As raízes da religião | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria
-
0:07 - 0:08Vivemos num mundo
-
0:08 - 0:12que está totalmente impregnado
de religião e de espiritualidade, -
0:12 - 0:15por vezes, ao ponto de nem sequer
o reconhecermos. -
0:15 - 0:19Afeta tudo, desde uma coisa tão simples
como os feriados que festejamos, -
0:19 - 0:21até aos nomes que damos aos nossos filhos
-
0:21 - 0:24ou a uma coisa muito mais triste
e desanimadora -
0:24 - 0:27que é encontrar um conflito
algures noutra parte do mundo. -
0:27 - 0:29Ou seja, não se passa um dia
-
0:29 - 0:33em que algures haja alguém a lutar
pela espiritualidade e pela religião. -
0:35 - 0:38Vejamos como tudo isto se passa
a uma escala mundial. -
0:38 - 0:41Consoante as pessoas com quem falamos,
há 20 religiões mundiais principais -
0:41 - 0:46ou seja, as que existem em mais de um país
em mais de um continente. -
0:46 - 0:48Juntem-lhes centenas
de sistemas de crenças, -
0:48 - 0:53e em 7000 milhões de pessoas
que vivem no planeta, neste momento, -
0:53 - 0:57quase 6000 milhões afirmam
seguir qualquer tipo de fé. -
0:58 - 1:01Tentem imaginar um mundo
sem qualquer religião. -
1:01 - 1:03Como seria?
-
1:03 - 1:05Porque, na realidade,
-
1:05 - 1:09se recuarmos o suficiente
na nossa longa história, -
1:09 - 1:13houve uma época, talvez não
com o Homo sapiens, talvez mais antiga, -
1:13 - 1:15em que não havia qualquer religião.
-
1:15 - 1:18Como veem, este diapositivo
-
1:18 - 1:20é um gráfico muito simples da evolução,
-
1:20 - 1:24mas as pessoas da minha área,
a paleoantropologia, perguntaram: -
1:24 - 1:27Quando começou o impulso religioso?
-
1:27 - 1:30Como é que lá chegamos?
É muito subjetivo, não é? -
1:31 - 1:33Obviamente, o Homo sapiens
está no topo. -
1:33 - 1:36Sabemos que o Homo sapiens
é religioso, somos nós. -
1:36 - 1:39Então, e os heidelbergensis,
antes de nós, e o Homo erectus, -
1:39 - 1:41e todos os outros até ao Homo habilis?
-
1:41 - 1:44O Homo habilis, há 2,5 milhões de anos,
-
1:44 - 1:48são considerados bons candidatos
como primeiros fabricantes de utensílios. -
1:48 - 1:52Podem pensar - utensílios, religião -
o que podem ter em comum? -
1:52 - 1:57Mas, se pensarmos que fazer utensílios
é um salto cognitivo, -
1:58 - 1:59há algumas coisas em comum.
-
2:00 - 2:03Por exemplo, quando fazemos um utensílio
-
2:03 - 2:07- temos pedra e agarramos noutra
para a afeiçoar - -
2:07 - 2:10temos de ter um modelo mental na cabeça
-
2:10 - 2:12do que vai ser esse produto acabado.
-
2:12 - 2:15Também descobrimos que esses
primeiros criadores de utensílios -
2:15 - 2:20demonstravam premeditação
e pré-planeamento. -
2:20 - 2:23Possivelmente, andavam
com um pedaço de sílex -
2:23 - 2:26para que, quando um utensílio
se estragasse ou se perdesse, -
2:26 - 2:29pudessem fazer um novo.
