 8:03
    que eles usassem todas
    as capacidades que temos
  • 8:03 - 8:06
    e isso é uma coisa que pertence
    especialmente à minha área,
  • 8:06 - 8:08
    que eu acho fascinante tentar descobrir.
  • 8:08 - 8:10
    Quando é que eles passaram
    a ser como nós?
  • 8:10 - 8:13
    Porque somos mais do que
    o tamanho do cérebro e do corpo,
  • 8:13 - 8:15
    trata-se também da forma
    como usamos o cérebro.
  • 8:15 - 8:18
    O que é fascinante
    nos humanos primitivos em África
  • 8:18 - 8:22
    é que, provavelmente
    nos primeiros 80 000 anos,
  • 8:22 - 8:25
    eles não faziam muitas coisas
    de forma diferente
  • 8:25 - 8:27
    do que as espécies
    que existiram antes deles.
  • 8:27 - 8:29
    Estão a fazer utensílios muito bons,
  • 8:29 - 8:32
    sobrevivem bastante bem,
    fazem bom uso do seu ambiente,
  • 8:32 - 8:34
    todas essas coisas já existem.
  • 8:34 - 8:39
    Mas não vemos nada nesse comportamento
    que nos faça dizer: "Somos nós".
  • 8:39 - 8:42
    Depois, de súbito,
    há uns 120 000 anos,
  • 8:43 - 8:46
    começamos a encontrar
  • 8:46 - 8:48
    aquilo a que chamamos
    um comportamento simbólico
  • 8:48 - 8:50
    ou seja, falamos de coisas
  • 8:50 - 8:53
    que consideramos não serem utilitárias.
  • 8:53 - 8:59
    Não são coisas 100% úteis
    para a sobrevivência,
  • 8:59 - 9:02
    como mantermo-nos quentes à noite,
  • 9:02 - 9:05
    termos de comer,
    qualquer sítio onde nos abrigarmos.
  • 9:05 - 9:07
    Começamos a encontrar sepulturas.
  • 9:07 - 9:10
    As sepulturas mais antigas
    que conhecemos têm 120 000 anos.
  • 9:11 - 9:14
    Não são apenas sepulturas,
    têm objetos lá dentro.
  • 9:15 - 9:19
    Neste caso, estamos a falar
    de um marco de 120 000 anos.
  • 9:19 - 9:23
    Encontraram-se conchas marinhas
    com perfurações.
  • 9:23 - 9:26
    Algumas das perfurações
    parecem ser naturais,
  • 9:26 - 9:28
    outras poderão ter sido feitas
    por instrumentos,
  • 9:28 - 9:33
    mas esses buraquinhos nas conchas
    têm marcas de uso,
  • 9:33 - 9:36
    o que significa que foram
    usadas de qualquer modo.
  • 9:37 - 9:39
    Nada disso tem qualquer utilidade
  • 9:40 - 9:42
    para aquecimento, abrigo ou comida.
  • 9:42 - 9:45
    O que se passa? O que aconteceu?
    O que mudou?
  • 9:45 - 9:48
    Isto é como a história se desenrola
  • 9:48 - 9:51
    e é com base nisso que Wynn e Coolidge
    defendem a sua teoria
  • 9:51 - 9:53
    assim como outros académicos.
  • 9:53 - 9:55
    Ou seja, que os seres humanos modernos
  • 9:55 - 9:57
    aparecem quando ocorre
    esta grande mudança.
  • 9:57 - 10:00
    Defendem a teoria
    de que essa mudança ocorreu aqui,
  • 10:00 - 10:03
    mas que ocorreu qualquer tipo
    de mutação genética ou outra coisa
  • 10:03 - 10:06
    há uns 40 ou 50 000 anos,
  • 10:06 - 10:09
    quando o verdadeiro
    comportamento moderno,
  • 10:09 - 10:13
    toda a sequência de comportamentos
    que associamos aos seres modernos,
  • 10:13 - 10:18
    a música, a matemática, e a capacidade
    de imaginar coisas que não existem,
  • 10:18 - 10:21
    e todas essas coisas que têm
    muito a ver connosco
  • 10:21 - 10:24
    e, claro, a linguagem,
    a comunicação, essas coisas.
  • 10:24 - 10:26
    Consideram que aconteceram
    há uns 40 a 50 000 anos,
  • 10:26 - 10:30
    na altura em que os seres humanos
    modernos saíram de África.
