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Susan Cain: O poder dos introvertidos

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    Quando eu tinha nove anos
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    fui para um campo de férias de verão pela primeira vez.
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    E a minha mãe preparou-me uma mala
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    cheia de livros,
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    o que me pareceu algo perfeitamente natural.
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    Porque na minha família,
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    ler era a principal actividade em conjunto.
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    E isto pode parecer-vos anti-social,
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    mas para nós era apenas uma forma diferente de ser social.
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    Temos o calor animal da nossa família
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    sentada ali ao pé,
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    mas também podemos deambular pelo mundo das aventuras
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    dentro da nossa mente.
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    E eu tinha esta ideia
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    de que o campo seria assim, mas melhor.
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    (Risos)
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    Eu tinha uma visão de 10 meninas sentadas numa cabana
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    lendo livros aconchegadas nos seus pijamas a combinar.
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    (Risos)
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    O campo foi mais como uma festa do barril (cerveja) sem álcool.
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    E no primeiro dia
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    a nossa monitora reuniu-nos
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    e ensinou-nos o cântico que iríamos repetir
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    todos os dias até ao resto do Verão
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    para instigar o espírito de campo.
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    Era assim:
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    "R-O-W-D-I-E,
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    é assim que se soletra "rowdie" (desordeiras)
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    Desordeiras, desordeiras, vamos ser desordeiras."
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    Sim.
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    Eu não conseguia perceber nem pela minha vida
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    porque deveríamos ser tão desordeiras,
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    ou porque tínhamos de soletrar esta palavra incorrectamente.
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    (rowdie vs. rowdy) (Risos)
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    Mas eu recitei um cântico. Recitei um cântico com os outros todos.
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    Fiz o meu melhor.
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    E só esperava pela altura
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    em que poderia ir ler os meus livros.
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    Mas a primeira vez que tirei o meu livro da mala,
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    a rapariga mais popular do dormitório abordou-me
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    e perguntou-me, "Porque és tão sossegada?" --
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    sossegada, claro, sendo exactamente o oposto
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    de R-O-W-D-I-E (desordeira).
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    E na segunda tentativa,
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    a monitora abordou-me com uma expressão preocupada
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    e repetiu o objectivo do espírito do campo
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    e disse que deveríamos tentar a sério
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    sermos extrovertidos.
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    Então guardei os meus livros,
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    de volta à mala,
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    pu-los debaixo da cama,
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    e aí ficaram o resto do verão.
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    Eu sentia-me culpada por isto.
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    Sentia que, de alguma forma, os livros precisavam de mim,
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    eles chamavam-me e eu tinha-os abandonado.
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    Mas eu abandonei-os mesmo e não abri mais aquela mala
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    até estar de volta a casa com a minha família
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    no fim do Verão.
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    Ora, conto-vos esta história sobre o campo de férias.
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    Poderia ter-vos contado 50 outras parecidas --
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    todas as vezes que tive a noção
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    que, de alguma forma, a minha maneira de ser silenciosa e introvertida
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    não era necessariamente a certa a ter,
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    que deveria tentar ser mais extrovertida.
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    Sempre senti no meu âmago que isto estava errado
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    e que os introvertidos eram excelentes como eram.
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    Mas durante anos neguei esta intuição,
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    e tornei-me uma advogada de Wall Street, de todas as possibilidades,
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    em vez da escritora que sempre quis ser --
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    em parte porque precisava de provar a mim mesma
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    que também conseguia ser arrojada e assertiva.
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    E ia sempre sair a bares cheios
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    quando o que queria realmente era um jantar simpático com amigos.
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    E fiz todas estas escolhas de auto-negação
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    tão reflexivamente,
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    que nem estava ciente de que as fazia.
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    Isto é o que muitos introvertidos fazem,
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    e a perda é claramente nossa,
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    mas também dos nossos colegas
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    e da nossa comunidade.
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    E, correndo o risco de soar arrogante, do mundo.