-
2:29 - 2:32Há investigadores na minha área,
-
2:32 - 2:35especialmente um deles,
chamado Thomas Wynn, -
2:35 - 2:38que fez equipa com um neuropsicólogo,
chamado Frederick Coolidge. -
2:38 - 2:41Os dois falaram duma coisa
chamada memória operacional. -
2:42 - 2:45Não é um sítio no cérebro
-
2:46 - 2:49é mais uma espécie de diversas funções
que funcionam em conjunto, -
2:49 - 2:51que permitem coisas como modelos mentais
-
2:51 - 2:53e permitem coisas
como o pré-planeamento. -
2:53 - 2:56Defenderam a tese de que,
mesmo a um nível muito básico, -
2:56 - 2:59os chimpanzés também têm
uma espécie de memória operacional. -
2:59 - 3:01Claro, eles também usam utensílios,
-
3:01 - 3:02só que não são tão bons como nós.
-
3:02 - 3:05Basicamente, agarram num raminho,
-
3:05 - 3:08retiram-lhe as folhas e usam-no
para apanhar as térmitas, -
3:08 - 3:10mas depois deitam-no fora.
-
3:10 - 3:12É simples, já não precisam
daquele utensílio. -
3:12 - 3:15Não há muitos exemplos
de chimpanzés a reutilizar utensílios -
3:15 - 3:18ou de se comportarem da mesma forma
-
3:18 - 3:21que vimos com o Homo habilis.
-
3:21 - 3:24Com este tipo de base
e essa ideia de memória operacional, -
3:24 - 3:27extrapolaram a ideia e disseram:
-
3:27 - 3:30"Falemos de uma coisa a que se chama
memória operacional avançada. -
3:31 - 3:33A memória operacional avançada
-
3:33 - 3:35contém vários componentes.
-
3:35 - 3:39É como agarrar nisto
e introduzir-lhe esteroides. -
3:40 - 3:42Não é só ter um modelo mental
e pré-planeamento -
3:42 - 3:44mas acrescentamos-lhe
a capacidade de imaginar -
3:44 - 3:46e de trabalhar com conceitos abstratos.
-
3:46 - 3:48Falemos agora de viagem
mental no tempo. -
3:48 - 3:51Quando falo de viagem mental no tempo
-
3:51 - 3:53falo da capacidade de pensar
no passado e no futuro. -
3:53 - 3:55São coisas muito invulgares.
-
3:55 - 3:57Consideramo-las normais,
-
3:57 - 4:00mas não são uma coisa
que as outras espécies entendam. -
4:01 - 4:04Parece que o nosso cão se lembra
de ter ido ao veterinário, -
4:04 - 4:06o que é uma coisa interessante
-
4:06 - 4:09mas sabemos que ele não tem
um claro sentido de memórias episódicas -
4:09 - 4:11de ter estado no veterinário,
-
4:11 - 4:14para além de ser uma coisa má,
quando entrou naquele edifício, -
4:14 - 4:18e sentiu um certo cheiro
que o alertou para um perigo. -
4:19 - 4:22A clara capacidade de dizer,
em relação à viagem mental no tempo: -
4:22 - 4:24"Quando tentei fazer um utensílio
usando este material, -
4:24 - 4:26"isso não funcionou muito bem.
-
4:26 - 4:28"Por isso, agora
vou fazê-lo de outro modo". -
4:28 - 4:31Ou "Vi aquela pessoa, do grupo
de caçadores, fazer uma coisa -
4:31 - 4:34"que funcionava muito bem,
também vou fazer aquilo". -
4:34 - 4:37Todo este tipo de coisas, assim como
conseguir pensar no futuro, -
4:37 - 4:39portanto, pré-planear,
mas num grau ainda maior. -
4:39 - 4:43A imaginação, porque a capacidade
de conceber uma coisa -
4:43 - 4:46como um modelo mental,
quando imaginamos um utensílio, -
4:46 - 4:48baseia-se em conseguir
visualizar uma coisa -
4:48 - 4:50que não existe, naquele momento.