  • 10:30 - 10:32
    Talvez tenha sido mesmo
    há uns 60 000 anos.
  • 10:32 - 10:34
    Algures nesse intervalo
    de 40 a 60 000 anos
  • 10:34 - 10:36
    foi quando os humanos
    modernos saíram de África
  • 10:37 - 10:39
    e começaram a povoar o Mundo Antigo.
  • 10:40 - 10:43
    Pessoalmente, vou falar esta noite
    sobre a Idade do Gelo, na Europa
  • 10:43 - 10:46
    mas não é porque não haja
    coisas interessantes
  • 10:46 - 10:49
    feitas pelos humanos modernos
    noutras partes do Mundo Antigo.
  • 10:49 - 10:51
    Na Ásia e na Austrália
    há muitas coisas fascinantes,
  • 10:51 - 10:54
    mas eu estudo a Idade do Gelo,
    é o que conheço melhor.
  • 10:54 - 10:57
    Portanto, vamos tratar
    de observar a Idade do Gelo.
  • 10:57 - 11:00
    Vamos ver como foi
    no que se refere à Europa.
  • 11:00 - 11:03
    Obviamente, temos
    uma Idade do Gelo em marcha
  • 11:03 - 11:06
    e uma Idade do Gelo
    não é uma coisa estática.
  • 11:06 - 11:08
    Temos o movimento dos glaciares,
  • 11:08 - 11:11
    mas, sobretudo, um ambiente gelado,
    muito mais frio,
  • 11:12 - 11:14
    mas também rico em animais.
  • 11:14 - 11:16
    Grandes manadas de bisontes e mamutes
  • 11:16 - 11:18
    e todas as outras coisas no ambiente.
  • 11:18 - 11:20
    Muitas coisas para comer,
    que foram o fator de impulso
  • 11:20 - 11:23
    que mantiveram
    os seres humanos modernos.
  • 11:23 - 11:26
    Apareceram na Europa algures
    entre 40 a 45 000 anos, nalguns locais
  • 11:26 - 11:28
    e espalharam-se a partir daí.
  • 11:28 - 11:33
    Isto coincide com aquilo
    a que chamamos explosão criativa.
  • 11:33 - 11:36
    Não é que não tenham feito
    coisas interessantes, antes disso,
  • 11:36 - 11:39
    mas foi quando começam
    a tornar-se deveras interessantes.
  • 11:39 - 11:42
    É quando começamos a encontrar
    muitos materiais simbólicos,
  • 11:42 - 11:45
    como peças de arte portáteis e joias
    e outras coisas interessantes
  • 11:46 - 11:49
    no registo arqueológico,
    juntamente com os utensílios de pedra.
  • 11:49 - 11:51
    O que é que devemos procurar?
  • 11:51 - 11:54
    Voltemos àquela ideia
    da religião e da espiritualidade
  • 11:54 - 11:56
    e como encontramos isso
    no registo arqueológico.
  • 11:56 - 11:58
    Porque, se pensarmos nessa época,
  • 11:58 - 12:01
    estamos a trabalhar
    com utensílios de pedra.
  • 12:01 - 12:03
    Não há muito com que trabalhar.
  • 12:03 - 12:06
    Como é que tentamos ultrapassar isso
  • 12:06 - 12:08
    e procurar estas pistas indiretas?
  • 12:09 - 12:12
    Há três coisas principais
    que as pessoas da minha área usam
  • 12:12 - 12:13
    para procurar isso.
  • 12:13 - 12:16
    A primeira são as sepulturas
    com objetos fúnebres sofisticados.
  • 12:16 - 12:19
    Assim, um colar é uma marca
    com 120 000 anos,
  • 12:19 - 12:21
    muito interessante muito giro.
  • 12:21 - 12:23
    Mas podemos ir um pouco
    mais longe e dizer:
  • 12:23 - 12:28
    "O que significa pôr tantos objetos
    sofisticados numa sepultura?"
  • 12:28 - 12:30
    Podem representar entidades impossíveis.
  • 12:30 - 12:32
    Quando usamos o termo
    "entidades impossíveis",
  • 12:32 - 12:36
    referimo-nos a coisas
    que não aparecem na natureza.
  • 12:36 - 12:40
    Não estamos a referir-nos
    a nada que exista no mundo real.