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    Porque no que toca a criatividade e liderança,
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    precisamos dos introvertidos a fazer o que sabem melhor.
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    Entre um terço e metade da população são introvertidos --
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    de um terço a metade.
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    Isso é uma em cada duas ou três pessoas que conhecemos.
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    Então mesmo que seja um extrovertido,
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    estou a falar dos vossos colegas de trabalho
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    dos vossos cônjuges e dos vossos filhos
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    e da pessoa sentada ao vosso lado agora mesmo --
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    todas sujeitas a esta parcialidade
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    que é profunda e real na nossa sociedade.
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    Todos nós interiorizamos isto desde tenra idade
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    sem sequer termos uma linguagem para o que estamos a fazer.
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    Para ver bem esta parcialidade
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    precisamos de perceber o que é a introversão.
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    É diferente de ser tímido.
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    A timidez é o medo do julgamento social.
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    A introversão é mais sobre
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    como responder à estimulação,
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    incluindo estimulação social.
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    Os extrovertidos precisam de muita estimulação,
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    enquanto que os introvertidos se sentem mais vivos
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    mais ligados e mais capazes
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    quando estão em ambientes mais sossegados, mais recatados.
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    Não sempre -- as coisas não são absolutas --
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    mas a maior parte do tempo.
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    Então o truque
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    para maximizarmos os nossos talentos
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    é todos procurarem
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    os espaços de estimulação mais adequados.
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    Agora é onde entra a parcialidade.
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    As nossas instituições mais importantes,
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    as nossas escolas e os nossos locais de trabalho,
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    são desenhados maioritariamente para extrovertidos
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    e para a sua necessidade de muita estimulação.
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    Temos, hoje em dia, este sistema de crenças
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    que chamo de "o novo pensamento em grupo",
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    que defende que toda a criatividade e produtividade
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    vem de um lugar estranhamente gregário.
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    Então se visualizarmos a sala-de-aulas actual típica:
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    Quando andava na escola,
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    sentávamo-nos em filas.
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    Sentávamo-nos em filas de secretárias como esta,
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    e fazíamos a maior parte do nosso trabalho de forma autónoma.
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    Hoje em dia, a sala-de-aulas típica
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    tem ilhas de secretárias --
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    quatro, cinco, seis ou sete crianças em frente umas das outras.
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    As crianças têm imensos trabalhos de grupo.
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    Mesmo em disciplinas como Matemática e Escrita Criativa,
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    que pensamos que dependeriam de voos solitários de pensamento,
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    espera-se que as crianças ajam como membros de um comité.
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    E para os que preferem
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    tentar eles mesmos ou simplesmente trabalhar sozinhos,
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    esses míudos são vistos como estranhos
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    ou, pior, como problemas.
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    E a vasta maioria dos professores afirma acreditar
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    que o estudante ideal é extrovertido
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    ao contrário do introvertido,
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    mesmo tendo os introvertidos melhores notas
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    e sendo mais cultos,
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    segundo pesquisa.
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    (Risos)
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    Certo, a mesma coisa acontece no nosso local de trabalho.
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    Agora, quase todos nós trabalhamos em escritórios abertos,
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    sem paredes,
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    onde somos sujeitos
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    ao barulho constante e ao olhar perscrutador dos nossos colegas.
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    E no que toca à liderança,
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    os introvertidos são normalmente rechaçados de posições de liderança,
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    mesmo que costumem ser muito cuidadosos,
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    menos passíveis de correr riscos de maior --
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    que é algo que, hoje, talvez todos valorizemos.
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    Uma investigação interessante feita por Adam Grant na Wharton School
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    descobriu que os líderes introvertidos
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    costumam ter melhores resultados que os extrovertidos,
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    porque quando gerem empregados pro-activos,
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    são mais passíveis de deixá-los manter as suas próprias ideias,
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    enquanto que um extrovertido pode, inadvertidamente,
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    ficar tão excitado com as coisas
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    que põe o seu selo nas coisas,
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    e as ideias das outras pessoas podem não vir à superfície
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    tão facilmente.