-
4:50 - 4:53É, sobretudo, estarmos
a olhar para o futuro. -
4:53 - 4:56E depois, a capacidade de entender
e manipular símbolos. -
4:56 - 4:59Isso é quando chegamos a coisas
como a linguagem e a arte. -
5:00 - 5:03Provavelmente, viram que eu disse
"o local de Deus". -
5:03 - 5:05Aquilo de que estamos aqui a falar
-
5:05 - 5:08é que, por volta dos anos 90,
-
5:08 - 5:10os neuropsicólogos, em especial,
-
5:10 - 5:13com as ressonâncias magnéticas
e outros exames ao cérebro, -
5:13 - 5:15começaram a observar
-
5:15 - 5:19se havia um local no cérebro
que pudesse estar associado a Deus. -
5:19 - 5:22Até se fizeram alguns estudos
-
5:22 - 5:25em que se examinaram pessoas com MRI,
e disseram-lhes: -
5:25 - 5:27"Pensem na vossa visão de Deus
-
5:27 - 5:30"ou na espiritualidade,
enquanto estiverem aqui, -
5:30 - 5:33"para ver se conseguimos
fazer um mapa das áreas do cérebro -
5:33 - 5:35"que se iluminam enquanto
fazemos isto". -
5:35 - 5:37E detetaram um sítio
que se iluminava, e disseram: -
5:37 - 5:40"Conseguimos!
Encontrámos o sítio de Deus". -
5:40 - 5:44Acontece que é o sítio que se ilumina
quando as pessoas se concentram. -
5:44 - 5:46(Risos)
-
5:46 - 5:49Sabemos, certamente,
que é onde elas se concentram -
5:49 - 5:52mas toda a gente se concentra
quando pensa em Deus, -
5:52 - 5:53por isso, havia um problema.
-
5:53 - 5:57Penso que os neuropsicólogos
e as pessoas que trabalham na evolução -
5:57 - 6:00estão a trabalhar na ideia
de que certamente não há um sítio. -
6:00 - 6:02Tal como a memória operacional avançada,
-
6:02 - 6:04há várias partes do cérebro
-
6:04 - 6:06que parece trabalharem em conjunto
-
6:06 - 6:10para criar esse espaço
e esse tipo de capacidades. -
6:11 - 6:13Então, está tudo nos lóbulos?
-
6:13 - 6:15Naquele diapositivo que vemos,
-
6:15 - 6:18do lado esquerdo temos o Homo erectus,
-
6:18 - 6:20ou seja, há 1,65 milhões de anos.
-
6:20 - 6:23Do lado direito, temos o crânio
de um Homo sapiens -
6:23 - 6:26de há cerca de 20 000 anos,
na Alemanha. -
6:26 - 6:29Há 20 000 anos, na Alemanha,
o crânio deles era idêntico ao nosso -
6:29 - 6:31- eu pensei que seria mais giro
-
6:31 - 6:34usar uma espécie de crânio fóssil
para o Homo sapiens. -
6:34 - 6:36Mas o que eu queria que reparassem
-
6:36 - 6:38é que, quando vemos o perfil,
-
6:39 - 6:42o Homo erectus tem um rebordo na testa
-
6:42 - 6:44mas, por detrás disso,
-
6:44 - 6:48há uma inclinação muito pronunciada
inclinação para trás. -
6:48 - 6:51Agora reparem naquela testa,
bela, grande, antiga -
6:51 - 6:53no crânio do Homo sapiens
-
6:54 - 6:57São os lóbulos frontais.
-
6:58 - 7:02É daqui que provém grande parte
do nosso raciocínio mais elevado, -
7:02 - 7:04é destes sítios aqui.
-
7:05 - 7:07Pensando nisso, o que é interessante
-
7:07 - 7:11é que, enquanto estamos aqui,
nesta sala, a ter esta conversa, -
7:11 - 7:14estamos a usar
a parte frontal dos lóbulos. -
7:15 - 7:17Mas a pergunta que se coloca é:
-
7:18 - 7:21Pode estar ali, fisicamente,
mas talvez seja mais uma programação? -
7:21 - 7:24Não se trata só do tamanho,
mas da forma como se interligam, -
7:24 - 7:27da forma como percorrem
os caminhos neurais. -
7:27 - 7:30É aqui que os académicos que referi,
-
7:30 - 7:32Wynn e Coolidge, a trabalhar em conjunto,
-
7:32 - 7:36defenderam a hipótese de que creem
que o pensamento moderno, -
7:36 - 7:40essa capacidade que inclui
a imaginação, a viagem mental no tempo, -
7:40 - 7:42começou com os seres humanos modernos.