  • 12:40 - 12:42
    Qualquer coisa que seja
    meio animal, meio humana,
  • 12:43 - 12:44
    será uma entidade impossível.
  • 12:44 - 12:49
    Claro que tentamos identificar
    temas mágicos e espirituais na arte.
  • 12:49 - 12:51
    Isto é nas peças portáteis
  • 12:51 - 12:54
    e, na minha área particular
    de estudo, as paredes das grutas,
  • 12:54 - 12:56
    Vamos ver rapidamente algumas delas
  • 12:56 - 12:59
    e vou dar-vos umas ideias
    do que estamos a ver.
  • 12:59 - 13:02
    Quanto a sepulturas sofisticadas,
    esta é uma sepultura muito conhecida
  • 13:02 - 13:04
    e é fascinante.
  • 13:04 - 13:06
    É uma das três sepulturas deste sítio.
  • 13:06 - 13:11
    Esta é de um homem adulto
    e tem cerca de 28 000 anos.
  • 13:11 - 13:12
    Fica na Rússia.
  • 13:12 - 13:16
    Reparem que há umas coisinhas brancas
    por todo o esqueleto dele.
  • 13:16 - 13:18
    São contas de marfim.
  • 13:19 - 13:23
    Há cerca de 3500 contas de marfim
    nesta sepultura.
  • 13:23 - 13:25
    Um arqueólogo da nossa área,
    chamado Randy White,
  • 13:25 - 13:27
    fez uma experiência
  • 13:28 - 13:30
    a que chamamos arqueologia experimental.
  • 13:30 - 13:32
    Agarrou em marfim de mamute
    e praticou
  • 13:32 - 13:35
    até conseguir fazer estas contas
    muito bem feitas.
  • 13:35 - 13:38
    Mesmo quando já era bom nisso,
    levava uma hora por cada conta.
  • 13:38 - 13:39
    Façam as contas.
  • 13:40 - 13:42
    Para além disso, temos o facto
  • 13:42 - 13:44
    de que as duas outras sepulturas,
    naquele sítio,
  • 13:44 - 13:46
    são de duas crianças.
  • 13:47 - 13:48
    Um rapazinho e uma rapariguinha
  • 13:48 - 13:50
    e estão sepultados numa sepultura dupla.
  • 13:50 - 13:52
    O rapazinho tem 4500 contas,
  • 13:52 - 13:54
    ou seja, mais 1000 do que o adulto,
  • 13:54 - 13:57
    e a rapariguinha tem mais de 5000.
  • 13:57 - 13:59
    O que vemos aqui é, possivelmente, o facto
  • 14:00 - 14:04
    de encararem a morte
    como um estado diferente da vida
  • 14:04 - 14:06
    mas reconhecendo e prestando atenção
  • 14:06 - 14:08
    e tendo conhecimento
  • 14:08 - 14:12
    de que valia a pena o esforço
    de fazer aquelas contas todas
  • 14:12 - 14:14
    para as sepultar no solo e tapá-las.
  • 14:15 - 14:18
    Há nitidamente qualquer coisa
    nesse sentido.
  • 14:19 - 14:21
    Claro que lidamos
    com entidades impossíveis.
  • 14:21 - 14:24
    Este é um exemplo clássico espantoso.
  • 14:24 - 14:27
    É uma estatueta de marfim trabalhada,
    tem mais ou menos esta altura.
  • 14:27 - 14:30
    Uma cabeça de leão,
    o corpo de um ser humano.
  • 14:30 - 14:32
    Voltando ao mesmo,
    isto não existe na natureza.
  • 14:32 - 14:35
    O que é que se passa?
    Porque é que representam isto?
  • 14:35 - 14:37
    Isto não é um autorretrato.
  • 14:37 - 14:40
    Há pessoas na minha área
    que apresentaram a sugestão
  • 14:40 - 14:42
    de que talvez seja
    uma espécie de mitologia,
  • 14:42 - 14:45
    uma coisa que tenha a ver
    com histórias de origem.
  • 14:45 - 14:47
    Há estes exemplos interessantes
  • 14:47 - 14:49
    que existem por todo
    o registo arqueológico.
  • 14:49 - 14:53
    Este tem cerca de 32 000 anos.
  • 14:54 - 14:55
    E quanto à caça mágica?
  • 14:55 - 14:57
    Quando digo caça mágica,
    refiro-me a isto.