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    Na realidade, alguns dos líderes mais marcantes da história foram introvertidos.
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    Vou dar-vos alguns exemplos.
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    Eleanor Roosevelt, Rosa Parks, Gandhi --
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    todas estas pessoas descreviam-se como
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    caladas, de fala serena e até tímidas.
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    E todas aceitaram as luzes da ribalta,
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    mesmo que todos os seus instintos
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    dissessem o contrário.
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    E isto acaba por ter o seu próprio poder,
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    porque as pessoas sentiam que estes líderes estavam ao leme,
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    não porque gostavam de mandar nos outros
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    nem por gostarem de ser admirados;
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    eles estavam lá porque não tinham escolha,
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    porque foram compelidos a fazer o que achavam certo.
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    Ora, acho que nesta altura é importante dizer
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    que eu até adoro extrovertidos.
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    Gosto sempre de dizer que alguns dos meus melhores amigos são extrovertidos,
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    incluindo o meu querido marido.
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    E todos caímos em diferentes pontos, claro,
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    dentro do espectro introvertido/extrovertido.
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    Até Carl Jung, o psicólogo que popularizou estes termos, disse
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    que não há um introvertido puro
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    nem um extrovertido puro.
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    Ele disse que tal homem estaria num asilo de malucos,
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    se sequer existisse.
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    Algumas pessoas caem mesmo no meio
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    do espectro introvertido/extrovertido,
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    e chamamo-las de "ambivertidos".
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    Costumo pensar que ele têm o melhor dos dois mundos.
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    Mas muitos de nós reconhecem-se num tipo ou noutro.
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    O que defendo é que culturalmente precisamos de um melhor equilíbrio.
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    Precisamos de mais ying e yang.
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    entre os dois tipos.
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    Isto é especialmente importante
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    no que toca à criatividade e à produtividade,
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    porque quando os psicólogos observam
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    a vida da maioria das pessoas criativas,
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    o que eles encontram
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    são pessoas muito boas a trocar ideias
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    e a desenvolver ideias,
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    mas que também têm um traço evidente de introversão.
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    E isto porque a solidão é muitas vezes um ingrediente
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    crucial para a criatividade.
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    Darwin,
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    ele dava longos passeios no bosque
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    e vivazmente declinava convites para jantares.
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    Theodor Geisel, mais conhecido como Doutor Seuss,
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    ele criava muitas das suas criações fantásticas
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    num escritório solitário que tinha num campanário
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    nas traseiras da sua casa em La Jolla, Califórnia.
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    E ele até tinha medo de conhecer
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    as crianças que liam os seus livros
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    por temer que elas esperassem que fosse
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    uma figura bem-disposta parecida com o Pai Natal
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    e ficassem desapontadas com a sua personalidade reservada.
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    Steve Wozniak inventou o primeiro computador da Apple
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    sentado sozinho no seu cubículo
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    na Hewlett-Packard, onde trabalhava na altura.
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    E ele diz que nunca se teria tornado um perito em primeira instância
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    se não fosse demasiado introvertido para sair de casa
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    quando era mais novo.
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    Claro que
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    isto não significa que deixemos de colaborar --
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    e um bom exemplo é o facto de Steve Wozniack ter-se associado a Steve Jobs
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    para lançar a Apple Computer --
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    mas significa, sim, que a solidão importa
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    e que para algumas pessoas
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    é como o ar que respiram.
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    E, de facto, sabemos há séculos
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    do poder transcendente da solidão.
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    Só agora é que estranhamente estamos a esquecê-lo.
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    Se olharmos para a maioria das religiões do mundo,
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    encontramos indagadores --
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    Moisés, Jesus, Buda, Maomé --
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    indagadores que se afastam sozinhos
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    a sós com a natureza
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    onde tiveram epifanias e revelações profundas
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    que depois trouxeram para o resto da comunidade.
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    Nada de natureza, nada de revelações.