-
7:42 - 7:45O que é que eu quero dizer
com seres humanos modernos? -
7:45 - 7:47Com cerca de 200 000 anos,
-
7:47 - 7:49encontrámos os esqueletos
mais antigos que temos -
7:49 - 7:52do que podemos chamar
seres humanos plenamente modernos. -
7:52 - 7:55Significa que esses esqueletos
são idênticos ao nosso -
7:55 - 7:58e o tamanho do cérebro
é exatamente o mesmo. -
7:58 - 8:00Mas isso não significa
-
8:00 - 8:03que eles usassem todas
as capacidades que temos -
8:03 - 8:06e isso é uma coisa que pertence
especialmente à minha área, -
8:06 - 8:08que eu acho fascinante tentar descobrir.
-
8:08 - 8:10Quando é que eles passaram
a ser como nós? -
8:10 - 8:13Porque somos mais do que
o tamanho do cérebro e do corpo, -
8:13 - 8:15trata-se também da forma
como usamos o cérebro. -
8:15 - 8:18O que é fascinante
nos humanos primitivos em África -
8:18 - 8:22é que, provavelmente
nos primeiros 80 000 anos, -
8:22 - 8:25eles não faziam muitas coisas
de forma diferente -
8:25 - 8:27do que as espécies
que existiram antes deles. -
8:27 - 8:29Estão a fazer utensílios muito bons,
-
8:29 - 8:32sobrevivem bastante bem,
fazem bom uso do seu ambiente, -
8:32 - 8:34todas essas coisas já existem.
-
8:34 - 8:39Mas não vemos nada nesse comportamento
que nos faça dizer: "Somos nós". -
8:39 - 8:42Depois, de súbito,
há uns 120 000 anos, -
8:43 - 8:46começamos a encontrar
-
8:46 - 8:48aquilo a que chamamos
um comportamento simbólico -
8:48 - 8:50ou seja, falamos de coisas
-
8:50 - 8:53que consideramos não serem utilitárias.
-
8:53 - 8:59Não são coisas 100% úteis
para a sobrevivência, -
8:59 - 9:02como mantermo-nos quentes à noite,
-
9:02 - 9:05termos de comer,
qualquer sítio onde nos abrigarmos. -
9:05 - 9:07Começamos a encontrar sepulturas.
-
9:07 - 9:10As sepulturas mais antigas
que conhecemos têm 120 000 anos. -
9:11 - 9:14Não são apenas sepulturas,
têm objetos lá dentro. -
9:15 - 9:19Neste caso, estamos a falar
de um marco de 120 000 anos. -
9:19 - 9:23Encontraram-se conchas marinhas
com perfurações. -
9:23 - 9:26Algumas das perfurações
parecem ser naturais, -
9:26 - 9:28outras poderão ter sido feitas
por instrumentos, -
9:28 - 9:33mas esses buraquinhos nas conchas
têm marcas de uso, -
9:33 - 9:36o que significa que foram
usadas de qualquer modo. -
9:37 - 9:39Nada disso tem qualquer utilidade
-
9:40 - 9:42para aquecimento, abrigo ou comida.
-
9:42 - 9:45O que se passa? O que aconteceu?
O que mudou? -
9:45 - 9:48Isto é como a história se desenrola
-
9:48 - 9:51e é com base nisso que Wynn e Coolidge
defendem a sua teoria -
9:51 - 9:53assim como outros académicos.