  • 14:57 - 15:00
    Isto é da gruta Niauz, em França.
  • 15:00 - 15:03
    Temos um bisonte
    pintado na parede duma gruta.
  • 15:03 - 15:06
    Se repararem, parece
    que há uma espécie de lança
  • 15:06 - 15:07
    espetada do lado.
  • 15:07 - 15:10
    Nesta gruta, as pessoas sugeriram
  • 15:10 - 15:14
    que podíamos considerá-los
    a tentar matar o animal,
  • 15:14 - 15:16
    primeiro, num ritual, nesta gruta,
  • 15:16 - 15:19
    para garantir o êxito
    quando tentassem a verdadeira caçada.
  • 15:19 - 15:23
    Temos alguns exemplos
    em que não é só a lança,
  • 15:23 - 15:26
    mas também há sinais de perfurações,
  • 15:26 - 15:30
    que quase parecem que alguém
    usou uma lança verdadeira,
  • 15:30 - 15:32
    na imagem da parede.
  • 15:32 - 15:35
    Mais uma vez, isto sugere
    uma espécie de domínio
  • 15:35 - 15:38
    de qualquer mundo invisível
    - há qualquer coisa no ar.
  • 15:38 - 15:42
    Depois, há outro grande exemplo
    aqui de uma entidade impossível
  • 15:42 - 15:45
    que também poderá ser identificado
    como sendo um xamã.
  • 15:45 - 15:48
    Diz-se isso porque a ideia
  • 15:48 - 15:50
    é que podiam estar a usar
    uma máscara.
  • 15:50 - 15:52
    E se, em vez de ser
    uma entidade impossível,
  • 15:52 - 15:56
    for uma descrição de um ser humano,
    parcialmente mascarado como um animal?
  • 15:56 - 15:58
    As pernas têm um aspeto
    muito mais humano.
  • 15:58 - 16:01
    Não parecem pernas de bisontes
    mas a cabeça parece a de um bisonte,
  • 16:02 - 16:04
    e os braços também são muito humanos.
  • 16:04 - 16:08
    Isto é quando se começou a falar
    na ideia das práticas xamânicas,
  • 16:08 - 16:10
    porque os xamãs
  • 16:10 - 16:13
    - este termo é proveniente da Rússia,
  • 16:13 - 16:16
    mas aplica-se muito
    às práticas espirituais
  • 16:16 - 16:19
    em que há membros específicos da tribo
  • 16:19 - 16:22
    que intercedem, por nossa conta,
    junto de um mundo invisível.
  • 16:22 - 16:25
    Quer seja para influenciar o tempo,
    ou influenciar a caçada,
  • 16:25 - 16:27
    quer tenha a ver com a saúde,
  • 16:27 - 16:30
    com as pessoas doentes
    e tentando melhorá-las,
  • 16:30 - 16:31
    são essas pessoas que fazem isso.
  • 16:32 - 16:35
    O interessante nestes exemplos
    modernos, por exemplo,
  • 16:35 - 16:39
    é que há um tipo
    chamado David Lewis-Williams
  • 16:40 - 16:43
    que é investigador em arte rupestre
    e trabalha na África do Sul
  • 16:43 - 16:47
    e teve a oportunidade espantosa
    de falar com o povo San,
  • 16:47 - 16:51
    que é um grupo de caçadores-recoletores
    que vive no norte da África do Sul.
  • 16:51 - 16:52
    Vivem no deserto
  • 16:52 - 16:55
    e ainda praticam o estilo de vida
    de caçadores-recoletores.
  • 16:55 - 16:57
    E ainda fazem arte rupestre.
  • 16:57 - 17:00
    Teve a possibilidade de lhes perguntar:
    "Porque é que fazem arte?"
  • 17:00 - 17:02
    Isso não explica toda a arte
  • 17:03 - 17:06
    mas as práticas xamânicas
    desempenharam um papel importante nisso.
  • 17:06 - 17:08
    Coisas como as marcas de mãos.
  • 17:08 - 17:10
    Há a ideia de que as grutas.
  • 17:10 - 17:14
    eram quase como um local de transição
    entre dois mundos.
  • 17:14 - 17:15
    Quando entramos numa gruta
  • 17:15 - 17:17
    entramos nela com luzes
    nos capacetes e muita luz
  • 17:17 - 17:20
    e sabemos o que é uma gruta,
    geologicamente.