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    Isto não é nenhuma surpresa
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    se olharmos para as ideias da psicologia contemporânea.
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    Parece que nem conseguimos estar com um grupo de pessoas
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    sem imitar as suas opiniões instintivamente.
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    Mesmo em coisas aparentemente pessoais e íntimas
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    como as pessoas que nos atraem,
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    começamos a imitar as crenças das pessoas à nossa volta
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    sem sequer nos apercebermos do que fazemos.
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    E os grupos, como se sabe, seguem as opiniões
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    da pessoa mais dominante e carismática presente,
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    mesmo não havendo nenhuma correlação
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    entre ser o melhor orador e ter as melhores ideias --
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    Quero dizer, zero.
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    Portanto...
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    (Risos)
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    Podem estar a seguir a pessoa com as melhores ideias,
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    mas também podem não estar.
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    E querem mesmo deixar isso ao acaso?
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    É muito melhor cada um isolar-se,
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    gerar as suas próprias ideias
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    livres das distorções das dinâmicas de grupo,
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    e depois reunirem-se como uma equipa
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    para falarem num ambiente bem gerido
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    e partir daí.
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    Se tudo isto é verdade,
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    então porque estamos a entender isto tão mal?
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    Porque organizamos as nossas escolas e os nossos locais de trabalho assim?
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    E porque fazemos estes introvertidos sentirem-se tão culpados
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    por apenas quererem estar sozinhos às vezes?
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    Uma das respostas está enraizada na nossa história cultural.
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    As sociedade ocidentais,
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    em particular os E.U.A.,
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    sempre favoreceram o homem de acção
  • 11:13 - 11:15
    ao homem de contemplação
  • 11:15 - 11:19
    Homem de contemplação.
  • 11:19 - 11:22
    Mas nos primórdios da América,
  • 11:22 - 11:25
    vivíamos no que os historiadores chamavam de cultura do carácter,
  • 11:25 - 11:27
    quando ainda valorizávamos as pessoas
  • 11:27 - 11:30
    pelo seu inteiror e a sua rectidão moral.
  • 11:30 - 11:32
    E se olharem para os livros de auto-ajuda de então,
  • 11:32 - 11:34
    todos tinham títulos como
  • 11:34 - 11:37
    "Carácter, a Coisa Mais Grandiosa do Mundo."
  • 11:37 - 11:40
    E os seus exemplos eram Abraham Lincoln
  • 11:40 - 11:42
    que era elogiado por ser modesto e despretencioso.
  • 11:42 - 11:44
    Ralph Waldo Emerson apelidou-o de
  • 11:44 - 11:47
    "Um homem que não ofende por ser superior."
  • 11:47 - 11:50
    Mas depois chegámos ao século XX
  • 11:50 - 11:52
    e entrámos numa cultura nova
  • 11:52 - 11:54
    que os historiadores chamam de cultura da personalidade.
  • 11:54 - 11:56
    O que aconteceu foi que evoluímos de uma economia agrícola
  • 11:56 - 11:58
    para um mundo de grandes negócios.
  • 11:58 - 12:00
    De repente, as pessoas estão a mudar-se
  • 12:00 - 12:02
    de vilas pequenas para cidades.
  • 12:02 - 12:05
    E em vez de trabalharem com pessoas que conheceram toda a vida,
  • 12:05 - 12:07
    agora têm de provar o seu valor
  • 12:07 - 12:09
    numa multidão de estranhos.
  • 12:09 - 12:11
    Então, compreensivelmente,
  • 12:11 - 12:13
    qualidades como o magnetismo e carisma
  • 12:13 - 12:15
    parecem, de repente, muito importantes.
  • 12:15 - 12:18
    E com certeza, os livros de auto-ajuda mudam para satisfazer estas novas necessidades
  • 12:18 - 12:20
    e eles começam a ter nomes
  • 12:20 - 12:22
    como "Como Ganhar Amigos e Influenciar Pessoas."