-
9:53 - 9:55Ou seja, que os seres humanos modernos
-
9:55 - 9:57aparecem quando ocorre
esta grande mudança. -
9:57 - 10:00Defendem a teoria
de que essa mudança ocorreu aqui, -
10:00 - 10:03mas que ocorreu qualquer tipo
de mutação genética ou outra coisa -
10:03 - 10:06há uns 40 ou 50 000 anos,
-
10:06 - 10:09quando o verdadeiro
comportamento moderno, -
10:09 - 10:13toda a sequência de comportamentos
que associamos aos seres modernos, -
10:13 - 10:18a música, a matemática, e a capacidade
de imaginar coisas que não existem, -
10:18 - 10:21e todas essas coisas que têm
muito a ver connosco -
10:21 - 10:24e, claro, a linguagem,
a comunicação, essas coisas. -
10:24 - 10:26Consideram que aconteceram
há uns 40 a 50 000 anos, -
10:26 - 10:30na altura em que os seres humanos
modernos saíram de África. -
10:30 - 10:32Talvez tenha sido mesmo
há uns 60 000 anos. -
10:32 - 10:34Algures nesse intervalo
de 40 a 60 000 anos -
10:34 - 10:36foi quando os humanos
modernos saíram de África -
10:37 - 10:39e começaram a povoar o Mundo Antigo.
-
10:40 - 10:43Pessoalmente, vou falar esta noite
sobre a Idade do Gelo, na Europa -
10:43 - 10:46mas não é porque não haja
coisas interessantes -
10:46 - 10:49feitas pelos humanos modernos
noutras partes do Mundo Antigo. -
10:49 - 10:51Na Ásia e na Austrália
há muitas coisas fascinantes, -
10:51 - 10:54mas eu estudo a Idade do Gelo,
é o que conheço melhor. -
10:54 - 10:57Portanto, vamos tratar
de observar a Idade do Gelo. -
10:57 - 11:00Vamos ver como foi
no que se refere à Europa. -
11:00 - 11:03Obviamente, temos
uma Idade do Gelo em marcha -
11:03 - 11:06e uma Idade do Gelo
não é uma coisa estática. -
11:06 - 11:08Temos o movimento dos glaciares,
-
11:08 - 11:11mas, sobretudo, um ambiente gelado,
muito mais frio, -
11:12 - 11:14mas também rico em animais.
-
11:14 - 11:16Grandes manadas de bisontes e mamutes
-
11:16 - 11:18e todas as outras coisas no ambiente.
-
11:18 - 11:20Muitas coisas para comer,
que foram o fator de impulso -
11:20 - 11:23que mantiveram
os seres humanos modernos. -
11:23 - 11:26Apareceram na Europa algures
entre 40 a 45 000 anos, nalguns locais -
11:26 - 11:28e espalharam-se a partir daí.
-
11:28 - 11:33Isto coincide com aquilo
a que chamamos explosão criativa. -
11:33 - 11:36Não é que não tenham feito
coisas interessantes, antes disso, -
11:36 - 11:39mas foi quando começam
a tornar-se deveras interessantes. -
11:39 - 11:42É quando começamos a encontrar
muitos materiais simbólicos, -
11:42 - 11:45como peças de arte portáteis e joias
e outras coisas interessantes -
11:46 - 11:49no registo arqueológico,
juntamente com os utensílios de pedra. -
11:49 - 11:51O que é que devemos procurar?
-
11:51 - 11:54Voltemos àquela ideia
da religião e da espiritualidade -
11:54 - 11:56e como encontramos isso
no registo arqueológico. -
11:56 - 11:58Porque, se pensarmos nessa época,
-
11:58 - 12:01estamos a trabalhar
com utensílios de pedra. -
12:01 - 12:03Não há muito com que trabalhar.
-
12:03 - 12:06Como é que tentamos ultrapassar isso
-
12:06 - 12:08e procurar estas pistas indiretas?
-
12:09 - 12:12Há três coisas principais
que as pessoas da minha área usam -
12:12 - 12:13para procurar isso.
-
12:13 - 12:16A primeira são as sepulturas
com objetos fúnebres sofisticados. -
12:16 - 12:19Assim, um colar é uma marca
com 120 000 anos, -
12:19 - 12:21muito interessante muito giro.