  • 17:20 - 17:21
    Mas imaginem que não sabiam.
  • 17:21 - 17:24
    Quase sentimos que talvez seja
    um portal para outra realidade.
  • 17:24 - 17:27
    Falou-se na ideia
    de aquelas paredes de grutas
  • 17:27 - 17:30
    seriam quase como membranas
    que podiam tocar
  • 17:30 - 17:33
    e, através dessas membranas,
    tocarem no invisível.
  • 17:33 - 17:35
    Agora, temos um projeto de investigação
  • 17:35 - 17:37
    em que eu tenho estado a trabalhar,
  • 17:37 - 17:40
    em que eu digo:
    "Ok, vamos tentar isto,
  • 17:40 - 17:43
    "porque as pessoas modernas
    em África estão a fazer isto,
  • 17:43 - 17:47
    "com 10 000 anos de diferença,
    entre o que está a acontecer na Europa".
  • 17:47 - 17:49
    Podemos chegar lá? Será possível?
  • 17:49 - 17:53
    Como vemos nas paredes,
    talvez parte das imagens com ar de transe
  • 17:54 - 17:57
    e há quem diga que era por isso
    que as faziam.
  • 17:57 - 18:00
    Porque o espírito humano...
  • 18:01 - 18:04
    O transe é quando entramos
    num estado alterado de consciência.
  • 18:04 - 18:08
    Há muitas coisas que são específicas,
    culturalmente, no local onde vivemos,
  • 18:08 - 18:10
    como os animais que vemos nas imagens,
  • 18:10 - 18:13
    mas a imagética geométrica
    ocorre quase universalmente.
  • 18:13 - 18:15
    A razão para isso
  • 18:15 - 18:19
    é que os nossos olhos estão programados
    para produzir determinadas formas
  • 18:19 - 18:21
    quando estamos num estado de transe.
  • 18:21 - 18:24
    Foi aqui que procurei
  • 18:24 - 18:26
    se encontrávamos isso
    nas grutas da Europa.
  • 18:26 - 18:28
    O estudo está em marcha
  • 18:28 - 18:30
    mas eu pensei partilhar um pouco
    convosco, esta noite,
  • 18:31 - 18:33
    o que era aquilo com pontos,
    com linhas, com grelhas,
  • 18:33 - 18:35
    sim, estamos a encontrar essas coisas.
  • 18:35 - 18:38
    Mas outras, nem por isso.
  • 18:38 - 18:42
    Só há uns 15 exemplos de ziguezagues
    em mais de 200 sítios
  • 18:42 - 18:44
    que contêm ziguezagues.
  • 18:44 - 18:46
    Não se comportam exatamente
    do mesmo modo
  • 18:46 - 18:48
    que os povos da África do Sul.
  • 18:48 - 18:51
    No que se refere a espirais,
    só há duas grutas.
  • 18:51 - 18:54
    Nesse sentido, as espirais
    ainda são mais raras
  • 18:54 - 18:57
    e não são uma coisa que vemos
    no registo arqueológico.
  • 18:58 - 18:59
    O que é que isso significa?
  • 18:59 - 19:01
    O que representa para mim?
  • 19:01 - 19:04
    Não posso dar-vos
    uma resposta definitiva e dizer:
  • 19:04 - 19:08
    "Com toda a certeza, havia povos
    espirituais a viver naquela época".
  • 19:08 - 19:10
    Mas há sinais suficientes para dizer
  • 19:10 - 19:12
    que era uma coisa que estava a evoluir,
  • 19:12 - 19:14
    uma coisa que existia.
  • 19:14 - 19:17
    Terminar com o pensamento
    de que eles são como nós.
  • 19:17 - 19:20
    As pessoas que viveram
    entre há 10 e 40 000 anos,
  • 19:20 - 19:21
    eram seres humanos modernos.
  • 19:21 - 19:24
    Se conseguimos ser assim,
    porque é que eles não haviam de ser?
  • 19:24 - 19:26
    Obrigada.
  • 19:26 - 19:30
    (Aplausos)
Title:
As raízes da religião | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria
Description:

Genevieve von Petzinger fala da evolução da capacidade conceptual do espírito humano - a capacidade de fazer utensílios e de desenvolver um pensamento religioso como uma coisa concomitante.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:33

Portuguese subtitles

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