  • 12:22 - 12:24
    E os exemplos em destaque são
  • 12:24 - 12:27
    grandes vendedores.
  • 12:27 - 12:29
    Este é o mundo em que vivemos.
  • 12:29 - 12:33
    É a nossa herança cultural.
  • 12:33 - 12:35
    Nada disto quer dizer
  • 12:35 - 12:38
    que as habilidades sociais não são importantes,
  • 12:38 - 12:40
    e também não invoco
  • 12:40 - 12:43
    a abolição do trabalho em equipa, de todo.
  • 12:43 - 12:46
    As mesmas religiões que enviaram os seus sábios para cumes de montanha solitários
  • 12:46 - 12:49
    também nos ensinam sobre o amor e a confiança.
  • 12:49 - 12:51
    E os problemas que enfrentamos hoje
  • 12:51 - 12:53
    em campos como a ciência ou a economia
  • 12:53 - 12:55
    são tão vastos e complexos
  • 12:55 - 12:57
    que precisaremos de exércitos de pessoas a aliarem-se
  • 12:57 - 12:59
    para resolvê-los, trabalhando juntas.
  • 12:59 - 13:02
    Mas estou a dizer que quanto mais liberdade dermos aos introvertidos para serem eles próprios,
  • 13:02 - 13:04
    maior a probabilidade de eles
  • 13:04 - 13:07
    surgirem com as suas próprias soluções únicas para esses problemas.
  • 13:09 - 13:11
    Então gostaria de partilhar convosco
  • 13:11 - 13:14
    o que está na minha mala hoje.
  • 13:18 - 13:20
    Adivinham?
  • 13:20 - 13:22
    Livros.
  • 13:22 - 13:24
    Eu tenho uma mala cheia de livros.
  • 13:24 - 13:26
    Aqui está a Margaret Atwood, "Cat's Eye" (Olho de Gato)
  • 13:26 - 13:29
    Aqui está um romance de Milan Kundera.
  • 13:29 - 13:31
    E aqui está "The Guide for the Perplexed" (O Guia para os Perplexos)
  • 13:31 - 13:34
    de Maimonides.
  • 13:34 - 13:37
    Mas estes não mesmo meus livros.
  • 13:37 - 13:39
    Eu trouxe-os comigo
  • 13:39 - 13:43
    porque foram escritos pelos autores favoritos do meu avô.
  • 13:43 - 13:45
    O meu avô era um rabi
  • 13:45 - 13:47
    e era um viúvo
  • 13:47 - 13:50
    que vivia sozinho num pequeno apartamento em Brooklyn
  • 13:50 - 13:53
    que era o meu sítio favorito quando era criança,
  • 13:53 - 13:56
    em parte, porque estava imbuído da sua presença gentil e cortês
  • 13:56 - 13:59
    e, em parte, porque estava cheio de livros.
  • 13:59 - 14:02
    Literalmente todas as mesas, todas as cadeiras neste apartamento
  • 14:02 - 14:04
    tinham cedido a sua função original
  • 14:04 - 14:07
    para agora servirem de base a equilibrarem pilhas de livros.
  • 14:07 - 14:09
    Tal como o resto da família,
  • 14:09 - 14:12
    a actividade favorita do meu avô no mundo inteiro era ler.
  • 14:12 - 14:15
    Mas ele também adorava a sua congregação,
  • 14:15 - 14:18
    e podíamos sentir o seu amor nos seus sermões
  • 14:18 - 14:22
    todas as semanas, durante os 62 anos que ele foi rabi.
  • 14:22 - 14:25
    Ele pegava nos frutos da leitura de cada semana
  • 14:25 - 14:28
    e ele tecia estas tapeçarias intricadas do pensamento antigo e humanista.
  • 14:28 - 14:30
    E as pessoas vinham de todo o lado
  • 14:30 - 14:32
    para ouvi-lo falar.
  • 14:32 - 14:35
    Mas eis o que é interessante sobre o meu avô.