-
12:21 - 12:23Mas podemos ir um pouco
mais longe e dizer: -
12:23 - 12:28"O que significa pôr tantos objetos
sofisticados numa sepultura?" -
12:28 - 12:30Podem representar entidades impossíveis.
-
12:30 - 12:32Quando usamos o termo
"entidades impossíveis", -
12:32 - 12:36referimo-nos a coisas
que não aparecem na natureza. -
12:36 - 12:40Não estamos a referir-nos
a nada que exista no mundo real. -
12:40 - 12:42Qualquer coisa que seja
meio animal, meio humana, -
12:43 - 12:44será uma entidade impossível.
-
12:44 - 12:49Claro que tentamos identificar
temas mágicos e espirituais na arte. -
12:49 - 12:51Isto é nas peças portáteis
-
12:51 - 12:54e, na minha área particular
de estudo, as paredes das grutas, -
12:54 - 12:56Vamos ver rapidamente algumas delas
-
12:56 - 12:59e vou dar-vos umas ideias
do que estamos a ver. -
12:59 - 13:02Quanto a sepulturas sofisticadas,
esta é uma sepultura muito conhecida -
13:02 - 13:04e é fascinante.
-
13:04 - 13:06É uma das três sepulturas deste sítio.
-
13:06 - 13:11Esta é de um homem adulto
e tem cerca de 28 000 anos. -
13:11 - 13:12Fica na Rússia.
-
13:12 - 13:16Reparem que há umas coisinhas brancas
por todo o esqueleto dele. -
13:16 - 13:18São contas de marfim.
-
13:19 - 13:23Há cerca de 3500 contas de marfim
nesta sepultura. -
13:23 - 13:25Um arqueólogo da nossa área,
chamado Randy White, -
13:25 - 13:27fez uma experiência
-
13:28 - 13:30a que chamamos arqueologia experimental.
-
13:30 - 13:32Agarrou em marfim de mamute
e praticou -
13:32 - 13:35até conseguir fazer estas contas
muito bem feitas. -
13:35 - 13:38Mesmo quando já era bom nisso,
levava uma hora por cada conta. -
13:38 - 13:39Façam as contas.
-
13:40 - 13:42Para além disso, temos o facto
-
13:42 - 13:44de que as duas outras sepulturas,
naquele sítio, -
13:44 - 13:46são de duas crianças.
-
13:47 - 13:48Um rapazinho e uma rapariguinha
-
13:48 - 13:50e estão sepultados numa sepultura dupla.
-
13:50 - 13:52O rapazinho tem 4500 contas,
-
13:52 - 13:54ou seja, mais 1000 do que o adulto,
-
13:54 - 13:57e a rapariguinha tem mais de 5000.
-
13:57 - 13:59O que vemos aqui é, possivelmente, o facto
-
14:00 - 14:04de encararem a morte
como um estado diferente da vida -
14:04 - 14:06mas reconhecendo e prestando atenção
-
14:06 - 14:08e tendo conhecimento
-
14:08 - 14:12de que valia a pena o esforço
de fazer aquelas contas todas -
14:12 - 14:14para as sepultar no solo e tapá-las.
-
14:15 - 14:18Há nitidamente qualquer coisa
nesse sentido. -
14:19 - 14:21Claro que lidamos
com entidades impossíveis. -
14:21 - 14:24Este é um exemplo clássico espantoso.
-
14:24 - 14:27É uma estatueta de marfim trabalhada,
tem mais ou menos esta altura. -
14:27 - 14:30Uma cabeça de leão,
o corpo de um ser humano. -
14:30 - 14:32Voltando ao mesmo,
isto não existe na natureza. -
14:32 - 14:35O que é que se passa?
Porque é que representam isto? -
14:35 - 14:37Isto não é um autorretrato.
-
14:37 - 14:40Há pessoas na minha área
que apresentaram a sugestão -
14:40 - 14:42de que talvez seja
uma espécie de mitologia, -
14:42 - 14:45uma coisa que tenha a ver
com histórias de origem. -
14:45 - 14:47Há estes exemplos interessantes
-
14:47 - 14:49que existem por todo
o registo arqueológico. -
14:49 - 14:53Este tem cerca de 32 000 anos.