  • 14:35 - 14:37
    Debaixo do seu papel ceremonial,
  • 14:37 - 14:40
    ele era muito modesto e muito introvertido --
  • 14:40 - 14:43
    tanto que quando dava estes sermões,
  • 14:43 - 14:45
    tinha problemas em estabelecer contacto visual
  • 14:45 - 14:47
    com a esta mesma congregação
  • 14:47 - 14:49
    para quem havia orado durante 62 anos.
  • 14:49 - 14:51
    E mesmo afastado do púlpito,
  • 14:51 - 14:53
    quando o chamavam para cumprimentar,
  • 14:53 - 14:55
    ele costumava acabar prematuramente a conversa
  • 14:55 - 14:59
    com medo de que estivesse a tomar muito tempo.
  • 14:59 - 15:02
    Mas quando morreu aos 94 anos,
  • 15:02 - 15:05
    a polícia teve de fechar as ruas do seu bairro
  • 15:05 - 15:07
    para acomodar a multidão
  • 15:07 - 15:10
    que veio fazer o seu luto.
  • 15:11 - 15:14
    E agora tento seguir o exemplo do meu avô
  • 15:14 - 15:16
    à minha maneira.
  • 15:16 - 15:19
    Publiquei recentemente um livro sobre a introversão,
  • 15:19 - 15:21
    e demorei uns 7 anos a escrevê-lo.
  • 15:21 - 15:24
    E para mim, estes 7 anos foram uma benção,
  • 15:24 - 15:27
    porque eu estava a ler, estava a escrever,
  • 15:27 - 15:29
    estava a pensar, estava a investigar.
  • 15:29 - 15:31
    Era a minha versão
  • 15:31 - 15:34
    das horas que o meu avô passava sozinho na biblioteca.
  • 15:34 - 15:37
    Mas agora, de repente, a minha função é muito diferente,
  • 15:37 - 15:40
    e a minha função é estar aqui a falar-vos disso,
  • 15:40 - 15:43
    falar sobre introversão.
  • 15:43 - 15:47
    (Risos)
  • 15:47 - 15:49
    E isso é-me muito mais difícil,
  • 15:49 - 15:51
    pois por mais honrada que me sinta
  • 15:51 - 15:53
    de estar aqui convosco neste momento,
  • 15:53 - 15:56
    este não é o meu ambiente natural.
  • 15:56 - 15:58
    Então eu preparei-me para momentos como estes
  • 15:58 - 16:00
    o melhor que podia.
  • 16:00 - 16:02
    Passei o último ano a praticar oratória
  • 16:02 - 16:04
    sempre que pude.
  • 16:04 - 16:07
    E chamo-lhe o meu "ano de falar arriscadamente."
  • 16:07 - 16:09
    (Risos)
  • 16:09 - 16:11
    E isso até ajudou muito.
  • 16:11 - 16:13
    Mas digo-vos, o que ajuda ainda mais
  • 16:13 - 16:16
    é a minha sensação, a minha crença, a minha esperança
  • 16:16 - 16:18
    de que, no que toca às nossas atitudes
  • 16:18 - 16:20
    quanto à introversão, ao silêncio e à solidão,
  • 16:20 - 16:22
    estamos mesmo à beira de uma mudança profunda.
  • 16:22 - 16:24
    Quero dizer, estamos mesmo.
  • 16:24 - 16:26
    E agora vou deixar-vos
  • 16:26 - 16:28
    com 3 chamadas de atenção
  • 16:28 - 16:30
    para os que partilham desta visão.
  • 16:30 - 16:32
    Número um:
  • 16:32 - 16:34
    Parem com a loucura de trabalho em grupo constante.
  • 16:34 - 16:36
    Parem.
  • 16:36 - 16:39
    (Risos)
  • 16:39 - 16:41
    Obrigada.
  • 16:41 - 16:43
    (Aplausos)
  • 16:43 - 16:45
    E quero ser clara no que estou a dizer,
  • 16:45 - 16:47
    porque acredito piamente que os nossos escritórios
  • 16:47 - 16:49
    deviam encorajar
  • 16:49 - 16:51
    as interacções casuais, conversas de café --
  • 16:51 - 16:53
    vocês sabem, do tipo em que as pessoas se reúnem
  • 16:53 - 16:55
    e, do nada, trocam ideias.
  • 16:55 - 16:57
    Isso é óptimo.
  • 16:57 - 16:59
    É óptimo para introvertidos e para extrovertidos.
  • 16:59 - 17:01
    Mas precisamos de mais privacidade e mais liberdade
  • 17:01 - 17:03
    e mais autonomia no trabalho.
  • 17:03 - 17:05
    Na escola, a mesma coisa.
  • 17:05 - 17:08
    Claro que precisamos de ensinar as crianças a trabalhar juntas,
  • 17:08 - 17:10
    mas também temos de os ensinar a trabalhar sozinhos.
  • 17:10 - 17:13
    Isto é especialmente importante também para crianças extrovertidas.
  • 17:13 - 17:15
    Elas precisam de trabalhar sozinhas
  • 17:15 - 17:17
    porque é daí que o pensamento profundo vem, em parte.
  • 17:17 - 17:20
    Ok, número dois: Vão para a natureza.
  • 17:20 - 17:23
    Sejam como Buda, tenham as vossas próprias revelações.
  • 17:23 - 17:25
    Não estou a dizer
  • 17:25 - 17:28
    que temos de ir todos agora construir as nossas cabanas no bosque
  • 17:28 - 17:31
    e nunca mais falar uns com os outros,
  • 17:31 - 17:33
    mas digo que todos deveríamos conseguir desligar
  • 17:33 - 17:35
    e ir para dentro das nossas cabeças
  • 17:35 - 17:38
    mais frequentemente.
  • 17:39 - 17:42
    Número três:
  • 17:42 - 17:44
    Olhem para o que há dentro das vossas malas
  • 17:44 - 17:46
    e porque é que puseram isso lá.
  • 17:46 - 17:48
    Extrovertidos,
  • 17:48 - 17:50
    talvez a vossa mala também esteja cheia de livros.
  • 17:50 - 17:52
    Ou cheia de copos de champanhe
  • 17:52 - 17:55
    ou equipamento de paraquedismo.
  • 17:55 - 17:59
    O que quer que seja, espero que tirem essas coisas para fora sempre que possam
  • 17:59 - 18:02
    e nos agraciem com a vossa energia e alegria.
  • 18:02 - 18:05
    Mas introvertidos, vocês sendo vocês mesmos,
  • 18:05 - 18:07
    provavelmente têm o impulso de guardar muito bem
  • 18:07 - 18:09
    o que têm dentro da vossa mala.
  • 18:09 - 18:11
    E isso está bem.
  • 18:11 - 18:13
    Mas ocasionalmente, só ocasionalmente,
  • 18:13 - 18:16
    espero que abram a vossa mala para as outras pessoas verem,
  • 18:16 - 18:19
    porque o mundo precisa de vocês e das coisas que carregam.
  • 18:21 - 18:23
    Desejo-vos a melhor de todas as jornadas possíveis
  • 18:23 - 18:26
    e a coragem para falar baixinho.
  • 18:26 - 18:28
    Muito obrigada.
  • 18:28 - 18:32
    (Aplausos)
  • 18:32 - 18:35
    Obrigada. Obrigada.
  • 18:35 - 18:42
    (Aplausos)
Title:
Susan Cain: O poder dos introvertidos
Speaker:
Susan Cain
Description:

Numa cultura em que ser social e extrovertido são valorizados acima de tudo, pode ser difícil, até embaraçoso, ser introvertido. Mas, como Susan Cain defende nesta conversa entusiasta, os introvertidos trazem talentos e habilidades extraordinários ao mundo, e devem ser encorajados e reconhecidos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:43
Joana Rodrigues added a translation

Portuguese subtitles

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