-
14:54 - 14:55E quanto à caça mágica?
-
14:55 - 14:57Quando digo caça mágica,
refiro-me a isto. -
14:57 - 15:00Isto é da gruta Niauz, em França.
-
15:00 - 15:03Temos um bisonte
pintado na parede duma gruta. -
15:03 - 15:06Se repararem, parece
que há uma espécie de lança -
15:06 - 15:07espetada do lado.
-
15:07 - 15:10Nesta gruta, as pessoas sugeriram
-
15:10 - 15:14que podíamos considerá-los
a tentar matar o animal, -
15:14 - 15:16primeiro, num ritual, nesta gruta,
-
15:16 - 15:19para garantir o êxito
quando tentassem a verdadeira caçada. -
15:19 - 15:23Temos alguns exemplos
em que não é só a lança, -
15:23 - 15:26mas também há sinais de perfurações,
-
15:26 - 15:30que quase parecem que alguém
usou uma lança verdadeira, -
15:30 - 15:32na imagem da parede.
-
15:32 - 15:35Mais uma vez, isto sugere
uma espécie de domínio -
15:35 - 15:38de qualquer mundo invisível
- há qualquer coisa no ar. -
15:38 - 15:42Depois, há outro grande exemplo
aqui de uma entidade impossível -
15:42 - 15:45que também poderá ser identificado
como sendo um xamã. -
15:45 - 15:48Diz-se isso porque a ideia
-
15:48 - 15:50é que podiam estar a usar
uma máscara. -
15:50 - 15:52E se, em vez de ser
uma entidade impossível, -
15:52 - 15:56for uma descrição de um ser humano,
parcialmente mascarado como um animal? -
15:56 - 15:58As pernas têm um aspeto
muito mais humano. -
15:58 - 16:01Não parecem pernas de bisontes
mas a cabeça parece a de um bisonte, -
16:02 - 16:04e os braços também são muito humanos.
-
16:04 - 16:08Isto é quando se começou a falar
na ideia das práticas xamânicas, -
16:08 - 16:10porque os xamãs
-
16:10 - 16:13- este termo é proveniente da Rússia,
-
16:13 - 16:16mas aplica-se muito
às práticas espirituais -
16:16 - 16:19em que há membros específicos da tribo
-
16:19 - 16:22que intercedem, por nossa conta,
junto de um mundo invisível. -
16:22 - 16:25Quer seja para influenciar o tempo,
ou influenciar a caçada, -
16:25 - 16:27quer tenha a ver com a saúde,
-
16:27 - 16:30com as pessoas doentes
e tentando melhorá-las, -
16:30 - 16:31são essas pessoas que fazem isso.
-
16:32 - 16:35O interessante nestes exemplos
modernos, por exemplo, -
16:35 - 16:39é que há um tipo
chamado David Lewis-Williams -
16:40 - 16:43que é investigador em arte rupestre
e trabalha na África do Sul -
16:43 - 16:47e teve a oportunidade espantosa
de falar com o povo San, -
16:47 - 16:51que é um grupo de caçadores-recoletores
que vive no norte da África do Sul. -
16:51 - 16:52Vivem no deserto
-
16:52 - 16:55e ainda praticam o estilo de vida
de caçadores-recoletores. -
16:55 - 16:57E ainda fazem arte rupestre.
-
16:57 - 17:00Teve a possibilidade de lhes perguntar:
"Porque é que fazem arte?" -
17:00 - 17:02Isso não explica toda a arte
-
17:03 - 17:06mas as práticas xamânicas
desempenharam um papel importante nisso. -
17:06 - 17:08Coisas como as marcas de mãos.
-
17:08 - 17:10Há a ideia de que as grutas.
-
17:10 - 17:14eram quase como um local de transição
entre dois mundos. -
17:14 - 17:15Quando entramos numa gruta
-
17:15 - 17:17entramos nela com luzes
nos capacetes e muita luz -
17:17 - 17:20e sabemos o que é uma gruta,
geologicamente. -
17:20 - 17:21Mas imaginem que não sabiam.
-
17:21 - 17:24Quase sentimos que talvez seja
um portal para outra realidade. -
17:24 - 17:27Falou-se na ideia
de aquelas paredes de grutas -
17:27 - 17:30seriam quase como membranas
que podiam tocar -
17:30 - 17:33e, através dessas membranas,
tocarem no invisível. -
17:33 - 17:35Agora, temos um projeto de investigação
-
17:35 - 17:37em que eu tenho estado a trabalhar,
-
17:37 - 17:40em que eu digo:
"Ok, vamos tentar isto, -
17:40 - 17:43"porque as pessoas modernas
em África estão a fazer isto, -
17:43 - 17:47"com 10 000 anos de diferença,
entre o que está a acontecer na Europa". -
17:47 - 17:49Podemos chegar lá? Será possível?
-
17:49 - 17:53Como vemos nas paredes,
talvez parte das imagens com ar de transe -
17:54 - 17:57e há quem diga que era por isso
que as faziam. -
17:57 - 18:00Porque o espírito humano...
-
18:01 - 18:04O transe é quando entramos
num estado alterado de consciência. -
18:04 - 18:08Há muitas coisas que são específicas,
culturalmente, no local onde vivemos, -
18:08 - 18:10como os animais que vemos nas imagens,
-
18:10 - 18:13mas a imagética geométrica
ocorre quase universalmente. -
18:13 - 18:15A razão para isso
-
18:15 - 18:19é que os nossos olhos estão programados
para produzir determinadas formas -
18:19 - 18:21quando estamos num estado de transe.
-
18:21 - 18:24Foi aqui que procurei
-
18:24 - 18:26se encontrávamos isso
nas grutas da Europa. -
18:26 - 18:28O estudo está em marcha
-
18:28 - 18:30mas eu pensei partilhar um pouco
convosco, esta noite, -
18:31 - 18:33o que era aquilo com pontos,
com linhas, com grelhas, -
18:33 - 18:35sim, estamos a encontrar essas coisas.
-
18:35 - 18:38Mas outras, nem por isso.
-
18:38 - 18:42Só há uns 15 exemplos de ziguezagues
em mais de 200 sítios -
18:42 - 18:44que contêm ziguezagues.
-
18:44 - 18:46Não se comportam exatamente
do mesmo modo -
18:46 - 18:48que os povos da África do Sul.
-
18:48 - 18:51No que se refere a espirais,
só há duas grutas. -
18:51 - 18:54Nesse sentido, as espirais
ainda são mais raras -
18:54 - 18:57e não são uma coisa que vemos
no registo arqueológico. -
18:58 - 18:59O que é que isso significa?
-
18:59 - 19:01O que representa para mim?
-
19:01 - 19:04Não posso dar-vos
uma resposta definitiva e dizer: -
19:04 - 19:08"Com toda a certeza, havia povos
espirituais a viver naquela época". -
19:08 - 19:10Mas há sinais suficientes para dizer
-
19:10 - 19:12que era uma coisa que estava a evoluir,
-
19:12 - 19:14uma coisa que existia.
-
19:14 - 19:17Terminar com o pensamento
de que eles são como nós. -
19:17 - 19:20As pessoas que viveram
entre há 10 e 40 000 anos, -
19:20 - 19:21eram seres humanos modernos.
-
19:21 - 19:24Se conseguimos ser assim,
porque é que eles não haviam de ser? -
19:24 - 19:26Obrigada.
-
19:26 - 19:30(Aplausos)
- Title:
- As raízes da religião | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria
- Description:
-
Genevieve von Petzinger fala da evolução da capacidade conceptual do espírito humano - a capacidade de fazer utensílios e de desenvolver um pensamento religioso como uma coisa concomitante.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:33
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The roots of religion | Genvieve Von Petzinger | TEDxVictoria |